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O surgimento histórico

da Sociologia como
ciência.

DISCIPLINA: SOCIOLOGIA
URBANA

MARCELO AUGUSTO DE LACERDA BORGES

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IFG

2023
A origem histórica da Sociologia: contexto e reflexões

→ Sociologia: a etimologia como introdução...

• A Sociologia – como termo de designação – foi inventada, no ano de 1838, pelo francês Auguste Comte
(1798-1857), resultando da associação de outras duas expressões:

- Socius: que pode conceitualmente significar comunidade ou sociedade e;

+
- Logos: como discurso/linguagem ou forma de entendimento racional, lógico e real – o que se opõe ao
que é mítico.

• Em suma, a Sociologia é uma “ciência da sociedade” – mas, o que define o conhecimento científico?

• O que marca a diferença entre o conhecimento científico e o conhecimento costumeiro ou do senso comum?

 No entendimento de Marilena Chauí:

Antes de mais nada, a ciência desconfia da veracidade das nossas certezas, da nossa
adesão imediata às coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso,
ali onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e
obstáculos, aparências que precisam ser explicadas (1995, p. 207).
 Retomando alguns elementos que definem o conhecimento científico:

► o conhecimento científico é objetivo, isto é, procura as estruturas universais e necessárias das coisas
investigadas;
► é quantitativo, isto é, busca medidas, padrões, critérios de comparação e de avaliação para os fenômenos;
► é homogêneo, ou seja, procura formar leis gerais sobre as coisas e o seu funcionamento;
► estabelecem relações de causalidade depois de investigar a natureza ou estrutura do fato estudado e suas
relações internas e externas;
► diferencia-se da magia, na medida em que compreende os fenômenos como acontecimentos desligados
do caráter encantado e divino dos acontecimentos.

→ Sociologia: as condições históricas, culturais e sociais do seu surgimento.

• Uma definição de contexto: de acordo com o Dicionário do Pensamento Social do século XX, a Sociologia
é “uma retardatária entre as ciências sociais acadêmicas, não obstante, teve suas bases no pensamento
filosófico do século XVIII, nas filosofias racionais e nas ideias gerais do Iluminismo”. (1996, p. 732).

• As condições filosófico-culturais que influenciaram a origem da Sociologia: é consenso entre os


historiadores e sociólogos que o Iluminismo representou a grande mudança intelectual que abriu as portas para
uma reflexão sobre o mundo social e o comportamento humano. Até então, não existia propriamente um
pensamento autônomo sobre o que chamamos hoje de “social”, pois a religião produzia uma visão cosmológica
do mundo e de seus processos. De certo modo, não se concebia que as relações entre os homens pudessem ser
decalcadas como objeto de conhecimento científico.

• Mais que um movimento, o Iluminismo foi um modo de pensar, de maneira geral, foi uma consequência
da “revolução científica” desenhada desde o final do século XVI. O avanço das ciências naturais e o
destacamento do homem como ser racional e capaz de desvendar os processos que orientam a existência física,
química e biológica, foram fundamentais para a consolidação do conhecimento científico na modernidade,
imprimindo sua marca em todas as especialidades do conhecimento humano – donde se desprende todo o
conjunto teórico-metodológico das ciências sociais.
• As condições histórico-sociais que definiram a origem da Sociologia como ciência: de fato, o aparecimento
histórico da Sociologia está marcado fortemente pela presença do pensamento social do século XVIII e suas
consequências no avanço das ciências em geral. Mas, a Sociologia como um produto intelectual, nasceu de
um processo complexo que envolve fatores históricos, políticos e sociais também.

 Segundo Octavio Ianni:

A ideia de Sociologia é contemporânea da ideia de Modernidade. Ambas nascem


na cidade. Formam-se principalmente em Paris, capital do século XIX, em meados
desse século. Aí decantavam-se as mais novas e típicas realizações materiais e
espirituais da sociedade moderna (1989, p. 14).

• A consolidação da sociedade industrial significou, por um lado, a exuberância técnico-produtiva alçada


pelas mãos e ciência da classe burguesa. Por outro lado, usurpou as condições de vida anteriores, provocando
mutações radicais nos modos de vida, principalmente nas classes trabalhadoras. Por isso, a consolidação da
modernidade acarretou um conjunto de transformações que foram vistas de forma contraditória e caótica.

• Do ponto de vista das positividades sociais, a consolidação do capitalismo no século XIX instalou uma
série de visões, reações e olhares, tais como:

Uma amostra da vitalidade desse período encontra-se na série de inventores


revolucionários, como o tear mecânico produzido por John Wyatt e Lewis Paul que
multiplicaram a produtividade da indústria têxtil; os projetos desenvolvidos entre
1761 e 1768 por James Watt que resultaram na máquina a vapor, fazendo surgir
em 1813 a primeira locomotiva e, em 1821, o barco a vapor, construído pelo norte-
americano Robert Fulton. Terras e mares foram rasgados, encurtando distâncias
que pouco tempo antes eram incomensuráveis [...] Com ele, a expansão colonial na
África e na Ásia. Os avanços tecnológicos no campo da medicina e da higiene,
assim como na produção de alimentos, propiciaram um significativo crescimento
demográfico. Enfim, um novo modo de produzir — o capitalista — anunciava-se,
jogando por terra a sociedade feudal e suas instituições (2005, p. 10).

• Mas, por outro lado, no espectro social:


Nem tudo era progresso... O crescimento descontrolado da indústria acarretou
problemas como as doenças e acidentes de trabalho, a insalubridade dos ambientes
urbanos, a falência de tradicionais instituições camponesas, a miséria e,
consequentemente, a organização dos operários em associações políticas,
trabalhistas e assistências com a finalidade de procurar garantir melhores condições
de vida e de trabalho. No Oitocentos, na França, os trabalhadores saíram às ruas
para lutar em barricadas, enquanto na Inglaterra as mulheres exigiam direitos
políticos e sociais. A violência começou a explodir sob formas até então
desconhecidas, e os densos e infectos aglomerados urbanos possibilitavam não
apenas a veloz disseminação de epidemias, como aumentavam a visibilidade da
conduta de seus habitantes. Visto como um obstáculo ao bom desempenho nas
fábricas, o alcoolismo era apontado como vício de caráter moral. A prostituição e
o infanticídio se intensificavam devido às próprias condições de vida de operárias
que se debatiam na pobreza, no abandono e na impossibilidade de assegurar uma
vida digna. Portanto, a família foi uma das instituições que refletiu com maior
nitidez o estabelecimento do novo modo de produzir (2005, p. 11).

• Nessa perspectiva, o surgimento da Sociologia está situado num contexto de profundas modificações na
estrutura social, no século XIX. O aparecimento das grandes cidades, os problemas sociais oriundos do
processo de consolidação do capitalismo como produto das revoluções burguesas, criaram uma situação que
necessitava de respostas intelectuais emergentes.

 Ao caminhar de forma sintética, no interior da consagrada tríade


formadora da Sociologia, Durkheim, Weber e Marx, podemos notar que
a modernidade como uma nova forma societal, inaugura paradigmas e
sintomas diversos, que podem assim serem expostos como os temas
inaugurais da Sociologia:

➢ Crescimento das desigualdades e contrastes sociais implementados pela


consolidação do capitalismo industrial, inaugurando a problemática e o
tema da “questão social”, que é apresentado nos aglomerados urbanos
como Londres e Paris no século XIX.

➢ Formação de um modo-de-produção (capitalismo) que subsiste através


de uma relação desigual entre as classes sociais, marcada pela expropriação “legítima” da força de trabalho do
proletariado, ocasionando crises na relação capital x trabalho.
➢ Rompimento com os modos de vida tradicionais e com as instituições morais pertencentes à tradição,
eliminação gradual das relações cooperativas e comunitárias e inauguração de relações sociais dissociativas,
intensificando a diferenciação dos indivíduos e provocando um processo de individualização.

➢ Racionalização instrumental das sociedades economicamente avançadas, na esfera econômica; inauguração


de relações despojadas de valores afetivos e particularismos, na esfera política; burocratização do aparelho
estatal, na esfera filosófica; laicização e secularização das instituições e condutas.

 Portanto, a origem da Sociologia só pode ser concebida dentro desses fatores, é impossível distanciar a
Sociologia das condições históricas citadas e dos eventos apresentados. É difícil determinar uma data de
nascimento para a ciência da sociedade, mas é possível traçar um panorama histórico da sua origem,
levando em conta as condições sociais que balizaram suas primeiras reflexões.

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Referências

BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1996.

FERNANDES, F. A herança intelectual da Sociologia. In: Sociologia e Sociedade. FORACCHI, M. M; MARTINS,


J. S. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

IANNI, O. A Sociologia e o mundo moderno. TEMPO SOCIAL. Revista de Sociologia da USP. São Paulo: 1 (1), 7-
27.1.sem.1989.

MARTINS, C. B. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2001.

QUINTANEIRO, T. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005.


QUESTÃO AVALIATIVA

QUESTÃO 01
Leia o trecho abaixo e responda a questão proposta.

“Ser moderno é encontrar-se num ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento,
autotransformação e transformação das coisas em redor, mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que
temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as
fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e de ideologia, nesse sentido pode-se
dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade,
uma permanente desintegração, angústia”
BERMAN, M. Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

O surgimento da Sociologia como ciência, ocorre num tempo histórico específico da ordem social moderna e
burguesa. Disserte sobre as origens da Sociologia e suas relações com as contradições da modernidade.

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