Você está na página 1de 36

- Capítulo 5 -

Evidências de validade e
fidedignidade da Prova de Escrita sob
Ditado
(versão reduzida)
Alana Tosta Martoni * Natália Martins Dias
Talita de Cássia Batista Pazeto * Alessandra Gotuzo
Seabra
É crescente a preocupação com a disponibilização de testes para avaliar
habilidades relacionadas à leitura, uma vez que em nossa sociedade é de
extrema importância que o indivíduo tenha a capacidade de ler. Alguém que
não domina essa habilidade não está plenamente inserido no meio social
(Shaywitz, 2006). A escrita também transita nessa esfera e tem papel
importante na formação do indivíduo como sujeito social (Kramer, 2000).

Enquanto habilidade cognitiva, o domínio da escrita é um processo


contínuo que evolui com a idade, tendendo a se tornar estável com o tempo
(Suehiro, 2006). No que se refere à aquisição da leitura e da escrita, sabe-se
que ambas possuem uma estreita conexão. Apesar disso, ambos os processos
são multidimensionais e diversos componentes, alguns comuns, outros
específicos, estão envolvidos para o sucesso em ambas as habilidades (Dias
& Oliveira, 2013). No Capítulo 1 foram esboçadas algumas importantes
considerações acerca da leitura e escrita.

Um aspecto importante é que as estratégias empregadas na leitura (ou seja,

logográfica, alfabética e ortográfica) podem também ser aplicadas à


compreensão dos mecanismos de escrita, apesar de haver componentes
específicos à escrita, tal como a grafia e os aspectos psicomotores. Assim, na
escrita logográfica o indivíduo faz uma reprodução visual de palavras muito

frequentes e que lhe sejam conhecidas. Na escrita alfabética, a criança é


capaz de escrever palavras convertendo seus sons nos grafemas
correspondentes. Por sua vez, utilizando a estratégia ortográfica, o indivíduo
pode grafar palavras utilizando o acesso a um sistema léxico-grafêmico que
armazena a estrutura morfológica de cada palavra (Frith, 1985, 1997). A
avaliação neuropsicológica cognitiva da escrita, mais do que fornecer um
escore do desempenho geral, deve possibilitar a avaliação das estratégias
específicas preservadas e comprometidas no desempenho do indivíduo.

Embora a carência de instrumentos para avaliação da escrita e a


necessidade do desenvolvimento de testes específicos que possam avaliar
essa habilidade sejam uma realidade no panorama brasileiro, percebe-se um
movimento direcionado a preencher tal lacuna. Um exemplo disso é o
desenvolvimento de testes tal como a Prova de Escrita sob Ditado, composta
por 72 itens escolhidos a partir da lista disponibilizada por Pinheiro (1994). A
prova foi originalmente publicada em Capovilla e Capovilla (2000) e também
em Seabra e Capovilla (2011), com dados normativos e evidências de
validade. O teste também serviu de base para a construção de uma nova

versão: a Prova de Escrita sob Ditado (versão reduzida) ou PED-vr (Seabra &
Capovilla, 2013) que será detalhada neste capítulo e é disponibilizada no
Capítulo 7 desta obra.

A PED-vr é uma alternativa mais rápida e concisa à avaliação da

habilidade de escrita. Composta por 36 itens escolhidos a partir da lista


disponibilizada por Pinheiro (1994), essa versão pode ser mais vantajosa por
apresentar tempo reduzido de aplicação e correção. Ao longo deste capítulo,
apresenta-se o instrumento, bem como evidências de sua validade e dados de
fidedignidade. Dados normativos para crianças de 6 a 11 anos, assim como a
descrição detalhada do procedimento para aplicação e correção da PED-vr
são disponibilizados nos Capítulos 6 e 7, respectivamente.

1. APRESENTAÇÃO DO INSTRUMENTO:

PROVA DE ESCRITA SOB DITADO

(VERSÃO REDUZIDA)

A Prova de Escrita sob Ditado (versão reduzida) ou PED-vr (Seabra &


Capovilla, 2013) avalia a escrita na condição de ditado. Nesse instrumento, o
aplicador pronuncia, em voz alta, 36 itens psicolinguísticos, um a um, e a
criança deve grafá-los em uma folha pautada (veja Capítulo 7 que contém a
Folha de Aplicação). Todos os itens pertencem à lista disponibilizada por
Pinheiro (1994) e variam em termos de lexicalidade, regularidade das

correspondências grafofonêmicas envolvidas, sua frequência de ocorrência na


língua portuguesa brasileira e seu comprimento.

Conforme a classificação de Pinheiro (1994), no que se refere à


lexicalidade, os itens podem ser palavras (exemplo: empada) ou

pseudopalavras (exemplo: ezal), que consistem em palavras inventadas, com


estrutura aceitável na língua, porém sem nenhum significado. Já no que tange
à regularidade das correspondências grafofonêmicas, considera-se que as
relações envolvidas nos itens possam ser regulares (exemplo: duas), envolver
regras de posição (exemplo: carro), ou ser irregulares (exemplo: boxe). Um
item é considerado regular quando a pronúncia em voz alta (no caso da
leitura) ou a escrita sob ditado (no caso da escrita) podem ser feitas de modo
correto ao se aplicar regras biunívocas de correspondência grafema-fonema.

Palavras-regra são aquelas em que a correspondência letra-som depende da


posição que ele ocupa no item em relação a outros grafemas ou fonemas.
Entretanto, itens em que o conhecimento das regras de correspondência letra-
som ou das regras de posição não seja suficiente para que o sujeito consiga
pronunciá-lo e escrevê-lo de modo correto configuram a categoria de palavras
irregulares.

O grau de ocorrência da palavra na língua apresenta duas categorias:


palavras de alta (exemplo: casa) ou de baixa frequência (exemplo: marca).
Outra possibilidade de variação se dá em função do comprimento do item, ou

seja, seu número de letras ou de sílabas. A PED-vr possui itens dissílabos


(exemplo: folhas) ou trissílabos (exemplo: palavra).

Dessa forma, dos 36 itens da prova, 12 são regulares, 12 são regra e 12


irregulares; 12 são palavras de alta frequência, ١٢ de baixa e ١٢ são

pseudopalavras; 18 são dissílabos e 18 trissílabos. A tabela com a


classificação dos itens do instrumento pode ser consultada no Capítulo 7
deste livro.

Os diferentes tipos de itens que constituem o instrumento possibilitam a


avaliação diferencial das distintas estratégias utilizadas na escrita. Assim, por
exemplo, dificuldade em escrita de palavras irregulares pode ser sugestiva de
problemas com o acesso ao léxico ortográfico e de uma escrita pautada na
oralidade (uso exclusivo da estratégia alfabética). Ao contrário, dificuldades

em escrita de palavras menos frequentes ou pseudopalavras podem sugerir


problemas com o mecanismo de conversão fonografêmico da estratégia
alfabética. Desse modo, a PED-vr pode possibilitar, além da avaliação
quantitativa, uma análise qualitativa das estratégias preservadas e
comprometidas em acordo com o padrão de desempenho em itens específicos
do teste (para um exemplo, veja estudo de caso no Capítulo 13).

A Prova de Escrita sob Ditado (versão reduzida) pode ser aplicada


individual ou coletivamente, com duração aproximada de 20 a 30 minutos. O
resultado é obtido por meio da frequência média de erros por item, ou seja,

corresponde à soma total de erros em cada item dividido por 36 (número total
de itens da prova). É possível ainda pontuar a frequência de erros
separadamente para palavras e pseudopalavras. Os critérios de correção são
os mesmos utilizados na Prova de Escrita sob Ditado original, e podem ser

consultados no Capítulo 7 deste livro, que traz informações detalhadas sobre


a instrução para aplicação e correção da PED-vr.

2. EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA

PROVA DE ESCRITA SOB DITADO

(VERSÃO REDUZIDA)
2.1 Evidências de validade por relação
com outras variáveis
2.1.1 Dados do desenvolvimento

O estudo de Montiel (2008) apresenta dados de evidências de validade da


Prova de Escrita sob Ditado (versão reduzida) por meio da observação de
mudança no desempenho em função da série escolar. O autor avaliou 443
crianças, de ambos os sexos, da 1ª à 4ª série do Ensino Fundamental, com
idades entre 6 e 15 anos. Foi considerado o escore total (ditado total) e nos
subtestes (ditado de palavras e pseudopalavras). A análise de variância
revelou efeito significativo da série sobre escore total (Ditado total) (F[3,440] =
222,72 e p < 0,001) e sobre os escores em cada subteste, ou seja, Ditado de
palavras (F[3,440] = 215,79 e p < 0,001) e Ditado de Pseudopalavras (F[3,440] =

218,47 e p < 0,001). Ou seja, de modo geral, na PED-vr, houve tendência de


declínio no cometimento de erros paralelo à progressão da série escolar. A
análise de comparação de pares de Bonferroni mostrou diferenças
significativas entre todas as séries escolares, com aumento sistemático do

desempenho em função da progressão da 1ª à 4ª série, exceto entre 3ª e 4ª


séries. A fim de controlar o efeito da inteligência não verbal, foi conduzida
uma Análise de Covariância (ANCOVA) Multivariada tendo a série como
fator e o percentil no Teste de Raven como covariante. As estatísticas
descritivas obtidas após a correção feita pela ANCOVA mostraram
novamente diminuição das frequências de erros em ambos os subtestes e no
total na progressão da 1ª até a 4ª série. A análise de Bonferroni, mais uma
vez, retratou que as frequências de erros continuaram em sistemático

decréscimo da 1ª até a 3ª série do Ensino Fundamental, porém não


discriminou entre os desempenhos de 3ª e 4ª séries.

Ainda no mesmo estudo, padrão similar de desempenho crescente até a 3ª


série e a tendência a um platô entre 3ª e 4ª séries foi evidenciado com relação
à avaliação do reconhecimento de palavras e compreensão linguística, por
meio do Teste de Competência de Leitura de Palavras e Pseudopalavras e do
Teste Contrastivo de Compreensão Auditiva e de Leitura. Isso pode sugerir
que a escrita e a leitura de itens isolados, assim como as habilidades de
compreensão, conforme avaliadas por esses instrumentos, se desenvolvem

principalmente nas três primeiras séries do Ensino Fundamental, o que faz


com que na 4ª série essas habilidades já estejam relativamente desenvolvidas,
sem diferença significativa entre as duas últimas séries escolares.

Complementando os dados de Montiel (2008), estudo mais abrangente foi

conduzido com amostra de 566 crianças e adolescentes com idade entre 6 e


14 anos, estudantes de escolas públicas de Ensino Fundamental I e II de uma
cidade do Estado de São Paulo. Análise de Variância revelou efeito
significativo da idade sobre os desempenhos em ditado de palavras (F[8,565] =
86,204; p < 0,001), pseudopalavras (F[8,565] = 89,566; p < 0,001) e total (F[8,565]
= 88,949; p < 0,001). Houve nítida tendência a menor cometimento de erros
com a progressão da idade. Análise de comparação de pares de Bonferroni,
no entanto, demonstrou que a PED-vr foi mais efetiva em discriminar entre

os desempenhos das crianças mais jovens, ou seja, os grupos de 6 e 7 anos se


diferenciaram de todos os outros, apresentando maior frequência de erros;
porém, já a partir de ٨ anos, apesar de diminuição no cometimento de erros, a
diferença entre os grupos deixou de ser significativa. Esses resultados podem
ser visualizados na Figura 5.1.
Figura 5.1. Desempenho, em termos de frequência de erros total, na PED-vr

na progressão dos ٦ aos ١٤ anos de idade em amostra de crianças e


adolescentes de escolas públicas.

Como se depreende da figura, no curso dos 6 até os 8 anos há um grande


incremento na habilidade de escrita dessas crianças, representado pelo menor
cometimento de erros na PED-vr. Porém, a partir dos 8 até o grupo etário de
14 anos, a diminuição na frequência de erros cometidos é mais sutil e, de
fato, aproxima-se de zero, de modo que pode-se compreender que há efeito
de piso. Isso deixa evidente que a PED-vr é mais sensível e efetiva em
discriminar entre os desempenhos de crianças mais jovens, entre 6 e 8 ou 9

anos, faixa etária compreendida nas séries iniciais do Ensino Fundamental I.


Esses resultados são consistentes com os de Montiel (2008). O autor
encontrou declínio no cometimento de erros na escrita da 1ª à 3ª série, porém
também não encontrou diferenças significativas entre os desempenhos das
crianças de ٣ª e ٤ª séries (equivalente a 8 a 10 anos).

2.1.2 Relação com outros testes


Uma análise de correlação de Pearson foi conduzida entre o desempenho
total na PED-vr e desempenhos em reconhecimento de palavras (Teste de

Competência de Leitura de Palavras e Pseudopalavras – Seabra & Capovilla,


2010), compreensão auditiva e de leitura (Teste Contrastivo de Compreensão
Auditiva e de Leitura – Capovilla & Seabra, 2013), consciência sintática
(Prova de Consciência Sintática – Capovilla & Capovilla, 2006), consciência

fonológica (Prova de Consciência Fonológica por produção Oral – Seabra &


Capovilla, 2012), memória fonológica de curto prazo (Teste de Repetição de
Palavras e Pseudopalavras – Seabra, 2012b), nomeação (Teste Infantil de
Nomeação – Seabra, Trevisan & Capovilla, 2012), vocabulário (Teste de
Vocabulário por Imagens Peabody – Capovilla & Capovilla, 1997) e
competência aritmética (Prova de Aritmética – Seabra, Montiel & Capovilla,
2013). Participaram 619 crianças e adolescentes com idades entre 6 e 14
anos, estudantes de todos os níveis do Ensino Fundamental I e II, já excluídos

alunos repetentes. As correlações encontradas são apresentadas na Tabela 5.1.


Tabela 5.1. Matriz de correlações entre desempenho total na PED-vr e em testes de leitura,
linguagem oral e aritmética.

PED-vr

TCLPP r -0,82

p 0,000

TCCAL-SCSE r -0,81

p 0,000
PA r -0,75

p 0,000

TCCAL-SCSF r -0,64

p 0,000

PCFO r -0,66

p 0,000

TIN r -0,56

p 0,000

TVIP r -0,55

p 0,000

PCS r -0,50

p 0,000

TRPP r -0,40

p 0,000

TCLPP: escore total no Teste de Competência de Leitura de Palavras e Pseudopalavras; TCCAL-


SCSE: escore no subteste de Compreensão de Sentenças Escritas do Teste Contrastivo de
Compreensão Auditiva e de Leitura; PA: escore total na Prova de Aritmética; TCCAL-SCSF:

escore no subteste de Compreensão de Sentenças Faladas do Teste Contrastivo de Compreensão


Auditiva e de Leitura; PCFO: escore total na Prova de Consciência Fonológica por produção Oral;
TIN: escore total no Teste Infantil de Nomeação; TVIP: escore total no Teste de Vocabulário por
imagens Peabody; PCS: escore total na Prova de Consciência Sintática; TRPP: escore total no
Teste de Repetição de Palavras e Pseudopalavras.

Pode-se verificar que o desempenho em escrita, avaliado pela PED-vr,


correlacionou-se de forma altamente significativa com todas as medidas de
leitura, linguagem e aritmética, conforme era esperado. As correlações foram
muito altas com reconhecimento de palavras (TCLPP) e compreensão de
leitura (TCCAL-SCSE), altas com aritmética (PA), consciência fonológica

(PCFO) e compreensão auditiva (TCCAL-SCSF) e moderadas com as demais


medidas de linguagem oral, ou seja, nomeação (TIN), vocabulário (TVIP),
consciência sintática (PCS) e memória fonológica de curto prazo (TRPP).
Todas as correlações foram negativas, ou seja, quanto menor o cometimento

de erros na escrita sob ditado (e, portanto, melhor o desempenho em escrita),


tanto melhor o desempenho do indivíduo em leitura, linguagem e aritmética.

Essa análise complementar ilustra os padrões de convergência esperados


entre as habilidades de escrita, leitura, linguagem e mesmo aritmética,
provendo evidências de validade por correlação com outras variáveis à PED-
vr.

2.1.3 Relação com critérios externos:

nota escolar

Em análise complementar conduzida para este capítulo participaram 354


crianças com idades entre 6 e 10 anos, estudantes da 1ª à 4ª série do Ensino
Fundamental de uma escola pública de um município de São Paulo. Foram
excluídos alunos com histórico de repetência para composição dessa amostra.
Não havia na amostra crianças com deficiência mental ou sensorial conhecida
e não corrigida. Foi conduzida uma análise de correlação de Pearson entre o
desempenho na PED-vr, considerando a frequência de erros em palavras,
pseudopalavras e total, e o desempenho escolar, representado pela média das
quatro notas bimestrais nas cinco disciplinas principais (língua portuguesa,

matemática, ciências, história e geografia). As notas dos quatro bimestres


letivos foram fornecidas pela escola ao término do ano escolar. O
desempenho escolar constitui um critério externo relevante na investigação
de evidências de validade de instrumentos para avaliação de habilidades

como a leitura ou a escrita, sobretudo em amostras de crianças e adolescentes.


As correlações encontradas em cada nível escolar separadamente são
apresentadas na Tabela 5.2.
Tabela 5.2. Matriz de correlações entre desempenho na PED-vr, total e subtestes de palavras e
pseudopalavras, e nota escolar anual (média dos desempenhos nos quatro bimestres letivos) nas
disciplinas de língua portuguesa, matemática, ciências, história e geografia para as quatro séries iniciais
do Ensino Fundamental.

Desempenho (nota escolar)

1ª série 2ª série 3ª série 4ª série

Palavras r -0,68 -0,57 -0,51 -0,58

p 0,000 0,000 0,000 0,000

Pseudo r -0,68 -0,48 -0,50 -0,27

p 0,000 0,000 0,000 0,012

Total r -0,69 -0,55 -0,54 -0,51

p 0,000 0,000 0,000 0,000

Como fica evidente na Tabela 5.2, a frequência de erros em palavras,


pseudopalavras e no total da PED-vr travou correlações com magnitudes de
moderada a alta, sempre significativas, com o desempenho escolar,
representado pela média das notas escolares bimestrais nas diversas

disciplinas no curso de um ano letivo. Todas as correlações foram negativas,


ou seja, quanto menor a frequência de erros em escrita sob ditado, melhor o
desempenho escolar da criança. Interessante observar também que, apesar das
correlações se manterem significativas ao longo das séries escolares, há um

padrão diferencial na sucessão da 1ª até 4ª série. De modo geral, foi na 1ª


série que os desempenhos em escrita e acadêmico tenderam a se relacionar
com magnitudes mais altas e houve tendência a decréscimo na magnitude
dessa relação com a progressão dos níveis escolares, apesar das correlações,
no geral, se manterem robustas. Isso sugere que, no início da escolarização
formal, a habilidade de escrita, conforme avaliada pela PED-vr, possui
importância relativa maior para o desempenho escolar em relação aos anos
escolares subsequentes. Em suma, as relações encontradas mostram que o

desempenho na PED-vr se relacionou de forma altamente significativa com o


próprio desempenho escolar, o que provê ao instrumento evidências de
validade por relação com outras variáveis.

3. DADOS DE FIDEDIGNIDADE E

CONSISTÊNCIA INTERNA

A fidedignidade da PED-vr foi verificada no estudo de Capovilla (2006)


por meio do alfa de Cronbach, tendo sido obtido o valor de 0,99, e, por meio
do método das metades, com coeficiente de Spearman-Brown de 0,96. Nessa
análise, foram incluídos 424 sujeitos, estudantes do Ensino Fundamental I.

Utilizando-se o método de teste-reteste, do qual participaram 25 sujeitos,


obteve-se coeficiente de 0,59.

Análises complementares, das quais participam 566 crianças e


adolescentes com idades entre 6 e 14 anos, estudantes do Ensino

Fundamental I e II, revelaram, por meio do alfa de Cronbach, coeficientes de


0,98 e 0,96 para o desempenho (frequência de erros) em palavras e
pseudopalavras, respectivamente; e coeficientes de Spearman-Brown de 0,99
e 0,97, por meio do método das metades, novamente para o desempenho em
palavras e pseudopalavras, respectivamente. Para o escore total no
instrumento também foram obtidos coeficientes muito satisfatórios, com alfa
de Cronbach igual a 0,99 e Spearman-Brown de 0,99. Esses dados ilustram a
alta fidedignidade e consistência interna da PED-vr.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo geral, este capítulo demonstrou que a PED-vr apresenta boas


qualidades psicométricas para avaliação da habilidade de escrita de crianças,
sobretudo aquelas nas séries iniciais do Ensino Fundamental. A
disponibilização do instrumento é relevante no contexto nacional na medida
em que poderá contribuir ao processo avaliativo das queixas de aprendizagem
da leitura e escrita e na identificação de problemas específicos na área da
escrita, preenchendo uma lacuna no instrumental disponível no contexto
nacional. Além disso, o teste permite uma análise qualitativa do padrão de

erros em cada tipo de item (por exemplo, palavras versus pseudopalavras),


informação que pode orientar uma intervenção adequada e focada nas
dificuldades específicas do sujeito.
- Capítulo 6 -
Dados normativos da
Prova de Escrita sob Ditado
(versão reduzida)
Natália Martins Dias * Bruna Tonietti Trevisan *
Alessandra Gotuzo Seabra
1. AMOSTRA DE NORMATIZAÇÃO

A amostra usada para a normatização da Prova de Escrita sob Ditado


(versão reduzida) – PED-vr foi constituída por 406 crianças e adolescentes
com idade entre 6 e 11 anos (M = 8,65; DP = 1,65), estudantes do Ensino
Fundamental (1ª a 6ª série) de escolas públicas municipais, localizadas em
bairros de nível socioeconômico médio e médio-baixo de uma cidade do
interior de São Paulo. A Tabela 6.1 sumaria a frequência e porcentagem de
participantes em cada faixa etária. Não havia na amostra crianças com

deficiência intelectual ou sensorial conhecida não corrigida.

2. NORMAS PARA INTERPRETAÇÃO

Para a normatização da pontuação na PED-vr para a faixa etária de 6 a 11


anos (1ª a 6ª série do Ensino Fundamental), foram primeiramente obtidas a
Tabela 6.1. Constituição da amostra de normatização da PED-vr.

Grupo etário Frequência Porcentagem

6 37 9,1
7 96 23,6

8 97 23,9

9 63 15,6

10 69 17,0

11 44 10,8

Total 406 100,0

média e o desvio-padrão das distribuições das pontuações brutas no


instrumento para cada um dos níveis etários. Para a obtenção da pontuação-
padrão correspondente a cada pontuação bruta na PED-vr, tais pontuações
foram submetidas à seguinte sequência de operações: de cada pontuação foi
subtraída a média da distribuição correspondente, e o resto foi dividido pelo
desvio-padrão dessa distribuição. Tal razão foi multiplicada então por 15, e a
esse produto foi finalmente acrescido 100. A fórmula pode ser assim
representada: pontuação-padrão = ([PONTUAÇÃO - média] / desvio-padrão)
15 + 100.

Cabe lembrar que, na PED-vr, é utilizada como pontuação a frequência de


erros por item, de forma que esse desempenho precisa ser calculado antes da
consulta às tabelas de normatização. Para calcular a frequência de erros por
item, consulte o Capítulo 7.

A seguir são apresentadas as tabelas de normatização da frequência média


de erros no total e em “palavras” e “pseudopalavras” para cada faixa etária. A
Tabela 6.2 apresenta a pontuação-padrão para a frequência média de erros
total na PED-vr. As Tabelas 6.3 e 6.4 correspondem à frequência média de

erros em “palavras” e “pseudopalavras” para crianças no curso do Ensino


Fundamental. Em todas as tabelas, a pontuação-padrão média corresponde a
100 e o desvio-padrão a 15 (Kamphaus & Frick, 1996).

Para obter a classificação, usar a referência na coluna ao lado.

Para verificar qual a pontuação-padrão de um indivíduo, primeiramente


verifique qual foi sua frequência média de erros na prova como um todo e
somente para palavras e para pseudopalavras. Em seguida
Pontuação-padrão < 70 muito baixa

Pontuação-padrão entre 70 e 84 baixa

Pontuação-padrão entre 85 e 114 média

Pontuação-padrão entre 115 e 129 alta

Pontuação-padrão > 130 muito alta

busque, na tabela apropriada, a linha que corresponde a essa frequência. Por

exemplo, se uma criança de 6 anos, cursando o Ensino Fundamental, obteve


frequência média de erros de ٤,٥ pontos na escrita de palavras e
pseudopalavras (PED-vr total), olhe a linha correspondente à “frequência
média de erros” ٤,٥ na Tabela 6.2. Então verifique, na coluna correspondente
à idade dela, qual é a pontuação-padrão. Nesse caso de frequência média de
erros ٤,٥ para a idade de ٦ anos, a sua pontuação-padrão será 93, cuja
classificação é “média”.

3. TABELAS DE PONTUAÇÃO-PADRÃO

As tabelas de pontuação-padrão se encontram nas páginas seguintes.


Tabela 6.2. Pontuações-padrão da frequência média de erros na Prova de Escrita sob Ditado (versão
reduzida) como um todo, por idade, para crianças do Ensino Fundamental.

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

5,8 82 75

5,75 83 75

5,7 83 76

5,65 84 76

5,6 84 76

5,55 84 77

5,5 85 77

5,45 85 77

5,4 86 78

5,35 86 78

5,3 86 79

5,25 87 79

5,2 87 79

5,15 88 80

5,1 88 80

5,05 88 80
5 89 81

4,95 89 81

4,9 90 82

4,85 90 82

4,8 90 82

4,75 91 83

4,7 91 83

4,65 92 84

4,6 92 84

4,55 92 84

4,5 93 85

4,45 93 85

4,4 94 85

4,35 94 86

4,3 94 86

4,25 95 87

4,2 95 87

4,15 96 87

4,1 96 88

4,05 96 88

4 97 88

3,95 97 89

3,9 98 89

3,85 98 90
3,8 98 90

3,75 99 90

3,7 99 91

3,65 100 91

3,6 100 92

3,55 100 92

3,5 101 92 1

Tabela 6.2. Pontuações-padrão da frequência média de erros na Prova de Escrita sob Ditado (versão
reduzida) como um todo, por idade, para crianças do Ensino Fundamental (continuação).

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

3,45 101 93 3

3,4 102 93 4

3,35 102 93 6

3,3 102 94 8

3,25 103 94 9

3,2 103 95 11

3,15 104 95 13

3,1 104 95 15

3,05 104 96 16

3 105 96 18

2,95 105 96 20

2,9 106 97 22

2,85 106 97 23

2,8 106 98 25
2,75 107 98 27

2,7 107 98 28

2,65 108 99 30

2,6 108 99 32

2,55 108 100 34

2,5 109 100 35

2,45 109 100 37

2,4 110 101 39

2,35 110 101 41

2,3 110 101 42

2,25 111 102 44

2,2 111 102 46

2,15 112 103 47

2,1 112 103 49

2,05 112 103 51

2 113 104 53

1,95 113 104 54

1,9 114 104 56

1,85 114 105 58

1,8 114 105 60

1,75 115 106 61

1,7 115 106 63

1,65 116 106 65

1,6 116 107 66


1,55 116 107 68

1,5 117 108 70 1

1,45 117 108 72 5

1,4 118 108 73 10

1,35 118 109 75 14 1

1,3 118 109 77 18 5

1,25 119 109 79 23 10 1

1,2 119 110 80 27 14 6

1,15 119 110 82 31 19 11

Tabela 6.2. Pontuações-padrão da frequência média de erros na Prova de Escrita sob Ditado (versão
reduzida) como um todo, por idade, para crianças do Ensino Fundamental (continuação).

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

1,1 120 111 84 35 24 16

1,05 120 111 85 40 28 21

1 121 111 87 44 33 26

0,95 121 112 89 48 37 31

0,9 121 112 91 53 42 36

0,85 122 112 92 57 47 41

0,8 122 113 94 61 51 46

0,75 123 113 96 65 56 51

0,7 123 114 98 70 60 56

0,65 123 114 99 74 65 61

0,6 124 114 101 78 70 66

0,55 124 115 103 83 74 71


0,5 125 115 104 87 79 76

0,45 125 116 106 91 83 81

0,4 125 116 108 96 88 86

0,35 126 116 110 100 93 91

0,3 126 117 111 104 97 96

0,25 127 117 113 108 102 101

0,2 127 117 115 113 106 106

0,15 127 118 117 117 111 111

0,1 128 118 118 121 115 116

0,05 128 119 120 126 120 121

0 129 119 122 130 125 126

Tabela 6.3. Pontuações-padrão da frequência de erros em “palavras” na Prova de Escrita sob


Ditado (versão reduzida) por idade para crianças do Ensino Fundamental.

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

6 81 73

5,95 82 74

5,9 82 74

5,85 82 74

5,8 83 75

5,75 83 75

5,7 84 75

5,65 84 76

5,6 84 76
5,55 85 77

5,5 85 77

5,45 86 77

5,4 86 78

5,35 86 78

5,3 87 78

5,25 87 79

5,2 87 79

Tabela 6.3. Pontuações-padrão da frequência de erros em “palavras” na Prova de Escrita sob


Ditado (versão reduzida) por idade para crianças do Ensino Fundamental (continuação).

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

5,15 88 80

5,1 88 80

5,05 89 80

5 89 81

4,95 89 81

4,9 90 81

4,85 90 82

4,8 91 82

4,75 91 83

4,7 91 83

4,65 92 83

4,6 92 84

4,55 93 84
4,5 93 84

4,45 93 85

4,4 94 85

4,35 94 86

4,3 94 86

4,25 95 86

4,2 95 87

4,15 96 87

4,1 96 87

4,05 96 88

4 97 88

3,95 97 89

3,9 98 89

3,85 98 89

3,8 98 90

3,75 99 90

3,7 99 90

3,65 100 91

3,6 100 91

3,55 100 92

3,5 101 92 1

3,45 101 92 3

3,4 101 93 5

3,35 102 93 7
3,3 102 93 8

3,25 103 94 10

3,2 103 94 12

3,15 103 95 13

3,1 104 95 15

3,05 104 95 17

3 105 96 18

2,95 105 96 20

2,9 105 96 22

2,85 106 97 23

Tabela 6.3. Pontuações-padrão da frequência de erros em “palavras” na Prova de Escrita sob


Ditado (versão reduzida) por idade para crianças do Ensino Fundamental (continuação).

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

2,8 106 97 25

2,75 107 98 27

2,7 107 98 28

2,65 107 98 30

2,6 108 99 32

2,55 108 99 34

2,5 108 99 35

2,45 109 100 37

2,4 109 100 39

2,35 110 101 40

2,3 110 101 42


2,25 110 101 44

2,2 111 102 45

2,15 111 102 47

2,1 112 102 49

2,05 112 103 50

2 112 103 52

1,95 113 104 54

1,9 113 104 55

1,85 113 104 57

1,8 114 105 59

1,75 114 105 61

1,7 115 105 62

1,65 115 106 64

1,6 115 106 66

1,55 116 107 67

1,5 116 107 69

1,45 117 107 71 1

1,4 117 108 72 5

1,35 117 108 74 10

1,3 118 108 76 14

1,25 118 109 77 18

1,2 119 109 79 22 3 3

1,15 119 110 81 27 8 8

1,1 119 110 82 31 13 13


1,05 120 110 84 35 18 18

1 120 111 86 39 23 22

0,95 120 111 87 43 28 27

0,9 121 111 89 48 33 32

0,85 121 112 91 52 38 37

0,8 122 112 93 56 43 42

0,75 122 113 94 60 47 47

0,7 122 113 96 65 52 52

0,65 123 113 98 69 57 57

0,6 123 114 99 73 62 62

0,55 124 114 101 77 67 67

0,5 124 114 103 82 72 72

Tabela 6.3. Pontuações-padrão da frequência de erros em “palavras” na Prova de Escrita sob


Ditado (versão reduzida) por idade para crianças do Ensino Fundamental (continuação).

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

0,45 124 115 104 86 77 77

0,4 125 115 106 90 82 82

0,35 125 116 108 94 86 86

0,3 126 116 109 99 91 91

0,25 126 116 111 103 96 96

0,2 126 117 113 107 101 101

0,15 127 117 114 111 106 106

0,1 127 117 116 116 111 111

0,05 127 118 118 120 116 116


0 128 118 120 124 121 121

Tabela 6.4. Pontuações-padrão da frequência média de erros em “pseudopalavras” na Prova de

Escrita sob Ditado (versão reduzida) por idade para crianças do Ensino Fundamental.

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

5,5 85 78

5,45 85 78

5,4 85 79

5,35 86 79

5,3 86 79

5,25 87 80

5,2 87 80

5,15 87 80

5,1 88 81

5,05 88 81

5 89 82

4,95 89 82

4,9 90 82

4,85 90 83

4,8 90 83

4,75 91 84

4,7 91 84

4,65 92 84

4,6 92 85
4,55 92 85

4,5 93 85

4,45 93 86

4,4 94 86

4,35 94 87

4,3 94 87

4,25 95 87

4,2 95 88

4,15 96 88

4,1 96 89

4,05 96 89

Tabela 6.4. Pontuações-padrão da frequência média de erros em “pseudopalavras” na Prova de


Escrita sob Ditado (versão reduzida) por idade para crianças do Ensino Fundamental (continuação).

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

4 97 89

3,95 97 90

3,9 98 90

3,85 98 90

3,8 99 91

3,75 99 91

3,7 99 92 1

3,65 100 92 3

3,6 100 92 5

3,55 101 93 6
3,5 101 93 8

3,45 101 94 10

3,4 102 94 11

3,35 102 94 13

3,3 103 95 15

3,25 103 95 16

3,2 103 95 18

3,15 104 96 20

3,1 104 96 21

3,05 105 97 23

3 105 97 25

2,95 106 97 26

2,9 106 98 28

2,85 106 98 29

2,8 107 99 31

2,75 107 99 33

2,7 108 99 34

2,65 108 100 36

2,6 108 100 38

2,55 109 100 39

2,5 109 101 41

2,45 110 101 43

2,4 110 102 44

2,35 110 102 46


2,3 111 102 48

2,25 111 103 49

2,2 112 103 51

2,15 112 104 53

2,1 112 104 54

2,05 113 104 56

2 113 105 58

1,95 114 105 59 3 2

1,9 114 105 61 2 6 5

1,85 115 106 63 5 9 8

1,8 115 106 64 9 12 11

1,75 115 107 66 12 15 14

1,7 116 107 68 16 18 17

Tabela 6.4. Pontuações-padrão da frequência média de erros em “pseudopalavras” na Prova de


Escrita sob Ditado (versão reduzida) por idade para crianças do Ensino Fundamental (continuação).

Idade no Ensino Fundamental

Frequência média de erros 6 7 8 9 10 11

1,65 116 107 69 19 21 20

1,6 117 108 71 23 24 23

1,55 117 108 73 26 27 27

1,5 117 108 74 29 31 30

1,45 118 109 76 33 34 33

1,4 118 109 78 36 37 36

1,35 119 110 79 40 40 39

1,3 119 110 81 43 43 42


1,25 119 110 83 47 46 45

1,2 120 111 84 50 49 48

1,15 120 111 86 54 52 51

1,1 121 112 88 57 55 54

1,05 121 112 89 61 59 57

1 121 112 91 64 62 60

0,95 122 113 93 67 65 63

0,9 122 113 94 71 68 66

0,85 123 113 96 74 71 69

0,8 123 114 98 78 74 72

0,75 124 114 99 81 77 75

0,7 124 115 101 85 80 79

0,65 124 115 102 88 83 82

0,6 125 115 104 92 87 85

0,55 125 116 106 95 90 88

0,5 126 116 107 98 93 91

0,45 126 117 109 102 96 94

0,4 126 117 111 105 99 97

0,35 127 117 112 109 102 100

0,3 127 118 114 112 105 103

0,25 128 118 116 116 108 106

0,2 128 118 117 119 111 109

0,15 128 119 119 123 114 112

0,1 129 119 121 126 118 115


0,05 129 120 122 129 121 118

0 130 120 124 133 124 121

Você também pode gostar