A análise da sociedade se relaciona intimamente com o processo de constituição
do saber humano. Mas, no específico período da transição da sociedade feudal para a sociedade capitalista, a análise se torna extremamente necessária. Diversos acontecimentos históricos, políticos, econômicos, religiosos, artísticos e intelectuais, principalmente no século XVIII, influenciaram a criação de uma ciência voltada para a compreensão de um todo social, a sociologia. Os homens que viveram durante o século XVIII testemunharam e participaram de uma dupla revolução, a industrial e a francesa, que geraram mudanças e mais intrinsicamente representaram problemas inéditos a serem destrinchados e analisados. Essas revoluções eram nada menos do que um gatilho para a instalação do então recentemente nascido sistema capitalista. Cada passo a favor do estabelecimento do capitalismo significava a destruição dos costumes, tradições e a queda da hegemonia de instituições como a Igreja. O pensamento moderno colocava novas questões centrais: somente através da razão seria capaz obter o verdadeiro conhecimento, o homem era colocado no centro das coisas e o conhecimento não mais seria obtido através de princípios e afins, mas através de experimentações. A sociedade caminhava a passos longos para uma nova organização social, que abrangeria desde o simples camponês, o ambicioso comerciante e o privilegiado nobre. Como consequências quase que imediatas ao novo sistema, a rápida e descontrolada urbanização e a industrialização desregrada, emergiram dramaticamente o alcoolismo, a prostituição, a criminalidade, as doenças físicas e psíquicas entre outros. A Revolução Francesa desencadeou um marco importante na história. A monarquia absolutista já não agradava o povo e a burguesia, que se juntaram a fim de uma revolução contra os privilégios da nobreza. Origina-se um novo conjunto de princípios de organização da sociedade francesa, a democracia. Durante a revolução, as bases de e uma sociedade burguesa e capitalista foram instituídos. Foi nesse ambiente caótico e transformador, com as consequências ocasionadas pelas revoluções burguesas, em que foi possível a criação da sociologia como ciência, que é considerada como uma expressão do pensamento moderno. Surgia a necessidade prática da análise social, já que ela havia se tornado um problema a “resolver”, um “objeto” que deveria ser investigado, compreendido e intervencionado, o que não aconteceu na estável sociedade pré-capitalista que não presenciou mudanças de cunho tão radical. Contudo, a palavra sociologia só surgiria em 1930. A ciência surgia soberana em relação a visão sobrenatural dos fatos. A racionalização, caracterizada principalmente pelos pensadores do século XVIII impulsionou a libertação do controle de conhecimento pela teologia e motivou progressos notáveis na área da sociologia a partir do uso do método cientifico. Uma conhecida citação de Descartes representa concretamente o novo panorama: “a única fonte segura de conhecimento é a racional.” Os iluministas que certamente são considerados como influência filosófica buscavam, sobretudo mostrar que as instituições da época eram injustas e infringiam a liberdade do indivíduo. Contra a visão divina do mundo, defendiam a razão e o conhecimento a fim de a partir destes gerar o progresso da humanidade. No campo econômico, em que se desenrola a mais conturbada mudança, a produção capitalista introduziu a máquina à vapor, modernizou os métodos de produção e fez da sociedade uma grande massa explorada, porém produtiva. Houve, nesse campo, bruscas transições; da produção artesanal para a manufatureira e desta a fabril. Consequências de tais mudanças intensas foram, a migração campo-cidade, introdução do trabalho feminino e infantil, o desmantelamento da família patriarcal, a falta da infraestrutura das cidades superpopulosas e principalmente o surgimento do proletariado como nova classe social. Ao falarmos das causas que influenciaram a criação da sociologia, necessita-se mencionar a arte, que contribuiu de forma significativa e fundamental. O renascimento foi peça importante da nova organização social, pois suas principais características consistiam no antropocentrismo, racionalismo, humanismo e experimentalismo, expressões importantes para a criação não só da sociologia, como de muitas outras vertentes cientificas. Durkheim (1858-1917) afirma: “(...)Ora, esta ciência das sociedades, a mais importante de todas, não existia, era necessário, portanto, num interesse prático, fundá- la sem demora.” Sendo expostas vários fatores que fizeram da sociologia quase que uma necessidade, ela teve, posteriormente sua oficialização, que surgiu por parte do positivismo. Os positivistas defendiam o progresso, levando em conta a necessidade de ordem na sociedade. Seu fundador Auguste Comte (1798-1857) tinha o intuito de intervenção no meio social com uma perspectiva de organização social. Suas explicações sempre possuíam um desejo de mudar os rumos da civilização e alterar os fundamentos da sociedade. Porém, foi através de Durkheim, que a sociologia obteve reconhecimento acadêmico.