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TEORIAS

SOCIOLÓGICAS

Prof.: Janderley Fróes


Apresentação
❑ Historicamente situados, o mundo empresarial e o mundo do trabalho repercutem em
seu interior as 1 - condições econômicas, 2 - políticas, 3 - sociais e 3 - culturais
universalmente existentes, devendo ser considerados um microcosmos delas derivado.
❑ Frutos sociais do processo histórico mundial, são, no entanto, ao mesmo tempo seus
produtores, irradiando universalmente as suas inovações tecnológicas e organizacionais,
das quais surgem novos produtos e serviços que inundam os mercados e determinam, em
grande parte, novos estilos de vida.
❑ O processo social universal e o mundo empresarial e do trabalho estão, pois, em
relações recíprocas, constituindo uma só realidade social, objeto de estudo das Ciências
Sociais.
❑ Assim, a obra Sociologia Geral tem como objetivo apresentar os subsídios teóricos
produzidos pelas Ciências Sociais e, em especial, pela sociologia, para a compreensão das
inter-relações entre a 1 - sociedade e as 2 - esferas empresarial e do 2- trabalho.
1 – A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
❑ Wright Mills, um dos mais conceituados sociólogos norte-americanos do século XX, no
livro A imaginação sociológica, chama a atenção para o fato de que
❑ [...] raramente [os homens] têm consciência da complexa ligação entre suas vidas e o
curso da história mundial; por isso, os homens comuns não sabem, quase sempre, o que essa
ligação significa para os tipos de ser em que se estão transformando e para o tipo de
evolução histórica de que podem participar. Não dispõem da qualidade intelectual básica
para sentir o jogo que se processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, o
eu e o mundo. (1965, p. 10)
❑A qualidade intelectual básica necessária para que os homens compreendam a história, a
biografia e as íntimas relações entre elas, dentro da sociedade, é a imaginação
sociológica.
❑ Essa qualidade permite a cada um de nós se compreender como produto e produtor da
vida social e, por isso, compreender-se como ser historicamente condicionado, em que as
possibilidades e limitações na vida são, em grande parte, circunscritas pela estrutura da
nossa sociedade num determinado momento da história mundial.
❑ A conscientização política é a expressão primeira e talvez a mais importante da imaginação
sociológica.
❑ Quem a possui sabe que não pode traçar livremente o próprio destino, cujo desenho é
esboçado pelas condições sociais existentes, criadas e transmitidas pelas gerações passadas,
mas reproduzidas, reformadas ou transformadas por decisões políticas da geração presente,
das quais certamente exigirá participar para poder exercer algum controle sobre o curso de sua
própria vida.
❑ Possibilitar o desenvolvimento da imaginação sociológica é, segundo Wright Mills (1965), a
promessa das Ciências Sociais.
❑ Para cumpri-la, investiga-se, analisa-se, explica-se por meio de procedimentos metodológicos
e teóricos definidores do conhecimento científico – a estrutura social, demonstrando os
princípios que a constituem, os mecanismos de sua manutenção e mudança e a psicologia de
homens e mulheres que dela surge.
❑ A compreensão da estrutura social é uma condição necessária para situar historicamente o
objeto de estudo de cada uma das Ciências Sociais, por mais específicos que sejam os
problemas e as perspectivas teóricas que definem o eixo de suas preocupações particulares.
❑ São muitas as questões sociais que enfrentamos:
✓ a violência urbana,
✓ os conflitos armados,
✓ a miséria absoluta de milhões de pessoas,
✓ a favela,
✓ o desemprego,
✓o abandono de crianças,
✓a prostituição infantil,
✓as drogas,
✓o analfabetismo etc.
❑ Que ferem os valores centrais das sociedades humanas:
✓ O respeito à vida e à dignidade humana,
❑ Distanciando-nos da realização do sonho de instauração de uma sociedade justa, na qual, de fato,
possam se realizar os princípios de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, herdados da Revolução
Francesa, que inauguraram o mundo moderno.
❑ O estudo científico da estrutura social é, pois, o ponto de partida não só do reconhecimento dos
problemas sociais que nos afligem, mas, sobretudo, da descoberta de suas origens e dos meios
disponíveis para solucioná-los ou pelo menos minorá-los, no contexto do jogo de interesses de
diferentes grupos e classes sociais das decisões políticas.
❑ Mas a imaginação sociológica, que desperta e aprofunda a conscientização política, torna-se
condutora do processo político democrático, impedindo que os homens se transformem em
simples marionetes da história e objeto do poder autoritário de alguns.
❑ Para Wright Mills, as Ciências Sociais tornaram-se o denominador comum de nosso período
cultural.
❑ De fato, evidencia-se universalmente o reconhecimento da importância do desenvolvimento da
análise científica da vida social, pois pudemos constatar, sobretudo a partir da Segunda Guerra
Mundial, que a utilização política dos conhecimentos produzidos pelas ciências físico-químico-
naturais pode gerar mais problemas humanos e sociais do que realmente contribuir para resolver
os já existentes.
❑ Não obstante, até aquele momento, a humanidade acreditou que o conhecimento por elas
produzido era o mais eficaz e eficiente instrumento de que dispunha não só para melhorar as suas
condições de vida, mas também para solucionar todos os graves e persistentes problemas sociais.
❑ Por isso, as ciências naturais receberam especial atenção ao longo de mais de um século no mundo
moderno, sem que se prestasse atenção às prováveis consequências dramáticas do uso político que
delas se pode fazer.
❑ Com efeito, basta lembrar a tragédia provocada pela bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, a
ameaça constante de utilização de armas nucleares, o sofrimento de milhões de famílias devido à
introdução de tecnologias sofisticadas que destroem milhares de postos de trabalho e geram
desemprego em massa, os problemas éticos e morais originários das potencialidades da engenharia
genética, a devastação da natureza, a poluição do ar, sonora e visual etc. para se dar conta da
necessidade de se avaliar continuadamente os efeitos sociais e humanos, éticos e morais, positivos e
negativos, construtivos e destrutivos, da utilização do conhecimento produzido por aquelas ciências.
❑ E essa avaliação depende não só da imaginação sociológica, mas também da produção intelectual dos
cientistas sociais, cujas obras podem ser consideradas como a consciência crítica do processo histórico
universal, contribuindo para o desenvolvimento da consciência crítica de toda a humanidade.
❑ São essas as principais tarefas e os objetivos das Ciências Sociais, cujos estudos estendem-se
inevitavelmente ao mundo das empresas e do trabalho, ajudando os administradores de empresas a
atuarem profissionalmente com maior clareza e responsabilidade social, sem perder de vista os seus
objetivos específicos de promoção da eficiência do processo produtivo e de prestação de serviços.
1.1 Condições históricas do
nascimento das Ciências Sociais

REVOLUÇÃO REVOLUÇÃO
RACIONALISMO
INDUSTRIAL FRANCESA
1.1.1 A Revolução Industrial
❑ A invenção da máquina a vapor na Inglaterra de 1750 significou o início de uma revolução
nas técnicas de produção, o que possibilitou a mecanização do processo de trabalho em
muitos ramos da atividade econômica, já na primeira metade do século XIX, tendo
significado também uma revolução na organização da produção que, a partir de então,
passou a ser realizada no interior de empresas com caráter permanente e racional.
❑ Ao propiciar o aumento da produtividade do trabalho, a redução dos custos de produção
e, como decorrência, o barateamento das mercadorias, a Revolução Industrial permitiu
que se vislumbrasse o nascimento de uma sociedade de abundância e mais justa, graças
às possibilidades econômicas de uma distribuição mais igualitária da renda.
❑ Rapidamente irradiada para o continente, a Revolução Industrial, ao contrário de todas as
expectativas, gerou problemas sociais de extrema gravidade que se alastraram, também
rapidamente, por toda a Europa.
❑ Em primeiro lugar, provocou o êxodo rural de enormes contingentes de trabalhadores
entusiasmados com as perspectivas de melhoria de suas condições de vida.
❑ A consequência inevitável, porém, foi o desenvolvimento acelerado da urbanização não
planejada, em que o resultado se expressou nas péssimas condições habitacionais dos
trabalhadores, na imundície das cidades industrializadas, na falta de fornecimento de água e nas
epidemias de cólera e de tifo que se espalharam por todo o continente, dizimando milhares de
pessoas.
❑ Segundo Eric J. Hobsbawm (1977, p. 225), o mais renomado historiador do século XX:
✓ Só depois de 1848, quando as novas epidemias nascidas nos cortiços começaram a matar também
os ricos, e as massas desesperadas que aí cresciam tinham assustado os poderosos com a revolução
social, foram tomadas providências para um aperfeiçoamento e uma reconstrução urbana
sistemática.
❑ Devemos considerar também os baixos salários e o desemprego de milhares de trabalhadores,
visto que até a década de 1840
✓ grandes massas da população continuavam até então sem ser absorvidas pelas novas indústrias e
cidades, como um substrato permanente de pobreza e desespero, e também as grandes massas
eram periodicamente atiradas ao desemprego pelas crises que, até então, mal eram reconhecidas
como temporárias e repetitivas. (HOBSBAWM, 1977, p. 228)
❑ A criminalidade e a violência urbana, o alcoolismo, a prostituição e o suicídio constituíam o
quadro de deterioração da vida social, aprofundado pela enorme desigualdade social. Ainda
nas palavras de desse estudioso:
✓A época em que a Baronesa de Rothschild usou um milhão e meio de francos em joias no baile
de máscaras do Duque de Orleans, em 1842, era a mesma em que John Bright assim descreveu
as mulheres de Rochdale: “2 mil mulheres e moças passaram pelas ruas cantando hinos – um
espetáculo surpreendente e singular – chegando às raias do sublime. Assustadoramente
famintas, devoravam uma bisnaga de pão com indescritível sofreguidão, e se o pedaço de pão
estivesse totalmente coberto de lama seria igualmente devorado com avidez.” (HOBSBAWN,
1977, p. 227)
❑ Havia, ainda, o rígido controle e a disciplina impostos pelos patrões que tornavam infernal a
vida dos trabalhadores das fábricas, os quais estavam submetidos a jornadas de trabalho de
16 horas e a todo tipo de castigos e multas.
❑A Revolução Industrial não foi, portanto, apenas uma revolução econômica, que se tornou
um marco na história da humanidade ao abrir as portas do crescimento e desenvolvimento
econômicos por suas inovações tecnológicas e organizacionais.
❑ Foi, também, responsável pelo aparecimento de novos e contundentes problemas humanos e
sociais, além de ter dado início ao fim do antigo regime, com a entrada definitiva de novos
personagens no cenário social:
✓ o empresário capitalista e o trabalhador proletário,
❑ Que passaram a constituir as duas grandes classes sociais da moderna sociedade capitalista
nascente, permanentemente em conflito de interesses por ocuparem posições diferentes no
processo de produção da riqueza.
❑ O capitalista é o proprietário dos meios de produção, isto é, do capital e da riqueza que gera
mais riqueza – terra, tecnologia e trabalho concentrados na empresa por ele administrada –,
❑ E o proletário é proprietário apenas da força de trabalho, isto é, do capacidade para trabalhar,
produzir e reproduzir em escala ampliada o capital, obrigando-se a vender a sua única
propriedade no mercado de trabalho em troca de um salário com o qual deverá se sustentar.
❑ Por essa razão, a Revolução Industrial não pode ser lembrada apenas como revolução econômica,
devendo ser considerada uma verdadeira revolução da estrutura social que precipitou as
transformações políticas, jurídicas e ideológicas consumadas pela Revolução Francesa.
1.1.2 A Revolução Francesa

❑ A Revolução Francesa de 1789 foi o acontecimento de maior repercussão no Ocidente por


ter destruído definitivamente o antigo regime absolutista e a supremacia de uma
aristocracia decadente e por ter criado as condições necessárias e suficientes para o
surgimento do Estado Moderno e a consolidação do regime capitalista de produção.
❑ Foi uma revolução conduzida pela burguesia enriquecida, inconformada com os
consideráveis privilégios e honrarias sociais concedidos aos nobres e ao clero, e sequiosa
de poder para, sobretudo, pôr fim aos altos impostos e às rígidas regulamentações da
política mercantilista vigente que restringiam sua liberdade econômica.
❑A burguesia pôde contar com o apoio imediato dos camponeses exasperados com o
pagamento de um conjunto de obrigações existentes desde a época feudal que lhes
limitavam sobremaneira os ganhos.
❑ Grupos de interesses econômicos contrariados encontraram nas ideias dos filósofos iluministas e
dos economistas o arsenal intelectual para deflagrar uma revolução que atingiu mortalmente as
instituições políticas e jurídicas vigentes pela força da nova ideologia, inspirada principalmente
nas obras de:
✓ Locke (1632-1704),
✓ Voltaire (1694-1778) e
✓ Montesquieu (1689-1755),
❑ Os grandes críticos da monarquia absolutista e pais da teoria política liberal, e Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778), fundador da teoria política democrática moderna.
❑ Essas obras se constituíram no fundamento teórico no qual se assenta o Estado Moderno.
❑ Os economistas contribuíram com a crítica ao mercantilismo que impunha severas restrições à
atividade econômica com sua política de amplo controle estatal sobre o comércio, favorecendo as
exportações e restringindo as importações para manter uma balança comercial que garantisse o
enriquecimento do tesouro do país, e amplo controle da produção doméstica, com leis que
regulamentavam os salários, as condições de emprego, a qualidade dos produtos etc.
❑ A crítica à política mercantilista encontrou na obra de Adam Smith (1723-1790), A riqueza
das nações, de 1776, a sua expressão mais contundente e qualificou o autor como o pai do
liberalismo econômico.
❑ A teoria por ele elaborada defendia o livre mercado por sua fundamentação na competição
entre os produtores que, movidos pelo desejo egoísta de obter sempre mais lucros,
garantiriam não só a 1- produção demandada pelos consumidores, como também 2 - o
aprimoramento da qualidade dos produtos, 3 - a busca da eficácia e 4 - eficiência do processo
produtivo para a redução dos custos e o barateamento das mercadorias, assegurando, dessa
maneira, o desenvolvimento econômico continuado.
❑ Assim, intelectualmente fundamentados, os revolucionários de 1789 elaboraram a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em setembro daquele ano, reunindo nesse
documento as ideias que comandaram a transformação da sociedade francesa e, mais tarde,
de todo o mundo ocidental.
❑ Nas palavras de Eric J. Hobsbawm (1977, p. 77), “esse documento é um manifesto contra a sociedade
hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e
igualitária”, porque, apesar de seu primeiro artigo declarar que “os homens nascem e vivem livres e iguais
perante as leis”, prevê a existência de distinções sociais, ainda que “somente no terreno da utilidade comum”.
❑ Mas, mesmo assim, não se pode deixar de considerar a importância social, política, econômica e cultural
desse documento porque, de fato, ele inaugura o início do processo de resgate do conceito grego de
cidadão, reformulando-o e ampliando-o, condição necessária para o surgimento do Estado Moderno, isto
é, do Estado Racional, fundado no Direito Racional e na autoridade legal-racional, administrado
burocraticamente e, segundo Max Weber (1864-1920), um dos clássicos da Sociologia, “único terreno em que
o capitalismo moderno pode prosperar”.
❑ A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em seus artigos, foi decisiva para o surgimento das
instituições políticas, jurídicas e econômicas necessárias e suficientes para o desenvolvimento do regime
capitalista de produção e do Estado democrático, ao declarar a propriedade privada um direito natural,
sagrado, inalienável e inviolável, como também a liberdade de expressão, a tolerância religiosa e a
liberdade de imprensa, ao mesmo tempo que determinava ser o povo a fonte de toda soberania.
❑A partir dessa declaração, o povo foi conquistando aos poucos o direito de se organizar politicamente, quer
em partidos políticos, quer em movimentos sociais, não só para eleger seus representantes, mas também
para contestar e reivindicar melhores condições de vida, ponto de partida para a efetivação de mudanças
na estrutura social.
❑ Não obstante a importância desses acontecimentos, cumpre ressaltar que tanto a Revolução
Industrial quanto a Revolução Francesa, como também as Ciências Sociais, são filhas do processo de
racionalização da cultura ocidental, iniciado dois séculos antes, que têm como expressões mais
significativas a própria ciência e a filosofia iluminista
1.1.3 O racionalismo
❑ O Racionalismo tem origem na chamada revolução copernicana do século XVI que, além de
Copérnico (1473-1543), é obra também de Kepler (1571-1630) e Galileu (1564-1642).
❑ Esses estudiosos desenvolveram ideias, investigações e estudos sobre o universo, resultando
nas primeiras e mais contundentes contestações à autoridade da Igreja Católica Apostólica
Romana como fonte única do conhecimento oficialmente aceito, até então considerado
sagrado, absoluto e incontestável.
❑ Eles fizeram nascer a convicção de que os homens, dotados de razão e de sentidos pela graça
de Deus, são capazes de desvendar os mistérios de Sua criação e explicá-los corretamente.
❑ No século XVII, René Descartes (1596-1650), matemático e físico, tornou-se o maior expoente
do racionalismo, ao considerar a razão como a única fonte segura de conhecimento.
❑ No Discurso do método, afirmava ser necessário não só duvidar da veracidade dos
conhecimentos existentes, como também das impressões sensoriais, pois nada garante que os
nossos sentidos sejam confiáveis.
❑ Para ele, a reflexão filosófica deve partir de verdades ou axiomas (verdade óbvia) simples e
evidentes por si mesmos, como “Penso, logo existo”, e, por dedução matemática, como na
geometria, chegar a um conjunto perfeitamente lógico de conhecimentos sobre indagações
específicas.
❑ Com Descartes, o processo de secularização da cultura ganha fôlego porque o método racionalista
por ele elaborado foi o passo decisivo para o desenvolvimento da crítica racional às verdades que
sustentavam a ordem estabelecida.
❑ Os resultados da aceitação desse método como instrumento único para a construção do
conhecimento se expressaram na emancipação do pensamento das verdades religiosas, na
renúncia a uma visão sobrenatural para explicar os fatos e na contestação dos fundamentos da
sociedade feudal com sua instituições e costumes.
❑ Em outras palavras: o resultado do racionalismo foi a consagração do livre pensamento, livre da
visão de mundo dominante até então, livre para ensaiar novas e revolucionárias construções.
❑ O Iluminismo ou Filosofia das Luzes, cuja manifestação suprema se deu na França do século XVIII,
foi o ponto culminante dessa revolução intelectual em curso que abalou definitivamente os
alicerces culturais da sociedade medieval europeia.
❑ Pode-se afirmar que da conjugação do método racionalista e do método empirista (Observação,
experimento) advém a concepção moderna de ciência, hoje universalmente aceita como o caminho para a
busca da verdade e, portanto, um dos valores centrais das sociedades ocidentais.
✓ Ex: Método racionalista – O conhecimento existe a priori
✓ No método empirista – O conhecimento existe a posteriori
❑ E dessa conjugação surgiram trabalhos extraordinários no campo das ciências físico-químico-naturais
ainda nos séculos XVII e XVIII.
❑ Basta registrar os nomes:
✓ de Isaac Newton (1643-1727) e Leibniz (1646-1716), no campo da física e da matemática,
✓ de Boyle (1627-1691) e de Lavoisier (1743- -1794), no campo da química,
✓ e de Lineu (1707-1778) e de Buffon (1707-1788), no campo da biologia,
❑ para compreender as origens das convicções dos iluministas de que a razão e a ciência poderiam permitir
o exercício de um certo controle humano sobre o mundo e, fundamentalmente, sobre a realidade social,
que passou a ser compreendida como construção humana e não mais como realização da vontade divina –
e, portanto, passível de crítica, de contestação e de transformação.
❑ Preparava-se, assim, o caminho para o processo revolucionário de instauração do mundo moderno e para
o desenvolvimento das Ciências Sociais.
1.2 As Ciências sociais
❑ Não há fronteiras rígidas entre as Ciências Sociais, pois todas, como vimos, têm por objeto de estudo o
comportamento social determinado pelo processo histórico universal.
❑ No entanto, cada uma delas focaliza um aspecto específico desse comportamento, analisando-o de uma
perspectiva própria, em torno de conceitos particulares que definem a sua construção teórica.
❑ Mas todas as Ciências Sociais se beneficiam dos conhecimentos produzidos pelos autores de cada uma,
num íntimo entrelaçamento que permite o enriquecimento e aprofundamento da compreensão da vida
social.
❑ Embora se possa distinguir a especificidade da produção das Ciências Sociais, em cada uma delas se
identifica a contribuição do trabalho das demais, pelo menos no que diz respeito à utilização dos
principais conceitos que indicam o seu campo de estudo particular e os problemas fundamentais de que
se ocupam.
❑ A Economia Política teve sua origem na Escola Clássica da Inglaterra, com a publicação das obras de
Adam Smith, David Ricardo (1772-1823, autor de Princípios de Economia Política) e Thomas Malthus
(1766-1834, autor de Ensaio sobre a população).
❑ Ela estuda as ações sociais voltadas à produção, à circulação, à distribuição e ao consumo de bens e
serviços em seu contexto institucional nacional e internacional.
❑ A Ciência Política analisa as instituições políticas que regulamentam a distribuição do poder, as
diferentes formas de governo, a administração do Estado, a luta pelo poder, o comportamento
político em suas diferentes manifestações – político-partidário e eleitoral –, as atitudes populares
diante das questões políticas, a participação em movimentos sociais, enfim, o processo político em
geral, inclusive no seio das organizações e empresas.
❑ A História é a ciência que estuda o processo de produção da vida (isto é, das condições materiais
de existência e da consciência, expressa no conjunto de crenças, valores, padrões de
comportamento), na expectativa de apreendê-lo em suas diferentes manifestações e
especificidades ao longo do tempo.
❑ Detém-se sobretudo na análise daqueles acontecimentos que decisivamente contribuíram para a
sua transformação com o surgimento de novas instituições sociais.
❑ A Psicologia Social investiga as relações recíprocas entre personalidade e estrutura social,
demonstrando a influência do ambiente social na formação da personalidade e como, em contextos
grupais, os processos sociais são por ela influenciados, como, por exemplo, na ação da multidão, tal
como tumultos ou linchamentos, nos estudos de opinião pública, nos movimentos sociais, nas
atitudes grupais em relação aos preconceitos de qualquer natureza etc., ou seja, como as reações
coletivas alteram a conduta individual e interferem na vida social.
❑ A Antropologia focaliza seus estudos na construção da cultura, ou seja, no mundo dos significados
e dos valores sociais predominantes nas mais diferentes sociedades, inclusive nas sociedades
ágrafas (sem grafia), analisando-as em todos os seus aspectos.
❑ Por isso, as fronteiras entre a Antropologia e a Sociologia são muito tênues.
❑ A Sociologia, ciência que subsidia o curso Análise Social, investiga, analisa, explica e interpreta a
estrutura social como um todo, levando em consideração todos os aspectos que a constituem –
✓ O econômico,
✓ o político,
✓ o cultural,
✓ o histórico,
✓ o psicológico –
✓ Como também os demais fenômenos que interferem na configuração da vida social – como a
demografia, a ocupação do espaço físico etc.
❑ É a ciência das relações sociais norteadas pelas instituições ou padrões de comportamento,
que expressam valores, crenças, ideias, sentimentos compartilhados pelos membros de uma
sociedade, e princípios sobre os quais se assenta a organização da vida social em todas as suas
dimensões:
✓Econômica,
✓ política,
✓ social,
✓ cultural,
❑ Determinando sua estrutura e assegurando-lhe uma ordem.
❑ Por isso, muitos autores se referem à Sociologia como a ciência que procura descobrir,
descrever, explicar e compreender a ordem que caracteriza a vida social, ou seja, os padrões de
comportamento que a caracterizam e que “permitem a corrente rotineira da vida social”
(INKELES, 1964, p. 47), possibilitando, portanto, prever o seu curso e, ao mesmo tempo, indicar
as manifestações de desordem, de conflito e de mudança, pois a realidade social é processo.
2 - As Sociedades industriais capitalistas
❑ A Sociologia é uma ciência recente.
❑ Nasceu com o mundo moderno para explicá-lo e compreendê-lo.
❑ Assim, seu objeto de estudo é a estrutura das sociedades industriais capitalistas, denominadas:
✓ Sociedades modernas por Durkheim,
✓ Capitalismo moderno por Max Weber e
✓ Modo de produção capitalista por Marx e Engels.
❑ Embora Auguste Comte, com a publicação do Curso de Filosofia Positiva, entre 1830 e 1839, seja
considerado o pai da Sociologia, os autores clássicos que mais contribuíram para o seu
desenvolvimento foram Émile Durkheim (1858-1917), Max Weber (1864-1920) e Karl Marx (1818-
1883)1 .
❑ Esses três autores elaboraram os mais importantes princípios explicativos da análise sociológica,
respectivamente, o princípio da causação funcional, da conexão de sentido e da contradição
dialética e se tornaram referências fundamentais para os autores contemporâneos e todos aqueles
que pretendem iniciar-se no estudo da produção sociológica.
❑ Da aplicação desses princípios à análise da estrutura social resultaram explicações e
interpretações diferentes, isto é, teorias diferentes sobre o mesmo objeto de estudo:
❑ a sociedade capitalista, cujas características fundamentais foram nos apresentadas por esses
três autores, ao mesmo tempo, fornecendo os princípios metodológicos para o
desenvolvimento da pesquisa empírica.

2.1 – Émile Durkheim


❑ Para Durkheim, a característica principal das sociedades modernas é a divisão do
trabalho social.
❑ Ao promover a interdependência das funções profissionais especializadas, a divisão
do trabalho social, que tem como origem o aumento da população, gera a
solidariedade orgânica, ou seja, um novo tipo de coesão ou integração social que nasce
do reconhecimento coletivo da complementariedade das atividades individuais
diferenciadas, assegurando a existência e o funcionamento da sociedade e,
consequentemente, a satisfação das necessidades individuais de um maior número de
pessoas.
❑ Compreenda-se que, para Durkheim, a vida social só é possível porque existe uma
consciência coletiva, ou seja, um conjunto de crenças e sentimentos comuns aos de uma
determinada sociedade que forma um sistema específico com vida própria. Ou, ainda:
❑ A sociedade não é simples soma de indivíduos, e sim sistema formado pela sua
associação, que representa uma realidade específica com seus caracteres próprios.
❑ Sem dúvida, nada se pode produzir de coletivo se consciências particulares não
existirem; mas esta condição necessária não é suficiente.
❑ É preciso ainda que as consciências estejam associadas, combinadas, e combinadas de
determinada maneira; é desta combinação que resulta a vida social, e, por conseguinte, é
esta combinação que a explica. (DURKHEIM, 1971, p. 71)
❑ Assim, a vida social é possível porque existe uma consciência coletiva que se impõe e,
portanto, é compartilhada pelas consciências individuais.
❑ Desse compartilhamento, nasce a coesão social ou a solidariedade social.
❑ Nas “sociedades simples” (hordas, clãs, tribos), marcadas por uma divisão rudimentar do trabalho
social, dado o pequeno número de pessoas que as compõem, predomina a “solidariedade
mecânica” que nasce de crenças e sentimentos compartilhados por todos os membros da
sociedade.
❑ Nelas, o conteúdo da consciência coletiva é o culto à própria sociedade, mantendo-se o respeito
total e absoluto às suas crenças e sentimentos.
❑ Por isso, nas sociedades simples, os indivíduos são totalmente envolvidos pela consciência coletiva,
havendo quase nenhuma controvérsia entre eles.
❑ Mas, à medida que acontece o desenvolvimento da divisão do trabalho social, os sentimentos
comuns se atenuam, porque as atividades sociais se modificam, diferenciando os indivíduos entre si
nas suas crenças e ações.
❑ A consequência inevitável disso é o desenvolvimento do individualismo, que se torna o novo
conteúdo da consciência coletiva nas sociedades modernas.
❑ A divisão do trabalho social é, portanto, a condição criadora da liberdade individual e, ao mesmo
tempo, de um novo tipo de solidariedade social que, como vimos, nasce do sentimento dos laços de
interdependência dos indivíduos que, ao desempenharem funções diferenciadas, contribuem uns
com os outros para a satisfação das necessidades de todos.
❑ Essa seria, pois, a função social da divisão do trabalho social, isto é, o efeito social útil
que produz, expresso na solidariedade orgânica, integração ou coesão social de um
novo tipo de sociedade.
❑ Surgiu, a partir da análise dos efeitos sociais úteis dos fatos ou fenômenos sociais, o
princípio explicativo da causação funcional que permeia toda a obra de Émile
Durkheim.
❑ Lembrando que, se Adam Smith, no livro A riqueza das nações, de 1776, já havia
demonstrado a função econômica da divisão do trabalho –
✓ o aumento da produtividade do trabalho,
✓ a redução dos custos da produção e
✓o barateamento das mercadorias –
❑ Durkheim apenas se interessa por seus efeitos sociais nas mais diferentes esferas da
vida em sociedade.
2.2 – Max Weber
❑ Para Max Weber, o traço característico do capitalismo moderno é a racionalidade da conduta
em todas as dimensões da vida.
❑ Essa racionalidade funciona como fundamental princípio norteador da vida econômica que
se manifesta na multiplicação de empresas, por meio das quais todas as necessidades de um
grupo humano são satisfeitas.
❑ Weber (1980, p. 123) afirma que “O capitalismo existe onde quer que se realize a satisfação
de necessidades de um grupo humano, com caráter lucrativo e por meio de empresas,
qualquer que seja a necessidade de que se trate”.
❑ No entanto, o capitalismo moderno surgiu apenas na segunda metade do século XVIII com a
organização racional do trabalho, ou seja, com o desenvolvimento da organização
empresarial.
❑ Isso se deu apenas no Ocidente, onde havia as condições culturais suficientes e necessárias
para tal.
❑ Logo, entendemos que o processo de racionalização do mundo ocidental nas suas
diferentes manifestações, na visão de Max Weber, é condição necessária para o
surgimento do capitalismo moderno e compreensão do significado do princípio
explicativo da conexão de sentido.
❑ Com efeito, a racionalização do mundo ocidental é o processo de diferenciação das
esferas de valor e de ação, antes unificadas pela religião.
❑ Desta forma, a racionalidade passa a reger as diferentes dimensões da atividade social.
❑ A partir daí, valores distintos, muitas vezes em conflito, orientam as ações sociais, em
que o sentido subjetivo a elas atribuído pelo sujeito, cabe às Ciências Sociais e,
especificamente à Sociologia, compreender e interpretar.
3 – Karl Max
❑ Para Marx, a especificidade do modo de produção capitalista reside na extração da mais- valia,
isto é, numa nova modalidade de exploração do trabalho, substituindo a escravidão e a servidão
que caracterizaram, respectivamente, o modo de produção antigo e o modo de produção feudal, e
que se constitui na fonte principal dos lucros do capitalista.
❑ A mais-valia corresponde à diferença entre o valor das mercadorias produzidas pelo trabalhador e
o valor de sua força de trabalho (capacidade para trabalhar), expressa no salário.
❑ O trabalhador produz muito mais valor (riqueza na forma de mercadorias) do que recebe em troca
pela única mercadoria que possui e que é obrigado a vender no mercado de trabalho para
sobreviver: a sua força de trabalho.
❑ Para Marx, a origem da exploração do trabalho é a propriedade privada dos meios de produção,
responsável também pela divisão social do trabalho entre trabalho intelectual e trabalho material.
✓ A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção
intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção
intelectual está submetido igualmente à classe dominante. (MARX; ENGELS, 1978, p. 56)
❑ Assim, no modo de produção capitalista, os proprietários do capital realizam o trabalho
intelectual e são os produtores da consciência, da ideologia, da visão de mundo, isto é, da
superestrutura social, composta da estrutura jurídico-política e ideológica.
❑ A ideologia dominante é imposta aos não proprietários dos meios de produção, produtores
das condições materiais de vida, ou seja, da infraestrutura.
❑ Ela é a representação mental das condições de vida da classe dominante, muito distintas da
classe dominada.
❑ A ideologia é sempre falsa consciência do mundo e, por isso, conduz à alienação, isto é, à
incapacidade de compreender a realidade e de sobre ela exercer controle.
❑ As classes sociais, por ocuparem posições diferentes no processo de produção da riqueza,
têm interesses econômicos divergentes, razão pela qual estão permanentemente em relações
sociais de conflito (latente ou manifesto, como nas greves, nos movimentos sociais, nas
reivindicações por melhores condições de vida)
❑ No Manifesto do Partido Comunista, de 1848, Marx e Engels afirmam que:
✓A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício
e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, o opressor e o oprimido permaneceram
em constante oposição um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que
terminou, cada vez, ou pela reconstituição revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das classes em
conflito. (MARX; ENGELS, 1978, p. 94)
❑ Assim, para esses autores, as transformações do modo de produção vigente nos diferentes momentos
da história da humanidade (no Ocidente, modo de produção antigo, modo de produção feudal e modo de
produção capitalista) resultaram da luta de classes, da contradição dialética entre os interesses das
classes sociais.
❑ Nas sociedades capitalistas, a luta de classes foi simplificada.
❑ “A sociedade global divide-se cada vez mais em dois campos hostis, em duas grandes classes que se
defrontam – a burguesia e o proletariado” (MARX; ENGELS, 1978, p. 94).
❑ Da luta entre essas duas classes surgiu um novo modo de produção, fundado na propriedade coletiva
dos meios de produção, pondo fim à exploração do trabalho e à existência das classes sociais:
✓ o modo de produção comunista,
✓ no encerramento da fase de transição do capitalismo para a ditadura do proletariado, ou seja, do
socialismo para o comunismo.
❑ A destruição do modo de produção capitalista acontecerá pela emergência da contradição dialética
entre desenvolvimento das forças produtivas materiais (capacidade de produção de uma sociedade)
e as relações sociais de produção entre capitalistas e assalariados.
❑ O fato é que ao revolucionar constantemente os meios de produção para enfrentar a acirrada
competição nos mercados de bens, a burguesia vai cavando sua própria cova, visto que ao substituir
trabalhadores por máquinas, sempre mais sofisticadas, gera desemprego em massa e impede a
reprodução do próprio capital por impedir o consumo da produção cada vez mais diversificada e
em grande escala.
❑ Emerge, então, a contradição dialética entre a acumulação da riqueza, de um lado, e, de outro, a
acumulação da pobreza, paralisando o próprio processo de produção da riqueza e contribuindo para
o fortalecimento da organização política dos trabalhadores, cujo resultado é o rompimento das
relações sociais capitalistas pela revolução comunista.
❑ A Sociologia, ainda hoje, continua subsidiada pelas obras dos três clássicos aqui rapidamente
apresentados, pois os autores contemporâneos têm construído novos esquemas de explicação
teórica a partir da sua total rejeição, da sua reformulação ou ainda da sua ampliação, na tentativa
de acompanhar e compreender o processo histórico que se manifesta em situações por aquelas
obras não contempladas.
❑ Como Durkheim, Weber e Marx fundamentam suas teorias em princípios epistemológicos
distintos:
✓Positivismo,
✓ Sociologia da Compreensão e Materialismo Histórico e
✓ Dialético),
❑ Em nenhuma hipótese é possível utilizar conceitos por eles elaborados de maneira indistinta,
porque seu poder explicativo se circunscreve no conjunto da teoria que lhes deu origem.
❑ No entanto, pode-se elencar as características peculiares das sociedades capitalistas
contemporâneas utilizando as indicações que eles nos legaram, muito embora as tenham
explicado diferentemente.
❑ Assim, reunimos a seguir os componentes essenciais da estrutura das sociedades capitalistas.
2.4 A estrutura das Sociedades Capitalistas
❑ Os princípios norteadores das relações sociais e da organização das diferentes dimensões da vida
social podem ser assim apresentados:
▪ 1 - Trabalho livre
❑ decorrente do primeiro artigo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, segundo o qual
todos os homens nascem livres e iguais perante a lei, condição necessária para a existência do
mercado livre de trabalho e para a transformação da força de trabalho em mercadoria, isto é,
trabalho assalariado.
❑Um mercado de trabalho livre existe quando e somente quando os trabalhadores (seguindo a
conhecida frase de Marx) são livres no duplo sentido, ou seja, “como pessoas livres, podem dispor
de sua força de trabalho como mercadoria própria” e “são desprovidos de tudo o mais necessário
à realização de sua força de trabalho”.
▪ 2 - Instituição da propriedade privada dos meios de produção
❑ isto é, do capital, a todos acessível juridicamente, porém, na prática, só é acessível a alguns
poucos, origem da contradição entre igualdade jurídica e desigualdade de fato.
▪ 3 - Desigualdade de fato,
❑ Expressa na formação de classes sociais, que consiste na formação de grupos de pessoas
que ocupam diferentes posições no processo de produção da riqueza, essas são
determinadas pela posse ou não dos meios de produção.
❑ Desse restrito acesso de fato à propriedade do capital, nascem as duas grandes classes
sociais das sociedades capitalistas:
✓a dos proprietários do capital (capitalistas ou burguesia) e
✓ a classe dos não proprietários do capital (proletariado ou classe assalariada)
❑ Que vive da venda de sua força de trabalho no mercado livre em troca de um salário;
❑ As relações de produção entre proprietários e não proprietários dos meios de produção
são regulamentadas por um contrato livre de trabalho que poderá ser rompido a qualquer
momento por uma das partes.
▪ 4 - Luta de classes - latente ou manifesta,
❑ Devido ao conflito de interesses econômicos das classes e/ou grupos sociais.
❑ Os conflitos manifestos se expressam nos movimentos reivindicatórios e/ou grevistas, e
os latentes são subjacentes às relações sociais entre as classes e, por isso, são
permanentes.
▪ 5 – Divisão racional do trabalho -
❑ cujo critério único é a competência profissional e a capacitação técnica dos
trabalhadores e divisão tecnológica do trabalho no interior das empresas.
▪ 6- Economia de mercado,
❑ Que consiste em uma estrutura econômica organizada para a produção de mercadorias,
ou seja, a produção em larga escala de bens e prestação de serviços para a troca por
dinheiro no mercado de bens e serviços, com fundamento na livre iniciativa e na livre
competição, embora parcialmente regulamentada pelo Estado.
▪ 7 - Produção de bens e prestação de serviços por empresas,
❑ com caráter permanente e racionalmente organizadas para a obtenção de lucros, que tem como
origem principal a exploração do trabalho, ou seja, a extração da mais-valia, que é, a diferença
entre o que foi efetivamente produzido pelo trabalhador e o que lhe foi pago em forma de
salário: o trabalhador sempre produz mais do que recebe.
▪ 8 - Estado Moderno,
❑ fundado no Direito Racional e na autoridade legal-racional, cuja legitimidade advém da crença
na superioridade da lei racionalmente elaborada pelo poder legislativo, representante da
vontade do povo;
❑ Nele governa-se em nome da lei para fazer cumpri-la.
❑ Ela estabelece a separação entre os poderes executivo, legislativo e judiciário e, numa
democracia plebiscitária, os cidadãos escolhem seus governantes através de eleições livres.
❑ O Estado Moderno é administrado burocraticamente, com funcionários de carreira que
ocupam cargos para os quais foram nomeados após terem demonstrado, pela via de concursos
públicos, competência técnica para tal, ou, como se afirmou anteriormente, pela escolha
soberana dos cidadãos para a ocupação de cargos no executivo e no poder legislativo.
▪ 9 - Direito Racional,
❑ isto é, direito calculável, como condição necessária para a existência das sociedades
capitalistas modernas, pois, como afirma Max Weber (1980, p. 124):
❑ “Para que a exploração econômica capitalista proceda racionalmente precisa confiar em
que a justiça e a administração seguirão determinadas pautas”.
▪ 10 - Secularização e racionalização e/ou intelectualização da cultura
❑ Herdada da filosofia racionalista do século XVIII, cujas expressões mais importantes são
a ciência, a técnica racional, o Estado Moderno e a razão como princípio organizador de
todas as dimensões da vida.
▪ 11 - Técnica racional para a mecanização, automatização e informatização da produção e
da prestação de serviço
❑ isto é, industrialização, para a produção em larga escala de todas as mercadorias,
característica das sociedades industriais.
2.5 As empresas
❑ A produção de bens e a prestação de serviços no interior de empresas com caráter permanente e
racionalmente organizadas formam um traço distintivo das sociedades industriais capitalistas, pois, em
nenhum outro momento da história da humanidade, a satisfação das necessidades sociais dependeu delas
totalmente.
❑ Sem dúvida, só podemos dizer que toda uma época é tipicamente capitalista quando a satisfação de
necessidades se acha, segundo o seu centro de gravidade, orientada de tal maneira que, se imaginamos
eliminada esta classe de organização, fica em suspenso a satisfação das necessidades. (WEBER, 1980, p. 124)
❑ Embora, ainda segundo Max Weber, encontremos várias formas de capitalismo ao longo dos tempos, foi
apenas com a organização empresarial e permanente do trabalho que surgiu o capitalismo moderno, isto é,
o capitalismo racional.
❑ Mas, não só para Weber, as empresas constituem um dos traços distintivos e fundamentais das sociedades
capitalistas, para Marx, as empresas racionalmente organizadas para a produção das mercadorias
representam a característica mais significativa do novo modo de produção, porque é no seu interior que a
nova modalidade de exploração do trabalho, a extração da mais-valia, se realiza, tornando-se a fonte
principal dos lucros do capitalista e o fator determinante da reprodução do capital.
❑ E quanto mais racional for a organização do trabalho, maior será a taxa da mais-valia e, portanto, a taxa de
lucros.
❑ Mas, sem dúvida, a expressão mais significativa da organização racional do trabalho:
❑ é a mecanização do processo de produção, com a introdução da maquinaria, que substitui o
trabalhador, prolonga a jornada de trabalho além do necessário para a sua sobrevivência e
intensifica o trabalho, aumentando ainda mais a taxa da mais-valia e a taxa de lucros.
❑ Esse emprego (da maquinaria)
❑ [...] como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do trabalho, tem por fim
baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho da qual precisa o trabalhador para
si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá gratuitamente ao capitalista. A maquinaria é
meio para produzir mais-valia. (MARX, 1971, p. 424)
❑ Independentemente das interpretações teóricas elaboradas pelos clássicos da Sociologia,
podemos apresentar as características definidoras das empresas a partir de suas obras e,
graças a elas, compreender também o seu surgimento e desenvolvimento como consequência
das novas condições econômicas, políticas, sociais e culturais que marcaram o Ocidente da
segunda metade do século XVIII.
❑ Pode-se definir a empresa como um grupo de pessoas propositadamente formado e
racionalmente organizado para a produção em larga escala de bens ou para a prestação de
serviços, para trocá-los por dinheiro no mercado de bens e serviços, tendo por objetivo único a
obtenção de lucros.
❑ Todas as empresas são organizações, mas nem todas as organizações são empresas.
❑ O que as distingue é o fato de que somente as empresas têm como meta a obtenção de lucros.
❑ O exemplo mais ilustrativo de organização é o Estado, a maior de todas as organizações, e seus
organismos prestadores de serviços à população sem fins lucrativos.
❑ A organização racional das empresas se expressa:
✓1 - na divisão racional e tecnológica do trabalho
❑ ou seja, na distribuição das tarefas segundo o critério único da competência profissional, da
capacitação técnica, de seus membros;
✓ 2 - nas diferentes formas de organização do processo de trabalho,
❑ fundadas na divisão do trabalho e que, ao longo do século XX, foram identificadas
como taylorismo, fordismo e toyotismo;
✓3 - na existência de normas
❑ racionalmente elaboradas que regulamentam o comportamento de seus membros e a execução das
tarefas;
✓ 4 - na estrutura de autoridade hierárquica
❑ como princípio de coordenação das tarefas;
✓ 5 - na aplicação dos métodos e dos conhecimentos científicos
❑ ao processo produtivo e de prestação de serviços;
✓6 - na utilização da mais moderna e sofisticada tecnologia
❑ produto de pesquisa permanente, muitas vezes por elas financiada;
✓ 7 - no cálculo econômico permanente
❑ cálculo matemático dos custos da produção, das tendências do mercado, das probabilidades de
obtenção de lucros e mesmo das probabilidades de prejuízos;
✓ 8 - na rápida e adequada reação às condições econômicas, políticas, sociais e culturais, nacionais e
internacionais,
❑ determinantes das condições mercadológicas e de obtenção de lucros, como consequência da análise
permanente do processo histórico.
❑ Por essas razões, o administrador, para tornar-se realmente competente, deverá adquirir
os conhecimentos produzidos pelas Ciências Sociais para compreender o
comportamento organizacional nas suas múltiplas determinações, a fim de promover,
com a colaboração dos trabalhadores, os ajustamentos às condições econômicas,
políticas, sociais e culturais, nacionais e internacionais, existentes.
3 As diferentes formas de administração do processo de trabalho no
Capitalismo moderno

3. 1 A acumulação primitiva de capital


❑ A estrutura econômica da sociedade capitalista tornou-se possível graças à acumulação primitiva do
capital ainda na estrutura econômica da sociedade feudal, anterior, portanto, à acumulação capitalista,
como resultado de “processos idílicos” (aventureiros), sobretudo violentos, de obtenção de riquezas.
❑ Assim, se a acumulação primitiva do capital foi obtida mediante atividades aventureiras, a acumulação
do capital nas sociedades modernas resulta da eficácia e eficiência da administração empresarial, isto é,
da capacidade de explorar ao máximo, racionalmente, todos os recursos, meios e fatores da produção.
❑ O que resulta, portanto, da organização racional do trabalho no interior das empresas, do cálculo
econômico permanente e da análise racional, probabilística em termos matemáticos, dos mercados
nacionais e internacionais, frutos de múltiplas determinações:
✓ econômicas,
✓ políticas,
✓ sociais
✓culturais universais.
3. 2 A divisão tecnológica do trabalho
❑ A primeira expressão da racionalização do interior das empresas industriais foi a divisão do
processo de trabalho em operações especializadas atribuídas a diferentes trabalhadores, já no
século XVIII, conforme nos demonstrou Adam Smith (1937, p. 4) em A riqueza das nações:
✓ Um homem estica o arame, outro o retifica e um terceiro o corta; um quarto faz a ponta e um quinto
prepara o topo para receber a cabeça; a cabeça exige duas ou três operações distintas: colocá-la é
uma função peculiar, branquear os alfinetes é outra e até alinhá-los num papel é uma coisa separada:
e o importante na fabricação de um alfinete é deste modo dividido em cerca de dezoito operações
que, em algumas fábricas, são executadas por mãos diferentes, embora em outras o mesmo homem
às vezes execute duas ou três delas.
❑ Os efeitos econômicos altamente positivos da divisão do trabalho devem-se, segundo Smith, a três
diferentes circunstâncias:
✓ao aumento da destreza de cada trabalhador individualmente;
✓ à economia de tempo que em geral se perde passando de uma espécie de trabalho a outra;
✓e, finalmente, à invenção de grande número de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, e
permitem que um homem faça o trabalho de muitos. (SMITH, 1937, p. 7)
3. 3 Taylorismo e Fordismo

❑ Nas últimas décadas do século XIX, Frederick Taylor1 desenvolveu um novo método de
organização do processo de trabalho industrial para aumentar o volume de produção, a fim de
atender a demanda crescente pela conquista de novos mercados e “assegurar o máximo de
prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado”
(TAYLOR, 1966, p. 29), sendo esse o principal objetivo da administração.
❑ O ponto de partida da obra de Taylor é a sua constatação de que o trabalhador é, por princípio
e definição, vadio, trabalhando muito menos do que é fisicamente capaz, tal como afirma nessa
passagem extravagante que, com certeza, a todos atordoa já pelo título “Vadiagem no
trabalho”:
❑ Essa citação inicial é bastante esclarecedora da intenção única de Taylor que é a de
encontrar resposta à pergunta fundamental tanto para o capitalista quanto para o seu
preposto: como fazer o trabalhador trabalhar mais? A resposta é o taylorismo.
3. 3 Taylorismo e Fordismo

❑ Nas últimas décadas do século XIX, Frederick Taylor1 desenvolveu um novo método de
organização do processo de trabalho industrial para aumentar o volume de produção, a fim de
atender a demanda crescente pela conquista de novos mercados e “assegurar o máximo de
prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado”
(TAYLOR, 1966, p. 29), sendo esse o principal objetivo da administração.
❑ O ponto de partida da obra de Taylor é a sua constatação de que o trabalhador é, por princípio
e definição, vadio, trabalhando muito menos do que é fisicamente capaz, tal como afirma nessa
passagem extravagante que, com certeza, a todos atordoa já pelo título “Vadiagem no
trabalho”:
❑ Essa citação inicial é bastante esclarecedora da intenção única de Taylor que é a de
encontrar resposta à pergunta fundamental tanto para o capitalista quanto para o seu
preposto: como fazer o trabalhador trabalhar mais? A resposta é o taylorismo.
❑ Sem dúvida, o taylorismo permitiu aumentar consideravelmente a produtividade do trabalho, reduziu os
custos de produção e os preços das mercadorias e, sobretudo, permitiu aumentar consideravelmente os
lucros dos capitalistas, “assegurando ao máximo a prosperidade do patrão”. Mas, e quanto à prosperidade do
empregado?
❑ A “prosperidade do empregado”, acreditava Taylor, estaria assim assegurada:
✓ Na tarefa, é especificado o que deve ser feito e também como fazê-lo, além do tempo exato concebido para a
execução. E, quando o trabalhador consegue realizar a tarefa determinada, dentro do tempo-limite
especificado, recebe aumento de 30 a 100% do seu salário habitual. (TAYLOR, 1966, p. 51)
❑ A nova organização do trabalho, caracterizada pela centralização e controle da produção pela gerência,
tornou-se a forma predominante de administração do processo produtivo até as últimas décadas do século
XX, porque o taylorismo foi aperfeiçoado por Henry Ford I, o pai da indústria automobilística, com a
introdução, em 1914, de uma inovação tecnológica: a esteira automática de produção ou sistema
automático de transporte de peças e ferramentas para intensificar ainda mais o ritmo de trabalho, agora
totalmente controlado pela gerência que pode imprimir, com um simples apertar de botão, o ritmo que
quiser ao trabalho de todos.
✓O fordismo caracteriza o que poderíamos chamar de socialização da proposta de Taylor, pois, enquanto este
procurava administrar a forma de execução de cada trabalho individual, o fordismo realiza isso de forma
coletiva, ou seja, a administração pelo capital da forma de execução das tarefas individuais se dá de uma
forma coletiva, pela via da esteira. (MORAES NETO, 1989, p. 36)
❑ Ford, diferentemente de Taylor, considerava o trabalhador não apenas um produtor de
mercadorias, mas também um consumidor.
❑ Por isso, aumentou os salários de seus trabalhadores e instituiu a jornada de trabalho de oito
horas como incentivo ao consumo, além de distribuir alguns benefícios, como:
✓ restaurantes,
✓ transporte,
✓ hospital e assistência social,
❑ por ter compreendido que a produção padronizada em massa requeria consumo de massa.
3. 4 Impactos do taylorismo e do fordismo sobre o trabalhador
❑ Não há dúvida de que o taylorismo e o fordismo permitiram a melhoria das condições de vida para a
parcela da classe operária assalariada das grandes corporações, dando-lhe acesso ao consumo de bens
industrializados, além de terem gerado milhares de empregos nos EUA e terem sido responsáveis, em
grande parte, pelo seu extraordinário crescimento econômico, o que fez do país uma potência mundial.
➢ 1 - A desprofissionalização
❑ os trabalhadores passam a ser responsáveis apenas pela execução de uma ou mais tarefas simplificadas,
repetitivas e insignificantes, pensadas pela gerência científica, inclusive nos gestos e movimentos
necessários para realizá-las bem e rapidamente, o que representa a monopolização do saber operário
por essa gerência que, nas palavras de Benjamin Coriat.
➢ 2 – A monopolização do saber pela gerência científica
➢ 3 - A profunda insatisfação com as condições de trabalho
❑ O taylorismo e o fordismo geraram uma massa de trabalhadores insatisfeitos, entediados, frustrados,
infelizes, alienados de si mesmos, de sua própria natureza, cujas potencialidades não puderam se efetivar
na realização de um trabalho arte-criação-ação inteligente e transfigurou o papel da Razão na História
em racionalidade instrumental das grandes organizações racionais do mundo moderno.
3. 5 Os anos dourados
❑no Brasil, esse momento da história ficou popularmente conhecido como Os Anos Dourados que,
entre nós, tiveram curtíssima duração, pois foram interrompidos pelos Anos de Chumbo da ditadura
militar.
❑ Os Anos Dourados iniciaram no governo de Juscelino Kubitschek (Os Anos JK), em 1956, cujo
programa de governo, o conhecido Plano de Metas, prometia “cinquenta anos de desenvolvimento
em cinco”, dinamizando a economia brasileira com a construção de Brasília e a entrada do capital
estrangeiro para a produção de bens duráveis.
❑ Em 1957, Juscelino inaugurou a pedra fundamental da Volkswagem do Brasil, inaugurando, ao
mesmo tempo, outra fase da industrialização nacional: a industrialização de bens duráveis com
capital estrangeiro.
❑ A construção de Brasília e os investimentos estrangeiros no país geraram milhares de empregos,
especialmente em São Paulo, na região do ABC paulista (Santo André, São Bernardo e São Caetano),
transformando-a no polo industrial de ponta da América Latina, com tecnologia estrangeira e
administração fordista do processo de trabalho.
❑ Porém, os Anos Dourados no Brasil chegaram ao fim com a Revolução de 1964, que interrompeu o
processo político democrático, pois, de acordo com diversos autores, a Era de Ouro significou um
momento marcado não só pelo crescimento e desenvolvimento econômicos, mas também pela
democratização das instituições políticas e sociais.
❑ Por isso houve muitas razões para justificar as denominações desse período de 30 anos do século XX
e para preencher as cem páginas da parte dois do livro de Hobsbawm. São elas:
✓ Altíssimo crescimento econômico;
✓Pleno emprego: a média de desemprego na Europa Ocidental estacionou em 1,5% e em 1,3% no
Japão.
✓Elevação dos salários;
✓ Desenvolvimento científico e tecnológico;
✓ Multinacionalização do capital;
✓ Internacionalização da economia: Banco do brasil, FMI, balanças de pagamento;
✓ Adoção de políticas intervencionistas na economia pelos Estados nacionais:
✓ Mudanças culturais profundas em todas as esferas da vida
❑ No entanto, a prosperidade dos Anos Dourados foi desigual e a pobreza em muitos países da
África, da América Latina e da Ásia continuou a atingir milhões e milhões de pessoas, apesar do
crescimento econômico também dessas regiões.
❑ Por quê? faremos aqui um parênteses para apontar as causas do fraco desenvolvimento
econômico e social da América Latina e, em especial, do Brasil, mesmo durante o curto período
dos Anos Dourados.
❑ Os Anos Dourados chegam ao fim na década de 1970, quando começa a se configurar uma
crise de consumo com o acirramento da competição internacional.
❑ Para enfrentar a crise, procede-se a uma total reestruturação da economia mundial que,
inevitavelmente, provoca a reestruturação das empresas e dos mercados de trabalho.
❑ Por isso, para compreender a nova forma de administração do processo de trabalho, em
consolidação também no Brasil, será preciso compreender as razões da crise e a reorganização
da economia mundial, com suas consequências sobre o mundo empresarial e dos mercados de
trabalho.
4 A crise econômica mundial, a globalização da economia e a reestruturação produtiva

❑ A Sociologia nos ensina que a análise das diferentes formas de organização da produção e
da prestação de serviços requer a ampliação de seus horizontes para além do próprio
processo de trabalho, a fim de evidenciar os condicionantes econômicos, políticos, sociais e
culturais de sua determinação.
❑ Desse modo, não incorremos no erro de considerá-las apenas como um reflexo da lógica
do processo de produção capitalista, como fruto de um determinismo tecnológico ao qual
se submetem as relações de produção e a estrutura da vida social.
❑ Se assim procedesse, estaríamos considerando a estrutura econômica como independente
das ações humanas orientadas pelo cenário histórico por elas mesmas construído.
❑ Por isso, a reestruturação produtiva para a superação da crise econômica mundial que se
instalou a partir da segunda metade da década de 1960 deve ser estudada e compreendida
sobretudo como resultado de uma escolha consciente, deliberada e consentida pelos
sujeitos históricos – trabalhadores, empresários, governo.
❑ a introdução de novas tecnologias e de novas técnicas gerenciais do processo de trabalho
poderá ser compreendida:
✓ como fruto de uma situação de crise da economia mundial;
✓como consequência do esforço intelectual de adaptação das tecnologias de informação,
desenvolvidas sobretudo por razões políticas durante os anos da Guerra Fria, ao processo
produtivo e de prestação de serviços como instrumento de enfrentamento da crise;
✓como resultado da necessidade de expansão dos mercados, própria do regime capitalista de
produção e fundamental em situação de crise;
✓ e como possibilidade vislumbrada pelos próprios trabalhadores de melhoria de suas condições
de vida, que a têm consentido, apesar de todos os problemas provenientes.
4.1 A crise econômica mundial
❑A crise econômica mundial, que pôs fim aos Anos Dourados, no final de 1960, prolongou-
se na década seguinte com o surgimento de novos padrões de concorrência em virtude da
multinacionalização do capital e da recuperação da economia japonesa, elevada à potência
mundial.
❑ A intensificação desse processo de multinacionalização do capital provocou uma nova
divisão internacional do trabalho ao transformar países da América Latina:
✓– Brasil, Argentina, México – e do Sudeste da Ásia – Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura,
Malásia, Indonésia, Filipinas –, até então exportadores de bens primários, em países
industrializados e exportadores de bens duráveis, acirrando a competição internacional e
ameaçando os interesses econômicos dos EUA e dos países de tradição industrial da
Europa.
❑ O novo cenário econômico mundial permitia identificar as razões do fraco crescimento
econômico e da persistência da crise:
▪ O esgotamento relativo do paradigma taylorista ortodoxo, aí incluído o paradigma fordista dele
derivado, por sua comprovada ineficiência produtiva, isto é, por sua rigidez tecnológica e
organizacional que inviabiliza a inovação de produtos com sua produção padronizada em massa;
▪ a instabilidade dos mercados, cuja consequência é a necessária adaptação da produção ao
dinamismo da demanda, assentada na exigência de qualidade do produto;
▪ o aparecimento de novos padrões de consumo que exigem a inovação de produtos;
▪ A globalização financeira da qual se tornaram reféns todos os países do mundo, sobretudo
aqueles em processo de desenvolvimento, onerando, com juros altos e desregulamentados, as
atividades produtivas já pressionadas pela elevação dos preços dos insumos industriais devido à
crise do petróleo, com a formação da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) em
1973;
▪ a rígida regulamentação dos mercados de trabalho em vários países industrializados e as
pressões sindicais que aumentaram os salários ao longo dos Anos Dourados e exigiram benefícios
sociais, com o consequente aumento de impostos e encargos sociais, dificultando a sobrevivência
de muitas empresas e/ou reduzindo consideravelmente a sua margem de lucros, o que significava
redução de investimentos.
❑ Mas das crises nascem as soluções, pelo menos temporárias, engendradas pela própria realidade em
crise.
❑ Assim, adaptando-se as tecnologias de informação de base microeletrônica, desenvolvidas sobretudo,
mas não exclusivamente, pela Nasa durante o período mais crítico da Guerra Fria, ao processo
produtivo e de prestação de serviços e conjugando-as aos métodos gerenciais do processo de trabalho
aprimorados no Japão (toyotismo), procedeu-se à reestruturação produtiva cujas características
principais permitem, nas palavras de David Harvey (1992, p. 141), “a flexibilidade dos processos de
trabalho, dos mercados de trabalho e dos padrões de consumo, desatando-se os três nós górdios que
provocaram a crise econômica mundial”.
❑ Não se pode negar ou mesmo minimizar a importância da introdução das novas tecnologias e das
novas técnicas gerenciais da produção na determinação da nova configuração do mundo do trabalho,
também não se pode negar que o seu interior é, em grande parte, definidor da natureza e da
cristalização das tendências econômicas, políticas, sociais e culturais na medida em que as repercute
direta e indiretamente.
❑ A globalização da economia e a introdução de novas tecnologias de base microeletrônica, conjugadas
à adoção de novas técnicas de gerenciamento do processo de trabalho – reestruturação produtiva –
para permitir a inovação e, assim, a reconquista e conquista de novos mercados foram, portanto, as
soluções encontradas para o enfrentamento da crise.
4.2 A globalização da economia
❑ As transformações da economia mundial, que dão origem a um novo modo de acumulação do
capital, e as transformações do processo de trabalho exigem novos rearranjos institucionais e/ou
uma nova regulamentação de todas as esferas da vida:
[...] uma materialização do regime de acumulação, que toma a forma de normas, hábitos, leis, redes de
regulamentação etc. que garantam a unidade do processo, isto é, a consistência apropriada entre
comportamentos individuais e o esquema de reprodução. Esse corpo de regras e processos sociais interiorizados
tem o nome de modo de regulamentação. (LIPIETZ, apud HARVEY, 1992, p. 117)
❑ Nasce, então, uma nova forma de acumulação do capital em substituição ao período fordista de
organização do processo de trabalho que David Harvey denominou acumulação flexível e Manuel
Castells economia informacional e global, cujas características podem ser assim sintetizadas:
✓ Internacionalização ou globalização da produção e dos mercados.
✓ Acirramento da competição internacional
✓ Desenvolvimento de uma nova lógica organizacional, que resultou na transição da produção em
massa para a produção flexível, ou do fordismo ao pós-fordismo, graças às novas tecnologias que:
[...] permitem a transformação das linhas típicas da grande empresa em unidades de produção de
fácil programação que podem atender às variações do mercado (flexibilidade do produto) e das
transformações tecnológicas (flexibilidade do processo) (CASTELLS, 1999, p. 176).
✓ Formação de redes entre pequenas e médias empresas sob o controle de sistemas de
subcontratação ou sob o domínio financeiro/tecnológico de empresas de grande porte, ou
formação de redes multidirecionais entre pequenas e médias empresas, como as das regiões
industriais italianas, por exemplo.
✓ Maximização da produtividade baseada em conhecimentos, “por intermédio do
desenvolvimento e da difusão de tecnologias da informação e pelo atendimento dos pré-
requisitos para sua utilização (principalmente recursos humanos e infraestrutura de
comunicações)” (CASTELLS, 1992, p. 226).
❑ A globalização não pode ser apenas compreendida como fenômeno econômico, como lembram
tanto Ianni (1996) quanto Giddens (2005).
❑ Ela atinge todas as esferas da vida e transformam as culturas nacionais
❑ No plano político, a globalização se expressa na formação dos grandes organismos
internacionais, como:
✓ ONU - Organização das Nações Unidas
✓ OEA - Organização dos Estados Americanos
✓ OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte
✓ FMI – Fundo monetário internacional
✓ Banco Mundial -
✓ OCDE – Organização de Cooperação de Desenvolvimento Econômico
✓ OMC - Organização Mundial do Comércio
✓ de blocos econômicos regionais, ou
✓ na assinatura de acordos multilaterais de cooperação, além, é claro,
✓ das constantes viagens internacionais dos governantes à procura de mercados para os
produtos nacionais – bens primários, em sua maioria, quando se trata de governantes de países
em desenvolvimento.
❑ No plano cultural, a globalização se expressa na internacionalização dos produtos
culturais das grandes economias mundiais:
✓ciência,
✓ tecnologia,
✓música,
✓ cinema,
✓ livros etc.,
❑ Que têm o poder de transformar desejos e expectativas das populações dos países
subdesenvolvidos.
❑ Essa adoção de valores e padrões importados de consumo, comportamento e estética
tendem a esgarçar a identidade nacional.
❑ Por essas razões, a globalização tem provocado polêmicas acaloradas em todas as partes
do mundo e, sobretudo, nos meios acadêmicos dos países em desenvolvimento.
4.3 A restruturação produtiva ou a nova lógica organizacional

❑ As tecnologias da informação conjugadas às novas técnicas gerenciais do processo de


trabalho transformam o interior das fábricas e dos escritórios, imprimindo-lhes uma
nova face, cujas principais características são:
▪ Redução das dimensões físicas das unidades empresariais, em virtude não só do
desenvolvimento do processo de subcontratação e terceirização, como também da
adoção dos métodos japoneses de controle de qualidade total, cujos fundamentos se
expressam nos conhecidos 5 S:
Seiri: senso
de utilização
racional dos
recursos

Shitsuke:
senso de Seiton: senso
disciplina e de
autodisciplina organização
5S

Seiketsu: Seison: senso


senso de de limpeza e
saúde física e conservação
mental dos
equipamentos
▪ Redução da estrutura de autoridade hierárquica, com o surgimento de equipes
multifuncionais com autonomia para a tomada de decisões operacionais.
▪ Redução dos postos de trabalho
▪ Fim da execução de tarefas parcelares, simplificadas e repetitivas
▪ Forte envolvimento
▪ Adoção do princípio de aperfeiçoamento contínuo do processo
❑ O novo modo de acumulação do capital, gestado na crise econômica das últimas
décadas do século XX, dá origem a novos problemas, dificuldades e frustrações, mas
também a novas expectativas, interesses, desejos e tentativas de resolução de problemas
no infinito processo de reconstrução da História.
❑ Para os governos, os problemas sociais e políticos que daí decorrem atingem
dimensões extraordinárias e exigem maior eficiência administrativa e maior
competência política para firmar acordos nacionais e internacionais que permitam a
elaboração de novas estratégias para reverter a situação de crise que se expressa no:
✓aumento da violência urbana,
✓ nos deficits da Previdência Social,
✓ nos conflitos comerciais internacionais,
✓na ameaça de volta da ciranda inflacionária etc. e,
✓sobretudo, no sofrimento de milhões de famílias atingidas pela falta de perspectivas e
de esperança no curto prazo.
4.4 O desemprego e as novas relações de trabalho
❑O desemprego no Brasil, o país mais industrializado da América Latina e 9ª economia mundial, isto é,
que possui o 9° maior produto interno bruto (PIB) do mundo, tem se mantido elevado desde a década
de 1990.
❑ Em 1999, havia 7,6 milhões de desempregados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já na mesma pesquisa realizada em
2017, o número subiu para 13,8 milhões, o equivalente a 13,3% da população brasileira.
❑ O desemprego se apresenta sob diferentes formas e tem diferentes causas.
❑ As formas mais persistentes podem ser assim identificadas:
✓ Desemprego estrutural: provocado pela fraqueza dos investimentos produtivos e pela ausência de
mecanismos institucionais de distribuição mais igualitária da renda.
✓ Desemprego tecnológico: típico dos países mais desenvolvidos, introdução das mais sofisticadas
tecnologias
✓ Desemprego conjuntural: como o próprio nome indica, é consequência da queda temporária dos
investimentos produtivos em determinadas conjunturas econômicas, financeiras ou políticas, nacionais
ou internacionais

✓ Desemprego friccional: provocado pela mudança de emprego ou atividade dos indivíduos
com o desaparecimento e ao mesmo tempo surgimento de muitas ocupações profissionais;
✓ Desemprego temporário: ocorrido em razão da sazonalidade de algumas atividades
econômicas, sobretudo as relativas à agricultura e ao turismo
4.5 Novas relações de trabalho ou trabalho precário
❑No Brasil, a terceirização tem se desenvolvido desde a década de 1990, ocupando trabalhadores
demitidos das grandes empresas que investem a importância recebida do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS) na abertura de micro e pequenas empresas prestadoras de serviços,
❑ Quase sempre fadadas ao fracasso, apesar do apoio de órgãos governamentais – universidades e
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Sebrae –,
✓ Seja devido à inexperiência para gerir o próprio negócio,
✓ seja pela incapacidade para enfrentar a concorrência,
✓ seja por sua total dependência da empresa que primeiramente as contratou para desobrigar-se
do pagamento de encargos sociais a trabalhadores responsáveis por tarefas menos
tecnologicamente sofisticadas do processo produtivo.
❑ Os trabalhadores das empresas terceirizadas não terão oportunidade de ascensão profissional,
porque não existe quadro de carreira, sentem-se mais inseguros dada a fragilidade econômica e
financeira que as caracteriza, além de não terem acesso a alguns benefícios importantes
concedidos pelas grandes empresas.
❑Outras expressões do processo de precarização do trabalho são o regime de jornada
parcial, já em crescimento desde o início da década de 1980, em países industrializados, o
contrato temporário, o banco de horas e o desenvolvimento das ocupações, isto é, das
atividades autônomas ou informais.
❑ Em setembro de 1998, foi aprovada uma medida provisória regulamentando a contratação
de trabalhadores por tempo parcial, garantindo-lhes, de forma proporcional, todos os
direitos trabalhistas, como férias e décimo terceiro salário, assegurados aos empregados
por horário integral.
❑ Jornada parcial de trabalho significa salário parcial e direitos trabalhistas parciais, isto é,
trabalho precário.
❑ O contrato temporário de trabalho ou contrato de trabalho por prazo determinado foi
instituído pela Lei 9.601, de 21 de janeiro de 1998, que também instituiu o banco de horas,
com o qual a empresa deixa de pagar horas extras na medida em que o número de horas
trabalhadas acompanha as flutuações da produção e as demandas do mercado.
❑ Também do ano de 1998, a Medida Provisória 1.726 alterava a legislação anterior ao prever
a suspensão temporária do contrato de trabalho de dois a cinco meses, mediante acordo
entre patrões e empregados.
❑ Durante a suspensão do contrato, o trabalhador deve receber do Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT) uma bolsa de estudos equivalente ao seguro-desemprego (em média
80% do salário) para cursos de requalificação profissional e, dependendo do acordo, cesta
básica e ajuda de custo adicional.
❑ Passado esse período, o empregado deve ser recontratado e, se não o for, será demitido
com todos os direitos.
❑ A reestruturação das empresas implica, portanto, reestruturação dos mercados de
trabalho com aumento dos índices de desemprego, do mercado informal e precário, o que
significa afirmar, com o aumento do número de pessoas e de famílias atemorizadas ante as
dificuldades a enfrentar na luta cotidiana pela sobrevivência.
4.6 Reações dos trabalhadores
❑Nesse contexto nacional e internacional, os sindicatos perdem poder de barganha.
❑ As reivindicações reduzem-se a uma só: a defesa do emprego.
❑ Ao longo do século passado, os sindicatos eram combativos organizando movimentos
grevistas de confronto aberto ao capital, com os quais reivindicavam:
✓ aumentos salariais,
✓diminuição da jornada de trabalho,
✓ aposentadoria plena,
✓ participação efetiva na elaboração de políticas públicas para a melhoria das condições de
trabalho e de vida de todos os trabalhadores.
❑ Os sindicatos desse novo cenário tendem a adotar uma nova orientação: a da negociação
permanente, seja empresa por empresa, seja por setor, seja articulada entre governo,
sindicatos e empresários, na tentativa de garantir a estabilidade dos empregos.
❑ Considere-se, também, que os próprios trabalhadores têm reconhecido como falsa a
proteção que lhes dá, no caso do Brasil, a legislação trabalhista, porque o peso dos
encargos sociais dificulta a participação das empresas no jogo competitivo do mercado
internacional e, sobretudo, dificulta a vida dos próprios trabalhadores, que pagam o preço
pela proteção legal de sua força de trabalho com a ameaça frequente de desemprego e de
flexibilização das relações de trabalho.
❑ Embora seja polêmica a discussão sobre o peso dos encargos sociais compulsórios e
permanentes, reconhece-se que eles são muito altos, dobrando o preço da força de
trabalho.
❑ Além disso, como as empresas modernizadas tendem a ser muito bem-sucedidas, seus
lucros tendem também a ser altíssimos, possibilitando não só aumentos salariais
frequentes, como, sobretudo, o pagamento de salários extras, a título de participação nos
lucros, dispensando os trabalhadores do desgaste físico e emocional provocado por
movimentos grevistas de natureza reivindicatória.
❑ Daí a importância de se oferecer, no país:
✓ 1 - cursos de empreendedorismo,
✓ 2 - incubadoras tecnológicas e de economia solidária
✓ isto é, de cooperativismo, para que os hoje excluídos do mercado formal de trabalho ou
submetidos a relações precárias de trabalho possam vislumbrar um futuro mais digno.
❑ Além disso, os trabalhadores deverão exigir dos responsáveis a efetivação daquelas
políticas públicas que, como já se referiu, são as estratégias possíveis, nesse cenário, para a
promoção de uma sensível melhoria nas condições de trabalho e de vida da maioria.
4.7 Sindicalismo no Brasil

❑ Não se pretende, aqui, reconstituir a história do sindicalismo brasileiro, mas apenas


apresentar os seus traços estruturais fundamentais, a fim de fornecer subsídios básicos
para a compreensão da luta dos trabalhadores pela melhoria de suas condições de
trabalho e de vida, necessária para o enfrentamento dos movimentos reivindicatórios com
os quais o futuro administrador terá de lidar.
❑ Um ano após a criação do Ministério do Trabalho pelo governo provisório de Getúlio
Vargas, em 1930, foi instituído o modelo sindical no Brasil pelo Decreto-Lei 19.770.
❑ Apesar de sofrer algumas alterações ao longo do século XX, sobretudo na Constituição de
1988, o modelo sindical em vigor guarda as mesmas características principais do momento
de seu nascimento e que permitem qualificá-lo de corporativo ou corporativista;
❑Assim, durante décadas, os movimentos sindicais foram cerceados pelo governo federal e
se, naquele período, foi registrado, em algum momento, um crescimento do número de
filiados, a explicação encontra-se no fato de que os sindicatos brasileiros tornaram-se:
✓ verdadeiros organismos de assistência social,
✓ com a prestação de serviços jurídicos trabalhistas dos sindicalizados,
✓ de serviços médicos e odontológicos,
✓ de lazer em suas colônias de férias, bailes, festas e serviços pessoais, como:
✓manicure,
✓ cabeleireiro,
✓ barbeiro,
✓podólogo,
❑ em vez de serem o locus de defesa dos interesses econômicos dos trabalhadores e,
portanto, de luta política democrática.
❑ De qualquer maneira, o que aqui se quer registrar e ressaltar é o fato de que o modelo
sindical brasileiro sempre se constituiu num verdadeiro obstáculo para o avanço das
conquistas reivindicatórias dos trabalhadores, mesmo em conjunturas econômicas
muito favoráveis, ao impedir o nascimento e o desenvolvimento de uma organização
propriamente democrática de representação de interesses.
5 Novas competências profissionais
❑A reestruturação produtiva transforma a natureza do trabalho e define o novo perfil do trabalhador
do século XXI, cujas características são muito diferentes daquelas dos trabalhadores da organização
taylorista e fordista do processo de trabalho.
❑ As tecnologias da informação e as novas técnicas gerenciais estão exigindo, portanto, um
trabalhador que seja capaz de efetivar conhecimentos, ou seja, capaz de utilizá-los corretamente na
solução de problemas do dia a dia do trabalho e no processo de tomada de decisões que hoje
devem ser rápidas devido à compressão espaço-tempo provocada pela informatização.
❑ Trata-se, assim, do reconhecimento da necessidade de se pôr fim ao problema universalmente
constatado do analfabetismo funcional.
❑ Diplomas não mais expressam a real aquisição da capacidade de efetivar conhecimentos na
solução de problemas, porque o processo de avaliação dos candidatos a um emprego é cada vez
mais determinado pela capacidade de resolução de problemas simulados do que pela apresentação
de um currículo pontuado de títulos formalmente adquiridos, como também pela demonstração do
preenchimento de requisitos pessoais de ordem sociomotivacional que permitem a integração dos
trabalhadores às equipes multifuncionais e, portanto, heterogêneas.
❑ Sem dúvida alguma, somente um ensino de boa qualidade – sobretudo o Ensino Fundamental – pode
garantir a formação desse novo trabalhador cuja virtude será a de ter aprendido a aprender, adaptando-
se rapidamente às novas situações para, de fato, encontrar-se em condições intelectuais, mentais e
sociomotivacionais de trabalhar nessas condições.
❑ O segundo aspecto da questão refere-se à substituição do conceito de qualificação profissional pelo
conceito de competência.
❑ E essas competências para trabalhar nas novas condições resultam do desenvolvimento das
potencialidades:
✓de inteligência,
✓criatividade,
✓espírito crítico e
✓iniciativa,
❑ promovido por uma escola na qual se aprendeu a aprender e que, simultaneamente, permite a
transformação do jovem estudante num verdadeiro cidadão, capaz de tornar-se sujeito da História e
autorrealizar-se.
❑ As novas competências, isto é, os novos conhecimentos e capacidades exigidos dos trabalhadores pela
reestruturação do mercado de trabalho não têm, portanto, apenas valor econômico.
ATÉ AQUI O SENHOR
NOS AJUDOU!

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