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BRASÍLIA
2012
MARIA AUGUSTA ALVES PIMENTA
Brasília - DF
2012
P644b Pimenta, Maria Augusta Alves.
Bloco inicial de alfabetização (BIA) e queixa escolar: estudo de caso de uma
escola pública do Distrito Federal. / Maria Augusta Alves Pimenta – 2012.
248f. ; il.: 30 cm
CDU 159.953:37.015.31
Brasília
2012
Aos alunos da escola pública que por 18 anos
compartilham de minha história profissional e
constituição pessoal, trazendo à minha rotina
de pedagoga e psicopedagoga novos desafios,
indagações e aprendizagens. Mas, acima de
tudo, fazendo-me acreditar que no processo de
produção da queixa escolar: as mesmas mãos
que fraturam podem ser as mesmas mãos que
modelam.
AGRADECIMENTOS
Ao amor incondicional e pleno que a tudo abarca, emoldurado na poesia do ritmo, numa
infindável visibilidade e inviabilidade, harmonicamente sem tempo, como origem oculta de
todas as coisas.
Aos filhos, Willian, Renata e Heloisa, e às netas, Ana Luíza, Sophia e Giulia, que
muitas vezes se viram privados da mãe e da avó para deixar florescer a pesquisadora. À minha
mãe, Vitória, notável modelo em expressão de resoluta fé, incansável guerreira a lutar pela
vida dia a dia... fio a fio.
Ao sobrinho Rodrigo Sena pela preciosa paciência e atenção na formatação dos
organogramas.
À colega Márcia Cabral, incansável amiga e companheira na trajetória do mestrado.
À professora Erenice Natália Soares de Carvalho que, com carinho, partilhou tantas
dúvidas, anseios e descobertas, parceira na tessitura desse novo desafio vencido.
À professora Sandra Francesca Conte de Almeida, que, como sempre, com muita
sensibilidade e profissionalismo, mostrou-se parceira, educadora e pesquisadora, contribuindo
com a orientação das ideias e das perspectivas, ancorando e direcionando minhas dúvidas a
aportes teóricos-metodológicos, auxiliando-me a não perder de vista responsabilidades
pessoais e sonhos de uma educação pública de qualidade, solidária, justa e cidadã.
À professora Leda Gonçalves de Freitas, por sua acolhida pessoal e profissional e pela
primorosa ajuda na revisão do projeto de pesquisa.
À professora Claisy Maria Marinho Araújo, pela participação na banca examinadora e
pelas ricas e primorosas contribuições dadas à análise do projeto de qualificação.
À diretora da Escola Desafios do Aprender e sua equipe gestora, mas, principalmente, à
coordenadora e aos professores dos terceiros anos-BIA, pela disponibilidade de tempo e
atenção para as entrevistas e o preenchimento do questionário. Foram, estes profissionais,
especiais parceiros que muito contribuíram para o meu desenvolvimento pessoal, profissional
e, fundamentalmente, humano.
A todos, muito obrigada.
Há crianças que não aprendem!
Há crianças que não aprendem...
Há crianças que não aprendem?
(BISSOTO, 1999)
RESUMO
This research aims at analyzing conceptions and pedagogical practices used by teachers of the
BIA (Bloco Inicial de Alfabetização, i.e., Initial Block of Literacy) regarding school problems
(queixa escolar) and learning difficulties in a public school in Distrito Federal (Federal
District).One starts from the assumption that the BIA brought new ways to assess, plan and
implement pedagogical strategies used by teachers in relation to students who were most
likely to be placed in a situation of abuse and school retention. This was only possible
because BIA broke with the structure of grades being applied to the first three years of
literacy.This context led to the main question that guided this research: Does the BIA –
proposed as a cyclic model for schooling – interfere in the conceptions and pedagogical
practices of teachers in matters related to school problems? The research is qualitative in
nature and presents a case study of a public school in the Federal District. Information was
collected through official documents, participant observation and semi-structured interviews.
Research showed that at the investigated school the methodological principles of the BIA
changed the school’s structure and pedagogical organization, also determining changes in
their practices, strategies and educational functioning. Amongst these changes, one can
highlight the evaluative and interventional teaching strategies applied by teachers to third-year
BIA students (with higher incidences of content gap, besides lack of skills and competencies
which are required to literacy, bringing together susceptible features to the condition of
students with school problems). The pedagogical practices developed by the school are
marked up by the Principle of Formative Evaluation, which is of investigative-reflective
character, and also introduces and subsidizes significant structuring in the effective
application of teaching strategies of the methodological principles which guide the BIA and
all pedagogical work developed.These changes led to changes in conceptions of literacy
teachers about the criteria for identification, intervention and referral of school problems.
Another implication was the reduction of the number of students sent to the EEAA (Equipes
Especializadas de Apoio à Aprendizagem, i.e., Specialized Teams for Support to Learning),
responsible for the diagnosis of students in the State Education Department of Federal District
(Secretaria do Estado Educação do Distrito Federal).
1
O Decreto 33409, de 13 de dezembro de 2011, dispôs sobre a reestruturação organizacional e administrativa da
SEDF, e implicou alterações nas seguintes siglas: DRESO foi alterada para Coordenação Regional de Ensino de
Sobradinho; DEE foi alterada para Coordenação de Educação Inclusiva; GEF foi alterada para Gerência de
Ensino Fundamental Programas e Projetos Especiais; SEB foi alterada para Coordenação do Ensino
Fundamental e NMP foi alterada para Gerência Regional de Educação Básica. Para melhor entendimento dessa
investigação e da proposta do BIA, as siglas DRESO, DEE, GEF, NMP e SEB foram mantidas neste texto, visto
que as Estratégias Pedagógicas que ainda orientam o BIA (DISTRITO FEDERAL, 2006; 2010a) tem como
referência as siglas anteriormente empregadas.
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
PDAF – Programa de Descentralização Administrativa e Financeira
PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação
PNE – Plano Nacional de Educação
PNLD – Programa Nacional do Livro Didático
PPP – Projeto Político-Pedagógico
RA – Região Administrativa
SAE – Sistema de Avaliação do Ensino
Saeb – Sistema de Avaliação da Educação Básica
Saiec – Sistema de Avaliação Interna da Escola Classe
SEB – Secretaria de Educação Básica
SEDF – Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
SePE-Ipusp – Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo
SES/DF – Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal
TDAH – Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
TGD – Transtorno Global de Desenvolvimento
TLCE – Termo do Livre Consentimento Esclarecido
UnB – Universidade de Brasília
Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18
APÊNDICE C – Questionário para professores alfabetizadores – Etapa III (3º ano BIA) .. 235
ANEXOS ............................................................................................................................... 236
ANEXO B – Número de turmas e alunos matriculados na escola Desafios do Aprender, ... 238
INTRODUÇÃO
Há muito a escola recebe críticas sobre seu distanciamento do mundo das crianças e
dos jovens. Há muito se apela para a máxima de que a escola não acompanhou as mudanças
do mundo atual. No entanto, a escola ainda continua sendo, por excelência, o espaço a quem a
sociedade confia a educação de suas novas gerações. Portanto, não se trata aqui apenas de
pensar mudanças na escola. Muitos têm tentado propor uma reflexão profunda acerca de sua
função social, dos valores e das crenças perpetuados por ela, tanto de forma implícita como
explícita.
Em minha experiência como pedagoga, orientadora educacional e psicopedagoga,
venho acompanhando, com certa frustração, as diferentes mudanças pelas quais a escola vem
passando (reformas, projetos, currículo, arquitetura, dentre outros) sem, contudo, deixar
esmaecerem minhas esperanças, haja vista a percepção e o reconhecimento da escola como
um espaço de circulação de culturas, além de espaço político que oferta bases conceituais e
pressupostos (valores, crenças e ideologias) passíveis de modificação. Coaduno com o
pensamento de Perrenoud (2001), de que as resistências se organizam tanto no campo dos
professores quanto no das autoridades escolares, mas elas não conseguem imobilizar as
mudanças. Acredito, como ele, que os ciclos de aprendizagem é uma maneira de redistribuir
as cartas, de dar vida novamente a certas esperanças decepcionadas (PERRENOUD, 2001).
Nesse sentido, pensar na proposta da escolaridade em ciclos é pensar em um universo
de variáveis visíveis e invisíveis que transformam a organização e a cultura escolar. Obriga-
nos a pensar também no todo histórico em que as dificuldades de aprendizagem vêm sendo
tratadas, remetendo a um universo muito grande de significações que inclui, entre outros, a
queixa escolar.
Sem pretender esgotar esse universo de significações, é importante frisar que a
alfabetização tem sido uma questão bastante discutida pelos que se preocupam com a
educação, visto que há décadas se observam as mesmas dificuldades de aprendizagem, as
inúmeras reprovações e a evasão escolar. Segundo Cagliari (1992, p.8) “[...] não se tratando
adequadamente a escrita e a fala na alfabetização, a escola encontrará dificuldades sérias para
lidar com a leitura”. O autor ressalta ainda que os problemas de aprendizagem na
alfabetização podem estar apoiados na maneira equivocada com que a escola concebe e dirige
suas práticas às questões da fala, da escrita e da leitura, que estão associadas à falta de
conhecimentos linguísticos. Esse contexto concorre para que se venha atribuindo “ [...] o
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fracasso escolar ora ao aluno, visto como incapaz, carente, cheio de deficiências, ora ao
professor” (CAGLIARI, 1992, p. 9).
As inovações trazidas pelas diretrizes metodológicas do Bloco Inicial de Alfabetização
(BIA) para os professores alfabetizadores instauram encontros, dificuldades, sucessos e
impasses no contexto da alfabetização na escola pública, bem como um novo olhar para os
estudantes em geral. Essas mudanças encontram-se marcadas por estratégias pedagógicas
diferenciadas que, na prática, remetem a novas representações nas concepções de professores
alfabetizadores.
Os olhares também se voltam ao sucesso e ao fracasso escolar desses estudantes, que
não mais se deparam com as terríveis e ameaçadoras reprovações que impingiam a eles a
culpabilização pelas dificuldades, pelos problemas ou pelos transtornos apresentados durante
o processo de aquisição da alfabetização e letramentos. Minha compreensão é que esses
estudantes estão mais susceptíveis de ser identificados pelos professores como estudantes com
problemas escolares ou com problemas de aprendizagem. As explicações e os estudos que se
referem a esses problemas e sua estreita relação com o fracasso escolar se utilizam, com
maior frequência, do termo “queixa escolar” (DEL PRETE; DEL PRETE, 2003).
Mormente, professores e estudantes, na experiência do ciclo-BIA, veem-se diante da
possibilidade de experimentar diversas situações e/ou estratégias didático-pedagógicas
capazes de produzir aprendizagens significativas nos três primeiros anos iniciais de
escolarização, experiência muito diferente daquela da alfabetização em série.
Essencialmente, infere-se que as novas diretrizes trazidas pelo BIA remexeram
práticas incorporadas pelos professores alfabetizadores, acostumados a uma dinâmica
organizacional de seriação. Sem pretender esboçar uma defesa apressada da alfabetização em
ciclo, tenho percebido, em minha prática profissional, um novo clima na cultura
organizacional escolar em relação aos alunos com problemas de aprendizagem na
alfabetização.
Nesse contexto, os conceitos de desenvolvimento e aprendizagem para esses sujeitos
foram ressignificados, e a padronização de práticas pedagógicas, procedimentos e estratégias
didáticas também foi revista. Aspectos culturais, sociais e históricos passaram a ter relevância.
O sujeito em processo de alfabetização passa a ser compreendido como um ser humano ativo,
que age sobre o mundo e, por meio das relações sociais, transforma suas ações internamente.
Por esse novo olhar, a escola assume papel preponderante, uma vez que precisa
responsabilizar-se por métodos, técnicas e estratégicas em que “[...] a atividade cognitiva
pressupõe a atividade produtiva, uma vez que conhecer implica a conversão (termo usado por
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2
Atuais Equipes Especializadas de Apoio à Aprendizagem (EEAA) da Secretaria do Estado de Educação do
Distrito Federal (SEDF).
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Historicamente, a queixa escolar tem sido quase sempre centrada no estudante. Mesmo
após avaliação e atendimento diagnóstico de serviços especializados, questões relativas a
deficiências nos processos de alfabetização permanecem. Na escola pública são facilmente
detectáveis estudantes reprovados, inadaptados e/ou candidatos ao fracasso escolar.
Sempre idealizei atuar na contramão da lógica de excessos de queixas escolares
(encaminhamentos de alunos para atendimentos especializados), aspirando a pequenos
projetos e executando-os com professores, famílias e os próprios estudantes, buscando,
mesmo de forma não convergente ao coletivo da escola, reflexões que acercavam os
professores, como o não reconhecimento das diferenças de classe social e de ritmos de
aprendizagem, dificuldades específicas de aprendizagem e impactos gerados pela política de
seriação sobre a criança pobre/oprimida matriculada em instituição pública de ensino.
Na experiência com alunos com dificuldades de aprendizagem, foi possível
verificar seus avanços pedagógicos durante e após projetos interventivos, experiências
pedagógicas e práticas diferenciadas, alternadas ou inovadoras. Porém, esses progressos
parciais tornavam-se insuficientes às exigências de cumprimento do currículo escolar básico
em um ano para cada série em curso, obedecendo ao regime de seriação, para as escolas
públicas do Distrito Federal.
Na proposta curricular para as séries, o tempo é exíguo e não flexível para os
conteúdos, para avaliações mensais, bimestrais, semestrais e para os conselhos de classe, com
metas e padrões pedagógicos fechados e pouco acessíveis às particularidades e às condições
de aprendizagem do alunado. Assim, o tempo apresenta-se como um grande obstáculo, e o
currículo, uma obrigação com metas inexoráveis para professores e alunos, sem atendimento
às diferenças e aos crescimentos verificados nas habilidades já trabalhadas e nas competências
em andamento.
Por mais que se trabalhe com o aluno com dificuldades de aprendizagem, a reprovação
estabelece-se como algo iminente. O sentimento que brota é o de estar atuando numa cultura
pedagógica organizada de forma rígida, inflexível. Educadores são obrigados a dar conta de
resultados e dos meios com tempo determinado para acabar, o que resulta numa acentuada
“descrença”, caracterizada pela expectativa do fracasso do aluno identificado com problemas
de aprendizagem.
O Índice de Desenvolvimento para Educação Básica (Ideb) para Brasília em 2009 foi
de 5.4 pontos, com significativos três pontos percentuais acima da média projetada pelo
Ministério da Educação, que era de 5.1, embora ainda esteja abaixo dos índices de São Paulo
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(5.5) e Minas Gerais (5.6), estados que historicamente atuam com o sistema de escolarização
em ciclos há mais tempo que o Distrito Federal3.
Não se objetiva aqui referendar esses índices como únicos indicativos da supremacia
da experiência de aprendizagem mediada pelo sistema de ciclos em detrimento da seriação.
No entanto, pretende-se propor a relativização provocada pelo afrouxamento nas regras de
sequenciamento, atrelado à eliminação da reprovação dentro do ciclo, permitindo que os
alunos tenham mais tempo para aprender, criando-se maiores condições para a continuidade
no processo de aprendizagem (MAINARDES, 2007).
A proposta da escolaridade em ciclos para a alfabetização no Distrito Federal indica
um alargamento desse tempo anual, que pode ser pensado em três anos, levando-se em
consideração as diferenças de ritmo de aprendizagem dos alunos. A escola ciclada traz uma
nova lógica de estruturação do tempo e do espaço escolar e, consequentemente, uma nova
lógica para a organização escolar e para sua cultura, bem como inovações para as práticas
avaliativas e curriculares. A abertura para formação de professores e projetos interventivos
gera maiores níveis de autonomia dos professores, que adquirem mais tempo para “gestar”
projetos, ideias e inovações pedagógicas.
A escola também dispõe de ampliação do tempo – tempo para se organizar,
posicionar-se e orientar-se para novas estratégias que visem à promoção dos alunos e suas
aprendizagens, situação muito diferente do clima “reprovador” e pessimista que acercava o
ideário educativo vivido na experiência da seriação, tratando-se assim de uma nova cultura no
interior das escolas. Os atores escolares, cada qual em sua função, também têm seus papéis
redimensionados. A hegemonia da seriação precisa ser quebrada, não bastando mais reprovar
o aluno e repassar a responsabilidade de sua aprendizagem para a próxima professora.
Na proposta da aprendizagem em ciclos, a escola precisa responder ao final de três
anos com resultados apreciáveis e detectáveis em seus alunos, ou seja, que estes atendam
habilidades e competências de alfabetização e letramento objetivadas para o final do terceiro
ano (Etapa III).
As iniciativas de organização do ensino em ciclos em oposição à seriação, ao mesmo
tempo em que vêm sinalizando uma tendência, evidenciam uma diversidade muito grande
tanto na concepção como em seus desdobramentos na reorganização efetiva do Ensino
Fundamental. “A organização escolar em ciclo possibilita à instituição educacional olhar para
todos os seus estudantes, porque estes não mais evadem por causa da repetência e, ao
3
A proposta de alfabetização em ciclos – BIA teve início no Distrito Federal em 2005, com experiência piloto de
implementação na cidade de Ceilândia, tendo sido ampliada em 2008 para todas as cidades do Distrito Federal.
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4
Corpo de ideias filosóficas, sociais, econômicas, políticas e religiosas preconizadas e impostas, mediante lei ou,
como de costume, pelos grupos dominantes de uma sociedade (FERREIRA, 1986).
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Nos dias de hoje, falar em alfabetização é referir-se àquele que usa socialmente a
leitura e a escrita. Sem dúvida, a alfabetização é um processo de representação de fonemas e
grafemas e vice-versa, mas é também um processo de compreensão/expressão de significados
por meio de código escrito. Porém, o conceito de alfabetização depende ainda, dentre outros
fatores, de características culturais, econômicas e tecnológicas e ainda de “determinantes
sociais das funções e fins da aprendizagem da língua escrita” (SOARES, 2010, p. 18).
Gomes Senna (1995) adverte que a extensão do processo de alfabetização não é clara e
definida para todos. Ser alfabetizado é termo aplicado a quem tenha concluído o processo de
alfabetização. No entanto, há considerações de que a alfabetização se inicia nas classes de
alfabetização e estará concluída quando o aluno começar a ler textos escritos e a escrever por
si mesmo. Há também os que consideram que a consolidação da alfabetização se dá na série
29
posterior ou até mesmo perdure, efetivamente, em todo o percurso do aluno ao passar pelas
séries iniciais.
A alfabetização pode ser caracterizada como um processo complexo e multifacetado
no qual se encontram implícitos condicionantes sociais, culturais e políticos com importantes
repercussões no problema dos métodos de alfabetização, do material didático, da definição
dos pré-requisitos, da preparação para a alfabetização e da formação de alfabetizadores para a
alfabetização.
Alfabetização e letramento possuem cada qual a sua especificidade, sendo
simultaneamente processos interdependentes por meio dos quais se dá a sistematização da
leitura e da escrita e se aprende a fazer uso dessas práticas no cotidiano. Tfouni (2010)
ressalta que a teoria do letramento não deve estar voltada apenas para a aquisição da leitura e
da escrita, mas “[...] que também tenha preocupações políticas e sociais de inclusão e justiça,
principalmente através dos mecanismos educacionais” (TFOUNI, 2010, p. 8). Assim, para a
autora, a alfabetização pertence ao âmbito individual, e o letramento focaliza os aspectos
socio-históricos da aquisição da escrita.
A escrita, por sua vez, está associada às principais causas do aparecimento das
civilizações modernas e ao desenvolvimento científico, tecnológico e psicossocial da
sociedade. Os tipos de códigos escritos criados pelo homem são pictográficos, ideográficos ou
fonéticos (SOARES, 2010; TFOUNI, 2010). Como produto cultural, data de cerca de 5000
anos antes de Cristo, e seu processo de difusão e diversidade de sistemas escritos desde as
sociedades antigas dependeu de fatores político-econômicos.
Vygotsky (1989) tem uma abordagem genética da escrita. Para o autor, o processo de
sua aquisição inicia-se muito antes da entrada da criança na escola. Ele defende que para
compreender o desenvolvimento da escrita na criança é necessário estudar a “pré-história da
linguagem escrita”, considerando os aspectos histórico-sociais e as relações sociais como
determinantes do desenvolvimento do sujeito, especialmente de sua linguagem (OLIVEIRA,
1997).
Segundo Silva (2004), os estudos que discutem questões relativas à linguagem e às
formas de organização da sociedade brasileira têm, sistematicamente, denunciado que a
linguagem no país infelizmente vem sendo utilizada como elemento de discriminação social.
Como resultado desse processo, observamos tentativas de fazer valer as seguintes ideias
referentes aos indivíduos que não dominam a língua padrão: a causa de seu não aprendizado
está associada a falhas e/ou distúrbios cognitivos, orgânicos ou culturais inerentes a esses
indivíduos e aos grupos a que pertencem; esses indivíduos são destituídos não só de uma
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língua ou de uma cultura, mas sobretudo do saber, o que lhes impossibilitaria de compreender
e intervir na realidade (GOMES SENNA, 1995).
As definições que acercam a alfabetização, a escrita, o letramento e também a
linguagem denotam existir convergências de fatores individuais sociais, políticos e históricos
que concomitantemente interagem e integram os processos de alfabetizar-escrever, letrar.
(CARVALHO, 2005; GOMES SENNA, 1995; SILVA, 2004; SOARES, 2003; 2010;
TFOUNI, 2010). Em outro sentido, esses autores enunciam que as práticas de alfabetização,
embora tenham avançado no desenvolvimento da expressão do código linguístico (escrita e
letramento/linguagem) do alfabetizando-cidadão, ainda não garantiram melhores resultados
nas dificuldades de aprendizagem surgidas e na produção do fracasso escolar. São inúmeras
as pesquisas que indicam a existência de problemas no processo de ensino-aprendizagem da
linguagem nas séries iniciais de escolarização, isto é, problemas relativos à alfabetização que
corroboram, substancialmente, para o fracasso escolar (SCOZ, 1994; PATTO, 1990).
Carvalho (2005) ressalta que uma das causas do fracasso escolar de crianças na
alfabetização é a polêmica dos métodos, desde os defensores dos métodos globais aos
partidários dos métodos sintéticos. Carvalho (2005), Soares (2010) e Tfouri (2010)
consideram que diferentes interpretações quanto aos métodos e aos processos de alfabetização
corroboram sobremaneira para que ocorram problemas escolares no período de alfabetização.
Outras discussões pairam contra o construtivismo, que, segundo Carvalho (2005, p. 7), “é
uma teoria, e não um método de alfabetização”. Até a década de 1980, nas concepções
anteriores ao construtivismo, no Brasil, havia métodos nos quais os professores acreditavam e
eram materializados nas cartilhas e nos manuais dos professores. As práticas pedagógicas para
alfabetização sustentavam-se nessas cartilhas. Havia um método, mas não uma teoria. Hoje é
possível perceber o contrário: todos versam sobre a teoria construtivista da alfabetização, mas
não se tem método Soares (1992;2010).
Gomes Senna (1995, p. 222) adverte que as práticas de alfabetizar “refletem
concepções variadas acerca da natureza e da função do ato de alfabetizar e de ser
alfabetizado”. Também tem sido comum a prática de desqualificar os professores, como se
estes fossem os únicos culpados pelo fracasso escolar na alfabetização. Evidencia-se ainda o
ressurgimento de defensores de métodos do passado, que ignoram os avanços da pesquisa
sobre a aprendizagem da criança, como as de Ferreiro, Piaget, Decroly, Freire, Vygotsky,
dentre outros.
A formação do professor alfabetizador tem sido tratada como questão relevante,
sobretudo porque alfabetizar exige grande especificidade no conhecimento dos métodos
31
Resulta daí uma visão fragmentária do processo, e muitas vezes, uma aparente
incoerência entre as análises e interpretações propostas. Uma teoria coerente de
alfabetização exigiria uma articulação e integração dos estudos e pesquisas a
respeito de suas diferentes facetas. Essas facetas referem-se, fundamentalmente, às
5
O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foi implantado em 1990 e permite o
levantamento da evolução do desempenho dos alunos e dos diversos fatores incidentes na qualidade e na
efetividade do ensino ministrado nas escolas públicas. Os levantamentos são obtidos a cada dois anos por meio
de avaliações coordenadas pelo Inep-MEC e pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Educação.
33
6
Nas décadas de 1960 a 1980, as cartilhas eram distribuídas pelo MEC às escolas públicas. Em 1996, o
programa foi aperfeiçoado e as cartilhas foram trocadas por livros analisados e avaliados. O programa passou a
ser conhecido como Programa Nacional do Livro Didático (PNLD- MEC).
7
Segundo Libâneo(1994), as teorias pedagógicas são divididas em duas principais vertentes: a Tendência
Pedagógica Liberal (Tradicional, Escola Nova e Tecnicista) e a Tendência Pedagógica Progressista
(Libertadora, Libertária e Crítico-Social dos Conteúdos).
34
8
A Escola Nova surge no século XIX, período caracterizado pela Segunda Revolução Industrial, em que o
mundo passa por inúmeras crises, surgindo novos valores sociais e um novo jeito de produzir, com base na
produção setorizada e em grande escala. Sob forte influência da psicologia, passou-se a pensar a criança como
tendo um desenvolvimento bio-fisio-psicológico próprio, devendo ser tratada e educada atendendo a essa
especificidade, apregoada principalmente pela psicologia do desenvolvimento, um ser em seu mundo infantil e
não um pequeno adulto (LIBÂNEO, 1994).
35
9
Os métodos de soletração, fônico e silábico são de origem sintética, pois partem da unidade menor rumo à
maior, isto é, apresentam a letra, depois unem letras e obtêm a sílaba, unem sílabas e compõem palavras, unem
palavras e formam sentenças, juntam sentenças e formam textos. Há um percurso que caminha da menor unidade
(letra) para o maior (texto). Os métodos da palavração, da sentenciação e os textuais são de origem analítica, pois
partem de uma unidade que possui significado para então fazer sua análise (segmentação) em unidades menores
(MENDONÇA; MENDONÇA, 2008).
10
Língua do Estado, segundo Gomes Senna (1995), é aquela que, prescrita em lei, se torna patrimônio público
institucional e código oficial do país, ou seja, seu idioma.
36
usar a língua escrita, nesse caso, é saber usá-la para socializar” (GOMES SENNA, 1995, p.
228, grifo do autor).
O método linguístico estabelece percurso compensatório por meio do qual o
alfabetizando absorve o meio como expressão da cultura dominante. Dessa forma, não
rompeu com os métodos tradicionais (fônicos e dedutivos) nem trouxe contribuições para a
prática alfabetizadora quanto às habilidades para aprendizagem do código escrito. É um
método visto ainda como uma prática compensatória com forte influência da linguística
positivista.
As críticas ao paradigma mecanicista trazidas por Labov (teoria sociolinguística)
serviram ao dimensionamento conceitual e prático da alfabetização. Para o autor, a língua
transforma-se no tempo e no espaço como um processo evolutivo inadiável e incontrolável
por leis externas: há estágios evolutivos na gramática explicados por manifestações empíricas
e universais em que se legitimam estados diferenciados da língua igualmente corretos e
eficazes. As considerações de Labov e outros11 atreladas às influências teóricas da Sociologia
Crítica à educação são precursoras do paradigma sociolinguístico (SOARES, 2010).
As apreensões sociais e políticas do paradigma sociolinguístico serviram, ainda, para
que o alfabetizando pudesse ser visto em sua totalidade epistêmica, uma vez que a educação
precisou encarar as heterogeneidades do indivíduo, de sua linguagem, de sua história e de sua
cultura. O indivíduo é então concebido como perpassado e constituído por sistemas
simbólicos. O modelo de representação do código escrito passa a contemplar as teorias
epistemológicas condizentes com o pensamento contemporâneo.
Surge assim o paradigma semioticista, que implica muito mais do que uma teoria
sobre a alfabetização, como nos afirma Gomes Senna (1995, p. 227).
[...] pois se reúne ao conjunto de teorias epistemológicas que leem, neste fim de
século, a natureza do pensamento contemporâneo. Para além do sistema de
expressão, existe um homem dotado de linguagem, para além deste, existe uma
sociedade semiótica.
11
Soares (2010) destaca também outros estudiosos da perspectiva sociolinguística: Stubbs (1980), Bryant e
Bradley (1985), e no Brasil: Kato (1978), Souza (1978), Silva (1981), Lemle (1982, 1983, 1987).
37
12
Método educacional que consiste em fazer com que o aluno descubra o que se lhe quer ensinar; arte de
inventar, de fazer descobertas; ciência que tem por objeto a descoberta dos fatos (FERREIRA, 1986).
38
13
Na paradigma linguístico, o processo de alfabetização é, fundamentalmente, um processo de transformação da
sequência temporal da fala para a sequência espaço-direcional da escrita e de transferência da forma sonora da
fala para a forma gráfica da escrita (SOARES, 2004).
14
Na paradigma sociolinguístico, a alfabetização é vista como um processo estreitamente relacionado com os
usos sociais da língua. Uma questão fundamental que se coloca nesses estudos é o problema das diferenças
dialetais. Essa perspectiva aponta que existe uma norma culta padrão que não é usada por falante algum, distante
da comunicação coloquial. A crise se instaura porque a alfabetização não pode considerar a língua escrita como
um meio de convenção neutro e descontextualizado. Nesse paradigma é possível apontar o método
sociolinguístico de Paulo Freire.
15
Na visão inatista de Chomsky (1986), é proposto que a criança possui uma gramática universal incorporada à
própria estrutura de sua mente, isto é, a criança já nasce biologicamente (geneticamente) equipada com uma
gramática na qual se encontrem todas as regras possíveis da todas as línguas, um enorme conteúdo de
informações, ou seja, uma gramática universal.
39
de escolarização. Em Minas Gerais (MG), o referido ciclo foi implantado em toda a rede
estadual a partir de 1985 em caráter experimental, tornando-se ação oficial no ano de 1990.
Santa Catarina (SC) teve experiência semelhante em 1980; no Paraná (PR), ocorreu em 1988
e 1989, e em 1990 abrangeu todas as escolas estaduais (FERNANDES, 2009; MAINARDES,
2007).
A vertente pedagógica dos ciclos, segundo Mainardes (2007), está atrelada a uma
versão progressista da política, a qual tem sido incorporada por partidos políticos,
principalmente nas gestões do Partido dos Trabalhadores (PT) em nível local e federal. No
entanto, existem argumentos que cercam o Regime de Progressão Continuada (RPC), nos
quais se destacam objetivos políticos voltados para a redução das taxas de reprovação como
“mascaramento” da melhoria da qualidade de ensino (conforme a articulação de um contexto
neoliberal).
As diversas experiências existentes na tentativa de superação do fracasso escolar
(sobretudo na alfabetização) têm dado mais importância às mudanças nos sistemas de
avaliação e promoção dos alunos do que à mudança mais ampla dos currículos, seja na
organização do tempo e do espaço escolar, seja na seleção, na reorganização ou na
sequenciação dos conteúdos – aspectos que dão notoriedade às diferenças entre a proposta
seriada e a proposta da escolarização com ciclos.
A pesquisa sobre ciclos no Brasil evidencia que os programas de ciclos têm sofrido
dificuldades em sua implementação. Os estágios iniciais têm sido marcados por protestos,
resistências e rejeições (MAINARDES, 2007). Há problemas, no contexto, quanto ao eixo de
orientações nos documentos legais e oficiais que norteiam a implementação dos ciclos.
Ao contemplar uma alternativa sem ampla tradição em nosso meio educacional era
de se esperar que a LDB o fizesse com clareza, possibilitando interpretações precisas
desse modo de organização do ensino, quanto às suas diretrizes e repercussões na
organização escola. No entanto, nos deparamos com dispositivos que não trazem
elementos que apoiem uma ressignificação da organização escolar (ALAVARSE,
2002, p. 85).
atualmente recuperada como uma alternativa pedagógica, conforme o art. 23 da LDB, sendo
adotada oficialmente em diversos estados e municípios (MAINARDES, 2007). No Distrito
Federal (DF), não foi diferente: a proposta foi enunciada como Bloco Inicial de Alfabetização
(BIA), detalhada a seguir.
DRE 1ºAno 2ºAno 3ºAno 4ºAno 5ºAno 6ºAno 7ºAno 8ºAno 9ºAno
Ceilândia 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Taguatinga 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Brazlândia, Guará, 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Samambaia
Cruzeiro; Gama; 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Sobradinho; Núcleo
Bandeirante; Santa Maria;
Paranoá; São Sebastião;
Recanto das Emas
Fonte: Distrito Federal (2010a)
No CBA, a alfabetização era vista como um processo: não havia reprovação nas duas
primeiras séries do Ensino Fundamental. O currículo e a práxis pedagógica foram
reorientados a fim de atender às diferentes características do aluno, visto que cada um
aprendia com um ritmo diferenciado. Para tanto, tal ciclo classificou as crianças matriculadas
na primeira e na segunda séries por meio de uma avaliação, e as turmas foram organizadas em
três níveis, a saber: 1) Iniciando (alunos no início da alfabetização); 2) Continuando (alunos
ainda em processo de estruturação da leitura e da escrita); e 3) Concluindo (alunos que se
encontravam finalizando a aprendizagem da leitura e da escrita). Havia nessa época na
organização escolar primazia para os Centros de Referência em Alfabetização. O término do
CBA ocorreu ainda na década de 1980.
No DF, a experiência com ciclos no Projeto Escola Candanga vigorou nos anos de
1995 a 1998, representando um marco no histórico da implementação dos ciclos na referida
UF. Os Cadernos da Escola Candanga (1995; 1997) traçaram diretrizes para a organização da
proposta em ciclos – as antigas séries foram transformadas em fases de formação nas quais as
crianças eram enturmadas de acordo com dois critérios conjugados: idade e desenvolvimento
global (DISTRITO FEDERAL, 1995 apud TOLENTINO, 2007).
A implementação ocorreu de forma gradativa em todas as escolas da Diretoria
Regional de Ensino (DRE) da cidade de Brazlândia (DF), nos Centros de Alfabetização, nos
Centros de Atenção Integral à Criança (Caic) e nas Escolas de Aplicação. Nas outras DREs do
DF, a proposta ocorreu por adesão, como projeto experimental. Embora a ampliação fosse
gradativa, não ocorreu em todas as escolas da SEDF. Destaca-se na experiência da Escola
Candanga a ampliação do tempo de estudo diário de quatro para cinco horas (TOLENTINO,
2007).
As fases da Escola Candanga foram organizadas e implantadas de forma gradativa: no
primeiro ano (1995) de sua implantação, a Primeira Fase (crianças oriundas do terceiro
Período da Educação Infantil, da primeira e da segunda séries). Ainda no primeiro ano
também ocorreu a implantação da Segunda Fase (crianças oriundas da terceira, da quarta e da
quinta séries). No segundo ano (1996), sua proposta pedagógica previa a implantação da
Terceira Fase em 1999, no entanto, com a derrota do então governador Cristovão Buarque
(PT) – que concorria à reeleição do Governo do Distrito Federal (GDF) – para o partido de
oposição à época, a proposta foi recusada pelo eleito governador Joaquim Roriz (PMDB),
causando sua extinção e incrementando a volta da proposta seriada nas escolas públicas locais
(TOLENTINO, 2007).
49
Implementação do BIA no DF
16
A escolaridade em ciclos está prevista nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 9.394/1996,
tornando-se uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), Lei n. 10.172/2001.
50
17
A Portaria n. 74, de 29 de janeiro de 2009, fixou normas para a coordenação pedagógica num total de 15 horas
no turno contrário ao de regência de classe. Destinou ainda as quartas-feiras para a coordenação coletiva e os
demais dias da semana para a coordenação individual, a ser programada pelo professor, com ciência da chefia
imediata.
18
São seis os princípios metodológicos que ordenam o funcionamento do BIA: Princípio da Formação
Continuada; Princípio do Reagrupamento; Princípio do Projeto Interventivo; Princípio da Avaliação Formativa;
Princípio da Língua; Princípio do Ensino da Matemática. Estes serão tratados neste mesmo capítulo.
54
que envolve as quatro práticas de alfabetização. Portanto, o planejamento deve estar pautado
na organização, no planejamento pedagógico global, nas práticas avaliativas e nos momentos
de práticas de aprendizagem em sala de aula.
Os projetos de trabalho são atividades organizadas para trabalhar conhecimentos
específicos, organizados para a resolução de problemas, ou produzir variadas possibilidades
de aprendizagem. Para tanto, a Pedagogia de Projetos é apontada como estratégia no processo
de reorganização dos tempos e dos espaços no BIA, uma vez que “possibilita a participação, a
construção e o planejamento coletivo, envolvendo todos em temas de interesse comum”
(DISTRITO FEDERAL, 2010a, p. 25). A Figura 2 busca esclarecer como se processam a
organização do tempo e o ensino-aprendizagem como fluxo das estratégias pedagógicas
orientadas pelo Bloco em análise.
57
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20
A designação Versão Preliminar I e Versão Preliminar II foi dada pela pesquisadora Pereira (2008) em função
de a autora ter verificado em sua pesquisa com a SEDF a existência paralela de duas versões produzidas no
mesmo ano. Nesta pesquisa, optou-se por manter as mesmas nomeações e designações dadas por Pereira.
59
2006),21 devidamente publicada e distribuída aos professores (PEREIRA, 2008). Esta última
encontra-se organizada no Quadro 3.
21
Os critérios na Versão IV – 2006, a posteriori, foram tratados como princípios pela Versão Experimental, 2ª
edição, de 2010. Esta última versão traz maiores detalhamentos do desenvolvimento da proposta do BIA,
apresentando as estratégias pedagógicas após três anos de efetivação da implementação do Bloco em todas as
DREs do DF. A edição de 2010 também será discutida neste capítulo.
22
O Centro de Formação Continuada de Professores em Alfabetização e Linguagem (CFORM/UnB) integra a
Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica, em convênio com o Ministério da
Educação/Secretaria de Educação Básica (MEC/SE), para o desenvolvimento e a oferta de programas de
formação permanente, a implantação de novas tecnologias de ensino e a gestão em unidades escolares e sistemas
municipais e estaduais. A SEDF estabeleceu parceria com o referido Centro de Formação, sob a coordenação da
Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (EAPE), para atender aos professores da rede pública
de ensino.
60
[...] devem ser respeitadas suas habilidades e potencialidades, além da realização das
adaptações curriculares relacionadas tanto à proposta pedagógica, quanto ao
planejamento do professor, que deverá adequar sempre que necessário os conteúdos,
os objetivos, as metodologias, a avaliação, a temporalidade e a organização dos
materiais e do ambiente escolar (DISTRITO FEDERAL, 2006, p. 14).
Princípios Metodológicos
-Ação
- Reflexão em ação
- teoria/prática Av. Formativa
Novas
- idéias de ação (Prática investigativa)
P l a n e j a m e n t o (retroalimentação)
Coletivo, integrado,participativo
65
COORDENAÇÃO
EAPE CRA
PEDAGÓGICA
23
Informações colhidas na Coordenação de Formação Continuada da SEDF/EAPE, a qual informou por meio de
relatórios virtuais as propostas dos cursos ocorridos (2005; 2006; 2007; 2008; 2009; 2010,2011) ofertados para o
BIA.
68
Reagrupamento intraclasse Estratégia pedagógica realizada no interior da sala de aula com necessidade
de planejamentos coletivo e individual.
Reagrupamento interclasse Modalidade planejada pelos professores de uma mesma etapa ou de
diferentes etapas (intercâmbio e atendimento de alunos num mesmo turno,
envolvendo intervenções e planejamentos individuais e coletivos para a
superação das dificuldades de aprendizagem encontradas).
Reagrupamento extraclasse Atendimento aos alunos de uma mesma etapa ou de diferentes etapas,
devendo ocorrer em horário contrário.
documento, as ressalvas são de que, para que ocorra a retenção, serão necessárias evidências
fundamentadas, argumentadas e devidamente registradas pelo Conselho de Classe, cabendo
exceção aos estudantes que não alcançaram 75% da frequência (BRASIL, 1996).
O projeto interventivo, como princípio do BIA, serve com suporte básico operacional,
visto que orienta possibilidades para o alcance do sucesso na aprendizagem dos alunos que
têm maiores dificuldades de aprendizagem e/ou estão defasados em série e idade. O objetivo
do referido princípio como estratégia pedagógica é:
No contexto escolar, “projeto é uma proposta de intervenção” (VILLAS BOAS, 2010, p. 43),
permitindo a análise dos problemas, das situações e dos acontecimentos. Como atividade
intencional, possibilita a identificação do problema, a tomada de atitudes-ações e a busca de
soluções, de modo que:
A busca de objetivos não alcançados ou aprendizagens ainda não efetivadas deve ser
objeto de planejamento da organização do trabalho pedagógico do professor e do
coletivo da escola, de maneira a atender aos alunos, individualmente ou em grupo,
ocorrendo de forma paralela ao desenvolvimento curricular, por meio de atividades
diversificadas e outras estratégias oportunas em cada caso (DISTRITO FEDERAL,
2008a, p. 30).
24
A correção de fluxo difere da proposta de alfabetização em ciclos. Ela tem como base a identificação dos
alunos defasados, quando então é elaborado um plano para regularizar o fluxo escolar, que, em princípio, deve
acontecer em um prazo máximo de quatro anos no município ou no estado e em dois anos para cada escola. O
ciclo tem como base a promoção da aprendizagem de todos os alunos, e não apenas daqueles identificados como
defasados ou com problemas na aprendizagem (OLIVEIRA, 2002).
73
O desafio maior do projeto interventivo tem sido deslocar o olhar genérico dos
professores sobre as dificuldades de aprendizagem dos estudantes para um olhar mais pontual
para cada estudante e para suas dificuldades específicas de aprendizagem. A consonância
projeto interventivo e avaliação formativa pode ser vista como condição basilar para uma
melhor individualização/diferenciação do ensino. A avaliação formativa25 “indica como os
alunos estão se modificando em direção aos objetivos propostos. [...] Informa ao professor e
ao aluno sobre o resultado do processo ensino-aprendizagem” (DISTRITO FEDERAL,
2008a, p. 22). Serve ainda como eixo orientador das melhores estratégias/ações que precisam
ser efetuadas no trabalho pedagógico de atendimento das demandas de aprendizagem dos
alunos.
Contudo, o projeto interventivo não tem sido frequente nas experiências das escolas
que atuam com o BIA no DF. VILLAS BOAS (2010), por meio da análise de cem Projetos
Interventivos de diferentes escolas do DF, conforme a proposta do BIA, concluiu que as
várias possibilidades oferecidas pelo referido projeto ainda não foram exploradas pelas
escolas e apontou algumas dificuldades, como, por exemplo, a superação de estudos em seu
formato tradicional e a organização do trabalho pedagógico desvinculada da escola seriada,
fato que indica o não avanço “no atendimento de trabalho individualizado ou diversificado e
no entendimento e na prática da avaliação formativa” (VILLAS BOAS, 2010, p. 53).
Os Projetos Interventivos devem ser elaborados pelo coletivo da instituição escolar,
devendo, professores e profissionais envolvidos no processo pedagógico, definir objetivos,
metodologias, formas de registro, acompanhamento e avaliação, além da adequação do tempo
e do espaço necessários para o desenvolvimento do projeto. Nesse sentido, as estratégias
pedagógicas para o BIA informam que, além das formas de registros estabelecidas pela
SEDF, a escola e o professor poderão constituir e adotar outras formas de registro, desde que
estas contenham o nome do estudante, suas necessidades de aprendizagem individuais e as
intervenções realizadas (DISTRITO FEDERAL, 2010a).
A Portaria n. 283, de 15 de setembro de 2005, art. 19, da Proposta Pedagógica do BIA
orienta também efetiva participação das Equipes Especializadas de Apoio à Aprendizagem
(EEAAs) no processo avaliativo em que estejam asseguradas estratégias de atendimento
diferenciado no decorrer do processo. A mudança ou a retenção do estudante nas Etapas I, II e
25
A Avaliação Formativa é um princípio metodológico do BIA e será tratada ainda neste capítulo.
74
III deve acontecer mediante “avaliação da Comissão de Professores, com anuência da Equipe
Especializada de Apoio à Aprendizagem, acompanhada dos registros comprobatórios de todo
o processo de avaliação” (DISTRITO FEDERAL, 2005).
O projeto interventivo, segundo as diretrizes metodológicas do BIA, precisa ser
garantido e deve ser permanentemente oferecido para que os estudantes atendidos alcancem a
aprendizagem e possam dar prosseguimento ao seu percurso escolar. A instituição escolar não
poderá paralisar suas ações particulares para a implementação do projeto interventivo nem
pela falta de espaço nem por carência de pessoal (DISTRITO FEDERAL, 2006; 2010a).
Outra estratégia apontada para a prática da análise linguística é a reescrita dos textos –
momento em que o estudante pode fazer a revisão de sua produção. Nesse ponto, cabe ao
professor esclarecer as questões de regularidades (diretas, contextuais e morfológico-
gramaticais) e irregularidades da língua, com o cuidado de não confundir dificuldades
ortográficas com dificuldades de compreensão do sistema de escrita.
78
Nas estratégias para o BIA (2010), são apresentadas outras orientações quanto às
atitudes pedagógicas a serem evitadas na prática de produção textual, a saber: não se deve
orientar a criança a prestar atenção no modo de pronúncia das palavras; o professor não deve
falar de forma dramatizada, mas sim pronunciar as palavras naturalmente (ZORZI, 2006 apud
DISTRITO FEDERAL, 2010a).
As estratégias orientam também uma rotina voltada ao contato de variedades
linguísticas, permeando a escrita alfabética, a prática de correções coletivas e a discussão
sobre os textos, estimulando os estudantes à atitude crítica em relação às suas próprias
produções. Os estudantes devem fazer o registro de quadro de regras, estas pensadas,
problematizadas e descobertas por eles mesmos.
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb),26 embora tais resultados ainda
não se enquadrem nas almejadas perspectivas qualitativas de escrita e letramento.
Em suma, a Provinha Brasil é uma avaliação diagnóstica do nível de alfabetização das
crianças matriculadas no segundo ano de escolarização das escolas públicas brasileiras. Tal
avaliação ocorre em duas etapas: uma no início e a outra ao término do ano letivo. A
aplicação em períodos distintos possibilita aos professores e aos gestores educacionais a
realização de um diagnóstico mais preciso que permite conhecer o que foi agregado à
aprendizagem das crianças em termos de habilidades de leitura no período avaliado.
26
Sistema implementado em 1990, coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep), que conta com a participação e o apoio das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação das 27
Unidades da Federação.
83
para contextos e níveis educativos a fim de sistematizar ações que, diferenciadas, promovam o
desenvolvimento e a aprendizagem dos envolvidos no cotidiano escolar.
Araújo (2002) define queixa escolar como um conjunto de fatores isolados ou
concorrentes que dificultam o desempenho escolar e são influenciados pelas características da
escola (físicas, pedagógicas, qualificação do professor), da família (nível de escolaridade e
presença dos pais, interação com os deveres paternais e de orientação escolar dos filhos) e do
próprio indivíduo.
A queixa escolar encontra-se ainda comumente atrelada a estudos e pesquisas que
acercam o fracasso escolar, uma vez que os alunos, em sua maioria, vitimados por múltiplas
repetências ou pelo abandono da escola, acabam por engrossar as listas “daqueles indivíduos”
susceptíveis de algum transtorno nas habilidades cognitivas ou socioafetivo-comportamentais,
sendo estes também portadores de problemas e/ou dificuldades escolares (COLLARES;
MOYSÉS, 1996). Angelucci et al. (2004), por meio de pesquisas sobre fracasso escolar,
verificaram que este é compreendido como:
a) problema psíquico: culpabilização da criança e de seus pais (foco no aluno);
b) problema técnico: culpabilização do professor (foco no professor);
c) questão institucional: a lógica excludente da educação escolar (foco na política);
d) relações de poder estabelecidas na escola: pelo fato de esta estruturar-se com base na
cultura dominante, desvalorizando a cultura popular.
Os estudos de Angelucci et at. (2004), assim como as considerações de Patto (1990),
confirmam a retomada ou o retrocesso de explicações sobre o fracasso escolar que já
deveriam ter sido superadas. As conclusões destacadas por Angelucci et al. (2004) revelam:
Moysés (2001), Proença (2002), Almeida et al. (1995) e Neves (2001) denunciaram
que os encaminhamentos costumam ser feitos por meio de uma descrição do “problema
apresentado pela criança” no processo de aprendizagem, descrição esta que tem sido
denominada de “queixa”. Entretanto, as relações da criança com os processos de
93
escolarização, com a instituição e com a vivência escolar não são aspectos abordados na
avaliação realizada pelos profissionais nas clínicas e nos serviços especializados. Tem-se,
assim, procedimentos que centram o diagnóstico no aluno e na família, buscando causas
individuais e desconsiderando a rede de relações que envolve a questão. Para Marçal (2005)
tais procedimentos podem até ser válidos, mas insuficientes no atendimento da queixa escolar.
A aplicação do modelo médico de intervenção na escola contribuiu para a
patologização e a psicologização do espaço escolar por atribuir ao próprio aluno a culpa por
suas dificuldades de aprendizagem e por isentar outras instâncias das suas responsabilidades
políticas, econômicas e educativas (COLLARES; MOYSÉS, 1996; CRUCES, 2003; NEVES,
2001; NEVES; ALMEIDA, 2003; PATTO, 1990).
Novas abordagens para o problema da medicalização do atendimento à queixa e do
espaço escolar vêm sendo construídas com base em críticas à atuação da psicologia no
processo educacional. Oliveira e Marinho-Araújo (2009) consideram que a construção da
relação psicologia-educação foi marcada por objetivos “fortemente adaptacionistas, nos quais
predominava a necessidade de corrigir e adaptar à escola o aluno portador de um problema de
aprendizagem” (OLIVEIRA; MARINHO-ARAÚJO, 2009, p. 649). Desse modo,
historicamente, as avaliações detiveram-se no psicodiagnóstico e na avaliação psicológica
com aplicação de recursos psicométricos, entendidos como função primordial do psicólogo.
Na década de 1980, acentuaram-se as severas críticas a esse modelo de atuação
psicológica, e as pesquisas passaram a orientar-se pelo intuito de revelar o autoritarismo desse
tipo de prática e sua ineficácia na transformação das condições e das práticas de atendimento,
diagnóstico e intervenções clínicas existentes (CRUCES, 2003). Estudos como os de Almeida
et al. (1995), realizados no Distrito Federal (DF), contribuíram para desvelar que, na área
escolar, a prática do diagnóstico das queixas escolares se encontrava “oscilando entre práticas
da área clínica e práticas de caráter mais psicopedagógico” (ALMEIDA et al., 1995, p. 132).
Almeida et al. (1995) possibilitaram discussões e propostas de preenchimento das
lacunas já apontadas em pesquisas anteriores, tais como: o crescente índice do fracasso
escolar atrelado às reforçadas críticas da participação dos profissionais em psicologia escolar;
os discursos de prevenção aos problemas escolares em lugar da remediação, da reconhecida
medicalização do ensino-aprendizado nas escolas (PATTO, 1990; COLLARES; MOYSÉS,
1996). Os resultados obtidos indicaram a necessidade de mudanças no padrão profissional dos
psicólogos escolares no que tange aos mecanismos de formação, nos quais se deveria priorizar
94
Almeida et al. (1995), no DF,27 e Souza (2007), em SP,28 denunciaram que por trás do
grande número de queixas escolares trazidas ao atendimento “encontravam-se cotidianos
escolares adoecidos e adoecedores” (SOUZA, 2007, p. 98). Nessa diretriz, a abordagem de
atendimento à queixa nos estudos de Souza (2007) para SP passou a contar com uma
As pesquisas de Almeida et al. (1995), Neves (2001; 2003), Cruces (2003), Oliveira e
Marinho-Araújo (2009), entre outros, no DF orientam-se para as mudanças no contexto
gerador da queixa escolar e para as mudanças na atuação do profissional de psicologia escolar
e de outros profissionais envolvidos, tais como orientadores educacionais, professores e
pedagogos, e até mesmo as famílias. Por essa ótica, buscou-se ampliar o olhar para todos os
envolvidos no processo, potencializar o diálogo, aperfeiçoar processos institucionais no
intuito de possibilitar saídas e propostas eficazes construídas coletivamente para o
atendimento, a avaliação e a intervenção nas queixas escolares.
27
Projeto Permanente de Extensão do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), em
parceria/convênio com a Secretaria do Estado de Educação do Distrito Federal (SEDF).
28
Assessoria desenvolvida para psicólogos pelo Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (SePE-Ipusp).
95
Neves (2009, 2007) e Alecrim (2005 apud NEVES, 2009) apontaram para a
necessidade da construção de um trabalho coletivo que permita aos professores uma reflexão
crítica “que ajude os profissionais da escola a encontrar um sentido para a inclusão escolar,
percebendo que cada aluno, independente de ser deficiente ou não, é único e possuidor de
uma história pessoal que o faz diferente dos demais” (NEVES, 2009, p. 56).
No Distrito Federal, a Secretaria do Estado de Educação possui serviços de
atendimento especializado às queixas escolares. Ao longo dos anos, os estudos e os avanços
teóricos e práticos da psicologia escolar no DF e de outras pesquisas no Brasil tiveram peso
nos processos de discussão e reestruturação do atendimento especializado a estudantes com
problemas de aprendizagem.
As críticas e os avanços teórico-práticos auferidos pelas pesquisas de Almeida et al.
(1995), Neves (2001), Cruces (2003), Oliveira e Marinho-Araújo (2009), entre outros,
influenciaram as diretrizes e as estratégias pedagógicas para o funcionamento dos serviços
prestados pela escola pública no DF. Nesse contexto, tem-se nas linhas posteriores a
exposição de uma discussão sobre queixa escolar, desde um viés contextual histórico até suas
conotações atuais ante as novas diretrizes pedagógicas da proposta de alfabetização em ciclos
– Bloco Inicial de Alfabetização (BIA).
No DF, assim como em outros locais da Federação, o psicólogo escolar tem sido, entre
outros profissionais, o mais solicitado para o atendimento à queixa escolar, uma vez que é
rotineira a prática de a escola recorrer à psicologia para atendimento aos estudantes com
problemas de aprendizagem. Os estudos e as pesquisas dos mecanismos de produção,
encaminhamento e atendimento à queixa escolar vêm permitindo “avanços teóricos e práticos
relativos à psicologia, e de uma postura crítica diante da atuação da área nas escolas a relação
psicologia-educação se modificou, configurando-se por interdependência de conhecimentos”
(OLIVEIRA; MARINHO-ARAÚJO, 2009, p. 648).
Portanto, a psicologia escolar vem marcando sua atuação com foco mais preventivo e
relacional, com ênfase também em processos de desenvolvimento e em aprendizagem de
96
No mesmo enfoque, tem-se a pesquisa realizada por Neves (2001), que trata do
atendimento da queixa escolar nas escolas públicas do DF, investigando as possibilidades de
atuação do psicólogo escolar no atendimento de alunos encaminhados com queixas escolares
e de entendimento das dificuldades de aprendizagem como expressão de aspectos inerentes
aos alunos como também de determinantes históricos e sociais. O referido estudo contemplou
ainda a articulação do trabalho do psicólogo escolar nas Equipes de Atendimento
Psicopedagógico da SEDF.29
Neves (2001) procedeu à aplicação de questionário a 188 professores a fim de
vislumbrar as concepções e o conhecimento desses profissionais a respeito do Serviço de
Atendimento Psicopedagógico ofertado pela SEDF. A pesquisa também visava a apontar os
motivos dos professores para o encaminhamento de alunos a um atendimento
psicopedagógico. Os resultados apresentaram correlação com as pesquisas de Barbosa e
Silvares (1994), Graminha e Martins (1994), Bernardes-da-Rosa et al. (2000), Souza (2007) e
Bragança (2008), ao apontarem “as dificuldades de aprendizagem e os problemas de
comportamento e conduta como os motivos mais citados para o encaminhamento de alunos”
(NEVES, 2001, p. 90, grifo do autor). As subcategorias “problemas emocionais” e
“problemas familiares” representaram o percentual de 14,96%, refletindo dados já
apresentados em outras pesquisas ao referendar aspectos como a culpabilização da criança e
da família pelas dificuldades escolares apresentadas. Neves (2001) ressaltou ainda a
compatibilidade nas respostas entre psicólogos escolares e professores, corroborando as
mesmas conclusões presentes no estudo de Almeida et al (1995). Identificou-se o percentual
de 3,40% de professores que apontaram “o ambiente escolar como a instância própria e
responsável na condução da resolução das dificuldades escolares apresentadas por seus
alunos” (NEVES, 2001, p. 90).
O histórico dos serviços de atendimento especializado em queixas escolares no âmbito
da SEDF demonstra que as práticas psicopedagógicas que envolvem os processos de
atendimento e diagnóstico sofreram modificações. As críticas e os avanços teórico-práticos,
principalmente advindos de pesquisas vinculadas à psicologia escolar, influenciaram nas
diretrizes, nas estratégias e no funcionamento pedagógico dos serviços prestados pela escola
pública e fomentaram a avaliação, a crítica e o incremento práticas/suporte aos profissionais
responsáveis por tais serviços – as designadas Equipes Especializadas de Apoio à
Aprendizagem (EEAAs). Não é o foco do estudo aqui em curso detalhar o funcionamento
29
As Equipes Especializadas de Apoio à Aprendizagem (EEAA) são compostas por um psicólogo e um
pedagogo, que atuam nas escolas públicas vinculadas à SEDF.
99
As inúmeras possibilidades oferecidas por esse Projeto ainda não foram exploradas
pelas escolas. Dentre elas destacam-se: superação da recuperação de estudos em seu
formato tradicional e organização do trabalho pedagógico desvinculada da escola
seriada (VILLAS-BOAS, 2010, p. 53).
dados possibilita a visão das ações e das possibilidades no andamento da proposta, podendo
contribuir para a diminuição das queixas escolares. Os mecanismos e as estratégias utilizadas
no andamento da proposta de alfabetização em ciclos implicam resultados, medidos pelas
retenções no terceiro ano (Fase III) do BIA, única etapa em que a retenção é admissível. Silva
(2009) investigou a análise de 61 professores acerca da ampliação do referido Bloco em 2007
na cidade de Samambaia (DF). Num total de 3.975 alunos matriculados na Fase III do Bloco
em questão, 82% avançaram na aprendizagem e foram promovidos para o ano escolar
seguinte. De um total de 1.163 alunos defasados idade/série, 67% foram promovidos. Vale
destacar que 2007 foi o primeiro ano de implementação da proposta para a referida cidade do
DF.
As diretrizes pedagógicas e normativas do BIA instruem que todos, neste novo
cenário, precisam estar comprometidos com a aprendizagem dos alunos. As novas diretrizes
promovem redimensionamento dos “lugares” de saber e de poder em relação às práticas
pedagógicas instituídas, como planejamentos pedagógicos-curriculares-avaliativos que
exigem flexibilidade e articulação “como tentativa de alcançar a complexidade das dimensões
do processo de alfabetização” (SANTANA, 2009, p. 11). Essas diretrizes também
redimensionam processos formativos de aprendizagem dos professores e dos profissionais de
equipes de apoio à aprendizagem escolar no atendimento das queixas escolares.
Mudanças na estrutura escolar organizacional nesse grau de amplitude e perspectiva,
segundo Nóvoa (1995, p. 25), “não se constrói apenas por acumulação (de cursos, de
conhecimentos ou de técnicas), mas sim por meio do trabalho de reflexibilidade crítica sobre
as práticas e da (re)construção permanente de uma identidade pessoal”.
Paro (2001, p. 53) adverte que “a progressão continuada ou a organização em ciclos
são boas opções, ‘mas isto só não basta’ porque se precisa de uma série de outras medidas
para evitar ‘que o aluno passe de ano’ sem saber”.
Os avanços da política de não retenção na atualidade não têm garantido o sucesso nas
aprendizagens dos alunos oriundos das camadas populares e, por conseguinte, não têm
garantido a redução do número de alunos com problemas e/ou dificuldades de aprendizagem
encaminhados a serviços especializados para diagnóstico. Até mesmo em relação ao fracasso
escolar os índices ainda são alarmantes, tanto na escola organizada em séries como na
organizada em ciclos (MAINARDES, 2007; PARO, 2001; PERRENOUD, 2004). No DF, tais
índices ainda necessitam ser investigados, e as relações entre as novas diretrizes
metodológicas do ciclo e os meandros de diminuição ou aumento das queixas escolares
produzidas nesse contexto devem ser discriminados.
104
30
Nome fictício dado à escola.
105
31
Para maior detalhamento, consultar o Anexo B desta pesquisa.
32
Deficiência Intelectual (DI); Deficiência Física (DF); Transtorno Global de Desenvolvimento (TGD);
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
33
O Projeto de Lei nº 588/2011 foi aprovada pela Câmara Legislativa do DF em 13/12/2011 e sancionado pelo
Governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz em 07/02/2012 . A lei versa sobre a eleição democrática para
diretores nas escolas públicas. A partir da sanção da lei, o prazo para a realização das eleições para diretores e
vice-diretores é de 180 dias, cujos pais, alunos, professores e funcionários da rede pública poderão participar
democraticamente do processo de votação. O DF passou por duas experiências de gestão democrática. A
primeira vez em que houve eleição para diretores foi no governo de José Aparecido, em 1985. No governo de
Cristovam Buarque (PT), de 1995 a 1998, a metodologia voltou a ser aplicada. No entanto, as gestões seguintes
aboliram a escolha popular e decidiram manter a definição dos dirigentes pela indicação do governador. Nos
últimos quatro anos, foi aprovada a gestão compartilhada, com provas de título e eleição pela comunidade
escolar.
106
34
Dentre esses professores, sete participaram da pesquisa e tiveram seus perfis de formação detalhados no
capítulo que trata da metodologia da pesquisa.
107
35
O termo integração refere-se ao processo pelo qual o Aluno com Necessidades Educacionais Especiais
(ANEE) que, portando um diagnóstico e matriculado em escola regular de ensino, encontrava-se em situação de
integrar-se às normas e às regras curriculares, disciplinares, normativas e regimentares da escola pública no DF.
Com o tempo, as diretrizes e os processos relativos à política de inclusão modificaram-se, e esse processo passou
a ser nomeado de inclusão na escola do ANEE.
36
Em 2004, as Equipes de Atendimento Psicopedagógico (ATPp) foram reestruturadas no Distrito Federal,
passando a atuar como serviço de apoio multidisciplinar, constituídas por psicólogo, pedagogo e orientador
educacional. No mesmo ano, as Regionais de Ensino da SEDF organizaram-se, de forma que cada equipe polo
deveria assistir em média três ou quatro escolas públicas, com um quantitativo de 1.500 estudantes para cada
equipe . Desde 2010 essas equipes foram nomeadas de Equipes Especializadas de Apoio à Aprendizagem
108
(EEAA) e contavam em 2011 com um psicólogo e um pedagogo em sua composição (DISTRITO FEDERAL,
2010b).
37
As metas do Projeto Político-Pedagógico encontram-se no Anexo C da pesquisa.
109
Estratégias Saiec: Sistema de Avaliação Interna da Escola Classe Desafios do Aprender, que consiste
pedagógicas na avaliação diagnóstica sistemática bimestral de todos os estudantes visando a
redimensionar todo o trabalho pedagógico em atendimento às necessidades de
aprendizagem dos alunos.
Planejamento coletivo: ocorre quinzenalmente para avaliação de estratégias
pedagógicas aplicadas, estudos, elaboração e discussão dos conteúdos, bem como
habilidades e competências a serem atingidas nas atividades pedagógicas curriculares
exigidas do 1º ao 5º anos; planejamento por ano, no caso do BIA, reagrupamentos e
estratégias interventivas.
Planejamento por ano/Etapas I, II e III – BIA: discussão, suporte e acompanhamento
individual pelo professor de atividades, conteúdos e estratégias instituídos no
planejamento coletivo. Rodízio e intercâmbio de alunos partícipes dos reagrupamentos
e do projeto interventivo.
Reforço escolar: atendimento individual ou em grupo realizado em horário contrário
pelos professores destinado a alunos com necessidades/dificuldades de aprendizagem.
Psicomotricidade: atividades dirigidas ao desenvolvimento psicomotor dos estudantes,
constituídas no planejamento coletivo de professores, a serem executadas duas vezes
por semana.
Conselho de Classe participativo: avaliação dos processos de ensino-aprendizagem.
Ocorre ao final de cada bimestre, com turmas individualizadas. Conta com a presença
da equipe gestora, dos pais, dos coordenadores, dos professores, do orientador
educacional e dos estudantes.
Tudo pode ser diferente: estratégias didático-pedagógicas voltadas à sensibilização dos
estudantes quanto às diferenças de raça, gênero, credo, posição social e ANEE. Os
conteúdos e as estratégias estão articulados ao currículo e são construídos no
planejamento coletivo.
Reuniões quinzenais por grupo de pais: estudantes com problemas disciplinares ou de
aprendizado.
Rotinas Entrada viva: ocorre no pátio coberto da escola, onde os estudantes são agrupados na
entrada dos turnos matutino e vespertino. Momento lúdico-recreativo utilizado como
ação didático-pedagógica buscando oportunizar as expressões criativas, artísticas e
culturais dos alunos. Permite ainda sensibilizações temáticas articuladas aos projetos
desenvolvidos na escola e aos temas curriculares transversais.
Pauta: registro de atividades planejadas para os dias da semana contemplando a
organização do tempo e atividades pedagógicas elaboradas nos planejamentos
coletivos e individuais.
Leitura compartilhada: utilização de textos de variados gêneros literários tendo em
vista despertar o prazer de ouvir boas histórias, a leitura, a escuta e a fruição.
Caderno volante: instrumento e estratégia didática utilizada como registro diário de
atividades desenvolvidas vinculadas à alfabetização e ao letramento.
Programações Semana das Mães (Semãe); Semana dos Pais (Sepae); Festa Junina; Festa da Família;
pedagógicas e Festa das Crianças; Semana da Educação para a Vida; Cidadão em Ação.
lúdico-recreativas
Outros projetos: Professor e aluno antenados: uso articulado entre docente e discente de recursos
otimização de mediáticos informatizados como ferramenta de facilitação para o ensino e
espaços aprendizagem; nosso blog; sala de leitura; sala de vídeo.
pedagógicos
Implementação do Ensino Fundamental nove anos e Bloco Inicial de Alfabetização (BIA) Escola Classe
Desafios do Aprender
38
Lei n. 3.483, de 25 de novembro de 2004, Decreto n. 25.619, de 1º de março de 2005, e Portaria n. 283/2005.
Lei n. 11.114, de 16 de maio de 2005, que alterou os artigos 6º, 30, 32 e 87 da LDB, e pela Lei n. 11.274/2006,
art. 5º, e ainda reformulou alguns artigos da lei anterior, estipulando o prazo até 2010 para que fosse implantado
o Ensino Fundamental de nove anos nos municípios e no Distrito Federal.
111
conta com seis turmas de terceiros anos-BIA (foco desta investigação), distribuídas em três
turmas no turno matutino (turmas A, B e C) e três no turno vespertino (turmas D, E e F).39
O processo gradativo de implementação do Ensino Fundamental de nove anos e do
BIA na escola implicou estudos e mudanças em toda a estrutura pedagógica. O eixo norteador
do trabalho pedagógico assumiu uma perspectiva coletiva. Esse novo foco encontra-se em
sintonia com as diretrizes metodológicas para o Bloco, em que os profissionais envolvidos
devem planejar, executar e avaliar “o processo de ensino-aprendizagem de forma cooperativa,
integrada e coletiva” (DISTRITO FEDERAL, 2005, p. 25).
Dessa forma, o planejamento, a avaliação e a intervenção pedagógica nos processos de
ensino-aprendizagem foram revistos na escola, principalmente porque a proposta do Bloco
acabou com as reprovações nos dois primeiros anos de escolarização do estudante, o que
implicou redimensionamento da organização do tempo e das práticas e estratégias
pedagógicas na escola – é o que vamos detalhar a seguir.
39
O detalhamento das turmas e dos turnos encontra-se no Anexo B da pesquisa.
40
De acordo com a teoria exposta em Psicogênese da Língua Escrita, de Emilia Ferreiro (2001), toda criança
passa por quatro fases até que esteja alfabetizada: pré-silábico – não consegue relacionar as letras com os sons
da língua falada; silábico – interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada uma; silábico-
alfabético – mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas; alfabético – domina, enfim,
o valor das letras e das sílabas.
112
Referência de Língua Portuguesa da Provinha Brasil para o terceiro ano, também chamadas
de Descritores.41 Em 2011, a Provinha Brasil foi aplicada em maio e em outubro. Nesse ano
também foi aplicada a Provinha Brasil Matemática no mês de setembro.
Por meio dessas avaliações a equipe gestora identifica e mapeia todos os perfis de
aprendizagem no processo de alfabetização dos estudantes e propõe ações e estratégias
pedagógicas de intervenção para cada grupo/perfil de aprendizagem dos estudantes.
Ao lado das avaliações já citadas, a coordenação pedagógica do BIA, juntamente com
os professores, realiza bimestralmente o teste de psicogênese. Assim, na ocasião dos
planejamentos coletivos, são cruzados os resultados dessas avaliações com as realizadas pela
equipe gestora. Todas essas avaliações constam no calendário administrativo e pedagógico da
escola de 2011. (Anexo D). O Quadro 9 traz as avaliações utilizadas pela Escola Desafios do
Aprender conforme consta no Projeto Político-Pedagógico 2011.
41
Em abril de 2008, foi aplicada a primeira edição desta avaliação no Distrito Federal. Diante da existência de
diferentes regimes adotados nas escolas, participaram da Provinha Brasil os alunos que estavam: no segundo
ano, em escolas onde o Ensino Fundamental tivesse duração de nove anos; na segunda série, em escolas onde o
Ensino Fundamental tivesse duração de oito anos e não possuísse um ano anterior à primeira série dedicado à
alfabetização; na primeira série, em escolas onde o Ensino Fundamental tivesse duração de oito anos e possuísse
um ano destinado à alfabetização anterior a essa série, como classes de alfabetização ou o último ano da
Educação Infantil dedicado ao início do processo de alfabetização. A Matriz de Referência foca habilidades
essenciais de alfabetização e letramento que serão avaliadas pela Provinha Brasil. Trata-se de uma referência
para a construção do teste, sendo diferente de uma proposta curricular ou programa de ensino, que são mais
amplos e complexos. No Anexo E da pesquisa encontram-se os gráficos de acertos e as Matrizes de Referência
para português e matemática utilizados pela escola na Provinha Brasil em 2011.
113
Com base nessas avaliações são realizados levantamentos dos resultados dos
estudantes. A escola então efetiva um diagnóstico no qual são definidos os perfis de
aprendizagem para compor os reagrupamentos dos estudantes em pré-silábicos e silábicos,
silábico-alfabéticos e alfabéticos. Também são discutidas, estruturadas e registradas43 as
intervenções pedagógicas a serem aplicadas nos reagrupamentos. Os reagrupamentos seguem
a orientação metodológica do BIA para alunos do segundo e do terceiro anos do BIA e são de
três tipos: intraclasse (os grupos de estudantes da mesma turma recebem intervenção em sua
sala referência), interclasse (são agrupados alunos de várias turmas dos segundo e terceiro
anos) e extraclasse (os estudantes são agrupados e atendidos em horário contrário ao da aula
na interface com a Educação Integral).
Professores do segundo e do terceiro anos do Bloco participam da intervenção das
necessidades de aprendizagem nos reagrupamentos. A atuação docente nos reagrupamentos (à
42
A Matriz da Provinha Brasil (Anexo E) pode servir como referência para planejamentos pedagógicos, mas de
forma alguma (segundo advertência do MEC/Inep) deve substituir o currículo da escola em relação à
alfabetização. Embora seja uma avaliação diagnóstica, um instrumento pedagógico não pode ser utilizado com
finalidades classificatórias (MEC/Inep, 2011).
43
Os registros são cotidianos, servindo de guia para os planejamentos e as ações interventivas. A equipe gestora
e os coordenadores também organizam registros (Saiec, Teste da Psicogênese). Os citados registros são de ordem
interna da escola. Contudo, pratica-se ainda outro tipo de registro (externo) – a Subsecretaria de Educação
Básica, vinculada à SEDF, instituiu para todo o DF o Formulário de Registro Descritivo em 2011(Anexo H).
Nele, o professor deve registrar semestralmente os avanços auferidos pelo estudante, bem como relatar suas
necessidades de aprendizagem, pontuando as intervenções pedagógicas realizadas e as futuras, tendo em vista a
promoção de melhores condições de aprendizagem dos estudantes no cotidiano escolar.
114
exceção do intraclasse, que é realizado pelo professor referência da turma) ocorre em forma
de rodízio. Assim, duas vezes por semana os professores deixam suas turmas de referência
para atuar nos reagrupamentos (interclasse, extraclasse). Nas intervenções pedagógicas
ocorridas no projeto interventivo/Educação Integral também participam professores do quarto
ano e das quartas séries dos turnos matutino e vespertino.
Dessa forma, os estudantes com necessidades de aprendizagem são incluídos nos
reagrupamentos, nas aulas de reforço e em atividades lúdico-recreativas, de modo que,
quando avançam em sua aprendizagem são remanejados nos reagrupamentos. Essa dinâmica
implica acompanhamento pedagógico sistemático de atividades, bem como correção e registro
do acompanhamento de tarefas individuais dos estudantes por todos os professores
participantes dos rodízios e da educação integral.
A equipe gestora e a coordenação produzem gráficos 44 de acompanhamento do
desempenho dos alunos e fazem o levantamento dos acertos (por questão da Provinha
Brasil45), buscando nos planejamentos de ensino estratégias pedagógicas que possibilitem aos
estudantes avançar nas carências de conteúdos, habilidades e/ou competências. Os alunos que
pouco avançam ou que apresentam maiores dificuldades no aprendizado também recebem dos
seus professores reforço escolar, que ocorre no contraturno das aulas ou pelo projeto
interventivo,46 que acontece em interface com o projeto Educação Integral implementado na
escola.
O planejamento das atividades pedagógicas a serem empregadas nos reagrupamentos é
realizado coletivamente. Nessa ocasião todos os professores discutem e participam com
sugestões, estratégias e ações pedagógicas para intervenção em todos os níveis de
reagrupamentos. A Figura 5 ilustra a ocorrência dessas avaliações na escola e como se
organizam os reagrupamentos.
44
Ver Anexo F – Gráficos de acertos por questão – linguagem e matemática dos terceiros anos BIA – Desafios
do Aprender, extraídos da Provinha Brasil aplicada em abril de 2011.
45
Até 2010, cada teste da Provinha Brasil era composto por 24 questões de múltipla escolha, com quatro opções
de resposta cada uma. A partir de 2011 os testes foram compostos de vinte questões. Algumas dessas questões
são lidas pelo aplicador da prova – na íntegra ou em parte –, e outras são lidas apenas pelos alunos. Com base
nos índices de acertos/erros dessas questões é que os professores da escola fazem as análises para os
planejamentos de intervenção no ensino e na aprendizagem.
46
Ver Anexo G – Interfaces Educação Integral e Projeto Interventivo – BIA.
115
Planejamento coletivo
Planejamento 1º, 2º e 3º anos – BIA
Planejamento individual
Reagrupamentos
Projeto Educação Integral; Projeto Interventivo
Rotinas pedagógicas
Atendimento no reforço escolar
Observação/acompanhamento/intervenção diários de
atividades (leitura compartilhada, caixa da matemática,
informática, caderno volante); outros projetos
curriculares envolvendo otimização de espaços
pedagógico-lúdico-recreativos
A Figura 6 busca explicitar a interface das ações pedagógicas que ocorrem por meio
do planejamento coletivo-participativo em grupos e também do planejamento individual com
os professores.
117
C
P Avaliação • Saiec, Provinha Brasil, psicogênese. Caráter
formativo: contínua, processual e diária (prática
investigativa-ação-reflexão em ação).
L O
A G I
N L N • Por meio de aferição dos resultados e detecção
diária das dificuldades dos estudantes; das
E R D práticas e das estratégias pedagógicas
aplicadas/desenvolvidas . Aferição dos êxitos, das
J E
I Diagnóstico dificuldades e do planejamento de novos cursos
de ação/projetos interventivos. Abordagem
A U V interdisciplinar dos problemas de aprendizagem
(interfaces de todos os profissionais e espaços
M I físicos).
T D
E P U
• Reagrupamentos; Educação Integral - Projeto
N I Interventivo; aulas de reforço; acompanhamento
A
T A L Intervenção de tarefas: observação /intervenções diárias;
atividades lúdico-pedagógicas; otimização de
espaços físicos; recursos didáticos: instrumentos
O V pedagógicos variados/materiais concretos.
S L
O
Planejamento
coletivo
TODA A ESCOLA
Planejamento
C
BIA - 1º ,2º e 3º
o
anos o
r
d Avaliação
Planejamento por
ano BIA
e Diagnóstico
n Intervenção
a
ç
õ
e
Planejamento
s
individual professor
118
47
Para maior detalhamento, consultar calendário administrativo e pedagógico – Anexo D.
119
48
O Sistema de Avaliação de Desempenho das Instituições Educacionais do Sistema de Ensino do Distrito
Federal foi criado por meio do Decreto n. 29.244, de 2 de julho de 2008. É um instrumento permanente de
planejamento destinado a aferir as condições da oferta de ensino nas escolas públicas e privadas do DF, com o
intuito de garantir o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
120
Fonte: Equipe Gestora e Coordenação Pedagógica da Escola Classe Desafios do Aprender, 2011
49
A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, dada a relevância do projeto para a política
educacional pública para o DF, criou em 2009 a Secretaria Extraordinária para Educação Integral no DF para
colaborar com a Secretaria de Educação (DISTRITO FEDERAL, 2009).
50
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, prevê a
ampliação da jornada escolar em seus artigos 34 e 87. Diz o artigo 34: “A jornada escolar no Ensino
Fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente
ampliado o período de permanência na escola”, especificado pelo parágrafo segundo, quando afirma que “o
Ensino Fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino”.
Além deste, o artigo 87, em seu parágrafo 5º, conclama para que sejam “conjugados todos os esforços
121
objetivando a progressão das redes escolares públicas urbanas de Ensino Fundamental para o regime de escolas
de tempo integral”.
122
reduzir em 20% a distorção idade/série até 2012; elevar o índice de aprovação para 20% até
2012; elevar gradativamente o Ideb a partir de 2012.
A análise dos índices alcançados pela Escola Classe Desafios do Aprender nos anos de
2005, 2007 e 2009, segundo o MEC-Inep, revelaram que houve crescimento nas taxas de
aprovação, nos índices da Provinha Brasil e do Ideb,51 conforme a Tabela 3.
Anos 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021
51
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 2007 como parte do Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE). Ele é calculado com base na taxa de rendimento escolar (aprovação e evasão) e no desempenho dos
alunos no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e na Prova Brasil. Ou seja, quanto maior
for a nota da instituição no teste e quanto menos repetências e desistências ela registrar, melhor será sua
classificação, numa escala de zero a dez.
124
Média das escolas públicas do Distrito Federal 4,8 5,0 5,6 6,8
Média da Escola Classe Desafios do Aprender – Dreso 4,4 4,2 5,3 6,5
3 MÉTODO
Nesta pesquisa, optou-se por uma abordagem de natureza qualitativa, uma vez que se
busca a compreensão em profundidade da experiência de implementação do BIA e suas
relações com a produção da queixa escolar em uma escola pública do Distrito Federal. A
abordagem qualitativa também permite resgatar o maior número de informações em busca dos
significados, das interações e das influências no cenário do problema apresentado.
A pesquisa qualitativa tem um caráter dialógico e construtivo, viabiliza a compreensão
detalhada dos significados e das características de situações pesquisadas, evidencia valores,
crenças, representações, opiniões e atitudes, permitindo o entendimento de fenômenos
caracterizados por alto grau de complexidade. “Com frequência, essas atividades servem,
primeiramente, para descobrir quais são as questões mais importantes na pesquisa e, depois,
para refiná-las e respondê-las (ou sua interpretação em ambos os sentidos)” (SAMPIERE;
COLLADO; LUCIO, 2006, p. 7).
Assim, o estudo qualitativo, segundo Ludke e André (2005, p. 18): [...] é o que se
desenvolve “numa situação natural”, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e
focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada e que está sendo relacionado a um
estudo de natureza teórica e empírica.
Nos pressupostos epistemológicos da pesquisa qualitativa tem-se que a busca de
compreensão do objeto e a construção do conhecimento “assentam-se em assumir o diálogo
no processo de investigação, implica que investigador e investigado entrem em um processo
conjunto de reflexão” (GONZÁLEZ REY, 2005, p. 269). Esses pressupostos encaminham um
novo olhar sobre as ciências e a subjetividade, em que a singularidade dos sujeitos conforma
expressões intercambiantes da natureza e do fluxo da vida, resultando em “teias complexas”
de novas possibilidades que, segundo Demo (2002), devem ser reveladas por meio de
procedimentos, processos e produtos, numa dinâmica não linear e reconstrutiva.
Mediante esses enfoques pretendeu-se, por meio de instrumentos selecionados,
construir informações e inferir interpretações que concorram para que os sujeitos envolvidos
possam ser vistos em sua singularidade “como uma unidade essencial [...] via que estimula os
processos de construção teórica, portadores de um valor de generalização perante o estudo da
subjetividade” (GONZÁLEZ REY 2005, p. 102).
Para a investigação, optou-se pela pesquisa do tipo etnográfica com estudo de caso,
pois esta se mostra significativamente coerente com o objeto da pesquisa, uma vez que o
126
propósito é obter uma consciência mais clara de alguns fatores que possam contribuir para a
constituição de determinadas posturas nesse momento histórico de mudanças nas práticas de
alfabetização do ensino público no Distrito Federal. Procura-se, por meio dessa metodologia,
investigar as mudanças e as práticas de alfabetização encontradas na experiência de ciclo-BIA
em uma escola pública da SEDF. Segundo Martins (2008, p. 52-53):
[...] não como via de detenção de informação complementar, mas como momento
essencial na produção de conhecimentos. Constitui um processo irregular e
diferenciado que se ramifica à medida que o objeto se expressa em toda sua riqueza”
(GONZÁLEZ REY, 2002, p. 71).
[...] apresenta um engenhoso recorte de uma situação complexa da vida real, cuja
análise-síntese dos achados tem a possibilidade de surpreender, revelando
perspectivas que não tinham sido abordadas por estudos em si mesmo como uma
descoberta (MARTINS, 2008, p. 2).
Para Ludke e André (2005), o estudo de caso constitui-se na melhor opção quando se
quer estudar questões singulares, como é o caso das concepções dos professores da queixa
escolar na experiência de alfabetização em ciclos. Os autores destacam ainda as características
desse tipo de pesquisa: visa à “interpretação do contexto”; busca retratar a realidade de forma
completa e profunda; usa uma variedade de fontes de informação; revela experiência vicária;
permite generalizações naturalísticas; e procura representar os diferentes e às vezes
conflitantes pontos de vista em uma situação social.
Para tanto, a pesquisa assumiu natureza descritiva, pois visa a descrever um fenômeno,
narrar, expor, identificar indicadores ou detalhar o que se pretende estudar, bem como apontar
aspectos, contextualizá-los e classificá-los (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006).
127
Os instrumentos deverão integrar formas orais e escritas e abrir espaço para o diálogo
entre investigador e investigado, sendo imprescindível também o reconhecimento do
significado que esses instrumentos terão para o sujeito. Para González Rey (1999, p. 84):
Questão principal
Objetivo geral
Analisar as concepções e as práticas pedagógicas de
professores do BIA em relação à queixa escolar em uma
escola pública do Distrito Federal.
3.5 PARTICIPANTES
São participantes da pesquisa docentes que atuam no BIA num total de sete
professores alfabetizadores dos turnos matutino e vespertino da Escola Desafios do Aprender.
Como critério de inclusão optou-se pelos professores dos terceiros anos BIA, sendo um deles
professor-coordenador. Eles foram escolhidos tendo em vista que nessa experiência de
alfabetização em ciclos não há reprovação nos dois primeiros anos (Etapa I – 6 anos e Etapa II
– 7 anos: primeiro e segundo ano, respectivamente).
Contudo, no terceiro ano Etapa III – 8 anos pode ocorrer a retenção do estudante, e é
aí que pode suceder, com maior frequência, o encaminhamento desse estudante aos serviços
especializados em diagnóstico, no caso da Secretaria de Educação do DF, às Equipes
Especializadas de Apoio à Aprendizagem. Portanto, examinou-se a possibilidade de o maior
número de estudantes com queixa escolar encontrar-se na Etapa III. O critério de exclusão foi
aplicado aos demais professores alfabetizadores das Etapas I e II do BIA.
Os perfis dos professores participantes da pesquisa foram coletados por meio de
questionário (Apêndice C) e encontram-se detalhados no Quadro 14.
52
O Centro de Referência em Alfabetização (CRA) é o local considerado polo para as discussões e a formação
dos professores quanto às estratégias pedagógicas que acercam a implementação do BIA nas escolas.
132
A pesquisa documental veio sendo realizada desde a definição do objeto da pesquisa até a
discussão dos dados colhidos. O acesso aos documentos deu-se mediante questionamentos
surgidos na experiência da observação participante realizada no andamento da pesquisa por
via virtual e consultas manuais ocorridas em pastas, atas e relatórios de reuniões, livros
registros do CRA de Sobradinho, das EEAAs e da escola (documentos produzidos pela equipe
gestora, pelos coordenadores BIA e pela Educação Integral). Também serviram como fonte de
consulta pastas individuais e formulários de registro avaliativo dos estudantes colhidos na
secretaria da escola. Alguns documentos foram acessados durante as visitas à Gerência do
Ensino Fundamental (GIF), à Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais (EAPE) e à
Diretoria Regional de Sobradinho (Dreso). O acesso se deu também por meio de consulta
física (relatórios de avaliação dos estudantes, anotações dos professores em seus
planejamentos pessoais, arquivos da escola, livros atas do CRA e da EEAA) e por meio
virtual (diretrizes, leis (MEC/Inep), portarias e orientações pedagógicas no âmbito da SEDF).
A construção de dados na pesquisa documental ocorreu concomitantemente à
utilização do método observação participante em todo o transcurso da pesquisa. Assim, os
dados foram sendo colhidos a cada evento/ação observada nas práticas pedagógicas da escola,
de modo que as bases legais condizentes com as diretrizes metodológicas para os ciclos e para
o BIA fossem tangenciando as respostas às indagações e as análises dos dados da pesquisa.
Esses documentos foram sendo arquivados pela pesquisadora em ordem cronológica
em duas pastas (por ano) à medida que as consultas eram realizadas, constituindo-se uma
pasta virtual para os documentos oficiais disponíveis na internet e uma pasta física para os
documentos xerocados ou escaneados fornecidos pela escola pesquisada, pelo CRA e pela
Dreso. O critério para arquivo e organização dessas pastas foi a ordem cronológica da
publicação do documento.
Esses documentos foram organizados em dois tipos: I – Documentos – legislações e
diretrizes educacionais nacionais (MEC/Inep) e legislações e diretrizes educacionais da SEDF
(Quadro 15); II – Documentos produzidos/organizados pela Escola Desafios do Aprender, tais
como instrumentos normativos, administrativos e organizacionais de gestão (Quadro 16).
O Quadro 15 esclarece a ordem dos documentos oficiais nacionais consultados.
133
Nº DOCUMENTO ANO
01 Constituição da República Federativa do Brasil (CF). 1988
02 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9.394/1996. 1996
03 Lei nº 10.172 – Plano Nacional de Educação – MEC/PNE. 2001
04 Secretaria do Estado de Educação. Currículo da Educação Básica das Escolas Públicas do Distrito 2002
Federal – 1ª a 4ª séries.
05 Portaria nº 931, de 21 de março de 2005, com o objetivo de instituir o Sistema de Avaliação da 2005
Educação Básica (Saeb).
Lei
061 Lei nº 1.114, de 16 de maio de 2005. Altera os arts. 6º, 30, 32 e 87 da Lei nº 9.394, de 20 de 2005
dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do Ensino Fundamental aos 6
anos de idade.
07 Secretaria do Estado de Educação. Portaria nº 283, de 15 de setembro de 2005. Brasília, 2005. 2005
Dispõe sobre a organização e o funcionamento do Ensino Fundamental com nove anos de duração
nas instituições educacionais da rede pública do ensino do Distrito Federal e dá outras
providências.
Lei081 Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts 29, 30, 32 e 87 da Lei nº 9.394, 2006
de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e as bases da educação nacional,
dispondo sobre a duração de nove anos para o Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória a
partir dos 6 anos de idade.
09 Secretaria do Estado de Educação. Proposta Pedagógica para o Bloco Inicial de Alfabetização. 2006
Brasília.
Secr
10 Secretaria do Estado de Educação. Diretrizes de Avaliação do Processo de Ensino-Aprendizagem 2008
para a Educação Básica. Brasília.
11 Secretaria do Estado de Educação. Diretrizes Pedagógicas para 2009-2013. 2008
12 Secretaria do Estado de Educação. Portaria nº 27, de 01/02/2008. Critérios para distribuição de 2008
carga horária dos professores da rede pública de ensino.
13 Secretaria Extraordinária para a Educação Integral. Educação Integral: ampliando tempos, espaços 2009
e oportunidades educacionais; Portaria nº 01, de 27 de novembro.
14 Bloco Inicial de Alfabetização: o desafio da mudança. 2009
15 MEC/Inep. Resultados de avaliações nacionais: taxa de aprovação, Prova Brasil, Ideb. 2009
16 Secretaria do Estado de Educação. Estratégia Pedagógica Bloco Inicial de Alfabetização. 2ª edição 2010
– Versão experimental.
17 Secretaria do Estado de Educação. Proposta Pedagógica – Serviço Especializado de Apoio à 2010
Aprendizagem.
Nº DOCUMENTO ANO
01 Relação de estudantes atendidos Equipe Polo III 2007
02 Relação de estudantes atendidos Equipe Polo Escola Classe Desafios do Aprender 2008
03 Relação de estudantes atendidos Equipe Polo Escola Classe Desafios do Aprender 2009
04 Relação de estudantes atendidos Equipe Polo Escola Classe Desafios do Aprender 2010
05 Perfis de turma da escola 2005
06 Perfis de turma da escola 2006
07 Perfis de turma da escola 2007
08 Perfis de turma da escola 2008
09 Perfis de turma da escola 2009
10 Perfis de turma da escola 2010
11 Perfis de turma da escola 2011
12 Calendário administrativo e pedagógico 2011
13 Cronograma semanal de atividades 2011
14 Projeto Político-Pedagógico 2011
15 Projeto Educação Integral 2011
16 Planejamento coletivo – 1º bimestre 2011
17 Planejamento coletivo – 2º bimestre 2011
18 Planejamento por ano/etapa – 1º, 2º e 3º bimestres 2011
19 Cópia livro-ata Conselho de Classe – 1º semestre 2011
20 Perfis de turma da escola – secretaria da escola 2011
21 Avaliação diagnóstica – Psicogênese 2º e 3º anos 2011
22 Relatório descritivo dos estudantes – 3º anos BIA 2011
23 Matriz de referência Provinha Brasil – Descritores para avaliação de alfabetização e letramento 2011
inicial – 2º e 3º anos BIA
24 Gráficos de acertos por aluno – matemática e linguagem 3º anos BIA – Provinha Brasil 2011
coletivas aos encontros grupais e individuais, ocasiões que tornaram possíveis acessar as
impressões particulares de cada professor alfabetizador participante da pesquisa. Possibilitou
ainda melhor esclarecimento dos objetivos e das respostas às indagações da pesquisa.
A observação participante foi realizada em diversos espaços da escola: corredores,
murais de avisos; sala de reforço escolar e pátio interno durante o desenvolvimento de
atividades lúdico-recreativas e pedagógicas;. Mas a ênfase maior dessa observação recaiu
sobre a sala de coordenação dos professores, onde ocorriam as reuniões, onde se preparavam
materiais e onde os professores discutiam e deliberavam sobre a aprendizagem dos estudantes,
seus avanços e retrocessos. Não foi realizada nenhuma observação direta com estudantes e
professores nas salas de aula dos terceiros anos-BIA.
A participação da pesquisadora nas coordenações pedagógicas coletivas, grupais e
individuais fez com que houvesse maior aproximação com os professores participantes da
pesquisa. Durante as discussões e os planejamentos, a postura da pesquisadora foi de não
intervenção, visto que a pauta de planejamento das coordenações já estava predefinida pelo
calendário organizacional da escola e muitas vezes o número de temas e assuntos a serem
discutidos era maior que o tempo disponível para sugestões, discussões, avaliações e
deliberações. Contudo, as indagações e/ou dúvidas surgidas durante esses encontros foram
dirimidas posteriormente pela direção e pelos coordenadores.
A aproximação da pesquisadora dos professores participantes da pesquisa se fez de
forma gradativa. De posse do calendário administrativo e pedagógico 2011 (Anexo D) e do
cronograma semanal de atividades (Quadro 12) foi possível obter acesso a todos as ações
pedagógicas registradas no calendário. No entanto, muitas reuniões pedagógicas sofreram
modificações nas datas, nos horários e no dia de semana, o que algumas vezes impediu a
participação da pesquisadora nessas atividades.
As modificações no calendário escolar se deram em função de feriados ou da
necessidade de remanejamento das atividades pedagógicas, visto que os projetos pedagógicos
desenvolvidos demandavam reuniões coletivas de avaliação e de planejamento de conteúdos/
atividades pedagógicas nos reagrupamentos.
Os dados relativos aos anos da seriação implicou visitas a outras Equipes
Especializadas de Apoio à Aprendizagem, tendo em vista que no período de reforma do
prédio onde funciona a Desafios do Aprender (2005 a 2007) esse serviço foi desarticulado.
Nos anos mencionados, a escola recebeu assistência de mais de uma EEAA em relação ao
atendimento das queixas escolares, pois, devido à reforma, os alunos foram distribuídos entre
outras equipes (demandas de atendimento de estudantes com dificuldades escolares que
136
53
O diário de campo é um instrumento utilizado pelos investigadores para registrar/anotar os dados recolhidos
susceptíveis de serem interpretados. Nesse sentido, ele é uma ferramenta que permite sistematizar as
experiências para posteriormente analisar os resultados.
137
professores 01, 03, 05 e 07 foram entrevistados na sala de reforço escolar, e os demais, na sala
de coordenação coletiva.
Para maior elucidação das análises dos três métodos utilizados na pesquisa –
observação participante, análise documental e entrevistas – produziu-se a Figura 9, com o
objetivo de ilustrar, com um organograma, como se encontra caracterizada a efetivação dos
princípios metodológicos do BIA na Escola Desafios do Aprender. A título de esclarecimento
das análises e das questões da pesquisa, este organograma poderá ser comparado ao
organograma apresentado anteriormente,54 o das Diretrizes Metodológicas do BIA (2006;
2010) (Figura 3), pautado nas orientações e nas diretrizes legais para a implementação do BIA
e de suas estratégias metodológicas para todas as escolas do Ensino Fundamental do Distrito
Federal.
54
Consultar capítulo 2 - A experiência dos ciclos no Distrito Federal: a proposta do Bloco Inicial de
Alfabetização.
139
PLANEJAMENTOS
Coletivos (todo BIA) grupais (por ano ENSINO DA ENSINO DA
AVALIAÇÃO REAGRUPAMENTO (2º e 3º anos) BIA) individuais (Por turma/professor) LÍNGUA MATEMÁTICA
FORMATIVA Participam todos alunos foco nas (horários de coordenações)
necessidades de aprendizagem
- Diretrizes para
PROJETO INTERVENTIVO/ESCOLA Métodos utilizados
esse princípio
Intraclasse- sala de aula INTEGRAL na alfabetização pouco
pouco
Interclasse: rodízio profs. Estudantes defasados dos 2 º /3º anos definidos/ mesclados;
Função diagnóstica de percursos evidenciada s nas
E. Integral- P. Interventivo Com dificuldades de aprendizagem; Prática pautada no
ensino, planejamento/ práticas
Com dificuldades específicas de aprendizagem embasamento
acompanhamento das necessidades de Com defasagens no desenvolvimento aprendizagem Metolodogia
empírico e em
aprendizagem; intervenções baseada na
planejamentos
pedagógicas e perfis de aprendizagem. exploração
(A nálises) coletivos (trocas de
Registros: portifólios, cadernos, Intervenção pedagógica: leitura, materiais
Prática investigativa pares); contemplando
gráficos de rendimentos, formulários linguagem; matemática, concretos
Planejamento algumas das 4 práticas
individuais psicomotricidade. (caixinha
execução intervenções orientadas pelo BIA;
Suporte pedagógico par a dever de casa; matemática)
pedagógicas Estratégia:
Atividades de informática e Ausência de
observar/avaliar
Atividade esportiva: basquete proj eto s
Avaliação pedagógica avanços nas
Alimentação e higiene pessoal especificados
coletiva ;Provinha Brasil, aprendizagens dos
para essa área ;
SAIEC,Conselhos de Classe estudantes
- Processo
Teste psicogênese Pré silábicos Outras intervenções: avaliativo e
Acompanhamento diário Silábico-alfabéticos Reforço escolar: individual, grupal planejamentos
-
de tarefas pedagógicas pelo próprio professor; pouco
Alfabéticos I
nos reagrupamentos Reagrupamentos: inter/intraclasse especificados
Alfabéticos II com Sustentado por comprometimento dos
Intervenções grupais/individuais e professores com a docência e com o BIA;
Estudos nas coordenações
coletivas coletivas/individuais
Troca experiências entre pares
FORMAÇÃO (Professores)
CRAS/ dificuldades na
CONTINUADA efetivação de cursos
PLANEJAMENTOS
Coletivo, integrado, participativo
140
como para todo o diferencial pedagógico visível (meios criados e utilizados pelos professores,
pela equipe gestora e pelos coordenadores na implementação do BIA nessa escola).
Nas observações das reuniões de coordenação e planejamento dos professores da
Etapa III – terceiros anos foram detectadas singularidades, tendo sido necessário dois registros
distintos no diário de campo: 1) registro de informações emitidas pelos professores quanto aos
estudantes com necessidades de aprendizagem nos reagrupamentos, nos projetos interventivos
e no reforço escolar; 2) registro de informações dadas pela coordenação, pela equipe gestora e
pela EEAA. Esses registros colaboraram para aprofundar a pesquisa documental e para
entender as falas de alguns professores que participaram das entrevistas semiestruturadas.
Nos conselhos de classe,55 a coordenação e a equipe gestora registram os temas
tratados e as deliberações coletivas em um livro-ata. Esse livro foi disponibilizado para a
pesquisadora, que o copiou e o utilizou na pesquisa documental (Quadro 16).
Os dados relativos ao número de estudantes atendidos/diagnosticados pela EEAA da
escola foram classificados em duas fases: o quantitativo na experiência de seriação (2005,
2006, 2007) e o quantitativo na experiência do BIA (2008, 2009, 2010). O procedimento de
análise para esses dados foi o comparativo, levando em conta também o número de retenções
e de aprovações na experiência da seriação (2005, 2006, 2007) e no BIA (2008, 2009, 2010.
Para explicitação dos atendimentos ocorridos nos citados anos foi elaborado um
quadro indicando o ano de referência, o período de atendimentos realizados e o número de
estudantes atendidos (Quadro 20).O procedimento de registro das observações transcorreu em
forma de produção de texto discursivo-dissertativo e também na forma de elaboração de
figuras, organogramas, fluxogramas e quadros (presentes no texto, como apêndices e anexos),
tendo em vista a necessidade de detalhar a descrição e a caracterização do funcionamento
pedagógico da escola mediante a implementação das diretrizes metodológicas do BIA.
Com o intuito de fornecer ao leitor uma visão panorâmica do processo de
implementação do BIA, dois organogramas foram produzidos: o primeiro para representação
do BIA (Figura 3), em que se tratou dos princípios metodológicos do BIA para o DF. O
segundo para representar a efetividade do BIA na Escola Desafios do Aprender, foco do
estudo de caso em pauta (Figura 9). Outras figuras igualmente ilustrativas constam no cenário
da pesquisa, como também nos anexos e nos apêndices.
55
Conselho de Classe é uma reunião coletiva dos professores para avaliação dos processos de ensino-
aprendizagem dos estudantes. Esses Conselhos têm força deliberativa sobre as intervenções pedagógicas
necessárias, planejamentos gerais, cronogramas de atividades e aprovação/retenção do aluno no terceiro ano
BIA.
142
c) No terceiro momento, após leitura flutuante foram levantadas as três categorias de análise:
Categoria 1: Características da operacionalização dos princípios e das estratégias
metodológicos do BIA, dificuldades e implicações profissionais para os professores.
Categoria 2: Concepções dos professores em relação à queixa escolar no BIA.
Categoria 3: Descrição das estratégias e dos processos pedagógicos em relação aos critérios
de:
3.1) identificação das queixas escolares;
3.2) intervenção nas queixas escolares;
3.3) encaminhamento das queixas escolares.
FATORES – Queixas escolares Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof.
1 2 3 4 5 6 7
3.1 Estratégias/critérios de identificação Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof.
1 2 3 4 5 6 7
Práticas avaliativas normativas e de gestão
Situações avaliativas coletivas
Práticas pedagógicas avaliativas cotidianas
3.2 Estratégias/critérios de intervenção Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof.
1 2 3 4 5 6 7
Estratégias pedagógicas relacionadas aos processos de
promoção à aprendizagem
Estratégias pedagógicas aplicadas aos problemas de
aprendizagem apresentados pelos estudantes
Estratégias pedagógicas relacionadas ao contexto de
planejamento e projetos pedagógicos desenvolvidos na
escola
3.3 Estratégias/critérios de encaminhamento Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof.
1 2 3 4 5 6 7
Atendimento por meio de estratégias interventivas do próprio
BIA na interface de serviços de apoio à aprendizagem
Atendimento pelo serviço das Equipes Especializadas de
Apoio à Aprendizagem
Atendimento pelos serviços da sala de recursos e orientação
educacional
d) No quarto momento foram construídos sete quadros-resumo nos quais se procurou ressaltar
os enunciados mais significativos que serviram de respostas às questões e aos objetivos da
pesquisa. Visando a exemplificar como esses quadros foram constituídos, é apresentado o
Quadro-resumo 18.
145
Quadro 18 – Concepções dos professores das estratégias e dos princípios metodológicos do BIA
d) O quinto momento resultou na análise dos enunciados dos professores e discussão das
categorias e das subcategorias levantadas. Os resultados e a discussão dessas categorias e
subcategorias encontram-se explicitados no próximo capítulo.
146
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
56
Para melhor compreensão dos tempos de implementação do Ensino Fundamental de nove anos no Distrito
Federal e do BIA na escola, sugerimos consultar a Tabela 1 e a Tabela 2.
147
Tabela 5 – Índices comparativos entre estudantes matriculados e estudantes retidos – Seriação e BIA
da relação entre as projeções buscadas no ensino e os resultados da política de ciclos deve ser
feita com necessário detalhamento desses índices para que não se corra o risco de abstenção
da relação dialética, política e técnica presente nas escolas em relação ao sucesso ou ao
fracasso na aprendizagem de alunos nas escolas públicas (SOUZA, 2007).
As características da cultura e do funcionamento de uma escola inflectem seu
potencial de mudança para melhor ou para pior. Neste sentido, muitos estabelecimentos
escolares apresentam características contraditórias, seja por estarem em transição entre dois
modelos, ou por serem solicitados por várias culturas e vários modelos em funcionamento. O
que de fato se pode constatar na escola pesquisada é que suas práticas coadunam-se aos
resultados apontados em pesquisas realizadas por Thurler em que: “as escolas eficientes são
aquelas abertas à inovação, em busca contínua de melhores respostas aos problemas
recorrentes” (THURLER, 2001, p.10).
A Desafios do Aprender revela flexibilidade nos processos pedagógicos com abertura
à modernização do sistema educativo. O compartilhamento de ações demonstrado pela escola
revela traços de descentralização e de investimento profissional de seus atores como um lugar
de formação. Escolas como essa, destacam-se como aquelas que aprendem, pois mostram-se
abertas às inovações, demonstrando habilidades políticas e de gerenciamento, além de
partilhamento de estratégias diferenciadas dirigidas às necessidades de aprendizagem de seus
estudantes.
Mobilidade e flexibilidade demonstradas pela prática da Desafios do Aprender são
incompatíveis com a inércia burocrática e administrativa. Inexoravelmente, o poder e as
linhas de decisão mostram-se transformados. É notável o envolvimento, partilha e
gerenciamento da Equipe Gestora em todos os processos pedagógicos instaurados.
Observa-se, também, que novo cenário apresenta-se e conforma-se em acordo com as
políticas diretivas de ciclos-BIA. De modo que os atores escolares, na Desafios do Aprender,
por sua vez, experimentam expectativas, frustrações e novas formas de ação.
Responsabilizam-se, mais diretamente, pelos processos e resultados da prática educativa
desenvolvida na instituição escolar. Esses traços verificados na escola são compatíveis com o
que Thuler (2001) caracterizou como escolas favoráveis à inovação e mudança.
A realidade verificada na escola Desafios do Aprender denota que os impactos do
BIA fez modificar o ordenamento de todo o sistema pedagógico local, produzindo buscas
continuadas de melhores respostas aos problemas recorrentes, como é o caso dos estudantes
identificados pelas queixas escolares, com indicativos de dificuldades/problemas de
aprendizagem, notadamente nos terceiros anos.
149
percebido, nas mesmas ilustrações produzidas, que a ênfase nos planejamentos e nas rotinas
de trabalho estejam voltadas para o ensino da língua, com notáveis dificuldades na esfera da
coordenação de projetos para a área do ensino da matemática.
b) Os cronogramas de trabalho, o projeto interventivo, os planos de ensino e outras produções
documentais oriundas da escola indicam que as estratégias pedagógicas aplicadas vêm
conseguindo enfrentar os desafios e os obstáculos concernentes à redução do número de
estudantes com defasagem de aprendizagem. Nesse sentido, os professores estão
comprometidos com a ressignificação de suas funções docentes, que envolvem, entre outras,
atuar como mediadores nas dificuldades de aprendizagem dos estudantes, sobretudo nos
terceiros anos, em que há retenção e quando as dificuldades de aprendizagem se enunciam
com maior gravidade.
c) As estratégias pedagógicas e os perfis de aprendizagem podem ser verificados no Quadro
12 no qual está demonstrado como se concretizam no cronograma semanal de atividades
planejamento, reagrupamentos, plano de ensino e estratégias pedagógicas. A diversidade de
ações pedagógicas empreendidas e aplicadas pela escola pode estar contribuindo para a
redução no número de encaminhamentos dos estudantes para os serviços especializados em
diagnóstico: as EEAAs. O Quadro 20 informa que o número de estudantes avaliados por esses
serviços vem diminuindo desde 2008, época em que ocorreu a implementação do BIA na
escola. Contudo, não foi possível separar nesses encaminhamentos quais séries e quantos
dos estudantes encaminhados tinham história de retenções na proposta seriada e no BIA.
Por meio da análise documental foi possível constatar que o BIA, como qualquer
experiência de ciclo, pressupõe que o tempo escolar se identifica com o tempo de
desenvolvimento dos educandos. Na Desafios do Aprender a avaliação formativa é estratégia
pedagógica basilar às demais desenvolvidas, criadas e aplicadas, tais como: planejamento,
planos de ensino, rotinas diárias e intervenções pedagógicas.
Entendemos que o conceito de avaliação deve comportar o acompanhamento do
crescimento intelectual, moral, físico, emocional e cultural do aluno e não, simplesmente,
quantificar saberes e habilidades. Esta investigação tem o foco voltado aos terceiros anos-
BIA. Contudo, a singularidade da proposta de ciclo mostra-nos que as Etapas I-6 anos, II-7
anos e III-8 anos encontram-se no patamar do tempo da infância e, não, da aquisição de
saberes (comparando a experiência da seriação, que se pautava principalmente, na aquisição
de conteúdos).
Na contramão desse entendimento vê-se que a política brasileira, a qual inclui a
proposta de ciclos, ainda assenta-se em processos centralizados em conteúdos. A força
152
normativa da Provinha Brasil (MEC/Inep) avalia o desempenho das escolas por meio de
levantamento de notas em provas de conteúdo aplicado aos estudantes pode ser notada na
escola. Nessa avaliação institucionalizada, ainda não se vê levantamentos e estudos mais
detalhados que esclareçam divergências, características e/ou impactos entre a proposta de
alfabetização em ciclos e a de série. Sabe-se que a mobilidade e flexibilidade do tempo na
experiência dos ciclos implicam subjetividades entre: métodos de ensino aplicados para
alfabetização e matemática, formas de organizar, estruturar os conteúdos e da metodologia
utilizada na elaboração das questões dessa prova. A diversidade nos perfis das escolas e das
propostas educacionais implicam diversidades de métodos e manejos diferentes, muitas vezes
divergentes nas formas de avaliar.
Nos ciclos, as linguagens, as formas de socialização e a cultura devem sobressair à
hierarquização de conteúdos. De forma que, nessa proposta, as aprendizagens devem ser
percebidas como desiguais e diferentes; os conhecimentos aprendidos singularmente, não
havendo como uniformizá-los e hierarquizá-los. Exige, portanto, maior grau de diversificação
metodológica e curricular para assegurar o desenvolvimento formativo do estudante em todas
as etapas. É o que se verificou nas práticas pedagógicas da Desafios do Aprender.
Entretanto, a análise documental mostrou que, nas estratégias pedagógicas do BIA,
não se encontram detalhamentos e especificações que acerquem as habilidades e
competências a serem trabalhadas pelos professores aos estudantes na Etapa I – 6 anos e
Etapa II- 7 anos. Verifica-se que a ausência dessas especificações nas diretrizes e estratégias
metodológicas comprometem o propósito de alfabetizar e letrar estudantes, desde os primeiros
anos-BIA. Essa lacuna concorre para o pouco investimento de professores alfabetizadores
nos mencionados primeiros anos. É notável que alguns professores tendem, de forma
equivocada, a caracterizar suas práticas pedagógicas no primeiro ano-BIA como um
prolongamento da educação infantil, delegando aos segundos e terceiros anos-BIA as
responsabilidades pela efetiva alfabetização dos estudantes. O que contribui para o acúmulo,
nos terceiros anos, de estudantes com defasagens em conteúdos, habilidades e competências
em alfabetização e letramentos.
Os inegáveis avanços na organização escolar da instituição Desafios do Aprender
denotam que muitas “resistências” dos professores à proposta da escolaridade em ciclos-BIA
já foram quebradas. Contudo, cabe ainda ressaltar que, dentre as práticas pedagógicas e
resultados apresentados pela escola na pesquisa documental, preocupa a efetivação da
Avaliação Formativa e Reagrupamentos (pré-silábicos, silábicos, silábico-alfabéticos I, II).
Isso se deve ao risco de que as estratégias desenvolvidas/planejadas e aplicadas possam
153
57
Não foram encontrados dados relativos aos cursos ofertados de formação continuada pelo CRA da Regional de
Ensino de Sobradinho. O CRA dessa Regional encontra-se em fase de reestruturação da equipe de coordenação
responsável por esses serviços.
154
professores estão implicados nessas ações, a fim de se verificar como a proposta interfere nas
concepções e nas práticas pedagógicas dos professores em relação à queixa escolar. No
primeiro momento, as análises estão dirigidas, de modo geral, à descrição das estratégias
pedagógicas empreendidas pela escola e de como atendem às necessidades e dificuldades de
aprendizagem dos estudantes dos terceiros anos-BIA. No segundo momento, são detalhadas:
coordenações-planejamentos, reforço escolar, projeto interventivo, conselho de classe. A
análise orientou-se pelo entendimento de que as citadas práticas pedagógicas são
imprescindíveis e decisivas ao atendimento ao estudante com dificuldades de aprendizagem,
susceptível de ser colocado em situação de queixa escolar. Esse contexto concorre para a
redução do número de encaminhamentos aos serviços especializados em diagnóstico.
Durante as observações, verificou-se o envolvimento dos atores educacionais com as
estratégias pedagógicas do BIA, desenvolvidas e aplicadas, sobretudo, nas intervenções
pedagógicas aos estudantes com necessidades de aprendizagem na Etapa III – terceiros anos.
Esse envolvimento colabora para a concretização da proposta na escola, tendo como base as
diretrizes metodológicas orientadas para o Bloco.
A Etapa III destaca-se quanto à efetivação das ações pedagógicas e desperta atenção
especial em toda a escola. É nesta etapa, a última do Bloco, que os estudantes ficarão retidos
ou serão promovidos para o quarto ano (antiga terceira série). Um fator complicador, segundo
a opinião dos professores, é que a organização das turmas no BIA se dá por idade e não por
tempo cursado na alfabetização. Assim, alunos que nunca estudaram são matriculados nos
terceiros anos-BIA – Etapa III para iniciar o processo de alfabetização juntamente com outros
que ingressaram na Etapa I – 6 anos, tendo desenvolvimento regular em seus processos de
alfabetização e letramentos. Na Etapa III também se inserem todos os estudantes que
apresentam defasagem idade-série e, quase sempre, defasagem de conteúdos trazida das
Etapas I e II. É comum a Etapa III ser considerada pelos professores alfabetizadores o ano do
“estrangulamento” na escolaridade dos estudantes matriculados no Bloco.
A retenção e/ou permanência do estudante no Bloco na Etapa III torna evidente que
não será possível promovê-lo sem que as habilidades e as competências próprias para a
alfabetização e os letramentos do terceiro ano estejam completadas. Essa condição tem sido
foco de atenção e preocupação para toda a equipe pedagógica. Equipe gestora, coordenadores
e professores dos terceiros anos têm a preocupação de que os professores das Etapas I e II não
permitam que se acumulem defasagens de conteúdos, habilidades e competências no processo
de alfabetização nesses anos iniciais. Essa preocupação tem movido o coletivo de educadores
no sentido de que o planejamento das estratégias pedagógicas seja feito de forma coletiva e
155
que os resultados avaliativos sejam partilhados com todo o grupo. Por essa razão, o
reagrupamento interclasse e as estratégias interventivas já estão ocorrendo de forma conjunta
com segundos e terceiros anos-BIA. Pretende-se contemplar, de forma gradativa, a
efetividade da implementação das estratégias pedagógicas e das diretrizes metodológicas do
Bloco nas Etapas I, II e III, ou seja, trabalhar as necessidades e as dificuldades de
aprendizagem surgidas nas Etapas I – 6 anos e II – 7 anos para que estas não se acumulem na
Etapa III – 8 anos do Bloco.
Os reagrupamentos têm sido a estratégia fundamental para diminuir o número de
estudantes em situação de queixa escolar, pois a diversidade de reagrupamentos comporta o
atendimento de todos os estudantes matriculados nos segundos e nos terceiros anos,
permitindo o avanço contínuo das aprendizagens. Os reagrupamentos evitam ainda que os
alunos mais defasados (como os pré-silábicos e os silábicos) se sintam estigmatizados em
suas dificuldades se, por algum motivo, não estiverem acompanhando o ritmo das aulas.
Existe a preocupação de que os estudantes participantes dos reagrupamentos
interclasse (compostos de grupos pré-silábicos e silábicos), ao retornarem à sua sala de aula,
vivenciem todas as situações de aprendizagem (curriculares, projetos, linguagens, etc.)
juntamente com seus colegas. Para tanto, o professor aplica adequações curriculares
(respeitando os desempenhos e os perfis individuais de aprendizagem) com base no
reagrupamento intraclasse. Assim, o estudante pode participar do mesmo conteúdo trabalhado
de forma interdisciplinar em sala de aula com os demais colegas sem se perder o foco e as
diretrizes curriculares para os terceiros anos-BIA (Quadro 10).
Além de os estudantes com dificuldades de aprendizagem serem contemplados por
intervenções ocorridas nos reagrupamentos intraclasse e interclasse, eles contam com reforço
escolar (em grupo ou individual) no contraturno. Também participam de atividades lúdico-
recreativas e intervenção pedagógica propiciadas pela Educação Integral.
Vários pesquisadores identificaram as causas da queixa escolar: Barbosa e Silvares
(1994) destacou o mau desempenho (19,8%); distúrbio do desenvolvimento de habilidades
escolares (88%) foi proeminente para Bernardes-da-Rosa (2000). Esses autores também
denunciaram que a má alfabetização produzida nas séries iniciais concorre para o aumento
dos atendimentos em clínicas especializadas. As pesquisas de Almeida et al. (1995) no
Distrito Federal enfatizaram aspectos cognitivos como fator gerador da queixa nas escolas
(22,22%).
A questão prática de nivelar estudantes por meio de aferição de notas (conteúdos)
podem definir padrões de aprendizagem divididos em dois perfis: os capazes e os incapazes.
156
Sem que se avaliem os procedimentos, técnicas e métodos de ensino que, muitas vezes falhos
ou equivocados, sustentam e produzem dificuldades nos estudantes na apreensão dos
conteúdos ensinados, sobretudo nos anos iniciais de alfabetização.
Notadamente, é fácil se verificar falta de valor genuinamente formativo nessas ações,
sobrepondo, ainda, aspectos de poder/controle dos professores sobre os estudantes. Inclusive,
do poder de encaminhá-los para instâncias institucionais de saúde, fora do âmbito da escola e
das aprendizagens, a exemplo de clínicas especializadas em diagnóstico. Com o intuito, às
vezes equivocados, de que resolvam questões relativas a “falhas” de mediação didático-
pedagógicas, de estruturação de conceitos na alfabetização e letramentos, supondo que essas
falhas sejam resolvidas por meio de atendimentos psicológicos.
O atendimento às necessidades de aprendizagem dos alunos nos primeiros anos BIA,
com singular realce nos aspectos avaliativos interventivos, revela que a Escola Desafios do
Aprender vem apresentando uma proposta pedagógica de enfrentamento às queixas escolares
e aos índices apontados pelos pesquisadores supracitados. Mesmo assim, a condução do
suporte institucional para a avaliação formativa ainda precisa de ajustes. Visto que, embora a
realidade da escola aponte avanços em suas práticas pedagógicas e quanto ao atendimento das
necessidades de aprendizagem dos estudantes, o maior peso da avaliação recai sobre o
estudante. Ele, ainda, é visto com sujeito de “falta”. Durante a observação participante, foram
escassas as evidências de participação do estudante em seu processo avaliativo. É possível
que as atividades desenvolvidas pelo estudante atendam aos princípios de construção,
reflexão, criatividade, parceria, autoavaliação e autonomia (VILLAS BOAS, 2004).
Os professores e os coordenadores costumam discutir entre si os avanços dos alunos
nos reagrupamentos, denotando certo entusiasmo. As dificuldades e os avanços individuais
nos reagrupamentos, no projeto interventivo e no reforço escolar são relatados no Registro
Descritivo Individual, produzido ao final de cada semestre. Alguns professores ainda
encontram dificuldades em usar o Formulário de Registro Descritivo do Ensino Fundamental-
séries iniciais da SEDF, visto que este foi alterado pela Secretaria de 2010 para 2011 (Anexo
H ). Os professores queixam-se, também, de carência de capacitação/formação continuada
envolvendo os temas avaliação e aplicação de metodologias para o ensino da matemática e da
língua.
Nos planejamentos, as preocupações estão mais voltadas para os procedimentos de
ensino e as estratégias pedagógicas (currículo, número de acertos, erros nas avaliações, uso de
materiais concretos na abordagem do currículo, entre outros) do que para as deficiências de
aprendizagem dos estudantes.
157
de horas, no número de estudantes por grupo e por nível de dificuldades e nos conteúdos
trabalhados no reforço escolar.
As várias constatações vivenciadas e colhidas por meio da observação participante
permitem inferir que as diretrizes metodológicas do BIA, uma vez implementadas,
modificaram a produção da queixa escolar na Escola Desafios do Aprender, visto que o
estudante já não é mais encaminhado automaticamente, de forma apressada e deliberada, para
serviços médicos psicológicos quando em situação de dificuldade e fracasso no processo de
aprendizagem.
Comparativamente, na experiência do trabalho pedagógico da seriação o professor
encaminhava os estudantes para diagnóstico a priori, ignorando ou desresponsabilizando-se
de questões pedagógicas que poderiam estar causando as dificuldades de aprendizagem
apresentadas (ASSIS, 1999; 2003).
As observações nos planejamentos revelaram que as estratégias pedagógicas
(reagrupamentos, aulas de reforço, planejamentos, avaliações, acompanhamento de tarefas e
preparação de conteúdos e materiais didático-pedagógicos) estão em maior evidência do que
queixas dos professores de dificuldades aprendizagem dos estudantes .
O envolvimento dos docentes é denotado no trabalho, nas práticas e em toda a
movimentação no interior da escola. No entanto, os professores reclamam do excesso de
alunos nos reagrupamentos interclasse, o que, segundo eles, prejudica a qualidade da
intervenção. Alguns professores revelaram discordar da interface Projeto
Interventivo/Educação Integral, pois entendem que os professores regentes de sala dos
terceiros anos conhecem melhor as dificuldades apresentadas por cada um dos estudantes do
que monitores e/ou outros professores implicados nessa estratégia pedagógica. O
detalhamento dessa estratégia pedagógica, coordenações-planejamentos, reforço escolar é
mostrado a seguir a fim de melhor descrição dessas ações pedagógicas e suas relações com a
produção da queixa escolar.
a) As coordenações
159
As coordenações coletivas de todo o BIA (Etapas I, II e III), grupais (por ano do BIA)
e individuais (com o professor por ano/etapa), ocorrem, em sua maioria, na sala de
professores e duram, em média, três horas cada uma delas. As coordenações coletivas58
(planejamento coletivo) ocorrem às quartas-feiras e costuma ter como pauta a avaliação das
estratégias, dos projetos, das rotinas pedagógicas e do calendário de eventos.
Nas coordenações pedagógicas observadas estiveram presentes a equipe gestora, os
coordenadores, o orientador educacional, o psicólogo e o pedagogo. Nessas reuniões também
foram discutidos os conteúdos curriculares do primeiro ao quinto ano e como esses
conteúdos/estratégias seriam desdobrados nas reuniões por ano/etapa BIA e nos
reagrupamentos e estratégias interventivas.
A depender do andamento dos projetos e do cronograma de atividades da escola, as
quartas-feiras dirigidas ao planejamento coletivo podem sofrer alterações, tendo em vista sua
utilização para eventuais estudos, cursos, palestras e elaboração coletiva de materiais
didáticos ocorridos na Dreso ou na SEDF. Contudo, durante as observações da pesquisadora
não aconteceu nenhum evento pedagógico promovido pelo CRA ou pela Dreso vinculado à
formação continuada. Os estudos pedagógicos dos professores que foram registrados
ocorreram na própria escola, assistidos apenas pela coordenadora do Bloco, pela EEAA e pelo
orientador educacional.
As coordenações por ano/etapa BIA (planejamento Etapas I, II e III) ocorrem às
segundas, quintas e sextas-feiras e têm a duração de três horas, sendo duas horas destinadas à
discussão, avaliação e elaboração de estratégias pedagógicas e uma hora à preparação de
material didático. Esses horários também são utilizados de forma alternada para os
professores trabalharem com os estudantes no Projeto Interventivo e no reforço escolar aos
estudantes com dificuldades de aprendizagem.
As coordenações individuais do professor (planejamento individual) ocorrem às
segundas, terças e sextas-feiras. Elas também são utilizadas de forma alternada para os
professores trabalharem com os estudantes no Projeto Interventivo e no reforço escolar aos
estudantes com dificuldades de aprendizagem. Nessas ocasiões, a coordenação busca discutir
com cada professor as linhas gerais do planejamento produzido nas coordenações coletivas
com o intuito de subsidiá-lo em suas demandas pessoais/individuais de trabalho. Houve
58
No Distrito Federal, a Portaria n. 27, de 1º de fevereiro de 2008, determinou que os professores que trabalham
quarenta horas por semana contam com o período de regência de cinco horas diárias (total de 25 horas semanais)
e três horas diárias para a coordenação pedagógica (num total de 15 horas semanais). Dessas 15 horas, a quarta-
feira ficou destinada à coordenação coletiva, e as demais horas devem ser distribuídas para demais necessidades
e atividades pedagógicas.
160
b) O reforço escolar
c) O Projeto Interventivo
medida em que estes são mais necessitados de ações pedagógicas interventivas grupais, em
pares e/ou individuais.
O avanço ou o retrocesso dos alunos em seus perfis determinam seu remanejamento
nos reagrupamentos a cada avaliação da psicogênese, que ocorre bimestralmente (Quadro 9
Cronograma de Avaliações Pedagógicas.). Nessa avaliação são construídos gráficos de
desempenho e de acompanhamento para aferir os avanços dos estudantes e promover novos
reagrupamentos, ou seja, remanejá-los para grupos mais avançados ou mantê-los no mesmo
grupo se não houver progressos nas habilidades de alfabetização e letramentos. O Quadro 19
ilustra a distribuição dos estudantes nos reagrupamentos.
REAGRUPAMENTOS
Pré-silábicos e Silábicos-alfabéticos Alfabéticos 1 Alfabéticos 2
silábicos Prof. 5 Prof. Luísa59 Prof. 3
Prof. 1 (Etapa II – 2º ano)
d) O conselho de classe
59
O nome da professora é fictício. Não é professor participante da pesquisa.
162
Mattos (2005) que denuncia, em sua pesquisa, que os professores nos conselhos de classe na
experiência dos ciclos no Rio de Janeiro avaliavam apenas o aluno, e não as interações
pedagógicas.
Destarte, avaliação da aprendizagem aponta, ainda, a necessidade de construir
coletivamente um modelo interativo e intersubjetivo dos processos avaliativos, desligado das
práticas avaliativas classificatórias, competitivas, individualistas e fundamentadas na
arbitrariedade (HOFFMANN, 2006). O termo usado pelo grupo de professores de “atacar as
habilidades faltantes do aluno” traz consigo intrínsecas representações sociais de que falta
algo, e se falta está ainda no aluno.
O conselho de classe é uma das poucas oportunidades em que é possível reunir os
docentes das diversas disciplinas de um mesmo ano, com o objetivo de analisar os processos
de ensino e de aprendizagem sob múltiplas perspectivas. Quando as discussões são bem
conduzidas, favorecem aspectos como a análise do currículo, da metodologia adotada e do
sistema de avaliação da instituição. Dessa forma, possibilitam aos professores uma
interessante experiência formativa, permitindo a reavaliação da prática didática.
Os registros no livro-ata dos atendimentos e dos diagnósticos apresentados pela
orientadora educacional referentes ao primeiro semestre de 2011 revelaram que a escola
conseguiu avaliações desejadas pela EEAA, embora não contasse com um pedagogo. A
orientadora educacional também forneceu dados relativos aos estudantes encaminhados e
diagnosticados nos anos de 2007, 2008, 2009 e 201060 (Quadro 20).
60
Os dados reunidos dos anos 2007 a 2010 visam a responder à indagação da pesquisa sobre se ocorreu redução
das queixas nas escolas na vigência do BIA implementado em todo o DF desde 2008. Nesse sentido, não foram
elencados os atendimentos de 2011.
164
– Então eu simplesmente entrei dentro do... processo, adquirindo esse conhecimento daqui, me adaptando às
formas de educação daqui, vendo tudo novo, né? A realidade é bem diferente. Eu percebo que mais dificulta [...]
por ser na EAPE em horários, por exemplo, que a gente está na regência... E aí, aperta a gente, né?... porque
são cursos longos... é... São ótimos os cursos! [...]Não pude! Por causa do meu horário, e ir lá na EAPE, né?
Então, assim, é... mais isso! De que poderiam esses cursos ser direcionados pra cada cidade satélite, pra
facilitar! Esses cursos são muito bons! A gente quer... Nós queremos fazer! Só que, longe, pegar esse trânsito de
Brasília, e aí vai lá... É o que... a única coisa, assim, que eu me lembro! (prof. 1).
– Olha! Na teoria, eu até acho que ele está mais ou menos claro. Mas quando se trata... quando se trata de
prática, aí ele não está muito claro não! Quando chega pra você trabalhar é diferente! a gente tem que sair
descobrindo como é que a gente vai fazer isso! Né? Não nos preparou para a intervenção (prof. 4).
– Na verdade a gente faz aquilo que... A gente acredita que vai dar certo. Baseado na experiência da gente
(prof. 6).
– A gente procura orientação com as pedagogas, com a orientadora educacional, que está sempre dando apoio;
a gente consegue também da sala de recurso; da psicóloga, que também está sempre ajudando (prof. 3).
– Questão de estudo. Nós... Nossa escola também está pautada nisso! [...] mas, assim, também, nas quartas-
feiras, é o nosso dia de... pra estudo, né?... com temas previamente definidos... Então, assim, a proposta do BIA
tem... tem também estudos previstos pra isso. Inclusive, até do... currículo, também, pra estar estudando, mas,
assim, a nossa escola tem... tem um entendimento, assim, em relação a outras escolas, eu acredito que a gente
até avançou... (prof. 7).
61
A atuação das Equipes Especializadas de Apoio á Aprendizagem – EEAA, segundo as orientações
metodológicas que pautam esse serviço, baseia-se em três dimensões concomitantes e contextualizadas:
mapeamento institucional das instituições educacionais; assessoria ao trabalho coletivo da equipe escolar; e
acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem dos estudantes por meio da ressignificação das práticas
educacionais e de intervenções específicas nas situações de queixas escolares (DISTRITO FEDERAL, 2010).
167
– Aqui eu achei mais interessante. Foi separada as turmas né? conforme o teste da psicogênese, em silábico,
pré-silábicos, silábico-alfabético e alfabético. E aí foi dividido os estudantes e cada professor né? na quarta-
feira, os estudantes já sabem que tem essa rotina, vão direto pras salas! Já sabem. Então é criada uma rotina.
Os estudantes já sabem qual é a sala que eles têm que ir, sabem, têm consciência da sua dificuldade, que podem
melhorar né? (prof. , grifo nosso).
– Eu entendo que é pegar aqueles estudantes que já estão reagrupados na turma, reagrupar de... usando outros
critérios, né? que seria como a gente faz aqui, de acordo com as dificuldades que apresentam, ou, às vezes, até
com avanço que eles já mostram (prof. 2, grifo nosso).
62
Essas análises estão complementadas nas análises dessa mesma categoria 1, quando se trata das dificuldades e
das implicações dos professores no Bloco; contudo as análises das três categorias em conjunto também dão
margem a essa afirmativa.
168
– Entendo por reagrupamento assim: por níveis. Por exemplo: as dificuldades das crianças. Vai reagrupar a
cada... juntar a cada criança com as mesmas dificuldades, tipo... fazendo grupos, né? vai trabalhar é...
estratégias que possam sanar as dificuldades (prof. 3, grifo nosso).
Os grifos nas falas acima serve para ressaltar a visão prospectiva de sucesso que se
estabeleceu dos professores sobre os estudantes em relação as situações e as necessidades de
aprendizagem apresentadas por eles. O reagrupamento já é, necessariamente, para esses
professores uma situação interventiva, porque particulariza os perfis de estudantes com
necessidades de aprendizagem.
A própria divisão desses estudantes em grupos de pré-silábicos, silábicos, silábicos-
alfabéticos e alfabéticos é referência de intervenção, uma vez que favorece a implantação e a
perspectiva de olhares múltiplos e transversais sobre a trajetória de cada um dos alunos
(DELISLE; BRISEBOIS; LAFORTUNE apud PERRENOUD, 2004). Assim, na visão desses
professores, o reagrupamento significa a priori ação pedagógica voltada à expectativa de
melhora, avanço e possibilidades de sanar as dificuldades de aprendizagem identificadas nos
estudantes.
A estratégia pedagógica para a definição dos reagrupamentos está apoiada na
avaliação concebida como função de diagnóstico desses estudantes. São definidas na
organização desses reagrupamentos rotinas de trabalho, sequências didáticas, atividades
permanentes (Projeto Interventivo, aulas de reforço, entre outros). Essas definições servem a
todos os professores. Nos planejamentos coletivos são definidas as estratégias e a abordagem
interdisciplinar de conteúdos adequados para cada nível de aprendizagem dos estudantes
inclusos nos reagrupamentos (Quadro 10). A professora 1 informa como essas ações
pedagógicas estão imbricadas ao planejamento:
– Aí, no caso eu acho interessante a forma de planejar aqui da escola, que todos nós, né? Esses professores,
sentam com a coordenadora. e planejam, e esse planejamento é dado pra gente já impresso, né? Nós
trabalhamos o mesmo assunto, só que cada um adequado à sua necessidade. Eu acho isso legal! A gente tem
apoio. Uma coisa que é ... que não percebi nas outras escolas. Que. aqui tem toda uma organização (prof. 1).
63
A palavra rodízio é o termo utilizado pelos professores para explicar que todos eles dos terceiros anos BIA se
movimentam nos reagrupamentos no intuito de intervir e acompanhar o andamento das aprendizagens dos
estudantes nesses grupos.
169
– O reagrupamento, ele tem essa proposta de... de colocar as crianças dentro... dentro dos níveis de
aprendizagem. Né?!Por isso que a gente faz uma avaliação pra saber como é que... como é que está aquela
turma de cada professor. Aí, a gente detecta que dentro da turma tem vários níveis de aprendizagem. Eles vão
ser colocados em uma turma que o professor vai trabalhar só com os alfabéticos ou que a criança demonstre
que ela está no limiar, na passagem para o alfabético. E, às vezes, uma... uma intervenção com um trabalho
diferenciado faz com que a criança avance, né? O intraclasse, né?! Então, esse... esse... esse... reagrupamento,
ele proporciona essa... esse trabalho... é... direcionado para aquele nível de aprendizagem (prof. 5).
– E facilita o trabalho do professor e facilita o trabalho, também, da criança, né? Porque a criança, nesse
momento... é... você percebe que ela se sente confortável com... Por quê? “Ah! Eu estou nesse momento...” Né?
“Eu estou com um nível que eu percebo, que eu entendo que eu posso ajudar, que eu posso participar mais.”
Né? E quando a criança volta pra sua turma... é... regular, ela já volta com uma bagagem pra ajudar os outros,
que é isso que é bacana, né? A criança até se torna um... um... um... um monitor do... do... do outro, né? Ele
ajuda! Ele se sente valorizado, né?! Então, a criança trabalha na... na turma regular com mais prazer, né?...
com mais satisfação (prof. 5).
64
O Quadro 10 – Planejamento: reagrupamentos, plano de ensino e estratégias pedagógicas – esclarece a
organização, os perfis e os números de estudantes nos reagrupamentos.
65
A palavra regular foi usada em referência à sala de aula (terceiros anos) na qual o estudante está originalmente
matriculado. Nos terceiros anos da escola constam as turmas A, B, C, D, E e F. Mas nos reagrupamentos
interclasses essa referência é desconstruída, tornando-se reagupamentos dos pré-silábicos e silábicos, silábico-
alfabéticos, alfabéticos 1 e alfabéticos 2, para que ocorram as respectivas intervenções nesses grupos.
170
– Neste ano eu não estou vendo muito resultado com o reagrupamento. Eu não estou vendo justamente por
causa do excesso de estudantes nas turmas! (prof. 3).
– O projeto é interessante, a forma de trabalhar... é... não é fácil! Né? é um desafio, é preciso bastante
comprometimento (prof. 1).
– É porque, assim, mistura um pouco, né?... com o reagrupamento... Eles66... Acaba ficando meio misturado!
Então, assim, dentro do contexto do reagrupamento e dos projetos que são realizados, né?... (prof. 1).
– Eu conheço projeto interventivo como... é... um projeto onde a escola, no geral, ela vai verificar em todas as
turmas – do BIA, no caso – que alunos que apresentam muita dificuldade, que estão fora da faixa etária; ele
funciona assim! E funciona também interno, né?! Dentro da própria sala de aula, com atividades diferenciadas,
montando grupos separados, né?!.Eu já tenho na minha sala separado um grupo pré-silábico e silábico,
silábico alfabético e os alfabéticos (prof. 2).
– Tem a ver com reagrupamento, planejamento entendeu? A gente faz um... um... um planejamento... É... De
grupos, né? (prof. 5).
– A gente faz um... um... um planejamento... É... De grupos, né?! A gente planeja...Todas as informações que nós
temos, avaliativas, né?!... nós juntamos todas essas avaliações e partimos pra planejar as ações! Aquilo que nós
vamos fazer para o aluno, né?!Aquilo que a gente pode melhorar dentro da sala de aula e fora da sala de aula
também, né?! Então, parte tudo desse princípio: do planejamento coletivo de cada grupo, né?E a partir do
momento que a gente planeja, a gente parte pra ação pra ver quais são as estratégias que estão dando certo.Tá
dando certo? Então, vamos continuar!” Ou: “Qual o ponto que não está dando certo?” A gente modifica (prof.
5).
66
O professor está se referindo ao Reagrupamento e ao Projeto Interventivo.
171
– Coletivamente... É feito coletivamente, todos os professores sentados juntos, a mesma atividade desenvolvida
nas três... na... na... nos quatro grupos, só aumentando o nível de dificuldade (prof. 6).
– É diferente do reforço! É diferente, porque você... o projeto interventivo você tem um número maior de
crianças. E o reforço, não! Você tem um número bem reduzido de crianças, que são aqueles problemas mais...
mais acentuados, os problemas mais... mais... Eu não queria usar esse termo!... mais grave, né? (prof. 5).
– Uma crítica que eu faço também, que eu acho muito... é... muito... muito... muito parecidas... As ações, eu acho
muito parecidas! Você está entendendo? Entre reagrupamento... Eu acho muito parecida! Até agora! Eu não
consigo perceber muita diferença, porque o resultado final é intervir na... naquela criança que não está
conseguindo desenvolver. Então, por exemplo, aqui na escola... Como é que eles usam o projeto... Como é que
eles fazem o projeto interventivo? É no horário... é... extraclasse, e é, por exemplo, matutino e vespertino. Quem
é que desenvolve o projeto interventivo, por exemplo? Não sou eu, aqui na escola... Tem outras escolas que
quem desenvolve é o professor de classe (prof. 6).
– Eu, assim, aqui na escola, eu não percebo o projeto interventivo acontecendo, porque a... o projeto
interventivo, o que eu vi, era assim: que você pega aqueles alunos do terceiro ano, principalmente os alunos do
terceiro ano, que estão com muita defasagem, e aí todo... as pessoas envolvidas, que são, no caso, Direção,
todo... a... toda a Direção, junto com os professores, vão tentar... é... organizar, planejar uma aula bem efetiva,
no caso, com os alunos do projeto interventivo. Mesmo você estando dentro de sala de aula, o professor dentro
de sala de aula, pode vir retirar os alunos da sua sala pra estar trabalhando com aqueles alunos com muita
dificuldade, com defasagem muito grande (prof. 4).
– Ele funciona assim... E funciona também interno, né? Dentro da própria sala de aula, com atividades
diferenciadas, montando grupos separados, né?!.Eu já tenho na minha sala separado um grupo pré-silábico e
silábico, silábico-alfabético e os alfabéticos. A gente coordena o projeto! A gente coordena, a gente faz os
apanhados do que vai trabalhar, até porque precisa ter... ser bem planejado, porque tem que passar no diário e
nós temos que colocar até o número dos alunos da chamada aqui, de outros professores, que a gente recebe
(prof. 3, grifo nosso).
– Todas as informações que nós temos, avaliativas, né?... nós juntamos todas essas avaliações e partimos pra
planejar as ações... Aquilo que nós vamos fazer para o aluno, né? Aquilo que a gente pode melhorar dentro da
sala de aula e fora da sala de aula também, né? Então, parte tudo desse princípio: do planejamento coletivo de
cada grupo, né? E a partir do momento que a gente planeja, a gente parte pra ação pra ver quais são as
estratégias que estão dando certo.Tá dando certo? Então, vamos continuar!” Ou: “Qual o ponto que não está
dando certo?” A gente modifica. A gente readapta. (prof. 5,grifo nosso).
– E inclui tudo. Nesse projeto interventivo... é... desde a... a aula de reforço... né?... à escola... à Educação
Integral, né? Tudo tem uma ação do projeto interventivo, que é... que é pra agir mesmo, pra... é...
Várias dimensões, pra melhorar a aprendizagem, né?... a afetividade, relacionamento da criança, em todas as
áreas! Eu... Eu percebo que está funcionando aqui na escola, né? (prof. 5, grifo nosso).
67
Esses dados encontram-se especificados no Anexo G, no qual constam todas as rotinas, horários e
programações da Educação Integral/Projeto Interventivo.
173
– Muito planejamento. Rotinas. É bem trabalhoso! Há essa rotatividade! Um dia ele está com... com... essa
intervenção pedagógica, um dia ele está na sala de informática, outro dia ele está no basquete... Então, há essa
variedade de... de... de atividades, né? Há também educação matemática, né? Ele vem, vai com um grupo de
monitores, eles vão, fazem aula de basquete, retornam pra escola; quando eles retornam pra escola eles têm um
almoço, aí eles almoçam, descansam um pouquinho e vão pra sala de aula. Tem dia que é basquete, tem dia que
é intervenção pedagógica, né?... que seria um reforço. No dia do reforço as crianças são reagrupadas por
níveis, né?... de alfabetização também, e os outros professores do turno contrário se comprometem, alguns
professores vêm, né?... já tem a escala de quem... quem está destinado aquele dia, planeja... nós planejamos
juntos e fazemos as intervenções pedagógicas com essas... com esses grupinhos. Um grupinho fica aqui na sala
de reforço, um grupinho no refeitório, um na sala de vídeo e também na sala de informática. Então, assim, é
essa a rotatividade, enquanto uns estão com atividades pedagógicas, tem as crianças que estão com... com... a
questão da alfabetização matemática... (prof. 7).
– Tem o. processo avaliativo diário, né? contínuo, que a gente está analisando o dia a dia. A gente faz o
diagnóstico. A cada mês a gente faz o diagnóstico da psicogênese; também a escola avalia. A escola, a
direção... chamada de Saiec, só que eles avaliam o português e a matemática; e, no caso do professor em sala
de aula, ele avalia todos os aspectos de crescimento do aluno, não só a escrita, não só o raciocínio matemático,
avalia o comportamento, o relacionamento com colegas... o comportamento deles em atividades diversas, né?
Artes, linguagem, no geral (prof. 2).
Verificou-se ainda nas falas dos professores que a efetividade desse princípio pode ser
encontrada nas descrições das práticas cotidianas. Destaca-se a notável presença de “rotinas
de trabalho pedagógico” focadas em aspectos interventivos:
– São avaliados através de instrumentos de.. de instrumentos como a Prova Brasil, a provinha né?Nós temos as
provas que elaboramos aqui da escola, pra gente avaliar o nível que essas crianças estão; detectar também
alguma dificuldade pra gente entrar com uma ação interventiva, né? pra que essa criança supere as
dificuldades naqueles pontos que elas apresentam, né? as maiores dificuldades (prof. 5).
– Tem a avaliação que a escola faz... avaliação de tudo, de todo o BIA. Um balanço, tudo direitinho, e mostra
pra gente. A partir dos resultados faz a programação, o professor analisa né? nós todos, aonde é que está
aquela dificuldade, aonde é que ele pode estar tentando sanar (prof. 4).
– A avaliação é no cotidiano né? todos os dias, você ... você todos os dias você faz esse acompanhamento, né?
Essa observação é diária. Além disso, a gente faz um registro das produções de texto ... das dificuldades. Eu
faço registro individual de cada criança: quais são as dificuldades que ela tem, o que eu preciso trabalhar, o
que eu preciso reforçar, entendeu? (prof. 6).
– Nós fizemos... Cada professor avalia sua turminha de novo, né? Eu sentei com a... com a avaliação que nós
temos e reagrupamos as crianças. Aí, o que acontece que nós percebemos? Os pré-silábicos e os silábicos
avançaram, o que nos permitiu... diminuiu o número de crianças pré-silábicas e silábicas, que deu pra gente
fazer a junção, aqui, de pré-silábico com silábico e ficou uma turma de 23 crianças
(prof. 7).
– É uma rotina. Essa rotina está no planejamento pedagógico (prof. 1).
– A gente planeja... Todas as informações que nós temos, avaliativas, né?... nós juntamos todas essas avaliações
e partimos pra planejar as ações! Aquilo que nós vamos fazer pro aluno, né? Aquilo que a gente pode melhorar
dentro da sala de aula e fora da sala de aula também, né? Então, parte tudo desse princípio: do planejamento
coletivo de cada grupo, né? E a partir do momento que a gente planeja, a gente parte pra ação pra ver quais
são as estratégias que estão dando certo.
“Tá dando certo? Então, vamos continuar!” Ou: “Qual o ponto que não está dando certo?” A gente modifica. A
gente readapta alguma...Eu sinto! Eu sinto porque... o nosso grupo... Olha! São... São os professores... a... os
coordenadores, né?... a Direção... A equipe diagnóstica, que é uma equipe muito participativa, que nos dá um
apoio muito importante, né?... nos orientando, porque são profissionais que nos ajudam muito, né?... orientando
naquilo que a gente poderia melhorar, naquilo que a gente pode fazer, naquilo que a gente pode modificar,
né?... pra... pra atender melhor esses... esses alunos, tá?... do... do projeto interventivo. Né? E inclui tudo. Nesse
projeto interventivo... é... desde a... a aula de reforço... né?... à escola... à Educação Integral, né? Tudo tem uma
ação do projeto interventivo, que é... que é pra agir mesmo, pra... é...Várias dimensões, pra melhorar a
aprendizagem, né?... a afetividade, relacionamento da criança, em todas as áreas... Eu... Eu percebo que está
funcionando aqui na escola, né? (prof. 5).
– Porque na seriação... O que acontecia na seriação? Ele tinha problema de aprendizagem, ele ficava retido e
ia... Retido. Retido. Retido. E no BIA tem esse olhar mais individualizado. Né? Esse olhar mais sensível à
criança, né? “Por que você não aprendeu?” “O que eu preciso fazer? Que estratégias...? Que estratégias o
grupo de professores precisa...?” E esses... Esses... Essas coisas que nós fazemos aqui: rodízio... as propostas...
a proposta do BIA ampara melhor a criança, né?... do que na seriação. Na seriação ele não tinha esse suporte.
Né? No máximo era um reforço! (prof. 7).
– É avaliado o teste da psicogênese no início do ano, né? tanto pelo professor quanto pela escola.
A equipe gestora elabora o Saiec. Eles aplicavam. Agora não, a gente troca de sala e também nossas atividades
individuais que a gente elabora de acordo com... com os conteúdos que a gente trabalha; serve também para
gente avaliar nosso ensino porque tudo tem a ver com tudo, né? E também avaliam pela participação da criança
em sala de aula...até na parte motora, nas nossas atividades fora da sala de aula... o lado emocional. Diferença
de timidez com problemas internos, eu avalio no geral, num todo, a criança (prof. 3).
– Além disso, eu aplico uma provinha. Até porque o pai cobra muito. Uma avaliaçãozinha de português e uma
avaliaçãozinha de matemática, né? É bem interdisciplinar, pra mostrar pro pai quais são os avanços que o filho
dele está tendo ou não, entendeu? (prof. 6).
– Aqui! Tem que ser descrito tudo! Leitura compartilhada, a rotina, todo BIA, calendário, alfabeto, explorar a
história... Então, assim, é feito minuciosamente cada detalhe pra tentar melhorar, pra tentar intervir nessa
turminha que não tá avançando bem. Então, assim, a gente percebe que o silábico pelo silábico não tem efeito!
Não tem! Tanto que nós evidenciamos nos gráficos que as crianças não avançaram, né? E já a turminha que eu
estou... que eu tinha, 17 pré-silábicos, e eu estou com todos silábicos... (prof. 7).
– A avaliação é no cotidiano né? todos os dias, você ... você todos os dias você faz esse acompanhamento, né?
Essa observação é diária, Além disso, a gente faz um registro das produções de texto ... das dificuldades. Eu
faço registro individual de cada criança: quais são as dificuldades que ela tem, o que eu preciso trabalhar, o
que eu preciso reforçar, entendeu?) (prof. 5).
– É feito normalmente. É feito na sala de aula no dia a dia. Sempre com atividades que são propostas ali dentro.
Dá para você fazer uma avaliação no seu aluno de acordo com as atividades, de acordo com o que ele responde
pras suas atividades [...] A partir dos resultados faz a programação, o professor analisa né? aonde é que está
aquela dificuldade, aonde é que ele pode estar tentando sanar, fazer... trabalhar com aula de reforço (prof. 4).
– No final do bimestre, feito um... um relatório – aquele bendito relatório que todo mundo conhece – das
dificuldades de cada criança e pra poder você fazer as intervenções... intervenções, né? para corrigi-las (prof.
6).
177
Diagnóstico
Intervenção Registro
Análise
– E também nossas atividades individuais que a gente elabora de acordo com... com os conteúdos que a gente
trabalha; e também avaliam pela participação da criança em sala de aula... até na parte motora, nas nossas
atividades fora da sala de aula... o lado emocional. Diferença de timidez com problemas internos, eu avalio no
geral, num todo, a criança (prof. 3).
– São avaliados através de instrumentos de.. de instrumentos como a Prova Brasil, a provinha né?
Nós temos as provas68 que elaboramos aqui da escola, pra gente avaliar um nível que essas crianças estão;
detectar também alguma dificuldade pra gente entrar com uma ação interventiva, né? pra que essa criança
supere as dificuldades naqueles pontos que elas apresentam, né? as maiores dificuldades.
A gente trabalha também com essa perspectiva da... do avanço da criança, ela percebe que tem um potencial,
que tem capacidade de avançar (prof. 5).
68
O professor refere-se ao teste bimestral da psicogênese como instrumento avaliativo utilizado pela escola
(Quadro 9).
178
– A avaliação interna dos alunos [...] como eles foram recebidos. Essa avaliação é realizada pela equipe é o
Saiec. As atividades avaliativas são elaboradas em cima da Provinha Brasil, bem interpretativa (prof. 1).
– Também a escola avalia. A escola, a direção... chamada de Saiec, só que eles avaliam o português e a
matemática; a equipe gestora elabora o Saiec. Eles aplicavam. Agora não, a gente troca de sala (prof. 2).
– A escola também faz o teste da psicogênese pra eles saberem que estratégias podem usar, auxiliar a gente
também, entendeu?Tem a avaliação que a escola faz... avaliação de todo o BIA; a direção, normalmente, tenta
mudar na questão do planejamento, e eles trazem para gente algumas... mostram... na verdade, mostram para
gente aonde é que está a dificuldade né? (prof. 4).
– Eu percebo assim...é... que a gente aproveita um pouco de cada né? Eu já tive a oportunidade de conhecer o
método natural de alfabetização. Então eu pego algumas ideias e adapto conforme minha turma, conforme o
conhecimento, conforme a necessidade e conforme a realidade! E a questão também, por exemplo, do método
fônico, né? Então assim, eu vou pegando um pouquinho de cada e não vou mentir: o método tradicional, né?
(prof. 1).
– O que a gente perceber com mais... que o aluno teve mais facilidade, aí a gente continua. Ou então, eu gosto...
de usar a questão do som, né?... do fônico com o silábico (prof. 4).
Não tem metodologia específica, entendeu? Eu acho que cada criança você trabalha de um jeito (prof. 6).
– Olha! Aqui na escola, ele está bem... ele está bem misto. Assim! Geralmente elas usam o fono, né?...
trabalham muito com o som, né?... e tem uma turma que está trabalhando com o silábico [...] (prof. 7).
escola pública. Soares (1985, 1992, 1995) também ressalta que “essas confusões” de ordem
conceitual e de métodos contribuem para que os professores recorram às “velhas” práticas do
método tradicional, pautado na silabação. É o que, também, nos informam três dos
professores entrevistados:
– Então assim, eu vou pegando um pouquinho de cada e não vou mentir: o método tradicional, né? Então um
pouquinho de cada conforme a necessidade, porque até tem crianças que tem a facilidade pra aprender com
uma determinada forma, né? mais visual; o outro, mais auditivo; o outro, né? (prof. 1).
– Olha, quando chega no terceiro ano, a gente usa tudo que a gente pensa que vai funcionar. A gente usa
silábico! A gente vai pelo silábico, a gente vai pelo fônico, pelo sonzinho. A gente tenta todos os meios! (prof. 4).
– Milagre a gente não faz, mas a gente vai até o limite máximo que a gente pode dar. Então eu acredito muito no
professor, sabe? Aquele professor que tem interesse, que inventa alternativas. Ah!!! Porque a gente tem que ser
construtivista! Querida, não deu construtivista, vai... vai por outro método! Vai entendeu? O importante é que o
menino aprenda. Eu acredito nisso! (prof. 6).
–Aqui! Tem que ser descrito tudo! Leitura compartilhada, a rotina, todo BIA, calendário, alfabeto, explorar a
história... Então, assim, é feito minuciosamente, cada detalhe, pra tentar melhorar, pra tentar intervir nessa
turminha que não tá avançando bem. Então, assim, a gente percebe que o silábico pelo silábico não tem efeito!
Não tem! Tanto que nós evidenciamos nos gráficos que as crianças não avançaram, né? E já a turminha que eu
estou... que eu tinha, 17 pré-silábicos, e eu estou com todos silábicos (prof. 7).
– Tem a ver com reagrupamento, planejamento entendeu? A gente faz um... um... um planejamento... É... De
grupos, né? A gente planeja... Todas as informações que nós temos, avaliativas, né?!... nós juntamos todas essas
avaliações e partimos pra planejar as ações! Aquilo que nós vamos fazer para o aluno, né?
Aquilo que a gente pode melhorar dentro da sala de aula e fora da sala de aula também, né? Então, parte tudo
desse princípio: do planejamento coletivo de cada grupo, né? E a partir do momento que a gente planeja, a
gente parte pra ação pra ver quais são as estratégias que estão dando certo. “Tá dando certo? Então vamos
continuar!” Ou: “Qual o ponto que não está dando certo?” A gente modifica. A gente readapta alguma... Eu
sinto! Eu sinto porque... o nosso grupo... Olha! São... São os professores... os coordenadores, né?... a Direção...
(prof. 5).
– Então, assim: “Sílaba ca, co, cu. Vamos formar... “Não tem significado pra criança. Pra criança, né? A
professora estava trabalhando somente assim... é... justamente essa turma que não avançou, né?
– As práticas de leitura são percebidas na... na turma [...] porque as crianças avançaram, e essas práticas
inexistem na turma [...], né? Então, assim, a gente percebe que o silábico pelo silábico não tem efeito! Não tem!
(prof. 7).
181
– Olha, quando chega no terceiro ano, a gente usa tudo que a gente pensa que vai funcionar. A gente usa
silábico! A gente vai pelo silábico, a gente vai pelo fônico, pelo sonzinho. A gente tenta todos os meios!
Porque quando o aluno já chega no terceiro ano e ainda não está lendo, isso fica... dá angústia na gente, né? Aí
a gente tenta todos os métodos. O que a gente perceber que o aluno tiver mais facilidade, aí a gente continua
(prof. 4).
– De um modo geral eu procuro.. eu procuro valorizar esse... aluno como ser único e especial, entendeu? E...
partindo da vivência dele..A gente, na verdade... a gente... todo mundo quer ser construtivista, né? Todo mundo
quer ser.. quer achar que... que tem uma linha de... né? é o que for melhor pro meu aluno. Vygotsky é
importante? Todos eles para mim são importantes! Piaget, Emília Ferreiro... Então assim... a gente faz uma
salada de tudo e... né? E... trabalha. Mas, método? É o que ...o que o meu aluno... o que for melhor pro meu
aluno. Se for silábico, eu uso silábico! Tem gente que é... que é totalmente contra. Se for fônica, eu vou pelo
fonético. Eu conheço todos. Então faço uma salada e vou individualmente, aluno por aluno. O importante é a
qualidade da intervenção, se não funcionou, muda! (prof. 6, grifo nosso).
Nas maioria das falas dos participantes não foram encontradas referências diretas à
utilização das quatro práticas de alfabetização recomendadas pelas diretrizes metodológicas
do BIA. Essas diretrizes caracterizam-se por contribuições teóricas ampliadas e atualizadas,
devendo, obrigatoriamente, servir como metodologia de trabalho para o Bloco (DISTRITO
FEDERAL, 2010a).
O professor 5 foi o que mais se aproximou das quatro práticas de alfabetização
orientadas para o Bloco. Esse profissional indicou características que apontam que em suas
práticas de professor alfabetizador prevalece o método analítico:
– Esse mundo diversificado que a gente traz tudo que a gente puder pra criança... é participar e visualizar.. é
dentro desse contexto, seja .. é .. notícia de jornal, de revista, né? .. é tudo quanto é gênero eu trabalho! Então,
você está percebendo que eu estou reproduzindo o texto. Eu pego o todo e vou para as partes (prof. 5).
Esse mesmo professor 5 comentou que usa textos dos quais explora significados
gerais, e com base neles, por meio de argumentação com os estudantes, produz a segmentação
das palavras/análise das sílabas/letras. Dentre as quatro práticas69 orientadas para o Princípio
do Ensino da Língua, foi possível pontuar a utilização de três delas:
69
As quatro práticas orientadas para o Princípio da Língua no BIA são: prática de leitura e interpretação; prática
de produção textual; prática de análise linguística; prática da produção de atividades e sistematização do código.
182
– Você pode perceber que eu estou produzindo aqui, reproduzindo um texto, né? Eu vejo que isso produz nas
crianças um... prazer, de quando eu levo uma reprodução de um texto, do que ela ficar visualizando isso num
livro. Quando isso... está reproduzido com letras... é diferente, a criança está tendo acesso a letras diferentes,
está tendo acesso à informação.. né... diferente daquilo que ela... ela tem no livro, que às vezes é bem resumido
(prof. 5).
– É a partir do texto. A gente trabalha com muita leitura, produção textual. O aluno tem oportunidade de ouvir
a leitura pelo professor, eles também fazerem as leituras dos textos... É identificar os diferentes gêneros
textuais, comparar texto com texto. É fazer produção individual, coletiva, reestruturação do texto (prof. 2).
– A forma maior que eu trabalho é mais com a construção da criança: Alfabeto móvel, decodificação das
palavras, identificação de imagens – através da identificação de imagens, nós vamos construir... é... palavras,
pequenos textos... é... em cima, né? Eu trabalho muito com o tema! Agora nós vamos trabalhar folclore, o mês
de agosto todinho, tanto português como matemática, vai ser tudo em cima do tema folclore. Tudo! Produção de
texto, nosso projeto interventivo. Então, é... é uma mistura! Não tem uma...uma metodologia... (prof. 3).
70
Para maior compreensão do contexto que envolve os planejamentos e as práticas de ensino, consultar Quadro
10 – Planejamento, reagrupamentos, plano de ensino e estratégias pedagógicas.
183
de aprendizagem dos estudantes. Uma professora cita o uso do método tradicional (baseado
na silabação) durante as atividades de reforço escolar:
– Então, quando eu trago meu menino pro reforço à tarde! Eu não posso desenvolver a mesma atividade que eu
estou desenvolvendo na sala de aula, porque se ele não está tendo resultado na sala de aula é porque eu não
estou conseguindo atingi-lo. Então eu tenho que encontrar outras maneiras de atingi-lo. Nem que seja o
silábico. Tá entendendo? É assim que eu penso (prof. 6).
– Um dia ele está com... com... essa intervenção pedagógica, um dia ele está na sala de informática, outro dia
ele está no basquete... Então, há essa variedade de... de... de atividades, né? Há também educação matemática,
184
né?![...] Então, assim, é essa a rotatividade, enquanto uns estão com atividades pedagógicas, tem as crianças
que estão com... com... a questão da alfabetização matemática... (prof. 7).
– Um material que eles fizeram assim: é uma folha com os desenhos do objeto e aí eles passaram a caneta, por
exemplo, quantas letras precisa pra escrever o nome da palavra “machado”, todas as... as... quantidades...os
alunos trouxeram a sapateira ou a... e colocaram lá dentro, no caso, quem tem, né?!... uma fita métrica, uns
palitinhos, a...Tampinha, também a calculadora, quem tem, né?!... régua, e também foi feito um tapetinho que é
de dezena... pra trabalhar dezena, centena, unidade. Mas isso confeccionado pelo professor[...] (prof. 1).
Assim, a fala do professor denuncia que as estratégias orientadas71 pelo Bloco para o
ensino da matemática estão ocorrendo de forma deficitária nas práticas pedagógicas
instituídas pela escola, o que indica, mais uma vez a necessidade de formação continuada para
71
A orientação metodológica para esse princípio trazido para o BIA é a de Muniz (2001, apud, DISTRITO
FEDERAL, 2010a). Trata-se do desenho representacional da atividade matemática composto de cinco planos:
Plano de Ideias (intuição, percepção); Plano das Representações (concepções, formulações); Plano dos Registros
(manipulação material); Plano da Comunicação; e Plano da Argumentação (trocas, confrontações, validações).
185
– Ela chega nas escolas, uns entendem de um jeito, outros entendem de outro, aí aplica de um jeito. “Falta
recurso! Falta apoio! Falta isso! Falta aquilo!” Então, aplica da forma que acha que... que vai dar certo, né?!
Às vezes não é assim... Não é acertado. Nunca vem... Nunca é aplicado da maneira que foi pensada, que foi...
que a gente vê nos cursos... (prof. 2).
72
O Sistema de Avaliação de Desempenho das Instituições Educacionais do Sistema de Ensino do Distrito
Federal foi criado por meio do Decreto n. 29.244, de 2 de julho de 2008. É um instrumento permanente de
planejamento destinado a aferir as condições da oferta de ensino nas escolas públicas e privadas do DF, com o
intuito de garantir o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
186
necessitam ser sanadas. Esse cronograma de estudos não foi cumprido, na íntegra, pelas já
citadas dificuldades de acesso aos cursos ofertados pela EAPE e mediados pelo CRA da
Diretoria Regional de Sobradinho-Dreso.
Equívocos quanto ao entendimento da metodologia para o ensino da matemática
podem ser constatados na fala de um dos professores, haja vista que esse profissional nomeia
de “projeto” a caixinha de matemática (recurso material), supondo que a exploração física
desse material pelos alunos poderia subsidiar, per se, a construção de conceitos matemáticos
mais complexos. Falta aos profissionais pesquisados a construção de um projeto pedagógico
que possibilite a eles operar com os elementos didáticos estratégicos, como é proposto pelo
Bloco.
–Nós temos aqui na escola o projeto “Caixinha Matemática”, e aí a gente tem diversos materiais para estar
desenvolvendo a... as... os vários conceitos matemáticos (prof. 2).
–Na verdade, a gente faz aquilo que... a gente acredita que vai dar certo. Baseado na experiência da gente (prof.
6).
– Até falta de... de material [....]. É o lúdico. Então, aqui tem... tem jogos antigos, que está incompleto. Então,
precisa muito! O que mais a gente batalha aqui é material pra criança. Falta capacitação, falta... Essa mudança
de professores acarreta demais, demais dificuldades! E material disponível, porque não adianta ter o projeto e
sem giz e caderno. É o lúdico. Então, aqui tem... tem jogos antigos, que está incompleto. Então, precisa muito!
O que mais a gente batalha aqui é material pra criança (prof. 3).
– Deixou o professor que não é comprometido numa situação mais cômoda e mais tranquila. Além de tudo,
ainda recebe gratificação (prof. 1).
– O trabalho dos professores anteriores não é bom Não é que o... o professor... é... é contrato – não seja
professor formado – mas o comprometimento é diferente. Não é que ele não tenha base. É...comprometimento é
diferente porque não vai estar naquela instituição educacional no outro ano. “Eu vou... Eu vou reter! Eu vou
aprovar pro ano que vem! Eu vou aprovar sem saber, porque no ano que vem eu não vou estar aqui mesmo!” Aí
seria uma dificuldade (prof. 3).
– Algo que está errado [...] porque o profissional não pode se eximir desse contexto da queixa, né? E o
compromisso maior também do profissional, dele saber que ele tem alunos que precisam de um tratamento mais
diferenciado, né? (prof. 5).
– Mas eu ainda acredito que não é um nome que vai fazer a diferença na alfabetização, tá! E sim o
comprometimento do professor. O ano passado eu trabalhei no primeiro ano. [...]. Ela, praticamente, foi
todinha, alfabética. Falta seriedade do professor de 6 anos (prof. 6).
– Eu acho que depois dessa modificação, que eles relaxaram um pouco... percebem que os filhos não serão
retidos, aí eles estão supertranquilos, assim! Aí o que acontece? Quando chegar a quinta série, o bicho vai
pegar! (prof. 1).
– A família não se interessa em.. em buscar, né? Ajudar o seu próprio filho; por questão de desestrutura
familiar; primeiro o envolvimento da família, da família, entendeu? (prof. 3).
– De um modo geral, é... o acompanhamento do pai seria importantissímo! [...] eles têm pouco
acompanhamento da família. O envolvimento da família, que eu acho que é aonde mais peca, infelizmente! Você
manda o dever pra casa, quando volta e quando você vai olhar o caderno, você não acredita, entendeu? Então,
assim, você fica... o professor fica frustrado! (prof. 6).
– Alguns... eu já percebi uma certa desmotivação, né? “Ah, porque que o meu colega está na.. na alfabética e eu
estou no pré-silábico? Somos da mesma idade” Eles falam assim: “Ah! Porque o meu colega vai para turma do
tio [...]? Por que vai pra turma da tia [...]? Eu acho que depois dessa modificação, eu acho que eles relaxaram
um pouco. Acho que eles percebem que não vão ser retidos, aí eles estão supertranquilos, assim (prof. 1).
188
– Existem alunos que não... você percebe que é um sofrimento tanto para o aluno quanto para o professor... é
...aluno que está ainda pré-silábico junto com uma turma já alfabetizada, já produzindo textos. Você percebe o
quanto traz angústia pro aluno; problema na questão da autoestima do aluno, porque ele acompanha [...] com
os coleguinhas tudo da mesma idade (prof. 4).
– Eu percebi o seguinte: que não retendo os alunos de primeiro, segundo e terceiro ano, está acontecendo de
chegar ao terceiro ano sem serem alfabetizados. Não que eu ache interessante também a retenção, mas tinha
que ter uma forma diferenciada de trabalhar isso pra que não acontecesse de chegar, como está acontecendo
muito no quarto ano... terceiro (prof. 1.)
– Por nos primeiros anos do BIA não ter a retenção, então eles vêm, vêm [...] tem aluno que está no processo...
no início do processo de alfabetização ainda (prof. 2).
– Vejo muita dificuldade em relação à retenção do aluno;o sistema deve repensar que essa promoção, de não
ser a partir ... do terceiro ano (prof. 3).
– Olha! Esse, pra mim, é o maior problema que tem. A promoção automática dentro do BIA; defasagem escolar.
Né? A questão de... dos alunos estarem... já chegar no terceiro ano sem estar alfabetizados (prof. 4).
– Até agora só foi a questão da oferta de cursos de aperfeiçoamento, né? ... de letramento e de matemática;
eu percebo que mais dificulta [...] uma por ser na EAPE em horários, por exemplo, que a gente está na
regência...; e aí, aperta a gente, né? ... porque são cursos longos (prof. 1).
– Ela chega nas escolas, uns entendem de um jeito, outros entendem de outro, aí aplica de um jeito... falta
recurso! Falta apoio! Falta isso! Falta aquilo! Então, aplica da forma que acha que... que vai dar certo, né? Às
vezes, não é assim... Não é acertado. Nunca vem...Nunca é aplicado da maneira que foi pensada, que foi... que a
gente vê nos cursos... (prof. 2).
– Até falta de... de material, da própria criança que, às vezes, a escola pede, a criança não tem condições
financeiras para ter acesso àquele material; É. O lúdico. Então, aqui tem... tem jogos antigos, que está
incompleto. Então, precisa muito! O que mais a gente batalha aqui é material pra criança. Falta capacitação,
falta[...]. (prof. 3).
– Alunos pré-silábicos, silábicos... A diversidade dentro da sala é muita! É grande! Enquanto a gente tem
alunos produzindo textos tem.. tá...tá lendo, com leitura fluente, produzindo bons textos... tem aluno que está no
silábico ainda! Está conhecendo letrinhas, conhecendo o alfabeto... aí fica, aí é complicado. Fica muito
diversificada a turma. Então, às vezes a gente tem uns quatro, cinco grupos na turma, onde você tem que fazer
atendimentos diversificados mesmo (prof. 2).
– Pra gente, na hora de trabalhar dessa maneira é muito complicado! Você trabalhar, por exemplo, igual eu
falei, trabalho dentro de sala de aula com... Você faz os grupos. Eu... Eu tenho um grupo de alunos alfabéticos e
eu tenho... tenho alunos silábicos e silábicos alfabéticos. (prof. 4).
– Eu tenho uma turma bastante heterogênea. E eu tenho alunos que são Anees, né? que são portadores de
necessidades especiais [...] necessidades bem peculiares, né? (prof. 6).
g) Dificuldades de ruptura com a lógica da seriação:
189
– Então eu acho que o professor... ele tinha que ter essa liberdade para avaliar, ou pelo menos, ou sei lá, o
Conselho de Classe, sabe? Se chegasse à conclusão de que aquela criança era melhor pra ela ser retida,
sabe?Eu acho que a criança ganharia muito mais do que condições, sabe? O professor ter essa autonomia!
Agora, o que diferencia é que o menino com ... com... problema de aprendizado.. é .. na seriação é mais fácil pro
professor trabalhar porque pressupõe-se que aquele que tem dificuldade não foi pra frente (prof. 6.)
– O aluno não chega a avançar como era antigamente.[...] na primeira série a criança já ia com a base... já
embasada para a segunda série. Se fosse na seriação eu estaria fazendo essas cobranças do mesmo jeito se
houvesse... se voltasse, né? Eu estou tendo muita dificuldade! Muito mesmo! E como... Eu acho que é por isso
que eu bati muito com relação à seriação, por causa da minha inexperiência, ainda, com o BIA (prof. 3).
– Há alguns anos atrás, quando era seriação, né?, qualquer coisa era motivo pra reter o aluno naquela série.
Agora, de repente, vem uma assim, totalmente diferente Eu acho que tem diferença no problema de
aprendizagem. Diferença é que o aluno na seriação ele foi retido na.. na grande maioria das vezes, né? (prof.
5).
As respostas que tratam das dificuldades dos professores no BIA denotam que os
professores da Escola Desafios do Aprender ainda têm dificuldades de elaborar as inovações
trazidas pelo Bloco. Mesmo assim, os reagrupamentos, o Projeto Interventivo e outras
estratégias pedagógicas estão operando no sentido de propiciar a aprendizagem significativa
aos estudantes na proposta do BIA. Verificou-se também que ainda há resquícios da
alfabetização seriada, tais como:
a) avaliação classificatória, pensando a reprovação escolar como solução para a diferença de
perfis de aprendizagem de alunos num mesmo ano/série;
b) desejo de resgate de autonomia e poder sobre instrumentos e processos avaliativos
definidores da retenção do estudante nos primeiros anos BIA;
c) culpabilização dos estudantes e de suas famílias pelas dificuldades de aprendizagem,
apontando como causa o descomprometimento dessas famílias com a aprendizagem dos filhos
na experiência dos ciclos;
d) queixas alusivas a carências materiais e de capacitação (quase sempre fundamentadas).
– Porque a gente faz isso no coletivo, né? No planejamento, no coletivo; a gente confronta, a gente.. vê quais
são os avanços dos alunos, aonde que eles estão tendo dificuldades, pra que a gente se concentre nessa, nessa
dificuldade do aluno, né? por que aí, a gente trabalha; dentro dessa... proposta, de fazer com que o aluno, ele
supere aquela dificuldade; então sou professor da escola; eu não sou professor apenas de uma turma. No
momento, estou com o terceiro ano, mas eu posso mudar pra qualquer sala. Eu não posso me eximir dessa
responsabilidade, né, então, a escola faz parte da minha vida e eu faço parte da escola, porque as
nomenclaturas BIA, seriação, escola candanga ou qualquer aquilo que nós já passamos, isso não vai mudar
nenhuma situação do comprometimento do professor (prof. 5).
– Nosso diálogo na sala é diferente, né? demonstrar pra ele o quanto é importante eles se dedicarem, se
esforçarem...aproveitar a história de vida deles, o que eles já conhecem, o que eles já viram. Fazer uma
intervenção antes que... pra não deixar pro final um resultado negativo. Essa é a nossa tentativa, né? De
auxiliar, intervir dentro do processo de educação, de ensino, dar auxílio para aquela criança, mas direcionado
com a sua dificuldade, pra melhorar, pra... hum!... pra auxiliar ele na... naquilo que ele está necessitando
naquele momento (prof. 2).
– A gente pode entender essas crianças com dificuldades na aprendizagem, né? É tudo aquilo que a gente
perceber que é válido pra...pra gente agir, para ajudar essas crianças, pra que ela se desenvolva... cresça na
aprendizagem; nós estamos buscando né?; a gente não pode afirmar uma totalidade, né? ...mas, a maioria das
crianças consegue avançar, consegue demonstrar avanços significativos, né? A gente trabalha também com essa
perspectiva da... do avanço da criança, ela percebe que tem um potencial, que tem capacidade de avançar né? A
gente faz com que a criança enxergue isso através dos erros dela (prof. 5).
– Então, assim, eu acho que você tem que ver aluno por aluno. De modo geral eu procuro.. eu procuro valorizar
esse... aluno como ser único e especial, entendeu? E... partindo da vivência dele... Então quando eu trago meu
menino pro reforço à tarde! Eu não posso desenvolver a mesma atividade que eu estou desenvolvendo na sala
de aula, porque se ele não está tendo resultado na sala de aula é porque eu não estou conseguindo atingi-lo.
Então eu tenho que encontrar outras maneiras de atingi-lo (prof. 6).
– E aí a gente encaminha aqueles alunos que estão apresentando maior dificuldade. Encaminha pra nós
mesmos; além disso, a gente faz um registro das produções de texto de... das dificuldades. Eu faço registro
individual de cada criança: quais são as dificuldades que ela tem, o que eu preciso trabalhar, o que eu preciso
reforçar entendeu? O que eu acredito mesmo é no trabalho do professor entendeu? Mudou o nome.. pra mim, a
questão não é terminologia! É o interesse do professor, é a conscientização do professor, é o respeito do
professor pelo aluno, é o compromisso... Então você encara com seriedade, o menino vai embora (prof. 6).
– Procurar com o pouco que a gente tem, o pouco das ferramentas, pra gente agregar mais conhecimento, mais
bagagem pra eles, aproveitando o que eles já têm. O comprometimento do aluno em relação se é.. é o meu
trabalho? Foi o meu trabalho que não foi o suficiente? Do professor? (prof. 1).
– A gente coordena o projeto! A gente coordena, a gente faz os apanhados do que vai trabalhar, até porque
precisa ter... ser bem planejado, porque tem que passar no diário e nós temos que colocar até o número dos
alunos da chamada aqui, de outros professores, que a gente recebe (prof. 3).
– Adquirindo esse conhecimento daqui, me adaptando às formas de educação daqui, vendo tudo novo, né? A
realidade é bem diferente! A gente tem apoio. Uma coisa que é ... que não percebi nas outras escolas. Que tem
toda uma organização, assim... achei ótimo essa experiência! Dá pra passar pros outros. Eu percebo no
reagrupamento um resultado positivo. É devagar, mas percebo sim! (prof. 1).
– O projeto, ele vem assim como um suporte, né? pra orientar e nortear o professor... é pra gente vislumbrar
essa questão de um trabalho melhor, né?; essas estratégias, né? e a gente percebe que tem um resultado, tem um
retorno positivo, né? (prof. 4).
– A gente não pode afirmar uma totalidade, né? ...mas a maioria das crianças consegue avançar, consegue
demonstrar avanços significativos, né? (prof. 5).
192
– É boa a proposta! Mas ela não está bem aplicada, né? Melhor que a seriação? Muito melhor! Com certeza!
Eu acredito se o professor... é... tiver realmente empenho, tá? (prof. 2).
– Acho que é um bom projeto, mas precisa fazer, assim, uma nova... a... como é que eu poderia dizer... a... Dar
uma nova estruturada, né?... no... no BIA ( prof. 3).
– Sobre o BIA. Eu... Eu penso assim: eu acho que é uma proposta interessante, entendeu? É... Mas, eu ainda
acredito que não é um nome que vai fazer a diferença na alfabetização, tá! E sim o comprometimento do
professor (prof. 6).
Uma análise ao final da categoria 1 mostra que, das matrizes orientadoras para a
operacionalização do BIA, a Formação Continuada desponta como essencial para a efetivação
de todos os princípios metodológicos da proposta, desse modo, ela é imprescindível para a
aferição de resultados qualitativos nas ações interventivas. Mas, em contrapartida, esse
princípio destaca-se, principalmente, como o mais deficitário.
Também para o princípio do Ensino da Matemática foram apontadas dificuldades em
termos de orientações didático-metodológicas e carência de recursos materiais. Todavia, essas
dificuldades não têm comprometido a concretização da proposta na escola nem os avanços
nas aprendizagens dos estudantes e tampouco as práticas de ensino aplicadas. Essas
constatações permitem inferir que essas estratégias metodológicas modificaram a produção da
queixa escolar, contribuindo para sua redução na alfabetização. Essas afirmações estão
justificadas a seguir:
2) Os dispositivos didáticos (no caso os princípios metodológicos do BIA) que incidem sobre
as metas e os objetivos voltados à qualidade do ensino exigem continuidade e coerência
didática de todas as ações pedagógicas praticadas na escola (rotinas, estratégias pedagógicas
diferenciadas e projetos de trabalho). Essa coerência didático-pedagógica busca não perder o
foco nas necessidades e nas dificuldades de aprendizagem dos estudantes. A tendência desse
processo é que as necessidades de aprendizagem sejam atendidas e que as dificuldades de
aprendizagem sejam reduzidas e/ou sanadas. Mediante esse contexto, é latente a perspectiva
de redução do número de estudantes “sujeitos de queixa”. E é o que vem ocorrendo na
realidade da escola,73 tomando como ponto de análise as implicações/comprometimentos dos
professores como os estudantes e com o BIA como também os quantitativos de avaliações
diagnósticas (número de encaminhamentos) realizadas entre 2007 (seriação) e nos três últimos
anos de vigência do BIA (2008 a 2010).
73
O Quadro 20 indica redução do número de alunos avaliados pelas EEAA entre 2007 (seriação) e 2008, 2009 e
2010 (ciclos).
194
– Eu enfrento os problemas de aprendizagem do aluno, eu enfrento no BIA, só que o aluno... o aluno do BIA ele
tem outro atendimento. A maneira de ver o problema é diferente. De intervir é diferente. A intervenção do BIA é
melhor sim. Mas a maneira de ver o aluno é diferente. A gente está ali se esforçando mais, né? (prof. 3).
4.3.2 Categoria 02: Concepção dos professores sobre as queixas escolares no BIA
Nessa segunda categoria buscou-se explicitar uma das questões da pesquisa em que se
interroga se os professores, mediante a experiência de alfabetização em ciclos-BIA,
modificaram suas concepções sobre a queixa escolar. Nesse sentido, buscou-se nas
falas dos professores atribuições das causas sobre a queixa escolar.
195
– A maioria dos alunos que tem uma certa... determinada dificuldade, eles ficam totalmente desmotivados [..]
Outros casos de doença: por exemplo, um aluno que teve meningite e muita dor nos dentes. Muitos problemas
na boca, muita dor de cabeça, desmotivado (prof. 1).
– Comprometimento da família [...] problemas familiares que acarretam na criança [...] afetam o psicológico
da criança (prof. 2).
– O pai sem trabalho, a mãe.... É o apoio da família; por questão de desestrutura familiar (prof. 1).
– De um modo geral, é... o acompanhamento do pai seria importantissímo! [...] eles têm pouco
acompanhamento da família (prof. 6).
Ressalta-se ainda nessa mesma vertente a opinião de um dos entrevistados (prof. 3),
que associa problemas na aprendizagem dos estudantes à necessidade da realização de
diagnósticos, confirmando a presença de representações sociais constituídas em transferir às
áreas médico-psicológicas responsabilizações inerentes às áreas didático-pedagógicas
escolares, remetendo ao que denunciaram Patto (1990), Collares e Moysés (1996) e Almeida
et al. (1995), entre outros autores. Outro professor cita diretamente a questão dos ANEE, ele
considera que o fato de o aluno possuir um diagnóstico já justifica em si este ter dificuldades
de aprendizagem, com evidências de estigmatização da criança diagnosticada e dificuldades
no entendimento do processo inclusivo já instaurado nas escolas públicas do DF há mais de
três décadas. Isso pode ser conferido nas falas dos entrevistados a seguir:
– O professor detecta alguma dificuldade de aprendizagem é porque a criança... realmente é necessário fazer
alguns diagnósticos (prof. 3).
196
No entanto, três dos professores entrevistados associam as causas das queixas a fatores
escolares, ressaltando a desresponsabilização-descomprometimento dos profissionais de
educação nos citados fatores. Esses professores entrevistados apontaram também a não
retenção dos alunos na proposta de alfabetização em ciclos como fator causador das
dificuldades dos alunos.
No caso do BIA, no DF, como sabido, as Etapas I – 6 anos e II – 7 anos têm
promovido alunos para os terceiros anos – Etapa III (quando há retenção) com defasagem de
conteúdos, habilidades e competências da alfabetização. Como resultado, nesses terceiros
anos culmina uma diversidade muito grande de perfis de aprendizagem de estudantes numa
mesma sala de aula. Esse contexto tem dado causa a múltiplas retenções e à evasão escolar,
contribuindo também para o encaminhamento desses alunos à correção de fluxo.
Aferiu-se ainda o prognóstico de as defasagens de conteúdos e habilidades em nível do
ano cursado perpetuarem-se em até 50%. É o que nos informa uma das professoras
entrevistadas:
– Vão acabar parando na correção de fluxo; vamos colocar aqui, que... 50%. Porque não adianta ... é... é só
esse trabalho do BIA (prof. 1).
– Nos primeiros anos do BIA não ter retenção. Alunos pré-silábicos, silábicos... A diversidade dentro da sala é
muita! É grande! (prof. 2).
– A questão de... dos alunos estarem... já chegar no terceiro ano sem estar alfabetizados (prof. 4).
– Alguns colegas precisam encarar os alunos que entram lá no... na turma de 6 anos... é... não é mais pré-
escola, não é mais para brincar. [...] ainda acham que não é pra alfabetizar lá! Entendeu? Só que lá é o início
de toda a alfabetização; o que acontece... quando chega no terceiro ano há o estrangulamento, né? A
progressão automática. Então o professor não pode fazer muita coisa, entendeu? O menino está bem vai, não
está bem, vai do mesmo jeito; ainda tem muitos professores que se acomodam em função disso, tá! Não encara
com seriedade, leva de qualquer jeito! (prof. 6).
Intervenção na queixa
escolar
Necessidades/problemas de • Atendimento por meio de projetos/ estratégias
• Enfâse nos processos pedagógicos instaurados aprendizagem interventivas do próprio BIA.
ao entendimento e atendimentos das • Atendimento/suporte de serviços de sala de
necessidades de aprendizagem dos estudantes. recursos e orientação educacional e EEAA.
• Avaliação Formativa de caráter investigativo: • Planejamento (vários) de ações pedagógicas • Interface de suporte/apoio profissionais de
marcada por modificações de processos de voltadas ao contexto do desenvolvimento e de serviços que atuam como cooperados nas
ensino buscando torná-los mais eficazes nas aprendizagens. Perspectiva de alterações nos ações pedagógicas interventivas, não se
questões de aprendizagem. Gerenciamento das perfis de aprendizagens (habilidades e descartando possibilidades de
ações por meio de regsitros , rotinas diárias e competências dos estudantes). atendimentos/diagnósticos especializados.
estratégias pedagógicas diversificadas. • Educação Integral-Projeto Interventivo
• Sistema proativo/retroalimentativo (interfaces); reagrupamentos, aulas de reforço;
(PERRENOUD, 2004). otimização de instrumentos didáticos e espaços
lúdico-pedagógicos.
Encaminhamento da queixa
escolar
Identificação da queixa
escolar
Matrizes de referência
(descritores) para planos de
Práticas avaliativas Provinha Brasil – ensino (port./mat.).
normativas e de gestão (MEC/Inep) Registro: gráficos de
quantidade de acertos por
questão (Anexo E).
– As atividades avaliativas são elaboradas em cima da Provinha Brasil, bem interpretativo; uma avaliação
interna dos alunos[...] como eles foram recebidos. Essa avaliação é realizada pela equipe, é o Saiec (prof. 1).
– A equipe gestora elabora o Saiec. Eles aplicavam. Agora não, a gente troca de sala. A escola também faz o
teste da psicogênese pra eles saberem que estratégias podem usar, auxiliar a gente também. Entendeu? (prof.
3).
– Tem a avaliação que a escola faz... avaliação de todo o BIA; a direção, normalmente, tenta na questão do
planejamento mudar, e eles trazem pra gente algumas... mostram... na verdade, mostram pra gente aonde é que
está a dificuldade né? (prof. 4).
– A partir dos resultados faz a programação, o professor analisa né? aonde é que está aquela dificuldade,
aonde é que ele pode estar tentando sanar , fazer... trabalhar com aula de reforço. Tem planejamento. A gente
faz junto... As três... As professoras com a coordenadora. É coletivo. Faz diferença (prof. 5, grifo nosso).
– Através de testes... a cada dois meses... para ver como está o crescimento (prof. 3, grifo nosso).
201
Essas avaliações estão incorporadas às ações pedagógicas do dia a dia dos professores,
possibilitando aos docentes uma visão diagnóstica que envolve questões socioafetivas e
comportamentais. Pode-se verificar, sobretudo, o detalhamento de erros e acertos nas
atividades propostas em sala de aula e nas tarefas de casa. Assim, são registrados avanços e
retrocessos nas habilidades e nas competências dos estudantes de todos os terceiros anos-BIA.
Esses registros são analisados, comparativamente, com os resultados das avaliações
bimestrais (psicogênese). Então, novos planejamentos e ações interventivas são instituídos
para cada grupo (definidos pelos reagrupamentos) de estudantes no Bloco. Esses
procedimentos foram referidos nas falas dos sete participantes da pesquisa. É notável a
coerência nas falas dos educadores em relação à efetivação das práticas pedagógicas
desenvolvidas por eles na escola:
– É uma rotina. Essa rotina está no planejamento pedagógico. No geral, é tarefa de casa, o caderno, parece
um portifólio praticamente. O caderno fica organizado de forma que qualquer professor que olha percebe o
crescimento do aluno (prof. 1, grifo nosso)
– Tem o..o... processo avaliativo diário, né? contínuo, que a gente está analisando o dia a dia. A gente faz o
diagnóstico. São aqueles alunos que demonstram..é..dificuldades na hora de realizar as tarefas nas atividades
que já foram orientadas, aqueles que não acompanham... não estão desenvolvendo de forma adequada... como a
gente esperava que sim (prof. 2, grifo nosso)
– Das próprias atividades no dia a dia a gente vai detectando ...é... as dificuldades... E também nossas
atividades individuais que a gente elabora de acordo com... com os conteúdos que a gente trabalha; e também
avaliam pela participação da criança em sala de aula... até na parte motora, nas nossas atividades fora da sala
de aula... o lado emocional (prof. 3, grifo nosso)
– No momento em que você está fazendo, você já percebe a dificuldade dele. A dificuldade de aprendizagem. É
feito normalmente. É feito na sala de aula no dia a dia. Sempre com atividades que são propostas ali dentro.
Dá pra você fazer uma avaliação no seu aluno, de acordo com as atividades, de acordo como ele responde
pras suas atividades (prof. 4, grifo nosso)
– Detectar também alguma dificuldade pra gente entrar com uma ação interventiva, né? pra que essa criança
supere as dificuldades naqueles pontos que elas apresentam, né? as maiores dificuldades (prof. 5, grifo nosso)
– A avaliação é no cotidiano, né? todos os dias, você ... você todos os dias você faz esse acompanhamento, né?
Essa observação é diária. No final do bimestre, é feito um... um relatório – aquele bendito relatório que todo
mundo conhece – das dificuldades de cada criança e pra você poder fazer as intervenções... intervenções, né?
para corrigi-las (prof. 6, grifo nosso)
–Nós fizemos... Cada professor avalia sua turminha de novo, né?! Eu sentei com a... com a avaliação que nós
temos e reagrupamos as crianças. Aí, acontece que nós percebemos. Os pré-silábicos e silábicos avançaram, o
que nos permitiu... diminuir o número de crianças pré-silábicas e silábicas, que deu pra gente fazer a junção,
aqui, de pré-silábico com silábico e ficou uma turma de 23 crianças... (prof. 7, grifo nosso)
202
Percebe-se nas falas dos professores que a escola utiliza todos os mecanismos
avaliativos, numa relação de interdependência, com estratégias pedagógicas interventivas
aplicadas às necessidades de aprendizagem identificadas nos estudantes, sobretudo aqueles
dos terceiros anos-BIA. Destaca-se também que os professores não absorveram os
mecanismos pedagógicos avaliativos imbuídos de caráter punitivo ou aferidores de resultados.
Pelo contrário, a ênfase dos processos avaliativos é o gerenciamento dos processos de ensino-
aprendizagem de seus alunos. Ressalte-se que esses critérios estão marcados pela expectativa
de desempenho dos estudantes e não de suas dificuldades ou fracassos individuais ou
coletivos.
Essas constatações apresentam-se contrárias às encontradas nas pesquisas de Patto
(1990), Custódio (1996) e Boarini; Borges (1998), entre outros. Nos estudos dos citados
autores, os professores concebem como queixa escolar faltas, carências físico-psicológicas
e/ou sociais com perspectiva de medicalização/psicologização, situações quase sempre
susceptíveis de intervenção fora dos contextos estritamente escolares.
Na Escola Classe Desafios do Aprender, as respostas dos professores às indagações
acerca da avaliação de aprendizagem indicaram predominar a aposta de avanço no
desempenho dos estudantes. São enfatizadas ações e estratégias pedagógicas voltadas ao
desenvolvimento curricular, das habilidades e das competências atreladas ao processo de
construção da alfabetização, letramentos e aprendizagem da matemática.
Embora se reconheça tais avanços, é relevante a ampliação das formas de registro nas
avaliações feitas pelos professores, de modo a sistematizar a utilização de portfólios, proposta
condizente com a avaliação formativa. De modo que a produção escrita individual dos
estudantes permita reflexão, criatividade, parceria e autonomia. Assim, o estudante pode se
tornar partícipe da tomada de decisões, podendo formular suas próprias ideias-escolhas.
Fugindo das situações pedagógicas que o submete a cumprir prescrições, ditadas pelo
professor e pela escola.
A necessária participação do estudante no processo avaliativo encontra destaque nos
estudos do BIA no Distrito Federal por Villas Boas (2004; 2010). Suas pesquisas orientam
professores no sentido de desconstruir dinâmicas marcadas pela competição, individualismo,
desempenho, homogeneidade e exames, como eixos condutores do discurso da avaliação.
Concordando com autora, entendemos que os avanços na construção de aprendizagens
significativas dos estudantes devem ser igualmente ressaltados. De modo que dificuldades,
defasagens e retrocessos nas aprendizagens sejam vistos como processos, não trazendo
consequências danosas para a formação do estudante.
203
A
N b)Estratégias pedagógicas • Educação Integral - Projeto Interventivo (consorciados).
E aplicadas aos problemas de • Aulas de reforço, suporte/acompanhamento individual de
atividades e tarefas.
J aprendizagem apresentados • Atendimento diferenciado em grupos (reagrupamentos
inter/intraclasse.)
A pelos estudantes
M
E c)Estratégias pedagógicas • Reagrupamentos inter/intraclasse (rodízio de
professores).
– Primeiro: alguns alunos têm a Educação Integral... alguns alunos.. é principalmente a dos alunos é...
silábicos, pré-silábicos. Eles estão sendo atendidos com a ajuda. Descobrir nesses alunos qual o... o interesse
dele! Né? O que eles gostam de fazer? Porque alguma coisa tem que ter, né? Aí, então, a escola deverá, junto
com esses professores, desenvolver projetos pra esses alunos. Pode ser no horário de aula, pode não ser, pode
ser no horário... no horário contrário e, esse projeto tem que ter como base o... o... o interesse do aluno, né?
Coloca nos reagrupamentos, né? nas atividades de... é recuperação contínua, que faz os reagrupamentos tanto
interno quanto externo. É os rodízios. É também a gente ... na sala de aula é feito isso. Separa os grupos pra
205
trabalhar determinada dificuldade naquele grupo. Chama os pais, orienta... é... mostra onde é que o aluno tá
conseguindo... é isso! Projeto interventivo, né? o interclasse. Eu faço o projeto interventivo dentro da minha
própria sala né? Trabalhando de forma diferenciada! Reagrupamento. Ele funciona assim! E funciona
também interno, né? Dentro da própria sala de aula, com atividades diferenciadas, montando grupos
separados, né (prof. 3, grifo nosso).
[...] Essa é a nossa tentativa, né? De auxiliar, intervir dentro do processo de educação, de ensino, dar auxílio
para aquela criança, mas direcionado com a sua dificuldade, pra melhorar, pra... hum!... pra auxiliar ele
na... naquilo que ele está necessitando naquele momento. É porque, assim, mistura um pouco, né?!... com o
reagrupamento... [...] Acaba ficando meio misturado! Então, assim, dentro do contexto do reagrupamento e dos
projetos que são realizados, né? (prof. 1, grifo nosso).
[...] tem aluno que está no silábico ainda! O aluno fica, a gente percebe a diferença! Então a gente faz os
agrupamentos na sala... é pra trabalhar, fazer atividades específicas... Eu entendo que é pegar aqueles alunos
que já estão reagrupados na turma, reagrupar de... usando outros critérios, né? que seria como a gente faz
aqui, de acordo com as dificuldades que apresentam, ou, às vezes, até com avanço que eles já mostram (prof.2,
grifo nosso).
– Pra esses alunos com dificuldades no aprendizado, a gente usa..é.. instrumentos como atividades
diversificadas, né? é... aula de reforço no horário contrário, né? Usamos também o reagrupamento por vários
níveis de aprendizagem, né?... que tem dado resultado bom né? O projeto interventivo, né? que tem sido muito
importante, que é.. nós temos percebido o resultado que tem ajudado bastante as crianças. Algumas não
apresentam aquele avanço, né? suficiente para ser promovido pra série seguinte, mas a gente trabalha. Nós
temos seis meses pra trabalhar. Então a gente acredita até o último dia, de que essa criança vai superar as
dificuldades. Dependendo do problema pode até caracterizar uma diminuição, né? da questão, do problema.. no
caso de aprendizagem. É nesse sentido da aprendizagem, nós... é... a gente pode afirmar com segurança que
melhorou. Tem a ver com reagrupamento, planejamento entendeu? A gente faz um... um... um planejamento...
É... De grupos, né?! A gente planeja... (prof. 5, grifo nosso).
– Tem aluno que está conhecendo letrinhas, conhecendo o alfabeto... aí fica, aí é complicado. E o aluno, a gente
percebe que fica desestimulado, por mais que a gente tente motivar. Tem alunos produzindo textos. Tem ... tá ...
tá lendo, com leitura fluente, produzindo bons textos... tem aluno que está no silábico ainda! O aluno fica, a
gente percebe a diferença! Então a gente faz os agrupamentos na sala... é pra trabalhar, fazer atividades
específicas... Eu entendo que é pegar aqueles alunos que já estão reagrupados na turma, reagrupar de...
usando outros critérios, né? que seria como a gente faz aqui, de acordo com as dificuldades que apresentam,
ou, às vezes, até com avanço que eles já mostram (prof 2, grifo nosso).
– A gente confronta, a gente.. vê quais são os avanços dos alunos, aonde que eles estão tendo dificuldades,
pra que a gente se concentre nessa, nessa dificuldade do aluno, né? por que aí, a gente trabalha; dentro
dessa.... proposta, de fazer com que o aluno, ele supere aquela dificuldade; eles vão ser colocados em uma
turma que o professor vai trabalhar só com os alfabéticos ou que a criança demonstre que ela está no limiar, na
passagem para o alfabético. E, às vezes, uma... uma intervenção com um trabalho, diferenciado, faz com que a
criança avance, né? Várias dimensões, pra melhorar a aprendizagem, né?... a afetividade, relacionamento da
criança, em todas as áreas. Eu... Eu percebo que está funcionando aqui na escola, né? (prof. 5, grifo nosso).
– O projeto, ele vem assim, como um suporte, né? pra orientar e nortear o professor... é pra gente vislumbrar
essa questão de um trabalho melhor, né? A gente pode entender essas crianças com dificuldades na
aprendizagem, né? Não é só o projeto interventivo, mas o reforço escolar... no turno contrário; ou aquele
atendimento diferenciado na sala... o intragrupal [...] (prof.5, grifo nosso).
– Então, assim, eu estou com os alfabéticos II, no rodízio. Você tem noção de como é fantástico o trabalho.
Entendeu? E aí, ele trabalha a reestruturação de texto e o menino com dificuldades, cada dia, melhora mais
(prof. 6, grifo nosso)
Nesse item, por meio da fala dos participantes, é possível notar que as práticas
pedagógicas dos professores encontram-se assentadas nos princípios metodológicos do BIA.
O planejamento e os projetos pedagógicos coletivos empreendidos, pelos atores educacionais,
no atendimento das dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos podem ser
notadas nas palavras: “coletivamente, a gente, nós fizemos...” . Afirmativas que encontram-se
destacadas nas falas dos professores 5,6,3,4 representado o envolvimento da equipe gestora,
de coordenadores, professores em todas as atividades realizadas na escola, voltado para a
produção de aprendizagens significativas e ao atendimento aos problemas de aprendizagem
apresentados.
– Coletivamente... É feito coletivamente, todos os professores sentados juntos, a mesma atividade desenvolvida
nas três... na... na... nos quatro grupos, só aumentando o nível de dificuldade. [...](prof. 6). (grifo nosso).
– A gente coordena o projeto! A gente coordena, a gente faz os apanhados do que vai trabalhar, até porque
precisa ter... ser bem planejado, porque tem de passar no diário e nós temos que colocar até o número dos
208
alunos da chamada aqui, de outros professores, que a gente recebe. Eu acredito se o professor... é... tiver
realmente empenho, tá? (prof. 3, grifo nosso).
– A direção normalmente tenta mudar na questão do planejamento, e eles trazem pra gente algumas...
mostram... na verdade, mostram pra gente aonde é que está a dificuldade né? Um balanço, tudo direitinho, e
mostra pra gente. A partir dos resultados faz a programação, o professor analisa né? aonde é que está aquela
dificuldade, aonde é que ele pode estar tentando sanar, fazer... trabalhar com aula de reforço. Nós iniciamos
duas ações: uma é o reforço escolar, quando a gente percebeu logo no início do ano letivo, e a outra é o
reagrupamento por interclasse né? E que a gente chama na verdade de rodízio, né? Faz um trabalho
diferenciado com aluno que está pré-silábico ainda. Aí já é um reagrupamento! E o reagrupamento que a gente
faz que é a gente... que é o rodízio, né?... entre as turmas. Tem planejamento. A gente faz junto... As três... As
professoras com a coordenadora. É coletivo. Faz diferença! (prof 4, grifo nosso).
– O projeto, ele vem assim, como um suporte, né? pra orientar e nortear o professor... é pra gente vislumbrar
essa questão de um trabalho melhor, né? [...] É dentro do coletivo, a gente sempre procura meios pra ajudar
essas crianças, né? É tudo aquilo que a gente perceber que é válido pra...pra gente agir, pra ajudar essas
crianças, pra que ela se desenvolva... cresça na aprendizagem. Nós estamos buscando né? Ela é elaborada pela
direção, e nós professores também aplicamos; porque a gente faz isso no coletivo, né? No planejamento, no
coletivo (prof. 5, grifo nosso).
– Nós trabalhamos com reforço, né?... que é no horário contrário; e aí a gente encaminha aqueles alunos que
estão apresentando maior dificuldade. Encaminha pra nós mesmos; no período vespertino você tem que trazer
12 meninos mais pra você dar reforço, que também é um trabalho diversificado (prof. 6, grifo nosso ).
– A gente, nós não estamos encaminhando como a gente encaminhava, né? Por que eu mesmo ia encaminhar
um aluno na questão da aprendizagem, já não vou encaminhá-lo porque ele avançou, assim de forma
surpreendente! A equipe diagnóstica, que é uma equipe muito participativa, que nos dá um apoio muito
importante, né?... nos orientando, porque são profissionais que nos ajudam muito, né?... orientando naquilo
que a gente poderia melhorar, naquilo que a gente pode fazer, naquilo que a gente pode modificar, né?... pra...
pra atender melhor esses... esses alunos, tá?... do... do projeto interventivo, né? (prof. 5, grifo nosso ).
– A gente procura orientação com a... com a... as pedagogas; com a orientadora educacional que está sempre
dando apoio; a gente consegue também da sala de recurso; da psicóloga que também está sempre ajudando
(prof. 2, grifo nosso).
– E também esses alunos, a gente encaminha quando o caso já vem lá do segundo ano, a gente conversa com o
professor anterior ou lê o relatório anterior, a gente percebe que o problema está continuando, e a gente faz
encaminhamento pra equipe (prof. 2).
– Além da nossa.. da nossa responsabilidade, existe a ação de outros profissionais que precisam ser acionados,
né? Podem ser, tipo, dificuldades na área psicológica, neurológica, né? (prof. 5).
– Quando a gente se depara com algum tipo de dificuldade que está além do nosso alcance, a gente encaminha;
o aluno é diagnosticado e a família não se interessa em.. em buscar, né? Ajudar o seu próprio filho (prof. 1).
– Aqueles alunos que apresentam, por exemplo, hiperatividade, ou.. ou... algum outro tipo,.. algum outro
problema de aprendizagem, a gente encaminha pra orientadora educacional e faz um trabalho paralelo, né?
junto com a psicóloga, né? A gente procura orientação com a... com a... as pedagogas; com a orientadora
educacional que está sempre dando apoio; a gente consegue também da sala de recursos ; da psicóloga que
também está sempre ajudando (prof. 2).
[...] E aí a gente encaminha aqueles alunos que estão apresentando maior dificuldade. Encaminha
pra nós mesmos (prof. 6, grifo nosso).
O professor 5, por sua vez, destaca os avanços dos estudantes com dificuldades de
aprendizagem e diz não estar mais encaminhando estudantes para atendimento e diagnóstico
como outrora encaminhava:
– A gente, nós não estamos encaminhando como a gente encaminhava, né? Por que eu mesmo ia encaminhar
um aluno na questão da aprendizagem, já não vou encaminhá-lo porque ele avançou, assim de forma
surpreendente! (prof. 5, grifo nosso).
– A equipe diagnóstica, que é uma equipe muito participativa, que nos dá um apoio muito importante, né?...
nos orientando, porque são profissionais que nos ajudam muito, né?... orientando naquilo que a gente poderia
melhorar, naquilo que a gente pode fazer, naquilo que a gente pode modificar, né?... pra... pra atender melhor
esses... esses alunos, tá?... do... do projeto interventivo. Né? (prof. 5, grifo nosso).
– Nós trabalhamos com reforço, né?... que é no horário contrário; e aí a gente encaminha aqueles alunos que
estão apresentando maior dificuldade. Encaminha pra nós mesmos; no período vespertino você tem que trazer
12 meninos mais pra você dar reforço, que também é um trabalho diversificado (prof. 6, grifo nosso).
74
A escola, concomitantemente à efetivação da proposta pedagógica do BIA, encontra-se efetivando a proposta
pedagógica da Educação Integral. O contexto desses dois projetos traz inovações pedagógicas para toda a
comunidade escolar. As metas e os objetivos dessas propostas se coadunam com as intervenções e os contextos
de promoção de aprendizagens significativas e de diminuição dos índices de retenção, evasão e fracasso escolar.
Embora o foco desta pesquisa seja o BIA e a queixa escolar, não se pretende aqui negar a confluência de outros
fatores, coincidentes ou não, ocorridos nesse recorte temporal e histórico na realidade da escola pesquisada.
215
Pensamos que o BIA (como um novo projeto) conquista adesão sine qua non de todos
os profissionais de ensino às diretrizes e às estratégias metodológicas do Bloco, visto
tratar-se do estabelecimento de uma nova cultura e de identidade coletiva do trabalho
pedagógico instaurado. Dessa forma, as dificuldades de aprendizagem não podem e
não devem ser circunscritas nem focadas somente nos terceiros anos do Bloco, sobre
os quais incide o maior número de alunos com defasagem em habilidades,
competências e conteúdos exigidos ao ano cursado. Destarte, o Projeto Interventivo
precisa abarcar a Etapa I – 6 anos e a Etapa II – 7 anos, com cursos de ações e metas
pedagógicas voltadas à identificação e ao atendimento das necessidades de
aprendizagem apresentadas pelos estudantes, bem como à intervenção.
Clareza da proposta para os professores alfabetizadores quanto às teorias e às
concepções atualizadas de alfabetização, letramentos e do ensino da matemática.
Evidencia-se carência de definição de método e de coerência na concepção e no
emprego desses novos princípios a serem aplicados ao ensino e à aprendizagem.
Efetiva mediação e suporte da Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de
Educação (EAPE) e do Centro de Referência e Alfabetização (CRA). As deficiências
de Formação Continuada foram apontadas (de forma unânime) pelos professores
participantes, com carências de acompanhamento de práticas individuais, coletivas e
de gestão escolar. A pesquisa apontou, ainda, carências no gerenciamento da proposta
do Bloco, faltando a indicação de melhores estratégias de comunicação, mobilização,
participação e desenvolvimento de projetos integrados e de apoio entre GEF, EAPE,
DREs, NPMs e unidades escolares.
217
CONSIDERAÇÕES FINAIS
buscam respostas mais satisfatórias aos problemas de aprendizagem dos alunos. Busca-se
também o gerenciamento avaliativo das habilidades e das competências de ensino (e de
responsabilização) dos seus docentes mediante uma gestão pedagógico-administrativa
compartilhada.
Por essa razão, entendemos que a escola encontra-se em condições de contribuir com
outras escolas públicas do Ensino Fundamental engajadas na promoção da aprendizagem
significativa mediante a experiência dos ciclos – no caso do DF, o BIA. Acreditamos nisso
porque vimos que essa prática possibilitou a efetividade de ações pedagógicas competentes no
atendimento de estudantes com necessidades de aprendizagem (visto que todas as crianças
estão em processo de desenvolvimento de suas aprendizagens). Ao construir caminhos,
propostas e metodologias eficazes estar-se-á, inevitavelmente, trabalhando para a redução do
número de estudantes mais susceptíveis de serem colocados em situação de queixa e de
retenção escolar.
Na concepção do sistema escolar, com a qual concordamos, a implantação e a
efetividade da proposta do BIA deve ser precedida da preparação dos professores no intuito
de compreendê-la e incorporá-la à suas práticas de forma producente e compatível com as
diretrizes da proposta. A fragilidade da Formação Continuada dos docentes, de
responsabilidade do sistema de ensino, foi identificada em vários momentos deste estudo de
caso. Sua maior deficiência foi verificada em relação a quatro princípios orientadores da
proposta: Ensino da Língua, Ensino da Matemática, Avaliação Formativa e Projeto
Interventivo. No entanto, a Desafios do Aprender vem subsidiando suas práticas por meio da
Formação Permanente, que ocorre durante as coordenações pedagógicas dos professores.
Verificamos que alguns elementos teórico-práticos implicados no processo de
alfabetização e letramentos, condizentes com as quatro práticas para o ensino da língua
orientadas para o BIA, ainda não estão sendo aplicados segundo as orientações da proposta.
Conquanto tenham sido pontuados vários elementos dessas práticas, observamos a falta de
uma melhor elaboração do planejamento e da rotina, no sentido de contemplar as estratégias e
as habilidades de ensino para cada uma dessas práticas. Em consequência, os professores
acabam por mesclar experiências e métodos de alfabetização, utilizando como referência,
entre outros fatores, o tempo e a larga experiência que eles têm como alfabetizadores.
Nesse sentido, ressaltamos o envolvimento dos professores e seu compromisso com os
alunos dos reagrupamentos, ou seja, aqueles em situação de defasagem na alfabetização,
mesmo com as reconhecidas dificuldades do Centro de Referência em Alfabetização (CRA),
vinculado à Diretoria Regional de Ensino local, em ofertar às escolas e aos professores cursos
220
problemas de aprendizagem. Pensamos também que esses atores devem ser capazes de
assumir “coletivamente” a responsabilidade por suas escolhas, estratégias e propostas
pedagógicas geridas mediante a evidência de que muitos dos problemas de aprendizagem são
“também” produzidos e sustentados por falhas de mediação de cunho didático-pedagógico ao
longo da vida escolar dos alunos, sobretudo nos primeiros anos escolares, período no qual se
processam a alfabetização e os letramentos.
225
REFERÊNCIAS
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BOARINI, M. L.; BORGES, R. F. Demanda infantil para os serviços de saúde mental: sinal
de crise. Estudos de Psicologia, Natal, n. 3, p. 83-108,1998.
KLEIN, L. R. Alfabetização: quem tem medo de ensinar? São Paulo: Cortez, 1996.
LIBÂNEO, J. C. Didática: coleção magistério 2º grau. São Paulo: Cortez, 1994 (Série
Formação do Professor).
MARTINS, G. de A. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.
229
SOUZA, B. P. (Org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2007.
TRAUTWEIN, C. T. G.; NÉBIAS, C. A. A queixa escolar por quem não se queixa – o aluno.
Mental, v. 4, M 6, p. 123-148. 2005.
TORRES, M. R. Repetência escolar: falha do aluno ou falha do sistema? In: MARCHESI, A.;
GIL, C. H. (Org.). Fracasso escolar: uma perspectiva multicultural. Porto Alegre: Artmed,
2004.
APÊNDICES
Meu nome é Maria Augusta Alves Pimenta. Sou aluna do Programa de Mestrado em
Psicologia da Universidade Católica de Brasília, orientada pela professora doutora Erenice Natália
Soares de Carvalho.
Esta pesquisa consiste na minha dissertação de mestrado e pretende analisar Bloco Inicial de
Alfabetização (BIA) e queixa escolar: Estudo de caso de uma escola pública do Distrito Federal.
Para o cumprimento de seus objetivos, a pesquisa requer a participação de professores alfabetizadores
atuantes no Bloco Inicial de Alfabetização.
Para isso, será preciso realizar reuniões grupais e entrevistas individuais com professores,
pedagogo e psicólogo da instituição escolar, o que requer a aplicação de instrumentos, mediante a
realização de entrevistas semiestruturadas (individualizadas) e grupo focal (reunião grupal), a fim de
permitir discussões e reflexões sobre o tema da pesquisa.
Tais procedimentos ocorrerão na própria escola, nos dias de coordenação coletiva e individual
dos professores.
Os benefícios do estudo poderão esclarecer que a mudança da cultura organizacional na
política de alfabetização em ciclos poderá possibilitar o redimensionamento e a reestruturação das
práticas pedagógicas dos atores escolares, orientando-os para a facilitação dos percursos (modo e
acompanhamento pedagógico) de aprendizagem dos alunos. Contudo, a pesquisa poderá indicar que as
alterações na organização do trabalho escolar do ciclo impactam a produção da queixa escolar (aluno
com problemas de aprendizagem), além de possibilitar reflexões que acercam a organização do tempo
e do espaço escolar em busca da garantia e da construção da qualidade de ensino no Distrito Federal.
Para isso, contamos com a sua colaboração como participante. A participação não é
obrigatória. Caso decida participar, informo que, a qualquer momento, poderá desistir e retirar seu
consentimento. A recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com a pesquisadora ou com a
instituição (Universidade Católica de Brasília – UCB).
Durante todo o período da pesquisa, você tem o direito de tirar qualquer dúvida ou pedir
qualquer outro esclarecimento, bastando para isso entrar em contato com a pesquisadora, a orientadora
ou o Conselho de Ética em Pesquisa da UCB.
As informações fornecidas por meio dos instrumentos aplicados serão confidenciais e serão
divulgadas apenas em eventos ou publicações científicas, não havendo identificação dos voluntários,
sendo assegurado o sigilo sobre sua participação.
233
Os gastos necessários para a sua participação na pesquisa serão assumidos pela pesquisadora.
Fica também garantida indenização em caso de dano comprovadamente decorrente da participação na
pesquisa, conforme decisão judicial ou extrajudicial.
AUTORIZAÇÃO
Nós, professores da Escola Classe de Sobradinho, após a escuta e a leitura deste documento e
de termos tido a oportunidade de conversar com o pesquisador responsável para esclarecer todas as
nossas dúvidas, acreditamos estar suficientemente informados de sermos participantes da pesquisa,
ficando claro que nossa participação é voluntária e que é possível retirarmos este consentimento a
qualquer momento sem penalidades ou perda de qualquer benefício. Estamos cientes também dos
objetivos da pesquisa, dos procedimentos aos quais seremos submetidos, dos possíveis danos ou riscos
deles provenientes e da garantia de confidencialidade e esclarecimentos sempre que desejarmos.
Diante do exposto, expressamos nossa concordância de espontânea vontade em participar deste estudo.
_______________________________________
APÊNDICE C – Questionário para professores alfabetizadores – Etapa III (3º ano BIA)
Caros professores,
As informações fornecidas são essenciais para a qualidade e a validade do estudo e estarão sob
absoluto sigilo, sendo reservadas apenas ao estudo e à análise científica do tema investigado.
Antecipadamente agradeço sua atenção e participação na pesquisa.
1. Nome: _____________________________________________________________________
2. Tipo de vínculo trabalhista: Concurso ( ) Contrato ( ) Idade: _____________________
3. Formação acadêmica:
Ensino superior completo ( ) incompleto ( )
Nome do curso de graduação: ___________________________________________________
Instituição pública ( ) privada ( ) ano de conclusão: __________________________________
Outras habilitações:___________________________________________________________
4. Há quanto tempo atua na escola?_________________________________________________
5. Há quanto tempo atua no magistério? ____e na alfabetização? Seriação ______Ciclos ______
236
ANEXOS
ANEXO
MATUTINO VESPERTINO
SÉRIE/ANO SALA Nº ALUNOS ANEEs SÉRIE/ANO SALA Nº ALUNOS ANEEs
1º ano A 05 20 2 1º ano B SALA 20 4
2º ano A 06 28 1 2º ano B 05 27 1
3º ano A 07 18 3 3º ano D 06 24 4
3º ano B 08 18 3 3º ano E 07 23 3
3º ano C 09 25 3 3º ano F 08 24 2
4º ano A 04 29 2 4º ano C 09 27 1
4º ano B 03 29 2 4º ano D 04 28 2
4ª série A 02 34 3 4ª série C 03 30 1
4ª série B 01 34 1 4ª série D 02 30 1
EE – ATGB EE 2 2 EE (DI) 01 07 09
Total de estudantes matutino 215 22 Total de estudantes vespertino 212 28
Total por turno 237 Total por turno 240
Total Geral – 477
ANEXO
ANEXO
Julho
02 Primeira culminância do Projeto Livros Caindo N’Alma Equipe gestora, coordenadores,
professores, servidores e alunos e
pais
08 Término do 1º semestre letivo e do 2º bimestre -------------------------------------------------
Quarta reunião de pais – 8h-10h – sem aula Equipe. gestora, professores, pais,
Confraternização dos servidores da escola todos os servidores
09 a 24 Recesso escolar Todos
MÊS/DIA ATIVIDADE SEGMENTO
25 Início do semestre letivo ----------------------------------------------
Agosto
08 a 12 Sepai – Semana dos Pais na Escola Professores, alunos, pais e
responsáveis
Setembro
07 Feriado – Independência do Brasil Todos
16 Passeio – formatura 4a série Professores, alunos, pais e
responsáveis
19 a 23 Diagnóstico da psicogênese para o BIA Equipe gestora, coordenadores,
Semana da Inclusão professores
24 Festa da família – sábado Equipe gestora, coordenadores,
professores, servidores e alunos e
pais
26 a 30 Conselho de Classe – 3º bimestre Equipe gestora, coordenadores,
professores
Outubro
03 a 07 Quinta reunião de pais – somente com os prováveis retidos Professores e pais
04 Início do 4 bimestre ------------------------------------------------
10 Festa das crianças – parque da escola Equipe gestora, coordenadores,
professores, servidores e alunos e
pais
11 Festa das crianças – clube Equipe gestora, coordenadores,
professores, servidores e alunos e
pais
12 Feriado Nossa Senhora Aparecida Todos
19 Avaliação pedagógica do semestre Equipe gestora, coordenadores,
professores, servidores e alunos e
pais
29 Confraternização dos servidores da escola. Dia do Professor e Dia do Equipe gestora, coordenadores,
Servidor – jantar dançante professores, servidores
Novembro
02 Feriado – Finados Todos
07 a 11 III Saiec – Sistema de Avaliação Interna da Escola Classe Equipe gestora, coordenadores,
professores, servidores e alunos
14 e 15 Feriado e recesso escolar – Proclamação da República Todos
25 Segunda culminância do Projeto Livros Caindo N’Alma Equipe gestora, coordenadores,
professores, alunos e pais
30 Feriado – Dia do Evangélico Todos
Dezembro
05 a 09 Conselho de Classe – 4º bimestre Equipe gestora, coordenadores,
professores, servidores e alunos e
pais
09 Festa da fantasia/noite do pijama – formatura 4ª série Equipe gestora, coordenadores,
professores, alunos
14 Festa de Encerramento Professores e alunos
15 Sexta reunião de pais Professores e pais
15 Reunião de avaliação 2011 – 14h Equipe gestora, coordenadores,
professores, servidores
16 Confraternização dos servidores da escola Equipe gestora, coordenadores,
professores, servidores
19 Término do ano letivo
ANEXO
PROVINHA BRASIL
MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA AVALIAÇÃO DA ALFABETIZAÇÃO E DO LETRAMENTO INICIAL
2010/2011
1º EIXO Apropriação do sistema de escrita: habilidades relacionadas
à identificação e ao reconhecimento de princípios do sistema
de escrita.
Habilidade (descritor) Detalhamento da habilidade (descritor)
D1: Reconhecer letras. Diferenciar letras de outros sinais gráficos, identificar pelo
nome as letras do alfabeto ou reconhecer os diferentes tipos de
grafia das letras.
D2: Reconhecer sílabas. Identificar o número de sílabas que formam uma palavra por
contagem ou comparação das sílabas de palavras dadas por
imagens.
D3: Estabelecer relação entre unidades sonoras e suas representações Identificar em palavras a representação de unidades sonoras
gráficas. como:
o letras que possuem correspondência sonora única (ex.: p, b, t,
d, f);
o letras com mais de uma correspondência sonora (ex.: “c” e
“g”);
o sílabas.
2 º EIXO Leitura
Habilidade (descritor) Detalhamento da habilidade (descritor)
D4: Ler palavras. Identificar a escrita de uma palavra ditada ou ilustrada, sem que
isso seja possível a partir do reconhecimento de um único
fonema ou de uma única sílaba.
D5: Ler frases. Localizar informações em enunciados curtos e de sentido
completo, sem que isso seja possível a partir da estratégia de
identificação de uma única palavra que liga o gabarito à frase.
D6: Localizar informação explícita em textos. Localizar informação em diferentes gêneros textuais, com
diferentes
tamanhos e estruturas e com distintos graus de evidência da informação, exigindo, em alguns casos, relacionar dados do texto para chegar à
resposta correta.
D7: Reconhecer assunto de um texto. Antecipar o assunto do texto com base no suporte ou nas
características gráficas do gênero ou, ainda, em um nível mais
complexo, reconhecer o assunto, fundamentando-se apenas na
leitura individual do texto.
D8: Identificar a finalidade do texto. Antecipar a finalidade do texto com base no suporte ou nas
características gráficas do gênero ou, ainda, em um nível mais
complexo, identificar a finalidade, apoiando-se apenas na leitura
individual do texto.
D9: Estabelecer relação entre partes do texto. Identificar repetições e substituições que contribuem para a
coerência e a coesão textual.
D10: Inferir informação. Inferir informação.
Observações:
A Matriz de Referência da Provinha Brasil foi revisada para a edição de 2009 e 2011. Por questões técnicas, o descritor 9 não será avaliado.
ANEXO
ANEXO
ANEXO