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ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA PRÁTICA

Orientação
Educacional
na Prática
Joelma Marçal

JOELMA MARÇAL
Código Logístico

I0 0 0 3 4 6

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-65-5821-097-9

9 786558 210979
Orientação
Educacional na prática

Joelma Marçal

IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Almix/Shutterstock

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M262o

Marçal, Joelma
Orientação educacional na prática / Joelma Marçal. - 1. ed. - Curitiba
[PR] : IESDE, 2021.
86 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-097-9

1. Escolas - Organização e administração. 2. Orientação educacional. I.


Título.
CDD: 371.2
21-74415
CDU: 37.091.2

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Joelma Marçal Mestre em Educação, História e Política pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Pedagoga pela UFSC. Pesquisadora/Consultora do
MEC. Coordenadora pedagógica da Educação Básica
em escolas públicas e privadas. Docente do Ensino
Superior na Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC) e em outras faculdades, ministrando as
disciplinas de Princípios da Orientação Educacional,
Princípios da Supervisão Educacional, Didática
Geral I e II, Metodologia da Pesquisa, Liderança
e Trabalho em Equipe e Empreendedorismo.
Coordenadora de curso de pós-graduação de Gestão
de Projetos na rede privada.
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SUMÁRIO
1 Uma conversa sobre Orientação Educacional 9
1.1 Trajetória da Orientação Educacional no Brasil 10
1.2 Abordagens da Orientação Educacional 13
1.3 Princípios, técnicas e instrumentos da Orientação Educacional 16

2 O papel do orientador educacional 22


2.1 Orientação Educacional e intervenção psicopedagógica 22
2.2 Orientação Educacional em uma perspectiva pedagógica 25
2.3 Orientação Educacional no cotidiano da escola 28

3 Entraves e desafios da Orientação Educacional 36


3.1 O problema da burocracia 37
3.2 Crise identitária da profissão 40
3.3 Desatando os nós 44

4 Possibilidades da profissão 49
4.1 O espaço de trabalho do orientador educacional 49
4.2 Fatores que influenciam o fracasso escolar 54
4.3 Desenvolvimento de habilidades socioemocionais 61

5 A práxis do orientador educacional 66


5.1 O orientador educacional como gestor 67
5.2 Orientação profissional e vocacional 72
5.3 Acompanhamento de alunos com necessidades especiais 76

Resolução das atividades 83


Vídeo
APRESENTAÇÃO
A presente obra tem por objetivo oportunizar o debate acerca das
questões que norteiam o trabalho do orientador educacional. A ideia
é apresentar todos os elementos fundantes da prática de Orientação
Educacional, para enriquecer as discussões sobre o trabalho dessa
área da educação e a sua importância para o desenvolvimento de um
processo educativo de qualidade nas escolas.
Desse modo, no primeiro capítulo, apresentamos o histórico
da Orientação Educacional no Brasil e a importância de se criar
uma identidade para essa profissão. Essa é uma missão muito
complexa, haja vista as diferentes abordagens que a Orientação
Educacional reúne em seu processo histórico, diante de todas as
transformações ocorridas, sempre atreladas ao contexto social
e político vigente. Discutimos, ainda, sobre os princípios e as
técnicas da Orientação Educacional, no sentido de trazer para a
análise os elementos constituintes de uma prática orientadora
fundamentada e congruente com os objetivos da escola na qual
está inserida. Questões capazes de exemplificar a participação
do orientador educacional como a figura central dos processos
educativos foram trazidas também para o debate.
No segundo capítulo, discutimos sobre o papel da Orientação
Educacional na escola e a importância de ter elucidado o conceito
das atribuições do orientador, com o intuito de contribuir com
o trabalho pedagógico da instituição. Para isso, é crucial saber
a diferença entre o trabalho de Orientação Educacional e a
função do psicopedagogo. O objetivo é deixar claro que ambos
os profissionais têm seu espaço na escola, porém são lugares
definidos e distintos.
Além disso, apresentamos as contribuições pedagógicas
da Orientação Educacional, a efetividade da atuação dessa
área do conhecimento e as suas contribuições para o
contexto educacional. Abordamos, ainda, o trabalho do orientador
educacional no contexto escolar, a sua influência no currículo, na
didática e na metodologia da escola, bem como algumas alternativas de sua
participação na busca por uma educação de qualidade.
Apresentamos, no terceiro capítulo, o prejuízo causado pela
burocratização do trabalho pedagógico, que faz com que as atribuições do
orientador educacional se percam ou fiquem confusas diante do cotidiano
escolar marcado por desencontros e processos educativos rasos. A crise de
identidade da profissão é uma questão que ameaça a presença do orientador
educacional na escola, o que dificulta o exercício da Orientação Educacional
nesse espaço e impossibilita o avanço do processo educativo individual e
coletivo dos sujeitos envolvidos.
O quarto capítulo traz as possibilidades da profissão do orientador
educacional, o seu espaço de trabalho, a realidade da sua função na escola e
as variáveis que cercam a prática da Orientação Educacional. O trabalho do
orientador, diante das situações de fracasso escolar, bullying e dificuldades
de aprendizagem, também é discutido nesse capítulo. Ancorando-se na
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), tem-se em evidência o objetivo
da educação, que é o de realizar um trabalho pedagógico que desenvolva o
aluno para além dos conteúdos, alinhando o conhecimento acadêmico com o
desenvolvimento de habilidades que retratam o perfil desse sujeito.
Para encerrar a obra, ressaltamos, no último capítulo, a práxis do
orientador educacional, o seu espaço de trabalho, o seu papel de gestor e o
desenvolvimento da sua prática gestora. O trabalho de orientação profissional
do orientador também é destacado, assim como seu trabalho com os alunos
que apresentam necessidades educativas especiais, promovendo espaços de
estudo sobre as estratégias pedagógicas a serem desenvolvidas com essas
crianças e garantindo o suporte necessário para que os professores possam
efetuar um trabalho educativo de qualidade.
Esperamos que tenham boas reflexões pedagógicas!

8 Orientação educacional na prática


1
Uma conversa sobre
Orientação Educacional
Neste capítulo, discutiremos sobre o papel da Orientação Educacional
e a sua relevância para a construção de uma escola em sintonia com o
seu contexto social e político.
No primeiro momento, apresentaremos o contexto histórico da
Orientação Educacional no Brasil, partindo de seu surgimento e seguindo
até os dias atuais. É essencial entendermos historicamente a sua cons-
trução, a fim de contextualizar as suas transformações ao longo de sua
existência.
O segundo ponto que levantaremos trata das diferentes abordagens
que a Orientação Educacional comporta, bem como os seus enfoques
distintos e o que há por trás de cada mudança significativa sofrida durante
o processo de implementação, fortalecimento e aprimoramento dessa
especialidade no cenário educacional vigente.
Por último, chegaremos aos seus princípios, às suas técnicas e aos
seus instrumentos, no sentido de debater os elementos contribuintes
para uma prática de Orientação Educacional fundamentada, contextua-
lizada e congruente com os objetivos da comunidade escolar na qual
ela está inserida e é desenvolvida. Nessa parte do capítulo levantaremos
algumas questões capazes de exemplificar a participação do orientador
educacional como a figura central dos processos educativos que estão
diretamente ligados ao aluno, à família e à comunidade.
Desejamos que a leitura seja proveitosa, estimulante e cheia de
contribuições significativas e reflexões profundas. É muito importante
considerar o contexto histórico, político e social da Orientação Educacional
e todas as influências que a cercam, pois somente assim essa área do co-
nhecimento é elucidada.

Uma conversa sobre Orientação Educacional 9


1.1 Trajetória da Orientação
Vídeo Educacional no Brasil
Pensar os novos rumos da Orientação Educacional no Brasil nos
traz a necessidade de voltar o olhar para o seu processo histórico, na
tentativa de entender o contexto de seu surgimento, das experiências
obtidas ao longo do tempo e dos direcionamentos atuais marcados
Objetivo de aprendizagem
pelo cenário educacional vigente.
Conhecer a trajetória da
Orientação Educacional No Brasil, a Orientação Educacional surge, na década de 1940, como
no Brasil.
uma espécie de “organizadora” da vida profissional dos adolescentes
e jovens integrantes e/ou recém-egressos daquilo que conhecemos,
atualmente, como Ensino Médio. Ainda sem formação superior prevista
por lei, a sua prática era exercida por técnicos sem preparação específica
para essa especialidade – geralmente, pedagogos generalistas.

Anos mais tarde, na década de 1960, a profissão de orientador edu-


cacional foi legalmente regulamentada no país. Então, temos a primeira
grande mudança na área: o objetivo da Orientação Educacional começa
a ser direcionado não apenas para o atendimento ao adolescente (Anos
Finais e Ensino Médio), mas também ao aluno das séries iniciais.

Com o intuito de auxiliar no processo de escolha profissional dos


alunos, a Orientação Educacional passa a ser entendida como a espe-
cialidade educacional cuja abordagem se refere ao suporte profissionali-
zante aos alunos e à sua identidade. Nesse período, ela vai se moldando
com as características do que deveria ser apenas uma das ações den-
tro da prática do orientador educacional, a de auxiliar no processo de
construção e aprimoramento das escolhas profissionais dos alunos.
Assim, a Orientação Educacional começa a ser encarada como um acon-
selhamento vocacional.

Diante dessa definição do seu papel, imposta pela sociedade da


época, surgiram conflitos e debates quanto à identidade da área e, con-
sequentemente, quanto ao esclarecimento das funções do orientador
educacional. Pautados nas reflexões advindas das práticas de aconselha-
mento vocacional, alguns autores construíram referenciais teóricos que
embasaram os debates que se seguiram. Era inegável que os rumos da
Orientação fossem repensados, considerando a necessidade de tornar

10 Orientação Educacional na prática


essa atividade uma espécie de mola propulsora para atingir o nível de
uma sociedade mais justa e igualitária.

Nesse período, a figura do orientador educacional passou a ser


identificada como um bálsamo para os problemas enfrentados pelo
aluno, não apenas na escola, como também na família. O assistente
social e o psicólogo tinham suas funções fácil e convenientemente con-
fundidas com as do orientador educacional – este que, na maioria das
vezes, acabava exercendo os papéis dos profissionais citados, tornan-
do os equívocos sobre sua identidade ainda mais latentes.

A partir de 1980, a Orientação Educacional ganha mais espaço


nas discussões educacionais. Desse modo, os profissionais da área
passam a questionar as suas reais funções e a relevância de sua pre-
sença e atuação nas escolas. As reflexões se aprofundam no sentido
de construir uma trajetória voltada para o atendimento integral dos
sujeitos, deixando de lado o papel burocrático ou, até mesmo, disci-
plinador ao qual a Orientação Educacional tinha sido reduzida. Foi aí,
então, que se passou a encarar a ausência de uma identidade emanci-
patória, almejando-se novos olhares e perspectivas para a profissão.
Filme
É muito importante que o objetivo da Orientação Educacional seja
compreendido como o atendimento do sujeito na sua integralidade e nas
suas relações com as demais instâncias, bem como que seja abandonada
a ideia tanto de ações paliativas e isoladas quanto da realização de um tra-
balho descontextualizado. Concordamos com Milet (1987, p. 43), quando
diz que “é necessário pensar junto com os alunos sobre o ambiente que
os circunda e as relações que estabelecem com esse ambiente, para que,
tomando consciência da expropriação a que são submetidos, sintam-se
fortalecidos para lutar por seus direitos de cidadãos”. Com o filme Pink Floyd:
The Wall, você irá perce-
O orientador educacional, quando compõe o corpo gestor escolar, ber uma crítica severa ao
envolvido não mais com questões paliativas, amplia seu horizonte de ensino que proporciona
o acúmulo de conteúdo,
atuação para uma participação efetiva nas discussões dos projetos, do sem relacioná-lo com
currículo e da proposta pedagógica da escola na qual está inserido. a rotina dos alunos.
Além disso, o filme,
Assim, ele acaba desenvolvendo um sentimento de pertencimento às com roteiro assinado
questões a serem trabalhadas e aos objetivos a serem alcançados, com por Roger Waters, faz
uma crítica à opressão
todos os atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. muitas vezes exercida por
professores autoritários.
Dessa forma, a trajetória da Orientação Educacional vai sendo con-
Direção: Alan Parker. Reino Unido:
tada e os seus princípios e valores vão sendo desenhados à medida
Metro-Goldwyn-Mayer, 1982.
que se considera a realidade dos alunos, sem distanciar essa reflexão

Uma conversa sobre Orientação Educacional 11


das questões urgentes apresentadas pela sociedade. De acordo com
Grinspun (1994, p. 13):
a orientação, hoje, está mobilizada com outros fatores que não
apenas e unicamente cuidar e ajudar os ‘alunos com proble-
mas’. Há, portanto, necessidade de nos inserirmos em uma nova
abordagem de Orientação, voltada para a ‘construção’ de um cida-
dão que esteja mais comprometido com seu tempo e sua gente.
Desloca-se, significativamente, o ‘onde chegar’, neste momento da
Orientação Educacional, em termos do trabalho com os alunos.
Pretende-se trabalhar com o aluno no desenvolvimento do seu
processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubje-
tividade, obtidas através do diálogo nas relações estabelecidas.

Ainda, na década de 1980, em meio ao cenário educacional de refle-


xões produtivas e incertezas relevantes, um movimento sindicalizado
surge para embasar os debates realizados até então.

Com os estudos e as pesquisas se consolidando e pautando as discussões, ocorre


a fundação da Federação Nacional dos Orientadores Educacionais (Fenoe), uma
organização sindical que, em sua permanência atuante, contribuiu muito para a
ampliação das conquistas da categoria dos orientadores educacionais no país. Sua
extinção foi sentida pela classe como uma espécie de perda da bússola que os guia-
va na luta por uma prática de Orientação que primasse pela cidadania dos sujeitos.
Ao longo desse período, outras organizações foram surgindo, como a Associação
dos Orientadores Educacionais do Rio Grande do Sul (AOERGS), sempre objetivando
organizar a categoria e trazer novas perspectivas de atuação.

Com os desafios educacionais crescendo a passos largos, as articula-


ções no âmbito da gestão escolar precisaram ser repensadas de tempos
em tempos. Portanto, durante toda a década de 2000, a Orientação
Educacional voltou a passar por profundas e marcantes transforma-
ções. Os cursos de Pedagogia haviam sido responsáveis pela formação
do orientador educacional, por meio das reformas sofridas pela Lei de
Diretrizes e Bases (LDB); porém, com o passar dos anos, essa espe-
cialidade começou a ser encarada, também, como uma formação de
pós-graduação ou especialização. Esse novo modelo acabou por enfra-
quecer a unidade do conceito de Orientação Educacional e, novamente,
os profissionais da área se viram sem um ponto de referência.

É essencial registrar que, durante toda a trajetória explicada até aqui,


a Orientação Educacional sofreu ameaças de extinção, corroboradas pe-
las dúvidas sobre o seu conceito, o seu propósito e a sua identidade.

12 Orientação Educacional na prática


Como forma de dinamizar os seus estudos, acompanhe a linha do
tempo que reúne as informações apresentadas:

Figura 1
Linha do tempo da Orientação Educacional

im Evseev/Shutterstock
1940 1960 1980 1990 2000

Regulamentação Debates acalorados e Novas


Surgimento Extinção da Fenoe e
da profissão do reflexões profundas. transformações nas
da Orientação perda da referência.
orientador educacional Fundação da Fenoe. abordagens da Orientação
Educacional no Brasil.
no Brasil. Educacional.

Fonte: Elaborada pela autora.

A partir da década de 2000, as transformações vivenciadas pela


Orientação Educacional direcionaram a sua prática para diferentes
campos, fazendo com que surgissem abordagens distintas e, conse-

quentemente, técnicas e instrumentos que correspondessem aos


objetivos de cada direcionamento exercido. A seguir, veremos os
diversos caminhos percorridos pela Orientação Educacional.

1.2 Abordagens da Orientação Educacional


Vídeo Já vimos que, com o passar do tempo, a Orientação Educacional tem
sua trajetória marcada por mudanças, impactos e redirecionamentos.
Essas modificações ocasionaram diferentes caminhos tanto do ponto
de vista da conceituação e dos objetivos a serem perseguidos quanto
do viés prático. A Orientação Educacional, enquanto aconselhamento
Objetivo de aprendizagem
profissional, estava voltada para a parametrização das habilidades e
Conhecer as aborda-
gens da Orientação aptidões dos indivíduos, preocupando-se apenas com a parte técnica,
Educacional. profissionalizante e limitada.

Com o objetivo de responder à demanda da sociedade, com relação


aos setores que precisavam de mão de obra especializada, o orienta-
dor educacional era uma espécie de “analista” do perfil do sujeito alu-
no, a fim de identificar em qual área ou setor profissionalizante ele se
encaixaria melhor. Essa prática tornou a Orientação Educacional co-
nhecida como Orientação Vocacional.

Uma conversa sobre Orientação Educacional 13


A Orientação Vocacional visava classificar os sujeitos por meio da uti-
lização de testes psicométricos, com os quais se construía uma escala
não apenas para justificar a falta de êxito de determinados alunos no
Leitura desempenho escolar, mas também para tornar apropriada a indicação
O texto Orientador Edu- de certos estudantes como indivíduos necessitados de condições edu-
cacional, da autora Neide
cativas especiais. Isso era realizado tendo como base apenas a aplica-
Elisa Portes dos Santos,
irá auxiliar a aprofundar ção, por parte dos profissionais que ocupavam o cargo de orientador
seus estudos, pois traz
educacional, de testes psicológicos padrão, distantes da realidade dos
um resumo interessante
a respeito das transfor- alunos e descontextualizados da vida escolar destes.
mações ocorridas na
trajetória da Orientação O desenvolvimento da industrialização e do processo produtivo,
Educacional no Brasil. em meados da década de 1930, passa a exigir do trabalhador
Disponível em: https://gestrado.net. hábitos, atitudes e conhecimentos, o que pode ser entendido
br/verbetes/orientador-educacional/. como uma “capacitação profissional”, adquirida previamente
Acesso em: 1 set. 2021. à entrada no emprego. Entendida como um conjunto de habi-
lidades básicas para o necessário ajustamento às funções pro-
dutivas, esta “capacitação profissional” era adquirida na escola.
(PIMENTA, 2002, p. 20)

Longe de serem objetivos da Orientação Educacional, o aconselhamento


profissionalizante e, até mesmo, a indicação para espaços educativos espe-
ciais obedeciam às regras vigentes da sociedade e aos seus interesses e,
principalmente, carregavam a função de manter o seu status quo.

Outra abordagem marcante da Orientação Educacional se dá em


sua prática meramente administrativa e burocrática. Atrelar o papel
do orientador educacional ao contexto das campanhas solidárias da
escola, à distribuição aleatória dos alunos nas turmas ou, ainda, aos
atendimentos individualizados, na tentativa de resolução de conflitos
internos familiares, é descaracterizar essa especialidade e impingir um
caráter restritamente formal, limitando sua atuação.

O cumprimento da burocracia escolar, o acúmulo e/ou o equívoco


de funções e atribuições são, muitas vezes, ações internalizadas pelo
profissional, por não ter conhecimento da verdadeira identidade da
Orientação Educacional. O orientador não deve ser confundido com
um agente operacional, mas sim ser um sujeito com uma formação
específica que contribua para o exercício de uma Orientação Educacio-
nal capaz de fazer a diferença na vida dos alunos atendidos.

Sendo assim, é de suma importância distinguir os diferentes papéis


dentro do corpo gestor da escola, no que se refere à clareza de atribui-
ções e funções. De acordo com Pascoal (2010, p. 109):

14 Orientação Educacional na prática


o orientador educacional diferencia-se do coordenador pedagó-
gico, do professor e do diretor. O diretor ou gestor administra a
escola como um todo; o professor cuida da especificidade de sua
área do conhecimento; o coordenador fornece condições para
que o docente realize a sua função da maneira mais satisfatória
possível; e o orientador educacional cuida da formação de seu
aluno, para a escola e para a vida.

A prática atrelada às tarefas controladoras, vigilantes e disciplinadoras


é outro exemplo de abordagem da Orientação Educacional. O orienta-
dor, em muitos casos, encontra-se na posição de mediador dos conflitos
ocorridos entre os alunos e entre o aluno e o professor, caracterizando-se
como uma válvula de escape nos momentos em que este não se sente
capaz de gerir seu grupo, isto é, sua turma. Nesse contexto, o docente
apela para a figura do orientador, na esperança (equivocada) de colocar
nesse profissional o peso do autoritarismo, da punição e da coerção, so-
licitando dele ações isoladas e paliativas.

Diferentemente disso, Pascoal (2010, p. 109) coloca que: Saiba mais


a perspectiva de orientação educacional que consideramos váli- Você sabia que no
da não se equipara ao trabalho do psicólogo escolar, que tem dia 4 de dezembro é
comemorado o Dia do(a)
dimensão terapêutica. O papel do orientador com relação à família
Orientador(a) Educacional
não é apontar desajustes ou procurar os pais apenas para tecer no Brasil? Mais do que
longas reclamações sobre o comportamento do filho e, sim, procu- acompanhar o aluno
nas situações cotidianas
rar caminhos, junto com a família, para que o espaço escolar seja
da escola, a Orientação
favorável ao aluno. Não cabe ao orientador a tarefa de diagnosti- Educacional visa, por
car problemas e/ou dificuldades emocionais ou psicológicas e, sim, meio da utilização de
que volte seu trabalho para os aspectos saudáveis dos alunos. instrumentais e técnicas,
auxiliar no processo
formativo do aluno como
É preciso ter em mente que uma escola não se faz sem a presença
um todo, abordando
do aluno. Ele é o centro do processo e o seu acompanhamento, tanto aspectos culturais, científi-
cos e emocionais.
individual quanto em grupo, deve se dar, única e exclusivamente, pelo
Para acessar o código
orientador educacional. É de responsabilidade do orientador oportu- de ética construído pela
nizar o diálogo do aluno consigo mesmo, com seus pares, com o pro- Fenoe, acesse o link
a seguir.
fessor, com a comunidade escolar e com a sociedade. De acordo com
Disponível em: http://www.
Pascoal (2010, p. 110): drearaguaina.com.br/minutas/
a visão contemporânea de orientação educacional aponta para o anexo_5_minuta_oficio_gab_
circ_100_2011.pdf. Acesso em:
aluno como centro da ação pedagógica, cabendo ao orientador 1 set. 2021.
atender a todos os alunos em suas solicitações e expectativas,
não restringindo a sua atenção apenas aos alunos que apre-
sentam problemas disciplinares ou dificuldades de aprendiza-
gem. Para poder exercer a contento a sua função, o orientador
precisa compreender o desenvolvimento cognitivo do aluno, sua

Uma conversa sobre Orientação Educacional 15


afetividade, emoções, sentimentos, valores, atitudes. Além disso,
cabe a ele promover, entre os alunos, atividades de discussão e
informação sobre o mundo do trabalho, assessorando-os no que
se refere a assuntos que dizem respeito a escolhas.

Diante do cenário apresentado até o momento, muitas são as dú-


vidas e inúmeros são os questionamentos que acompanham o debate
sobre a Orientação Educacional. Como, então, essa especificidade se dá
na prática? Como efetivar a qualidade da profissão, por meio de estraté-
gias e metodologias próprias e com sentido? É o que veremos a seguir.

1.3 Princípios, técnicas e instrumentos


Vídeo da Orientação Educacional
Para falarmos sobre os elementos que embasam a Orientação
Educacional, cabe conceituá-la, conferindo-lhe importância acadêmica
e caráter rigoroso quanto ao seu significado.

Essa especialidade é identificada como um processo educativo no


Objetivo de aprendizagem qual o aluno é a figura central e o orientador é aquele que oportuniza o
Conhecer as técnicas diálogo democrático sobre as relações desse aluno com os demais ato-
utilizadas pela Orientação
res desse processo. Concordamos com Porto (2009, p. 48) quando afirma
Educacional.
que a fundamentação dessa prática se dá “no reconhecimento das dife-
renças individuais e no reconhecimento de que o ser humano, em qual-
quer momento de sua vida, pode apresentar carências e dificuldades,
necessitando, pois, de compreensão, ajuda e orientação”.

Dessa forma, a Orientação Educacional é uma prática essencial nas


escolas e é fundamentada em valores íntegros, compromisso com o
Vídeo
aluno e princípios éticos, estes descritos no quadro a seguir.
O vídeo Orientação Educa-
cional na Dinâmica do Coti- Quadro 1
diano Escolar, do canal de Princípios da Orientação Educacional
Juliana Araujo, apresenta
a fala da filósofa Mirian Princípio 1 Processo integrado com o currículo escolar.
Grispun sobre o papel do
Processo que abrange toda a escola e no qual todos assumem papel
orientador educacional na Princípio 2
ativo e de relevância.
escola, a importância de
sua função e os processos Processo que enxerga o aluno como um ser global e contribui para
do cotidiano escolar. Princípio 3 o desenvolvimento integral tanto físico quanto emocional, social,
estético, político e educacional.
Disponível em: https://
www.youtube.com/ Princípio 4 Processo de equidade perante todos os atendidos.
watch?v=jFqh5nK47II. Acesso em:
1 set. 2021. Processo que tira o foco das ações paliativas e objetiva construir um
Princípio 5
plano de ação preventivo.

Fonte: Elaborado pela autora.

16 Orientação Educacional na prática


O Quadro 1 representa as intenções da prática orientadora, pauta-
das na finalidade da Orientação Educacional como agente ativo do pro-
cesso de ensino e aprendizagem dos alunos, o papel desse profissional
consiste em mediar, de maneira dialógica, as ações a serem desenvol-
vidas dentro e fora do contexto escolar. As diretrizes do trabalho de
Orientação perpassam pelo seguinte ponto: o bem-estar do aluno, o
seu desenvolvimento e direcionamento devem sempre considerar a
realidade do educando e o seu contexto socioeconômico cultural em
todas as fases de realização das atividades educacionais. Logo, é um
trabalho colaborativo, preventivo e oportunizador, conforme podemos
conferir na citação a seguir.
Sabe-se que o trabalho educacional consiste em uma experiên-
cia orientada para produzir resultados específicos na formação e
aprendizagem dos alunos. Corresponde a uma ação intencional
e sistemática, cuja efetividade depende de que seja organizada
e implementada conforme os objetivos pretendidos. Essa con-
dição, portanto, demanda clareza de fundamentos, propósito e
diretrizes, assim como objetividade do olhar sobre os fatos que
informam o processo educacional e os resultados de suas ações,
que se obtém pela contribuição do monitoramento e avaliação.
(CORDINGLEY, 2007 apud LÜCK, 2013, p. 162)

Para que a prática da Orientação atinja a excelência, é necessário


elencar os elementos fundantes do papel do orientador, quais sejam:
• atender aos alunos de todas as faixas etárias;
• auxiliar no processo de organização;
• executar e acompanhar a proposta pedagógica;
• praticar a escuta atenta como método eficaz de capturar as ne-
cessidades reais dos alunos;
• estar aberto ao diálogo;
• desenvolver senso crítico;
• analisar colaborativamente o processo de ensino e aprendizagem,
por meio do estudo do currículo escolar.

Percebemos que as atribuições do orientador dão conta de uma


função de mediação, capaz de desenvolver um processo organizado e
pedagógico, Lück coloca que
O delineamento das funções do orientador educacional, que, re-
forçamos, devem ser entendidas como dinâmicas, processuais
e, sobretudo interativas, a serviço do compromisso social da

Uma conversa sobre Orientação Educacional 17


educação. Isso é, nenhuma delas tem significado e valor por si
mesmas, ou pode ser considerada isoladamente, daí por que seu
planejamento deve ter caráter abrangente. Elas têm importância
como elementos de um processo global de atuação pedagógi-
ca. As funções da Orientação Educacional podem ser engloba-
das em dois grupos, que se caracterizam como dois eixos de um
mesmo processo, em que nenhum existe sem o outro e a amplia-
ção de um implica na ampliação do outro. Os dois grupos são: O
das funções de organização; o das funções de implementação.
(LÜCK, 1979b)

Sendo assim, é importante trazer para a discussão o planejamento


do profissional da Orientação Educacional. O orientador deve pensar as
suas ações em consonância com os objetivos a serem alcançados, consi-
derando, também, a proposta pedagógica da escola onde está inserido.
Trabalhar por esse caminho possibilitará a ele ampliar a sua visão edu-
cativa, a de si mesmo e a da sociedade como um todo.

A pesquisa na área favorece a expansão do conhecimento e a


construção de uma base sólida de atuação; além disso, transforma a
realidade ao redor e acaba por promover a potencialização do traba-
lho desenvolvido. Enxergar diferentes alternativas para as questões
escolares cotidianas, sem desvinculá-las da realidade da comunidade
local, abre portas para uma Orientação Educacional pautada no pla-
nejamento, na execução, no acompanhamento e na avaliação dos
processos educativos dos quais o orientador faz parte e é agente de
mudança e de colaboração qualitativa.

É o orientador educacional quem articula o diálogo entre o aluno e o


professor. Por meio do currículo escolar, ele oportuniza o debate entre
os conteúdos a serem trabalhados e a sua completa contextualização
mediante o seu conhecimento da comunidade. Estar inserido no territó-
rio é primordial para oferecer uma Orientação Educacional de qualida-
de e que faça total sentido para os envolvidos. De acordo com Oliveira
e Bitencourt (2021, p. 170), “o planejamento participativo é considerado
condição fundamental da Orientação Educacional envolvendo também
habilidades de trabalho em grupo, de pessoas e de articulação de seus
esforços, de comunicação e negociação, sendo uma ação complexa e
coletiva, implicando de forma participativa”.

A seguir, veja um passo a passo do processo de planejamento volta-


do para a Orientação Educacional.

18 Orientação Educacional na prática


Figura 2
Planejamento da Orientação Educacional

aShatilov/Shutterstock
Desenvolver e
Fomentar a
acompanhar
Contribuir na autonomia Avaliar o Oportunizar o
Conhecer os projetos
construção dos alunos por desempenho diálogo entre o
a proposta escolares,
do currículo meio de ações integral corpo gestor e
da escola. nos quais os
escolar. pedagógicas dos alunos. os alunos.
alunos são os
contextualizadas.
protagonistas.

Fonte: Elaborada pela autora.

Com base no pressuposto da organização prévia para a reflexão


das ações educativas a serem executadas pelo orientador, o esquema
apresentado (Figura 2) mostra a relevância de dar vez e voz aos alu-
nos, sendo mediados pela Orientação Educacional. Muito mais do que
justificar o baixo desempenho desses alunos em avaliações formais, a
Orientação promove debates capazes de fomentar alternativas viáveis
de recuperação, ampliação, valorização e potencialização do processo
de ensino e aprendizagem desenvolvido na escola. Dar sentido à práti-
Filme
ca pedagógica parece ser o objetivo principal da Orientação Educacio-
nal atualmente; de acordo com Garcia (1986, p. 18):
uma das funções específicas do orientador educacional é a socia-
lização do saber sobre o aluno, na medida em que a ele cabe tra-
zer a realidade do aluno para o currículo. O saber sobre o aluno
concreto, confrontado com as teorias do desenvolvimento e de
aprendizagem, vai possibilitando a criação coletiva de uma teoria
mais adequada ao aluno brasileiro, e a construção de uma práti-
ca pedagógica que atenda melhor o aluno real.
No filme Madadayo, você
É necessária a formação contínua de todos os profissionais, bem irá conhecer a história
como a reflexão sobre a identidade real do orientador educacional de Hyakken Uchida, que,
após 30 anos traba-
e a constante atualização dos debates referentes a essa área. As lhando como professor
ações dos alunos devem estar pautadas nas relações entre todas as em uma escola, anuncia
que irá parar de lecionar.
dimensões da escola. O corpo gestor escolar precisa estar alinhado, Seus alunos, inconforma-
de modo que todos os envolvidos sejam corresponsáveis pela busca dos com a decisão,
passam a promover
por uma prática libertadora que promova sentido e produza signifi- encontros quinzenais
cado para toda a comunidade escolar. Uma prática crítica e reflexiva, para aprender lições de
vida com o ancião.
com disposição para desenvolver competências e habilidades e dar
Direção: Akira Kurosawa. Japão:
continuidade aos projetos e processos da escola, é o que se espera da
Daiei Film, 1993.
Orientação Educacional.

Uma conversa sobre Orientação Educacional 19


Os orientadores têm como prática trazer temas atuais e que dizem
respeito aos interesses da comunidade escolar para serem discutidos
dentro da escola, o que acaba por provocar possibilidades infinitas
de trabalho, gerando formação para todos os indivíduos. Por meio da
atuação da Orientação Educacional, é possível emancipar social e poli-
ticamente o aluno, o professor, a escola e a comunidade.

A conscientização da escola sobre o seu papel na sociedade é uma


das mais importantes atuações do orientador educacional – prática
essa que ainda se apresenta tímida e nem sempre está acompanhada
de colaboração efetiva por parte dos demais profissionais da escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, a Orientação Educacional vem transformando e sendo
transformada. Sua trajetória, seu propósito e seus valores, no cenário
educacional atual, impingem novos olhares e novas perspectivas de refle-
xão, prática e atuação.
É importante considerar as influências sofridas pelas transformações
da sociedade e os impactos causados nos processos educativos à vista
das mudanças ocorridas nessa especialidade ao longo do tempo.
Os debates, as discussões, as pesquisas e os estudos na área contri-
buíram muito para o esclarecimento e aprofundamento das diferentes
abordagens, bem como para a superação de entendimentos equivocados
quanto às funções e aos papéis a serem desempenhados pelo orientador
educacional na escola.
Repensar a prática da Orientação Educacional, com vistas à valorização
dessa especialidade, parece ser um importante objetivo a ser persegui-
do, uma vez que dele depende a construção da identidade do orientador
educacional e o empoderamento da sua prática pedagógica.
O orientador é mediador e responsável por possibilitar um ambiente
escolar capaz de refletir uma sociedade mais humana. Com o orientador
educacional, a escola aprende a respeitar as especificidades atendidas,
oportunizando experiências e contribuindo para que o conhecimento seja
construído coletivamente. A Orientação Educacional contribui de maneira
direta na formação de alunos pesquisadores, protagonistas e autônomos,
que possam aprender em todas as etapas da vida.
As práticas da Orientação Educacional foram amplamente redefinidas
com o passar das décadas, o que gerou consequências nos métodos e
modos de se pensar e se fazer educação. Por essa razão, faz-se necessá-

20 Orientação Educacional na prática


ria, na escola, a presença de um orientador educacional, com visão con-
temporânea do processo de ensino e aprendizagem e das relações, o que
significa atuar de modo participativo, visando à formação de um sujeito
consciente e atento às transformações não apenas no mundo do traba-
lho, como também da sociedade em geral.

ATIVIDADES
Atividade 1
Na primeira seção do capítulo, discutimos sobre a trajetória da
Orientação Educacional no Brasil. Analise o início dessa trajetória e
relacione-a com o contexto do país na década de 1940.

Atividade 2
Comente sobre a abordagem da Orientação Educacional enquanto
aconselhamento profissional.

Atividade 3
Analise a importância do planejamento das ações da
Orientação Educacional.

REFERÊNCIAS
GARCIA, R. L. Especialistas em educação: os mais novos responsáveis pelo fracasso
escolar. In: ALVES, N.; GARCIA, R. L. (org.). O fazer e o pensar dos supervisores e orientadores
educacionais. São Paulo: Loyola, 1986.
GRINSPUN, M. P. S. (org.) A prática dos orientadores educacionais. São Paulo: Cortez, 1994.
LÜCK, H. Planejamento em orientação educacional. Rio de Janeiro: Vozes, 1979.
LÜCK, H. Avaliação e monitoramento do trabalho educacional. Petrópolis: Vozes, 2013.
MILET, R. M. L. Uma orientação que ultrapassa os muros da escola. Revista Ande, n. 10, 1987.
OLIVEIRA, I. C. B. de.; BITENCOURT, S. Orientação Educacional planejada. Revista Científica
Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, v. 6, n. 6, p. 167-176, fev. 2021.
PASCOAL, M. O orientador educacional no Brasil: uma discussão crítica. Poíesis Pedagógica,
v. 3, n. 3-4, p. 114-125, 2010.
PIMENTA, S. G. (org.) Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo:
Cortez, 2002.
PORTO, O. Orientação Educacional: teoria, prática e ação. Rio de Janeiro: Wark, 2009.

Uma conversa sobre Orientação Educacional 21


2
O papel do orientador
educacional
Neste capítulo, discutiremos sobre o papel da Orientação Educacional
no contexto escolar e a importância de esclarecer suas atribuições, com
o intuito de contribuir para o contexto social e político nos quais esse
profissional está inserido.
No primeiro momento, discutiremos sobre as diferenças entre a
Orientação Educacional e a Psicopedagogia. O objetivo é deixar claro que
os profissionais de ambas as áreas têm seu espaço na escola, porém, são
lugares definidos e distintos.
O segundo ponto que trabalharemos é o das contribuições verda-
deiramente pedagógicas da Orientação Educacional. Discutiremos a efe-
tividade da atuação dessa área do conhecimento, suas contribuições e
construções significativas dentro do processo educativo.
Finalmente, abordaremos o papel do orientador educacional no con-
texto da escola no que tange às influências no currículo, na didática e
na metodologia desenvolvidas no dia a dia pedagógico. Apresentaremos
algumas alternativas de participação efetiva desse profissional na busca
por edificar uma educação de qualidade, voltada à construção de uma
sociedade mais justa e igualitária.
Acreditamos que o presente material proporcionará importantes refle-
xões e, sobretudo, contribuirá para a formação de profissionais críticos e
conscientes do seu papel transformador dentro do cenário educacional.
É muito importante que o orientador educacional tenha clareza sobre seu
papel e busque o aprimoramento da sua prática em todos os processos
escolares vivenciados.

2.1 Orientação Educacional e


Vídeo intervenção psicopedagógica
Diante do histórico da Orientação Educacional, é possível per-
ceber que, com tantas transformações sofridas ao longo das déca-
das, muitas lacunas foram também vivenciadas durante o processo

22 Orientação Educacional na prática


de construção de identidade dessa área do conhecimento. Isso fez Objetivo de aprendizagem

com que, por mais de uma vez, a Orientação Educacional fosse con- Refletir sobre as distin-
ções entre a Orientação
fundida com outras áreas – a psicopedagogia, por exemplo. Educacional e a interven-
ção psicopedagógica.
A Psicopedagogia trata do processo de ensino e aprendizagem
no que tange ao individual do ser. Assim dizendo, é uma área do
conhecimento que acompanha as estratégias de ensino a serem
executadas para se chegar à construção de um processo educativo
que seja capaz de suprir as necessidades individuais de cada um.

Dentro do âmbito escolar, o psicopedagogo vai atuar de manei-


ra a identificar necessidades educativas peculiares, além de refletir
sobre quais alternativas devem ser adotadas para atender a es-
sas necessidades, e fará o acompanhamento desse processo. É um
profissional que atua de maneira singular, focando nas particulari-
dades e auxiliando o sujeito no seu modo de aprender e construir
conhecimento. Concordamos com Bassedas (1996, p. 24) quando
afirma que o psicopedagogo:
busca conhecer, olhar e escutar a relação do sujeito com o
conhecimento objetivando a melhoria do ensino e da apren-
dizagem, ou seja, para ajudar a família, a escola (em todos os
níveis – administrativo, docente, técnico, discente) a cumprir
o seu papel, atuando como um articulador do ensino e da
aprendizagem.

Assim, a Psicopedagogia atua com o aluno e com a família, po-


rém em um âmbito particular, de modo a agir diretamente no pro-
cesso de ensino e aprendizagem daquele aluno em questão. Sua
contribuição para a escola será sempre pelo viés do atendimento
individual do sujeito.

Artigo

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-58212007000300012

O artigo Psicopedagogia: limites e possibilidades a partir de relatos de profissio-


nais, das autoras Maria Regina Peres e Maria Helena Mourão Alves Oliveira,
publicado na revista Ciências e Cognição, em 2007, apresenta dilemas, entra-
ves, desafios e possibilidades da área da Psicopedagogia no que concerne ao
trabalho desenvolvido por esse profissional na escola. As autoras basearam-
-se em uma pesquisa de campo para entender o perfil do psicopedagogo e
suas contribuições para o processo educativo nas instituições de ensino.

Acesso em: 24 set. 2021.

O papel do orientador educacional 23


Na verdade, assim como a Orientação Educacional, a Psicopedago-
gia acaba influenciando na dinâmica da escola, uma vez que interfere
no modo de construir conhecimento. Todavia, nesse caso, as inter-
venções passam pela família, que busca esse profissional na tentativa
de entender as necessidades específicas do aluno. Com o tratamen-
to, o psicopedagogo estabelece uma parceria com a escola e com a
família. Ele precisa conhecer o contexto escolar daquele aluno, suas
experiências estudantis e sua realidade de aprendizagem.

Conhecendo esse cenário, o psicopedagogo vai construindo (em


parceria com a escola) estratégias capazes de possibilitar o aprendi-
zado ideal, além de ir desenhando junto à escola alternativas viáveis
de atendimento e acompanhamento desse aluno no que se refere ao
seu processo educativo.

É muito importante que esse profissional tenha passe livre na es-


Filme
cola para dialogar com os professores, pois será por meio destes que
muitas estratégias pensadas se concretizarão. As sugestões do psi-
copedagogo devem ser apresentadas, discutidas e refletidas com os
professores, e quem faz a mediação desse diálogo é o orientador edu-
cacional – inclusive, é esse profissional que muitas vezes indica para
a família a necessidade de buscar a Psicopedagogia para responder a
algumas das lacunas verificadas no aluno no âmbito escolar.

Contudo, é necessário esclarecer as diferentes intervenções, bus-


O filme O Discurso do cando valorizar os papéis e compreender em quais processos a cola-
Rei apresenta a amizade boração é mais pertinente.
profunda que surge entre
duas pessoas, sendo que Para o psicopedagogo, é essencial estar ligado ao contexto escolar
o que as aproxima, em
um primeiro momento, é e familiar do aluno atendido. É por meio desses cenários que a inter-
a dificuldade na dicção de venção psicopedagógica acontece de maneira embasada e proveito-
uma delas e a possibilida-
de de que a outra auxilie sa. O profissional irá fazer observações sobre o aluno nos seguintes
para que essa questão cenários: escola, família e espaços de convívio social, além de realizar
seja vencida. Desse modo,
inicia-se um processo de, atendimento com os demais profissionais da escola, sessões com a
em médio prazo, vencer família e atendimentos individuais ao aluno. Ele pode também fazer
desafios e encontrar
apoio em um profissional um trabalho de prevenção junto aos professores no intuito de capaci-
capacitado. tar os docentes para atender a necessidades específicas de aprendi-

Direção: Tom Hooper. Reino


zagem, tudo isso mediado pelo orientador educacional.
Unido: See Saw Films e Bedlam
Resumindo, o objetivo da Psicopedagogia pode ser definido, de
Productions, 2010.
acordo com Beyer (2003, p. 58), da seguinte maneira:

24 Orientação Educacional na prática


A Psicopedagogia, área de conhecimento interdisciplinar, tem
como objeto de estudo a aprendizagem humana. É papel fun-
damental do psicopedagogo potencializá-la e atender as ne-
cessidades individuais, no decorrer do processo. O trabalho
psicopedagógico pode adquirir caráter preventivo, clínico, tera-
pêutico ou de treinamento, o que amplia sua área de atuação,
seja ela escolar – orientando professores, realizando diagnós-
ticos, facilitando o processo de aprendizagem, trabalhando
as diversas relações humanas que existem nesse espaço; em-
presarial – realizando trabalhos de treinamento de pessoal e
melhorando as relações interpessoais na empresa; clínica – es-
clarecendo e atenuando problemas; ou hospitalar – atuando
junto à equipe multidisciplinar no pós-operatório de cirurgias
ou tratamentos que afetem a aprendizagem. É importante sa-
lientar que a Psicopedagogia é uma área que vem para somar,
trabalhando em parceria com os diversos profissionais que
atuam em sua área de abrangência.

Para o orientador educacional, as intervenções ultrapassam o âm-


bito das singularidades, muito embora estas estejam contempladas
na visão gestora estratégica exercida por esse profissional. Faz par-
te do objetivo da Orientação Educacional unir as partes ao todo, no
sentido de considerar as especificidades de aprendizagem à proposta
pedagógica da escola.

2.2 Orientação Educacional em uma


Vídeo perspectiva pedagógica
No campo pedagógico, a prática da Orientação Educacional torna-se
essencial para atingir o objetivo de tornar significativo o processo de
ensino e aprendizagem desenvolvido na escola.

A Orientação Educacional (OE) tem o aluno como prioridade, no sen-


Objetivo de aprendizagem
tido de compreender quais são as necessidades reais do grupo aten-
Elencar os pontos da
dido na escola, alinhando-as aos projetos a serem construídos com a
Orientação Educacional
em uma perspectiva participação das famílias e dos professores.
pedagógica.
Fazendo parte da equipe gestora, o orientador educacional oportu-
niza o elo entre as ações pedagógicas micro ocorridas no dia a dia e os
projetos macro que consolidam o Projeto Político Pedagógico (PPP) da
escola. O olhar pedagógico desse profissional possibilita o pensamento
e a reflexão sobre ele no que se refere à práticas pedagógicas significa-

O papel do orientador educacional 25


tivas, que dialogam com o contexto social dos alunos. De acordo com
Cordingley (2007) apud Lück (2013, p. 162):
Sabe-se que o trabalho educacional consiste em uma experiên-
cia orientada para produzir resultados específicos na formação e
aprendizagem dos alunos. Corresponde a uma ação intencional
e sistemática, cuja efetividade depende de que seja organizada
e implementada conforme os objetivos pretendidos. Essa con-
dição, portanto, demanda clareza de fundamentos, propósito e
diretrizes, assim como objetividade do olhar sobre os fatos que
informam o processo educacional e os resultados de suas ações,
que se obtém pela contribuição do monitoramento e avaliação.

No âmbito pedagógico, o orientador educacional contribui com


o desenvolvimento de novas ideias que possam otimizar o trabalho
realizado pelos professores na esola, além de ser peça fundamental
da gestão no que se refere a organizar o pensamento educativo da
escola e tornar viável a proposta pedagógica por meio de projetos
que unam a comunidade escolar como um todo: território, famílias,
professores e alunos.

O orientador educacional deve voltar seu olhar para os problemas


da escola e as dificuldades dos alunos e professores, propondo solu-
ções que oportunizem transformações reais do cenário educacional
vigente. Atuar de modo preventivo deve ser prioridade do trabalho
da Orientação Educacional, haja vista a necessidade de se pensar em
alternativas que respondam às necessidades dos contextos escolares
vividos. Tornar significativo o processo de construção do conhecimen-
to, independentemente dos entraves e amarras que se apresentem, é
meta a ser alcançada.

A figura a seguir reúne, de maneira sintética, o caminho a ser per-


corrido para a efetivação de um trabalho de Orientação Educacional
efetivo e significativo.
Figura 1
OE: perspectiva pedagógica

Comunidade escolar

Projetos
• Necessidades reais. • Proposta • Necessidades reais.
pedagógica da escola.
Alunos Professores

Fonte: Elaborada pela autora.


26 Orientação Educacional na prática
Diante dos resultados de desempenho dos alunos, analisando o
processo de aprendizagem desenvolvido pela escola, o orientador pre-
cisa estar antenado às discussões pertinentes ao âmbito educacional
para propor ideias e efetuar ações capazes de responder às demandas
advindas da prática escolar. Mediar o trabalho de equipe necessário
para sanar as lacunas do processo pedagógico é uma função desse
profissional. Por meio do contato direto com os alunos, ele possui co-
nhecimento genuíno da matéria-prima do seu trabalho: as necessida-
des dos alunos nos aspectos cognitivo, afetivo, social e político.

Martins (1984, p. 97) nos diz:


A Orientação Educacional (OE) é um processo organizado e per-
manente que existe na escola. Ela busca a formação integral dos
educandos (esse processo é apreciado em todos seus aspectos,
tido como capaz de aperfeiçoamento e realização), através de
conhecimentos científicos e métodos técnicos. A Orientação
Educacional é um sistema em que se dá através da relação de
ajuda entre Orientador, aluno e demais segmentos da escola;
resultado de uma relação entre pessoas, realizada de maneira
organizada que acaba por despertar no educando oportunida-
des para amadurecer, fazer escolhas, se autoconhecer e assumir
responsabilidades.

O orientador educacional é responsável por fomentar, inspirar, de-


senvolver, aprimorar e acompanhar a transformação dos alunos em su-
jeitos críticos e cidadãos conscientes dos seus deveres e direitos dentro
da vida em sociedade. Faz parte do trabalho do orientador despertar
nos alunos o sentimento de pertencimento ao seu lugar de direito na
sociedade, reconhecendo sua real função e o valor que ela apresenta
no cenário educacional. É muito importante entender que a Orientação
Educacional tem papel fundamental na mediação dialógica do proces-
so educativo, uma vez que possibilita a reflexão, o autoconhecimento Saiba mais
e o planejamento de ações que contribuem para o crescimento indivi- Para aprofundar seus
estudos sobre essa temá-
dual dos sujeitos, dentro de um processo coletivo de amadurecimento. tica, leia o texto O papel
do orientador educacional
A educação inclusiva está também dentro das responsabilidades na educação inclusiva, dis-
pedagógicas do orientador. Ao receber um aluno com necessidades ponível no link a seguir.

educativas específicas, a escola afirma seu compromisso com aquele


Disponível em: https://meuartigo.
processo de aprendizagem e precisa oportunizar condições para que brasilescola.uol.com.br/
pedagogia/o-papel-orientador-
a construção do conhecimento se efetive. Quem faz essa mediação é o
educacional-na-educacao-inclusiva.
orientador. Grinspun (2006, p. 33) afirma: htm. Acesso em: 24 set. 2021.

O papel do orientador educacional 27


O principal papel da Orientação Educacional será ajudar o aluno
na formação de uma cidadania crítica, e a escola, na organização
e realização de seu projeto político pedagógico. Isso significa aju-
dar nosso aluno “por inteiro”: com utopias, desejos e paixões. A
escola, com toda sua teia de relações, constitui o eixo dessa área
da Orientação, isto é, a Orientação trabalha na escola em favor
da cidadania.

Desafio Dessa forma, as dificuldades dos alunos, sendo elas de determina-


Diante dos estudos já dos grupos ou individuais, devem ser conhecidas pelo orientador e di-
realizados até o momen- vididas com toda a equipe a fim de serem refletidas e transformadas
to, analise as sentenças a
seguir e tente classificá-las em possibilidades de atendimento. Tornar possível a aprendizagem de
entre: todos é objetivo da Orientação, respeitando o contexto no qual a escola
I) Faz parte das atri-
está inserida, conhecendo as expectativas das famílias atendidas e con-
buições do orientador
educacional. siderando os anseios da equipe gestora.
II) Não faz parte das
atribuições do orientador Orientar o trabalho pedagógico é o cerne da função da Orientação
educacional. Educacional. É preciso levar em conta aspectos como:
( ) Desenvolver habili-
dades e competên- • conhecimento da profissão;
cias individuais nos
• identidade profissional;
alunos.
( ) Desenvolver hábitos, • formação contínua;
atitudes e valores
coletivos para a vida • clareza das suas funções.
em sociedade.
Só assim é possível desenvolver um trabalho educacional de qua-
( ) Substituir o professor.
( ) Formação docente. lidade. Enxergar possibilidades e alternativas dentro do campo das
( ) Castigar os alunos. dificuldades escolares, desenvolver um olhar sistêmico para os pro-
cessos ocorridos no âmbito escolar, mediar o diálogo entre alunos e
professores, propor ideias que comunguem com a proposta educativa
da escola e fomentar a evolução pessoal dos alunos, assim como os ca-
minhos que serão vivenciados na prática são metas do orientador, que
devem ser alcançadas, assim como os caminhos que serão vivenciados
na prática.

2.3 Orientação Educacional no


Vídeo cotidiano da escola
Qual é a função do orientador na escola? Em quais processos peda-
gógicos ele de fato contribui efetivamente? Como construir um traba-
lho coletivo de orientação?

28 Orientação Educacional na prática


Objetivo de aprendizagem Dentro do cotidiano escolar, as atividades desenvolvidas no dia a
Compreender a Orien- dia pedagógico naturalmente envolvem o orientador. A grande ques-
tação Educacional no
cotidiano da escola. tão é compreender a sua importância para o bom andamento de todo
o processo educativo.

De acordo com o pensamento democrático, o orientador educacio-


nal é o profissional que carrega as características que o capacitam a
Vídeo desenvolver o trabalho educativo coletivo. Para entendermos as ativi-

O vídeo Quem é o Pedago-


dades desenvolvidas por ele no interior da escola, tenhamos em mente
go Orientador Educacio- as habilidades e competências mostradas no quadro a seguir.
nal? apresenta a fala da
Doutora Mariangela Pozza Quadro 1
a respeito da Orientação Perfil do orientador educacional
Educacional na escola.
5 Ps 5 Cs
Disponível em: https:// Pesquisador Criativo
www.youtube.com/
watch?v=G8h3vfPRcOQ. Acesso Paciente Competente
em: 24 set. 2021. Político Crítico
Participativo Comprometido
Pensante Capaz

Fonte: Adaptado de Pozza (2020).

Os elementos acima citados tratam das características essenciais


que o orientador precisa reunir em seu perfil profissional para atender
às suas atribuições de maneira positiva e, com isso, vislumbrar resulta-
dos significativos no seu trabalho. Diante de tais características, é pos-
sível vislumbrar o trabalho pedagógico do orientador na prática.

É por meio do trabalho interdisciplinar que o orientador contribui


significativamente para a atuação dos professores. A participação no
planejamento docente é de suma importância para inserir ideias e
ações capazes de dar vez e voz aos anseios da comunidade escolar, e
Vídeo
isso ocorre quando o orientador educacional escuta os alunos.
O vídeo Transposição didá-
tica: Introdução, Aspectos Trabalhar junto à equipe docente permite influenciar o processo
Gerais e Histórico, do canal educativo que é desenvolvido em sala de aula. Além disso, oportuniza
Prof. Rogério Joaquim
Matemática, é um ótimo a construção de projetos que vão ao encontro da realidade dos alunos
instrumento para que e possibilita o trabalho interdisciplinar, pois, ao conhecer o perfil das
você aprofunde seus
conhecimentos sobre turmas, o orientador pode sugerir elementos significativos que elevem
o tema de transposição o nível do planejamento dos professores.
didática.
Trazer assuntos que fazem parte da realidade dos alunos, propor
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=Aqmzz59_ projetos em parceria com a comunidade, realizar a transposição didáti-
ruI. Acesso em: 24 set. 2021. ca entre os componentes curriculares a fim de aproximar os conteúdos

O papel do orientador educacional 29


do dia a dia da escola, mediar a discussão pedagógica entre as áreas
do conhecimento a fim de proporcionar um cenário propício para a
interdisciplinaridade são aspectos comuns à rotina pedagógica desen-
volvida pelo orientador educacional.

Para Placco (1984, p. 30), Orientação Educacional é:


um processo social desencadeado dentro da escola, mobilizando
todos os educadores que nela atuam – especialmente os profes-
sores – para que, na formação desse homem coletivo, auxiliem
cada aluno a se construir, a identificar o processo de escolha por
que passam, os fatores socioeconômico-políticoideológicos e éti-
cos que o permeiam e os mecanismos por meio dos quais ele
possa superar a alienação proveniente de nossa organização so-
cial, tornando-se, assim, um elemento consciente e atuante den-
tro da organização social, contribuindo para sua transformação.

Para efetivar o trabalho descrito por Placco, é necessário fazer par-


te da construção do planejamento docente e ter domínio do trabalho
com projetos. Somente assim o educador poderá encontrar eficácia na
execução das ideias e ações pertinentes ao processo. A figura a seguir
ilustra o trabalho com as mais diversas áreas do conhecimento, de-
monstrando as inúmeras possibilidades de se trabalhar por projetos.

Figura 2
A importância do trabalho
por projetos na escola 1 1

3 3
1

5 3
3

1
1
1 - Moofer/Shutterstock
2 - dobrograph/Shutterstock
3 - Kirasolly/Shutterstock
4 - EveeKamp/Shutterstock
3 5 - Anatolir/Shutterstock
4

O trabalho com projetos possibilita o protagonismo dos alunos e auxilia no processo de formação dos mesmos pois
busca dotar de autonomia os sujeitos e integrar a todos dentro de uma proposta interdisciplinar e colaborativa.

Fonte: Adaptada de Silva, 2018.

30 Orientação Educacional na prática


Outra vertente muito importante do trabalho da Orientação Educa-
cional dentro da escola é a participação no conselho de classe. O papel
de articular as informações dos alunos é do orientador, e este deve efe-
tivar sua participação contribuindo significativamente com um discurso
fundamentado pedagogicamente.

A voz do orientador é essencial para a condução de um conselho


de classe participativo e atuante, indo muito além da discussão sobre
notas e/ou resultado final dos alunos. É o momento de apresentar o
aluno, seu contexto, suas particularidades, garantindo assim o olhar
“por inteiro” do estudante, munindo os professores de informações a
serem consideradas na hora de avaliar e, principalmente, de traçar um
plano de ação capaz de preencher as lacunas do sujeito.

Ter domínio do histórico escolar do aluno, conhecer as necessidades


reais de cada um, ter organizados os dados referentes aos atendimen-
tos já realizados (tanto do aluno quanto da sua família) e considerar
a individualidade sem esquecer a participação do aluno no todo da
escola são aspectos relevantes a serem ressaltados no momento do
conselho de classe.

Este, de fato, é o tipo de mediação que interessa na prática do orien-


tador: aproximar o aluno do ambiente escolar, da figura do professor
e pensar estratégias para transformar a realidade desse aluno, oportu-
nizando momentos de reflexão e autoconhecimento. Iavelberg (2011)
nos fala que:
Para tanto, a contribuição do orientador educacional é essencial,
visto que ele pode ajudar a equipe a compreender como ques-
tões cognitivas, afetivas e sociais afetam a aprendizagem. Juntos,
o orientador e os docentes devem definir os encaminhamentos
que levem à melhoria da qualidade da produção dos estudantes.
Nesse sentido, é fundamental o grupo socializar práticas bem-su-
cedidas que possam ser replicadas – considerando que, muitas
vezes, os bons resultados na aprendizagem aparecem apenas
após a mudança nas estratégias de ensino.

Dessa forma, construir um conselho de classe que seja ferramenta


de transformação pedagógica e se apresente como um verdadeiro ins-
trumento de organização do trabalho pedagógico são ações que neces-
sitam da participação efetiva do orientador. Motivar o corpo docente
na elaboração de um plano de ações que contemple os objetivos da
escola, sem deixar de considerar as necessidades individuais e dos gru-
pos, é uma prática educativa significativa da Orientação Educacional.

O papel do orientador educacional 31


A Figura 3 ilustra o pensamento tradicional dos professores quanto
ao objetivo do conselho de classe: padronizar todos e condenar os que
não se encaixarem no padrão estabelecido, em uma espécie de prejul-
gamento pedagógico.

Outro aspecto a ser ressaltado é a participação do orien- Figura 3


tador no processo avaliativo dos alunos. Esse profissional Apontando os defeitos dos
alunos
contribui expressivamente na formação contí-
nua dos professores no momento em
que apresenta alternativas para des-

SurfsUp/Shutterstock
construir os padrões tradicionais de
avaliação do ensino. Para os professo-
res, a forma tradicional de avaliar
é, além de facilitadora do tra-
balho docente, a única estra-
tégia pensada pela maioria
na hora de construir o pro-
cesso avaliativo.

Figura 4 Cabe ao orientador desconstruir esse pensa-


Padronização do ensino mento e fornecer alternativas fundamentadas
para avaliar o trabalho educativo desenvolvido
durante determinado período. A ideia é abando-
nar práticas como a da Figura 4, na qual é possí-
vel perceber a ideia de padronização do ensino.

É preciso considerar as particularidades de


cada indivíduo, o contexto em que ele está inse-
rido e as especificidades que caracterizam seu
processo de aprendizagem e que, portanto,
precisam ser evidenciadas no momento
de esse sujeito ser avaliado. Todas essas
considerações e informações podem
chegar até os professores apenas por

rst
oc
k meio da prática do orientador edu-
e
hutt
vio
/S cacional, cujos fundamentos são
nta
Se
apresentados na figura a seguir.
A padronização do ensino tenta colocar
todos os alunos em um mesmo molde, sem
considerar suas particularidades.

32 Orientação Educacional na prática


Figura 5
Elementos fundantes da prática do orientador educacional

Conselho de classe

Avaliação

Planejamento Trabalho por projetos

Fonte: Elaborada pela autora.

A contribuição da Orientação Educacional na formação docente


reúne inúmeros benefícios para todos os envolvidos, uma vez que traz
para a prática estratégias diversificadas e contextualizadas embasadas
em uma proposta pedagógica capaz de empoderar os sujeitos na bus-
ca pelo próprio processo de formação. Por meio da aproximação entre
o currículo e a realidade da escola (fazendo uso do planejamento), tor-
na possível o diálogo entre aluno e professor.

Ao mediar os debates sobre as parcerias entre escola, família e co-


munidade, a Orientação Educacional possibilita a reflexão dos papéis
de cada um dentro da sociedade; na busca por reconhecimento de de-
veres e luta por direitos, oportuniza aos alunos o reconhecer-se cida-
dão e reconhecer seu espaço dentro do coletivo.

Assim, vamos percebendo que o papel do orientador educacional


na escola é de extrema relevância e, ainda que a área de conhecimento
da Orientação Educacional tenha sido ameaçada de extinção ao longo
da história, ao estudarmos as atribuições e funções desse profissional,
é possível concluir que essa área não só não pode ser extinta como pre-
cisa ser defendida por todos os outros atores do sistema educacional.

O papel do orientador educacional 33


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo aprendemos sobre o verdadeiro papel do orientador
educacional e a importância dele dentro do cenário educacional.
A busca pela identidade desse profissional é constante e se faz neces-
sária, uma vez que é por meio da construção e consolidação desse perfil
que a Orientação Educacional ganha força e relevância diante das tentati-
vas de extinção sofridas ao longo de toda a sua história.
Para tanto, é muito importante compreender as inúmeras atividades
desenvolvidas pelo orientador e entender quais são as verdadeiras contri-
buições desse profissional em sua atuação.
Realizar um trabalho consistente de mediação dialógica, lado a lado
com a equipe gestora, e caminhar junto aos professores parece ser um
ótimo começo para se afirmar no ambiente escolar e poder ter seu espaço
na elaboração de estratégias educacionais significativas.
O orientador educacional precisa ser reconhecido como ser pensante
e atuante dentro do processo educativo desenvolvido na escola. É essen-
cial que a escola possa contar com o orientador no que tange ao trabalho
de reconhecer as reais necessidades dos alunos, das famílias e da escola
como um todo.
Quanto mais o orientador estiver inserido nos projetos da escola, mais
ele vai conhecer o território no qual está inserido e mais poderá contribuir
para o trabalho pedagógico da instituição. Dessa forma, ele influencia po-
sitivamente na formação individual de cada aluno e isso tem consequên-
cias na vida coletiva da comunidade escolar.

ATIVIDADES
Atividade 1
A respeito das diferenças entre a Orientação Educacional e a Psicopeda-
gogia, cite um exemplo que as distingue.

Atividade 2
Na perspectiva pedagógica, cite um exemplo de prática do orientador
educacional.

34 Orientação Educacional na prática


Atividade 3
Cite uma atividade desenvolvida pelo orientador educacional no âmbito
escolar. Justifique sua importância.

REFERÊNCIAS
BASSEDAS, E. Intervenção educativa e diagnóstico piscopedagógico. São Paulo: Artmed, 1996.
BEYER, M. Psicopedagogia: ação e parceria. 2003. Disponível em: https://pt.scribd.com/
document/371539597/Psicopedagogia-Acao-e-Parceria. Acesso em: 24 set. 2021.
GARCIA, R. L. Especialistas em educação: os mais novos responsáveis pelo fracasso
escolar. In: ALVES, N.; GARCIA, R. L. (org.). O fazer e o pensar dos supervisores e orientadores
educacionais. São Paulo: Loyola, 1986.
GRINSPUN, M. P. S. Z. A Orientação Educacional: conflitos de paradigmas e alternativas para
a escola. São Paulo: Cortez, 2006.
IAVELBERG, C. Conselho de classe: um espaço de reflexão. Nova Escola, 2011. Disponível
em: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/417/conselho-de-classe-um-espaco-de-
reflexao. Acesso em: 24 set. 2021.
MARTINS, J. P. Princípios e métodos da orientação educacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1984.
PLACCO, V. M. N. S. Formação e prática do educador e do orientador. Campinas: Papirus, 1994.
QUEM é o Pedagogo Orientador Educacional? 2021. 1 vídeo (8 min.) Publicado pelo canal
Mariangela Pozza. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=G8h3vfPRcOQ.
Acesso em: 29 nov. 2021.

O papel do orientador educacional 35


3
Entraves e desafios da
Orientação Educacional
Neste capítulo, discutiremos sobre os desafios da Orientação
Educacional no ambiente escolar, sobretudo os dilemas enfrentados
pelo orientador no exercício de sua função.
No primeiro momento, discutiremos sobre o prejuízo causado
pela burocratização do trabalho pedagógico, que faz com que as atri-
buições do orientador educacional se percam ou fiquem confusas
diante do cotidiano escolar marcado por desencontros e processos
educativos rasos.
Dando continuidade ao debate acerca da dificuldade de esclare-
cimento quanto à verdadeira função da Orientação Educacional e ao
seu objetivo central, o segundo ponto levantado é o da crise de iden-
tidade da profissão, acrescida da falta de engajamento da categoria
na busca por alinhar o perfil desse profissional, elencando as caracte-
rísticas necessárias para se garantir uma formação que contemple as
necessidades reais da escola.
Por fim, trabalharemos no cerne da questão para se garantir a
presença do orientador educacional na escola. Apresentaremos as al-
ternativas e as estratégias de desenvolvimento para que a Orientação
Educacional seja exercida no espaço escolar de maneira a contribuir
significativamente no processo educativo individual e coletivo dos su-
jeitos envolvidos.
É muito importante que o corpo gestor da escola tenha ciência da
relevância do papel da Orientação Educacional e oportunize espaço
suficiente para que essa área do conhecimento possa crescer e bus-
car envolvimento para além dos muros da escola.

36 Orientação Educacional na prática


3.1 O problema da burocracia
Vídeo No dicionário, o significado da palavra burocracia trata de um sistema
de regras fixas, bem definidas e que cumpre determinada hierarquia.
Podemos, então, dizer que o trabalho burocrático é muito importante
e dele dependem uma série de organizações e determinações que têm
consequências em todos os âmbitos da vida em sociedade.
Objetivo de aprendizagem
O que se quer discutir aqui é a separação, organização e determina-
Compreender o trabalho ção do trabalho puramente burocrático desenvolvido na escola, para
burocrático da Orientação
Educacional. que sua execução seja cumprida sem que, para isso, o trabalho dos
profissionais esteja comprometido. Motta (2000, p. 14) fala que “a bu-
rocracia monopoliza todo o conhecimento e o mantém em segredo. A
burocracia tem e sempre teve no segredo uma de suas armas funda-
mentais. Esse segredo é mantido através de uma hierarquia rígida que
controla as informações”.
Livro Sabe-se que é um fato, nas instituições de ensino, sobretudo as
públicas, a questão da burocratização do trabalho pedagógico. Ocorre
que, diante de tantas ausências (recursos, mão de obra especializada),
faz-se necessário remanejar o trabalho a fim de suprir as necessidades
da escola. Com isso, tem-se o acúmulo e o desvio de funções dentro do
âmbito escolar.

A situação da burocracia escolar fica evidenciada como uma ação


consciente de divisão do processo educativo em duas vertentes: de um
O filme Tempos modernos lado, o corpo gestor da escola afundado em trâmites burocráticos, pla-
retrata a vida urbana nos
nilhas, papéis e carimbos. Do outro, os professores e alunos.
Estados Unidos e apre-
senta ao público como
Andrey_Popov/Shutterstock

Ingrid Balabanova/
Shutterstock

funciona a produção
industrial, com a utilização
de linhas de montagem.
No filme, quando o perso-
nagem principal consegue
um emprego em uma
grande indústria, torna-se
também um líder grevista
e por isso passa a ser
X
Rawpixel.com/Shutterstock

perseguido. Temas como


a desigualdade também
são abordados no filme.

Direção: Charlie Chaplin. Estados


Unidos: United Artists, 1936.

Entraves e desafios da Orientação Educacional 37


Essa distância pode ser classificada como um abismo entre o grupo
que pensa e o grupo que apenas executa. Como se planejar, organizar
e analisar não fosse parte importante do processo pedagógico.

Motta e Pereira (2004, p. 232) apontam que “a escola é amplamente


burocratizada. Percebe-se isso nos exames, nos critérios de seleção,
de promoção e nos programas. ‘A compulsão burocrática transparece
claramente no meio acadêmico’”.

No caso do orientador educacional, essa questão se torna evidente


em sua rotina de trabalho. Envolvido com as questões burocráticas da
escola, tais como encaminhamentos, documentos dos alunos, requeri-
mentos e tantos outros tipos de padronizações, esse profissional acaba
por preencher todo seu tempo com esse tipo de atividade e o seu fazer
pedagógico não encontra espaço para crescer e se desenvolver como
prática significativa.

Na maioria das vezes, a Orientação Educacional se reduz a formulá-


rios e a fichas de atendimento. Não há perspectiva de se construir um
planejamento junto aos professores, tampouco alguma probabilidade
de elaboração de projetos. Dessa forma, torna-se uma área obsoleta,
assistencialista e totalmente apartada do trabalho pedagógico desen-
volvido na escola.

O debate sobre o processo de burocratização do trabalho pedagó-


gico não é um tema precisamente atual. A “pedagogia das planilhas”,
como identificam alguns autores, apresenta um excesso de esforço
com instrumentos que acabam por comprometer o trabalho na escola.
Dão a impressão de exacerbação de controle e poder, em detrimento
da elaboração e planejamento de ações que potencializem as condições
de ensino e aprendizagem da escola. Libâneo, Oliveira e Toschi (2007,
p. 357) apontam que, “em boa parte das escolas, predomina o modelo
burocrático de gestão: decisões centralizadas, falta de espírito de equi-
pe, docentes ocupados apenas com suas atividades de aula, relações
entre professores e alunos ainda regidas por regras disciplinares.”

De acordo com os autores, uma gestão escolar pautada pelo tra-


balho meramente burocrático tende a fracassar em seus objetivos pe-
dagógicos. Por tratar-se de uma instituição escolar, a gestão precisa
manter sua meta, seu foco e seus objetivos centrados no aluno e no
processo educativo a ser desenvolvido ali.

38 Orientação Educacional na prática


Dentro dessa realidade, na qual o orientador educacional é víti-
ma do rolo compressor que é a burocratização do trabalho na escola,
muitas crises, tanto de identidade quanto do próprio perfil de gestor,
são desencadeadas e atingem diretamente esse profissional. Por estar
na linha de frente do saber fazer pedagógico, na relação de ensino e
aprendizagem, o profissional acaba por não exercer sua real função e
se vê perdido e abandonado na roda viva que é a rotina escolar.

No entanto, é preciso romper com essa roda viva. É de extrema im-


portância uma formação de nível superior consistente para o orienta-
dor, além de um esclarecimento efetivo do seu compromisso com a
escola, como ambiente de construção coletiva do conhecimento.

O orientador deve incitar, em seu saber fazer pedagógico, ações


de caráter preventivo por meio de ideias e projetos que compartilham
com os anseios da escola e que se traduzam, de alguma forma, em al-
ternativas viáveis de resposta às necessidades do coletivo, sem perder
o caráter de subjetividade dos sujeitos envolvidos.

O papel fundamental do gestor é garantir oportunidades de poten-


cializar a formação dos alunos nos aspectos da cidadania, carreira e
sentimento de pertença ao mundo. Dentro da equipe gestora, o orien-
tador educacional é aquela figura que participa da organização e pla-
nejamento do trabalho estratégico, mas também conhece a realidade
da sala de aula. Com ele, é possível garantir a aproximação da gestão
às ações vivenciadas no dia a dia escolar.

O orientador oportuniza o encurtamento da distância entre o olhar


sistêmico de tudo que acontece na escola e o olhar micro da observa-
ção dos detalhes das aulas e do planejamento dos professores. Carac-
terísticas individuais dos alunos são matéria-prima de trabalho para
esse profissional. Só ele pode contribuir com a percepção do todo e
das partes que compõem o cenário educacional: o interior da escola.

Para desenvolver essa gestão democrática e garantir a construção


de uma educação de qualidade, o orientador educacional não pode fi-
car refém do trabalho operacional, dos formulários e planilhas. Ele pre-
cisa voltar o seu saber fazer pedagógico a uma prática de convívio entre
alunos e professores, desenvolvendo os hábitos de escuta, observação,
participação na comunidade e do acompanhamento dos anseios dos
alunos.

Entraves e desafios da Orientação Educacional 39


A Figura 1 ilustra o verdadeiro papel da gestão na Orientação
Educacional:
Figura 1
Tríade gestora da Orientação Educacional
Filme
Planejamento Currículo Projetos
estratégico

Parceria com a
Equipe gestora. Formação docente.
comunidade.

Fonte: Elaborada pela autora.

É importante ressaltar que o trabalho do orientador educacional


está muito além de administrar dossiês de alunos, com laudos e de-
O filme Onde tudo começa
conta a história de Daniel mais informações sigilosas. Se ele focar apenas nessa demanda, cairá
Lefebvre, professor de novamente na armadilha burocrática do trabalho escolar. Sua prática
uma cidade pequena
que está enfrentan- deve estar voltada aos estudos, às pesquisas e à elaboração (em con-
do uma alta taxa de junto com os demais profissionais de sua equipe) de projetos e ações
desemprego. Daniel e os
demais professores são que contemplem as diferenças e a diversidade atendida pela escola, vi-
aconselhados a não se sando incluir a todos, sem distinção, contemplando as individualidades
envolver nos problemas
da comunidade, mas para dentro do contexto de aprendizado coletivo.
eles é impossível ignorar o
que está acontecendo. Uma forma de exemplificar o que foi discutido até o momento, é pen-
sar no trabalho realizado com as famílias dos alunos, o qual deve apre-
Direção: Bertrand Tavenier. França:
Les Filmes Alain Sarde, 1999.
sentar caráter formativo em detrimento de ações pontuais que podem
ser interpretadas como dissociadas da realidade da função do orientador.

3.2 Crise identitária da profissão


Vídeo Muito se fala sobre a ausência de uma identidade para o profissional
da Orientação Educacional. Alguns autores já apontam essa questão
em suas obras. Inclusive, chamam atenção aos perigos oferecidos por
esse cenário que, além de enfraquecer as lutas dessa categoria (como
uma legislação que garanta a presença do orientador nas escolas, por
exemplo), ainda contribui negativamente para o reconhecimento e a
Objetivo de aprendizagem valorização do profissional orientador educacional.

Estudar os diferentes
A orientação é um processo dinâmico, contínuo, sistemático e
papéis do orientador integrado em todo o círculo escolar encarando o aluno como um
educacional. ser global que deve desenvolver harmoniosamente e equilibra-
damente todos os aspectos: intelectual, físico, social, moral, esté-
tico político educacional e vocacional. (LÜCK, 1991, p.64)

40 Orientação Educacional na prática


A dificuldade da Orientação Educacional, no que diz respeito à cons-
trução de um perfil identitário, perpassa justamente pela ausência do
conhecimento apresentado por Lück (1991). Significa dizer que, dentro
do próprio cenário educacional, a figura do orientador ainda é desco-
nhecida, não reconhecida e/ou pouco valorizada.

Isso ocorre não só por parte dos outros profissionais da escola,


como também por parte dos alunos e, consequentemente, das suas fa-
mílias. Uma vez que desconhecem essa área da educação, acabam por
não recorrer a ela quando necessitam. Em virtude disso, o orientador
acaba por ser caracterizado como uma figura desnecessária, excluída e
alheia ao processo educativo como um todo.

Diante da ausência da compreensão do conceito de Orientação Edu-


cacional e, consequentemente, das atribuições inerentes à função do
orientador. Ocorre que, em muitos espaços escolares, esse profissio-
nal se torna mão de obra sucateada, por assumir atividades de cunho
meramente burocrático, que muito se distanciam dos reais objetivos
de seu trabalho pedagógico e que em nada se assemelham à realidade
e necessidade dos alunos. A Orientação Educacional, de acordo com
Loffredi (1976, p. 25) é “uma ação no sentido de mobilizar os agentes
educativos de forma que cada um dentro de suas limitações possa de-
senvolver relações significativas, com o objetivo de criar um clima edu-
cativo que favoreça o processo de aprendizagem-maturação.”
Leitura
Dentro desse contexto equivocado, a presença do orientador passa
Acesse o link a seguir para
até a ser questionada no sentido de: a Orientação Educacional, de fato, ler o artigo Afetividade na
sala de aula, de Patrícia
faz falta na escola?
Lopes. Para corroborar
com a ideia de que a
A partir da formação do orientador educacional, é possível perceber
Orientação Educacional é
os entraves vivenciados pela categoria, haja vista todas as transforma- muito importante dentro
do processo educativo
ções e períodos instáveis que constituem o histórico profissional da
dos alunos, o artigo citado
área. Diante das mudanças de legislações e da falta de acompanha- traz referências muito
interessantes acerca da
mento especializado, a Orientação Educacional foi, ao longo de sua
atuação do orientador
existência, perdendo as suas características básicas e se submetendo alicerçada nas compe-
tências socioemocionais
ao que lhe era direcionado: atividades que não necessitavam de for-
apresentadas pela BNCC.
mação específica e que faziam parte do cotidiano da secretaria escolar,
recepção da escola e demais atividades. Disponível em: https://educador.
brasilescola.uol.com.br/orientacao-
O trabalho de Orientação Educacional dentro da relação de ensino escolar/afetividade-no-contexto-
sala-aula.htm. Acesso em: 21 set.
e aprendizagem ficava em segundo plano e, na maioria dos casos, nem de 2021.
existia como deveria ser. A escola delegava para o orientador outras

Entraves e desafios da Orientação Educacional 41


demandas que considerava mais urgentes sem se preocupar em dis-
cutir as reais necessidades dos alunos e professores. Para Nérici (1983,
p. 53),
Se pode dizer que a Orientação Educacional é o trabalho conju-
gado de todos os membros de uma
escola, coordenados por um Orientador junto ao educando, a
fim de levá-Io a integrar da melhor forma possível e sob todos
os aspectos, com base na sua realidade biopsicossocial, tendo
em vista integrá-Io na sociedade, com base em uma atividade
profissional, para torná-Io um cidadão consciente, eficiente e
responsável.

Concordamos com a autora sobre o conceito atual de Orientação


Educacional. Diante dessa compreensão, percebemos o choque entre a
teoria e a realidade experienciada por muitos orientadores nas escolas.

Outro ponto de extrema relevância na discussão sobre a crise de


identidade do orientador diz respeito às suas bases legais. A legislação
brasileira relativa ao orientador educacional tomou como base, ao lon-
go dos anos, teorias equivocadas que provocaram profundas lacunas
na construção do perfil desse profissional.

A Orientação Educacional já teve o acolhimento de “alunos-proble-


ma” como objetivo, bem como o entretenimento e lazer deles. Também
já teve seu foco voltado às áreas psicológica, profissional, familiar e da
saúde. Já foi até mesmo direcionada para o atendimento exclusivo de
prevenção psicológica dos alunos da Educação Básica. Esse vai e vem
das metas propostas para essa profissão tornou-a uma incógnita para
muitos dentro do âmbito escolar e contribuiu, sobremaneira, para a re-
dução do entendimento do que, de fato, faz um orientador educacional.

Amparadas pela lei, essas transformações foram sendo acompa-


nhadas pelos cursos de nível superior que formam os profissionais da
área da Orientação e esses, ao longo do processo, também foram to-
mados por diferentes características, de acordo com o que se preten-
dia desenvolver na figura do orientador educacional.

Ora formado para atender psicologicamente o aluno, ora focado


apenas na orientação profissionalizante, o orientador foi se consti-
tuindo um profissional que não apresentava um perfil sólido, capaz de
impor respeito e transmitir segurança suficiente para conquistar seu
espaço dentro do universo educativo.

42 Orientação Educacional na prática


Somente com a Lei n. 5.692 de 1971 é que a sua presença na escola
ficou garantida, ainda que com uma visão limitada e distorcida de sua
função.

O debate sobre a participação efetiva da Orientação Educacional no


processo formativo dos alunos, buscando fazer a diferença na socie-
dade, só ganhou força quando surgiram as primeiras discussões sobre
o papel do orientador educacional, relacionando-se com as possíveis
interações entre a escola e o território onde ela se insere, mais especi-
ficamente, entre os alunos e a realidade que os cerca.

Dessa forma, a Orientação Educacional timidamente começa a de-


senhar seu perfil, no qual deve prevalecer os aspectos pedagógicos em
detrimento dos aspectos assistencialistas, fortemente disseminados
até então.

Diante do exposto, muitos são os questionamentos tanto sobre a


existência do orientador quanto a sua permanência como parte funda-
mental do corpo gestor da escola. Com um histórico desfavorável no
que diz respeito a essa discussão, a Orientação Educacional, em contra-
partida, vem lutando para sobreviver no cenário educativo. De acordo
com Giacaglia e Penteado (2002, p. 15), “participando do planejamento
e da caracterização da escola e da comunidade, o orientador educacio-
nal poderá contribuir, significativamente, para decisões que se referem
ao processo educativo como um todo.”

A presença do orientador educacional responde diretamente às ne-


cessidades do trabalho em equipe junto ao corpo de gestão da escola.
Somente alinhado aos demais profissionais, as contribuições podem
se tornar efetivas e serem uma mola propulsora do desenvolvimento
formativo dos alunos, dos professores e da comunidade.

A prática do orientador educacional está diretamente ligada ao ato


de aprender e construir conhecimento, incluindo o seu próprio. Esse
profissional busca, em seu fazer pedagógico, a observação e a análise
para interagir propondo estratégias e intervindo no processo educativo
dos alunos para que a aprendizagem ocorra de maneira a fazer sentido
aos envolvidos e dialogar de modo intrínseco com a realidade da escola
e da comunidade.

Ao influenciar na formação do aluno, o orientador educacional in-


fluencia também, mas indiretamente, na didática docente e, conse-

Entraves e desafios da Orientação Educacional 43


quentemente, na maneira de ensinar e aprender da escola. Sobre isso
Hernandez (1998, p. 12) nos diz que:
procura-se transgredir a visão do currículo escolar centrada nas
disciplinas, entendidas como fragmentos empacotadas em com-
partimentos fechados, que oferecem ao aluno algumas formas
de conhecimento que pouco têm a ver com os problemas dos
saberes fora da Escola, que estão afastados das demandas que
diferentes setores sociais propõem à instituição escolar e que
têm a função, sobretudo, de manter formas de controle e poder
sindical por parte daqueles que se concebem antes especialistas
do que como educadores.

Atualmente, é urgente e necessário elencar critérios e construir pa-


râmetros que, dialogando entre si, sejam capazes de imprimir, no meio
educacional, a marca do orientador, reunindo características que com-
põem o seu perfil e buscam edificar o processo pedagógico da escola
na qual está inserido. O papel do orientador educacional é sustentar o
seu trabalho educativo, baseando-se no centro dos estudos da Orien-
tação Educacional: o aluno.

3.3 Desatando os nós


Vídeo Como transformar a prática da Orientação Educacional em uma
práxis pedagógica de excelência? Quais as estratégias necessárias para
atender às reais necessidades dos alunos? De que perfil de orienta-
dor educacional estamos falando? Essas e outras questões rondam o
trabalho do orientador e exercem influência significativa em seu saber
fazer educativo. De acordo com Grinspun (2003, p. 149-150):
Objetivo de aprendizagem A prática de orientador, hoje, deve estar em procurar ajudar o
aluno a construir o conhecimento, a facilitar as condições de
Construir possibilida-
des de um trabalho de aquisição desse conhecimento, promovendo as interações e
Orientação Educacional toda a teia de relações que envolva o sujeito e o meio. Os sen-
significativo. timentos permearão todo o processo e o seu significado será
valorizado na construção pretendida. É com esse desafio que o
orientador, na prática, terá que lidar: ajudar o aluno, orientá-lo
no sentido de permitir viver seus desejos, sonhos e paixões, que
se inter-relacionam com os saberes, com os fazeres, com o pró-
prio conhecimento.

Diante dos ranços do passado e dos percalços vividos pelo orienta-


dor na construção da sua carreira, os esforços para que o seu trabalho

44 Orientação Educacional na prática


seja reconhecido, valorizado e encontre espaço no ambiente escolar, Filme
devem apontar para a relação dos alunos com o meio em que vivem: a
escola, a família, a comunidade e/ou a sociedade. É na mediação dessa
relação que a Orientação Educacional deve atuar, de modo a enrique-
cer as possibilidades e aprimorar as habilidades e as competências dos
sujeitos, criando oportunidade de crescimento em todos os setores da
vida dos alunos.

Na busca por compreender seu papel como corresponsável na so-


ciedade, deixando muito claro suas subjetividades, os alunos devem No filme Encontrando
Forrester, o personagem
contar com o suporte do orientador educacional no processo de elu- Jamal Wallace é um
cidação, tanto de enxergar a si quanto o seu espaço no coletivo. Os adolescente ganha uma
bolsa de estudos em uma
estudantes precisam ter clareza do papel desse profissional, para bus- escola considerada de
cá-lo como meio de alicerçar a construção de suas individualidades e elite e passa a viver expe-
riências em um mundo
vislumbrar um caminho de ascensão não apenas profissional, mas, so- muito diferente de seu co-
bretudo, de formação de hábitos, atitudes e valores que servirão como tidiano. Diante dessa nova
realidade, ele desenvolve
base para a vida em comunidade. uma grande amizade com
um escritor que passa a
A Orientação Educacional se caracteriza como um ambiente de es- ser uma espécie de tutor
cuta atenta, um espaço democrático para se exercer a cidadania e apri- para ele, com quem Jamal
aprenderá muitas coisas
morá-la. Martins (1984, p. 97) aponta que importantes, as quais
A Orientação Educacional (OE) é um processo organizado e per- levará para sua vida.

manente que existe na escola. Ela busca a formação integral dos


Direção: Gus Van Sant, Estados
educandos (este processo é apreciado em todos seus aspectos, Unidos: Columbia Pictures, 2000.
tido como capaz de aperfeiçoamento e realização), através de
conhecimentos científicos e métodos técnicos. A Orientação
Educacional é um sistema em que se dá através da relação de
ajuda entre Orientador, aluno e demais segmentos da escola;
resultado de uma relação entre pessoas, realizada de maneira
organizada que acaba por despertar no educando oportunida-
des para amadurecer, fazer escolhas, se auto conhecer e assumir
responsabilidades..

O conhecimento sobre a realidade dos alunos, bem como a parceria


com a comunidade, famílias e demais instâncias no entorno da escola
onde estão inseridos, conferem ao trabalho do orientador educacional
um caráter de legitimidade. Estar ciente dos anseios dos alunos, suas
limitações e seus sonhos faz com que o orientador ultrapasse o campo
escolar e atue para além dos muros da escola.

Entraves e desafios da Orientação Educacional 45


No campo da Orientação Educacional, é possível criar oportunida-
des de contribuição na formação cultural dos alunos, organizando, por
exemplo, o grêmio estudantil, uma rádio escolar e/ou um jornal. Veícu-
los nos quais os alunos serão os protagonistas, orientados e mediados
pelo orientador. Todas essas ações são de responsabilidade dele e de-
vem contar com a parceria da comunidade que, por sua vez, precisa ver
na escola, um espaço democrático de diálogo.

Transformar a escola em um palco de fóruns, discussões e deba-


tes sobre os temas da atualidade também é uma das estratégias de
trabalho do orientador educacional. É por meio da sua mediação que
os alunos têm contato com os assuntos relevantes para a sociedade e
conseguem fazer analogias pertinentes com sua realidade local. Evoluir
o pensamento crítico, por meio de estudos e pesquisas é uma maneira
eficaz de construção de princípios, não apenas para a vida escolar, mas
para toda a sua trajetória. Para Lück (2009, p. 82):
Educação é processo humano de relacionamento interpessoal
e, sobretudo, determinado pela atuação de pessoas. Isso por-
que são as pessoas que fazem diferença em educação, como em
qualquer outro empreendimento humano, pelas ações que pro-
movem, pelas atitudes que assumem, pelo uso que fazem dos
recursos disponíveis, pelo esforço que dedicam na produção e
alcance de novos recursos e pelas estratégias que aplicam na re-
solução de problemas, no enfrentamento de desafios e promo-
ção do desenvolvimento.

Outro elemento muito importante é a interdisciplinaridade, ela é


constituinte de um trabalho pedagógico de extrema relevância dentro
da prática do orientador educacional.

Estando próximo dos alunos é fácil saber seus interesses e o modo


como enxergam as coisas do mundo. Dessa forma, o orientador edu-
cacional faz a ponte dessas informações junto aos professores, cons-
truindo coletivamente o planejamento interdisciplinar. Lado a lado com
a equipe docente, ele abre o diálogo entre o currículo e as estratégias
metodológicas necessárias para trazer à pauta os temas que fazem
parte da vida dos alunos, com o propósito de ampliar a visão de mun-
do deles. De acordo com Urbanetz e Silva (2008, p. 54) “uma proposta
pedagógica inovadora não pode perder de vista as metas a atingir. [...] A
gestão pedagógica que não tem consciência de seu papel no processo de
mudança repete cegamente as práticas já existentes, sem o questionamen-
to sobre a realidade social que a escola se insere”.

46 Orientação Educacional na prática


Faz parte das atribuições do orientador educacional: o fomento das
inovações pedagógicas, no que diz respeito às práticas educativas sig-
nificativas; a instrumentalização dos professores quanto aos recursos
diferenciados para atender às necessidades dos alunos; e o estímulo
para a formação de grupos de estudo que contemplem a pesquisa e a
produção acadêmica como parte dos afazeres dos professores.

Tudo isso sempre com o intuito de aprimorar e potencializar o pro-


cesso de aprendizagem dos alunos, aumentando suas chances de êxito
em todos os setores da vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, foi possível compreender melhor os desafios enfren-
tados pelo orientador educacional e a sua importância dentro do espaço
da escola.
Além de facilmente entender como o orientador pode ver sua função
sucateada, desviada e, até mesmo, sendo exercida por alguém sem qua-
lificação específica, serve de alerta para esse profissional que, além de
necessitar demarcar seu território no âmbito escolar, também precisa ter
compreensão de suas atribuições, seu perfil e identidade.
Assim, o orientador educacional deve exercer uma presença significa-
tiva nas instituições de ensino, tomar posse do seu lugar de direito e bus-
car parcerias para a consolidação de um trabalho pedagógico essencial e
relevante.
É muito importante contar com o apoio dos demais profissionais en-
volvidos no processo educativo construído na escola. Esse reconhecimen-
to profissional dá força e corpo para as discussões acerca dessa área de
conhecimento.
É necessário estudo constante e vínculo com toda a comunidade esco-
lar para realizar um trabalho pedagógico consistente. O trabalho em equi-
pe com os professores é a melhor estratégia para contribuir, de modo
significativo, com o trabalho desenvolvido.
Ter clareza sobre o seu papel e saber a sua importância dentro da área
educacional é de grande valia para o orientador. Durante seu processo
formativo, é preciso focar em tais questões a fim de preparar esse profis-
sional para a realidade escolar.
É essencial que o espaço da prática de Orientação Educacional seja
reconhecido e valorizado por todos os sujeitos que fazem parte dela: ges-
tão, professores, alunos, famílias e comunidade.

Entraves e desafios da Orientação Educacional 47


ATIVIDADES
Atividade 1
A respeito da burocratização do trabalho do orientador educacional,
descreva como é possível desvencilhá-lo desse tipo de atividade.

Atividade 2
Cite uma razão pela qual é possível perceber a crise de identidade que
caracteriza o orientador educacional, profissionalmente falando.

Atividade 3
Aponte duas estratégias das quais o orientador educacional pode lançar
mão para contribuir significativamente no processo educativo dos
alunos.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 12 ago. 1971. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-
1979/lei-5692-11-agosto-1971-357752-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 30 set. 2021.
GIACAGLIA, L. R. A.; PENTEADO, W. M. A. Orientação educacional na prática: princípios,
técnicas, instrumentos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
GRINSPUN, M. P. S. Z. A Orientação Educacional: conflito de paradigmas e alternativas para
a escola. São Paulo: Cortez, 2002.
GRINSPUN, M. P. S. Z. Supervisão e orientação educacional. São Paulo: Cortez, 2003.
GRINSPUN, M. P. S. Z. (org.) A prática dos orientadores educacionais. São Paulo: Cortez, 1994.
HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto
Alegre: ArtMed, 1998.
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, S. M. As áreas de atuação da organização e da
gestão escolar para melhor aprendizagem dos alunos. In: LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.;
TOSCHI, S. M. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 5. ed. São Paulo: Cortez,
2007, p. 355-378.
LOFFREDI, L. E. Paradigma da orientação educacional: baseado no modelo de Relação-de-
Ajuda de Carhuff. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
LÜCK, H. Planejamento em orientação educacional. Petrópolis: Vozes, 1991.
MARTINS, J. do P. Princípios e métodos da orientação educacional. 2 ed. São Paulo; Atlas,
1984.
MOTTA, F. C. P. O que é burocracia. São Paulo: Brasiliense, 2000.
MOTTA, F. C. P.; PEREIRA, L. C. B. Introdução à Organização Burocrática. São Paulo: Pioneira,
2004.
NÉRICI, I. G. Didática Geral, Dinâmica. 9. ed., São Paulo: Ática, 1983.
URBANETZ, S. T.; SILVA, S. Z. A busca da Unidade: Pedagogo. In: Orientação e Supervisão
Escolar: caminhos e perspectivas. Curitiba: IBPEX, 2008, p. 53-62.

48 Orientação Educacional na prática


4
Possibilidades da profissão
Neste capítulo, discutiremos as possibilidades da profissão do orien-
tador educacional. Em um primeiro momento, trataremos da Orientação
Educacional no ambiente escolar, trazendo a realidade da função do
orientador e as variáveis que cercam a prática. O intuito é colaborar com
o debate a respeito da relevância da profissão e os prejuízos causados
por sua ausência nas escolas.
O segundo ponto que abordaremos é o trabalho do orientador diante
das situações de fracasso escolar, como a saúde da criança, seu abando-
no, a negligência familiar, o bullying e as dificuldades de aprendizagem.
Debateremos sobre o papel do orientador diante dessas demandas, pois
é de suma importância que o profissional saiba analisá-las para encontrar
alternativas viáveis de intervenção. O objetivo é contribuir de maneira po-
sitiva com a formação de alunos que vivenciam essas condições.
Outra questão muito importante que diz respeito à Orientação
Educacional são as competências socioemocionais. A Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) deixa muito claro o objetivo da educação, que
é realizar um trabalho pedagógico para além dos conteúdos, alinhando
o conhecimento acadêmico com o desenvolvimento de habilidades que
retratem o perfil do sujeito, bem como suas áreas de interesse e seus
desafios. Nesse campo da aprendizagem, o orientador é a figura capaz de
liderar esse trabalho.
Ressaltamos que as discussões sobre Orientação Educacional devem
ser construídas com seriedade, a fim de que se obtenham bases argu-
mentativas sólidas que garantam a efetividade do trabalho educativo
desse profissional nas escolas.

4.1 O espaço de trabalho do


Vídeo orientador educacional
O debate sobre a presença do orientador educacional na escola não é
atual. Muito já se escreveu sobre essa profissão e seus entraves na forma-
ção acadêmica, nas atribuições e na legislação específica.

Possibilidades da profissão 49
Objetivo de aprendizagem Em se tratando do espaço de trabalho do orientador, não podemos
Entender o papel do tomar outro caminho que não seja a escola. É no espaço escolar que
orientador educacional
no espaço escolar.
esse profissional deve exercer sua função e, assim, contribuir de ma-
neira efetiva com o processo educativo dos alunos.

A presença do orientador na escola pode ser exercida de diferen-


tes maneiras. Vamos tratar aqui de três diferentes tipos de experiência
que podem ser construídos pelo orientador dentro do ambiente es-
colar, entendendo que muitas outras formas de atuação significativa
podem ser estabelecidas no exercício de sua função.

O primeiro deles é a experiência da elaboração do projeto denomi-


nado de escola de pais. Um dos grandes desafios do orientador é apro-
ximar a escola e a família, atraindo os pais para dentro do ambiente
escolar de modo ativo e propositivo. Sabemos que a participação da
família no processo de aprendizagem do aluno é de suma importância
para o êxito dele, permitindo que obtenha o melhor desempenho aca-
dêmico, social e emocional.

Entretanto, para que a escola crie vínculo com a família, é necessá-


rio que ambas tenham total compreensão de seus papéis no processo
educativo; nesse sentido, o orientador educacional é quem desempe-
nha o papel de construtor de elo. De acordo com Souza (2010 apud
Martins, 1984, p. 13):
o Orientador ao elaborar seu planejamento precisa detectar
quais são as reais perspectivas da família em relação à progra-
mação que a escola e o serviço de orientação educacional vão
oferecer ao educando, neste sentido deve-se levantar dados de
quais as reais possibilidades de assistência e participação dos
pais na vida escolar dos filhos.

A escola de pais é uma alternativa para construir um trabalho con-


sistente com as famílias atendidas é elaborar ações de formação de pais
e responsáveis por meio da escuta atenta dos grupos, organizando en-
contros nos quais seja tratado de temáticas próprias das faixas
etárias dos filhos e de assuntos da atualidade
e, sobretudo, oportunizado espaço para
discussão dos problemas enfrentados na
comunidade, das dificuldades encontradas
na escola e de outros pontos que o orien-
tador julgar relevantes.
hutterstock
-Shot/S

50
Pixel

Orientação Educacional na prática


O vínculo com os pais deve ser articula-
do para além da convocação de reuniões ou
das conversas sobre o desempenho dos
filhos. Criar uma relação de parceria com
as famílias no cotidiano da escola é o pri-
meiro passo para motivar os familiares
a fazer parte do movimento do dia a dia
escolar como um todo. Para tanto, se faz
necessário estabelecer canais efetivos de
comunicação entre a escola e as famílias,
possibilitando o estreitamento do vínculo e Studio Romantic/Shutterstock

da parceria nos projetos e nas demais ações da rotina escolar.

É muito importante ressaltar que a ação de acolher os pais não é


uma função restrita ao corpo gestor, devendo ser desencadeada por
todos os sujeitos envolvidos no processo educativo da escola.

Uma ideia bastante interessante é chamar as famílias para contri-


buírem naquilo que sabem fazer de melhor, seja contar a história do
bairro e da comunidade; explicar quais são os desafior enfrentados
e como a escola pode contribuir, entre outros. Significa aprofundar
o conhecimento da comunidade escolar a fim de contar com o apoio
dos pais para ajudar na construção de parcerias entre a gestão e a
comunidade, partindo da sua própria visão da escola e do trabalho
nela desenvolvido. A propaganda “boca a boca” ainda é a forma mais
eficaz de verificar o êxito das ações escolares diante das dificuldades
evidenciadas na comunidade.

O orientador deve, portanto, trabalhar com as famílias a responsa-


bilidade social e os valores pregados pela escola. Considerar temáticas
que representam os anseios da comunidade é uma estratégia bastante
exitosa, pois, ao ver sentido no trabalho escolar, os pais passam a não
apenas acompanhar os resultados, mas também a contribuir com o
que de fato traz benefícios para todos os envolvidos.

Os projetos encabeçados pelo orientador podem seguir a linha


do micro (ações pontuais, como caminhada para conhecer o bairro)
para o macro (abordagem de problemáticas mais abrangentes, como
discussão da mobilidade urbana e acessibilidade no bairro), objetivan-
do estruturar a relação escola e família no âmbito do enriquecimento
da aprendizagem dos alunos.

Possibilidades da profissão 51
aprender como montar
um projeto de formação
para essa escola.

Disponível em: https://escoladepais. Essas são apenas algumas sugestões de trabalho com a escola
org.br/. Acesso em: 22 out. 2021.
de pais que deixam evidente a atuação do orientador educacional.
Diante de todas as ideias aqui elencadas, as práticas pedagógicas es-
tão sempre em pauta e servem como pano de fundo para a relação
com a comunidade.

O segundo tipo de experiência é a presença do orientador educacio-


nal na sala de aula, no contato direto com os alunos. Nesse momento, é
possível desenvolver uma série de projetos voltados para socialização,
habilidades socioemocionais, diversidade e outros temas condizentes
com a realidade dos alunos. Para Grinspun (2011, p. 24):
a educação é uma prática social, e a Orientação deve ser vista
como uma prática que ocorre dentro da escola, mas cujas ativi-
dades podem e devem ultrapassar seus muros; uma prática que
caminha no sentido da objetividade, da subjetividade e da totali-
dade da Educação. É perceptível que a Orientação está cada vez
mais junto à Educação como um todo, na busca das finalidades
de um projeto político-pedagógico formulado para a escola, em
favor de seus próprios alunos.

As intervenções na sala de aula podem ser organizadas de manei-


ra sistemática, e sua periodicidade irá depender do objetivo do tra-
balho. Projetos com prazos curtos de execução podem apresentar
ações específicas. Já trabalhos com resultados previstos a longo pra-
zo necessitam de contato frequente com os alunos. A esse respeito,
Grinspun (2011, p. 29) afirma que “o papel do orientador educacional
na dimensão contextualizada diz respeito, basicamente, ao estudo da
realidade do aluno, trazendo-a para dentro da escola, no sentido da
melhor promoção do seu desenvolvimento”.

Com a prática docente do orientador, o trabalho desenvolvido


torna-se muito mais consistente e significativo para os alunos e acaba
gerando resultados positivos para toda a escola. Grinspun (2011, p. 64)
coloca que o orientador precisa refletir sobre o aluno no sentido de:
desvelá-lo, trazendo à tona o que está oculto, menosprezado
ou alienado; analisá-lo, priorizando o que, para o indivíduo,
é o essencial, o relativo, o articular, o coletivo, o duradouro,
o efêmero, o transformador, o ameaçador etc.; relacioná-lo
com os outros cotidianos com os quais o indivíduo convive.
Estou mencionando e caracterizando o cotidiano escolar, mas
temos outros também: o familiar, o dos amigos, o do trabalho,
o da religião, o pessoal etc.; discuti-lo, interrogando sobre as

52 Orientação Educacional na prática


determinações e obrigações, sobre as ambiguidades, sobre as
diferenças e desigualdades; compreendê-lo, contextualizan-
do a trama das relações que dele provêm e dos dramas que
ele pode nos provocar se não tivermos a consciência de que
em parte somos também responsáveis pelo cotidiano escolar;
visualizá-lo, identificando o aproveitamento do espaço/tempo
em que ele ocorre, da mesma forma como acontecem as to-
madas de decisão na escola.

O impacto da presença do orientador na sala de aula é extrema-


mente positivo na medida em que o profissional elabora intervenções
de acordo com a proposta pedagógica da escola, as diretrizes metodo-
lógicas e, principalmente, o currículo a ser trabalhado com os alunos.

Como terceiro e último exemplo de experiência apresentamos o tra-


balho do orientador com os professores em dois pontos principais: o
currículo e a formação docente.

A principal contribuição do orientador no aspecto do currículo é pro-


por mudanças no sentido de agregar significado aos assuntos e conteú-
dos trabalhados com os alunos. Aproximar a didática dos professores
da realidade dos alunos e fazer com que estes se enxerguem enquanto
sujeitos de direitos é o objetivo do orientador ao propor a discussão do
currículo. Trabalhar com o currículo é fazer com que essa ferramenta
pedagógica seja motivo de constante reflexão do corpo docente.

O trabalho formativo com os professores possibilita o debate so-


bre o currículo e traz alternativas de desenvolvimento do processo
educativo. O orientador é capaz de contribuir com a discussão de
metodologias eficazes que oportunizem aos alunos situações signifi-
cativas de aprendizagem.

Esse trabalho passa pela análise, construção e acompanhamento


do currículo da escola. O orientador precisa compreender o conceito
de currículo e o papel que ele desempenha no processo pedagógico
com os professores.

Para essa discussão, entenderemos o currículo como o conjunto de


informações diretamente ligadas ao processo de ensino e aprendiza-
gem dos alunos, organizado de modo a dar forma ao trabalho pedagó-
gico a ser construído no cotidiano escolar.

A concepção de currículo passa pela necessidade de integrá-lo em


suas diversas áreas: cognitiva, social e afetiva. Cabe ao orientador

Possibilidades da profissão 53
educacional assumir o papel de mediação entre o currículo e o grupo
docente da escola no sentido de fazer com que os assuntos a serem
trabalhados contemplem a realidade dos alunos e seus interesses e
que respondam às necessidades de desenvolvimento das habilidades
e competências dos diferentes grupos atendidos.

Dessa forma, o currículo deixa de ser considerado apenas como os


componentes curriculares a serem estudados e passa a ser encarado
como a totalidade das vivências que integram o sujeito na sociedade,
capacitam-no para a resolução de problemas e potencializam as alter-
nativas de êxito em todos os setores de sua vida.

Se o papel da Orientação Educacional é auxiliar na formação dos alu-


nos, a fim de contribuir no seu processo de escolha, os fatores que põem
em prática o currículo não podem separar orientador e professores.

A Orientação Educacional e os professores precisam realizar um


trabalho que integre suas atividades. Um currículo com base nos prin-
cípios da Orientação propicia o crescimento do aluno por meio de ex-
periências pedagógicas significativas, retratando a sua caminhada ao
longo da trajetória educacional e reunindo todas as experiências peda-
gógicas oportunizadas pela escola.

4.2 Fatores que influenciam o fracasso escolar


Vídeo
Ao tratarmos das dificuldades de aprendizagem dos sujeitos, é ne-
cessário compreendermos as limitações, como elas influenciam o pro-
cesso educativo e, principalmente, o papel do orientador educacional
no auxílio a esses alunos.
Objetivo de aprendizagem Esse é sem dúvida um ponto ao qual o orientador precisa es-
• Compreender os fato- tar atento. Ao acompanhar o trabalho dos professores, o profissio-
res que influenciam no
fracasso escolar.
Savicic/Shutterstock

54 Orientação Educacional na prática


nal consegue ter um panorama dos avanços e das dificuldades de
aprendizagem enfrentadas pelos alunos em seu desenvolvimento
pedagógico. Conhecer a fundo o trabalho realizado pelos docen-
tes é fundamental para que as dificuldades de aprendizagem se-
jam discutidas com todos os envolvidos, e as alternativas viáveis
de superaçãosejam encontradas.

O papel do orientador educacional na discussão das dificuldades


de aprendizagem dos alunos é essencial para que as situações sejam
analisadas e acompanhadas e os planos de ação sejam traçados a fim
de que essas dificuldades possam ser superadas.

Entendemos por dificuldade de aprendizagem toda e qualquer li-


mitação apresentada pelo sujeito dentro do seu processo educativo.
As dificuldades são divididas em dois grupos distintos: os transtornos
e as questões circunstanciais.

O transtorno de aprendizagem abrange características espe-


cíficas dos indivíduos, geralmente de ordem genética, neurológica
e até como consequência de situações de negligência familiar. De
acordo com o Sulkes (2020), no manual MSD, o livro médico mais
vendido no mundo e mais continuamente publicado (última versão
atualizada em 2018), transtornos de aprendizagem “envolvem uma
incapacidade de adquirir, reter ou usar habilidades ou informações
gerais, o que resulta de dificuldades com a atenção, com a memória
ou com o raciocínio e afeta o desempenho acadêmico”.

Sendo assim, o transtorno (ou distúrbio) indica uma questão de saú-


de, que pode ou não vir a ser desencadeada por algum trauma sofrido
e ter sua origem na formação genética/neurológica do sujeito.

Alunos que apresentam transtornos de aprendizagem possuem


comprometimentos cognitivos relevantes em seus processos educa-
tivos, uma vez que o desenvolvimento pedagógico se torna limitado
devido às dificuldades enfrentadas. O impacto negativo na escolari-
dade é evidente.

Entre os vários distúrbios de aprendizagem existentes, o quadro a


seguir apresenta os considerados mais comuns de serem diagnostica-
dos em parceria com a escola.

Possibilidades da profissão 55
Quadro 1
Transtornos de aprendizagem

Tipos Conceito

Dificuldade de ler, escrever e compreender a linguagem escrita; geral-


De ordem escrita e
Dislexia mente resultante de anormalidades congênitas cerebrais, afetando as
oral
áreas da linguagem, produção do som e fala.
Alteração que afeta a construção da escrita, no que se refere à grafia
De ordem escrita Disgrafia e ao traçado das letras. Geralmente, a escrita apresenta-se de manei-
ra não elaborada.
Alteração da fala que impossibilita articular e pronunciar algumas pala-
De ordem oral Dislalia
vras, principalmente quando possuem “R” ou “L”, por exemplo.
Má-formação neurológica que prejudica o aprendizado dos números.
Causa dificuldade em identificar sinais matemáticos, montar operações,
De ordem classificar números, entender princípios de medida, seguir sequências,
Discalculia
lógico-matemática compreender conceitos matemáticos, relacionar valores de moedas
etc. Pode ser dividida em seis tipos: léxica, verbal, gráfica, operacional
practognóstica e ideognóstica.

Fonte: Elaborado pela autora.

As questões que não se encaixam como distúrbio são chamadas


de dificuldades circunstanciais de aprendizagem que, em algumas
situações, podem vir a se tornar transtornos. Essa discussão é muito re-
levante para o trabalho da Orientação Educacional, pois a intervenção
do orientador é fundamental para o avanço dos alunos.

O acompanhamento da rotina dos alunos permite ao orientador com-


preender várias situações ocorridas no cotidiano que acabam refletindo
no processo educativo, como questões de saúde.

Sempre que um aluno se ausenta da escola por motivos de saúde, o


orientador deve realizar o atendimento à família para entender o caso
e pensar, com os professores, qual será a forma ideal de suporte a ser
oferecido pela escola durante casos de afastamento e tratamento. O
objetivo é garantir que a aprendizagem possa acontecer, mesmo dian-
te de problemas de saúde.

Dependendo da situação de saúde enfrentada pelo aluno, o orien-


tador pode organizar, com os professores, o envio periódico das ati-
vidades que serão realizadas pela turma durante a sua ausência. Em
comum acordo com a família e de posse das informações necessárias
sobre o estado de saúde do aluno, esse envio pode ser tanto de ativi-
dades que ficariam pendentes quanto de exercícios extras para ocupar
o tempo e/ou recuperar a aprendizagem de assuntos nos quais o aluno
apresente dificuldades, em uma espécie de reforço escolar.

56 Orientação Educacional na prática


SeventyFour/Shutterstock
No caso de o aluno precisar se afastar das
aulas por motivo de longos tratamentos e pe-
ríodos de internação. O orientador precisará
estabelecer uma parceria com o profissional
do hospital – o pedagogo hospitalar – para
que, junto dele, possam ser estabelecidas
estratégias de aprendizagem, levando-se
em conta o estado de saúde do aluno e sua
disposição para a realização dos estudos
durante o tratamento (possíveis efeitos co-
laterais das medicações etc.).

Outro fator que acarreta prejuízo ao


Vídeo
aprendizado e pode ter como consequência o fracasso escolar é a si-
O vídeo Desafio profissão –
tuação de abandono por parte dos responsáveis pelo aluno, desde au-
Pedagogia hospitalar, do
sência de material escolar, atrasos constantes e até mesmo situações canal TVPUC, é extrema-
mente relevante para
mais graves, como negligência dos assuntos escolares do filho e isen-
conhecer a pedagogia
ção das responsabilidades pela sua formação como um todo. hospitalar e os desafios
na prática.
Todos esses casos devem ser de conhecimento do orientador e encami-
nhados para os órgãos competentes. O profissional precisa realizar o acom- Disponível em: https://
www.youtube.com/
panhamento, servindo como testemunha em muitos momentos. watch?v=FGzHfNTjj5w. Acesso em:
22 out. 2021.
Sempre que abordamos o fracasso escolar, a figura do orientador
educacional é lembrada como o profissional capacitado para mediar
as situações de aprendizagem prejudicadas pelas dificuldades e pe-
los transtornos. É ele quem vai explicar aos professores as condições
reais do aluno e oferecer alternativas para que o processo educativo
possa ser desenvolvido com adaptações e adequações, garantindo,
assim, a aprendizagem. Para Grinspun (2011, p. 90), esse trabalho
deve ser pautado em:
discussão sobre o fracasso escolar à luz da realidade existente
(dimensão social) e da regulação das normas dentro do sistema
e da escola (dimensão pedagógica); viabilização de meios para
que haja uma complementação das lacunas existentes, a fim de
que não se efetive e cristalize o fracasso escolar (trabalhos inde-
pendentes, grupos de apoio, monitorias etc.); discussão dos me-
canismos que temos para que a superação do fracasso ocorra
pela via da própria escola, não só dos sistemas, mudando nomes
e denominações para camuflar o próprio fracasso, em termos
de repetência, por exemplo; união com os alunos desmistifican-
do o fracasso como sendo responsabilidade unicamente deles;

Possibilidades da profissão 57
trabalhar a autoestima e as fontes viáveis de eliminação do fra-
casso (há alunos que repetiram várias vezes a mesma série do
ensino fundamental, por exemplo, e já internalizaram o discur-
so de incompetentes e incapazes); disponibilização de espaços
para que os alunos enriqueçam e aprofundem seu conhecimen-
to, como forma de apostar na autoestima e indiretamente ter
melhores condições de desafiar o próprio fracasso (verificar e
estimular aquilo em que o aluno tem melhores resultados: arte,
esporte, música, linguagens etc.).

O fracasso escolar pode apresentar diferentes origens na trajetória


educativa individual dos sujeitos, pudemos observar que os distúrbios
e/ou dificuldades de aprendizagem apresentam como consequência o
fracasso escolar, representado muitas vezes pela retenção do aluno na
mesma série/ano por se considerar que ele, ao longo de todo o ano
letivo, não alcançou as expectativas para a faixa etária.

Artigo

http://xanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/837-0.pdf

O artigo As causas do fracasso escolar na percepção de professores do Ensino


Fundamental, das autoras Fernanda Aparecida Szareski Pezzi e Angela Helena
Marin, publicado no X Anped Sul em 2014, é uma ótima fonte para que você
aprofunde seus estudos acerca da temática do fracasso escolar.

Acesso em: 22 out. 2021.

Outro fator que pode vir a desencadear o fracasso no processo edu-


cativo é o fato de os assuntos trabalhados, reunidos no currículo, não
serem parte da realidade do aluno, fazendo com que ele se distancie
das atividades, não se sentindo pertencente ao próprio processo peda-
gógico da escola.

O combate ao bullying é um exemplo claro do acompanhamento


da Orientação Educacional com relação às dificuldades de aprendi-
zagem e demais situações que podem culminar no fracasso escolar.
Episódios de perseguição, exposição e importunação podem evoluir
para graves transtornos e prejudicar o processo educativo como
um todo. De acordo com Almeida (2008, p. 10), “bullying é o ato de
praticar ou se envolver em violência, seja ela física ou psicológica, de
comportamento agressivo, intencional e negativo com execução re-
petida da ação, envolvendo crianças e adolescentes que apresentam
relacionamento com desequilíbrio de poder”.

58 Orientação Educacional na prática


O bullying é uma das formas de violência
mais velada que ocorre na escola. São epi-
sódios tão específicos e muitas vezes car-
regados de sutilidade que nem sempre
são percebidos pelos profissionais da es-
cola. Os alunos que sofrem situações de
bullying nem sempre têm coragem sufi-
ciente para relatar e pedir ajuda. Tudo
isso corrobora a não tratativa dos casos
pela escola, gerando angústia e desmotiva- Rido/Shutterstock

ção nesses alunos, impactando os resultados


de aprendizagem.

Concordamos com Lopes Neto (2005, p. 24) quando o autor coloca


que o bullying é:
a forma mais comum de violência entre crianças e adolescentes,
podendo causar traumas irreversíveis, como medo, insegurança, Filme
vingança e até mesmo suicídio nas vítimas. Também podem dei-
xar sequelas nos próprios agressores como, por exemplo, danos
físicos e psicológicos, agressividade e comportamento antisso-
cial. [...] A ocorrência de bullying é muito mais frequente do que
se pode imaginar, admitindo-se, inclusive, que seria esta a forma
mais comum de violência entre crianças e adolescentes.

Para responder a essas situações, o orientador educacional deve


atuar no sentido de desenvolver projetos que conscientizem e traba-
lhem a formação não só dos alunos, mas também das famílias e de
todos os profissionais da escola. É preciso fortalecer as relações e os No filme As vantagens de
vínculos de socialização e convivência no interior da escola. ser invisível você conhe-
cerá a história de um
adolescente que retorna
Jochen Schoenfeld/Shutterstock

à escola após um período


afastado por motivos
(emocionais) de saúde

DIGA NAO AO e passa a ser vítima de


bullying. Com o passar do
tempo, ele constrói uma

BULLYING! linda amizade com seu


professor e consegue fa-
zer mais dois amigos, com
os quais passa a dividir
as alegrias e frustrações
dessa fase de sua vida.

Direção: Stephen Chbosky. EUA:


Summit Entertainment, 2012.

Possibilidades da profissão 59
As ações de combate ao bullying devem ser de responsabilidade
do orientador educacional, que precisa contar com o apoio dos
professores e integrantes da equipe gestora. Assim, para que todos
possam se unir diante dessa importante demanda, é necessário estu-
dar, compartilhar saberes acerca da temática e envolver a comunidade
escolar. De acordo com Chalita (2008, p. 203) “o primeiro passo é organi-
zar o trabalho coletivo, envolvendo tanto os professores quanto os demais
profissionais ligados à escola, e estabelecer uma estratégia de ação focada
em três objetivos: neutralizar os agressores; auxiliar e proteger as vítimas;
transformar os espectadores em aliados”.

Diante dessa realidade, o orientador educacional precisa realizar


um trabalho de conscientização de todos os envolvidos a respeito
dos prejuízos causados no desenvolvimento educativo das vítimas de
bullying, pois estas apresentam fragilidades tanto emocionais quanto
sociais. Também é muito importante alertar para os sinais de que algo
está comprometendo o bem-estar dos alunos.
O trabalho do orientador educacional precisa estar pautado no fo-
mento e na disseminação do respeito às diferenças, à diversidade e à
inclusão de todos. Para isso, pode desenvolver, com o corpo docente,
projetos que tenham como objetivo debater a política de direitos por
meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Envolver as famí-
lias é fundamental para o sucesso desse trabalho.
No quadro a seguir vemos alternativas de trabalho encontradas no
Guia Bullying Infantil (2011).

Figura 1
1 2 3 4

MayoCreative/Shutterstock
Trabalhando o bullying na
escola. Conscientizar de Incentivar o
que nenhum tipo Promover rodas reconhecimento
Instruir a equipe
de agressão física de conversa com e a valorização
no assunto
ou psicológica os alunos sobre dos alunos que
bullying.
será tolerado nos bullying. se empenham no
ambientes escolares. combate ao bullying.

5 6 7
Solicitar que todos
deem atenção a Reforçar a Estabelecer regras
questionamentos, importância de de convivência,
reclamações e sugestões manter o respeito registrando-as no
dos alunos sobre a mútuo com todos. regimento escolar.
temática.

Fonte: Adaptada de Guia Bullying Infantil, 2015, p. 63.

60 Orientação Educacional na prática


Diante desse contexto, o orientador deve lançar mão de estratégias
para a conscientização, a prevenção e o combate ao bullying na esco-
la por meio de projetos que envolvam não somente os alunos, mas
também as famílias e toda a comunidade escolar. Promover pales-
tras, debates, exibição de filmes, dinâmicas de grupo e projetos que
possibilitem a inclusão e o respeito à diversidade são alguns exemplos
de práticas significativas na busca por amenizar e/ou erradicar situa-
ções de bullying na escola. Essas sugestões precisam estar no radar do
orientador, pois é ele o responsável por desencadear todas as ideias
referentes a essa temática.

O trabalho do orientador educacional é de fundamental impor-


tância para a discussão das dificuldades de aprendizagem dos alu-
nos. Atuando de modo efetivo na prevenção do fracasso escolar,
esse profissional precisa desenvolver o olhar sistêmico para todos
os grupos e focar ações e estratégias para sujeitos que necessitam
de intervenções específicas, de acordo com as dificuldades apresen-
tadas. Dessa forma, o orientador oportuniza condições igualitárias
de aprendizagem e coloca o combate ao fracasso escolar como meta
de sua atuação profissional.

4.3 Desenvolvimento de habilidades


Vídeo socioemocionais
Desde a reforma da BNCC, em 2018, muito tem se falado sobre as
habilidades socioemocionais e o quanto trabalhar essas competências
é primordial para o pleno desenvolvimento humano. Contudo, é im-
portante ressaltar que a discussão sobre o trabalho pedagógico com
Objetivo de aprendizagem as emoções, os sentimentos e demais habilidades que compõem o âm-
Entender como as bito das subjetividades (lado artístico, liderança, perfil etc.) não é pro-
habilidades socioemo- priamente um ponto atual. Wallon (2007, p. 198) já nos agraciava com
cionais interferem na
aprendizagem. sua teoria da afetividade:
É contra a natureza tratar a criança fragmentariamente. Em
cada idade, ela constitui um conjunto indissociável e original.
Na sucessão de suas idades, ela é um único e mesmo ser em
curso de metamorfoses. Feita de contrastes e de conflitos, a
sua unidade será por isso ainda mais suscetível de desenvolvi-
mento e de novidade.

Possibilidades da profissão 61
Leitura Nesse sentido, concordamos com o autor no sentido de entender que
Conheça a BNCC na o sujeito não pode ser encarado pela escola de modo fragmentado, mas
íntegra acessando o link
a seguir. sim respeitado em sua totalidade única e com atenção plena em todos os
setores de sua vida (afetivo, social, intelectual, motor etc.).
Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/ A questão é que, estando registrado no documento que serve como
images/BNCC_EI_EF_110518_
base para a educação brasileira, essa discussão ganha corpo e obriga-
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 22
out. 2021. toriedade de execução. A BNCC destaca a importância das competên-
cias socioemocionais (autoconsciência, autogestão, consciência social,
habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável) para
que a formação construída na escola seja integral e completa.

Diante disso, a escola precisa se debruçar sobre estudos e pesqui-


sas a fim de construir um trabalho educativo sólido no que diz respeito
às habilidades socioemocionais.
Vídeo Ainda de acordo com o autor, a aprendizagem não ocorre de ma-
Assista ao vídeo Henri neira isolada das emoções. Significa dizer que os sentimentos e as
Wallon – Afetividade e inte-
ligência – Desenvolvimento emoções humanas, atrelados à construção do conhecimento cientí-
infantil e aprenda um fico, vão influenciando e sofrendo influências no decorrer do desen-
pouco mais sobre a teoria
desse autor. volvimento educativo de cada indivíduo. Wallon considera a emoção
como um meio de que o sujeito se utiliza para socializar, interagir e,
Disponível em: https://
www.youtube.com/
assim, aprender.
watch?v=1GWP3xsrvLc. Acesso
Diante desse contexto, a BNCC prevê a construção de ações volta-
em: 22 out. 2021.
das ao desenvolvimento pleno das competências sociais e emocionais
nas escolas, proporcionando aos alunos um processo educacional hu-
manizador. O profissional que deve estar à frente desse processo é o
orientador educacional. Para Barbosa, Lima e Lima (2011, p. 78):
a Orientação Educacional deve ter como eixo de seu trabalho o
aluno, não só o aluno que já apresenta problemas, mas todos
os educandos, buscando equidade nesse processo de auxílio ao
educando. Mas o orientador deve inserir-se na escola como um
todo, pois o aluno é um ser biopsicossocial e está inserido numa
Desafio
sociedade da qual a escola é também parte.
Com base no que
você aprendeu até o É preciso que o orientador conheça a realidade e os processos que
momento, elabore um
relacionam a aprendizagem e a afetividade. Reconhecer as implicações
plano de atuação para o
orientador educacional das emoções no desenvolvimento e considerar as subjetividades dos
que contemple a escuta
envolvidos no processo educativo da escola é outro ponto muito im-
atenta dos alunos.
portante na atuação desse profissional.

62 Orientação Educacional na prática


Ele é o mediador entre o cotidiano pedagógico desenvolvido pe-
los professores e o envolvimento dos alunos nesse processo. Deve
participar do planejamento das aulas, contribuindo para as evidên-
cias das reais necessidades afetivas dos alunos, e pensar em alterna-
tivas viáveis para atender às demandas específicas que acompanha
diariamente tanto de modo individual quanto em grupos. A escuta
atenta desse profissional faz com ele tenha material de trabalho su-
ficiente para compreender do que de fato os alunos sentem falta e
como a escola pode contribuir para que essa ausência seja suprida,
ainda que não totalmente.

Promovendo espaços de diálogo, o orientador consegue auxiliar no


desenvolvimento das habilidades e competências socioemocionais dos
alunos. Entendendo a realidade afetiva deles, obtém elementos fun-
damentais para alicerçar o trabalho do corpo docente na busca por
alinhar os assuntos acadêmicos abordados em sala de aula com as
questões que permeiam as relações sociais e afetivas de toda a comu-
nidade escolar. O orientador deve preparar muito bem os professores
para o trabalho com a parte emocional dos alunos.

Para o orientador educacional, o aluno não pode ser reduzido


apenas a uma nota, mas ser reconhecido como cidadão, ter seus di-
reitos garantidos e contar com o apoio da escola para o entendimen-
to de seus deveres. Participar da formação dos sujeitos é colaborar
significativamente com o processo educativo de tal forma que, de
posse do esclarecimento das competências necessárias para o em-
poderamento do indivíduo, seja possível fazer a diferença de modo
positivo nas suas vidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, conhecemos algumas das possibilidades de atuação
do orientador educacional e ratificamos sua importância dentro do es-
paço da escola. Também entendemos a figura do orientador como pro-
fissional capacitado para lidar com as questões do fracasso escolar, mais
especificamente as dificuldades de aprendizagem evidenciadas na escola.
É de suma importância construir alternativas dentro do trabalho de
Orientação Educacional que auxiliem a escola na busca pelo êxito no
processo de ensino e aprendizagem a ser construído. Mais do que ape-
nas identificar os problemas enfrentados pelas famílias e pelos alunos, o

Possibilidades da profissão 63
orientador educacional deve estar preparado para intervir na realidade da
comunidade e promover ações eficazes de prevenção e conscientização
de todos acerca dos dilemas enfrentados.
Assim, a Orientação Educacional deve atuar de maneira significativa nas
escolas, objetivando a consolidação de um trabalho pedagógico consistente
e relevante para todos os envolvidos. Lidar com os aspectos emocionais dos
estudantes, considerando suas realidades e trazendo elementos consisten-
tes de análise do currículo escolar e do planejamento dos professores, é um
ponto muito forte na atuação do orientador educacional.
O trabalho em equipe com os professores é a melhor estratégia para
contribuir de modo significativo com o processo educativo, de maneira a
colaborar efetivamente com a construção de um currículo voltado para as
habilidades socioemocionais e as relações entre afetividade e desenvolvi-
mento da intelectualidade.
É essencial que a posição de escuta atenta do orientador educacional
seja reconhecido e valorizado por todos os sujeitos que fazem parte dele:
gestão, professores, alunos, famílias e comunidade. Reconhecer o papel
transformador da Orientação dentro da área educacional é vital para que
o trabalho seja respeitado e ganhe força para fazer a diferença positiva na
vida escolar dos alunos.

ATIVIDADES
Atividade 1

Cite um exemplo de prática do orientador educacional que auxilie no


processo de formação da identidade do sujeito..

Atividade 2
Qual é a diferença entre transtorno e dificuldade de aprendizagem?

Atividade 3
Qual documento prevê a obrigatoriedade do trabalho com as habilida-
des socioemocionais? Cite exemplos presentes no documento.

64 Orientação Educacional na prática


REFERÊNCIAS
ALMEIDA, K.L.; SILVA, A.C.; CAMPOS, J.S. Importância da identificação precoce da
ocorrência do bullying: uma revisão da literatura. Revista Pediatra, 9 (1), 2008: 8-16
BARBOSA, C. C.; LIMA, N. S.; LIMA, E. B. As contribuições da Orientação Educacional ao
processo ensino-aprendizagem. Revista Brasileira de Informações Científicas, v. 2, n. 1,
p. 76-81, 2011.
CHALITA, G. Pedagogia da amizade – Bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores.
São Paulo: Gente, 2008.
Guia bullying infantil, 1(1). São Paulo: On line Editora, 2011
GRINSPUN, M. P. S. Z. A Orientação Educacional: conflito de paradigmas e alternativas para
a escola. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
SULKES, S. B. Distúrbios de apresndizagem. Manual MSD: versão Saúde para a Família. 2020.
Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-
infantil/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-do-desenvolvimento/dist%C3%BArbios-de-
aprendizagem. Acesso em: 11 out. de 2021.
LOPES NETO, A. A. Bullying – comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de
Pediatria, v. 81, n. 5, p. 164-172, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jped/a/
gvDCjhggsGZCjttLZBZYtVq/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 22 out. 2021.
MARTINS, J. do P. Princípios e métodos da orientação educacional. 2 ed. São
Paulo; Atlas, 1984.
WALLON, H. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Possibilidades da profissão 65
5
A práxis do orientador
educacional
Neste capítulo discutiremos sobre a práxis do orientador educa-
cional. Inicialmente, a discussão será sobre o espaço de trabalho do
orientador no que se refere ao seu papel de gestor e ao desenvolvi-
mento da sua prática gestora. É importante perceber os resultados
positivos alcançados quando o orientador assume o papel de gestor
do processo educativo desenvolvido.
O segundo ponto a ser abordado é com relação ao trabalho do
orientador diante das inúmeras possibilidades profissionais que se
apresentam para os jovens. Mais do que apenas apresentar as pro-
fissões, ele precisa mediar a discussão sobre o mercado de trabalho
e o cenário social atual acerca das profissões. Para isso, é necessário
trabalhar as competências dos alunos, apontando para os pontos que
necessitam de aprimoramento, e fazer com que cada indivíduo consiga
se conhecer a fundo, para que sua escolha profissional possa ser a
mais próxima de seus interesses e habilidades.
Veremos, ainda, outra questão muito importante sobre a Orientação
Educacional: o ponto que trata do atendimento aos alunos com ne-
cessidades educativas especiais. É de responsabilidade do orientador
promover espaços de estudo, pesquisa e debate sobre as estratégias
pedagógicas a serem desenvolvidas com essas crianças e garantir o su-
porte necessário para que os professores possam efetuar um trabalho
educativo de qualidade.
O orientador é o profissional que tem por função costurar a tríade
aluno, professor e família, com o intuito de garantir o diálogo entre os
sujeitos e mediar a construção do conhecimento, a qual é promovida
pela escola.

66 Orientação Educacional na prática


5.1 O orientador educacional como gestor
Vídeo A discussão sobre o tema da gestão democrática é objeto de
conquista para todos os envolvidos na educação. Com o intuito de
promover a participação efetiva dos sujeitos implicados na cons-
trução do conhecimento na escola, é muito importante que esse
debate ganhe força e alcance resultados significativos para o avan-
ço da democratização do ensino.

Objetivo de aprendizagem Esse tipo de gestão torna todos os membros da equipe gestora
Compreender o papel
corresponsáveis por garantir a qualidade da educação e de todo o
de gestão do orientador processo educacional construído. Envolver os sujeitos na constru-
educacional.
ção do projeto pedagógico – alunos, famílias e professores – legi-
tima o trabalho coletivo e contribui para o processo de criação de
vínculo e identidade com a escola e o seu entorno. O orientador é
peça-chave de todo esse trabalho educativo, buscando atingir os
objetivos, e da função de gestor, desempenhando esse papel com
total comprometimento.

Na escola, o orientador educacional é um dos profissionais que


compõe a equipe gestora. Ele se relaciona diretamente com os alu-
nos, auxiliando-os em todos os aspectos referentes ao seu desen-
volvimento. Esse trabalho se dá em parceria com os professores,
oferecendo insumos para que eles compreendam o contexto de
vida de cada aluno, bem como com a escola, na medida em que
contribui para a organização e articulação do processo educativo,
e com a comunidade escolar, na efetivação e mediação do diálogo
entre a proposta pedagógica da instituição e os interesses das fa-
mílias atendidas.

Diante disso, torna-se primordial a inserção, na discussão, da


figura do orientador educacional dentro do processo de gestão.
É ele o responsável por manter a prática da gestão escolar e pro-
mover a reflexão sobre ela no espaço escolar, contribuindo para o
aprofundamento da concepção de gestão democrática, baseada na
atuação do orientador educacional. Observe a figura a seguir.

A práxis do orientador educacional 67


Figura 1
Dimensões da gestão do
orientador educacional
DIMENSÃO
POLÍTICA

DIMENSÃO
DIMENSÃO DIMENSÃO
EDUCACIONAL
SOCIAL FILOSÓFICA

DIMENSÃO
PEDAGÓGICA

Fonte: Elaborada pela autora.

A educação, assim como a escola, está diretamente ligada a um


contexto social, político e econômico, que reflete o comportamento
da sociedade vigente, tanto localmente quanto globalmente. Assim, é
essencial que se garanta a participação de todos na conscientização e
formação de sujeitos democráticos, por meio da organização do trabalho
pedagógico e da adoção de estratégias educacionais, para democratizar
o processo de ensino e aprendizagem, de modo que se possa efetuar mu-
danças positivas na qualidade de vida e no crescimento dos indivíduos.

As dimensões citadas na Figura 1 têm o objetivo de emancipar os


seres em todas as suas habilidades e competências, não só individuais,
mas também coletivas. Esse pensamento deve embasar os diálogos
acerca da gestão escolar, que são apresentados por Lück (2006, p. 25):
a gestão educacional corresponde à área de atuação responsá-
vel por estabelecer o direcionamento e a mobilização capazes de
sustentar e dinamizar o modo de ser e de fazer dos sistemas de
ensino e das escolas, para realizar ações conjuntas, associadas e
articuladas, visando o objetivo comum da qualidade do ensino e
seus resultados.

Assim, de acordo com Lück, o orientador exerce um papel importante


na vida dos alunos, sobretudo no desenvolvimento de sua identidade,
autonomia, corresponsabilidade e consciência dos seus direitos e deveres.

68 Orientação Educacional na prática


Para executar sua função gestora, o orientador precisa reunir ca-
racterísticas específicas em sua personalidade profissional, sendo elas:

Responsabilidade 1
2 Sensibilidade
Resistência 3
4 Iniciativa

Liderança 5
6 Habilidade pessoal

Comunicação 7
8 Perspectiva educacional

Dinamismo 9
10 Autoconhecimento
Segurança intelectual 11
12 Planejamento e organização
do trabalho

O orientador tem a função de harmonizar o ambiente escolar,


transformando-o em um laboratório de conhecimento, favorecedor da
liberdade e da democracia. É ele quem deve fomentar o movimento
de oportunizar qualitativamente o acesso a todos com necessidades
educativas especiais, por exemplo, favorecendo o aprendizado dessas
pessoas, possibilitando o convívio com a diversidade em todos os seus
âmbitos e trabalhando na formação contínua dos sujeitos. Trazer te-
máticas relevantes, envolver as famílias nos debates e discutir sobre
os desafios da comunidade escolar são exemplos de contribuição do
orientador na formação dos sujeitos. Conforme Camargo (2009, p. 44):
a Orientação Educacional poderá contribuir para a transformação
da escola em um local de busca constante de soluções de proble-
mas, planejando momentos culturais em que a família, juntamente
com seus filhos, possa participar ativamente. Servindo de ligação
entre o aluno e a família, compreendendo a realidade, os interes-
ses e as necessidades dos mesmos, e servindo-se disso para ele-
var o nível cultural da comunidade, através de debates envolvendo
questões do dia a dia, este profissional não tem currículo a seguir,
podendo assim, usar de fatos marcantes que a mídia transmite
como a corrupção, terrorismo, violência urbana, ética, cidadania,

A práxis do orientador educacional 69


entre outros temas, fazendo com isso, que a curiosidade dos alu-
nos possa ser aguçada através de pesquisas, tornando-os assim,
conscientes de que podem transformar a sociedade, descobrindo-
-se como seres que sentem, fazem e pensam.

O orientador é o profissional que aproxima a escola da discussão


sobre gestão democrática, quando exerce, na prática, a tolerância e
o respeito às diferenças, não só no exercício de observação do seu
entorno, como, principalmente, na forma de estimular a investigação e
os estudos sobre educação democrática.

Ao assumir o papel de gestor, o orientador dissemina o conceito de


gestão democrática e oportuniza a vivência de novas experiências para
os alunos, mantendo sempre o foco de seu trabalho nas necessidades
deles e respeitando os princípios e valores da instituição de ensino na
qual exerce seu papel.

Para realizar a gestão dos professores, é interessante que o orienta-


dor promova momentos de trabalho coletivo entre docentes e alunos.
Ações como rodas de conversa, participação dos estudantes na elabo-
ração dos projetos da escola, representação dos alunos no conselho de
classe e momento de escuta a respeito do currículo, em forma de debate
entre alunos e professores, são alguns exemplos de propostas viáveis
para a promoção do trabalho coletivo na gestão docente do orientador.

É importante que os docentes conheçam seus alunos e suas


necessidades e que possam, junto ao orientador, alcançar os anseios
das famílias e firmar as metas da escola como base para o trabalho
educativo que desenvolvem em sala de aula.

Dessa forma, o orientador gestor está sempre buscando a troca de


conhecimento entre os docentes e os integrantes da equipe gestora da
escola. Esse trabalho pode propiciar novos caminhos para aprimorar
a qualidade de ensino, e esse profissional é capaz de se fazer instru-
mento de transformação da prática escolar, resultante de um trabalho
pedagógico consistente e de qualidade. Por meio de formações, grupos
de estudos, fóruns e conselhos, o orientador fomenta o diálogo sobre
gestão democrática e os meios para que essa prática se efetive e apre-
sente resultados sólidos.

Sobre essa questão, Lück (2008, p. 97) coloca que:


o desempenho de uma equipe depende da capacidade de
seus membros de trabalharem em conjunto e solidariamente,

70 Orientação Educacional na prática


mobilizando reciprocamente a intercomplementaridade de seus
conhecimentos, habilidades e atitudes, com vistas à realização
de responsabilidades comuns. […] Por outro lado, a mobilização
e o desenvolvimento dessa capacidade dependem da capacida-
de de liderança de seus gestores.

O trabalho de gestão do orientador tem por objetivo a organiza-


ção tanto das condições materiais quanto das humanas, presentes no
espaço escolar, elevando a qualidade do processo educativo das esco-
las. Cabe a esse profissional fundamentar e dinamizar o trabalho da e
na escola, atuando como agente transformador e se tornando, na prá-
tica, referência em educação. A sua gestão deve coordenar e articular
a potencialização dos processos educacionais, orientando para o de-
senvolvimento de cidadãos críticos. De acordo com Garcia (1986, p. 18):
uma das funções específicas do orientador educacional é a socia-
lização do saber sobre o aluno, na medida em que a ele cabe tra-
zer a realidade do aluno para o currículo. O saber sobre o aluno
concreto, confrontado com as teorias do desenvolvimento e de
aprendizagem, vai possibilitando a criação coletiva de uma teoria
mais adequada ao aluno brasileiro, e a construção de uma práti-
ca pedagógica que atenda melhor o aluno real.

Para que a gestão democrática do orientador aconteça, é necessário


assegurar a participação de todos os interessados no processo educa-
tivo desenvolvido. Esse profissional deve apresentar um perfil de lide-
rança e uma formação acadêmica que sejam capazes de construir e
solidificar ações integradas, com foco em alcançar as metas traçadas
pela escola, em comum acordo com a comunidade escolar. A formação
do orientador deve seguir, após a graduação, para cursos que comple-
mentem e intensifiquem os estudos na área educacional e nas tratati-
vas sobre educação especial, gestão escolar e gestão de projetos.

Quando o orientador abre as portas da escola para a comunidade,


ele está inserindo a instituição no contexto em que atua e estimulan-
do a interação de todos que fazem parte desse processo. Para fomen-
tar a luta por melhores condições de trabalho e formação continuada
própria e dos professores, é necessário alinhar o papel da Orientação
Educacional com as metas da escola, sobretudo com a proposta pe-
dagógica da instituição, para que a construção do conhecimento seja
sempre favorecida e o envolvimento de todos seja reconhecido e ga-
rantido dentro do trabalho educativo desenvolvido.

A práxis do orientador educacional 71


5.2 Orientação profissional e vocacional
Vídeo A palavra vocação tem origem no verbo latino vocare, que signifi-
ca chamar. A vocação, portanto, simboliza uma espécie de chamado
para o exercício de determinada função. Partindo, então, desse ponto
de vista, a orientação vocacional permitiria compreender efetivamente
qual o chamado de cada indivíduo, na hora de escolher qual exercício
Objetivo de aprendizagem
profissional ele realizará durante toda a sua vida. Porém, sabemos que
Entender o processo de
orientar alunos com rela-
a discussão não é nem simples nem linear; dessa forma, muitos são os
ção à carreira profissional. elementos envolvidos a serem altamente considerados nesse debate.

As transformações no mundo do trabalho (a concorrência do mer-


cado, a rapidez e precocidade das mudanças e a liquidez das relações),
acrescidas da pressão exercida pela família, contribuíram sobrema-
neira para que a escolha profissional dos estudantes padecesse sob a
mira das expectativas da sociedade de modo geral.

A grande variedade de possibilidades profissionais existente, as dú-


vidas sobre qual curso de Ensino Superior fazer e a decisão definitiva
sobre o que fazer nos próximos anos de vida são momentos críticos que
Goritza/Shutterstock

podem gerar desconforto e causar prejuízos nas relações familiares e


no processo de amadurecimento do aluno. Vivemos em uma sociedade
que não oferece as mesmas oportunidades para todos e que incentiva a
competição individual para o ingresso no mercado de trabalho.

Diante disso, o orientador educacional se vê desafiado a exercer


sua função de orientar profissionalmente, uma vez que necessita co-
nhecer seu aluno, compreender a dinâmica do mundo do trabalho e
as suas transformações até chegar na atual sociedade e reconhecer as
possibilidades viáveis de escolha, cruzando os dados da realidade dos
estudantes com as alternativas encontradas nesse contexto, além de
trabalhar com a certeza de nem sempre conseguir êxito no atendimen-
to das especificidades de seus alunos.

Esse profissional também participa efetivamente da função gesto-


ra da unidade escolar e é responsável pela árdua missão de orientar
os alunos em suas vocações, as quais culminam em escolhas profis-
sionais. Assim, precisa assumir o compromisso de estimular, de modo
ininterrupto, a autonomia e a escolha genuína, ou seja, orientar para
que os estudantes não se deixem influenciar pelas imposições dos
pais, dos amigos e da sociedade em geral.

72 Orientação Educacional na prática


É de suma importância ter clareza da diferença entre orientação vo- Filme

cacional e profissional para que o orientador possa, de fato, exercer


sua função com total compreensão qualitativa dessas duas ações, que
são igualmente relevantes, mas distintas.

A orientação vocacional vai trabalhar as variáveis socioemocionais do


sujeito, fazendo com que ele descubra-se, motive-se e compreenda-se
enquanto ser que expressa e que tem vontades, interesses e prefe-
rências, ainda que tudo isso possa vir a ser motivo de conflito consigo
mesmo e com os demais à sua volta. No filme Larry Crowne:
o amor está de volta,
O orientador tem por objetivo apoiar os alunos na escolha da conhecemos a história
de Larry, um sujeito na
carreira, porém sua função não é a de escolher a profissão por eles, e
fase madura da vida que
sim de orientá-los, de acordo com as características e a personalidade trabalha há anos em uma
loja. Acreditando que se
de cada um, quanto a profissões e áreas que sejam de possível interes-
manteria nesse emprego
se e possam ir ao encontro dos anseios desses indivíduos. por toda sua existência,
ele recebe com surpresa
Já a orientação profissional apresenta as possibilidades reais de a notícia de que está
praticar aquilo que o indivíduo escolher para a sua carreira. Dessa ma- demitido, e o motivo diz
respeito à sua escolarida-
neira, mostra o campo profissional, o mercado de trabalho, a longe- de. Larry resolve, então,
vidade da carreira, os seus entraves, os desafios e as alternativas de recomeçar sua vida e
conhece uma professora
crescimento – tudo isso alicerçado no cenário social vigente. A figura a que irá contribuir para
seguir apresenta, de modo sistemático, as diferenças entre vocação e que ele se reinvente e se
redescubra profissional-
profissão e a maneira como ambas se complementam. mente.

Figura 2 Direção: Tom Hanks. Estados Unidos:


Orientação vocacional e orientação profissional Paris Filmes, 2011.

ORIENTAÇÃO ORIENTAÇÃO
VOCACIONAL PROFISSIONAL
• Compreensão do
• Áreas de interesse. mercado de trabalho.
• Habilidades em • Análise dos cursos de
potencial. Ensino Superior.
• Competências bem • Troca de experiências
desenvolvidas. com profissionais de
• Perfil socioemocional. diferentes níveis de
vivência da profissão
• Análise SWOT. escolhida ou
• PDCA. a escolher.

Fonte: Elaborada pela autora.

O orientador educacional deve discutir com os alunos sobre quais


são as opções dentro do processo de suas escolhas, trocando expe-
riências e apresentando o maior número de informações sobre as mais

A práxis do orientador educacional 73


diversas áreas. O objetivo é fomentar nos alunos a confiança e a segu-
rança sobre qual caminho profissional trilhar.

Observe a figura a seguir.

Figura 3
Plano de ação do orientador educacional por meio do ciclo PDCA

• Realizar ações corretivas


• Localizar o problema.
visando ao êxito.
• Estabelecer o plano
• Padronizar para as
de ação.
próximas intervenções. Action Plan
(agir) (planejar)

Check Do
(checar) (fazer)
• Verificar o alcance
das metas. • Colocar em prática o
• Acompanhar os plano de ação.
indicadores.

Fonte: Elaborada pela autora.

A Figura 3 apresenta o plano de ação e acompanhamento do traba-


lho de orientação profissional do orientador educacional por meio do
ciclo PDCA. Ele é composto de quatro etapas: elaborar, executar, acom-
panhar e agir de acordo com as reflexões resultantes desse acompa-
nhamento. O PDCA, portanto, deve estabelecer as metas, os prazos e
o processo de elaboração de plano e acompanhamento da evolução
dessas ações que compõem o projeto. Acompanhar a escolha profis-
sional dos alunos, apontando para suas habilidades e competências
(vocação), não deve ser encarado pelo orientador como algo simples e
operacional, mas sim como um projeto de vida, no qual sua participa-
ção é primordial para mediar os diálogos entre as áreas e a realidade
dos indivíduos.

Muitos são os instrumentos e as ferramentas que podem ser utili-


zados pelo orientador na busca por promover espaços de escuta dos
alunos e por compreender os desejos, as áreas de interesse, os medos
e as angústias que permeiam essa fase de suas vidas.

A análise SWOT ou FOFA (termo utilizado no Brasil) é um instru-


mento comum do qual o orientador lança mão para entender como o
aluno se enxerga diante das inúmeras possibilidades de construção de
sua carreira. Acompanhe, a seguir, os elementos que compõem esse
modelo de análise.

74 Orientação Educacional na prática


Figura 4
Análise SWOT

FATORES POSITIVOS FATORES NEGATIVOS


S W

Stronger Weaknesses
FATORES (força) (fraquezas)
EXTERNOS

SWOT

FATORES Opportunities Threats


INTERNOS (oportunidades) (ameaças)

O T
Fonte: Elaborada pela autora.

Quais são minhas forças? E fraquezas? O que o mundo me pro-


porciona de positivo? Quais são as ameaças da sociedade com rela-
ção ao meu contexto? Ao trabalhar essa ferramenta com os alunos, o
orientador os instrui a preenchê-la com os dados que se pede, a fim de
construir um cenário de possibilidades para a compreensão do contexto
do aluno. Assim, será possível verificar por quais caminhos o orientador
deve seguir, com o intuito de auxiliar no processo de escolha do sujeito.

O importante para o orientador educacional é compreender que ele


precisa desenvolver um processo de reflexão que permita a elaboração de
estratégias de mediação de conflitos e dê suporte diante das dificuldades
inerentes à escolha profissional que os estudantes vierem a enfrentar. Isso
ocorrerá através da escuta atenta dos alunos, professores e familiares.

A Orientação Educacional oportuniza o desenvolvimento integral,


por meio de um projeto dinâmico, contínuo, sistematizado e conecta-
do ao contexto dos alunos. O orientador reúne muitos elementos em
sua prática pedagógica, os quais ficam evidenciados em sua atuação
orientadora e estão intrinsecamente ligados ao currículo desenvolvido
pela escola. Para Grinspun (2002, p. 64) “a prática da Orientação Educa-
cional deve ser vista como um processo ativo, dinâmico, como construção,
produção de conhecimento, de saberes, de comunicações e interações”.

A práxis do orientador educacional 75


Para consolidar sua atuação, o orientador tem que desenvolver e
cultivar o hábito de estudar e se capacitar profissionalmente, de modo
permanente, interagindo com os debates e as discussões acerca da te-
mática da Orientação Profissional, estabelecendo a interlocução com o
cenário educacional vigente e aprimorando suas competências e sua ca-
pacidade de análise.

5.3 Acompanhamento de alunos


Vídeo com necessidades especiais
A educação inclusiva é pauta de trabalho de renomados autores
da área educacional, como Philippe Perrenoud, Peter Mittler, Lino
de Macedo e muitos outros, e versa, entre outros aspectos, sobre a
Objetivo de aprendizagem inserção de alunos com necessidades educacionais especiais em salas
de aula regulares. Entretanto, o próprio debate quanto ao conceito de
Entender o processo
de orientar alunos com inclusão é muito mais profundo do que simplesmente decidir se o alu-
necessidades especiais.
no pode ou não, deve ou não e tem ou não o direito de permanecer em
uma escola de ensino regular.

Destacaremos aqui o papel do orientador educacional nessa


discussão, contribuindo com a reflexão a favor da inserção com quali-
dade dos alunos com necessidades educacionais especiais e o seu su-
porte, para que tanto o corpo docente quanto os demais profissionais
da equipe pedagógica da escola possam oferecer um processo educa-
tivo de qualidade para esses sujeitos.

Sabe-se que a escola tem a missão de promover a educação para


todas as pessoas, combatendo com todas as forças e argumentos peda-
gógicos qualquer tipo de exclusão. Diante de um
contexto cada vez mais diversificado, onde
as distinções étnicas, culturais, sociais, re-
ligiosas, entre outras, estão presentes no
cotidiano escolar, é impossível fechar os
olhos para as questões específicas de
alguns alunos, referentes às necessi-
dades pontuais dentro do proces-
so individual de aprendizagem, as
quais são chamadas de necessida-
Halfpoint/Shutterstock

des educativas especiais.


A figura a seguir demonstra os diferentes conceitos associados à
tematica.

Figura 5
Conceitos importantes dentro da discussão sobre inclusão

Exclusão Segregação

Integração Inclusão
Fonte: Elaborada pela autora.

É importante ter clareza pedagógica sobre os conceitos apresentados,


uma vez que, ao se deparar com as especificidades, o orientador precisa
utilizar sua formação e seu conhecimento para subsidiar o trabalho dos
professores. Esses conceitos são cada vez mais exigidos, no que tange às
habilidades e competências imprescindíveis para desenvolver, em sala de
aula, a construção do conhecimento que envolva todos os sujeitos.

Ao falar de segregação, chamamos a atenção para um processo que


de fato separa os alunos em dois grupos distintos, sendo eles: aque-
les que conseguem acompanhar os processos e aqueles que ficam à
margem dos acontecimentos. Trazendo o conceito de exclusão, perce-
bemos, pela Figura 5, que se trata única e exclusivamente de retirar do
trabalho a ser desenvolvido os alunos que não acompanham a dinâmica.

Sobre integração, dizemos que, ao oportunizarmos esse movi-


mento integrador, fazemos com que todos participem dos processos
com qualidade e equidade e alcancem resultados, ainda que cada um
a seu modo. Já ao tratarmos de inclusão, estaremos apenas garantindo

A práxis do orientador educacional 77


a estadia de todos no mesmo espaço. Portanto, a discussão aqui deve
ser acerca de qual tipo de prática inclusiva estamos falando e como
garantir qualidade nesse processo.

O orientador educacional está diretamente ligado à interação/interlo-


cução entre aluno e professor. É ele quem desempenha o papel signifi-
cativo, no que diz respeito ao processo de inclusão escolar, vivenciado
principalmente em atividades inclusivas diárias, no auxílio dos mo-
mentos de adaptação e nas orientações de interação para o professor
dentro das ações inclusivas.

O orientador atua como mediador efetivo na busca por alternativas


eficazes, com vistas a viabilizar o processo de ensino e aprendizagem
e o aperfeiçoamento da formação docente em sua prática pedagógica.
Não podemos falar sobre educação inclusiva sem nos atentar para a
legislação brasileira que versa sobre o assunto.

Para que a ideia de uma sociedade inclusiva saia do papel e se efeti-


ve na prática pedagógica das escolas, alguns documentos legais foram
elaborados, com o objetivo de garantir o cumprimento dos princípios
de inclusão, reconhecendo a diversidade como característica inerente
à constituição de todo e qualquer indivíduo, de modo a valorizar a ne-
cessidade de garantir o acesso e a participação qualitativa de todos,
independentemente das suas particularidades.

De acordo com a Constituição Federal (BRASIL, 1988):


Leitura Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da fa-
Acesse a Constituição mília, será promovida e incentivada com a colaboração da socie-
Federal na íntegra e leia o
dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
Capítulo III, “Da educação,
da cultura e do desporto”, para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Seção I, “Da educação”. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes
Nesse capítulo, você irá princípios:
encontrar os direitos
assegurados a todos, sem
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
distinção, à uma educação
de qualidade. Ainda, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) discorre (BRASIL,
Disponível em: http://www. 2002, p. 17):
planalto.gov.br/ccivil_03/ Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando
constituicao/constituicaocompilado.
htm. Acesso em: 11 nov. de 2021. ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício
da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores.

Diante dos dispositivos legais descritos, como garantir, na prática,


a inserção e a permanência de alunos com necessidades educativas

78 Orientação Educacional na prática


especiais nos espaços regulares de ensino? Será que, ao elaborar tra- Saiba mais
tativas legais, a sociedade contribuiu o suficiente para essa garantia? O No link a seguir, você tem
acesso a um texto muito
que encontramos atualmente nas escolas? Como assegurar o direito ao interessante sobre a
atendimento educacional de qualidade das diferenças e, assim, promo- importância do ECA, o seu
objetivo e as diretrizes
ver a igualdade em sociedade? que esse documento re-
presenta. É uma leitura de
Castilho chama a atenção para a elaboração teórica de Morin suma relevância para todo
(1996, p. 50) que: orientador educacional.

anota que há dois princípios associados: o princípio de exclusão Disponível em: https://
grupomarista.org.br/noticias/
e o de inclusão. O que é o princípio de exclusão? Qualquer um por-que-foi-criado-e-qual-a-
pode dizer “eu”, mas ninguém pode dizê-lo por mim. Esse princí- importancia-do-estatuto-da-
pio de exclusão é inseparável de um princípio de inclusão que faz crianca-e-do-adolescente/. Acesso
em: 11 nov. de 2021.
com que possamos integrar em nossa subjetividade outros dife-
rentes de nós, outros sujeitos. Por exemplo, nossos pais fazem
parte desse círculo de inclusão.

Assim, cabe ao orientador reunir insumos capazes de qualificar o


olhar inclusivo da escola para a efetivação significativa não só do alu- Filme
no em questão, mas também dos profissionais envolvidos no processo
educativo dele.

É importante esclarecer quem estamos considerando como público


integrante da educação inclusiva: alunos com diferentes tipos de limi-
tações (intelectual, física, auditiva, visual e múltiplas), transtornos do
desenvolvimento (TDAH, autismo, entre outros) e altas habilidades.

Longe de ter como prioridade os alunos que, porventura, apresentam


questões sociais comportamentais e/ou dificuldades de aprendizagem,
No filme Meu Nome é
o orientador é o mediador entre o aluno e a escola, discutindo problemá- Rádio, conhecemos
Anderson, que é treina-
ticas que fazem parte do contexto sociopolítico, econômico e cultural em
dor de futebol americano
que vivemos. É por meio dessa reflexão sobre a realidade experienciada em uma escola. Ele
conhece um jovem com
que o orientador oportuniza ao aluno o conhecimento sobre sua própria
necessidades educativas
condição de aprendizagem, seus direitos e como vencer suas limitações, especiais, que não falava
e só perambulava em
estabelecendo relações e se desenvolvendo enquanto cidadão conscien-
volta do campo de trei-
te e crítico. De acordo com Dantas namento. O treinador o
coloca sob sua proteção
O Orientador Educacional deve estar sempre atento a identifi- e descobre que existem
car as diferenças individuais de cada aluno, esse procedimento muitas maneiras de se
acontece através de observações no recreio ou em sala de aula. aprender e conviver com
as diferenças.
Faz-se necessário um trabalho de integração entre o O.E., o pro-
fessor e a família dos educandos sempre visando assistir todos Direção: Michael Tollin. Estados
Unidos: Revolution Studios: 2003.
os alunos. (DANTAS, 2011, p. 20)

A práxis do orientador educacional 79


Livro O orientador educacional deve estar comprometido com o exercício
da cidadania e com uma educação emancipatória. Ainda, ele precisa
lutar contra todas as formas excludentes de se fazer educação em uma
sociedade como a nossa, que não oportuniza a todos as mesmas condi-
ções nem preza pela equidade dos processos educativos desenvolvidos.

O grande desafio desse profissional é colocar em prática um projeto


democrático de educação que garanta espaço efetivo e de qualidade
para todas as diferenças de aprendizagem reunidas em sala de aula.
Para aprofundar a A democracia, que é o exercício efetivo da cidadania, pressupõe a
discussão acerca das autonomia – das pessoas e instituições. A educação emancipado-
desigualdades sociais que
ra e gestão democrática são indissociáveis, sem o que estaríamos
acabam por influenciar
diretamente os processos trabalhando numa contradição intrínseca. Escolas, profissionais
educativos desenvolvidos, da educação e estudantes privados de autonomia não terão a con-
o livro Sucesso escolar nos
dição essencial para exercer uma gestão democrática, de promo-
meios populares: as razões
do improvável serve como ver uma educação cidadã. (BORDIGNON, 2005, p. 32)
referência para enri-
quecer o debate acerca O foco da atuação orientadora deve estar no desenvolvimento de
do tema. uma aprendizagem que seja significativa, visando à formação do cida-
LAHIRE, B. São Paulo: Ática, 2004. dão crítico reflexivo, capaz de, mesmo diante de todas as adversida-
des advindas das suas condições (sejam elas físicas ou intelectuais),
transformar o mundo em um lugar muito melhor para se viver.

Portanto, cabe ao orientador descobrir e promover estratégias viá-


veis e efetivas, que contribuam de modo significativo no desenvolvi-
mento do aluno, bem como trabalhar na organização e na realização
da proposta pedagógica da escola, dialogando e praticando a escuta
atenta das necessidades dos sujeitos.

Diante do contexto desafiador da inclusão e do convívio diário com


os alunos que apresentam necessidades educativas especiais em seu
processo de aprendizagem, o papel do orientador é o de mediador.
Assim, cabe a ele desenvolver projetos educacionais sobre a inclusão
com toda a comunidade escolar, pois, como formador, atende direta-
mente ao professor nas questões de conflito encontradas na sala de
aula e é capaz de reverter essas situações em momentos de escuta,
reflexão e criação de maneiras possíveis de intervenção.

O orientador deve se debruçar e investir na questão da formação


continuada do professor – promovendo grupos de estudos, fóruns e
seminários sobre temáticas ligadas ao meio educacional de modo ge-
ral – e, também, em questões específicas, de acordo com as demandas

80 Orientação Educacional na prática


escolares, para que o docente esteja preparado para trabalhar com a
inclusão na escola. Tudo isso com a intenção de evitar práticas pedagó-
gicas excludentes e instrumentalizar o corpo docente para realizar um
trabalho educativo de qualidade e que alcance a todos, sem distinção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, discutimos sobre as inúmeras possibilidades de atuação
do orientador educacional e pudemos valorizar ainda mais sua presença
dentro do espaço da escola.
Além disso, foi possível entender a figura do orientador como gestor,
mais especificamente como integrante da equipe gestora da escola, abrindo
um leque de alternativas de emancipação desse profissional, e sua valoriza-
ção e importância dentro do processo educativo construído.
Assim, o orientador educacional deve estar preparado para ser líder
das questões reflexivas e críticas da sociedade, sobretudo daquelas que
envolvam o futuro dos alunos – diante das escolhas profissionais deles e
das considerações relevantes acerca das habilidades e competências dos
sujeitos –, os seus interesses e as chances reais de êxito no contexto atual
do mercado de trabalho.
As transformações educacionais vivenciadas ao longo da construção
dos cenários educativos provocam mudanças que, por sua vez, acarretam
consequências na realidade da comunidade. Nesse sentido, a função do
orientador é elaborar projetos e promover estratégias de atendimento
a todos, engajando toda a escola nas ações inclusivas e integrativas pe-
dagogicamente emancipatórias.
A atuação do orientador educacional consiste em realizar continuamente
o movimento de pesquisa, estudo e reflexão sobre a prática pedagógica
dos professores, a fim de potencializar o trabalho educativo na sala de aula,
além de inserir toda a comunidade nesse processo, apresentando a esco-
la, os seus desafios e os resultados positivos, bem como oportunizando a
participação de todos na busca dos objetivos da instituição.
A melhor estratégia para contribuir de modo significativo com o pro-
cesso educativo é garantir o espaço da escuta atenta, para reunir elementos
importantes que irão embasar o trabalho do orientador educacional, seja
na gestão, na formação dos professores ou no atendimento dos alunos, das
famílias e da comunidade.

A práxis do orientador educacional 81


ATIVIDADES
Atividade 1
Qual é a principal função do orientador gestor?

Atividade 2
Quais são as diferenças entre orientação vocacional
e profissional?

Atividade 3
Quais são os documentos que garantem a educação inclusiva?

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituicao.htm. Acesso em: 11 nov. 2021.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei Federal n. 8.069, de 13 de julho de 1990.
Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2002.
BORDIGNON, G.; GRACINDO, R. V. Gestão da educação: município e escola. IN: FERREIRA,
N. S. e AGUIAR, M. A. (Orgs.). Gestão da Educação: impasses, perspectivas e compromissos.
São Paulo: Cortez, 2002.
BORDIGNON, G. Gestão democrática da educação. Salto para o futuro, Boletim 19, out.
2005. Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ppi/lib/exe/fetch.php?media=textos:03_
gestao_democratica_textos. pdf. Acesso em: 24 jun. 2014.
CAMARGO, M. A verdadeira função do orientador educacional na escola. UNICENTRO
(Universidade estadual centro oeste), 2009.
CASTILHO, E. W. V. de. O papel da escola para a educação Inclusiva. Disponível em: http://
pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/publicacoes/pessoa-com-deficiencia/
papel-escola-educacao-inclusiva. Acesso em: 26 out. 2021.
DANTAS, M. M. A contribuição do orientador educacional no processo de inclusão escolar
em uma escola rural do Distrito Federal. 2011. Disponível em: http://bdm.bce.unb.br/
bitstream/10483/2415/1/2011_MarciaMedeirosDantas.pdf. Acesso em: 28 out. 2021.
GARCIA, R. L. Especialistas em educação: os mais novos responsáveis pelo fracasso
escolar. In: ALVES, N.; GARCIA, R. L. (org.). O fazer e o pensar dos supervisores e orientadores
educacionais. São Paulo: Loyola, 1986.
GRINSPUN, M. P. S. Z. A Orientação Educacional: conflito de paradigmas e alternativas para
a escola. São Paulo: Cortez, 2002.
LÜCK, H. A escola participativa: o trabalho de gestor escolar. 4. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
LÜCK, H. Gestão Educacional: uma questão paradigmática. Petrópolis: Vozes, 2008.

82 Orientação Educacional na prática


Resolução das atividades
1 Uma conversa sobre Orientação Educacional
1. Na primeira seção do capítulo, discutimos sobre a trajetória da
Orientação Educacional no Brasil. Analise o início dessa trajetória e
relacione-a com o contexto do país na década de 1940.
Na década de 1940, o Brasil enfrentava muitas reformas políticas e
sociais. Diante dessas transformações, a Orientação Educacional
surgiu, trazendo como objetivo principal organizar a vida profissional
dos jovens egressos do Ensino Médio.

2. Comente sobre a abordagem da Orientação Educacional enquanto


aconselhamento profissional.
O aconselhamento profissional objetivava classificar os sujeitos por
meio de suas aptidões e direcioná-los para as áreas técnicas do
mercado de trabalho.

3. Analise a importância do planejamento das ações da Orientação


Educacional.
O planejamento é uma ferramenta essencial para a qualidade do
trabalho do orientador educacional, pois possibilita sua antecipação
nas situações do cotidiano escolar e potencializa a elaboração de
projetos significativos para toda a comunidade escolar.

2 O papel do orientador educacional


1. A respeito das diferenças entre a Orientação Educacional e a
Psicopedagogia, cite um exemplo que as distingue.
A Psicopedagogia trata dos casos individuais, geralmente
desenvolvendo tratamentos para atender a necessidades específicas
de aprendizagem. Já a Orientação Educacional desenvolve um
trabalho escolar sistêmico, mediando ações e construindo projetos
pedagógicos significativos.

2. Na perspectiva pedagógica, cite um exemplo de prática do


orientador educacional.
O orientador educacional constrói sua prática pedagógica com base
no seu conhecimento sobre as necessidades dos alunos, da escola e
de toda a comunidade escolar.

Resolução das atividades 83


3. Cite uma atividade desenvolvida pelo orientador educacional no
âmbito escolar. Justifique sua importância.
A participação no conselho de classe é uma atividade muito importante
desenvolvida pelo orientador educacional, pois ele está munido de
informações relevantes a respeito do processo de aprendizagem dos
alunos e pode contribuir para o plano de ação a ser traçado pelos
professores.

3 Entraves e desafios da orientação educacional


1. A respeito da burocratização do trabalho do orientador educacional,
descreva como é possível desvencilhá-lo desse tipo de atividade.
Uma prática voltada para observação do cotidiano da escola faz
com que o saber fazer pedagógico do orientador educacional ganhe
legitimidade, uma vez que ele conseguirá reunir elementos muito
importantes a respeito da realidade dos alunos e, assim, poderá
pensar em projetos e ações pedagógicas eficazes.

2. Cite uma razão pela qual é possível perceber a crise de identidade


que caracteriza o orientador educacional, profissionalmente falando.
Os fatos do não reconhecimento das atribuições e da não valorização
da função dentro do espaço da escola, contribuem negativamente
para a crise de identidade profissional do orientador educacional.

3. Aponte duas estratégias das quais o orientador educacional


pode lançar mão para contribuir significativamente no processo
educativo dos alunos.
Abrir a escola para a comunidade debater temas atuais e trabalhar no
planejamento em parceria com os professores.

4 Possibilidades da profissão
1. Cite e explique um exemplo de prática do orientador educacional
que auxilie no processo de formação da identidade do sujeito.
Conhecer a familia do aluno, sua rotina, a comunidade onde reside
e fazer a escuta atenta desse alluno, individualmente.

2. Qual é a diferença entre transtorno e dificuldade de aprendizagem?

84 Orientação Educacional na prática


Transtorno caracteriza uma condição neurológica e dificuldade
significa uma circunstância específica de ordem situacional
enfrentada pelo aluno.

3. Qual documento prevê a obrigatoriedade do trabalho com


as habilidades socioemocionais? Cite exemplos presentes no
documento.
O documento que prevê a obrigatoriedade do trabalho com as
habilidades socioemocionais é a Base Nacional Curricular Comum
(BNCC). O documento cita, entre outros, o trabalho em equipe,
a liderança e empatia como habilidades essenciais a serem
desenvolvidas nos alunos.

5 A práxis do orientador educacional


1. Qual é a principal função do orientador gestor?
Promover o diálogo entre as diferentes áreas que compõem a escola:
professores, alunos e comunidade.

2. Quais são as diferenças entre orientação vocacional e profissional?


A orientação vocacional foca as habilidades socioemocionais dos
alunos, enquanto a orientação profissional apresenta o mercado de
trabalho e os cursos de Ensino Superior.

3. Quais são os documentos que garantem a educação inclusiva?


A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).

Resolução das atividades 85


ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA PRÁTICA
Orientação
Educacional
na Prática
Joelma Marçal

JOELMA MARÇAL
Código Logístico

I0 0 0 3 4 6

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-65-5821-097-9

9 786558 210979

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