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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

RELATÓRIO FINAL*
Período: setembro de 2021 a agosto de 2022
(máximo: 10 páginas, com ênfase no item “resultados e discussão”)

*Enviar para o e-mail pibicufrr@gmail.com no formato PDF

Categoria “PIBIC-CNPQ” ( ) Categoria “PIBIC-UFRR” ( )

Categoria “PIBITI-CNPQ” ( ) Categoria “PIBITI-UFRR” ( )

Categoria “PIBIC-EM-CNPq” ( ) Categoria “PIBIC-EM-UFRR” ( )

Categoria “PIBIC-VOLUNTÁRIO” ( ) Categoria “PIBITI-VOLUNTÁRIO” ( )

Categoria “PIBIC-EM-VOLUNTÁRIO” ( )

1. Informações Pessoais
Nome do Aluno: Welington Fuma de Oliveira
Unidade Acadêmica: UFRR (X) CAP ( ) EAGRO ( ) Curso: História
Iniciou no programa em:
Nome do Orientador:
Unidade Acadêmica: Curso:
2. Dados do projeto
Título: A ESCRAVIDÃO INDÍGENA E AFRICANA NA FORMAÇÃO DA ESTRUTURA
COLONIAL NA AMAZÔNIA PORTUGUESA
Grande Área do Conhecimento (Consultar CNPq):
Área do Conhecimento (Consultar CNPq):
Sub-área (Consultar CNPq):
Local de Execução:
3. Tópicos que devem conter no relatório:
INTRODUÇÃO
Este relatório tem como princípio explanar as necessidades realizadas e resultados alcançados através
do Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica PIBIC/UFRR.
O tema surgiu na necessidade de se aprofundar os conhecimentos científicos sobre a escravidão
africana, porém, fazendo uma conexão com mão de obra indígena no Grão-Pará e Maranhão
principalmente a partir da segunda metade do século XVIII. A presença africana na Amazônia se
intensifica com a criação da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão que foi uma
empresa privilegiada, de carácter monopolista, criada pelo Marquês de Pombal, na segunda metade
do século XVIII buscando vender escravos africanos em grande escala nas capitanias do Grão-
Pará e Maranhão, com isso desenvolvendo a agricultura e fomentando o comércio. 
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OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é refletir sobre a utilização da mão de obra indígena e africana no período
colonial, na Amazônia Portuguesa, especialmente a partir da segunda metade do século XVIII, com a
implementação das reformas pombalinas. A conquista e ocupação da Amazônia pelos portugueses, no
período colonial, foi iniciado durante o período de vigência da União Ibérica (1580 e 1640), e no
decorrer de todo o período colonial da Amazônia a principal mão de obra utilizada foi a indígena
escrava ou livre, mas não foi à único presente na região, pois não se pode negligenciar a presença
africana já no século XVI, e se intensificando a partir da criação da Companhia Geral do Grão-Pará e
Maranhão (1755-
1778) instituída por Marquês de Pombal com finalidade de comercializar os produtos da Amazônia e
abastecer com mão-de-obra africana as capitanias do Grão-Pará e do Maranhão.
Em relação ao tráfico, muitas embarcações saídas de Lisboa cruzaram o Atlântico rumo à região
amazônica, algumas não carregavam apenas produtos manufaturados trazidos nos porões de cargas,
mas escravos das diferentes áreas da costa africana. Os portugueses compravam escravos na África,
vendiam aos colonos na Amazônia e também houve um tráfico interno entres as capitanias. Além
disto, ao mesmo tempo compravam as drogas do sertão, remetendo-as a Portugal. Parte desses
gêneros certamente servia para aquisição de mais escravos.
A Coroa, ao longo da primeira metade do século XVIII, participou ativamente na organização do
tráfico negreiro, seja por meio de contrato com os homens de negócios ou promovendo a introdução
de negros à custa da Fazenda Real.
Dessa forma, para chegar ao objetivo estamos criando uma relação clara de como se desenvolveu a
chegada dessa mão de obra na Região Amazônica, o papel da Companhia Geral de Comércio do
Grão-Pará e Maranhão, a tentativa de substituição da mão de obra indígena para africana, Criação da
lei do Diretório dos Índios, epidemia de varíola, a qual finalidade seu trabalho foi destinado, a relação
da quantidade de africanos que possivelmente foram introduzidos nas duas regiões e suas
consecutivas fugas para criarem mocambos nas regiões de fronteira e entre outras conjunturas que
envolvem a escravidão africana na Amazônia.

METODOLOGIA
A esse respeito, metodologia realizada na pesquisa no primeiro momento da investigação foi o
levantamento e discussão da historiografia pertinente ao tema, desse modo
lançamos mão de trabalhos clássicos e contemporâneos. A utilização do trabalho compulsório ou
escravo ensejou, por outro lado, formas de resistência por parte dos agentes envolvidos,
especificamente negros e indígenas. Dessa forma, para compreender e analisar as possibilidades de
resistência ao processo de dominação observado a partir da historiografia.
No segundo momento focamos em analisar duas fontes encontradas no Projeto Resgate do Arquivo
Histórico Ultramarino na página eletrônica da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, com maior
enfoque na mão obra escrava negra.

ADAPTAÇÕES REALIZADAS EM FUNÇÃO DA PANDEMIA DO COVID-19 (SE HOUVER)

Devido as medidas de segurança adotadas no senário da pandemia de COVID-19, as


comunicações ocorreram semanalmente pelo meio virtual: WhatsApp, Gmail, Google Meet.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa desenvolvida “A ESCRAVIDÃO INDÍGENA E AFRICANA NA FORMAÇÃO DA
ESTRUTURA COLONIAL NA AMAZÔNIA PORTUGUESA” buscou analisar especialmente
o período de (1750-1800), período marcado por inúmeras reformas pombalinas e dentre entras a
criação da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão responsável comercialização e
introdução de africanos em maior escala.
Desse modo, no início da pesquisa bibliográfica notamos que Cardoso (1984) expõe que a região
amazônica representa uma grande extensão territorial, e que os europeus encontraram grande
dificuldade para explorarem a floresta quando chegaram durante o século XVII. Os europeus se
depararam com uma floresta fechada de difícil acesso que atrapalhava na navegação marítima e
terrestre. A esse respeito, Salles (1974) compactua que política de conquista da Amazônia não foi
fácil, e acrescenta que ao longo dos séculos XVI e XVII a principal mão de obra escrava ou livre seria
indígena com uma legislação que podemos caracterizar com pendular: ora autorizava, ora proibia a
utilização dessa força de trabalho. A utilização desta mão de obra aqueceu, a disputa pelo acesso e
controle dos ameríndios por colonos e jesuítas que lançavam mão de inúmeras maneiras para usufruir
do trabalho indígena.
A perseguição e a escravidão dos indígenas que expandiam cada vez mais eram justificadas pela
primazia dos colonos em comprar escravos negros, que apresentava uma altíssima cotação na
Amazônia. Ademais, os colonos do Grão-Pará assim como no Estado do Brasil, se negava ao trabalho
braçal, transferindo através da força o trabalho a outros grupos. À vista disso, podemos dizer que a
utilização da força de trabalho indígena foi fundamental para que o processo de conquista da Coroa
Portuguesa na região amazônica fosse possível, porque estiveram presentes nas construções da grande
maioria das fortalezas, fortes, vilas e coleta da principal economia do contexto, as chamadas “drogas
do sertão”, que para sua coleta era necessário à penetração pela floresta e o conhecimento da região.
E conforme o contato do colonizador com os indígenas se intensificava, o mesmo foi se
tornando fatal aos povos nativos. Para além das guerras, apesar da extrema violência experimentada a
partir de alguns contatos, com o passar do tempo, esta não foi à única razão para o desaparecimento de
alguns e mortandade entre os indígenas. O contato, fosse amistoso ou violento, desencadeou uma série
de epidemias que acabou contribuindo para uma redução na disponibilidade de indígenas no Baixo
Amazonas. A esse respeito, em meados da década de (1649 e 1654) já havia notado a redução de
indígenas em combates e doenças, e por volta 1694 começa a se espalhar queixas sobre a morte de
trabalhadores, escravos e livres resultante da propagação de uma epidemia de bexigas na colônia da
Amazônia (CARDOSO, 1988). Cardoso (1984) descreve que por meados da década de 1750, ocorreu
uma epidemia de bexiga mais longa ainda, iniciada com a chegada de africanos trazidos pela
Companhia de Comércio, em razão das péssimas condições sanitárias que esse tráfico era realizado e
deixando muitas vítimas até mesmo ao longo das rotas do tráfico negreiro.
Desse modo, percebemos que o contato dos europeus com os ameríndios na região
Amazônica acabou trazendo grande letalidade seja por meio de guerras ou doenças. A mortandade da
principal força de trabalho fomentava a necessidade de repor a mão de obra que se tornava cada vez
mais escassa. Podemos dizer esse problema sempre foi presente, no Estado do Grão-Pará, e os jesuítas
eram os principais arregimentares dessa força de trabalha. O problema é que os colonos também
desejavam ter mais controle sobre os ameríndios, e essa disputa de acesso ao controle dos nativos
desenvolveu uma tensão política na história da região Amazônica. O controle acabou gerando
inúmeros conflitos entre colonos e missionários que foram inevitáveis pela rivalidade de quem
controlaria a mão de obra dos nativos no Período Colonial, que era facilitada por uma legislação
confusa que ora proibia, ora autorizava, ou simplesmente omitia. Em relação a isso, não é de se
espantar que em determinados momentos a Coroa portuguesa criasse algumas formas para o
recrutamento dos indígenas: primeiramente vamos ter as guerras justas, justificada nos casos que as
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tribos atacassem os portugueses ou se negavam a aceitar a evangelização imposta pelo europeu,


podendo ser instituída a guerra justa. Ademais, era comum que as guerras entre tribos inimigas fossem
incentivadas pelo colonizador capturando inclusive mulheres e crianças; também temos o “resgate”,
modalidades que os portugueses trocavam objetos por indígenas capturados nas guerras entre tribos,
esses seriam “regatadas” pelos portugueses para serem “salvos”. Por fim temos os descimentos,
modalidade que os nativos aceitavam ser “descidos” sem apresentarem resistência para junto das
povoações portuguesas, local que seriam catequizados e transformados em “cidadãos”, sendo úteis a
Metrópole Portuguesa. O objetivo dos descimentos era justamente a conversão, onde passariam a
morar nas aldeias subordinados ao missionário, sobretudo os jesuítas, que faziam a administração da
aldeia e o processo de catequese desses nativos.
Cardoso comenta que nessas modalidades era necessário apresentar certificados em escrito
informando a legalidade da escravidão, daí se vem o nome escravo de registro (CARDOSO, 1984).
Entretanto essas leis só eram válidas na teoria, porque os colonos se utilizavam de várias maneiras
para obter escravos, e muitas das expedições ameaçavam os nativos com armamentos, isto dava
vantagens aos portugueses e aos nativos aliados mesmo que estivessem em menor número no
combate, e na menor reação faziam o aprisionamento em nome da lei, valendo-se da legalidade da
guerra justa.
Nesse sentido, podemos dizer questão da liberdade ou escravidão dos ameríndios sempre se
constituiu em grave problema para a administração portuguesa na região Amazônica, e a legislação
confusa a respeito da escravidão ou liberdade se manteve em todo o período anterior as políticas
pombalinas implementadas na Amazônia. Isso porque durante o período pombalino a questão da
utilização da mão-de-obra passou por mudanças e por volta de 1755 transcorreu a elaboração de uma
lei criada por Marquês de Pombal que declarou extinta a escravização dos nativos e elaborou
estratégias para isso. Mas foi somente com a lei que estabeleceu o Diretório dos Índios, publicados em
1757, que ocorreu reais mudanças na política indigenista portugueses na Amazônia. A política
indigenista da “liberdade geral” adveio em decorrência do Tratado de Madri (1750) que institui a
delimitação das fronteiras entre as colônias portuguesa e espanhola, pois os portugueses haviam
ultrapassado o Tratado de Tordesilhas ainda vigente, principalmente quando do estabelecimento da
União Ibérica. A nova demarcação fronteiriça levava em consideração o uti possidetis,. a ocupação
do território, ocupação esta que deveria ser feita por súditos e não por indígenas aldeados em missões
realizadas pelas ordens religiosas. Para assegurar as terras elaboraram-se algumas medidas: A criação
da Companhia Geral de Comércio do Maranhão e Grão-Pará, visando comercializar os produtos da
Amazônia e abastecer com mão-de-obra africana a região; Por um fim a escravidão indígena e retirar
o poder temporal dos missionários sobre as aldeias indígenas, em seguida expulsar os jesuítas;
Também buscou uma real dominação portuguesa sobre as terras adquiridas com o Tratado de Madri,
incentivando a exploração das drogas do sertão e tentativas de plantação de arroz, café, algodão e
cacau.
Dessa forma, como o Grão-Pará era pouco habitado, muitas das reformas pombalinas na
segunda metade do século XVIII, tinham a iniciativa de transformar os indígenas em súditos de Vossa
Majestade e garantindo a posse do território. Diante dessa conjunção é que Coelho (2017) destaca a
elaboração do Diretório dos Índios, sendo a principal reforma pombalina na Amazônia, determinando
a liberdade geral dos indígenas e a introdução da mão de obra cativa africana para substituir os
nativos.
De acordo com o historiador Mauro Cezar Coelho (2017), o Diretório dava continuidade a
outras duas leis indigenistas de 1755: a primeira lei determinou o fim da escravidão indígena, mas
também estabeleceu os casos nos quais a utilização do trabalho dos nativos seria permitida; e a
segunda retirava os poderes das autoridades temporais dos missionários, contudo mantinha-os como
autoridades religiosas nas mesmas aldeias que antes da lei comandavam. Essas duas leis já
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demonstravam um pouco do que seria o Diretório, que diminuiu parte dos poderes que os religiosos
tinham sobre os nativos, em especial o papel que os jesuítas desempenhavam nas aldeias, e sua
expulsão em 1759. O historiador destaca que anteriormente os religiosos gozavam de liberdade e
autonomia, eram os principais arregimentadores de mão de obra indígena. Após a liberdade dos
indígenas, a administração dos índios aldeados que, era de exclusividade dos religiosos, tanto no que
diz respeito ao governo espiritual quanto ao temporal e político dos aldeamentos, não seria mais
tarefas das ordens religiosas, mas dos agentes do Estado português e os índios que foram
denominados de principais, seriam responsáveis pelo incentivo ao trabalho dos nativos recebendo uma
pequena parte da produção como gratificação pelo serviço prestado. (COELHO, 2017).
Mesmo com as inúmeras mudanças que ocorreram com a Lei do Diretório sobre os aborígenes,
ela foi revogada em 1798. O fato é que a política pombalina de incorporação dos indígenas no Norte
do Brasil não foi animadoras. As fugas de indígenas dos aldeamentos rumo aos sertões e seu contato
com a população de negros traficados que haviam crescido no contexto os quais também praticam
fugas, acabou resultando na elaboração mocambos e quilombos que se espalham adentro da Amazônia
em busca de proteção contra o colonizador. Além disto, o Diretório ajudou a desencadear epidemias,
consequentemente, uma grande letalidade a população em geral, especialmente, os nativos devido a
maior aproximação do europeu a esses povos fixados nas vilas. A grande mortandade dos nativos
acabou por afetar o povoamento, gerando uma demanda ainda maior por mão de obra de africanos,
necessidade que não era recente no Grão-Pará.
Porém, essa substituição da força de trabalho indígena para africana nunca ocorreu de
imediato e tampouco totalmente quando das tentativas de estabelecimento da liberdade indígena.
Desde que os portugueses iniciaram o processo de colonização do Grão-Pará existia a necessidade da
mão de obra africana, o historiador Vicente Juarimbu Salles (1971) destaca que os missionários,
principalmente os jesuítas, desempenharam um importante papel nessa lenta tentativa de infiltrar
escravizados africanos nas comarcas, sentia-se uma grande resistência dos mercadores urbanos e
preadores de escravos em aceitar a substituição porque lucravam muito com a escravidão do gentio. O
cabedal que o indígena era comercializado com os lavradores era ínfero se comparado ao preço dos
escravizados africanos que vinham em péssimas condições de higiene, saúde e alimentação. Segundo
o historiador, um escravo vindo do continente africano em 1682 custava em média 1000 mil réis,
enquanto um nativo da região amazônica custava algo em torno de 30 mil réis. (SALLES, 1971).
Para Salles (1971), o gentio na condição de escravo, “nunca representou um bom emprego de
capitais. Múltiplos fatores indicavam a rápida substituição dessa mão-de-obra mais abundante e
barata, mas pouco duradoura”. (SALLES, 1971, p. 14). O desejo por essa substituição foram muitos,
todavia, um dos principais foi a alta mortandade dos indígenas com epidemias de bexiga que assolava
o Estado do Grão Pará e Maranhão desde o primórdio da colonização portuguesa na Amazônia. A
enfermidade gerou uma crise demográfica na população do Grão-Pará, em especial o gentio.
Mesmo com a urgência “o número de escravos Africanos no século XVII de fato foi pouco
significativo a outras regiões da América portuguesa” (apud, MEIRELES, 1983; SALLES, 1998). À
vista disso, em 1679, foi realizada a sugestão do Conselho Ultramarino que enviasse africanos de
Angola que estivessem em Portugal. Para solucionar o problema, em 1679 foi criada a Companhia de
Estanco do Maranhão (1682-1684) responsável pelo tráfico, em troca a companhia ganharia o
monopólio das exportações, a empresa ficou responsável por introduzir no espaço de 20 anos, 10 mil
escravos, sendo 500 ao ano, que deveriam ser comercializados ao preço de 100$000. Apesar disso,
durante o período de atuação, a Companhia não foi capaz de atender as necessidades da região e os
poucos africanos desembarcados supriam apenas a demanda do Maranhão, deixando o Pará, segundo
Salles, em estado de calamidade e por isso foi extinta em (1684). (SALLES, 1971).
Perante o cenário, em 1692, um novo contrato foi estabelecido com o objetivo de resolver o
problema, negociou-se então, com mercadores da companhia de Cabo Verde e Cachêu. De acordo
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com Salles (1971), “os contratos com a Companhia de Cachêu estipulavam a introdução de 145
escravos anualmente, que deviam repartir-se entre as capitanias do Maranhão e Grão-Pará, o que nem
sempre ocorria”. (SALLES, 1971, p. 47). O preço estabelecido foi de 155 mil réis por cada africano.
Entretanto, os moradores insatisfeitos com o elevado custo e que os “melhores” escravos eram
desembarcados no Maranhão e poucos chegavam ao Pará. Esses contratos não tiveram muito sucesso,
abrindo espaço para a iniciativa particular, outra modalidade da entrada de escravos, que segundo o
autor, foi “realizado irregularmente durante todo o período do tráfico” (SALLES, 1971, p. 50).
Como podemos ver, a presença africana estava evidente na Amazônia nas primeiras décadas
da colonização, só que era pouco expressiva. A esse respeito, trabalhos clássicos que abordam a
temática da presença africana na Amazônia no período colonial como os de Manuel Nunes Pereira e
Arthur Cezar Ferreira Reis, procuram fundamentar, como menciona o historiador Rafael Ivan
Chambouleyron (2006), que a pouca presença africana no período se “explica pela própria
inconsistência dos empreendimentos agrários na região. Essa explicação se adaptaria perfeitamente ao
contexto do século XVII.” (CHAMBOULEYRON,2006, p. 80).
Assim sendo, somente a partir da elaboração da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão
(1755- 1778), criada no contexto da implantação do Diretório, fundada para desenvolver a agricultura
e também a atividade comercial, ela destacou-se por incrementar a entrada de escravizados africanos
em quantidades significativas na região Amazônica, nesse período ocorreu a regulamentação do
tráfico que trouxe escravos dos diferentes portos da África. Antes da sua existência, o tráfico era
irregular e em pequenas quantidades. Nessa perspectiva, de acordo com a análise de Salles (1971), a
Companhia de comércio criada por Pombal foi responsável por desembargar entre, 1766 e 1777,
quase 15.000 escravos negros (embora muitos tenham passado para Mato Grasso).
Portando, dos quase 15.000 escravos africanos desembarcados no Grão-Pará as estimativas
apontam que 1/3 foram levados para o Mato Grosso por meio marítimo para serem vendidos em ouro
e não em gêneros exportáveis, como era comum serem vendidos no Pará e Maranhão. Isso porque “o
projeto pombalino de ampliar o emprego da mão-de-obra escrava em substituição à mão-de-obra
indígena não surtiu os efeitos desejados.” (SAMPAIO, 2011, p. 88). Uma vez que não podemos
esquecer à primazia de boa parte dos colonos em comprarem esses escravos africanos em oposição ao
baixo valor da mão-de-obra indígena. (SALLES, 1971; SAMPAIO, 2011).
Em relação ao preço desses nativos africanos, Salles (1971) bem explicitou que o valor dos
escravos africanos variava bastante, entretanto a cotação dos escravos vendidos Grão-Pará e
Maranhão eram maiores do que em qualquer outra do Brasil. O desejo por africanos para suprir a mão
de obra do indígena era tão grande, que chegaram a serem vendidos em praça pública em São Luís do
Maranhão pelo valor de 180 mil réis. Os africanos que estravam no Pará, eram voltados ao trabalho de
bens de exportações: cacau, cana-de-açúcar, arroz, tabaco e algodão. Esse tipo de economia só podia
ser estabelecido de forma mais abundante aos redores de Belém, ou seja, a presença da mão de obra
africana no Pará ficou restrita a uma pequena área que foi possível desenvolver a agricultura, isso
porque as experiências de cultivo em larga escala na região não deram bons resultados e se voltando
especialmente para a extração das drogas dos sertões. (SALLES, 1971).
A Companhia criada por Marquês de Pombal na segunda metade do século XVIII foi
responsável pelo crescimento da mão de obra africana na Amazônia. Mas após a morte do rei de
Portugal D. José I, protetor de Pombal, quem assumiu o trono de Portugal foi sua filha D. Maria I. Em
25 de fevereiro de 1778, a nova rainha acabou com a Companhia e seu monopólio abrindo o comércio
marítimo para a iniciativa particular com a livre concorrência. (DIAS, 1970).
Além disso, Dias (1970) relaciona a Companhia de Comércio do Grão-Pará ao intenso
povoamento a partir da segunda metade do século XVIII, sua criação representou o melhor
aproveitamento do econômico da terra, maior convivência com o exterior, melhor defesa do
patrimônio da Coroa, formaram-se vilas, várias instituições e entres outras transformações.
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Desse modo, percebemos que o Grão-Pará ao longo de sua colonização recebeu africanos
escravizados por diferentes meios e pertencentes a etnias distintas, capturadas na rede comum dos
mercadores de almas. A esse respeito, Salles (1971) chama a atenção para a dificuldade de determinar
a origem das diferentes nações de africanos que foram introduzidos no Pará e Maranhão, porque
somente com um levantamento se pode com precisão afirmar os estoques étnicos que desembarcados
à região. Mas mesmo a dificuldade, Vicente Salles apresenta alguns dados que encontrou em sua
pesquisa. De acordo com o autor, em uma das cartas analisadas relatavam escravos vindo de Angola
em 1759, “nesse ano chegou o navio de Nossa Senhora da Conceição que embarcara com 500 negros
da Nação Moxicongo, dos quais 132 morreram na viagem e os 368 restantes, diz a carta de 2 de
agosto de 1759, chegaram “com febre, e tão magros que mais pareciam esqueletos que pessoas
viventes”. A documentação que aborda o assunto pode vista abundantemente em manchetes de jornais
nos Estados de São Luís e Belém. (SALLES, 1971).
Além disso, o historiador compartilha que teve a oportunidade de ter acesso a 69 inventários
no Cartório de Cachoeira e 10 em Soure, localidade da ilha de Marajó, ao analisar tais fontes,
percebeu que muitos escravos até sabiam informar a nação a qual pretendiam, enquanto outros “não
sabiam” dizê-la. Ademais, notou que muitos africanos apenas citavam que pertencia a tal nação ou
costa, não especificando o local de sua origem. Entretanto, muitas das tribos africanas se utilizavam
de bordadores típicos da sua região para se identificarem em si. (SALLES, 1971).
O fato é que no âmbito do tráfico transatlântico, seja por meio de particulares ou pela
Companhia Geral de Comércio com a intervenção da Coroa portuguesa, a presença africana no Grão-
Pará comparada a outras praças negreiras do Brasil foi modesto, tendo crescido no decorrer da
segunda metade do século XVIII até as primeiras décadas do século XIX. E sobreviveu ao longo dos
anos, com a participação da Coroa e de particulares. E dessa forma montou-se estruturas econômicas
em todos os setores sob o trabalho escravo de africanos.
A presença a Africana esteve presente desde o século XVI no processo de colonização da
Amazônia pela Coroa Portuguesa, só que foi pouco quantitativa inicial (SAMPAIO,2011). Sem
dúvida foi a Metrópole Portuguesa que desembarca a maior quantidade de nativos africanos na região
Amazônia, mas a presença a africana na localidade é anterior à atuação portuguesa nesse tráfico
negreiro na região, pois de acordo Arthur Cezar Ferreira Reis, os ingleses foram os primeiros a
introduzirem africanos na Amazônia, por volta dos séculos XVI e XVII para desenvolvimento da
agricultura, ou seja, o primeiro carregamento de nativos africanos ocorreu por intermédio dos ingleses
para o extremo norte do Brasil e não dos portugueses, embora o tráfico negreiro tenha se intensificado
com atuação da Coroa Portuguesa. (REIS, 1961). E conforme os portugueses desenvolvem suas bases
de colonização da região, progressivamente introduz a mão-de-obra africana através dos assentos,
homens de negócio, ou por meio de companhias de comércio, responsáveis pelo comércio de escravos
na Amazônia, especialmente no período pombalino.
Os africanos desembarcados na Amazônia assim como os indígenas reagiram constantemente
ao sistema de escravidão. As fugas de escravos indubitavelmente estiveram presentes desde a chegada
dos primeiros nativos africanos e perseveraram no decorrer que o tráfico se intensificou na região. À
medida que esses recém-chegados conheciam a região, muitos fugiam e construíam ou participaram
da montagem de quilombos, que são conhecidos por “mocambos” no Pará. E segundo Rosa Elizabeth
Acevedo Marin e Flávio Gomes (2003), os mocambos giravam em torno de práticas de solidariedade
entre negros, indígenas e soldados pretos contra dominação colonial. Localizados próximos das
fronteiras e coladas de rios com adversidades geográficas de acesso com várias rotas de fuga.
As fronteiras por serem espaços de litígio, são áreas estratégicas para a instalação dos
mocambos, pois os escravos fugidos poderiam atravessar a delimitação territorial para escapar da
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administração colonial de um país ou do outro, visto que não se pode simplesmente atravessar a
fronteira. Ou seja, a tensão entre a França e Portugal favorecia, de certo modo, os escravos fugidos.
Por outro lado, havia acordos entre as duas metrópoles para tentar conter as fugas e a garantir a
devolução de cativos às colônias onde seus donos residiam.
Ademais, Rosa Elizabeth Acevedo Marin e Flávio Gomes (2003) apresentam “a fronteira
enquanto campo de relações sociais, culturais e políticas renovadas, plena do movimento dos atores
dessa experiência histórica, notadamente pelo contrabando e pela formação de comunidades de
fugitivos.” (MARIN; GOMES, 2003, p. 71). A partir disso, expõem que a maior parte dos mocambos
era de africanos, mas havia a presença de alguns indígenas, os habitantes realizavam travessias de
florestas, rios, montanhas e cachoeiras em busca de refúgios. Os historiadores apontam que os negros
“contavam com a ajuda de cativos das plantações, vendeiros, índios, vaqueiros, comerciantes,
camponeses, soldados negros, entre outros.” (MARIN; GOMES, 2003, p. 72).
É-nos exposto que os mocambos do Grão-Pará, principalmente os das áreas de fronteiras,
não só cresciam e se espalhavam pela região, como também aperfeiçoavam suas estratégias de
defesas. Consequentemente os arredores de rios e igarapés nessas extensas regiões por volta de 1749
estavam atulhados de fugitivos, como o caso do rio Anauerapucu que deságua no Amazonas e atual
região do Estado do Macapá que foi fundado em 1751 durante o governo de Francisco Xavier de
Mendonça Furtado.
O fato é que de acordo com Marin e Gomes (2003), existiram diversos grupos de mocambos
em torno do rio Araguari que é limitado pelo estado do Pará, a oeste e sul e pela Guiana Francesa, a
norte. As habitações eram de tamanhos variados e separados por “diferenças étnicas, sendo alguns
mais antigos, outros mais recentes; uns só tinham africanos ou apenas determinados grupos étnicos
africanos, como era o caso do mocambo acima designado como de ‘nação Benguela’.” (Marin,
Gomes, p. 98 2003). Os mocambos do Araguari preocuparam os habitantes, principalmente do Grão-
Pará, chegando ao século XVIII afirmações aos portugueses que havia populações refugiadas com
mais de 20 ou 30 anos nas proximidades dos rios, como por exemplo, do rio Araguari, Anani e
Cassipure que banham o estado do Amapá.

CONCLUSÃO / COMENTÁRIOS FINAIS


O estudo considera que a utilização da mão de obra indígena e africana para a região amazônica,
no período investigado, mostrou-se que tanto as forças de trabalho dos ameríndios, utilizadas em
maior escala na Amazônia colonial, como a dos escravizados africanos que se buscou abastecer a
região de escravos africanos por duas tentativas sistemáticas uma no século XVI, com a Companhia
de Estaco do Maranhão, e no século XVIII, com a Companhia de Comércio do Grão-Pará e
Maranhão foram usadas como forma de trabalho em larga escala durante o domínio luso. A
utilização da força de trabalhos dos nativos em maior escala era justificada pela primazia dos
colonos em comprar escravos negros, que apresentava uma altíssima cotação na Amazônia.
Ademais, os colonos do Grão-Pará assim como no Estado do Brasil, se negava ao trabalho braçal,
transferindo através da força o trabalho a outros grupos.

REFERÊNCIAS
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Arquivo Histórico Ultramarino


AHU_ACL_CU_013,CX. 50, D. 4592

AHU_ACL_CU_013, Cx. 36, D. 3323.

RELAÇÃO DE ANEXOS

4. Assinaturas
Aluno(a) do Programa Orientador(a)

Data: Data:

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