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CURITIBA
2004
ANA EMILIA STABEN
CURITIBA
2004
SUMÁRIO
Resumo ......................................................................................................................................I
Introdução ................................................................................................................................ 1
Conclusão .................................................................................................................................43
Anexo1 .....................................................................................................................................45
Anexo2 .....................................................................................................................................46
I
Resumo
Introdução
1
Grandes extensões de terras aforadas em nome de portugueses e seus descendentes.
2
HESPANHA, A M. As estruturas políticas em Portugal na Época Moderna. In: TENGARRINHA,
J.(Org.) História de Portugal. São Paulo : EDUSC e UNESP, 2001 p.127
2
3
FALCON, Francisco J.C. A época pombalina : política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo :
Editora Ática, 1982. p. 390.
4
Ibid. p.425.
5
HESPANHA, op. cit., p. 131.
6
CAPRA, Carlo. O Funcionário. IN: VOUVELLE, Michel (Org). O homem do Iluminismo. Lisboa :
Editorial Presença, 1997. p. 254.
7
Movimento promovido por pensadores europeus dos séculos XVII e XVIII que contestavam o antigo
regime.
8
HARZARD, Paul. O pensamento europeu no século XVIII. Lisboa : Presença, 1989. p. 36.
9
Ibid. p. 39.
3
10
HAZARD, op. cit., p. 151.
11
BOURGUET, Marie-Noëlle. O Explorador: IN: VOUVELLE, Michel (Org). O homem do Iluminismo.
Lisboa : Editorial Presença, 1997. p. 209.
12
Ibid. p.215.
13
Ibid. p. 211.
14
FALCON, op. cit., p. 123.
4
15
SANTOS, Maria Emília Madeira. Viagens de exploração terrestre dos Portugueses em África. Lisboa :
Junta de Investigação Científica do Ultramar/Instituto de Cultura Portuguesa, 1978. p. 184.
16
Ibid. p. 191.
17
Arquivo Histórico Ultramarino - AHU, Moçambique, cx. 81, n. 97.
18
SANTOS, op. cit., p.200.
19
Ibid. p.201.
20
SIMON, W. J. Scientific Expeditions in the Portuguese Overseas Territories : and the role of Lisboan
in the Intellectual-Scientific Community of the Eighteenth Century. Lisboa : Instituto de Investigação
Científica Tropical, 1983. p. 18.
21
Conhecido médico e professor de química da cidade de Pádua, foi convidado para lecionar em Coimbra,
após a expulsão dos jesuítas. SIMON, op. cit., p. 5.
22
Ibid. p. 20.
5
viajaria para o Pará, mas o então Ministro do Ultramar, Martinho de Melo e Castro,
decidiu mandá-lo para Moçambique, substituir o Secretário Geral do Governo,
Francisco Barbosa de Miranda.
Galvão desembarcou em Goa em 1784, onde iria começar suas coletas e análises
de espécies.Viajou pelo interior do continente africano, de onde enviou para o Museu de
Ajuda diversas espécies de plantas, minérios, ostras, peixes preservados em álcool e até
a cabeça de um hipopótamo. Em seus relatos vemos que sua preocupação maior era
encontrar e levantar as potencialidades de minas de ouro. Iinformações sobre Galvão
aparecem pela última vez em 1791, nos documentos oficiais como Procurador Geral da
Fazenda de Moçambique.23
Relatamos com mais detalhes informações sobre Lacerda e Almeida porque
tivemos acesso a uma farta documentação pesquisadas por conta de uma bolsa de
pesquisa.24 Sobre Manuel Galvão há muitas informações na tese do americano Willian
Joel Simon. A bibliografia dos demais autores foi obtida nas obras que reúnem seus
relatos.
Ignácio Caetano Xavier é um autor conhecido dos historiadores da África
Oriental. Nasceu em Goa e morou a maior parte da vida em Moçambique, por isso
conhecia todos os dialetos da região. Provavelmente, começou a escrever seus relatos
por solicitação do primeiro Governador de Moçambique, Francisco de Melo e Castro,
mas continuou a escrevê-los enquanto foi secretário do Governo de Pedro de Saldanha e
Albuquerque. Xavier morreu em 1761, alguns anos depois de terminar seus escritos as
relações econômicas e sociais das regiões de Moçambique e Rios de Sena. 25
Sobre Baltazar Pereira do Lago sabemos apenas que tomou posse como
Governador de Moçambique em 1766.26 Deve ter passado algum tempo na Índia, pois
sempre aconselha a adoção de sipaes indianos para formar um corpo militar em
Moçambique.
Os relatos de Antonio Pinto de Miranda sempre remetem a nomes e costumes
brasileiros, por isso acredita-se que fosse luso-brasileiro ou tenha morado no Brasil. Era
Secretário Geral do Governo de Moçambique em 1766, época em que escreveu seu
23
Ibid. p. 75.
24
Bolsa PIBIC/CNPq. Participante do projeto: Os Naturais do Brasil (Crioulos) no Quadro das Ciências
Naturais do Iluminismo Português. Sob orientação do professor Magnus Pereira.
25
ANDRADE, Antônio Alberto.(Org.) Relações de Moçambique Setecentista. Lisboa : Agência Geral do
Ultramar, 1995. pp. 20-24.
26
ANDRADE, op. cit., p. 29.
6
27
Ibid, p. 472.
28
ESTUDOS DE HISTÓRIA DA GEOGRAFIA DA EXPANSÃO PORTUGUESA. Anais, Volume IX,
Tomo I. Lisboa : Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, 1954. p. 16.
7
29
LOBATO, Alexandre. Colonização Senhorial da Zambézia e outros estudos. Lisboa : Junta de
Investigação do Ultramar, 1962. HOPPE, Fritz. A África Oriental Portuguesa no tempo do Marquês de
Pombal (1750-1777). Lisboa : Agência Geral do Ultramar, 1970. PÉLISSER, René. História de
Moçambique : Formação e oposição (1854-1918). Lisboa : Editorial Estampa, 1987.
30
KI-ZERBO , Joseph. História da África Negra, Parte 1. Mira - Sintra : Publicações Europa-América,
1990. p. 157.
31
Ibid. p. 242.
32
Ibid. p. 245.
33
KI-ZERBO. op. cit., p. 157.
34
LOBATO. op.cit., p.10.
35
Viajante experiente enviado por D. João II para visitar a Índia. LOBATO. op. cit., p. 9.
36
LOBATO. Colonização Senhorial da Zambézia e outros estudos. Lisboa : Junta de Investigação do
Ultramar, 1962. p. 10.
8
Nesta viagem reconheceu o rico comércio do ouro em Sofala, até então, monopolizado
pelos suahílis da cidade de Quíloa.37
No início de sua colonização, os portugueses comercializavam o ouro da
Zambézia com os próprios suahilis.38 Afim de obter o monopólio deste comércio, os
portugueses conquistaram, primeiramente, as feitorias de Sofala e Angoxe.39
Em 1506, alguns portugueses foram enviados para estabelecer relações
comerciais com o grande soberano da Zambézia, o Monomopata. As regiões de Sena e
Tete foram doadas por este soberano à feitoria portuguesa de Moçambique, na prática à
Coroa Portuguesa.40 No início do século XVI, notícias da existência de minas de ouro e
prata nas regiões do rio Zambeze atraíram muitos renóis e indianos para a região. Estes
passaram a ocupar terras dos régulos41 em troca de tecidos.42 Nesta época, os
portugueses tinham esperança de que a região tivesse tanto ouro quanto o México;
esperanças que nunca se concretizaram.
Todas as decisões administrativas e jurídicas das colônias de Moçambique, no
litoral, e Rios de Senas, no interior do continente, eram tomadas em Goa; pois estas
colônias faziam parte do Estado Português da Índia. No entanto, isto ocorreu até 1752,
quando o Marquês de Pombal separou definitivamente a administração da África
Oriental do Vice-reinado da Índia, e passou toda a responsabilidade administrativa para
o Governador General de Moçambique. O primeiro a exercer tal cargo foi Francisco de
Melo e Castro.43 O interior do continente era administrado pelo Governador General dos
Rios de Sena, este estava subordinado ao Governo de Moçambique.
Entretanto, mesmo independentes politicamente, as colônias da África Oriental
continuariam a depender das mercadorias vindas de Goa, Surate, Cambaia, Bengala e
Diu. Estas mercadorias, que consistiam basicamente em miçangas, pólvoras, pérolas e
tecidos de diversos padrões e cores, eram conhecidas como fazendas livres ou fazendas
de lei. As fazendas livres eram negociadas livremente pelos comerciantes de
37
KI-ZERBO, op. cit., p. 244.
38
LOBATO. Evolução Administrativa e econômica de Moçambique (1752 – 1763). Lisboa : Agência
Geral do Ultramar, 1957. p. 24.
39
LOBATO, Colonização Senhorial da Zambézia e outros estudos. Lisboa : Junta de Investigação do
Ultramar, 1962. p. 10.
40
LOBATO. Evolução Administrativa e econômica de Moçambique (1752 – 1763). Lisboa : Agência
Geral do Ultramar, 1957. p. 25.
41
Soberanos de reinos pequenos.
42
Os soberanos negros doaram, do século XVI ao XVIII, muitas terras aos portugueses. Os reinos
africanos viviam em constante conflito com outros reinos, por isso muitos procuravam apoio militar e
armas dos portugueses. Em troca desta colaboração os portugueses e a Coroa recebiam terras dos
soberanos negros. LOBATO. op. cit., p. 10.
43
HOPPE. op. cit., p. 63.
9
Moçambique. Por sua vez, as chamadas fazendas de lei eram negociadas pela a
Superintendência do Comércio, subordinada ao Conselho da Fazenda de Goa.44 Os
tecidos, conhecidos como panos da Índia, eram os produtos mais procurados pelos
africanos, pois funcionavam como moeda na África Oriental. Com eles era possível,
inclusive, pagar tributos aos soberanos negros locais.
44
Ibid. p. 124.
45
PÉLISSER. op. cit., p.17.
46
NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Lisboa : Publicações Europa-América, 1997. p. 208.
47
NEWITT. op. cit. p. 209.
10
europeus ou descendentes.54 A sucessão dos prazos também era realizada pela linha
feminina, as filhas mais velhas herdavam as terras e também deveriam casar com
portugueses ou descendentes de portugueses.55 Algumas terras doadas pelos soberanos
negros à Coroa foram oferecidas às chamadas “órfãs do rei”.56 Desta maneira, Portugal
acreditava resolver dois problemas: recompensar as famílias de seus fiéis servidores e
impedir que os prazos fossem herdados por mestiços, filhos de portugueses com
africanas. A Coroa temia perder para os reis africanos a influencia sobre as terras e
colonos portugueses.57
Muitas determinações da Coroa nunca foram cumpridas. Teoricamente, ninguém
poderia ter mais que um prazo, mas através dos casamentos as famílias acabavam
unindo as terras. Os prazos deveriam ser pequenos, mas na prática eles se tornaram
enormes, em meados do XVIII, levava-se um dia para percorrer o menor deles.58 Os
maiores chegavam a ter dezenas de dias de comprimento.
Era difícil trazer europeus para a África, a maioria preferia migrar para o
Brasil.59 Além disso, muitos europeus que casavam com as enfiteutas morriam por
doenças tropicais. As viúvas, ainda jovens, casavam-se novamente. Por estas razões,
tornou-se comum o casamento de donas de prazos com indianos cristianizados e com os
próprios africanos. Na ausência de herdeiras mulheres, muitos prazos passavam a
titulares masculinos, que, na falta de mulheres européias, casavam-se com africanas. Na
geração seguinte, era sua filha mulata mais velha que herdava as terras. Em outros
casos, prazeiras sem filhos transferiam suas terras para sobrinhas ou sobrinhos muitas
vezes mestiços. Como no Brasil, ocorreu em Moçambique uma intensa miscigenação
racial e cultural.60
Assim como a instituição dos prazos foi, provavelmente, algo único na história,
a independência em que viviam muitas donas de prazos, representou outra peculiaridade
da colonização portuguesa na África Oriental. A maioria dos prazos era administrada
pelos maridos, também era comum o pai escolher o noivo de sua filha. Contudo, em
54
PÉLISSER. op. cit., p. 28.
55
NEWITT. op. cit. p. 209.
56
Filhas de vassalos do rei mortos no real serviço. BOXER, Charles. O Império Marítimo Português
(1425-1825). São Paulo : Companhia das Letras, 2002. p. 142
57
ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos Viventes : formação do Brasil no Atlântico Sul, Séculos XVI
e XVII. São Paulo : Companhia das Letras, 2002. p. 18.
58
BOXER. op. cit., p. 153.
59
SANTOS, Maria Emília Madeira. Viagens de exploração terrestre dos Portugueses em África. Lisboa :
Junta de Investigação Científica do Ultramar/Instituto de Cultura Portuguesa, 1978. p. 149.
60
SILVA. op. cit. p. 671.
12
OS FUNCIONÁRIOS DA COROA
61
CAPELA, José. Donas, Senhores e Escravos. Porto : Edições Afrontamento, 1995. p. 67.
62
PÉLISSER. op. cit., p. 36.
13
63
MIRANDA, Antonio Pinto. Secretário do Governo de Moçambique. Memorias da Costa d´Africa
Oriental e algumas reflexões uteis para estabelecer melhor, e fazer mais florente seu commercio (1762).
In : ANDRADE, Antônio Alberto.(org.) Relações de Moçambique Setecentista. Lisboa : Agência Geral
do Ultramar, 1995. p. 280.
64
LAGO, Baltazar Manuel Pereira. Governador de Moçambique. Instrucção que o Ill.mo Ex.mo Sr.
Governador e Capitão General Baltazar Pereira do Lago deo a quem lhe suceder neste Governo. In :
ANDRADE, op. cit., p. 333.
65
LOBATO, Alexandre. Evolução Administrativa e econômica de Moçambique (1752 – 1763). Lisboa :
Agência Geral do Ultramar, 1957.p. 46.
66
Minas de ouro. HOPE, op. cit., p. 109.
67
XAVIER, Ignácio Caetano Xavier. Secretário do Governo de Moçambique. Noticias dos dominios
portugueses na costa da África Oriental In : ANDRADE, op. cit. p. 156.
68
LOBATO Evolução Administrativa e econômica de Moçambique (1752 – 1763). Lisboa : Agência
Geral do Ultramar, 1957. p. 42.
69
XAVIER, op. cit. p. 165.
14
70
SILVA, Manuel Galvão. Formado em Ciências Naturais e Secretário do Governo de Moçambique.
Diários das viagens, feitas pelas terras de Manica. In : Estudos de História da Geografia da Expansão
Portuguesa. Anais, Volume IX, Tomo I. Lisboa : Junta das Missões Geográficas e de Investigações do
Ultramar, 1954. p. 328 e 329.
71
XAVIER , op. cit. p. 169.
72
ALMEIDA, Francisco José de Lacerda. Matemático e Governador dos Rios de Sena. Diários de
Viagem de Francisco José de Lacerda e Almeida. Rio de Janeiro : Instituto Nacional do Livro, 1944. p.
216.
73
Casado com uma prazeira, foi Governador de Rios de Sena e mais tarde Governador de Moçambique.
74
XAVIER, op. cit. p. 165.
75
Ibid. p. 166.
76
MIRANDA, op. cit., p. 279.
15
77
SILVA, op. cit. p. 326.
buscar melhor.
78
CASTRO, Dionízio de Melo. Notícia do Império Marave e dos Rios de Sena. In : Estudos de História
da Geografia da Expansão Portuguesa. Anais, Volume IX, Tomo I. Lisboa : Junta das Missões
Geográficas e de Investigações do Ultramar, 1954. p. 123.
79
ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO, Moçambique, caixa 77, documento 52.
80
XAVIER, op. cit. p. 157.
81
LAGO, op. cit., p. 323.
16
1.5 - Os afro-portugueses:
82
ALMEIDA, op. cit., p. 171.
83
Ibid. p. 191.
84
RODRIGUES, Eugénia. Chiponda, a "Senhora que tudo pisa com os pés". Estratégias de poder das
Donas dos prazos do Zambeze no século XVIII. In : Anais de História de Além mar. Nº1, 2000, p. 101-
131.
85
A.H.U. Moçambique, Caixa 81, doc. Nº 92.
86
ALMEIDA, op. cit., p. 170.
17
87
Ibid. p. 130.
88
Ibid. p. 140.
89
A.H.U., Moçambique, caixa 81, doc. nº 18.
90
MIRANDA, op. cit., p. 250.
91
Adoção dos costumes africanos por parte dos portugueses e seus descendentes. LOBATO, op. cit. p.
145.
92
MIRANDA, op. cit. p. 254.
18
93
Ibid. p. 254.
94
Ibid. p. 301.
95
A.H.U., Moçambique, cx. 81, nº 81
96
ALMEIDA, op. cit., p. 153.
19
97
Ibid. p. 155.
98
Ibid. p. 163.
99
A.H.U., Moçambique, caixa 81, doc. nº 18.
100
MIRANDA, op. cit., p. 251.
101
Ibid. p. 252.
20
Caetano Xavier, por ser goês, comenta as contribuições dos indianos para a
colonização da Zambézia. Entre outras conquistas, cita a feira de Zumbo, que segundo
este autor foi conquistada por um filho de Goa. Dioízio de Melo e Castro também
nasceu em Goa, mas não faz tantos comentários a respeito dos indianos quanto Caetano
Xavier.
102
CASTRO, op. cit.,p. 140.
103
XAVIER, op. cit. p. 144.
104
MIRANDA, op. cit., p. 234.
105
XAVIER, op. cit. p.146.
21
106
MIRANDA, op. cit., p. 250.
107
Ibid. 249.
108
Ibid. p. 248.
109
ALMEIDA, op. cit., p. 239.
110
Ibid. p. 167.
111
MIRANDA, op. cit., p. 249.
112
XAVIER, op. cit. p.147.
22
Para os autores a decadência da região dos Rios de Sena era decorrência da falta
de civilidade, religião e de vontade de seus moradores. Por preguiça não se
interessavam em cultivar suas terras. Apenas ocupavam-se em dominar o governo local
e não respeitavam as leis.118 Os religiosos não eram melhores que os moradores locais,
pois também dedicavam seus dias a fomentar intrigas entre os moradores.119
Segundo Pinto de Miranda, a presença dos suahílis, era prejudicial ao
desenvolvimento da colônia. Ainda era forte a influência destes sobre o Reino dos
Macuas. Para este autor, as autoridades portuguesas deveriam impedir fatos como estes
ocorressem, pois isto dificultava o comércio dos portugueses.120
Os autores também criticavam a liberdade que os franceses das Ilhas Maurícias
tinham para atracarem seus navios nos portos da colônia e realizarem seu comércio com
franceses
os africanos. Estes franceses compravam escravos em troca de armas de fogo. Segundo
113
Ibid. p. 173.
114
Ibid. p. 173.
115
CASTRO, op. cit.,p. 133.
116
Ibid. p. 139.
117
SILVA, op. cit. p. 324.
118
XAVIER, op. cit. p.141.
119
Ibid. op. cit p.143.
120
MIRANDA, op. cit., p. 240.
23
121
MIRANDA, op. cit., p. 240.
122
Ibid, p. 277.
123
LAGO, op. cit., p. 314.
124
MIRANDA, op. cit., p. 283.
125
A.H.U., Moçambique, cx. 80, doc. 81.
126
Ibid. p. 285.
24
127
MIRANDA, op. cit., p. 288.
25
128
CAPELA, José. Donas, Senhores e Escravos. Porto : Edições Afrontamento, 1995. LOVEJOY, Paul. A
escravidão na África : Uma história de suas transformações. Rio de Janeiro : Editora Civilização
Brasileira, 2002. MEILLASSOUX, Claude. Antropologia da Escravidão : O ventre de ferro e dinheiro.
Rio de Janeiro : Editora Jorge Zahar, 1995. MILLER, Joseph C. A economia política do tráfico angolano
de escravos no século XVIII. In : PANTOJA, Selma e SARAIVA, José Flávio Sombra (Org.). Angola e
Brasil : Nas rotas do Atlântico Sul. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 1999. NEWITT, Malyn. História de
Moçambique. Lisboa : Publicações Europa-América, 1997. PEREIRA, Magnus Roberto de Mello.
Brasileiros a Serviço do Império: A África vista por naturais do Brasil, no século XVIII. In : Revista
Portuguesa de História, Coimbra,1999. SILVA, Alberto da Costa. A manilha e o libambo: a África e a
escravidão, de 1500-1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2002.
129
População mestiça, formada do casamento de árabes com africanas. Habitavam ilhas e cidades da
costa da África Oriental. KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra, Parte 1. Mira - Sintra :
Publicações Europa-América, 1990. p. 157.
26
130
Nascido na região do Cantão, na China. KI-ZERBO, op. cit., p.243.
131
Ibid, p.244.
132
LOVEJOY, op. cit., p. 108.
133
CAPELA, José. O tráfico da escravatura nas relações Moçambique-Brasil. In : História : Questões e
Debates, Curitiba 9(16). p. 187. Jun. 1988.
134
SILVA, op. cit., p. 683.
135
Ver SILVA, op. cit., p. 683. e MEILLASSOUX. op. cit., p. 22.
136
MEILLASSOUX, op. cit., p. 30.
137
Era casado com uma prazeira, foi Governador de Rios de Sena e mais tarde Governador de
Moçambique.
27
138
CASTRO, Dionízio de Melo e. Notícia do Império Marave e dos Rios de Sena. In : Estudos de
História da Geografia da Expansão Portuguesa. Anais, Volume IX, Tomo I. Lisboa : Junta das Missões
Geográficas e de Investigações do Ultramar, 1954. p. 142.
139
CASTRO, op. cit., p. 134.
140
MIRANDA. Antonio Pinto de. Governador de Moçambique. Memorias da Costa d´Africa Oriental e
algumas reflexões uteis para estabelecer melhor, e fazer mais florente seu commercio (1762). In :
ANDRADE, Antônio Alberto. (Org.) Relações de Moçambique Setecentista. Lisboa : Agência Geral do
Ultramar, 1995. p. 268.
28
141
Julgamento de um crime ou ofensa.
142
XAVIER, Ignacio Caetano Xavier.Secretário Geral do Governo de Moçambique. Noticias dos
dominios portugueses na costa da África Oriental. In : ANDRADE, op. cit., p. 169.
143
CAPELA, op. cit., p. 200.
144
Ibid, p. 202.
145
NEWIT, op. cit., p. 683.
29
10. Macoda - a líder das negras. Provavelmente, das negras que trabalhavam nas minas.
11. Mucensses e butongas - Moradores das terras, não eram cativos. Pagam tributos e
prestavam serviços aos prazeiros. 146
Notamos que os portugueses identificavam os escravos por chicundas,
mussambazes, e outras "categorias"; e os africanos livres como mucenses ou butongas.
Havia, realmente, diversas categorias de relações de trabalho dentro dos prazos.
Muitos dos funcionários-viajantes chamam de escravos todos os trabalhadores
ligados diretamente aos prazeiros, por não terem interesse em demonstrar os diversos
tipos de relações judiciais, de parentesco, ou de liderança existentes nas sociedades
africanas. O único que procurou demonstrar as especificidades da escravidão na
sociedade moçambicana foi Pinto de Miranda.
Aliás, este autor é o único a afirmar claramente que os prazeiros não tinham
escravos, propriamente dito. Este explica que não eram escravos como os da América,
"mas como moços europeus que assentam sua soldada." 147
146
MIRANDA, op. cit., p. 266.
147
MIRANDA, op. cit., p. 269.
148
Ibid, p. 269.
149
MATTOSO, op. cit.,p. 25.
150
NEWITT, op. cit., p. 216.
30
151
MIRANDA, op. cit., p. 258 - 260.
152
SILVA, op. cit.,p. 681.
153
NEWITT, op. cit.,p. 205.
154
MIRANDA, op. cit.,p. 282.
155
SILVA, Manuel Galvão da. Diários das viagens, feitas pelas terras de Manica. In : Estudos de
História da Geografia da Expansão Portuguesa. Anais, Volume IX, Tomo I. Lisboa : Junta das Missões
Geográficas e de Investigações do Ultramar, 1954. p. 316.
31
pedreiras, onde divisa algum sinal de ouro, e sobre uma rocha as vai
quebrando(...)156
156
Ibid, p. 315.
157
MEILLASSOUX, op. cit.,p. 158.
158
ALMEIDA, op. cit.,p. 169.
159
XAVIER, Ignacio Caetano. Noticias dos dominios portugueses na costa da África Oriental. In :
Andrade, op. cit., p. 146.
32
outros prazos. Como relata Lacerda e Almeida, os africanos que habitavam os prazos
fugiam para outras terras quando seus senhores os obrigavam a vender os produtos que
cultivavam apenas para eles por um preço menor.160
Para o desespero do matemático, durante sua viagem seus carregadores,
"escravos" dos prazeiros, também fugiam para os prazos vizinhos. Faziam isto, porque
temiam entrar em território desconhecido, e principalmente, por não haver lei que os
obrigasse a seguir rigorosamente suas ordens.
160
ALMEIDA, Francisco José de Lacerda. Matemático e Governador dos Rios de Sena. Diários de
Viagem de Francisco José de Lacerda e Almeida. Rio de Janeiro : Instituto Nacional do Livro, 1944., p.
151.
161
Ibid, p. 205.
162
ALMEIDA, op, cit., p. 234.
33
... pois os cafres jamais tem pressa; isto é, cafres destas terras africanas,
pois os que se vendem na América, ou por medo ou pela agilidade que
observam nos mais veteranos, são diligentes.164
Talvez estes traficantes não estivessem sendo sinceros quando afirmavam não
lucrar com tal comércio, isto porque havia a demanda por escravos nas Ilhas Maurícias,
e o tráfico atlântico começava a crescer na época em que Lacerda e Almeida passou
pela região.
Neste comentário, nota-se que havia muitos cativos que não deveriam se
encontrar em tais condições. Segundo o matemático, em Angola existia um tribunal para
julgar se o escravo era legítimo ou não antes de embarcar para o Brasil.168 Acredito que
a única condição legítima de escravidão, para ele, fosse a dos prisioneiros de guerra.
Entre as sociedades africanas tentava-se impedir abusos no comércio de escravos
e o tráfico ilegal. Aceitava-se a escravidão dentro de certos limites. Qualquer tentativa
de impedir abusos e injustiças no tráfico de africanos não resistiu a grande demanda por
mão de obra. 169
A própria missão de Lacerda e Almeida parece ter sido motivada pelo
crescimento do tráfico de escravos. O matemático foi enviado para Moçambique para
descobrir uma rota por terra entre Moçambique e Angola.170 Os principais objetivos de
tal missão, provavelmente, eram facilitar o comércio produtos asiáticos, principalmente
tecidos da Índia, e o transporte do ouro da Zambézia para Portugal e, talvez, facilitar o
tráfico de escravos da costa oriental para o Brasil.
No século XVIII, a produção de ouro no Brasil começou a decair e o Marquês de
Pombal decidiu incentivar a agricultura. A partir da segunda metade deste século,
pombal.
aumenta da produção agrícola no Brasil, principalmente do cultivo de algodão para a
produção de manufatura em Portugal.171 Para atender a demanda por escravos, Pombal
fundou as Companhias de Comércio do Grão-Pará e Maranhão (1755) e a de
Pernambuco e Paraíso (1759). Inicia-se, então, um fluxo direto de mão de obra da
167
ALMEIDA, op. cit., p. 161.
168
Ibid, p. 162.
169
LOVEJOY, op. cit.,p. 143.
170
AHU, Moçambique, caixa 77. doc. 52.
171
MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo : Editora Brasiliense, 1988. p. 29.
35
África para o Brasil.172 Talvez visando aumentar a quantidade de escravos para o Brasil,
D. Rodrigo de Souza Coutinho tenha promovido a viagem de Lacerda e Almeida.
Em seu diário e correspondências, Lacerda e Almeida recomenda diversas vezes
kazembe.
à boa amizade como o Rei do Cazembe. Este reino surgiu por volta de 1740. Alguns
anos depois, seus representantes já comercializavam tanto com os prazeiros da
Zambézia, quanto com os reinos da região de Angola, para onde enviavam prisioneiros
de guerra como escravos.173 Provavelmente, Lacerda e Almeida preocupava-se com as
boas relações com este reino por dois motivos. Primeiro, para que o auxiliassem na
viagem até Angola. Outro motivo, talvez fosse o comércio de escravos que este reino
fazia com os comerciantes de Angola. Suponho que Lacerda e Almeida estivesse
aconselhando os portugueses a aproveitarem a experiência e os contatos do Cazembe
com o tráfico para Angola, e a tirarem algum proveito disto.174
O vertiginoso aumento da produção da produção agrícola, citado logo acima,
exigia um aumento na produção de escravos na África.175 Conseqüentemente, esta
demanda por escravos fez com que a venda de cativos para traficantes europeus
passasse a ser a principal fonte de renda de Estados africanos, difundindo-se guerras
pelo interior da África. Impérios estáveis desaparecem e novos surgem "nascidos do
tráfico e vivendo dele".176
O africanista Paul Lovejoy apresenta em seu livro "A escravidão na África",
diversas tabelas referentes à exportação de escravos. A tabela abaixo apresenta o
crescimento do comércio de africanos para a América.177
Mar Vermelho 100.000 9,3 100.000 4,4 200.000 2,7 400.000 3,7
Saara 550.000 51,0 700.000 31,1 700.000 9,5 1.950.00 18,2
África Oriental 100.000 9,3 100.000 4,4 400.000 5,4 600.000 5,6
Atlântico 328.000 30,4 1.348.000 60,0 6.090.000 82,4 7.766.173 72,5
Total 1.078.000 2.248.000 7.390.000 10.716.000
Dados apresentados no livro de Paul Lovejoy. A escravidão na África : Uma história de suas
transformações. Rio de Janeiro : Editora Civilização Brasileira, 2002.
172
Ibid., p. 33.
173
LOVEJOY, op. cit., p. 131.
174
ALMEIDA, op. cit. p. 182.
175
MILLER, Joseph C. op. cit., p. 14.
176
MATTOSO, op.cit., p. 27.
177
LOVEJOY, op. cit. p. 90.
36
Nos século XVII e XVIII, existiam cinco padrões para a produção de escravos.
O primeiro era resultado das guerras promovidas por Estados centralizados contra as
populações vizinhas, cujos conflitos não se estendiam além das fronteiras destes
Estados. No segundo padrão, as guerras eram entre vizinhos sem que um Estado forte
participasse. No terceiro, havia a "disseminação da anarquia", onde escravos eram
capturados através de seqüestros aleatórios. No quarto, o sistema de escravização era
visto como punição de crimes, feitiçaria ou dívidas. Finalmente, o quinto padrão aponta
a escravidão voluntária. Os funcionários da Coroa preocuparam-se em relatar
principalmente a escravidão como punição e a voluntária. Talvez isto ocorresse porque
eram processos mais facilmente identificáveis, ou seja, os viajantes conseguiam
178
Ibid, p. 119.
37
observar estas práticas escravistas. No caso das guerras e seqüestros, o cativo já chegava
devidamente "produzido".
179
CASTRO, op. cit., p. 137.
180
Ibid, p. 141.
181
SILVA, op.cit., p. 329.
182
MIRANDA, op. cit.,p. 266.
38
183
GALVÃO, op. cit., p. 329.
184
Arquivo Histórico Ultramarino, Moçambique, caixa 20, documento nº 81.
185
MIRANDA, op. cit., 270.
39
"penhorado" nunca perdia sua qualidade de parente, vivendo com sua família e além
disto, sua condição era reversível. 186 Normalmente, dentro das sociedades africanas, a
escravidão por dívidas ou penalidades era temporária, isto é, depois do pagamento da
dívida o escravo voltava a condição anterior. Todavia, esta prática judiciária africana foi
corrompida pelos portugueses e também pelos poderosos africanos para a produção de
escravos para o tráfico oriental, e, a partir do final do século XVIII, para o atlântico. 187
O século XVIII foi marcado por dois ou três períodos graves de seca em diversas
regiões da África. 188 Em seu diário Lacerda e Almeida comenta as secas ocorridas nos
anos de 1792 até 1796 que mataram muitos animais e obrigaram os prazeiros a se
desfazerem de seus escravos por não ter como mantê-los.189
A forte seca que gerou milhares de refugiados, no final do século XVIII,
coincidiu com o crescimento dos mercados americanos. Aliás, esta demanda, levará o
tráfico em Angola ao seu apogeu.190
A fome causada pelas secas também desencadeou guerras. Enquanto se
aproximava do Reino do Cazembe, Lacerda e Almeida observou que as terras
tornavam-se mais áridas, a agricultura era fraca e não havia caça. Por isso, os africanos
declaravam guerras às outras tribos e os saques acabaram virando um meio de
sobrevivência.
Pode ser que os cafres, acabado que seja o milho e batatas, que colhem,
obrigados da fome, declarem guerra até as borboletas, e esta inimizade,
e mortandade tenham extinguido a raça das aves e animais. 191
186
MEILLASSOUX, op. cit. p. 31.
187
PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Brasileiros a Serviço do Império: A África vista por naturais do
Brasil, no século XVIII. In : Revista Portuguesa de História, Coimbra, 1999. p.170.
188
LOVEJOY, op. cit., p. 123.
189
ALMEIDA, op. cit., p. 169.
190
MILLER, op. cit.,p. 38.
191
ALMEIDA, op. cit., p. 221.
40
Estes escravos tinham a confiança de seus senhores, por isso, com o tempo,
pertencimento poderiam receber uma mulher e formar sua própria aldeia. Para os africanos do século
192
LOVEJOY, op. cit., p. 131.
193
MIRANDA, op. cit., p. 268.
194
SILVA, op. cit., pp. 683 - 685.
195
ALMEIDA, op. cit., p.158-159.
196
NEWITT, op. cit., p. 217-218.
41
los; portanto, estavam mais seguros.197 Por outro lado, quando excluídas de uma
sociedade, as pessoas perdiam o vínculo com um "protetor" e eram, normalmente,
vendidas para o tráfico externo.
Os "escravos" dos prazos acabavam incorporados à sociedade que integravam.198
A venda do próprio corpo tratava-se de um "contrato de homens livres que se
dispunham a prestar serviço, sem que tal significasse ficarem escravos do amo com
quem ajustavam".199
Em tempos de fome ou para o pagamento de tributos, os africanos muitas vezes
eram obrigados a entregar seus filhos a outros. Caetano Xavier e Pinto de Miranda
escandalizam-se com o "horrível" costume de venderem os filhos.
Xavier chega a dizer que os africanos eram tão bárbaros que nem sabiam o que era
amar.
Talvez os africanos que entregavam seus filhos, fizessem isto, por não ter como
alimentá-los em épocas de seca. Meillassoux não acredita que as relações de parentesco
estimulassem a escravização."Não se vende um filho em sociedades em que se dá
preferência pela agregação de pessoas. É o comércio que vai alterar as formas da
197
Ibid, p. 220.
198
CAPELA, op. cit., p. 191.
199
Ibid, p. 195.
200
MIRANDA, op. cit., p. 269.
201
XAVIER, op. cit., p. 146 e147.
42
202
MEILLASSOUX, op. cit., p. 13.
43
Conclusão
203
KI-ZERBO , Joseph. História da África Negra, Parte 1. Mira - Sintra : Publicações Europa-América,
1990.
46
204
BOXER, Charles. O império marítimo português : 1415 - 1825. São Paulo : Editora Companhia das
Letras, 2002. p. 154.
47
Fontes impressas:
Fontes manuscritas:
- Cartas escritas por Francisco José de Lacerda e Almeida e enviadas à Coroa
portuguesa. Acervo do Arquivo Histórico Ultramarino - Moçambique. Esta
documentação encontra-se em microfilme e pertence ao CEDOPE (Centro de
Pesquisa e Documentação dos Domínios Portugueses), nas dependências da
Universidade Federal do Paraná.
48
Referências bibliográficas: