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Ultra-neoliberalismo

As últimas décadas da história brasileira foram marcadas por uma justaposição


tensa entre os instrumentos jurídicos que surgiram da redemocratização do Brasil e as
lutas sociais ali travadas - como a constituição federal de 1988 e seus capítulos sobre
direitos sociais e seguridade social - e a neoliberal. Orientação macroeconômica, que
hoje toma contornos dramáticos com o ultra-neoliberalismo numa espécie de
permanente ajuste fiscal (BEHRING, 2019).

Nesta tensão As regras políticas para as relações de forças entre as classes e


suas facções foram forjadas / realizadas. Mas os principais interessados, á classe
trabalhadora não conseguiram inverter o ambiente de contra-reforma (BEHRING,
2003) criado imediatamente após a aprovação da constituição de 1988, mesmo
durante as gestões de centro-esquerda do estado brasileiro. Assim, prevaleceu sob a
regência das instituições financeiros nacionais e internacionais, credoras da dívida
pública, a lógica de enxurrada de recursos públicos, por meio de uma macroeconomia
engenhosa, inaugurada pelo plano Real e aprofundada pelo acordo com o FMI (1998).
Uma lógica que visa preservar uma parte cada vez maior do butim - a mais-valia
produzida socialmente - para financiamento, sustentado sobre tudo pelo fundo estatal,
que ao mesmo tempo e cada vez mais consiste em recursos que garantem a
reprodução da classe trabalhadora, o trabalho necessário, portanto, uma transferência
"de baixo para cima" está acontecendo.

A lógica orientadora dessa adaptação foi estabelecida como base em um novo


sistema monetário conhecido como neoliberalismo extremo. Vamos dar uma olhada
rápida em como esse processo funciona. Ao passar pela estruturação da
monopolização/financeirização, o desemprego estrutural, as crises das representações
políticas que ainda segue em curso e a crise ambiental (crise qual, que aparentemente
as atuais grandes lideranças do planeta insistem em jogar para debaixo do tapete), o
Capital inaugura a sua nova fase de evolução. Uma evolução ainda mais predatória e
que joga no lixo um pacto de democracia rebaixada, pós Segunda Guerra Mundial e o
fim do Bloco Soviético.

Em 2008, o planeta observou assustado uma “crise de novo tipo do sistema capitalista
mundial”. Uma crise estrutural e global, que se manifestou de forma naturalmente
desigual, mas que se combinou, entrelaçando todo o sistema mundial de produção de
mercadorias.

Os sintomas dessa crise começaram a se apresentar em algumas décadas anteriores


e, da periferia mundial, desenvolveu-se em direção ao centro do capitalismo mundial.
Suas causas principais localizaram-se no prolongado processo de acumulação de
capital combinado com a elevação progressiva da potência científica e tecnológica dos
meios de produção, isso multiplicada, sobretudo, após a revolução científica e
tecnológica que se expressou na explosão da informática, da química fina, da robótica
e, hoje, chega ao ponto da inteligência artificial.

O que aconteceu foi que uma parcela cada vez maior do capital acumulado foi se
deslocando para a especulação financeira, convertendo-se em capital fictício, já que
não poderia ser reinvestida diretamente no sistema produtivo, sob pena de levar ao
colapso o sistema de produção de mercadorias. Assim, duas marcas preponderantes
do capital monopolizado e financeirizado eclodiram muito mais do que bolhas ou
desequilíbrio conjuntural, lançando assim, a humanidade numa crise de proporções
similares a de 1929.
Essa crise foi um processo continuado que vem desde meados da década de 1970,
transformaram-se em elementos estruturais de uma crise potencial de superprodução
permanente e de exclusão continuada da força de trabalho humano do processo de
produção. Inúmeros elementos construíam uma “débâcle” acentuada da economia
mundial, entre as quais o altíssimo nível de desemprego nos países desenvolvidos, os
crescentes déficits orçamentários, a crise das “pontocom”, as crises da Rússia,
México, Argentina e Tigres asiáticos, dentre tantos exemplos.

O fundamental é que cada nova tentativa das classes dominantes demandou enormes
esforços, desgastes políticos, queimas fabulosas de capital, alcançando somente
alívios efêmeros, aos quais se seguiram o retorno dos sintomas e de um quadro geral
ainda mais agravado.

Então, se o Capital vive um processo de crise continuada que vem desde antes da
última crise (2008) e, as crises econômicas do capitalismo estouram em tempo, cada
mais fugazes não é tão difícil aqui anunciar, que a próxima crise de superprodução
que bate em nossa porta terá efeitos devastadores.

A crise ambiental é outro enorme impasse do capitalismo. A escassez de energia,


água potável, terras cultiváveis e todo tipo de recursos naturais renováveis se soma às
mudanças climáticas e aos impactos imprevisíveis da acelerada extinção de grande
número de animais e de vegetais responsáveis pela manutenção de elos preciosos da
cadeia alimentar. A conta é fácil, se as crises são de superprodução, quanto mais
produção, mais matéria prima.

A depredação do meio ambiente também reflete a divisão internacional do trabalho,


com a exportação para o terceiro mundo das indústrias intensivas em consumo
energético e de materiais, bem como emissoras de grandes volumes de poluentes.
Esse processo possibilita uma compatibilização da agenda ambiental com a dinâmica
do desenvolvimento do capitalismo nos países centrais, cujo crescimento econômico é
cada vez mais alicerçado na tecnologia da informação, nos serviços financeiros e na
pesquisa científica, com a consequente desmaterialização da produção. Aos países
periféricos ou emergentes cabe a produção industrial pesada e altamente poluente.
Essa dinâmica revela a total incompatibilidade entre qualquer agenda ambiental séria
e o ciclo de desenvolvimento nos países periféricos.

Outro grave elemento da crise estrutural de novo tipo do sistema capitalista” é a


erosão da credibilidade e da legitimidade social das instituições de representação
política e organização da vida comunitária que compõem o Estado moderno. Nas
últimas décadas, governos aumentaram crescentemente e regressivamente a
arrecadação de impostos para cumprir seus compromissos com os grandes
capitalistas, enquanto buscaram todas as formas possíveis para se desonerar dos
compromissos com a maioria da população. Os países (principalmente da Europa)
assumem cada vez mais o seu papel de sustentáculo, inclusive financeiro, das
grandes corporações.

O porque nessa nova fase

Hoje o Capital inaugura uma nova fase. Quatro elementos impulsionaram essa nova
dinâmica, o primeiro elemento é o que foi colocado até agora, o Capital vive uma crise
permanente e continuada com tempos cada vez mais fugazes de estouro, ou seja, a
lei da sobrevivência e de adaptação para a perpetuação do Capital impulsionou o
nascer dessa nova fase.
O segundo elemento é que o Neoliberalismo tinha como tarefa central, organizar um
mundo pós fim do Bloco Soviético (polarizado entre duas forças = Capital vs
Socialismo Real e aliados) e, essa missão foi executada. O problema é que com o
passar do tempo, esse programa foi se sucateando e se tornando incapaz de
organizar o globo.

O terceiro elemento é que os direitos sociais, individuais e trabalhistas conquistados


em grandes lutas, inclusive em guerras, no século passado se tornaram um ponto de
estagnação para o lucro do Capital.

O quarto elemento é oriundo da crise ambiental mais a revolução tecnocientífica que


não para de avançar.

A outra fase do Capital

Dentro desse cenário, não restou ao capitalismo outra alternativa. Para sobreviver as
suas próprias contradições, o caminho foi se lançar em grandes conflitos, já que, terão
que mais uma vez colocar nas costas dos trabalhadores e do planeta a permanência
do sistema e suas sangrias por lucro.

Pós-crise de 2008, as forças dominantes se lançaram numa busca de utilizarem, ainda


mais, o estado (países) como financiadores e avalistas de suas ações. É desse
fenômeno que nasce a ascensão conservadora pelo globo. A eleição de Trump,
Bolsonaro, Macri entre outros, tem um grande objetivo, e ele, é o de aperfeiçoar ainda
mais o modelo de exploração e opressão na força de trabalho, além de montar uma
espécie de “Internacional Conservadora”, para avançar em países dirigidos por forças
progressistas e trocar seus governos, para que os mesmos, se insiram num processo
de aprofundamento de subserviência e entrega de fontes de riqueza. Não é à toa a
tentativa de golpe na Venezuela que tem uma das maiores fontes de petróleo e ouro
do planeta e, muito menos, foi um mero à caso golpe de estado em 2016 no Brasil,
que para além de ser um país importante geopoliticamente para a entrada deles na
América Latina, é também um país de grandes e quase inesgotáveis fontes de matéria
prima, além de ser um laboratório de teste dessa nova modalidade do capital. No
Brasil ainda veremos os reflexos da Reforma Trabalhista e da venda do patrimônio
nacional, mas o que já está claro, é que com a entrada de Bolsonaro todos os
aparelhos de estado entraram em conflito para parir novas ou manter as antigas
hegemonias.

A briga entre setores religiosos por tamanho social, entre os grandes conglomerados
da comunicação em cada país, de setores opostos no judiciário e legislativos locais é
só um dos sintomas de que a disputa pela hegemonia está aberta, mas como o Capital
chega em nova fase, a menos espaços para divisão do poder que chegará a níveis
cada vez mais concentrados, assim como chegou a riqueza, onde 1% da população
global tem 82% de toda a riqueza produzida pela humanidade.

O discurso de valores, tem como objetivo, adestrar o povo, ou minimizar o impacto dos
grandes conflitos que essa nova fase do capital irá mexer. A perca de direitos
trabalhistas, um exército de desempregados, a entrega das matérias primas e fonte de
riquezas e o estado como protagonista das novas formas mais violentas de
exploração, não será algo fácil de entregar, a não ser, se os povos não observarem
esse fenômeno, o que terá como consequência da cegueira proposital, os saques sem
saber que estão sendo saqueados.
Observem que na França, um presidente Neoliberal como Macron, recebe resistência
tanto do lado das forças progressistas, quanto das forças ultraconservadoras e, isso, é
natural, pois um dos efeitos dessa nova fase do capitalismo é exterminar vias
intermediarias de forma natural, já que para seu processo de dominação total, eles
terão que derrotar a polarização e os campos das esquerdas são mais forte e
orgânicos do que terceiras vias.

Por fim, a revolução tecnocientífica pariu no planeta as Fabricas 4.0 e a inteligência


artificial nos postos de trabalho, isso, tem como consequência o fim de alguns tipos de
trabalho e o lucro em seu estágio mais avançado, já que, a robotização e as
impressoras 3D geraram desemprego estrutural por todo o planeta. Esse impasse do
Capital ainda não há solução, já que com desemprego, não haverá salário e, sem
salário não há compra do produto, ou seja, como se escoará a produção.

É falsa a tese que precisará de mão de obra humana para fazer os robôs e as
impressoras, pois as mesmas, vão precisar de robôs e impressoras para serem feitas.
O que há de novo, é que operário fabril (no modelo clássico) não é mais a maior parte
da classe trabalhadora, mas sim, operário do serviço e sobre essa constatação quero
dizer aqui duas coisas: a primeira é que é natural, pois a sociedade moderna pariu
novos tipos de trabalho reféns do avanço tecnológicos e, esses trabalhadores, hoje
estão no maior nível de exploração, assim como o operário clássico das primeiras
revoluções industriais e, em segundo, assim como eles em algum momento eles
descobriram formas de se organizar para lutar contra a opressão e a exploração,
assim como, esses novos trabalhadores faram, a diferença não estará na luta, e sim,
na questão da evolução humana, já que a evolução tecnocientífica nos liberta cada
vez mais do trabalho braçal, ou seja, das jornadas de trabalho.

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