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A Escola não é uma Empresa – Christian Laval

Novo capitalismo e educação

- o novo modelo educacional que tende a se impor se baseia em uma sujeição mais
direta da escola à razão econômica;
- principal axioma: as instituições em geral e a escola em particular só têm sentido com
base no serviço que devem prestar às empresas e à economia;
- a escola e a economia adquirem um sentido radicalmente utilitarista: de um lado, a
forte concorrência dentro de um espaço econômico globalizado; do outro, o papel cada
vez mais determinantes da qualificação e do conhecimento na concepção, na produção e
na venda de bens e serviço;
- as organizações internacionais de ideologia liberal transformaram a competitividade
no axioma dominante dos sistemas de educação: “competitividade econômica é também
competitividade do sistema educacional”;
- o capital humano está se tornando um recurso econômico primordial, e pode ser que
esse imperativo aos poucos dê lugar a um modelo educacional internacional.
- o controle direto e mais estrito da formação fundamental e profissionalizante é um dos
grandes objetivos dos meios econômicos;
- a educação é entendida como fator cujas condições de produção devem se submeter
plenamente à lógica econômica, por isso é entendida como uma atividade com custo e
retorno, cujo produto se assemelha a uma mercadoria;
- a valorização da empresa é elevada ao nível normativo;
- o setor privado envolvido se torna qualificadora e envolvida no aprendizado e acaba se
confundindo com a instituição escolar em “estruturas de aprendizagem flexíveis”;

Momentos da Escola

- as mutações do capitalismo explicam em parte a natureza das reformas em curso;


- uma das grandes transformações do ocidente foi o nascimento da educação separada
da família e do ambiente de trabalho;
- ele fala que o desenvolvimento da escola, de uma instituição destinada à difusão do
saber, teve como razão primeira a construção e burocracias políticas e religiosas, e não a
formação de uma mão de obra. (o que ele quis dizer com burocracias políticas e
religiosas eu já não sei...talvez seja algo relacionado às disciplinas);
- mas aí ele fala que a escola sempre teve laços mais ou menos diretos com o universo
do trabalho, o próprio crescimento da escolarização dependeu em larga medida dos
recursos advindos do desenvolvimento econômico;
- a partir da segunda metade do século XIX surgiram carreiras, departamentos e
estabelecimentos cuja missão era elevar o nível profissional da mão de obra e fornecer
executivos à indústria e ao comércio;
- apesar disso, a lógica da escola ainda foi por muito tempo político-cultural;
- segundo esse autos que fala do domínio político-cultural, a escola passou por três
períodos históricos:
1) um período em que a principal função da escola era integrar o indivíduo moral,
política e linguisticamente à Nação;
2) um período em que o imperativo industrial nacional ditou as finalidades das
instituições
3) o período atual, em que a sociedade de mercado determina mais diretamente as
transformações da escola;
- desde o século XVI afirmou-se uma concepção utilitarista da educação que alimentou
continuamente a crítica aos sistemas escolares estabelecidos;

Por uma escola neoliberal

- as reformas impostas à educação serão cada vez mais guiadas pela preocupação com a
competição econômica entre os sistemas sociais e educativos e pela adequação às
condições sociais e subjetivas da mobilização econômica geral;
- o objetivo das reformas orientadas para a competitividade é melhorar a produtividade
econômica ao melhorar a qualidade do trabalho;
- a descentralização e mutação da gestão educacional e a formação deprofessores e a
padronização de objetivos e controles são reformas focadas na produtividade;
- mas a escola neoliberal também pretende melhorar a qualidade da força de trabalho em
seu conjunto sem aumentar os impostos e, na medida do possível, reduzindo o gasto
público;
- daí as campanhas as políticas implantadas em todos os níveis da atividade
educacional, para diversificar o financiamento do sistema educacional (clamando mais
abertamente pelo gasto privado), administrar mais eficazmente as escolas – como fazem
as empresas—reduzir a cultura ensinada na escola às competências indispensáveis para
a empregabilidade dos assalariados, promover a lógica de mercado na escola e a
competição entre famílias e estudantes pelo “bem escasso” e caro da educação;
- o imperativo de eficiência imposto às escolas é descentralizado, diversificado, com
gerenciamento moderno e “gestão por demanda”. Assim, nesse período, a partir de
1980, mas aqui ele fala da frança, o imperativo de eficiência imposto à escola começa a
se tornar preponderante, primeiro para controlar custos, depois por uma questão d
concorrência entre países e entre empresas e, por fim, por razões ideológicas (vou
lembrar aqui que foucault não acredita em ideologia): A ESCOLA É VISTA CADA
VEZ MAIS COMO APENAS MAIS UMA EMPRESA, OBRIGADA A
ACOMPANHAR A EVOLUÇÃO ECONÔMICA E A OBEDECER ÀS EXIGÊNCIAS
DO MERCADO;
- Acho que foucault não falaria de mudança ideológica, mas de mudança de saber.
- ele fala que o estado regulador tende a generalizar “parcerias” entre “atores” de todos
os tipos  posição 582
- crescimento da pressão para introduzir mecanismos de mercado e métodos de gestão
inspirados a lógica empresarial, em nome da eficiência e da democracia;
- na prática, a política de territorialização abriu caminho para uma desregulação escolar
que, supostamente, deveria atender às noas necessidades sociais, versão soft da mão
invisível do mercado;
- na educação, como em outros domínios, a questão não é mais corrigir as imperfeições
do mercado por meio de intervenção do estado, mas remediar as falhas do estado pela
promoção de um mercado supostamente autorregulador, isto é, estabelecer a
superioridade ética da agregação das preferências individuais por processos
mercadológicos sobre a deliberação como modo de elaboração das escolhas sociais;
- a instituição escolar deve produzir uma oferta que vise à satisfação de uma demanda
de consumidores bem informados;
- enfraquecimento de tudo que serve de contrapeso ao poder do capital e tudo que
institucionalmente, juridicamente e culturalmente limita sua expansão;
- todas as instituições, além da economia, foram afetadas por essa mutação, inclusive a
instituição da subjetividade humana: o neoliberalismo visa a eliminação de toda
“rigidez”, inclusive psíquica, em nome da adaptação às situações mais variadas com que
o indivíduo depara no trabalho e na vida;
- a economia ocupa o centro da vida individua e coletiva, os únicos valores sociais
legítimos são a eficiência produtiva, a mobilidade intelectual, mental e afetiva e o
sucesso pessoal, além do sistema normativo da sociedade e o seu sistema de educação
 posição 612;

A escola “flexível”

- a referência ideal da escola passou a ser o trabalhador flexível. O empregador não


espera mais do assalariado uma obediência passiva às instruções precisas: ele quer que o
assalariado utilize as novas tecnologias, compreenda melhor o sistema de produção ou
comercialização no qual sua função está inserida;

Posição 625
- em resumo, o empregador quer que, em vez de obedecer cegamente às ordens
superiores, o assalariado seja capaz de discernir e analisar para impor a si mesmo uma
conduta eficiente, como se esta última fosse ditada pelas exigências do próprio real.
- a autonomia que se espera do assalariado, que consiste em ele se dar ordens e se
“autodisciplinar”, não acontece sem um certo saber. Em outros termos, o
assalariado tem de integrar num universo mais complexo os modos de fazer e os
conhecimentos necessários ao tratamento dos problemas, segundo as fórmulas em
vigor;
- a autodisciplina e a autoaprendizagem andam de mãos dados;
- a nova regulação no trabalho reside em uma maior marem de ação da periferia e em
um controle baseado no cumprimento de metas;
- paralelamente, e em conformidade com a doutrina do capital humano, o trabalhador
tem de se armar de conhecimentos e competências durante toda a vida e não pode mais
se definir por um emprego estável ou um estatuto específico: “na era da informação, o
trabalhador não se define mais em termos de emprego, mas em termos de
aprendizado acumulado e aptidão para aplicar esse aprendizado em situações
diversas dentro e fora do local de trabalho tradicional”;
- a diretriz é a “empregabilidade” individual;

Posição 635
- embora isso nunca seja dito claramente, é a essa representação do trabalho e da nova
subjetividade esperada dos “jovens” que a escola deveria adaptar a si mesma e aos
futuros assalariados;
- implantação de sistemas de formação mais abertos e flexíveis e também o
desenvolvimento de capacidades de adaptação dos indivíduos serão cada vez mais
necessários às empresas;
- os empregadores exigem dos trabalhadores que eles sejam não apenas qualificados,
mas também mais maleáveis e aptos a se capacitar. Para produzir assalariados
adaptáveis, a escola, que vem antes do trabalho, deveria ser uma organização
flexível, em inovação constante, que atenda tanto aos desejos mais diferenciados e
variáveis das empresas como às necessidades diversas dos indivíduos;
- não é mais uma questão de elevar os níveis de competência dos assalariados: é preciso
que toda educação recebida tenda a levar mais em conta o “destinatário do serviço”,
ou seja, a empresa;
Posição 652
- em uma sociedade cada vez mais marcada pela instabilidade das posições, sejam elas
profissionais, sociais ou familiares, o sistema educacional deve preparar os alunos para
um cenário de incerteza crescente;
- a pedagogia “não diretiva” e “estruturada de modo flexível”, o uso das novas
tecnologias, o amplo “cardápio” oferecido aos estudantes e o hábito do “controle
contínuo” são pensados como uma propedêutica para a “gestão de cenários de
incertezas” que o jovem trabalhador vai encontrar ao concluir os estudos;
- enquanto às vezes as formações profissionalizantes especificamente adaptadas a
determinados empregos são declaradas anacrônicas, são inúmeros os textos segundo os
quais o ensino deve armar os estudantes com “competências de organização,
comunicação, adaptabilidade, trabalho em equipe, resolução de problemas em contextos
de incerteza”;
- a principal competência, a metacompetência, consistiria em “aprender a aprender”
para enfrentar a incerteza alçada a exigência permanente da existência humana e da vida
profissional;

Decomposição do vínculo entre diploma e emprego

Posição 665
- ainda que a relação entre diploma e emprego nunca tenha sido geral e unívoca, o
diploma dava em larga medida o fundamento da hierarquia interna da classe assalariada,
especialmente nas funções públicas, mas também se caracterizava por estar ligado a
uma esfera escolar que, por sua relativa autonomia, tinha força simbólica bastante para
torna-lo relativamente independente das relações de força imediatas do mundo
profissional;
- a relação entre um bom diploma e uma boa educação aparecia como uma relação
necessária em uma sociedade de estatutos;
- o período neoliberal do capitalismo tende a mudar o vínculo entre diploma e valor
pessoal reconhecido socialmente, tornando-o mais frouxo e impreciso. Numa época em
que se declara que o saber é um produto perecível e as competências, objeto de uma
destruição criativa permanente, o título escolar e universitário em que finalmente a
perder força simbólica;

Posição 679
- no momento em que finalmente se propaga, o saber é cada vez mais considerado uma
fonte de rigidez que já não corresponde aos novos imperativos de adaptabilidade
permanente e reatividade imediata da empresa;
- evidentemente essa contestação deve ser imputada às transformações do trabalho;
-

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