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2 PROBLEMATIZAÇÃO
Quais as formas de resistência à escravidão encontradas pelos africanos e afro-
brasileiros escravizados na Amazônia portuguesa?
A escravidão do negro africano foi notória em todas as regiões do Brasil, e a
Amazônia não ficou ilesa, porém, a presença negra na Amazônia se tornou intensa a
partir da criação da Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e do Maranhão em
1755, no período pombalino, onde se estimulou a produção agrícola na região, e os
africanos foram sendo arrancados do seu continente e trazidos em condições insalubres
para a região amazônica.
Desse modo, a motivação da presente investigação encontra seu ponto de apoio
na ideia comumente disseminada de que a Amazônia colonial teria sido pouco ou quase
nada construída pelas mãos de negros escravizados e que sua população predominante
era comporta de colonos e índios e que, ainda, estes formavam a base colonial de
ocupação europeia na Amazônia. Deve-se levar em consideração a argumentação da
baixa quantidade de negros na Amazônia, porém é preciso analisar como esses números
são utilizados, quais os parâmetros aplicados para tratar essa quantificação. Mas resta
saber como o negro se coloca e se impõe nessa sociedade colonial.
Nesse sentido, Rosa Elizabeth Acevedo Marin e Flávio Gomes (2003) destacam
que estratégias de fugas, alianças, conflitos, redes de comércio e proteção eram comuns.
E é justamente esses aspectos de que trata a presente pesquisa. Consideramos que a
questão da resistência foi um componente importante no processo de formação da
identidade desses negros. No século XVIII, nas regiões do Maranhão e Grão-Pará,
foram descobertos mocambos com populações refugiadas com mais de 20 ou 30 anos
nas proximidades dos rios. (MARIM; GOMES, 2003). Além disso, aquilombados
realizavam o plantio de roças extensas de arroz, milho e farinha para comercializarem
com franceses. E não necessariamente ficavam isolados, pois em certos mocambos,
habitantes com mais de um ano de mocambo tinham permissão para frequentar as vilas,
esses se aventuravam em datas comemorativas e estabeleciam contato com inúmeros
escravos, mas os escravos não os eram obrigados a acompanha-los, porque era de sua
decisão a escolha. (MARIN; GOMES, 2003).
Portanto, viver numa região fronteiriça como a da Amazônia, com certa
fragilidade no controle das suas fronteiras, não é difícil de imaginar a constante
movimentação de fugas de escravos e a formação de mocambos. Nesse sentido,
pensamos em como a fronteira étnica contribuiu para a construção do que era ser negro
nessa região, considerando as relações hierárquicas e as resistências. Por termos
decidido incluir os conjuntos de atuações que formavam essa sociedade colonial,
traçando uma relação entre negros, índios e o colonizador.