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REFLETINDO SOBRE SAÚDE MENTAL E CINEMA SOB A ÓTICA DAS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS*

Marília Farias Gomes Pinheiro 1


Alexandra Jochims Kruel2

Resumo: O presente artigo tem como objetivo a busca de representações sociais sobre saúde
mental, utilizando-se do cinema como objeto de análise. Entender como a sociedade
compreende a saúde mental e suas epecificidades é um dos focos deste trabalho, a partir das
contribuições da Teoria das Representações Sociais. Foram selecionados aleatoriamente dez
filmes lançados pelo cinema brasileiro no ano de 2013. A pesquisa encontrou quatro
representações importantes: 1) que “de médico e louco todo mundo tem um pouco”; 2) que o Brasil
tem grande ligação com o mundo das drogas (lícitas e ilícitas); 3) que a sociedade não
necessariamente percebe a relação entre Políticas Públicas de Saúde e abuso de substâncias
psicoativas e; 4) que a doença mental é um tabu.

Palavras – chave: Sociedade, Cultura, Saúde Mental, Cinema e Representações Sociais.

Introdução
Ao longo de sua história, o cinema mostra suas facetas a partir dos mais diversos
aspectos da vida cotidiana. A saúde mental tem envolvimento muito próximo com a sétima
arte. Há tempos que a doença mental faz parte dos roteiros de Hollywood, e, nos dias mais
atuais, do cinema em todo o mundo.
Temas polêmicos sempre trazem à trama um ar tenso, misterioso e instigante que
motiva o público a pensar, analisar e ( por que não? ) ter um senso crítico. A saúde mental
vem se mostrando como uma grande problemática no cinema, nem sempre acrescentando uma
boa história.
A saúde mental tem um processo histórico de transformações, passando por diversas
fases e momentos. Um exemplo disso é a Reforma Psiquiátrica, mudando a forma como o
doente mental é e era visto pela sociedade, formas de tratamento e ideias de políticas de
saúde. Enfim, aspectos que fazem parte do processo de mudança da saúde mental no mundo.

* Artigo entregue como requisito para obtenção do título de especialista em Saúde Mental: Gestão, Atenção,
Controle Social e Processos Educacionais da Escola GHC/Instituto Federal Sul Rio-grandense de Porto Alegre.
1
Assistente Social, Especializanda em Saúde Mental – Escola GHC/Instituto Federal Sul Rio-grandense de Porto
Alegre. E-mail: marilia.fariaspinheiro@yahoo.com.br
2
Administradora Hospitalar, Especialista em Saúde Pública, Mestre e Doutora em Administração. Professora no
Centro Universitário La Salle e na Escola GHC/Instituto Federal Sul Rio-grandense de Porto Alegre. E-mail:
alexandra.jochims@ufrgs.br
Toda essa trajetória contribuiu com um novo entendimento a respeito de doença mental, seus
tratamentos, sua inserção na comunidade, podendo-se dizer que a saúde mental passou de um
problema social (ideia sanitarista) para alvo de política pública (direito constituído).
Além de o cinema ser uma forma de mostrar as facetas dos transtornos mentais,
também pode ser utilizado como forma de tratamento. Aliás, a arte em geral tem ajudado em
uma nova perspectiva de tratamento, por exemplo, a inclusão de atividades ligadas à cultura
nos espaços como CAPS e unidades de internação, que entendem a terapêutica do paciente
para além de medicações.
Ainda existe muita curiosidade em torno da doença mental, e a sociedade tem
preconceitos em torno da temática, sendo comum temer o desconhecido, sendo esse o fator
principal do grande misticismo que envolve a psiquiatria e a sociedade.
Observar os mitos e verdades que o cinema apresenta no que se refere à doença mental
é o principal objetivo deste artigo, visto que esse é um dispositivo acessível à sociedade que,
historicamente, apropriou-se daquela para envolver o público. E, por que não dizer ? Mostrar
suas convicções e ideias, por vezes já instituídas em nosso cotidiano.
Por isso, o cinema pode ser uma forma representativa de como a sociedade vê e
entende os transtornos mentais, pois ele é uma importante maneira de caracterização das
questões sociais implícitas na sociedade. É, também, uma importante forma de
construir/desconstruir/reconstruir e disseminar ideias, de acordo com o preceito ou ideologia
dominante na sociedade. Dessa forma, o cinema é um espelho do que grupos têm como ideais
e através deles revelam uma cultura nas telas.
Cinema e saúde mental têm um namoro que transcende décadas. Há muito encontram-
se relações que permeiam essa sempre instigante representação da sociedade.
Nesse sentido, tal tema torna-se relevante para discussão, pois com ele vem um
estigma já entranhado em nossa comunidade, e realizar uma análise crítica dessas relações
pode contribuir muito para o aprimoramento do entendimento da saúde mental, visto que
favorece uma desconstrução do que já se tem estabelecido como verdade.
A arte é, enfim, quase sempre encantadora e mostra-nos uma face da História, devendo
a todos nós observar por vários ângulos e preceitos para que se possa ter uma imagem mais
comprometida com a realidade. Acredita-se ser sempre possível reinventar o que já se tem por
absoluto, porém devem-se ver as coisas por outras óticas, entender que nenhum conceito é
fechado e quase tudo se pode mostrar por pontos de vista diferentes.
Para realizar uma análise mais crítica dessa relação, é preciso utilizar-se de teoria que
permita observar de forma mais sistemática e quiçá explicar comportamentos e condutas

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entendidas e mostradas em nosso dia a dia. Dentro desse entendimento, a Teoria das
Representações Sociais é uma opção que pode contribuir para essa discussão.
Este artigo será apresentado em seções: a primeira traz a Teoria das Representações
Sociais. A segunda seção apresenta aspectos metodológicos. A seção a seguir traz os
resultados da pesquisa. Por fim, as considerações finais trazem um fechamento deste artigo
sem, contudo, pretender esgotar o tema.

1 Saúde Mental, Cinema e Representações Sociais


Pensar saúde mental requer rever práticas e conceitos que já fazem parte do nosso
cotidiano, compreender melhor o que acontece ao nosso redor, em nossa sociedade, enfim,
como se entende o mundo em que vivemos e do qual fazemos parte.
A sociedade mostra-se de forma complexa, com suas especificidades e culturas,
algumas muito específicas e, a partir delas, podemos observar como o ser humano se
comporta. Para tanto, são necessários subsídios que permitam realizar de forma comprometida
a análise de como se vê a saúde mental, no caso deste artigo, e as formas como se apresentam.
A arte e a saude mental têm longo histórico de parcerias, sendo esta sempre um bom
roteiro para as histórias, portanto utilizar-se dela traz uma riqueza muito especial à tematica
das políticas públicas em saúde. A “loucura” sempre é um tempero aos filmes, traz ares de
mistério, suspense e, até mesmo, retrata uma forma muito particular de como a sociedade
entende a saúde mental e as maneiras como ela se manisfesta.
Para muitos, esse “problema” está muito longe de seu dia a dia, porém a verdade nos
mostra o contrário, dados epidemiológicos demonstram que de 30 a 40% da população podem
apresentar, ao menos em algum momento da vida, algum tipo de transtorno mental. Sendo
assim, ela mostra-se bem mais perto de nós do que muitos cogitam.(LANDEIRA-
FERNANDES; CHENIAUX, 2010)
Para Landeira-Fernandes e Cheniaux (2010, p.2),
A forma como compreendemos os trantornos mentais atualmente é consequência de
uma longa série de eventos históricos. Nossa perspectiva acerca do adoecimento
mental mudou bastante ao longo do tempo, abrangendo desde explicações religiosas
e sobrenaturais até teorias mais racionais, que culminaram, hoje em dia, em modelos
teóricos muito elaborados, que propõem uma relação dinâmica entre genes, cérebro
e ambiente.

Nossas vidas são baseadas em teorias. Tudo que vivemos, pensamos, a forma como
agimos, dá-se conforme “teorias” que temos em relação às situações do nosso cotidiano. Elas
mostram-se muito presentes mesmo que não nos demos conta disso: todas nossas crenças,

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estereótipos, preconceitos, certezas, dúvidas fazem parte de um conjunto de pensamentos
determinados ou sugeridos por algum ideal, por um modelo.
A partir dessas considerações, podemos afirmar que o cinema torna-se uma maneira
importante de entender como a sociedade compreende os temas que convivem conosco,
contribuindo para uma análise real, no caso da saúde mental, em relação à comunidade.
O cinema pode ser visto como uma obra aberta, possibilitando muitas interpretações,
que são produzidas de acordo com o indivíduo que as produz, com suas experiências, com
suas ideologias, transformando o fato de existir em um evento complexo e com vários
paradoxos.
Questionamentos acerca do que vemos possibilitam-nos pensar nossas certezas e
rever ideias torna-nos sujeitos de nossa historia, saindo do marasmo de produções pré-
estabelecidas para um pensamento novo que prevê as diferenças e entende ser a partir delas
que as semelhanças se encontram.
A subjetividade é parte importante do processo de criação, seja ele os filmes, a nossa
vida, o nosso trabalho. Somos aquilo em que acreditamos, portanto, a forma como um filme
chega até os telepesctadores é fundamental para a imagem, a mensagem que ele quer passar,
que ideias ele quer transmitir com determinado assunto.
As relações entre os seres humanos, de qualquer forma, podem ser apresentadas como
representações. No decorrer das relações, as pessoas criam representações as quais começam
a dar sentido ao seu cotidiano e ao grupo em que estão inseridas. Em certos momentos, as
representações tomam forma única, vida e, então, andam por si. (MOSCOVICI, 2007).
O item a seguir apresenta alguns aspectos sobre a Teoria das Representações Sociais.

1.1 Algumas Palavras sobre as Representações Sociais


As Representações Sociais têm seus primeiros escritos dentro da Psicologia Social em
meados dos anos 1960 através de Serge Moscovici, um dos grandes pensadores da Psicologia
Social, que se aproximou de contribuições de outros autores, com grande influência nos
campos da Sociologia, para apoiar suas convicções. Neste caso, teve grande contribuição para
o desenvolvimento de seu trabalho o estudioso Durkheim.
Durkheim, em 1898, separou os estudos em dois níveis: as representações individuais
e o estudo das representações coletivas. O primeiro tinha a Psicologia Clínica como base, e o
outro utilizava-se da Sociologia para embasamento (FARR, 2007).
Moscovici afirma que a ideia de representação coletiva de Durkheim é o que pode
caracterizar em nível à Psicologia Social. Porém, aponta que é mais adequado utilizar-se do

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conceito de representação social e não mais coletiva, como anteriormente, pois trata-se de um
contexto moderno (FARR, 2007), cuja sociedade é caracterizada pela rapidez com que as
mudanças acontecem, principalmente nos campos da economia, da politica e da cultura.
Moscovici, ao mudar o termo representação coletiva para representação social, estava de certa
forma, modernizando a ciência social e, com isso, adequando-a à vida moderna.
Quando buscamos a Teoria das Representações Sociais, buscamos compreender o ser
humano como ele se apresenta, como pensa, como se comporta, enfim, como se estrutura
enquanto sociedade. As Representações Sociais têm como objetivo extrair sentido do mundo
em que vivemos para colocar em nossas percepções e experiências. Nesse sentido, Moscovici
(2007) refere que as Representações Sociais podem igualar uma ideia a uma imagem e vice
versa.
Pensando nas considerações acima, fica claro como as representações sociais
colocam-se em relação à sociedade e ao homem, buscando e trazendo explicações para as
relações e o cotidiano da sociedade. As teorias fazem parte da vida para justificar ações,
culturas, comportamentos e entendimentos, por isso é tão importante compreendê-las.
A sociedade está sempre em constante transformação, portanto suas representações
também. Ou seja, as Representações Sociais estão em permanente construção e reconstrução,
mostrando-se de maneira dinâmica e, ao mesmo tempo, sendo a característica dos sujeitos.
Elas manifestam-se de forma criativa, mostrando como o indivíduo compreende o mundo,
como busca sentido para algo.
Para alguns autores, quando se busca conhecer as Representações Sociais, tenta-se
entender como grupos de seres humanos constroem suas identidades através de saberes de um
grupo social. Assim, as representações formam-se, bem como os códigos culturais que
possuem, em todos os momentos da História.
Nesse sentido, as Representações Sociais são entendidas como saberes populares,
comuns e cotidianos que compreendem e buscam a realidade, sendo parâmetro para a maneira
de viver e entender o mundo em que vivemos (GUARESCHI, 2009), ou seja, têm o poder de
entrar no mundo comum e fazer parte do nosso cotidiano. Afinal, elas transitam nas mídias
que vemos e lemos diariamente e as transmitimos e discutimos com nossos conhecidos,
amigos e vizinhos (MOSCOVICI, 2007).
O conhecimento na perspectiva da Psicologia Social nunca é uma simplista descrição
do estado das coisas, ao contrario, o conhecimento é sempre pensado através das relações e
comunicações e estes sempre estarão ligados aos interesses humanos (MOSCOVICI, 2007).

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Importa dizer que, para Moscovici (2007, pag. 37), as Representações Sociais são, de
certa forma, impostas para a sociedade, são frutos de uma sequência de elaborações e
mudanças que acontecem no curso do tempo e apresentam-se como resultado de sucessivas
gerações. A sociedade fornece todas as habilidades fundamentais à vida cotidiana, e esse
amadurecimento dá-se sempre por grupos (família, escola, trabalho, etc.), assim havendo uma
intermediação entre sujeitos e costumes, na qual há normas, regras e ética.
Tal processo permite que o indivíduo, se e quando abandonar o grupo de origem,
possa adaptar-se em outros grupos e readaptar-se à própria sociedade (POSSAMAI,
GUARESCHI, 2009). Por isso, podemos dizer que a representação que temos das coisas não
está necessária ou diretamente atrelada à nossa maneira de pensar, porque o que pensamos e
as maneiras como podemos pensar dependem de dada representação.
As Representações Sociais vêm, portanto, como uma maneira de fortalecer as
discussões e compreender as formas de manifestação da sociedade, teorizam as análises
realizadas e permitem uma observação da representação da sociedade frente à polêmica
relação entre doença mental x sujeitos x sociedade.

2 Considerações Metodológicas
2.1 O Corpus da Pesquisa
A imagem e o som são elementos de extrema relevância para a interpretação das
realidades existentes. Eles trazem consigo a possibilidade de ampliar veracidade, emoção e
transparência ao que se pretende mostrar (LOIZOS, 2000).
Para nos aproximarmos do cotidiano da saúde mental em um contexto cultural, este
trabalho propõe-se a utilizar um dos mecanismos da imagem, neste caso o cinema, como
forma de encontrar mitos e verdades que vêm sendo disseminados sobre a doença mental na
sociedade.
Para realização de tal estudo, foram selecionados 10 filmes nacionais, a partir de um
corte temporal. Considerando a importância de analisar as Representações Sociais no contexto
brasileiro mais atuais sobre o tema em estudo.
Dessa forma, definiu-se selecionar os filmes brasileiros cujos lançamentos foram
realizados de janeiro a setembro de 2013, período no qual foram lançados 20 filmes. Dentre
eles, comédias, dramas e documentários, sendo que alguns poucos tinham como ponto central
a questão da saúde mental.

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A escolha pelo corte nacional deu-se em razão de propiciar uma visão no nível
brasileiro de como a doença mental se apresenta nas telas, traçando um contexto de discussão
no Brasil.
Todavia, para que fosse possivel a realização deste estudo, dentro do tempo existente
para a efetivação deste artigo, foi necessário escolher parte dos filmes identificados. Dessa
forma, a seleção final dos filmes foi feita de forma aleatória, a partir das capas que mais
chamavam a atenção visualmente e com os títulos que se mostravam mais atraentes à
pesquisadora. De forma proposital, não foram selecionados filmes específicos em saúde
mental, pois as Representações Sociais dão-se no cotidiano e são demonstradas muitas vezes
em aspectos sutis, pouco perseptíveis, ou seja, não necessariamente é nos filmes específicos
que as representações mais comuns aparecem.
Desse modo, foram selecionados os filmes a seguir, com a descrição de seus enredos:

DRAMAS
Título Enredo
Faroeste Caboclo Baseado em uma música de mesmo nome, gravada nos anos 1980, com grande
repercussão no país até os dias de hoje. Retrata a vida de um menino da periferia de
Brasília que vivenciou várias experiências negativas desde sua infância que marcaram
sua vida e fizeram com que se tornasse uma pessoa com sentimentos mais frios,
vingativo, porém, buscando, a seu modo, a felicidade.
Somos tão Jovens Baseado em uma música de mesmo nome, grande sucesso dos anos 1980 que até hoje é
trilha sonora no cotidiano das pessoas. Fala sobre a história de jovens de classe média alta
de Brasília, que fazem da sua juventude um grito de liberdade, experimentam todos os
benefícios dos anos 1980, fazem das suas vidas uma eterna busca por dias melhores,
vivenciam o amor, as relações, a busca por identidade.
Uma História de O filme acontece em quatro grandes momentos da história do Brasil: Colonização,
Amor e Fúria Escravidão, Ditadura e Futuro (2096). Os personagens principais transcendem os tempos
para conseguirem o seu objetivo, isto é, ficarem juntos para sempre. Durante as passagens
de tempo, eles sempre se encontram, porém vários acontecimentos fazem com que suas
vidas sejam separadas, além de mostrar fatos importantes da história do Brasil.

COMÉDIAS
Título Enredo
Odeio o Dia dos Uma sátira à famosa data que leva o nome do filme, onde a atriz principal passa por
Namorados diversas situações durante o período de faculdade que lhe fazem realizar escolhas: a vida
pessoal ou a vida profissional. Ela parte em busca de realização profissional, torna-se
uma profissional de sucesso, porém sua vida pessoal não se compara em nada com a
profissão. Sofre um acidente de carro e começa a rever seus conceitos, valores e crenças,
induzida por um amigo que resolve mostrar como ela encarou sua rotina.
O Concurso A história de quatro homens de regiões diferentes do Brasil que buscam aprovação em
concurso público para o cargo de juiz federal e, após várias etapas, chegam à ultima. A
prova é realizada no Rio de Janeiro, e eles se deslocam para lá. Ao chegarem, começa
uma saga em busca de seus objetivos com muito percalços e situações inusitadas.
Mato sem Cachorro A história se passa no Rio de Janeiro, onde duas pessoas que não se conheciam acabam
tendo suas vidas mexidas com um acontecimento: o ator principal quase atropela um
cachorro na rua, a atriz principal vê e o auxilia com o cão até um veterinário para socorrer
o filhote. A partir daí, inicia-se uma grande história de amor que acaba posteriormente,
com uma questão importante: quem vai ficar com o cachorro? Começa uma grande
batalha pelo cachorro e, com isso, várias situações acontecem com esse casal.

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Minha Mãe é uma O filme mostra uma família dirigida pela mãe que vive para a família e coordena tudo,
Peça inclusive a vida dos filhos. Possessiva, autoritária e gritona, fala tudo o que quer, não
interessando a quem.
Casa da Mãe Joana 2 O filme conta a história de três amigos que moram juntos na casa de um famoso escritor,
e cada um deles tem suas vidas sacudidas pela presença de um fantasma na casa que só
eles conseguem ver. Muitos acontecimentos começam, inclusive a busca por uma herança
que deve ser obtida com o sacrificio de um deles. Na reta final, um dos personagens
morre, e os outros devem salvá-lo para que seu corpo não seja cremado pela governanta
que deseja ficar com toda a fortuna.
Vendo ou Alugo Esta comédia retrata a história de uma família do Rio de Janeiro que foi muito rica e hoje
está na falência. São quatro gerações de mulheres que buscam sobreviver em meio ao
caos de suas vidas. A única saída encontrada foi vender a casa em que moram, um
palacete que, atualmente, situa-se na entrada de uma favela pacificada do Rio. Há toda
uma confusão, pois, quando um possivel comprador aparece para ver a casa, inicia-se um
tiroteio entre polícia e tráfico e todos ficam presos na casa até que tudo se acalme.
Vai que Dá Certo O filme conta a história de quatro amigos que estão em grandes dificuldades financeiras.
Um deles resolve realizar um roubo a carro forte. A partir daí, planejam a ação que não
tem sucesso, mas eles acabam se envolvendo em muitas trapalhadas para conseguir pagar
as dívidas que contraíram com várias pessoas.
Quadro 1: Descrição dos filmes assistidos
Fonte: Elaborado pelas autoras

2.2 A Coleta e a Análise dos Dados


Os dados foram coletados em sessões de cinema, mediante observação de aspectos
pré-definidos. Para a sistematização dos dados coletados, foi elaborado um formulário
específico, a partir dos aspectos a serem observados, preenchido após assistir a cada filme. Os
aspectos foram:
 foco central do filme;
 transtornos mentais aparentes;
 aproximação com a realidade;
 entendimento familiar/comunitário;
 perfil dos personagens;
 personagens que caracterizam a problemática proposta.
Também para a sistematização e, posteriormente, para a análise, os filmes foram
identificados por siglas alfanuméricas. Os dramas passaram a ser denominados D+número
(D1 a D3), e as comédias, C+número (C1 a C7).
Especificamente para a análise, a Teoria das Representações Sociais exige uma
postura de interpretação do que chama de discursos, que podem ser observados na linguagem
e na fala cotidiana, nos artefatos e nas tecnologias. É importante ressaltar que o discurso,
nesse sentido, pode ser verbal, gestual e visual, além de ação e decisão (FAIRCLOUGH,
2001).

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3. Os Achados da Pesquisa: Algumas Representações Sociais Encontradas
Relembre-se que este estudo tem a finalidade de utilizar-se do cinema (um tipo de
mídia) como foco principal da pesquisa para o entendimento da doença mental e suas
Representações Sociais existentes na sociedade.
A mídia faz parte do nosso cotidiano e traz consigo conceitos a serem inseridos e
trabalhados em nossas vidas, portanto pode-se dizer que, atualmente, vivemos em uma cultura
e sociedade midiadas (GUARESCHI, 2003).
Podemos, ainda, afirmar que os meios de comunicação podem construir a realidade e o
fazem a partir de certos padrões normativos e éticos, e as informações repassadas são trazidas
com juízos de valores. Para Guareschi (2003), não existe neutralidade nesse campo.
O visual e a mídia desempenham um papel de extrema importância na vida social,
econômica e política. Sob essa visão, eles tornam-se fatos sociais e, de forma alguma, podem
ser ignorados (LOIZOS, 2002).
Segundo Guareschi (2004), a comunicação faz parte da realidade, e, nesse sentido,
uma coisa começa a existir no instante em que é comunicada. Partindo das palavras do autor,
fica claro como a mídia interfere no cotidiano da sociedade, e esta relação vem ao longo do
tempo intensificando-se, ficando cada vez mais próxima. Quando se constrói a realidade, esta
não se faz de maneira neutra, ao contrário, forma-se com juízos de valor e com dimensões
valorativas (GUARESCHI, 2004).
Em termos gerais, referentes aos aspectos expostos anteriormente, pode-se informar o
que segue:
 Foco central: os filmes mostraram-se muito diversificados, porém nenhum
tinha como assunto principal da trama os transtornos metais, os quais foram
mostrados em alguns casos em segundo plano;
 Transtornos mentais aparentes: não foram encontrados transtornos mentais
extremamente aparentes, no entanto, foi evidenciado o abuso de drogas lícitas
e ilícitas;
 Aproximação com a realidade: em sua maioria, os filmes mostraram uma
aproximação com nossa realidade cotidiana;
 Entendimento familiar/comunitário: para este quesito, não foi possível obter
informações consideráveis, porque os filmes não trataram de forma específica
da temática, impossibilitando, assim, entender os contextos familiares e
comunitários da doença mental a partir dos mesmos;

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 Perfil dos personagens: os personagens apresentaram perfis muito distintos uns
dos outros, e alguns deixaram transparecer aspectos relevantes para a saúde
mental. Houve, também, personagens não principais que apresentaram
aspectos de saúde mental;
 Personagens que caracterizam a problemática proposta: no caso dos filmes
analisados, as características de saúde mental circulam por vários meios do
roteiro, assim sendo, tanto personagens principais como não centrais são
relacionados às questões de saúde mental, especialmente no que se refere ao
consumo de drogas lícitas e ilícitas.
As análises realizadas dos filmes selecionados possibilitaram a identificação de quatro
importantes Representações Sociais, a seguir:

3.1 RS 1: Parafraseando um dito popular, “de médico e louco todo mundo tem um pouco”
As Representações Sociais circulam, intensificam-se e consolidam-se a partir de um
gesto, uma palavra, uma ideia em nosso mundo cotidiano, tendo o poder de impregnar nossas
relações e estabelecer crenças (MOSCOVICI, 2007). Esta concepção mostra muito do que
nossa sociedade tem estabelecido como verdade.
Durante a pesquisa, foi observado que todos os filmes, de alguma forma, apresentaram
um personagem diferente, com características que fogem do chamado “normal” que. em
vários momentos, eles mesmos denominavam-se “loucos” e, com isso, eram vistos de forma
diferente.
Esta frase tão comum em nosso cotidiano e que há muito ouvimos, de médico e louco
todo mundo tem um pouco, serve bem para definir alguns dos aspectos que permeiam a visão
da saúde mental em nossa comunidade e que foi possível observar nos roteiros dos filmes
pesquisados.
Utilizar-se do excêntrico das personalidades pode se mostrar de maneira positiva tanto
para o indivíduo como em um contexto social. Os sujeitos são condicionados somente a
aceitar o que moralmente é aceito, é normal e o que se excede à normalidade é tratado como
impuro, impróprio, ou até mesmo engraçado, embora de uma forma pejorativa. As telas de
cinema reproduzem muito bem essas colocações, pois em todo roteiro existe uma pessoa
“diferente”, que foge ao normal, enfim, uma forma estereotipada de mostrar as diferenças
humanas: estes são os loucos.

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Essa é uma simbologia existente em nossa sociedade e que se torna real. É da essência
da atividade simbólica que surge o reconhecimento de uma realidade compartilhada, uma
verdade dos outros (JOVCHELOVITCH, 2007).
Esta representação mostra-se a partir da história do filme C4 que mostra, de forma
muito bem humorada, o estigma do “diferente”, onde a personagem principal se utiliza da
excentricidade para conseguir o que quer, inclusive manipulando a vida dos filhos. Quando
questionada sobre suas atitudes, ela intitula-se “louca”, e os que a conheciam também assim
consideravam-na. Dessa forma, a comunidade em que está inserida releva seus devaneios e
posturas mais agressivas.
O filme C1, por sua vez, também apresenta aspectos importantes dessa representação,
pois a personagem principal ultrapassa as barreiras do socialmente aceitável e faz da vida de
seus funcionários um tormento. Entende que sua postura é de grande comprometimento
profissional, porém ali esconde uma grande frustração na sua vida pessoal que a torna
mesquinha, arrogante e prepotente. Leva a fama de “louca” e sem coração.

3.2 RS 2: O Brasil tem Grande Ligação com o Mundo das Drogas (Lícitas e Ilícitas)
Esta Representação Social confirma-se a partir de todo um contexto vivenciado por
nossa sociedade atualmente, em que o álcool é a droga lícita com o maior índice de consumo.
O alcoolismo já é a terceira maior causa de mortalidade e morbidade no mundo, segundo a
OMS (SENAD, 2012, 3º Ed.).
A sociedade tem uma cultura histórica do álcool e do tabaco. No século passado, o ato
de fumar era considerado elegante e de classe, como também a bebida sempre foi comum em
nossos lares. No Brasil, dados apontam que 52% dos casos de violência doméstica estão
diretamente ligados ao consumo de álcool pelo agressor (CEBRID, 2012). A OMS tem uma
estimativa de que cerca de dois milhões de pessoas no mundo são consumidores de bebidas
alcoólicas.
Em 1988, deu-se início a um trabalho de construção de uma política nacional
específica sobre a questão da redução da demanda e da oferta de drogas. Nesse mesmo
período, aconteceu a 20º Assembleia Geral Especial das Nações Unidas, onde foram
discutidos os princípios para que houvesse a redução da demanda de drogas, e, juntamente a
isso, foi criada a Secretaria Nacional Antidrogas no Brasil (SENAD).
A sociedade, ao mesmo tempo que faz o consumo de substâncias psicoativas, vê a
necessidade de articular-se para que haja um trabalho a fim de reduzir os seus efeitos
maléficos, pois uma nova história começa no contexto brasileiro. Passamos de uma situação

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de contemplação ao uso de álcool e outras drogas a uma de redução nos índices de oferta.
Cada vez mais, a sociedade vê-se aprisionada ao que as drogas trazem consigo, falando-se
tanto das formas lícitas ou ilícitas.
A situação do enfrentamento ao abuso de drogas tornou-se algo primordial nos dias
atuais, e já existem legislações específicas, como a Lei n º11.343, de 2006, que institui o
Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas com a finalidade de articular, integrar,
organizar e coordenar as atividades de prevenção, tratamento e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas.
Da mesma forma, planejamentos que contemplem toda a comunidade tornaram-se um
caso de saúde e segurança públicas. Um exemplo dessa situação evidencia-se na forma como
o tráfico de drogas está sendo coibido, com uma intensa repreensão na venda de substâncias
psicoativas e educação. Pensa-se o trabalho que se inicia desde a escola, com atividades de
educação e conscientização para os malefícios do uso de drogas entre os jovens em idade
escolar.
Mesmo com toda essa propagação das políticas públicas voltadas a esse problema,
ainda continua muito forte a influência das drogas (lícitas e ilícitas) em nossa sociedade, o que
se evidencia nos filmes analisados quando nove, de dez, apresentam personagens com algum
nível de consumo ou mesmo abuso de substâncias psicoativas. Os filmes D1, D2, C2, C3, C5,
C6 e C7 apresentam aspectos importantes referentes à Representação Social em que estamos
falando, pois mostram o consumo de álcool, drogas e tabaco.
Esses aparecem de maneiras distintas: em alguns filmes aparece mais de uma
tipificação de substâncias, em outros, um tipo dela. No entanto, o que fica aparente nas
análises é que, no contexto brasileiro neste caso, é muito comum o uso de drogas (lícitas e
ilícitas), não sendo mostrado como uma problemática de saúde pública, mas sim, como algo
naturalmente social.
É pertinente observar o grande número de filmes que envolvem a questão do abuso de
álcool e outras drogas, mostrando a importância dessa Representação Social e como deve ser
discutida e pensada em conjunto com a sociedade.

3.3 RS 3: A Sociedade não Necessariamente Percebe a Relação entre Políticas Públicas


de Saúde e Abuso de Substâncias Psicoativas
Esta Representação Social explica-se em razão de como o uso de substâncias
psicoativas lícitas e ilícitas foi abordado nos filmes, ou melhor, como não foi apresentada a
complexa questão existente em relação ao abuso de drogas. Durante o processo de análise,

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não foi observada, em nenhum momento, a caracterização da saúde na problemática,
aparecendo, pelo contrário, naturalizada como um hábito social.
Entretanto, faz-se necessário entender tal relação como um caso de saúde pública.
Com a Constituição de 1988, a saúde foi colocada em uma esfera de direito e, logo mais, em
1990, foi criado o Sistema Único de Saúde, constituindo-se dois marcos importantes para um
trabalho de promoção em saúde. Todavia, até 2002, a saúde pública não desenvolvia ações
contínuas relativas ao tratamento e à prevenção na área de álcool e outras drogas no Brasil.
A partir de 2002, o Ministério da Saúde deu início a um modelo de tratamento para
pessoas que sofressem de transtornos metais, dependência de álcool e outras drogas. Nesse
período, foi efetivada a garantia de financiamento específico para o tratamento na área de
saúde mental e álcool e outras drogas, política que, até então, não existia no país.
Em 2003, a publicação “Política do Ministério da Saúde para atenção integral aos
usuários de álcool e outras drogas” veio como uma nova fase na política de saúde no Brasil.
Nessa publicação, são enfatizados esses grandes problemas de saúde publica, portanto é
fundamental entender que o álcool faz parte da cultura brasileira e mundial, muito presente
em festividades e comemorações (SENAD, 2012).
Ao longo desse período, vêm se intensificando os trabalhos em saúde na prevenção e
tratamento do uso/abuso de álcool e outras drogas no Brasil e, gradativamente, a sociedade
vem entendendo a problemática da dependência química como uma questão de saúde. Porém,
ainda se tem a ideia muito enraizada de que não existe uma “doença”, mas uma cultura de
consumo, principalmente em referência ao álcool e ao tabaco.

3.4 RS 4: A Doença Mental como Tabu


É fundamental compreender alguns aspectos históricos que influenciaram os mitos e
as crenças da nossa sociedade, transformando a doença mental em um tabu, podendo assim
esta ser considerada uma Representação Social. Em algumas palavras, podemos
contextualizar a história da loucura.
A loucura, desde seus primórdios, foi vista como algo ruim, especialmente negativo.
Como se sabe, a saúde mental tem um longo histórico de conflito com a sociedade: a
“loucura” coloca-se de forma pejorativa, sempre associada a algo perigoso ou de índole
duvidosa, fazendo parte desse processo a exclusão e formas estigmatizadas de ver o doente
mental.

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Dessa forma, nem sempre a saúde mental foi vista como doença, mas como motivo de
exclusão. As pessoas que não se adaptavam às normas e disciplinas do mundo do trabalho
eram excluídas do convívio social e colocadas em prisões ou hospitais. Assim, os chamados
“desviados” tinham que ser separados, para não colocar em risco a ordem social vigente, e os
hospitais (hospedarias) tornaram-se locais de assistência social, religiosa e caritativa e não,
local de tratamento médico (OLIVEIRA,2006).
Os seres humanos têm uma tendência natural a temer o desconhecido, e os transtornos
mentais são um tabu em nossa sociedade, visto que ainda aparecem de forma muito sutil ou
distorcida (estereótipo, exagero) na mídia. É um assunto pouco abordado, a despeito de todas
as políticas públicas existentes e dos grandes acontecimentos históricos que marcaram a saúde
mental no Brasil como, por exemplo, a Reforma Psiquiátrica. Pensava-se em prevenir as
influências negativas com que se viam as pessoas portadoras de transtornos psíquicos,
símbolo de indisciplina e desordem moral e, assim, evitar que eles pudessem contaminar os
outros membros considerados mais vulneráveis (MELMAN, 2006).
Essas informações confirmam-se a partir do que foi observado nesta pesquisa, pois,
dentre os filmes analisados, foi possível ver aspectos sutis de saúde mental, como nos
estereótipo da “mãe louca” de uma das comédias assistidas, que faz tudo para controlar os
filhos e a vida de todos. Também isso evidenciou-se através da utilização de álcool e outras
drogas no cotidiano, vistos não como algo maléfico, mas como uma cultura social (álcool,
tabaco), ou nos casos de uso de drogas ilícitas (maconha), como problema social, Ou, ainda,
através da personagem frustrada que escolheu viver a vida de uma maneira muito particular e,
com isso, acaba prejudicando todos à sua volta.
Percebe-se nesses filmes, que há algo de diferente, mas não se discutem as situações
(consumo de drogas e doenças mentais) com uma abordagem necessária, a de que esses são
problemas de fato e não, motivo para subterfúgios (paródias, exageros, estereótipos).

Considerações Finais
Analisando os resultados obtidos com a pesquisa, é interessante observar o quanto as
Representações Socais encontradas fazem parte do nosso cotidiano. Muitas vezes, não
percebemos o quanto somos infuenciados em nossas ações e hábitos, não essencialmente
nossos, mas manipulados por imposições culturais e institucionais já existentes.
Compreender como as representações interferem em nossas vidas e de que forma elas
se constituem também faz parte do nosso processo de crescimento pessoal e intelectual. Elas

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têm um grande impacto em nossas ações, crenças, costumes, enfim, na maneira como
vivemos.
O cinema foi um dispositivo de partida desta inquietação: a de entender os processos
culturais de nossa sociedade. Quem assiste aos filmes pode fortalcer ou desconstruir ideias
que, anteriormente, eram consideradas como verdades ou mentiras. Os filmes, como uma
forma de representação da sociedade, têm o poder de disseminar ideologias, visto que as
pessoas que assistem a eles são tomadas de influências e, a seguir, criam seu pensamento
baseado no que aqueles desejam que a sociedade tenha como verdade.
A saúde mental constitui-se em um dos grandes estigmas com que convivemos no
nosso dia a dia. O sujeito portador de transtorno mental é envolto em uma espécie de rótulo,
que o condena a ser diferente, estranho, não normalmente aceitável. Quando vemos uma
novela ou um filme, não é somente o roteiro que vemos como pano de fundo desse cenário,
pois essa manifestação artística está ligada a uma conjuntura cultural que quer mostrar a
maneira como se pode viver, comer, vestir, que carro ter, como devemos nos relacionar.
É com esse pano de fundo que as pessoas pensam, e isso as leva a mudanças em seus
costumes, havendo inclusive uma inversão de padrões culturais (GUARESCHI, 2004). As
Representações Sociais são uma forma de demonstrar a ideologia dominante, construída por
uma classe que detém o poder, dissemina o que deve ser visto, observado e, em muitos casos,
pensado e realizado.
As mudanças de culturas dão-se de maneira muito sutil, inconscientemente, e temos
como parâmetro que os meios de comunicação “digam-nos” como devemos nos comportar na
sociedade. Podemos afirmar, então, que os meios de comunicação são os principais
transmissores da cultura de um país (GUARESCHI, 2004). Dessa forma, o cinema torna-se
uma representação legítima de proliferação de cultura, de costumes, enfim, de como a
sociedade vê e entende assuntos relacionados ao seu cotidiano.
O ser humano vive em eterna busca de realizações, estando as relações entre elas: nós
vivemos buscando estabelecer vínculos que devem acontecer a partir de ideias ou pactos já
existentes ou criados pelo indivíduo, onde se afirmam regras e conceitos (SILVA, 2012).
As várias representações da sociedade vêm com o intuito de reafirmar o que já está
escrito, validado como relação social, e o sujeito está condicionado a viver através de
preceitos que não são essencialmente seus, mas sim, uma mistura de influências e regras
morais que lhe impõem para ser socialmente aceito, viver e conviver com elas. O ser humano
é fruto de suas escolhas, porém elas não são verdadeiramente suas, pois fazem parte de um
processo ideológico social.

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Reflecting Mental Health and Cinema under the perspective of Social
Representations

Abstract: This paper aims at seeking social representations of mental health, using
the film as an object of analysis. Understand how society understands mental health
and their epecificidades is one focus of this work, the contributions from the Theory
of Social Representations. Randomly ten films released by Brazilian cinema in 2013
were selected. Search found four major representations: 1) that "medical and crazy
everyone has a little", 2) that Brazil has great connection with the world of drugs
(legal and illegal), 3) that society does not necessarily perceive relationship between
Public Health Policies and substance abuse, and 4) that mental illness is a taboo.

Key – Words: Society, Culture, Mental Health, Cinema and Social Representation .

REFERÊNCIAS

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um manual prático. Editora Vozes, Petrópolis, 2002.

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