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08/06/2022 08:11 O golpe de 2016 no contexto da crise do capitalismo neoliberal – Blog da Boitempo

O golpe de 2016 no contexto da crise do capitalismo neoliberal

Por Giovanni Alves c.

Para conhecer a natureza essencial do golpe de Estado ocorrido no Brasil em 2016


temos que levar em consideração:
1) A processualidade imediata da conjuntura política nacional, com os bastidores do
jogo de poder entre PT, PMDB e PSDB e as articulações sinistras entre Congresso
Nacional, Supremo Tribunal Federal, Procuradoria Geral da República, Ministério
Público Federal e Polícia Federal no seio do aparelho de Estado;
2) A Operação Lava-Jato ;
3) A intensa manipulação da opinião pública pela grande imprensa, com destaque
para a TV Globo.
4) Interesses econômicos, políticos e geopolíticos que compõem o movimento das
contradições orgânicas do sistema-mundo do capitalismo neoliberal em sua etapa
de crise estrutural.

No plano histórico-mundial, o desenvolvimento da crise do capitalismo global e as


mutações orgânicas do modo de desenvolvimento capitalista predominantemente
financeirizado nos “trinta anos perversos” (1980-2010).

Caracteriza-se por:
 A ascensão do capitalismo global;
 A dominância do neoliberalismo;
 A construção da União Europeia e;
 A crise da hegemonia imperial dos EUA por conta das ameaças ao poder do
Dólar e;
 A crise financeira de 2008/2009.

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O que ocorre há anos no Brasil, pelo menos desde 2013, com a fratura da frente
política do neodesenvolvimentismo, é uma disputa intraclasse da burguesia, com
camadas e frações de classe disputando não apenas os recursos do Estado brasileiro,
mas definindo projetos de desenvolvimento do capitalismo para o Brasil de acordo
com as disputas geopolíticas que ocorrem no palco histórico do sistema-mundo do
capitalismo global.

A ruptura da institucionalidade democrática no Brasil em 2016 por meio de um golpe


de Estado jurídico-parlamentar se deu no contexto da profunda crise do
capitalismo global.

Nas condições históricas da crise estrutural do capital no século XXI, a recomposição


da ordem burguesa no Brasil por meio do golpe de 1961 representa um declive
civilizatório inédito na história do país. No momento, ele possui uma personalidade
política, síntese trágica da farsa burguesa no Brasil: Michel Temer.

Michel Temer assumiu a nobre tarefa histórica de promover a reestruturação


reacionária e conservadora do capitalismo brasileiro nas novas condições históricas
de dominância do império neoliberal face ao aprofundamento de suas contradições
estruturais.

Portanto, de modo sintético, o quadro histórico-estrutural a partir do qual devemos


refletir sobre a nova reação neoliberal no Brasil no quadro de crise do capitalismo
global; reação neoliberal que se diferencia radicalmente da reação neoliberal no Brasil
ocorrida em 1990 e que se deu num quadro de ascensão do capitalismo global,
vitorioso com o Consenso de Washington.

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O Brasil é, ao mesmo tempo, elo mais forte do imperialismo neoliberal na América


Latina (o que explica a persistência do Estado neoliberal no Brasil); e, por outro lado,
com os governos neodesenvolvimentistas de Lula e Dilma, tornou-se território
estratégico para a construção do bloco contra-hegemônico ao poder do Dólar.

 Essa é a contradição visceral da arquitetura geopolítica do lulismo;


 Ao mesmo tempo que implementou uma política externa contra-hegemônica ao
império neoliberal, com o não-alinhamento à política externa de Washington,
 Articulaou-se com forças geopolíticas de combate ao poder do Dólar,
 Não optou pela desconstrução do Estado neoliberal herdado da era Collor- FHC.
 No plano interno, o lulismo representou a ideologia do reformismo fraco que
construiu uma estratégia de conciliação de classe – visando a governabilidade.

1. Elementos da processualidade histórica do capitalismo neoliberal (1980-2015)

Iremos salientar neste pequeno artigo três planos da processualidade contraditória do


capital: (1) a macroestrutura da economia global, (2) a geopolítica do novo
imperialismo ou imperialismo neoliberal e, last but not least, (3) o sociometabolismo da
barbárie, mutações culturais-ideológicas profundas no ser social da ordem burguesa
com impactos decisivos na dinâmica da luta de classes.

Eis a falha política crucial do lulismo: investir na redução da abissal desigualdade


social no Brasil, mas desprezou a luta ideológica contra os valores neoliberais (o
que exigiria falar em “luta de classes”, elemento sem registro no léxico mental do
lulismo).

No plano da macroestrutura da economia global,


 Marco histórico decisivo da crise estrutural do capitalismo predominantemente
financeirizado que foi 2008/2009. Seu ponto de inflexão histórica com a crise
financeira global, que representou a “crise das crises” do capitalismo das bolhas
financeiras (o capitalismo neoliberal).
 A macroestrutura da geopolítica global é caracterizada pela crise, afirmação e
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reafirmação da hegemonia norte-americana num contexto de concorrência


global e disputa entre blocos do capital social total.

Ao lado da macroeconomia estrutural da economia global e nova geopolítica do


imperialismo, temos desde a década de 1980, um processo histórico-estrutural de
mudanças orgânicas no sistema-mundo do capital, principalmente nos países
capitalistas mais desenvolvidos, com o surgimento do novo sociometabolismo do
capital, tanto na instância da produção, com os novos métodos de organização e
gestão toyotista acoplada às novas tecnologias informacionais e a nova morfologia da
classe; quanto na instância da política (deterioração da democracia representativa
capturada pelos interesses das finanças , crise das ideologias políticas de esquerda
socialista e dos partidos operários e trabalhistas socialistas e comunistas) e na
instância da cultura (pós-modernismo no pensamento e estética da mercadoria,
consumo e lazer).

2. A década de 2010: a reação do império neoliberal

Apostou-se numa estratégia de desestabilização contínua nos marcos da


institucionalidade democrática e com apoio dos Tribunais Constitucionais.
Como não conseguiram derrota-la pelo voto popular, colocou-se a necessidade
de derruba-la pelo “golpe branco”.
Era preciso articular a operação Lava-Jato, PGR, PF, Congresso Nacional
adicionando-se a isso, a forças de ofensiva da direita acantonadas no STF e
Mídia hegemônica.
O mesmo voto popular que a elegeu Dilma, elegeu uma das mais conservadoras
bancadas parlamentares da história da República brasileira.

Na verdade, enquanto no plano externo, a disputa geopolítica se coloca pela


preservação do poder do Dólar e a hegemonia do modelo neoliberal de
desenvolvimento capitalista, no plano interno, a disputa crucial no capitalismo
brasileiro é a luta pelo orçamento público e, ao mesmo tempo, o aprofundamento do
Estado neoliberal no Brasil que nos últimos 15 anos de governos
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neodesenvolvimentistas permaneceu intacto.

SISTEMA MUNDO

Centrais

Semi Periferia

Periferia

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