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Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Licenciatura em Ciências da Linguagem

Aiming at the same target: A masked


priming study directly comparing derivation and
inflection in the second language: Análise Crítica

UC: Psicolinguística
Docente: Professor João Veríssimo
3º ano / 2º semestre
Bruna Luz Santos, 158133
Carina Figueiredo, 158112

Lisboa, Maio 2023


Parte I
1. Análise crítica do artigo
1.1. Introdução:
No âmbito da unidade curricular de Psicolinguística lecionada pelo Professor João
Veríssimo, propomo-nos a apresentar uma análise crítica do artigo Aiming at the same
target: A masked priming study directly comparing derivation and inflection in the second
language (Jacob, Heyer & Veríssimo, 2018), realizado na Universidade de Potsdam,
Potsdam, Alemanha.

No artigo científico de Jacob, Heyer & Veríssimo (2018), os autores criaram um teste que
permitisse testar a flexão e a derivação das palavras de acordo com vários domínios da
gramática, através da utilização de uma mesma palavra target/alvo para cada um dos itens
mencionados, optando por um priming de curta duração (50ms): masked priming.

Para a realização deste estudo, foram convocados 40 participantes que têm como L1 o
alemão (sendo 28 mulheres com idade média de 23,93 anos) e 36 intervenientes que têm
como L1 russo e L2 o alemão (sendo 30 mulheres com idade média de 26,72 anos).

1.2. Metodologia utilizada:


Numa sala silenciosa, os 76 participantes realizaram um teste no computador através do
software DMDX 1. No centro do ecrã foram aparecendo várias palavras prime, target e
filler 2. Os inquiridos foram informados de que iriam observar várias palavras e
pseudopalavras3 do alemão, onde a sua tarefa consiste em fazer uma decisão lexical
premindo um de dois botões.

Inicialmente, esta experiência foi pensada para ser composta pela análise de apenas um
conjunto de item gramatical, o item morfológico, uma vez que as palavras estabelecem
entre si relações não só morfológicas, mas também ortográficas e semânticas.
Posteriormente, por não ser possível determinar os efeitos de priming ortográfico e

1
DMDX Display Software - Mecanismo utilizado em laboratórios para medir o tempo de reação dos
estímulos visuais e auditivos.
2
Palavras filler - Palavras utilizadas para preencher as pausas que fazemos ao longo do nosso discurso
oral. Tomamos como exemplo: “tipo” (no português) e “like” (no inglês).
3
Pseudopalavras - Palavras que não existem, criadas como distratores de experiências psicolinguísticas.

2
semântico devido às propriedades da língua, os autores adicionaram estes dois itens de
controlo, passando a análise a ser feita através de três conjuntos de itens: um morfológico,
um ortográfico e um semântico.

No que diz respeito ao conjunto de itens morfológicos, foram utilizados 28 alvos nas suas
formas infinitivas antecedidos pelo prime derivado com o sufixo -ung; o particípio
passado dos alvos para exemplificar o prime flexionado; e, palavras dispares para
representar o prime não-relacionado.

Em relação aos conjuntos de itens ortográficos e semânticos, as palavras alvo ocorreram


antes de primes relacionados, não-relacionados e de ‘identidade’4. Relativamente ao
primeiro item, o item ortográfico, foram utilizados 24 pares de palavras prime-target sem
qualquer tipo de relação morfológica e/ou semântica. À semelhança deste item, também
para o item semântico recorreram ao uso de 24 pares de palavras que se inserem na classe
dos nomes, sendo que, neste caso, metade correspondia a nomes sinónimos (ex.: ‘doctor’
- physician’) e a outra metade nomes que pertencem ao mesmo campo semântico (ex.:
‘cloud’ - ‘sky’)5.

Uma vez que a palavra alvo utilizada foi sempre a mesma em cada um dos itens
gramaticais, com o objetivo de evitar as mesmas decisões lexicais, os investigadores
adicionaram algumas palavras distratoras ao longo da experiência, sendo elas: 76 palavras
alvo (38 palavras e 38 pseudopalavras) juntamente com 374 palavras filler. As
pseudopalavras apresentadas foram criadas a partir da alteração de letras em palavras
existentes do alemão, dificultando, para os inquiridos, as respostas dadas num curto
espaço de tempo.

Para melhor compreensão do que foi dito anteriormente, nas tabelas 1, 2 e 3 estão
ilustradas as escolhas dos autores em relação às palavras prime e target para cada área da
gramática na realização do experimento em causa.

4
Identity ou condição ‘identidade’ - Quando a palavra prime e a palavra target correspondem
exatamente à mesma palavra, causando um maior efeito de priming, uma vez que a palavra é
imediatamente ativada.
5
Os exemplos utilizados foram retirados do artigo em análise.

3
Itens Morfológicos Primes Target

Primes Derivados ex.: Änderung ‘change’


ex.: ändern ‘to change’
Primes Influenciados ex.: geändert ‘changed’

Primes Não-Relacionados ex.: klein ‘small’

Tabela 1: Palavras prime e palavras target de itens morfológicos utilizadas no estudo de Jacob, Heyer &
Veríssimo (2018).

Itens Ortográficos Primes Target

Primes Relacionados ex.: Kasten ‘box’


ex.: Kasse ‘cash register’
Primes Não-Relacionados ex.: Schwan ‘swan’

Tabela 2: Palavras prime e palavras target de itens ortográficos utilizadas no estudo de Jacob, Heyer &
Veríssimo (2018).

Itens Semânticos Primes Target

Primes Relacionados ex.: Doktor ‘doctor’


ex.: Arzt ‘physician’
Primes Não-Relacionados ex.: Presse ‘press’

Tabela 3: Palavras prime e palavras target de itens semânticos utilizadas no estudo de Jacob, Heyer &
Veríssimo (2018).

1.3. Resultados obtidos:


Os resultados obtidos por Jacob, Heyer & Veríssimo (2018) estão ilustrados nas tabelas
4, 5 e 6 para melhor compreensão e análise dos mesmos.

RT’s - Priming Não- Flexionadas Derivadas Condição


Morfológico Relacionadas ‘identidade’

L1 635 608 617 568

L2 767 751 752 711


Tabela 4: Resultados obtidos, em ms, por Jacob, Heyer & Veríssimo (2018) dos tempos de resposta em
relação ao priming morfológico.

4
RT’s - Priming Não-Relacionado Relacionado Condição
‘identidade’
Ortográfico

L1 592 601 543

L2 701 683 636


Tabela 5: Resultados obtidos, em ms, por Jacob, Heyer & Veríssimo (2018) dos tempos de resposta em
relação ao priming ortográfico.

RT’s - Priming Não-Relacionado Relacionado Condição


‘identidade’
Semântico

L1 591 589 547

L2 685 685 635


Tabela 6: Resultados obtidos, em ms, por Jacob, Heyer & Veríssimo (2018) dos tempos de resposta em
relação ao priming semântico.

Em conformidade com as tabelas, os resultados obtidos com a realização deste


experimento revelam-nos que o tempo de resposta é, em todos os casos, como era de
esperar, maior nos falantes de alemão como segunda língua. Isto deve-se ao facto de, por
não serem falantes nativos, terem tido, provavelmente, menos exposição à língua. Para
além disso, o alemão e o russo são línguas bastante distintas, sendo a primeira de origem
germânica e a segunda de origem eslava, dificultando não só o processo de aprendizagem,
como também o conhecimento de determinados aspetos morfológicos, ortográficos e
semânticos.

1.4. Conclusão/Discussão:
Para finalizar a análise deste artigo científico, consideramos que o método utilizado é
adequado para o estudo da derivação e flexão numa segunda língua, neste caso o alemão,
através da utilização de uma mesma palavra target para cada um dos itens gramaticais.
Os resultados alcançados revelam as dissemelhanças entre o processamento flexional e o
processamento derivacional dos falantes L1 (nativos) e L2 (não nativos).

Ainda que concordemos com a metodologia utilizada, no nosso ponto de vista, a amostra
é bastante desproporcional, uma vez que tanto os participantes de L1 como os de L2 são

5
maioritariamente mulheres. Além disto, ainda que o objetivo do estudo seja utilizar
sempre a mesma palavra alvo, os resultados poderiam ser completamente distintos se
fossem comparados com o mesmo estudo, mas com palavras alvo diferentes. O facto de
ter sido utilizado o masked priming também pode ter influenciado bastante os resultados,
principalmente para o grupo de falantes L2, por as palavras serem apresentadas apenas
durante 50ms.

Parte II
2. Análise dos resultados obtidos numa experiência psicolinguística
2.1. Introdução:
Em sala de aula, na disciplina de Psicolinguística, foi realizado o mesmo estudo do
apresentado acima, Jacob, Heyer & Veríssimo (2018) - doravante designado como
«estudo original». A metodologia, porém, sofreu algumas alterações, na medida em que
foi adaptada às características dos estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, nomeadamente no que diz respeito à língua utilizada. Ao contrário do estudo
original, os falantes tinham como língua nativa o português (L1), e não o alemão ou russo,
e como segunda língua (L2) o inglês.

2.2. Metodologia utilizada:


Numa sala de aula, 42 inquiridos, em simultâneo, realizaram a experiência de priming
morfológico com decisão lexical através do computador, onde foram apresentados 102
verbos em inglês alternados com palavras filler. Cada um destes verbos foi apresentado
imediatamente antes de diferentes tipos de prime: flexionados (acrescentando o sufixo -
ed), derivados (acrescentando o sufixo -er) e não-relacionados (acrescentando os sufixos
-ed ou -er em radicais verbais com propriedades ortográficas e semânticas distintas das
palavras alvo).

Ainda que o método utilizado para a realização dos dois estudos tenha sido o mesmo, em
contraste com o estudo original, os primes e os alvos visuais, neste caso, foram de longa
duração - ‘overt visual’ -, sendo apresentados durante cerca de 250ms. Para além desta
alteração, também foram utilizadas sempre palavras alvo diferentes neste segundo estudo.

6
2.3. Resultados obtidos:
Para uma melhor análise e compreensão, a tabela 7 ilustra os resultados obtidos nesta
segunda experiência psicolinguística.

Tipos de prime RT’s (média)

Prime derivado 637

Prime flexionado 644

Prime não-relacionado 708


Tabela 7: Resultados obtidos, em ms, na segunda experiência psicolinguística dos tempos de resposta em
relação ao priming morfológico.

Os resultados obtidos demonstram-nos que o prime derivado é o que apresenta, em média,


valores mais baixos, seguido do prime flexionado e, por último, o prime não-relacionado
que tem os resultados mais elevados.

Comparando os resultados obtidos nos dois estudos, podemos constatar que os valores
apresentados para o priming morfológico do segundo estudo estão mais próximos dos
valores dos falantes de L1 do que dos falantes de L2 do estudo original. Esta aproximação
de resultados poderá ser explicada pelos diferentes tipos de priming utilizados nas
experiências, isto é, para falantes nativos um masked priming poderá ser suficiente, mas
para falantes L2 a dificuldade é muito maior devido ao curto espaço de tempo em que as
palavras prime foram apresentadas. Assim, para falantes L2 um priming ‘overt visual’ de
250ms, poderá ser tão suficiente como um masked priming de 50ms para falantes nativos
de uma determinada língua. Possivelmente, se tivesse sido utilizado o masked priming
neste segundo estudo, os resultados seriam mais semelhantes aos obtidos pelos falantes
L2 no estudo original.

7
RT’s - Priming Falantes L1 (estudo Falantes L2 (estudo Segundo estudo
Morfológico original) original)

Prime Derivado 617 752 637

Prime Flexionado 608 751 644

Prime Não- 635 767 708


relacionado
Tabela 8: Comparação dos tempos de resposta de priming morfológico dos falantes L1 e L2 do estudo de
Jacob, Heyer, & Veríssimo (2018) e do segundo estudo, apresentados em ms.

2.4. Conclusão/Discussão:
Ainda que o objetivo e a metodologia de ambos os estudos seja idêntica em vários aspetos,
consideramos bastante interessante fazer-se uma análise comparativa entre os mesmos.
Para termos respostas exatas do que influenciou cada um dos resultados, teríamos de fazer
mais estudos semelhantes, mas podemos ter uma ideia de que aspetos tais como a língua
utilizada para a realização da experiência, a língua nativa dos falantes e o tipo de priming
utilizado em cada uma poderão ser fatores que explicam os resultados acima apresentados
e as diferenças que existem entre os mesmos.

Teria sido curioso comparar estes resultados num estudo similar em que a língua utilizada
seria o português e o tipo de priming utilizado seria o masked priming. Possivelmente, os
resultados seriam iguais, pois a duração das palavras seria bastante menor, afetando os
resultados.

De um modo geral, a realização da experiência foi simples. Contudo, os resultados podem


não corresponder à realidade uma vez que, muitas das vezes, eram dadas respostas erradas
dado que os botões, com a urgência de responder num curto espaço de tempo, eram
confundidos. Tomamos como exemplo: ainda que saibamos que uma determinada palavra
existe na língua, o botão acionado era o de que a palavra não existia. Este tipo de situações
metem toda a experiência e a sua análise em causa.

8
Referências bibliográficas:
Jacob, Heyer, & Veríssimo (2018), University of Potsdam, Potsdam, Germany. Aiming
at the same target: A masked priming study directly comparing derivation and
inflection in the second language.

Forster, Kenneth, Department of Psychology, University of Arizona, last updated: April


12, 2002 http://www.u.arizona.edu/~kforster/dmdx/dmdx.htm

Veríssimo, J., Heyer, V., Jacob, G., & Clahsen, H. (2018). Selective effects of age of acquisition
on morphological priming: Evidence for a sensitive period. Language Acquisition, 25, 315–326

What are filler words, and How do you can cut them? Ellis, Matt, updated on September 15,
2002 https://www.grammarly.com/blog/how-we-use-filler-words/

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