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Colombo ... [et al.]. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2007.
CDU 371
ESCOLA? EMPRESA?
Educação é, por essência, uma atividade de interesse público. Escola pública de
qualidade para todos é um ideal de indiscutível valor, porém um enorme desafio.
Sendo assim, quando a demanda da sociedade não é atendida pelo governo, a co-
brança automaticamente se reverte para a iniciativa privada, que, a princípio, foi
compreendida, no Brasil, como uma alternativa voltada exatamente para suprir
essa deficiência. Por consequência, o caráter empresarial das instituições de ensi-
no foi relevado, esquecido ou, por vezes, combatido. A escola particular de ensi-
no básico passa a carregar codinomes como “tubarões do ensino” e é tratada, até
pela mídia, como uma categoria de empresários pronta a explorar a classe média.
Segundo a opinião pública, “escola não deveria ser uma empresa”. Essa percep-
ção acaba impactando diretamente tanto o trato com a clientela, quanto as rela-
ções de trabalho.
Mais interessante ainda é notar que boa parte dos educadores, ao defenderem
princípios e valores inerentes à atividade-fim, muitas vezes relutam em aceitar a
incorporação de estratégias e mecanismos provenientes de outras atividades em-
presariais, como se, por natureza, as duas realidades – educacional e empresarial
– fossem incompatíveis.
Embora já se reconheça o equívoco dessa visão, ainda persiste a resistência em
aceitar a legitimidade de se buscar lucratividade por meio da prestação de servi-
ços educativos. Muitas vezes, percebe-se que o senso comum entende que estra-
tégias de marketing para escolas de ensino básico pressupõem “enganação”, ou
que ações de vendas, por sua vez, reduzem a instituição de ensino a uma pejora-
tiva classificação de “comercial”. Vários outros exemplos podem ser apontados.
Muitos conceitos e posturas, aceitos e incentivados em qualquer empresa, são vis-
tos negativamente quando aplicados à educação. Recentemente, pudemos obser-
var a interferência do governo no setor, quando a tumultuada economia do país
ditava planos e normas para regulamentar as relações comerciais entre pais e es-
colas, uma fase em que, na mídia, o editorial de educação tratava basicamente de
valores de mensalidade e planilhas.
Por mais que esse histórico possa ter deixado marcas negativas, foi também
por meio das sucessivas crises e planos econômicos que o aspecto empresarial das
escolas passou a ser abertamente discutido, tornando questões importantes para
o amadurecimento do setor evidentes.
E a própria sociedade tratou de cobrar das escolas particulares um posiciona-
mento empresarialmente responsável e moderno. Diante de uma demanda cada vez
mais criteriosa e exigente, sabe-se hoje que a gestão de uma escola deve ter o foco
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O EMPRESÁRIO DO ENSINO
O conjunto de escolas particulares pode ser percebido em subgrupos como, por
exemplo, escolas confessionais, escolas de iniciativa privada, de um pequeno gru-
po de sócios ou mesmo de um único proprietário. As diferenças logo se atenuam
quando abordamos uma questão: o comprometimento pessoal com a profissão e
seu ideal de educação.
A nobreza da atividade não garante que não aconteçam equívocos administra-
tivos, que podem levar à condenação de propostas maravilhosas do ponto de vis-
ta pedagógico. É preciso que a consciência empresarial encontre espaço para que
a instituição seja gerida de forma profissional e eficiente.
Qualquer que seja o perfil do mantenedor, percebe-se, na prática, a simbiose
ou a confusão entre os objetivos e as metas da escola e os da mantenedora e, por
que não dizer, os sonhos pessoais. O determinismo apaixonado das pessoas pre-
judica a distinção dessas perspectivas. O fundador tem a autoria de uma visão,
mas isso não lhe faculta o direito de apropriar-se da instituição.
Se o setor busca longevidade para suas empresas, é necessário compreender
que a instituição que surge simplesmente para atender ideais particulares irá en-
velhecer, adoecer e morrer com eles. Idealistas que são, grandes fundadores pre-
cisam se desprender do sentido de propriedade e realizar-se pelo mérito da cria-
ção. Empresas familiares se desenvolveram a partir da criação de escolas, grandes
conselhos se formaram para conduzir outras, enfim, são novas formas de organi-
zação que buscam preservar a missão da instituição, torná-la viável do ponto de
vista financeiro, além de oferecer autonomia para que possa iniciar novos ciclos.
• tenha criatividade;
• perceba o macro;
• saiba trabalhar em equipe;
• seja ágil na resolução de problemas;
• se comunique com eficiência.
PESSOAS
Deparamo-nos então com outra questão: como motivar e mobilizar as pessoas
que fazem a escola? O desafio está em resgatar o orgulho de “ser professor”. A
busca por crescimento profissional é necessidade inerente ao que se espera desse
novo profissional de educação, que deve ser empreendedor, comprometido com
sua profissão e com a instituição em que trabalha. Disso depende o sucesso da es-
cola. É o professor que entrega, em sala de aula, o que cada família está esperan-
do receber pelos serviços contratados. Somente a consciência dessa responsabili-
dade levará um profissional, antes acomodado, a apropriar-se de seu espaço e as-
sumir a gestão de sua aula, de seu grupo classe. É preciso que seja um gestor vi-
sionário, capaz de implementar seus projetos, imbuído de uma ambição pessoal
pelo sucesso no exercício da docência.
Percebe-se atualmente, no ensino superior, uma migração de profissionais de
diversas áreas para a educação. De certa forma, isso provoca um reorganizar de
idéias, cria-se naturalmente a discussão de valores e práticas até então adotados.
O mesmo não acontece no ensino básico. É necessária a determinação da institui-
ção para se trabalhar o professor que está lá, carente de prestígio e reconhecimen-
to social, e é fruto de uma educação fundada em pressupostos diferentes dos que
hoje constroem um bom profissional. O projeto de capacitação planejado pela es-
cola deve, então, ir além de aspectos técnicos da prática docente e alcançar o pa-
tamar do desenvolvimento pessoal, visando ao perfil profissional almejado.
Nesse sentido, a escola torna-se, também para o professor, um centro de
aprendizagem.
• planejamento estratégico;
• desenvolvimento dos processos;
• avaliação dos resultados alcançados.
PENSANDO O FUTURO
Muitas reportagens apontam a educação como o negócio do futuro. Para a escola
particular de ensino básico no Brasil, essa é uma perspectiva difícil de se vislum-
brar. O mercado passa por uma crise de oferta excessiva e demanda em queda. A
escola particular atende às retraídas classes média e alta, do ponto de vista de po-
der aquisitivo, que vêm mostrando mudanças no padrão de comportamento. Fa-
tores como redução do número de filhos, realocação de moradia e incorporação
de outros hábitos que implicam gastos concorrentes ao investimento na escolari-
zação dos filhos afetam diretamente o setor privado da educação básica.
Em contrapartida, as escolas recebem grande cobrança da comunidade e veem
seu papel social ampliar-se a cada dia.
Desenha-se hoje um contexto crítico para o futuro das instituições: em um
mercado potencial retraído, cresce, a cada dia, a pressão por menor preço e maior
qualidade.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.