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ISSN 2177-3548
[1] Universidade Estadual de Londrina [2] Universidade Federal do ABC [3] Universidade Federal de São Carlos [4] Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre
Comportamento, Cognição e Ensino | Título abreviado: Inclusão educacional: contribuições analítico-comportamentais | Endereço para correspondência: Maria
Clara de Freitas – Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento/UEL. Rodovia Celso Garcia Cid, Pr 445 Km 380, Campus Universitário. Cx. Postal
10.011. CEP 86.057-970. Londrina/PR | Email: clarafreitas@uel.br | doi: org/10.18761/DH010.jul21
Revista Perspectivas 2022 Ed. Especial: Estresse de Minorias pp.197-212 197 www.revistaperspectivas.org
Abstract: Considering the paradigm shift that educational inclusion poses for education and
society, especially due to the social model of disability, which includes since changing the way
to look at disability and people with disabilities to the provision of specialized educational
services, a pertinent question is how Behavior Analysis, based on its papers and its tradition
in the area of special
education, has understood, dealt with and collaborated for Educational
Inclusion. This work explores possible answers, presenting analytical-behavioral contributions
to educational inclusion. Initially, we discuss analytical-behavioral principles supporting the
perspective of educational inclusion in Brazil. Then, we present applied and empirical studies
based on Behavior Analysis that have shown contributions to educational inclusion in Brazil,
in two ways: by constructing and implementing comprehensive educational programs, and
by training professionals and educational agents who work directly in inclusion. As conclu-
sions, we demonstrate that Behavior Analysis has collaborated with educational inclusion,
either because their principles converge, or because of the existence of works that can drive
the implementation of effective teaching strategies, based on scientific evidence, thus favoring
educational inclusion.
Keywords: Behavior Analysis; Educational inclusion; People with disabilities.
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Maria Clara de Freitas, Priscila Benitez, Lidia Maria Marson Postalli 197-212
A Análise do Comportamento tem, desde o princí- gulares e/ou instituições especializadas1. Inclusive,
pio, se preocupado com questões educacionais e de a terminologia adotada para se referir a esta parcela
aprendizagem, em especial, daquela população que de estudantes passou de “alunos excepcionais” para
era classificada como “não ensinável”, para quem as “alunos com necessidades educacionais especiais”
tentativas de ensino tradicionalmente fracassavam, e, atualmente, para “público-alvo da educação es-
e a prática segregacionista era dada como solução pecial” (PAAE) correspondendo às pessoas com
viável no contexto escolar e justificada na condição deficiência, transtornos globais do desenvolvimen-
da pessoa, a despeito das questões pedagógicas e to e altas habilidades/superdotação (Brasil, 2008;
sociais. O vínculo estreito que os analistas do com- Mendes, 2019).
portamento estabeleceram com a educação especial A partir das demandas documentadas por vá-
se mantém até hoje, em tradições consolidadas de rios países na Declaração Mundial de Educação
investigação, pesquisa e aplicação prática, em diver- para Todos (Unesco, 1994), assim como na
sos âmbitos que os processos educacionais podem Declaração de Salamanca (Unesco, 1994), foi es-
se manifestar, fora e dentro da escola. tabelecido no cenário nacional e internacional um
A Educação Especial, a partir de uma perspec- momento propício para criar condições de propor
tiva inclusiva é compreendida enquanto uma mo- uma Educação de Qualidade para Todas as Pessoas.
dalidade escolar transversal entre todos os segmen- No Brasil, inclusive, tal situação histórica foi engen-
tos escolares, conforme estabelecido na Política drada pelos movimentos sociais, em conjunto com
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da o protagonismo das pessoas com deficiência que
Educação Inclusiva (Brasil, 2008), portanto, para estavam engajadas em tais movimentos.
compreendê-la, é necessário examinar o contexto Com os movimentos sociais e a perspectiva da
em que está inserida. Considerando a mudança Educação Inclusiva, a Educação Especial tem como
de paradigma que a inclusão escolar coloca para objetivo eliminar qualquer barreira educacional e
o sistema educacional e para a sociedade, sobre- proporcionar o acesso e a qualidade do ensino para
tudo o modelo social da deficiência, que envolve todos os estudantes, por meio de suportes, como o
desde a forma de olhar para a deficiência e para a serviço do Atendimento Educacional Especializado
pessoa com deficiência, até a necessária provisão (AEE), com função complementar ou suplementar
dos serviços educacionais especializados para esta do ensino, ocorrendo preferencialmente em escolas
população, uma pergunta que se coloca é como a comuns (Brasil, 2008).
Análise do Comportamento, a partir do seu arca- Assim, o objetivo do presente trabalho é apre-
bouço teórico e de sua tradição na área de educa- sentar contribuições da Análise do Comportamento
ção especial, tem entendido, lidado e colaborado à inclusão educacional. Para tanto, o texto se inicia
para educação especial no paradigma da inclusão tecendo questões e reflexões que consideramos se-
educacional e escolar. rem condizentes com a perspectiva analítico-com-
As formas de intervenção educacional às pes- portamental em relação à inclusão educacional, e
soas com deficiência foram se transformando ao em seguida relaciona achados e trabalhos embasa-
longo do tempo. Com o surgimento de instituições dos na Análise do Comportamento que contribuí
especializadas, ora por caridade, ora por assisten- ram para a inclusão educacional, de duas formas
cialismo, a Educação Especial passou a ser influen- diferentes: a partir da construção de programas
ciada pelo paradigma da integração, o qual visava
o trabalho centrado na pessoa público-alvo dessa 1 O presente artigo enfatiza os achados descritos por Mendes
educação com o objetivo de tratá-la para atingir (2019, p. 19), que afirma: “a opção de usar a expressão ‘insti-
uma normalidade, em relação aos pares sem defi- tuição especializada’ ao longo deste texto, e não ‘escola espe-
ciência e, assim ter acesso aos trabalhos na sala de cial’ , foi intencional, uma vez que chamá-las de escolas seria
aula comum ou em classes especiais de escolas re- conferir-lhes um atributo que a maioria delas ainda não têm.
Assim, quando se propõe que tais instituições devam funcio-
nar como escolas especiais propriamente ditas, significa que
elas também precisam se reconfigurar para assumir este papel
nos sistemas educacionais inclusivos”.
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Contribuições da Análise do Comportamento para a inclusão educacional brasileira 197-212
educacionais abrangentes implementados em dife- Analysis – ABA), por sua vez, de acordo com
rentes ambientes e por diferentes agentes educacio- Cooper, Heron & Heward (2014) se refere a “the
nais, e via a formação, capacitação e treinamento de science in which tactics derived from the principles
profissionais cujas atuações contribuem diretamen- of behavior are applied to improve socially signifi-
te para a inclusão educacional. cant behavior and experimentation is used to iden-
tify the variables responsible for the improvement
in behavior”2 (p. 2). E ainda, de acordo com de Rose
A inclusão educacional (2005), “a perspectiva da Análise Comportamental
e a perspectiva analítico- leva a considerar que, em princípio, qualquer in-
comportamental divíduo é capaz de aprender, mesmo aqueles que
apresentam limitações ou deficiências. Nenhum
O presente trabalho tem como premissa a com- diagnóstico ou rótulo descreve adequadamente
preensão de que a inclusão escolar é um processo as capacidades ou dificuldades de uma pessoa” (p.
social complexo que envolve diferentes atores e 31) E conclui: “Fracassos eventuais devem ser atri-
segmentos sociais da comunidade e, a partir, do buídos à inadequação dos procedimentos e não a
estudo do entrelaçamento entre tais contingências características intrínsecas do aluno ou do meio do
é possível estabelecer uma compreensão compor- qual provém. É possível que as dificuldades apre-
tamental da inclusão escolar (Almeida-Verdu et sentadas por determinado estudante sejam, de
al, 2007; Benitez & Domeniconi, 2015; Schmidt & fato, devidas à falta de pré-requisitos importantes.
de Souza, 2008). Nesse sentido, ao compreender Neste caso, em vez de esperar que o estudante ama-
o AEE como único modelo de serviço educacio- dureça, ou que atinja a fase apropriada de desen-
nal especializado, conforme definido na Política volvimento cognitivo, é importante identificar os
de 2008, parece não ser suficiente para garantir a pré-requisitos e ensiná-los diretamente” (de Rose,
aprendizagem e permanência do PAEE. É inegá- 2005, p. 31). Os achados que se referem ao ritmo
vel a conquista da Política de 2008, em relação ao individual de aprendizagem de cada estudante (de
número de matrículas do PAEE na escola comum, Rose, 2005) dialogam diretamente aos pressupos-
sobretudo em classe comum, porém torna-se ne- tos estabelecidos na Educação Inclusiva, de acordo
cessário refletir no contexto da diretriz política com a Declaração de Salamanca (1994).
sobre a permanência que envolve condições de A Educação Especial na perspectiva da
ensino para garantir a aprendizagem, por meio de Educação Inclusiva (Brasil, 2008) tem como
várias ofertas de serviços educacionais especializa- proposta oferecer o Atendimento Educacional
dos, na perspectiva inclusiva. É fundamental res- Especializado (AEE) em uma perspectiva comple-
saltar que tal Política (2008), evidentemente, como mentar ou suplementar ao processo de escolariza-
qualquer outro documento normativo, requer atu- ção na classe comum do estudante público-alvo
alizações, conforme a pesquisa educacional inclu- da educação especial. Tal serviço educacional es-
siva avança nesse contexto, porém, é preciso um pecializado foi uma conquista do ponto de vista
certo cuidado, principalmente, com a escrita do de garantir um sistema de apoio e suporte em sala
Decreto 10.502 de 2020, que marca profundos re- de recurso (multi)funcional, ou em instituições
trocessos, como a concepção do modelo médico especializadas. Contudo, dada a situação de de-
da deficiência e o retorno do ensino especializado sigualdade social vivenciada no Brasil, sobretudo,
(escola e classe especial) como substitutivo à classe no que diz respeito às desigualdades educacionais
comum, sendo essa Política de 2020 suspensa pelo das pessoas com deficiência, transtornos globais
Supremo Tribunal Federal (STF).
Assim, o presente trabalho tem como funda-
mentação teórica os princípios analíticos compor- 2 Em língua portuguesa: “a ciência na qual táticas derivadas
dos princípios do comportamento são aplicadas para melho-
tamentais e a Educação Especial na perspectiva da rar o comportamento socialmente significativo e a experi-
Educação Inclusiva. A Análise do Comportamento mentação é usada para identificar as variáveis responsáveis
Aplicada (termo em inglês, Applied Behavior pela melhoria no comportamento”.
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Maria Clara de Freitas, Priscila Benitez, Lidia Maria Marson Postalli 197-212
do desenvolvimento e com altas habilidades/su- Contudo, isto nem sempre ocorre. O próprio
perdotação, é esperado que se torne desafiador texto da Política Nacional de Educação Especial
conseguir garantir que um único modelo de ser- na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEE –
viço educacional fosse suficiente para garantir a Brasil, 2008) tece críticas às “práticas que enfati-
pluralidade de AEEs existentes em todos os esta- zavam os aspectos relacionados à deficiência, em
dos e municípios brasileiros. contraposição à sua dimensão pedagógica” (Brasil,
Entende-se que a inclusão e o desenvolvimen- 2008, cap. V).
to de uma pessoa com deficiência ou altas habili- Quando esses fatores não são considerados,
dades/superdotação inserida em uma sala de aula tem-se uma análise não apenas incompleta, mas
comum na escola regular não dependem exclusiva- também potencialmente danosa tanto da situação
mente das suas características individuais, e quais- de inclusão de cada estudante, quanto da imple-
quer falhas nesses processos não podem ser exclu- mentação da política de inclusão como um todo.
sivamente atribuídas, portanto, ao estudante ou à Isto porque, ao culpabilizar a pessoa com deficiên-
sua deficiência e condição. Esta sugestão encontra cia ou altas habilidades/superdotação pela sua pró-
respaldo no próprio modelo causal adotado pela pria dificuldade na escola, se tornam menos visíveis
Análise do Comportamento proposto por Skinner as ações que poderiam ser feitas pela escola e pelo
(1981), o da seleção pelas consequências, que pos- sistema educacional para mudar a sua situação.
tula que toda análise funcional deve levar em con- Para Pereira, Marinotti e Luna (2004, p. 13):
sideração os três níveis de seleção: ontogenético,
cultural e filogenético. Nesta perspectiva, a defici- ao se atribuir a responsabilidade pelo desem-
ência como fator biológico deve sim ser analisada, penho do aprendiz a fatores externos à escola,
mas também é preciso considerar muitos outros fa- externos ao professor, deixa-se de enfrentar o
tores, sejam eles culturais, sociais, econômicos, ou problema de um ponto de vista pedagógico que
mesmo pedagógicos, tipicamente produzidos pelo proponha uma reformulação do ensino levando
contexto de aprendizagem de cada estudante, em em conta as características e a diversidade da
cada sala de aula. população com que se trabalha.
Ao considerar tais diferentes fatores e influên-
cias na determinação do comportamento humano, Compreende-se, portanto, que para a Análise
o analista do comportamento se aproxima do mo- do Comportamento, não é plausível tirar conclu-
delo biopsicossocial da deficiência, conforme os sões acerca de um resultado (e.g. a dificuldade de
achados descritos na Classificação Internacional um estudante na escola), com base em análises em
de Funcionalidade – CIF (OMS, 2013) que reco- um único nível. Outrossim, a deficiência pode ser
nhece o papel dos fatores ambientais na criação da entendida como o resultado de limitações tanto
incapacidade, entendendo funcionalidade e inca- biológicas quanto ambientais.
pacidade como termos abrangentes que denotam Sendo assim, quaisquer mudanças positivas
os aspectos positivos e negativos da funcionali- neste contexto devem pautar-se pela análise, altera-
dade sob uma perspectiva biológica, individual ção e produção de condições ambientais mais favo-
e social, considerando as múltiplas perspectivas ráveis. Em seu texto “Dificuldades de aprendizagem
que se expressam no modelo multidimensional. ou dificuldades de ensino?”, Carmo (2003) analisa
Tais considerações dialogam diretamente com os a produção do fracasso escolar à luz dos princípios
pressupostos skinnerianos delineados para o es- comportamentais, e propõe que a educação tem
tudo do comportamento, fundamentado nos três muito a ganhar caso seja alterado o próprio locus
níveis de seleção (filogênese, ontogênese e cultu- da análise, que sairia da comum centralização do
ra). Portanto, entendemos que tanto a partir da estudante passando ao foco na educação, na pro-
perspectiva biopsicossocial quanto da comporta- gramação do ensino e no educador. Para ele, tal
mental, cabe à sociedade o papel de programar e mudança evitaria a “cegueira que categorizações e
modificar suas práticas para atenuar a desigualda- classificações impõem ao pesquisador e ao educa-
de e promover a inclusão. dor, os quais podem tender a ver os fenômenos de
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modo estanque e sem relação com histórias prévias a mudança de comportamento do estudante aquilo
e atuais de aprendizagem” (Carmo, 2003, p. 400). que demonstra ao professor que a aprendizagem
Novamente, estas proposições encontram res- ocorreu (Henklain & Carmo, 2013). Este direcio-
paldo na própria Política Nacional de Educação namento reflete a própria definição comportamen-
Especial, que traz em seu texto a “necessidade de se tal de aprender, como uma ação do estudante, mas
promover uma reestruturação das escolas de ensino também como o resultado da ação do professor
regular e da educação especial” (Brasil, 2008, cap. V). (Kubo & Botomé, 2001). Da mesma forma, ensinar
Este ponto de vista traduz importantes princípios pode ser entendido como uma interação entre dois
básicos do modelo social da deficiência, como aque- organismos, o “nome da relação entre o que um
le encontrado nas palavras de Mendes (2015, p. 30): professor faz e a aprendizagem de um aluno” (Kubo
“a sociedade é quem deve se adaptar à diversidade e & Botomé, 2001, p. 137). Ainda, compreende-se a
não o contrário”. Nestas duas citações, percebe-se o aprendizagem como uma mudança relativamente
deslocamento da culpabilização da pessoa com defi- duradoura do comportamento (Catania, 1999), o
ciência, em direção à identificação e eliminação das que implica em criar condições para a sua devida
barreiras sociais que provocam a desigualdade. Ao aquisição, manutenção e generalização.
atestar a capacidade de aprender a todas as pessoas e Por sua vez, a interdependência entre aprender e
trazer o foco do trabalho na programação de condi- ensinar impacta diretamente na definição do papel
ções de ensino favorecedoras para a aprendizagem, do professor, que, na Análise do Comportamento,
a Análise do Comportamento não apenas concorda passa a ser o de programar contingências sob as
com o modelo social da deficiência (e, portanto, à quais a aprendizagem aconteça (Skinner, 1972),
legislação brasileira sobre inclusão), mas também tornando-se um programador, um arranjador de
oferece caminhos e ferramentas para possibilitar sua contingências de ensino. O professor deve estar
implementação e respectiva avaliação. ciente dos objetivos que quer alcançar, ou seja, deve
De fato, a partir de proposições e críticas estabelecer claramente os comportamentos que ele
ao modelo tradicional de ensino, a Análise do deseja observar no repertório de seus aprendizes
Comportamento tem se dedicado desde seu surgi- (Todorov, Moreira, & Martone, 2009).
mento a delinear diferentes propostas para a edu- É perceptível, portanto, a grande importância
cação, tendo inclusive uma tradição de dedicação à do planejamento do ensino. De acordo com Matos
descoberta e implementação de procedimentos de (2001), o planejamento de ensino deve: 1) especi-
ensino efetivos para pessoas com e sem deficiên- ficar completamente o comportamento que deseja
cia em diferentes contextos (Hübner, 2013; Sella & ensinar; nesse ponto, trata-se de objetivos educa-
Ribeiro, 2018). cionais os quais devem ser expressos em termos do
Um exemplo pioneiro que fez história com a comportamento do aprendiz; 2) consequenciar ime-
Análise do Comportamento no Brasil foi a contri- diatamente o comportamento-objetivo; 3) planejar
buição de Fred Keller, Carolina Bori e Rodolpho a progressão gradual para estabelecer repertórios
Azzi, que esboçaram um modelo de ensino alterna- complexos; 4) escolher cuidadosamente as situações
tivo ao modelo tradicional de ensino, o Personalized antecedentes de ensino-aprendizagem; 5) avaliar e
System of Instruction (PSI) (Keller, 1971). O PSI ba- observar o aprendiz (considerando que os erros do
seia-se na proposta de ensino em que o conteúdo mesmo demonstram os erros de programação, indi-
a ser ensinado é planejado em “pequenas” unida- cando que deve ser revista e modificada).
des, respeitando o ritmo próprio do aprendiz para Henklain e Carmo (2013) complementam es-
passar pelas unidades, sendo necessário o domínio tas indicações com: o estabelecimento de critérios
de cada passo para avançar para os próximos, ou a explícitos de reforçamento; o foco no domínio
repetição do passo, e avaliação constante da apren- completo do material ou conteúdo, com unidades
dizagem (Keller, 1971; Candido, 2017). posteriores englobando conteúdos de unidades
Como na Análise do Comportamento não exis- anteriores; o emprego do reforçamento positivo
te ensino sem aprendizagem, nesse modelo de en- em detrimento do controle aversivo; a transferên-
sino, o aprendiz comporta-se de forma ativa, sendo cia do controle dos reforçadores artificiais para os
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tudo anterior com uma criança com autismo não o relato de experiência profissional de Benitez,
falante com atrasos identificados em todas as áre- Albuquerque, Manoni, Ribeiro e Bondioli (2020).
as do desenvolvimento avaliadas exceto no desen- Este trabalho descreveu um estudo de caso interdis-
volvimento motor. A intervenção ocorreu por 40 ciplinar (três psicólogos, um terapeuta ocupacional
horas semanais em ambiente domiciliar e escolar, e uma fonoaudióloga) de uma intervenção compor-
ao longo de cinco anos consecutivos. Os resultados tamental aplicada com uma criança com autismo,
indicaram ganhos no desenvolvimento da criança que ocorreu em um Centro de Aprendizagem e
e a viabilidade da capacitação dos cuidadores para Desenvolvimento, localizado em um município do
esse tipo de intervenção. interior do estado de São Paulo.
O estudo de Gomes et al. (2019) replicou os De acordo com o relato, a intervenção teve
resultados dos estudos anteriores. Nesse estudo, início a partir de uma avaliação do repertório da
os participantes do Grupo 1 eram 22 crianças que criança com autismo, seguida de uma reunião in-
finalizaram o primeiro ano de intervenção inten- terdisciplinar de planejamento dos currículos de
siva. Onze crianças que não fizeram a intervenção ensino personalizados e individualizados. A in-
intensiva compuseram o Grupo 2. Os resultados tervenção contemplou as cinco áreas de desenvol-
indicaram ganhos significativos em todas as áre- vimento: habilidades de prontidão (anteriores às
as do desenvolvimento das crianças com autismo tarefas cognitivas), linguagem, socialização, auto-
que passaram pelo primeiro ano de intervenção cuidados e habilidades motoras. A próxima fase foi
comportamental intensiva, enquanto as crianças a aplicação dos currículos pelos profissionais por
do grupo controle apresentaram ganhos menos meio de sessões conduzidas pela equipe de profis-
expressivos. Crianças mais novas, que falavam e sionais e que ocorriam com diferentes cargas ho-
que apresentavam sintomas mais brandos de autis- rárias. Os profissionais atuavam com a criança 20
mo (avaliado pelos autores em aplicação de escala horas semanais e os pais deveriam aplicar os currí-
diagnóstica para Transtorno do Espectro Autista) culos na residência deles, de modo a garantir uma
obtiveram melhores resultados. carga horária mínima de intervenção semanal de
Por fim, Gomes et al. (2021) demonstraram a 30 horas. Os pais foram instruídos a preencher um
aplicabilidade desse tipo de procedimento em con- formulário que continha as instruções para aplica-
texto remoto, a partir do uso de Tecnologias da ção da sessão. Por fim, semanalmente, os cinco pro-
Informação e Comunicação (TICs) na capacitação fissionais realizavam a reunião interdisciplinar para
dos cuidadores de 24 crianças com autismo. O pro- analisar os dados e replanejar, quando necessário, o
cedimento via TICs contava com teleatendimentos currículo personalizado da criança.
semanais via aplicativos de videoconferência, quan- Os resultados mostraram os dados de avaliação
do eram feitas as supervisões e o ensino dos cui- da criança com autismo, a organização do currículo
dadores para realizar as atividades e fazer registros e uma análise do estudo de caso, a partir do entre-
sistemáticos do desempenho das crianças, em pro- laçamento de contingências comportamentais, res-
tocolos de papel. Fotos dos protocolos preenchidos saltando a importância da colaboração para a cons-
eram enviadas ao menos um dia antes da sessão de trução, aplicação e análise do currículo de ensino
supervisão online, para o profissional, via aplicativo estruturado, individualizado e diversificado, de
de mensagem instantânea, juntamente com vídeos cada profissional da equipe, em sua área de atuação.
curtos das aplicações dos programas de ensino. Os O estudo criou condições para a reunião interdis-
ganhos observados nas habilidades avaliadas das ciplinar entre saúde e educação e operacionalizou
crianças não apenas estenderam os achados dos es- uma proposta de trabalho em equipe interdiscipli-
tudos anteriores, mas também demonstraram a via- nar, envolvendo os profissionais, pais e a criança
bilidade do uso das TICs para capacitação de cui- com autismo. Os autores destacaram a importância
dadores em intervenção comportamental intensiva. das contingências entrelaçadas presentes na aplica-
Outro exemplo desse tipo de trabalho de apli- ção do estudo de caso, desde o comportamento dos
cação de princípios comportamentais a uma va- profissionais da equipe interdisciplinar na progra-
riedade de áreas do desenvolvimento infantil é mação do currículo de ensino, de avaliação e dos
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classes de comportamento, por mais três semanas. e reforçamento diferencial. Os trabalhos descritos
Como resultados, ambas as classes comportamen- a seguir são exemplos da capacitação profissional
tais caíram de frequência em níveis estatisticamen- em Análise do Comportamento, sem o ensino de
te significativos, e também aumentou a quantidade princípios analítico-comportamentais diretamente.
de consequências consideradas adequadas apre- O estudo de Almeida-Verdu, Fernandes e
sentadas pelas professoras. Estes dados são muito Rodrigues (2002) teve como objetivo estabelecer
relevantes, pois trazem indicações que quando a condições para que membros da comunidade de
colaboração do analista do comportamento com o uma escola de ensino público fundamental apre-
professor da escola regular acontece, mesmo com sentassem atitudes que tornassem o ambiente es-
um programa curto e relativamente simples, é pos- colar inclusivo. A partir da avaliação do suporte
sível alcançar resultados com grande impacto para oferecido ao professor do ensino fundamental que
a inclusão educacional da pessoa com deficiência. tinha estudantes com deficiência ou necessidades
Outro estudo que implementou capacita- educacionais especiais em sala de aula, foram pla-
ções e ensino de princípios comportamentais foi nejadas e implementadas ações a serem realizadas
o de Benitez, Paulino, Oliveira Jr, Domeniconi, & por diferentes segmentos escolares: coordenação,
Omote (2021). Este trabalho identificou mudanças professores, pais e estudantes. A atividade com os
nas atitudes sociais dos agentes educacionais (for- professores foi desenvolvida durante os horários de
mais – coordenação, professores da classe comum HTPC (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo).
e da Educação Especial e profissionais de Saúde e As atividades com o coordenador ocorreram após
informais – pais e familiares) que participaram de o término dos HTPC na sala da coordenadoria pe-
um programa de formação em análise do compor- dagógica. O trabalho com os estudantes foi desen-
tamento aplicada (ABA). Participaram 52 agentes volvido durante os horários de aula; o trabalho com
educacionais. O programa foi composto por en- os pais durante as reuniões bimestrais do 3º e 4º
contros de discussões teóricas, atividades práticas e bimestres. Foi realizada uma avaliação da situação
leitura dirigida sobre Educação Especial e Inclusiva antecedente ao início do projeto. O procedimen-
e sobre estratégias analítico-comportamentais para to adotado foi o planejamento de um conjunto de
intervenção. As atitudes sociais em relação à inclu- atitudes a serem apresentadas em cada segmento
são foram mensuradas por meio da Escala Likert de escolar, separadamente. Para atender à demanda
Atitudes Sociais em relação à inclusão antes e após de cada segmento escolar, foram apresentados ao
a formação. O teste de Wilcoxon apontou diferen- coordenador os parâmetros curriculares nacionais
ça estatisticamente significativa entre os escores do para o ensino especial e proporcionadas condições
pré-teste e pós-teste (p = 0,003). Foram discutidas sobre como obter informações a respeito de temas
as implicações do programa formativo proposto e como inclusão e educação especial via online, em
as possibilidades de desenvolvimento de um am- sites específicos sobre o tema. Com os professores,
biente escolar inclusivo, uma vez que a formação foram trabalhados diversos temas, como, por exem-
resultou em atitudes sociais mais favoráveis dos plo, conceituação de deficiência; informações sobre
cursistas em relação à inclusão. o processo de inclusão e quais são os agentes envol-
Contudo, nem sempre o ensino direto de prin- vidos; informações sobre as relações envolvidas no
cípios comportamentais é necessário para alcançar processo ensino-aprendizagem de habilidades aca-
mudança efetiva de comportamento de professo- dêmicas, entre outros. Verificou-se que os profes-
res e outros agentes educacionais. De fato, pode- sores passaram a discutir assuntos relacionados às
-se argumentar que nem sempre este é o melhor dificuldades encontradas nas salas de aula e a tro-
caminho, já que para o professor, entender a apli- car informações sobre propostas de trabalhos bem
cação prática do princípio tem mais relevância e sucedidos com seus estudantes e algumas mudan-
impacto do que nomear o princípio em si. Isto é, ças foram registradas nas concepções distorcidas
pode ser mais relevante aprender a analisar a fun- apresentadas por alguns professores antes do início
ção de um comportamento e saber consequenciar dos encontros. Com os estudantes, a pesquisadora
diferencialmente do que definir análise funcional participou das atividades realizadas em quatro sa-
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Contribuições da Análise do Comportamento para a inclusão educacional brasileira 197-212
las de aula, sendo uma sala com um estudante com indicados pela escola, mas não foi suficiente para
deficiência intelectual, uma sala com um estudante desenvolver as mesmas seis habilidades em todas
com surdez, uma sala com um estudante com baixa participantes. Os autores destacaram a importância
visão e uma sala que apresentava vários estudan- de programar situações que coloquem o professor
tes com comportamentos definidos pela professora sob controle de ganhos em relação à aprendizagem
como “inadequados”. Não foram realizadas inter- da turma e dos estudantes público alvo da educa-
venções diretamente com os estudantes com defici- ção especial, de modo que ele discrimine e seja es-
ência; as ações trabalhadas, a partir de procedimen- pecialmente reforçado por fazê-lo e também por
tos de modelagem e modelação, foram realizadas observar os efeitos de seu comportamento sobre a
em sala de aula na presença de todos os estudantes aprendizagem dos estudantes. Por fim, esse estudo
da sala. Com isso, eles vivenciaram a possibilidade demonstra um trabalho conjunto entre a Pedagogia
de interações positivas. As ações apresentadas pela e a Psicologia para formação continuada de profes-
pesquisadora, de valorização das habilidades so- sores dentro de uma perspectiva inclusiva.
ciais e acadêmicas dos estudantes proporcionaram Considerando o papel do professor de planejar
aumento da frequência de participações adequadas, e arranjar contingências que promovam a aprendi-
relacionadas às atividades de sala de aula. As auto- zagem de forma eficaz, e que para fazê-lo, o profes-
ras destacam, de modo geral, que esses conjuntos sor deve ter o seu comportamento sob controle do
de ações possibilitaram, a partir de planejamentos comportamento do estudante, Guimarães e Luna
específicos, tornar a escola um ambiente com ca- (2016) desenvolveram e aplicaram uma interven-
racterísticas menos restritivas e mais inclusivas. ção com o objetivo de aumentar a probabilidade de
Diante da demanda de professores de sala co- que uma professora ficasse sob controle dos efeitos
mum realizarem adaptações curriculares para fa- de seus comportamentos sobre os comportamen-
vorecer a inclusão dos estudantes público alvo da tos dos estudantes, particularmente os de natureza
educação especial, o estudo de Ferrari, Vilaronga e acadêmica. A pesquisa foi conduzida no contexto
Elias (2019) teve como objetivo verificar a aprendi- de uma comunidade prestadora de serviços (comu-
zagem de habilidades de docentes de sala comum nidade escolar) com uma professora do 5º ano que
para realizar adequação curricular a partir de um indicou uma aluna com dificuldades de aprendiza-
curso de formação continuada. Participaram oito gem. A intervenção buscou avaliar se a exposição
professoras, sendo que duas ministravam disciplina ao professor de cenas de suas aulas, seguidas de
de português, uma de ciências, duas de geografia, perguntas sobre as interações exibidas, feedback às
uma de inglês, uma de história e uma de química. análises das interações feitas por ele e a proposi-
Nenhuma das professoras possuía cursos nem espe- ção de ações alternativas seriam capazes de alterar
cializações em Educação Especial. Foram realizados o comportamento do professor em sala de aula. No
cinco encontros que ocorreram quinzenalmente período pré-intervenção, poucas respostas da pro-
com treinamentos que duravam cerca de uma hora fessora eram emitidas sob controle da aluna. Nas
e meia, em uma escola de ensino integral em uma aulas seguintes às duas primeiras intervenções, a
cidade do interior do Estado de São Paulo, durante professora interagiu mais com alguns estudantes,
horário de Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo porém não foram observadas mudanças no seu
(ATPC). Para atender os objetivos, foi elaborado comportamento em relação à aluna-alvo. Nas duas
um roteiro composto por seis itens: 1) identificar as últimas aulas foram observadas algumas mudanças
necessidades de adaptação do estudante, 2) descre- nas suas interações com a aluna: na terceira aula
ver o conteúdo específico da disciplina ministrada, a professora ofereceu mais dicas e feedbacks, e na
3) descrever os objetivos, 4) descrever a atividade, quarta dirigiu mais perguntas e ofereceu mais au-
5) descrever estratégias para viabilizar sua execução xílio à aluna. Os resultados mostraram que o uso
e 6) indicar critérios de desempenho. Os resulta- dos vídeos das próprias aulas da professora como
dos mostraram que o curso foi eficiente para que as materiais para discussão possibilitou a utilização de
professoras aprendessem algumas habilidades para estímulos e respostas presentes no contexto natural
elaborar adequação curricular para os estudantes e favoreceu a generalização das respostas aprendi-
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Informações do Artigo
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org/10.1542/peds.2011-0426
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