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Mental disorders:
society's view of those who commit infractions
Desordenes mentales:
la opinión de la sociedad sobre quienes cometen infracciones
Resumo
O presente estudo é fruto de uma revisão de literatura que tem como objeto de estudo a forma
como a sociedade e os profissionais psicólogos tratam as pessoas com sofrimentos mentais,
especialmente aqueles que cometem atos infracionais ou criminais. Para tal foi necessário
entender as raízes do preconceito da sociedade para com as pessoas com sofrimento mental e
como estas concepções afetaram e afetam o sofrimento mental desses sujeitos. Neste percurso
vale destacar também as reflexões sobre quais são as punições para os loucos infratores e
como estes poderiam ser tratados em função da chamada reforma psiquiátrica.
Abstract
The present study is the result of a literature review that has as its object of study the way in
which society and professional psychologists treat subjects with mental suffering, especially
those who commit infractions or criminal acts. For this, it was necessary to understand the
roots of society's prejudice towards people with mental suffering and how these conceptions
affected and still affect the mental suffering of these subjects. In this journey, it is also worth
1
Aluna concluinte do curso de graduação em Psicologia. Centro Universitário UNA
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Aluna concluinte do curso de graduação em Psicologia. Centro Universitário UNA
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Aluna concluinte do curso de graduação em Psicologia. Centro Universitário UNA
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Professor orientador do TCC do curso de graduação em Psicologia. Centro universitário UNA
highlighting the reflections on what are the punishments for insane offenders and how they
could be treated in terms of the so-called psychiatric reform.
Resumen
El presente estudio es el resultado de una revisión bibliográfica que tiene como objeto de
estudio la forma en que la sociedad y los profesionales de la psicología tratan a los sujetos
con sufrimiento psíquico, especialmente a aquellos que cometen infracciones o actos
delictivos. Para eso, fue necesario comprender las raíces del prejuicio de la sociedad hacia las
personas con sufrimiento psíquico y cómo esas concepciones afectaron y aún afectan el
sufrimiento mental de estos sujetos. En este recorrido, también vale la pena destacar las
reflexiones sobre cuáles son los castigos para los infractores dementes y cómo podrían ser
tratados en términos de la llamada reforma psiquiátrica.
Introdução
O termo estigma deriva-se do grego antigo “steizen”, que designa a marca que era
gravada no corpo de escravos e criminosos, ou seja, era destinada aos cidadãos que eram
membros da sociedade com um “menor valor”. (Xavier, Klut, Neto, Ponte & Melo, 2014)
A definição mais utilizada na Psicologia para o termo preconceito foi dada por Allport
(1954), que o define como atitudes e ou ações negativas em relação a um sujeito, ações essas
baseadas nas próprias crenças. Ao enfatizar sobre os preconceitos atribuídos aos sujeitos
distanciamento e exclusão, o que promove grandes implicações nas atuais políticas públicas.
o preconceito contra o louco infrator prevaleceu ao longo dos tempos e levou à uma exclusão
social desses sujeitos, fazendo-os viverem à margem da sociedade dita normal. Bader (2002)
afirma que o processo de naturalização da exclusão social, representada pela aceitação do
central da assistência psiquiátrica brasileira, desde os seus primórdios até os dias de hoje"
Considera-se que a sociedade está, muitas vezes, consciente do que pode ser feito
tanto no aspecto médico, psicológico e social, porém se conduz pelo cenário de preconceitos,
estigmas e atitudes negativas contra os sujeitos portadores de doença mental. Para Cavalcante
(2020, p. 30):
Vê-se que a Luta Antimanicomial representa muito mais do que o fechamento dos
Manicômios ou a mudança no tipo de tratamento do modelo hospitalocêntrico para o
modelo comunitário. [...] O pensamento antimanicomial pede a mudança na postura
social e cultural em relação à noção de loucura ou do que é considerado anormal ou
desviante em nossa sociedade, clama por transformações nas relações da sociedade para
com a loucura.
nova política de saúde mental, um marco importante para a discussão e proteção dos direitos
dos usuários dos equipamentos dessa rede, debruçando-se no cuidado de “pessoas com
Esta revisão da literatura tem como objetivo identificar e conhecer como os profissionais da
saúde mental encaram tais sujeitos institucionalizados e como definem suas intervenções.
Os pesquisadores consideram ser relevante para a Psicologia, como para toda a
meios sociais, com o intuito de analisar como essas representações repercutem na aceitação
pessoas com sofrimento mental, isto se dá em razão dos diversos autores utilizados para a
contribuição do trabalho, de forma que seja autêntico as terminologias dadas nas épocas
apresentadas.
As reflexões sobre a questão da saúde mental levantam muitas questões: Por que o
sujeito portador de doença mental é visto com medo e aversão por muitos? Por que as pessoas
longo do tempo e em meio às culturas. Talvez este preconceito seja fruto do medo do
físicos, sociais e ideológicos que logo foram ocupados pelos considerados loucos. Somente
interesse em estudar os doentes mentais. Estes saberes médicos eram direcionados para o
retorno da sanidade mental do louco, em uma perspectiva de controle, de limpar a sociedade
Segundo Foucault (2008), o homem moderno não se comunica mais com o louco,
pois há uma separação entre o mundo da razão e o da doença mental. Os ditos normais
encaminham os loucos para os médicos e são esses os responsáveis por manterem relações
com os loucos. Por outro lado, o homem da loucura se comunica com o outro por uma razão
loucura.
Levando-se em conta o cenário aqui descrito, Mattos (2006) afirma que houve uma
transformação do conceito de loucura para o conceito de doença mental, o que abriu portas
para um novo objeto de estudo: a loucura. Surgiu então um primeiro conceito sobre o que
seria a loucura com Philippe Pinel, que relatava que o louco era o sujeito que vivia distante da
psiquiatria moderna, surgiu o manual DSM – IV, que elucida as doenças mentais em suas
diversas categorias. Em tal documento a doença mental é vista como uma síndrome
dos modelos de medidas de segurança em relação aos sujeitos com transtornos mentais
separação do sujeito portador de doença mental infrator do delinquente dócil surgiu devido à
ordem pública de segurança, contribuindo para a segurança social. Nesse sentido, Durkheim
(2007) assinala:
Com efeito, se o crime é uma doença, a pena é seu remédio e não pode ser concebida de
outro modo; assim, todas as discussões que ela suscita têm por objetivo saber o que ela
deve ser para cumprir o seu papel de remédio. Mas, se o crime nada tem de mórbido, a
pena não poderia ter por objeto curá-lo e sua verdadeira função deve ser buscada em
outra parte. (Durkheim, 2007, p.71)
(Cetolin, 2011)
cenário. Segundo Cetolin (2011), diversos estudos e teorias da psiquiatria se formam com
desenvolver no país a partir da criação dos cursos de medicina no século XIX, ancorados na
doença mental, os sujeitos portadores de doenças mentais ainda sofrem com o preconceito
Psicofobia. Alves, Santos, Ferreira, Costa & Costa (2017) explicam que o termo psicofobia
significa medo ou exagero irracional da mente em relação ao sujeito portador de doença
mental. No Brasil, este medo não tem sido reconhecido no sentido clínico, mas é percebido
São vários os exemplos de transtornos mentais que são alvos de preconceitos: depressão,
penais
sociedade. Durante a Idade Média, os atos cometidos pelos doentes mentais não eram
compreendidos pela sociedade, sendo vistos como manifestações demoníacas, sob a ótica do
intenso poder que as ideologias das Igrejas Católicas tinham naquela época. Nesse período,
os doentes mentais eram submetidos à diversos tipos de torturas, como por exemplo,
queimados em fogueiras da Inquisição para que pudessem pagar por seus “pecados”.
de homicídio do Rei Jorge III por um indivíduo com notáveis sintomas de doença mental. A
Inglaterra foi o primeiro país a instituir o tratamento psiquiátrico para doentes mentais que
A medida de segurança foi pela primeira vez sistematizada no Código Penal Suíço,
em 1983, elaborado por Karl Stoss, com o título de “Penas e Medidas de Segurança”.
pena, em um estabelecimento adequado, sendo que por lá permaneceriam entre dez e vinte
anos. A medida de segurança aparece também na Lei Portuguesa de 1896, no Código Penal
Italiano. O Código Penal Norueguês, de 1902, determinava em seu art. 39, que “[...]se um
tribunal considerasse o réu como perigoso para a segurança pública, em virtude de sua
jurídicas, sendo as Ordenações Filipinas (1603 a 1830) a principal. O Direito Penal da época
era refletido no Livro V dessas ordenações, sendo a pena de morte a principal sentença:
Ordenações Filipinas – Livro V, Título CXXXV: “Quando os menores serão punidos por
os delitos, que fizerem. Quando algum homem, ou mulher, que passar de vinte annos,
commetter qualquer delicto, dar-se-lhe-ha a pena total, que lhe seria dada, se de vinte e
cinco annos passasse. E se fôr de idade de dezasete annos até vinte, ficará em arbítrio dos
Julgadores dar-lhe a pena total, ou diminuir-lha. E em esse caso olhará o Julgador o
modo, com que o delicto foi commettido, e as circunstâncias delle, e a pessôa do menor;
e se o achar em tanta malicia, que lhe pareça que merece total pena, dar-lhe-ha, postoque
seja de morte natural. E parecendo-lhe que não a merece, poder-lha-ha diminuir, segundo
a qualidade, ou simpleza, com que achar, que o delicto foi commettido. E quando o
delinquente fôr menor de dezasete annos cumpridos, postoque o delicto mereça morte
natural, em nenhum caso lhe será dada, mas ficará em arbítrio do Julgador dar-lhe outra
menor pena. E não sendo o delicto tal, em que caiba pena de morte natural, se guardará a
disposição do Direito Comum.” (Marafanti et al., 2013, p. 47)
A partir do Código do Império, em 1830, surgem, no Brasil, as medidas de caráter
preventivo e curativo. Tal dispositivo legal foi o primeiro Código brasileiro a mencionar a
questão do doente mental, chamado de ‘sujeito portador de doença mental” no texto legal ou
de “louco de todo o gênero”. Na peça, estabelecia-se que o mesmo deveria ser recolhido em
arbítrio do juiz. Determinava-se ainda que o doente mental não seria julgado criminoso, salvo
Código Criminal do Império do Brasil – Art. 10: “Também não se julgarão criminosos:
§1.º Os menores de quatorze annos. §2º Os loucos de todo o gênero, salvo se tiverem
lucidos intervallos e nelles commetterem o crime”. Art. 12: “Os loucos que tiverem
commettido crimes serão recolhidos às casas para elles destinadas, ou entregues ás suas
famílias, como ao juiz parece mais conveniente”. (Marafanti et al., 2013, p. 47)
No art. 22, do Código Penal de 1940, Título III “Da Responsabilidade”, é possível
É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
(Marafanti et al., 2013, p. 48)
Art. 22, eram isentos de pena. O Art. 91 determinava que o agente isento de pena, nos termos
do Art. 22, fosse internado em manicômio judiciário. Também dividiu, no Art. 88, as medidas
vigiada, proibição de frequentar determinados lugares, exílio local). (Marafanti et al., 2013)
Na primeira, deve ser internado o autor não imputável de crime punível com prisão, uma vez
que a lei presume a sua periculosidade. No entanto, se o delito for acompanhado de pena
privativa de liberdade, ele poderá ser internado ou receber tratamento ambulatorial, a critério
sujeito portador de doença mental e infrator tem por objetivo fortalecer as relações sociais.
(Saraceno, 2001). Reabilitar é gerar autonomia e novas oportunidades na vida para o sujeito
ordens para a sua vida, conforme as diversas situações que enfrente” (Kinoshita, 2001, p.57).
portador de doenças mentais que cometeram delitos, devido a uma dinâmica institucional
investimento insuficiente do Sistema Único de Saúde (SUS), além de sujeitos que optam por
de enfrentar aspectos na sua vida diária além da instituição. A barreira que é criada entre o
seu papel social e civil. Assim, ao retornar para a sociedade, resta ao sujeito apenas
insegurança e inacessibilidade.
Portanto, é considerável a falta de uma rede assistencial de acolhimento, seja
sociedade. Essa assistência não deveria desconsiderar o sofrimento mental, mas pautar-se
pela construção do laço social do psicótico, ressignificando aquilo que foi rejeitado para o
Pensamos o trabalho com o psicótico na direção daquilo que não se efetuou para ele e
que ele mesmo se esforça para realizar. Por isso, não enfatizamos a eliminação dos
sintomas, o que não significa que recusamos o acesso à medicação para apaziguar o gozo
destrutivo, mortífero. O tratamento será pautado no estímulo à “historicização” dos
fenômenos ao considerarmos que são repletos de sentido, conforme preconiza uma
clínica que considere o sujeito. (Dunker & Kyrillos Neto, 2015, p. 93)
fundamentais no processo de (re) inserção social. Os ATs exercem suas funções do lado de
fora dos manicômios, auxiliando os usuários em sua vida cotidiana, oferecendo apoio,
trabalho e buscando a não exclusão do portador de doença mental que cometeu delito.
É a partir desse cenário que se constrói uma nova realidade para os sujeitos
trabalho e evidenciar as potencialidades do indivíduo (Gruska & Dimenstein, 2015). Silva &
Silva (2006, p. 210) destacam que “[...] nos diferentes percursos pela cidade, muito mais do
que se orientar ou ambientar-se, trata-se de usar o próprio tecido urbano como espaço de
novas produções de sentido, fazendo com que as próprias intervenções desse espaço possam
infrator junto com uma equipe multidisciplinar, durante todo o processo criminal. Essa
viabilizando a rede pública de saúde e de assistência social de acordo com a Lei 10.216/2001.
Pode-se considerar que essa seria uma forma de garantir a acessibilidade dos direitos
constitucionais, bem como recuperar os laços sociais desses indivíduos (Venturini, Oliveira
Infrator (PAILI), que também se constitui pelos mesmos fundamentos do PAI-PJ. O PAILI é
estabelecendo que o louco infrator seja acolhido definitivamente pelos serviços de saúde
pública, o PAILI democratiza o Sistema Único de Saúde (SUS) e garante aos pacientes,
assistência dos médicos e equipes psicossociais das clínicas conveniadas ao (SUS). Tal
programa determina e exerce uma melhor prática terapêutica, pois a atuação dos profissionais
deve ser direcionada por todo um sistema de saúde mental, que inclui também os Centros de
O CAPS, por sua vez, oferece serviços de saúde, abertos e comunitários, com caráter
de doença mental, incluindo aqueles com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e
outros. Tal assistência preocupa-se com o sujeito, sua singularidade, sua história, sua cultura
promovendo a inserção social das pessoas com doenças mentais por meio de ações
intersetoriais que visam regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na
sua área de atuação e dar suporte à atenção à saúde mental na rede básica. (Kantorski, Souza,
campo das políticas públicas. Seu objetivo geral é garantir que o compromisso social seja
ampliado, produzindo informações para que possam implementar inovações no meio social
visando maior reflexão e elaboração que valorizem as pessoas com sofrimento mental
enquanto sujeito de direito. Para isso é necessário criar um vínculo que é iniciado pelo
acolhimento e que reconheça os direitos dessas pessoas como um cidadão que deve ser
de vista psicológico passou a ser: Pessoas com Transtornos ou Sofrimento Psiquicos/ Mental.
(CPF, 2013)
Portanto, é de fundamental importância contar com diversos recursos que
desconstroem a imagem sujeito portador de sofrimento mental para garantir que, na prática
objetivo das instituições de assistência sejam respeitar a história de cada um e assim, investir
sentido para aquilo que se apresenta ameaçador e que foi arrancado do sujeito. Nesta
perspectiva, o sujeito carente de atenção e cuidado pode alinhar o contexto de sua história
conhecimento maior sobre si e sobre seu sentimento singular (Venturini, Oliveira &Mattos,
2016).
Considerações Finais
social do louco infrator está estigmatizado ao ponto de gerar a inadequação das pessoas com
pessoas com sofrimento mental como incapaz, classificando-o de acordo com os preconceitos
existentes desde a Idade Média. Tal preconcepção faz com que a assistência ao chamado
Com a promulgação da Lei 10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas com sofrimento mental e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, todas
nenhuma realidade muda apenas por força de Lei, mas pode-se considerar que a caminhada
foi iniciada, pois algumas mudanças já foram conquistadas, outras ainda se fazem urgentes. A
Em uma breve análise sobre o contexto geral de relações e histórias concernentes aos
penal, tal como: por que ainda existem os manicômios e seus congêneres? A razão talvez
temos divisões de classes sociais, onde cabe ao pobre e psicótico a segregação? Enfim são
Se o aparato jurídico ainda precisa avançar, é certo que já existe jurisprudência que
embasa tal avanço, portanto, é primordial construir uma nova cultura capaz de
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