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Trasga
em Psiquiatria e Psicoterapia Artigo original

Desenvolvimento da versão brasileira do

Teste de feno infantil
Desenvolvimento da versão brasileira
do Teste Hayling Infantil
Larissa de Souza Siqueira,1 Hosana Alves Gonçalves,1
Lilian Cristine Hübner,2 Rochele Paz Fonseca1

Abstrato Resumo

Introdução: O Hayling Test avalia os componentes de iniciação, inibição,
flexibilidade cognitiva e velocidade verbal por meio de uma tarefa de
completar frases. Este estudo apresenta o processo de desenvolvimento
da versão brasileira do Child Hayling Test (CHT) e relata evidências de
sua validade de conteúdo.
Métodos: participaram do estudo 139 pessoas. A adaptação foi realizada
por sete tradutores e 12 juízes especialistas.
Uma amostra inicial de 92 crianças saudáveis foi recrutada para testar
uma seleção de sentenças adaptadas de versões adultas e pediátricas
anteriores do instrumento, e uma amostra de 28 crianças saudáveis foi
recrutada para teste piloto da versão final. O instrumento foi desenvolvido
em sete etapas: 1) tradução, 2) retrotradução, 3) comparação das versões
traduzidas, 4) preparação de novos estímulos, 5) coleta de dados com
crianças saudáveis para análise da compreensão dos estímulos e análises
por os autores frente aos critérios psicolinguísticos adotados, 6) análises
realizadas por juízes especialistas em neuropsicologia ou linguística e 7)
estudo piloto.
Resultados: Vinte e quatro das 72 sentenças construídas foram
selecionadas com base na concordância de 70-100% entre os juízes
avaliando o que avaliaram e o nível de compreensibilidade. O estudo piloto
revelou melhor desempenho das crianças mais velhas, evidenciando a
sensibilidade do instrumento a fatores de desenvolvimento.
Conclusões: Estudos futuros empregando esta versão do CHT com
populações clínicas pediátricas que apresentam lesões e disfunções
frontais e em áreas afins são necessários para testar diagnósticos
funcionais e diferenciais de funções executivas preservadas ou prejudicadas.
Palavras-chave: Testes neuropsicológicos, desenvolvimento de
instrumentos, Child Hayling Test, funções executivas, inibição, iniciação.
Introdução: O Teste Hayling avalia os componentes de iniciação, controle
inibitório, flexibilidade cognitiva e velocidade verbal por meio de uma
tarefa de completar frases. Este estudo apresenta o processo de
desenvolvimento do Teste Hayling Infantil (THI) em português brasileiro,
bem como prova de validação de seu conteúdo.
Métodos: Participaram 139 sujeitos: A adaptação foi realizada por sete
tradutores e 12 especialistas. Uma amostra inicial de 92 crianças foi
selecionada para testar uma seleção de definições adaptadas de versões
anteriores para adultos e crianças, e uma amostra de 28 crianças foi
selecionada para testar um número de estudo piloto. Sete análises foram
analisadas a partir de estudos estudados: 1) análise retrospectiva de
estudos, 3) comparação entre estudos de estudos, 5) estudos de estudos
de estudos para estudos de estudos de estudos e estudos de estudos, 6)
Análise de juízes especialistas em neuropsicologia e linguística, e 7)
estudo piloto.
Resultados: Das 72 frases construídas, selecionaram-se 24 que
concordaram de 70 a 100% entre os juízes construídos que avaliam e
quanto ao grau de compreensão. O estudo piloto revelou o melhor
desempenho nas crianças mais velhas, dando indícios da sensibilidade
do instrumento aos fatores mentais.
Con: Os estudos futuros que utilizam as funcionalidades infantis utilizam
esta versão infantil que apresentam as necessidades e as funções frontais
e as aletas de diagnóstico e diferenciais de áreas de dificuldade de
administração preservadas ou divisões.
Descritores: Testes neuropsicológicos, funções executivas,
desenvolvimento, iniciação.

Introdução evidência de sua validade de conteúdo. Esta versão foi inspirada nas versões
brasileira e inglesa para adultos1,2 e na versão argentina do Hayling Test, que
O objetivo deste estudo é descrever o processo de desenvolvimento do é para
Child Hayling Test (CHT) e apresentar Crianças.3

1 Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Grupo Neuropsicologia Clínica e Experimental, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto

Alegre, RS, Brasil. 2 Programa de Pós-Graduação em Letras, Departamento de Estudos Linguísticos, PUCRS, Porto Alegre, RS, Brasil.
Este artigo é baseado na tese de doutorado da primeira autora intitulada “Teste Hayling Infantil: desenvolvimento, efeitos de idade e tipo de escola e psicométricas”, apresentada em 2014 na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.
Apoio financeiro: Pró Bolsas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Apresentado em 25 de fevereiro de 2015, aceito para publicação em 09 de março de 2016. Não foram declarados conflitos de interesse relativos à publicação deste artigo.
Citação sugerida: Siqueira LS, Gonçalves HA, Hübner LC, Fonseca RP. Desenvolvimento da versão brasileira do Child Hayling Test. Tendências Psiquiatria Psicoterapeuta. 2016;38(3):164-174. http://
dx.doi.org/10.1590/2237-6089-2016-0019

APRS Tendências Psiquiatria Psicoterapeuta. 2016;38(3) – 164-174

164
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O Hayling Test é uma tarefa de conclusão de frases em duas partes em
que a última palavra de cada frase está faltando. Na parte A, a tarefa é
completar a frase usando uma palavra que fará com que a frase faça sentido.
Nesse caso, tanto o contexto sintático quanto o contexto semântico da
sentença são propícios à ativação de uma palavra que é frequentemente
utilizado e coerente em termos do campo semântico do
frase. Na parte B, a palavra fornecida não deve estabelecer uma relação
significativa com o restante da frase. O examinando deve inibir a resposta
dominante (lógica, coerente) e escolher uma palavra que não esteja
relacionada ao contexto sintático e ao contexto semântico sugerido pela
sentença incompleta.1 As versões foram adaptadas para administração a
adultos em vários idiomas,1, 2 mas, surpreendentemente, parece haver
apenas duas versões para a população pediátrica, uma versão argentina3 e
o italiano Junior Hayling Test.4 Existem também versões modificadas
projetadas para serem administradas com neuroimagem.5,6
Considerando que as funções executivas (FE) são um conjunto de
processos de ordem superior que servem para organizar o comportamento e
adaptá-lo ao contexto e aos objetivos individuais7,8 e que essas funções
surgem na infância e continuam a se desenvolver até a adolescência,9 há
inquestionavelmente um necessidade de ferramentas verbais para avaliar a
FE para fins clínicos e de pesquisa.
Essa necessidade é ainda mais aguda quando se trata de
instrumentos úteis para investigar os componentes da FE de iniciação, inibição
e flexibilidade cognitiva de forma adequada ao cenário cultural, social e
linguístico do Brasil e particularmente em amostras de crianças. Os distúrbios
da função executiva podem impactar a funcionalidade do paciente, afetando
suas interações sociais e gerando dificuldades psicossociais e funcionais.8 O
Hayling Test (HT)1 permite examinar os processos de iniciação e inibição em
resposta a estímulos verbais. A complexidade desses componentes da FE e
suas relações com a linguagem oral reforçam a necessidade de
desenvolvimento de ferramentas capazes de examinar processos controlados
versus automáticos na avaliação neuropsicológica pediátrica.
A especificidade do HT permite a avaliação comparativa de vários
componentes da FE. Utilizando uma única forma simbólica (verbal), é possível
detectar dissociações no desenvolvimento dos componentes de iniciação e
inibição com índices de flexibilidade cognitiva que podem caracterizar quadros
neurológicos e psiquiátricos. Distúrbios da FE, como no planejamento e
inibição da resposta.13
Isso destaca o valor clínico do HT. A teoria do Supervisory Attentional System
(SAS), desenvolvida por Norman & Shallice,14 é a teoria mais aceitável para
explicar os processos cognitivos subjacentes à realização das partes A e B do
HT.15 Do ponto de vista do processamento da informação, Norman &
Shalice14 adotaram a distinção entre processamento automático e controlado
em paralelo
A versão brasileira do Child Hayling Test - Siqueira et al.
ao processamento cognitivo exigido no dia a dia e em casos de solução de
problemas em novas situações.
O SAS é um conjunto de processos cognitivos envolvendo iniciação,
geração de estratégia orientada a objetivos e avaliação do desempenho
necessário para executar tarefas cognitivas complexas não utilizadas no dia a
dia ou ainda não aprendidas. Este sistema é ativado quando a atuação
automática de pistas familiares é incapaz de selecionar quadros de
pensamentos e de ações automáticas que possam efetivamente atingir um
objetivo. Nesse caso, as ações automáticas de pensamentos sequenciais são
inadequadas ou insuficientes, exigindo que novos comportamentos sejam
planejados e monitorados para alcançar um desempenho satisfatório na
tarefa.14,16
Dentro de uma perspectiva neuropsicológica cognitiva, reconhece-se que
o HT fornece uma medida da capacidade de criar estratégias visando a
realização de tarefas.3,17,18 A incapacidade de gerar estratégias adequadas
causa mau desempenho no HT na forma de erros.18
Além disso, a aplicação de testes neuropsicológicos para avaliação da FE é
importante para a análise dos componentes envolvidos em diferentes idades
do desenvolvimento.
Estudos com amostras de crianças com desenvolvimento típico que
administraram instrumentos para medir a FE, incluindo o HT, mostraram
efeitos significativos da idade em todos os subitens do desempenho executivo,
principalmente na inibição . planejamento, inibição e automonitoramento de
tarefas de FE.20 Desempenho significativamente menor no HT foi relatado em
estudos com crianças que têm dificuldades com compreensão de texto,
sugerindo que a relação entre compreensão de leitura e memória de trabalho
pode depender de habilidades para inibir informações irrelevantes .21,22
Nem sempre é fácil identificar consistentemente déficits indicativos de
processos executivos anormais usando testes validados que representam o
comportamento diário.23 Estudos com crianças com transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH) apontam para anormalidades no domínio dos
processos de FE inibitórios e atencionais, como geração e uso de estratégias
e controle comportamental.4,24-26
Além da sensibilidade do HT para avaliação de crianças com TDAH,
também é um importante instrumento para avaliar o comprometimento
executivo na esquizofrenia,27 no autismo,20 e em outros quadros clínicos,28,29
demonstrando sua utilidade para o diagnóstico de disfunções executivas e
cognitivas . No entanto, pesquisas com crianças com desenvolvimento típico
ainda são necessárias, pois tais estudos são fundamentais para definir normas
e identificar fatores biológicos e socioculturais relacionados aos processos
cognitivos e executivos.
Estudos com crianças no final da infância usando a versão adulta do
HT2 e outras tarefas de avaliação da FE sugerem
a existência de correlações entre medidas de FE
Tendências Psiquiatria Psicoterapeuta. 2016;38(3) - 165
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A versão brasileira do Child Hayling Test - Siqueira et al.

componentes, principalmente entre os escores de inibição e
flexibilidade cognitiva.30 Entretanto, outro estudo31
recomendou a adaptação do teste para amostras de crianças,
uma vez que a versão adulta mostrou-se pouco sensível para
diferenciar grupos de participantes em idade escolar.
Em comum com o HT, existem outros instrumentos de avaliação
neuropsicológica conhecidos nacional e internacionalmente que se destinam
à investigação de processos executivos como iniciação, inibição, velocidade
de processamento e flexibilidade cognitiva.
Como pode ser observado na revisão aqui apresentada, a disponibilização
de instrumentos verbais de avaliação neuropsicológica de administração
rápida e fácil, como é o caso do HT, deve contribuir para o refinamento do
perfil das funções cognitivas, mais especificamente, dos subprocessos de EF.
Além disso, a adaptação deste instrumento para amostras em idade escolar
de língua portuguesa do Brasil deve ajudar no desenvolvimento de diagnósticos
mais precisos de disfunções executivas, prognósticos, planejamento e
execução de programas de treinamento direcionados a professores e clínicos
e reabilitação neurocognitiva.

Dentre estes, os mais amplamente adotados estão fundamentados em

paradigmas verbais, medidas de fluência verbal, testes do tipo go no go, digit
span e n-back verbal-auditivo.32,33
No entanto, devido ao fato de nenhum deles ser bidirecional como o HT, a
identificação de dissociações entre processos automáticos e controlados é Métodos
um desafio, que é superado pelo HT. O Trail Making Test (TMT) é um
interessante equivalente ao HT que se baseia em um paradigma não verbal.34 Este estudo foi realizado em 7 etapas, cada uma delas empregando
amostras e procedimentos específicos. A Figura 1 ilustra as etapas de
desenvolvimento do CHT.

Estágio 1
Tradução

Estágio 2
Retrotradução

Estágio 3
Análise do autor
Comparação de traduções

Estágio 4
Desenvolvimento de novos estímulos de teste

Estágio 5
Administração de 72 estímulos a crianças da população-alvo
Análise de possíveis respostas a cada estímulo
Avaliação de características psicolinguísticas
Seleção de 24 frases para a versão final do teste

Estágio 6
Análise por juízes especialistas Análise do autor
Avaliação da equivalência psicolinguística entre estímulos

Estágio 7
Estudo piloto

Figura 1 - Fluxograma ilustrativo do desenvolvimento do CHT.

Amostra Participaram de uma etapa de coleta de dados 92 crianças saudáveis,

representando a população-alvo, e 28 crianças saudáveis foram recrutadas
Toda a amostra foi composta por cento e trinta e nove participantes, para o estudo piloto.
conforme segue. Sete tradutores participaram dos procedimentos gerais de Dois tradutores participaram da etapa 1, tradução direta. Dois tradutores
tradução, 12 especialistas atuaram como juízes na etapa de avaliação, bilíngues, falantes nativos do português brasileiro e com alto nível de

166 – Tendências Psiquiátricas Psicoterapêuticas. 2016;38(3)

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proficiência em espanhol e/ou inglês foram envolvidos na etapa 2,
retrotradução. Mais três tradutores participaram da etapa 3, comparação de
traduções. Na etapa 4, os autores do instrumento construíram novos estímulos,
utilizando livros infantis e cartilhas escolares para garantir que o vocabulário
adequado para amostras de
crianças foi usado.
Na etapa 5, participaram 92 crianças saudáveis, sendo 56 em escolas
públicas e 36 em escolas particulares. A média de idade foi de 8,90 (desvio
padrão [DP] = 1,87) e tinham um percentil de Raven médio de 83,23 (DP =
15,66) para habilidades intelectuais. Esses participantes apresentaram baixas
taxas de hiperatividade e/ou desatenção, de acordo com os escores do
Questionário Abreviado de Conners (média [M]
= 3,45; DP = 4,72).
Oito juízes especialistas em neuropsicologia e quatro especialistas em
psicolinguística participaram da etapa 6, análise por juízes especializados. No
estudo piloto (estágio 7), foram avaliadas 28 crianças com desenvolvimento
típico. Eles foram distribuídos uniformemente de acordo com a idade, ano
escolar e tipo de escola, da seguinte forma: duas crianças para cada ano de
idade (de 6 a 12 anos) e para cada série escolar (de 1ª a 7ª) e uma criança
de cada tipo de escola (pública e privada), perfazendo um total de 28 crianças
saudáveis na amostra. A única exceção a essa distribuição foi que quatro
crianças de 6 anos
foram incluídos porque, enquanto os filhos de outros
as idades podem ser matriculadas em diferentes séries escolares (por
exemplo, crianças de sete anos podem estar na 1ª ou 2ª série), crianças de
seis anos não podem ser matriculadas em nenhuma outra série que não a
primeira. Isso possibilitou atender ao critério de inclusão de estar cursando
pelo menos o 1º ano letivo.
Procedimentos e instrumentos
Primeiramente, os autores do instrumento original, a
versão inicial para adultos, foram contatados.35 Eles
autorizaram o desenvolvimento desta versão brasileira para
crianças. Embora existam duas versões infantis – a italiana e
a argentina – o acesso aos estímulos só foi obtido a partir da
segunda delas. As sete etapas realizadas para desenvolver
o instrumento adaptado, conforme ilustrado na Figura 1, são
Descrito abaixo.
Tradução; retrotradução; comparação de traduções; e ajustes
linguísticos às instruções, pontuando normas e estímulos (estágios 1, 2
e 3). As versões para adultos (inglês)1 e para crianças (argentino)3 passaram
pelos processos de tradução, retrotradução, comparação de
A versão brasileira do Child Hayling Test - Siqueira et al.
traduções e ajustes linguísticos das instruções do teste. A partir da versão
adulta do português brasileiro2 como ponto de partida, foram feitos ajustes
nas instruções das duas partes (A e B) e nas normas de pontuação para
adaptá-las à população pediátrica.
As duas versões internacionais foram cada
traduzido por tradutor com comprovada proficiência nos idiomas envolvidos.
As retrotraduções foram realizadas por dois bilíngues falantes nativos do
português brasileiro e com nível avançado de proficiência nas línguas
estrangeiras (um em espanhol e outro em inglês). Os autores do Junior
Hayling Test4 foram contatados e autorizaram a utilização de sua versão
como inspiração para o desenvolvimento da versão infantil brasileira, mas
apenas a versão adulta em inglês1 e a versão infantil em espanhol3 foram
traduzidas.
Três tradutores participaram da comparação das traduções. Dois deles
atuaram como juízes independentes das versões iniciais em português do
Brasil e
o terceiro tradutor foi usado para chegar a um consenso
em estímulos e instruções em que os dois juízes
não havia chegado a um consenso.
Construção de novos estímulos (etapa 4). Os autores prepararam
novos estímulos (frases) e implementaram ajustes sintáticos, semânticos e
pragmáticos nas instruções para a primeira versão do CHT, de acordo com
as versões adultas brasileiras e inglesas originais1,2 e/ou a versão argentina.3
Esse processo de preparação aderiu a determinados critérios, incluindo
julgamentos sintáticos e semânticos das frases, e adaptação para se adequar
às fases do desenvolvimento sintático na infância, à frequência do vocabulário
das crianças brasileiras e às características morfossintáticas do português
brasileiro.
Para isso, buscou-se estímulos alternativos em
materiais como livretos e livros para crianças.
Ao contrário da versão adulta,2 em que substantivos, adjetivos e advérbios
são aceitos para completar as frases de forma coerente, os estímulos
escolhidos para a versão infantil são completados exclusivamente com
substantivos. O objetivo dessa etapa foi atender aos critérios linguísticos de
adaptação ao meio sociocultural e às fases do desenvolvimento da criança
brasileira. Ao final desta etapa, 72 sentenças foram preparadas para uma
versão piloto. Destes, quatro foram baseados na versão argentina para
crianças e dois na versão adulta brasileira, em termos de semântica e/
ou aspectos sintáticos (Tabela 1). Os autores do instrumento, que são
psicolinguistas, psicólogos, neuropsicólogos e fonoaudiólogos, criaram as
demais frases.
Tendências Psiquiatria Psicoterapeuta. 2016;38(3) - 167
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A versão brasileira do Child Hayling Test - Siqueira et al.
Tabela 1 - Frases adaptadas de versões anteriores do Hayling Test
frase original
Versão argentina³
Julián tomou uma aspirina para a dor no...
Assim que o fogo começou, eles chamaram o...
Os meninos estavam lendo um novo...
Antes de dormir, a mulher desligou todos os...
Versão brasileira²
O jogador de futebol fez...
O menino chutou a bola no...
A cozinheira colocou o bolo no...
* Esses exemplos foram todos traduzidos para o inglês “literalmente”.
Administração dos 72 estímulos a crianças saudáveis representativas
da população alvo; identificação de possíveis respostas e julgamento
dos critérios psicolinguísticos das sentenças; seleção de 24 frases para
a versão final; e implementação de um estudo para análise de novos
estímulos (etapa 5). Uma amostra de 92 crianças de ambos os sexos foi
selecionada para participar desta fase de desenvolvimento do instrumento. As
idades variavam de 6 a 12 anos e estudavam em escolas públicas ou privadas
e, portanto, correspondiam ao perfil da população-alvo da versão brasileira do
CHT. Os pais dessas crianças assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido e preencheram um questionário com informações sociodemográficas
e de saúde.
informações relacionadas.36 Este instrumento foi útil para
seleção dos participantes, pois permitiu aos pesquisadores identificar crianças
com distúrbios neurológicos e/ou psiquiátricos, ou com problemas sensoriais
não corrigidos, entre
outros critérios de exclusão. Os professores responderam a Conners
Questionário abreviado,37 com o objetivo de identificar crianças com sinais de
possível desatenção e hiperatividade em sala de aula.
O primeiro conjunto de frases elaboradas como parte do desenvolvimento
do CHT foi administrado às 92 crianças recrutadas. As crianças de 6 a 7 anos
foram solicitadas a dizer duas palavras que fizessem sentido com o conteúdo
de cada frase, enquanto as crianças maiores foram solicitadas a responder
por escrito. As sentenças foram administradas às crianças de 6 a 7 anos
individualmente e às crianças de 8 a 12 anos em grupos. Teste de Matrizes
Progressivas de Raven 38
também foi administrado a esses participantes a fim de excluir crianças com
evidências de possíveis déficits intelectuais. Após essa etapa, as frequências
de respostas de cada sentença foram analisadas por meio do Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS), versão 17.0, e as sentenças foram
classificadas. Foram observados critérios psicolinguísticos, como o nível de
restrição semântica em termos de estrutura da frase (por exemplo,
concordância em número e gênero), bem como os significados de
168 – Tendências Psiquiátricas Psicoterapêuticas. 2016;38(3)
Frase correspondente no Teste de Hayling Infantil*
O avô tomou um remédio para a dor no...
O bombeiro apagou...
A aluna escolheu um livro de histórias da...
Antes de dormir, a criança coloca um...
O jogador de futebol fez...
A senhora colocou os biscoitos em uma...
as palavras fornecidas como respostas. Além disso, para garantir que o
instrumento atingisse seu objetivo (examinar componentes executivos verbais),
também foram considerados a complexidade e extensão sintática, se os
verbos eram transitivos ou intransitivos e se tomavam objetos diretos e/ou
indiretos. Vinte e quatro das 72 sentenças elaboradas para o estudo piloto
foram selecionadas para a versão final do instrumento. Os variados níveis de
complexidade sintática das frases dos instrumentos originais foram mantidos.
A atenção também foi dedicada ao equilíbrio das estruturas sintáticas entre as
partes A e B, para controlar as demandas linguísticas e cognitivas envolvidas
no processamento da conclusão de frases em cada uma das partes.
Análise por juízes especializados (etapa 6).
Psicólogos, fonoaudiólogos e linguistas especializados em neuropsicologia
analisaram os conjuntos de instruções e estímulos. Na primeira etapa, os
juízes opinaram sobre quais componentes neuropsicológicos ou FE estavam
sendo avaliados predominantemente.
Os juízes foram instruídos a numerar um ou mais componentes cognitivos e
indicar quais componentes estavam sendo predominantemente avaliados
pelos conjuntos de instrução e estímulos das partes A e B. Os componentes
identificados foram iniciação, inibição, velocidade de processamento,
flexibilidade cognitiva e léxico-semântico em processamento.
Na segunda etapa, os juízes especialistas avaliaram a adequação dos
estímulos às tarefas e se representavam os processos avaliados. Para esta
etapa, foram julgados 11 pares de sentenças, sendo que uma delas foi
eliminada após a manifestação dos juízes. Ao final, os juízes responderam a
duas perguntas perguntando se as sentenças seriam de fácil compreensão.
Foram incluídos os estímulos com pelo menos 80% de concordância dos
juízes. Assim, o instrumento foi avaliado quanto aos componentes executivos
que avaliou, quanto à sua adequação à população-alvo, à compreensibilidade
dos estímulos e à sua representatividade dos processos avaliados. Isso foi
também
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avaliada de acordo com os comprimentos em número de palavras de seus
estímulos e em termos da equivalência sintática entre pares de sentenças,
para comparar as duas partes do teste. Além disso, os juízes fizeram
sugestões para melhorias nas instruções do teste.
Estudo piloto com aplicação da versão final do instrumento a 28
crianças de 6 a 12 anos, de escolas públicas e privadas (etapa 7). Vinte
e quatro das frases do estudo piloto foram selecionadas para a versão final.
Após análise das considerações dos juízes e sugestões dos autores, a versão
final do teste foi aplicada individualmente a uma amostra piloto composta por
28 crianças (caracterizadas na subseção “amostra” acima). O objetivo do
estudo piloto foi estimar o tempo necessário para aplicação e verificar a
compreensão das instruções e das respostas das crianças. Além disso, o
estudo piloto forneceu aos autores evidências preliminares sobre o nível de
dificuldade do instrumento como um todo, ajudando a evitar os efeitos teto e
piso.39 Não foram necessárias modificações, pois os 28 participantes não
apresentaram dificuldades na realização do teste. Neste ponto, o
desenvolvimento da versão CHT
a ser normalizado foi concluído.
Análise de dados
Na etapa apresentada na etapa 5 do fluxograma, utilizou-se o SPSS
17.0 para realizar uma análise da frequência de respostas fornecidas para
cada uma das frases. As sentenças foram então classificadas de acordo com
essas respostas com base na restrição semântica, complexidade sintática e
comprimento da sentença. Com base na distribuição das frequências de
ocorrência das diversas palavras e campos semânticos em cada frase, os
autores classificaram empiricamente cada frase como “restritiva” (aquelas
que restringiam fortemente a palavra mais escolhida para completar a frase),
“intermediariamente restritiva” ou “fracamente restritivo” (frases com maior
número de respostas possíveis).
Foi realizada análise estatística descritiva com percentuais de respostas
e cálculo da taxa de concordância entre os juízes. O número de itens com os
quais os juízes concordaram foi dividido pelo número total de itens,
considerando o ponto de corte mínimo de 80% de concordância, para
evidenciar a validade de conteúdo.40,41
Resultados
Os resultados são apresentados de acordo com as etapas de
o processo para desenvolver o CHT.
A versão brasileira do Child Hayling Test - Siqueira et al.
Etapas 1, 2 e 3: tradução, retorno
-tradução e comparação de traduções
As instruções para as versões CHT geradas pela tradução e retrotradução
foram adaptadas para o português brasileiro. Essas versões traduzidas
apresentaram semelhanças, como 15 frases em cada uma das partes (A e
B), frases com comprimentos variados, terminando com artigos, preposições,
adjetivos, pronomes ou verbos.
Etapa 4: construção de novos estímulos
Os autores do CHT criaram novos estímulos baseados
nos critérios de familiaridade e facilidade de completar sentenças. As frases
foram inspiradas nos estímulos dos instrumentos para crianças existentes (o
Junior Hayling Test; a versão em espanhol do Hayling Test para crianças)3,4
e em tópicos do dia-a-dia que possam interessar às crianças de 6 a 12 anos.
os estímulos também devem oferecer a sensibilidade necessária para
diagnosticar o comprometimento executivo.
As instruções baseadas nos instrumentos existentes foram mantidas, com
algumas adaptações para se adequar à situação sociolinguística das crianças
brasileiras.
Etapa 5: administração dos 72 estímulos a
crianças saudáveis que representam a
população alvo
Cada frase foi classificada com base em uma restrição
nível de acordo com a frequência de respostas dadas
a cada um deles. A Tabela 2 resume como os 72
sentenças do estudo piloto inicial foram classificadas.
Após essa análise, 24 sentenças foram selecionadas para o
versão final e classificada para estabelecer sentença
equivalência entre as partes A e B. Foram adotados os critérios de restrição
semântica, extensão e complexidade sintática e respeitados os critérios
utilizados para o Junior Hayling Test4 .
A parte A compreende 10 frases incompletas que a criança deve
completar com uma palavra que faça sentido dentro do contexto da frase,
mais duas frases para praticar. A parte B é composta por 10 frases incompletas
a serem completadas pela criança com uma palavra que não faz sentido no
contexto da frase e, em comum com a parte A, também contém 2 frases de
treino.
Etapa 6: análises de juízes especializados
As taxas de concordância entre o juiz especializado
para os dois estágios são mostrados nas Tabelas 3 e 4.
A maioria das sentenças propostas para a Parte A foram
julgadas pelos juízes especializados como avaliando a iniciação. Em um
Tendências Psiquiatria Psicoterapeuta. 2016;38(3) - 169
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A versão brasileira do Child Hayling Test - Siqueira et al.

Da mesma forma, os juízes especializados avaliaram a maioria das No entanto, a sentença 8 da Parte B atingiu apenas um índice de
sentenças propostas para a Parte B como avaliando a inibição. concordância de 60,0%, resultando na exclusão desta sentença.

Tabela 2 - Nível de restrição das sentenças do estudo piloto CHT

Nível de restrição de sentença Definição Porcentagem de frases Exemplo de frase

Alta restrição 1 Todas as respostas dentro 22,53 Antes de dormir, a criança coloca
de um único campo semântico, um...
a maioria composta pela mesma No dia do casamento, a noiva usa
palavra, que responde por pelo um...
menos 80% das respostas.
Alta restrição 2 Todas as respostas dentro de um 16/11 O avô tomou um remédio para a dor
único campo semântico, composto no...
por palavras que são produzidas
com uma distribuição de frequência O jogador de futebol chutou a bola
mais uniforme. no...

Todas as respostas dentro de um O agricultor ordenha o...

Restrição intermediária 1
dos dois campos semânticos, um 35.21 O menino derramou o suco em um...
dos quais responde por pelo
menos 80% das respostas.
Restrição intermediária 2 Todas as respostas dentro de 12,68 A senhora colocou os biscoitos
um dos dois campos semânticos, em uma...
que respondem por uma proporção O homem guarda seu dinheiro
aproximadamente semelhante de em um...
respostas (50%).
Baixa restrição 1 A maioria das respostas dentro de 12,68 O menino mordeu...
um campo semântico (50%), sendo A tempestade derrubou o...
as demais respostas provenientes de
várias outras categorias.

Baixa restrição 2 Respostas provenientes de 5,74 No meu quarto tem muitos...

vários campos semânticos,
nenhum dos quais predomina sobre os No meu aniversário, foram muitos...
demais.

Tabela 3 - Resultado das análises dos juízes especializados Com base nas análises dos juízes especializados e em suas sugestões,
sobre a função cognitiva/executiva avaliada por cada estímulo
os estímulos e instruções foram revisados e modificações foram feitas. Todas
Cognitivo/
função executiva avaliada Acordo (%)
as mudanças foram feitas para tornar as sentenças administráveis para
Estímulos crianças de 6 a 12 anos. As sentenças da Parte A sofreram redução sintática,
Parte A – frases 1 a 5 exclusão de adjetivos e mudanças nos artigos e verbos, e processo
Iniciação 90,0
semelhante foi aplicado na Parte B. No entanto, cuidados foram tomados
Parte A - frases 6, 7 e 11
Iniciação 80,0 manter os critérios de controle sobre estruturas sintáticas e léxico-semânticas

Parte A – frases 8 a 10 e equivalência entre as partes A e B, bem como em relação ao teste original.
Iniciação 70,0

Parte B - frases 1 a 4
Inibição 80,0

Parte B – sentenças 5 a 7, 9
Inibição 70,0 As alterações feitas nas instruções do CHT tiveram como objetivo facilitar
e 11
Parte B - frase 8 Inibição 60,0 a compreensão do teste, além de enfatizar as regras das tarefas (completar
frases rapidamente, dizer apenas uma palavra e as diferenças entre as partes

Tabela 4 - Resultado da análise de juízes especializados quanto à A e B).

compreensibilidade das instruções e estímulos
Estímulos Acordo (%)

Parte A - frases 1, 2, 4, 6 a 10 100,0 Etapa 7: estudo piloto

Parte A - frases 3, 5 e 11 90,0

Parte B - frases 1 e 2 90,0 A Tabela 5 lista dados descritivos para os resultados de

Parte B - frases 3 a 11 100,0 administração da versão final do CHT no
Frases adequadas 90,0 estudo piloto, mostrando escores que indicam o desempenho da amostra.
Instruções adequadas 90,0

170 – Tendências Psiquiátricas Psicoterapêuticas. 2016;38(3)

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A versão brasileira do Child Hayling Test - Siqueira et al.

Os dados apresentados na Tabela 5 mostram que os participantes não
tiveram dificuldades na realização do teste. Em geral, os resultados do estudo
piloto demonstram que as instruções foram bem compreendidas pelos
participantes e que suas respostas parecem ter sido as esperadas para a
idade e os objetivos do instrumento. O tempo médio de administração e
pontuação foi de 10 minutos. Considerando o desempenho de acordo com
idade, os participantes do estudo piloto apresentaram desempenho semelhante
em termos de tempo e erros em ambas as partes do CHT. No entanto, na
Parte B há evidências preliminares de melhora gradual à medida que a idade
aumenta, principalmente na variável tempo. Em relação ao tipo de escola, as
crianças das escolas particulares cometeram menos erros e cumpriram a
tarefa em menor tempo do que as das escolas públicas.

Tabela 5 - Desempenho dos participantes no estudo piloto do Child Hayling Test, discriminado por idade e tipo de escola (n = 28)
Variáveis no Teste de Hayling Infantil (média ± desvio padrão)
Parte A - hora Parte A - erros Parte B - hora Parte B - erros

Era
6 anos (n = 4) 7 24,66±6,83 0,75±0,96 44,25±5,34 6,00±2,58

anos (n = 4) 17,45±4,80 0±0 40,70±7,12 4,50±0,70

8 anos (n = 4) 20,68±8,01 0±0 42,27±11,69 7,50±0,70

9 anos (n = 4) 14,13±5,37 0±0 56,92±55,05 3,00±1,41

10 anos (n = 4) 11,07±0,95 0±0 37,49±4,99 5,00±2,83

11 anos (n = 4) 12 11,07±0,95 0±0 37,49±4,99 2,00±0

anos (n = 4) 15,38±0,80 0±0 27,77±3,69 1,50±0,70

Tipo de escola
Privado (n = 14) 16,99±4,83 0±0 41,67±23,66 4,13±2,16

Público (n = 14) 18,52±8,07 0,50±0,76 38,69±10,94 4,75±2,92

Discussão novos instrumentos. Este é um entrave para a escolha dos procedimentos

Este artigo descreve o processo de desenvolvimento de uma tarefa
padronizada, projetada de acordo com critérios rigorosos para avaliar os
componentes de iniciação e inibição da FE.
Os resultados indicam que esse processo atendeu a critérios psicométricos
que garantem a validade do instrumento.
Há uma preocupação crescente entre clínicos e pesquisadores em
desenvolver e validar testes refinados para avaliar o desempenho em tarefas
cognitivas específicas.39,42 Mais especificamente, a atenção tem sido
dedicada à seleção de estímulos, à modificação e à adaptação para populações
metodológicos a serem realizados e é uma dificuldade que foi mencionada por
Argollo et al.44 ao descreverem o processo de adaptação transcultural de uma
bateria neuropsicológica para crianças - NEPSY (A Developmental
NeuroPSYchological Assessment). Como resultado, as etapas de
desenvolvimento da versão infantil do HT foram baseadas em critérios adotados
pelos autores, levando em consideração aspectos linguísticos e culturais, bem
como características de desenvolvimento do
crianças brasileiras.

específicas, levando em conta suas características culturais, sociais e
status socioeconômico em consideração.43
O projeto de desenvolvimento do CHT faz parte do campo
de pesquisa dedicada ao investimento em novos recursos
para o diagnóstico de habilidades cognitivas. Esse processo rico e complexo
permite que os profissionais cheguem a avaliações de constructos
neuropsicológicos, além de possibilitar a troca de informações entre
comunidades científicas, inclusive em estudos internacionais.44
Apesar da crescente preocupação com a administração de tarefas
neuropsicológicas mais adequadas a cada amostra populacional, até onde
sabemos não há padronização das etapas que devem ser realizadas na
adaptação transcultural ou na construção de
Revisão sistemática realizada por Fonseca et al.39 analisou o processo
de adaptação de instrumentos verbais e constatou que as etapas comumente
adotadas são tradução, retrotradução, julgamentos por especialistas
(profissionais especialistas nas áreas de abrangência do instrumento) e
administração em estudos piloto .
No entanto, alguns estudos apresentam maior preocupação em garantir a
adequação dos estímulos às condições sociolinguísticas e culturais do país
em que o instrumento adaptado será aplicado. No processo de desenvolvimento
do CHT, esses aspectos foram considerados extremamente necessários, uma
vez que o instrumento foi adaptado de versões internacionais. Além de atender
a esses critérios, também foi tomado cuidado com os critérios psicolinguísticos
para garantir a equivalência dos estímulos.

Tendências Psiquiatria Psicoterapeuta. 2016;38(3) - 171

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A versão brasileira do Child Hayling Test - Siqueira et al.
O rigor metodológico é essencial quando se trata dos aspectos
linguísticos da adaptação do instrumento, ou seja, quando os estímulos
linguísticos são utilizados para examinar as funções cognitivas. Isso ocorre
porque as especificidades linguísticas e culturais podem limitar a aplicação e
análise posterior de alguns testes.45,46 O CHT parece ter sido bem adaptado,
de acordo com os critérios psicolinguísticos descritos por Altmann47 e
Berman.48
No processo de desenvolvimento do CHT, os procedimentos de tradução
empregados incluíram a tradução direta e comparada.49 Embora a tradução
seja, em geral, o primeiro procedimento realizado em um processo de
adaptação de instrumento, ela não é por si só suficiente para garantir a
adequação da versão adaptada. Acevedo et al.50 propuseram orientações
gerais para o processo de adaptação de instrumentos neuropsicológicos
verbais e não verbais para o espanhol, enfatizando a importância de distinguir
tradução literal e adaptação. Isso ocorre porque a tradução direta resulta em
expressões não ajustadas, o que pode prejudicar a mensuração dos
componentes cognitivos alvo. Da mesma forma, é muito importante adaptar
também as instruções, ou seja, neste caso, elas devem ser modificadas para
torná-las mais compreensíveis para as crianças, sem alterar o construto
avaliado.51
Segundo Wilson,52 as baterias neuropsicológicas não favorecem o
controle ou manipulação de variáveis como os estímulos utilizados para
avaliação, incluindo, por exemplo, frequência lexical, familiaridade e categoria
gramatical. Janczura et al.53 e Stein & Gomes54 também enfatizam a
importância da padronização por meio de listas de familiaridade para o
português brasileiro. Esses autores mencionam que regras de concretude,
associações semânticas de palavras, frequências de palavras, entre outras,
permitem que o pesquisador avance nos estudos de função cognitiva,
utilizando materiais adequados e, consequentemente, refinando a qualidade
e confiabilidade dos resultados. Nesse contexto, considerou-se necessária a
etapa de aplicação de 72 estímulos candidatos a crianças saudáveis,
representativas da população-alvo, para a coleta de critérios psicolinguísticos
relevantes para cada sentença do instrumento. Por meio dessa etapa foi
possível classificar as sentenças criadas para o CHT de acordo com o nível
de restrição das respostas e, posteriormente, detectar quais sentenças eram
adequadas para as etapas subsequentes do processo de desenvolvimento e
adaptação.
A etapa de análise por juízes especialistas foi incluída por ser um
procedimento comumente encontrado em estudos de adaptação, como nas
adaptações transculturais da NEPSY Battery,44 da Wechsler Adult Intelligence
Scale, terceira edição (WAIS-III) e da Wechsler Intelligence Scale for Children,
terceira edição (WISC-III) Scales,55 e o Brief Battery of Communication
Assessment MAC.51 A análise por juízes especialistas pode ser comparada a
172 – Tendências Psiquiátricas Psicoterapêuticas. 2016;38(3)
a análise teórica dos itens que, na psicometria, segundo Pasquali,56 visa
avaliar a hipótese de que cada item representa adequadamente o construto.
Para complementar o processo de desenvolvimento do teste, foi realizado
o estudo piloto para verificar se era necessário alterar frases e fornecer uma
tempo total estimado de administração. Discriminativo
e rápido para administrar tarefas são clinicamente úteis para avaliação de
crianças em idade escolar. Segundo Fonseca et al.,39 a literatura não indica
o tamanho ideal da amostra para um estudo piloto. Este estudo CHT teve
como objetivo avaliar crianças saudáveis com as idades e características
educacionais daquelas que fariam parte de futuras amostras normativas.
Nesse contexto, os resultados do processo de desenvolvimento desse
instrumento mostram quais palavras e/ou expressões tiveram que ser
modificadas para se adequarem ao conhecimento linguístico das crianças,
levando a uma melhor compreensão das frases. Além disso, as análises de
um neuropsicolinguista e de juízes especializados foram de fundamental
importância. Esses procedimentos garantiram a manutenção dos objetivos
dos instrumentos originais, ao mesmo tempo em que serviram para avaliar se
as sentenças eram adequadas para as amostras de crianças. Finalmente, o
estudo piloto completou o processo, fornecendo dados empíricos de um
contexto real de avaliação, testando a tarefa com crianças nas faixas etárias
alvo. Essa etapa contribuiu com evidências sobre a aplicabilidade da tarefa e
levou a ajustes finais, como foi o caso de um estudo de Bandeira et al.57 Ao
demonstrar os papéis desempenhados pela idade e tipo de escola nos
componentes do EF avaliados pelo CHT, esses os dados mostraram que o
desempenho das crianças melhorou com o aumento da idade. Esse fato pode
estar relacionado à melhora das capacidades atencionais, executivas e
linguísticas.44,58,59 Os resultados preliminares dos casos de cada idade
indicam que a tarefa parece diferenciar adequadamente os níveis de
desempenho, com potencial para auxiliar na identificação de crianças com
desenvolvimento atípico.
Em relação ao tipo de escola, o estudo piloto sugere que crianças de
escolas particulares apresentam melhor desempenho nos estímulos CHT.
Esse resultado corrobora os achados de estudos
que afirmam que há uma influência do meio sociocultural
condições sobre o nível de estimulação cognitiva oferecida às crianças
matriculadas nesse tipo de escola, possivelmente tanto na escola quanto em
casa. Portanto, a educação desempenha um papel importante no
desenvolvimento infantil e está relacionada à melhora da FE.60,61
Uma limitação deste estudo é que não é possível determinar se o número
de participantes do estudo piloto foi suficiente, uma vez que não há consenso
na literatura quanto a um tamanho amostral adequado para adaptação e
desenvolvimento de instrumentos neuropsicológicos. Sugere-se que uma
literatura sistemática
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revisão seja conduzida de estudos piloto apresentando dados de sensibilidade
e analisando o tamanho da amostra em adaptação
de instrumentos para crianças.
Apesar dessa limitação, o CHT oferece implicações para o diagnóstico
funcional dos componentes executivos. Seu formato de duas partes permite
identificar associações e dissociações na performance. O processo de
adaptação do CHT foi bem-sucedido porque compreendeu sete etapas
complexas e rigorosas. Cada uma dessas etapas foi útil para manter as
interpretações dos escores do HT, oferecendo evidências da validade de
conteúdo do teste. Estudos futuros se concentrarão em parâmetros
psicométricos para definir confiabilidade, validade de critério e validade de
construto e na aquisição de dados normativos por idade e tipo de escola.
Estudos das relações entre o desempenho no HT e em outras tarefas
neuropsicológicas também serão necessários, buscando identificar
associações e dissociações diagnósticas, à luz da neuropsicologia cognitiva.
Da mesma forma, estudos clínicos de sensibilidade e especificidade devem
ser conduzidos com populações infantis neurológicas e psiquiátricas.
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Av. Ipiranga, 6681, prédio 11, 9º andar, sala 932
90619-900 - Porto Alegre, RS - Brasil
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