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“[…]As primeiras tropas romanas entraram na Península por exigências estratégicas da segunda
guerra entre Roma e Car-tago. Era nas regiões da Ibéria que os Cartagineses recrutavam os homens
para as fileiras dos exércitos que atiravam contra Roma, e portanto os golpes que os Romanos aqui
vibrassem poderiam ser, como na verdade foram, de efeitos decisivos para o desfecho da guerra.
Concluída a destruição de Cartago, os Romanos conheciam os recursos peninsulares e continuaram
aqui para os explorar. Para isso empreenderam a ocupação sistemática do território, que em breve
dominaram quase completamente. Fora do quadro romano ficaram apenas as regiões montanhosas do
Cantabro, e isso explica que ainda hoje ali sobreviva a língua basca, um dos muito raros vestígios dos
idiomas pré-romanos da Europa.[…]”
A fundação da cidade de Roma é, tradicionalmente, explicada através de uma lenda. Reza esta que a
cidade foi fundada por Rómulo, em 753 a.C. Os gémeos Rómulo e Remo, filhos da sacerdotisa Reia
Silvia e do deus Marte, teriam sido abandonados nas margens do rio Tibre, amamentados por uma
loba e recolhidos pelo pastor Fáustulo e sua mulher. Quando cresce.
ram, decidiram fundar uma cidade; todavia, desentenderam-se, e Rómulo matou Remo.
Em contraponto a esta lenda, sabe-se que a região do Lácio, onde se situa Roma, era habitada desde o
Paleolítico. A arqueologia revela que, a partir do século IX a.C., houve um processo de concentração
de várias aldeias dispersas por algumas colinas. A cidade de Roma Antiga, à semelhança de outras do
Lácio (região central da península Itálica), tinha como base de organização o sistema gentílico: cada
domus (casa] correspondia a uma família; um grupo de famílias (gens), cujos elementos se
relacionavam religiosa e etnica-mente, formavam uma aldeia (pagus), que detinha um determinado
território.
Ao longo dos anos esta comunidade desenvolveu-se, com base no comércio e no artesanato, ao
mesmo tempo que foi sendo aculturada pelos Etruscos, povo mais evoluído, com elementos culturais
orientalizados e que teria como origem o território que hoje é a Toscânia. Com o aumento de
habitantes e a crescente influência etrusca, os grupos de população organizados no sistema gentílico
tentaram manter o seu prestígio social e político - será a partir deles que se irá constituir a classe
patrícia e, a partir da restante população, os plebeus, que mais à frente analisaremos.
Roma passou a ser governada por uma Monarquia, com os reis assessorados por um conselho real
composto pelos chefes das gens.
Segundo a tradição, Roma foi dominada por sete reis de origem etrusca, até 509 a.C., altura em que a
aristocracia romana expulsou o
monarca e instituiu uma República (de res publica, que significa o governo da «coisa pública»).
Assim, nos territórios dominados reorganizavam ou criavam urbes-núcleos urbanos protegidos, ou
não, por muralhas onde funcionavam as instituições de governo e que se distinguiam claramente da
zona rural do território.
À medida que o Império se expandia, precisava também de se organizar em termos de território.
Foram então criadas divisões administrativas, como as províncias, governadas por magistrados
nomeados pelo Senado ou pelo imperador.
Assim, o domínio militar e cultural foi desde sempre a base de organização da urbe de Roma, que se
estendeu a todo o extenso território do Império.
Da Monarquia à República
Em 509 a.C., a Monarquia romana foi abolida e o rei substituído por dois magistrados - primeiro
designados por pretores e, a partir de cerca de 500 a.C., por cônsules -, que detinham o imperium, ou
seja, o supremo poder militar e civil, instaurando-se uma República.
Na República, o poder começou por recair nos patrícios, membros das grandes famílias de radição
gentílica e que tinham assento no Senado.
•os comitia centuriata-Esta assembleia tinha funções legislativas, judiciais e eleitorais, e elegia os
magistrados superiores que detinham o imperium: os cônsules e os pretores;
•os comitia tributa-Esta assembleia elegia os magistrados que se encon travam na base da
magistratura: os questores e os edis.
As magistraturas eram os mais altos cargos a exercer. Para se poder aceder às magis traturas era
necessário ser-se homem livre, sem qualquer condenação judicial, não exercer qualquer ofício
remunerado e possuir um elevado nível de fortuna para poder pagar as despesas, inerentes ao
cumprimento das suas funções, e da campanha eleitoral.
A nobreza, enquanto proprietária de terras, continuava a afirmar-se como uma ordem privilegiada. De
facto, era dominantemente a esta nobreza antiga e de linhagem que cabiam os principais cargos,
distinções e títulos, bem como a maior parte das propriedades. Após a perda da independência em
1580 e a ascensão de Filipe II ao trono de Portugal, a aristocracia portuguesa viu a corte deslocar-se
para Madrid.
Ao nível interno do reino, desde o final do século XVII e início .do século XVIII, no Norte de
Portugal, o alargamento da cultura da vinha, em ligação com o desenvolvimento do comércio do
vinho do Porto, sobretudo impulsionado pela procura do mercado. inglês, contribuiu para que muitas
casas senhoriais. Deste modo, podemos constatar que a prática do comércio foi sempre encarada pela
nobreza como uma fonte suplementar.
Esta nobreza mercantilizada, composta por fidalgos-mercadores, contou com o apoio régio e com um
regime de proteção económica que impediu, assim, o desenvolvimento de uma burguesia forte,
empreendedora e dinâmica, ao contrário do que acontecia no Norte da Europa, onde a burguesia
detinha um papel ativo no desenvolvimento comercial.
Com a Restauração e a subida ao trono de D. João IV, a necessidade de, por um lado, reconstituir a
administração central e, por outro, de recompensar a nobreza fiel à causa independentista. Assim, esta
partilha de poder entre o rei e a aristocracia assumiu expressão na criação de Conselhos: o Conselho
da Guerra,Conselho da Fazenda e o Conselho Ultramarino. Foi sob o reinado de D. João IV que o
cargo de escrivão da puridade foi extinto e que surgiu o de secretário de Estado, responsável pela
coordenação das tarefas de governo. O rei procedeu também à criação de duas secretarias. Esta
estrutura administrativa, cada vez mais complexa e burocratizada. Depois da morte de D. João IV, D.
Luísa de Gusmão, sua mulher, assumiu a regência até o infante D. Afonso atingir a maioridade.O
governo de D. Afonso VI foi marcado pelo declínio dos Conselhos e pela perda de poder por parte dos
secretários.
Estes deixaram de interferir na condução dos assuntos políticos, em grande parte devido ao facto de,
por regulamento datado de 1663, D. Afonso VI restaurar o cargo de escrivão da puridade, atribuído ao
3.° conde de Castelo Melhor, que se afirmara como a principal figura política e administrativa do
reino. Esta situação provocou descontentamento, pois significava a concentração do poder da
administração central numa figura que não a do rei, com a consequente exclusão de parte da
aristocracia. Neste sentido, D. Afonso VI acabou por retirar o seu apoio ao conde de Castelo Melhor,
o que significou o fim do cargo de secretário particular do rei (escrivão da puridade).
A instabilidade política marcou o reinado de D. Afonso VI que foi declarado incapaz . D. Pedro, seu
irmão, assumiu o trono como regente é depois como sucessor, tendo-se tornado rei. Durante o reinado
de D. Pedro II, as Cortes foram convocadas por três vezes, com caráter não tanto político mas
particularmente simbólico, e quando procuraram interferir politicamente no governo do reino, D.
Pedro II dissolveu-as. Neste sentido, as Cortes de Lisboa de 1697-1698 foram as últimas realizadas no
século XVII. Na verdade, as Cortes eram um órgão consultivo, pelo que cabia exclusivamente ao rei
quer a sua convocação, quer a liberdade de aceitar as decisões aí tomadas.
O absolutismo Joanino:
O reinado de D. João V iniciou-se em 1707, numa Europa marcada pela figura de Luís XIV, que
serviu de modelo ao absolutismo joanino. ouro do Brasil permitiu a D. João V usar a opulência para
afirmar externamente Portugal como um grande reino. O absolutismo joanino se, por um lado, se
inspirou no modelo francês, por outro, assumiu particularidades que lhe conferiram uma identidade
própria. Neste sentido, o fausto, o cerimonial de corte, a figura do monarca paternalista são, sem
dúvida, de influência francesa; porém, D. João V não foi alvo de um culto tão intenso como aconteceu
com Luís XIV e manteve uma maior proximidade face aos seus súbditos.
a manutenção da ordem social dos privilégios e as prerrogativas de cada estado, foi a característica
que atravessou o reinado de D. João V. Cabia ao monarca cumprir e fazer cumprir as leis
fundamentais do reino, bem como fazer justiça, de acordo com os princípios morais e católicos.
O governo de D. João V ficou também marcado pelo facto do monarca controlar todos os assuntos de
Estado. Deste modo, assistiu-se ao declínio do governo apoiado por conselhos. Durante o seu reinado
não foram convocadas cortes, o que revelou a concentração de poderes nas mãos do rei.
A criação do Gabinete da Abertura, permitiu a D. João V conhecer o que se passava no reino, bem
como nos territórios coIoniais, a decisão suprema cabia sempre e só ao monarca.
Durante o reinado joanino procedeu-se a uma reforma adminis-trativa, que foi responsável pela
renovação da nobreza de corte, no desempenho dos cargos político-administrativos, através da criação
de um corpo de altos funcionários. em 1736, D. João V procedeu à reforma das secretarias de Estado,
com vista a tornar mais rápida e eficaz a expedição dos assuntos do reino. As secretarias receberam
novos nomes e foram reorganizadas e clarificadas as suas atribui-ções: a Secretaria de Estado dos
Negócios do Reino, a Secretaria de Estado da Guerra e Negócios Estrangeiros e a Secretaria da
Marinha e do Ultramar.
Porém, apesar destes organismos tratarem de grande parte dos assuntos do reino, reunindo com o rei
duas vezes por dia, as decisões cabiam sempre ao monarca, pelo que o secretário era meramente um
executor da vontade régia.
Outra forma de D. João V espelhar e simbolizar o seu poder e a sua magnificência foi o patrocínio das
letras e das artes. Como símbolos desta atividade mecenática, destacaram-se a criação da Academia
Real de História Portuguesa, no ano de 1720, que tinha como obietivo a investigação e a produção de
obras da História de Portugal, quer do ponto de vista político, quer eclesiástico; a criação da
Biblioteca da Universidade de Coimbra, conhecida como Biblioteca Joanina, e ainda alguns núcleos
da Biblioteca da Ajuda, em Lisboa.
No domínio das obras públicas: procedeu a reformas no Paço da Ribeira, residência real, e deu início
à construção do Aqueduto das Águas Livres com o objetivo de solucionar o problema do
abastecimento de águas à população de Lisboa. Por todo o reino se edificaram igrejas, decoradas com
talha dourada, palácios e man-sões.
Mas o símbolo do seu reinado foi indubitavelmente a construção do palácio-convento de Mafra, numa
clara demonstração da grandeza joanina, um dos mais importantes edifícios barrocos de Portugal.
Nos anos de 1670 e 1690, Portugal confrontou-se com uma crise eco-nómica. Esta crise fez-se sentir
tanto na Ásia, como na zona atlân-tica, e associou-se a uma conjuntura internacional adversa ao
comércio colonial português, do qual o reino era profundamente dependente. De facto, a concorrência
internacional dos holandeses, franceses e ingleses no Oriente conduzira ao declínio da hegemonia
portuguesa. Por outro lado, nas Antilhas, a produção de açúcar e do tabaco, desenvolvida pelos
holandeses e franceses, provocou a queda dos preços, em consequência do aumento da produ-ção,
retirando a Portugal alguns dos mercados para onde, tradicionalmente, escoava estes produtos
ultramarinos. Acresceu também o facto de Portugal se ver envolvido nas guerras da Restauração que
obrigaram a despesas elevadas e que acentuaram a dependência da economia nacional face à
Inglaterra. De referir ainda que as exportações do sal e do vinho português defrontavam-se com a
concorrência francesa e espanhola.
Assim, no final do século XVII, Portugal, confrontado com o elevado défice da balanca comercial e
com a debilidade das suas estruturas produtivas.
A implementação de várias iniciativas de desenvolvimento económico nacional, de índole
protecionista, destinadas a diminuir as importações e a aumentar a produção nacional.
De forma a atingir estes objetivos, foram postas em prática, sobretudo pelo conde da Ericeira, as
seguintes medidas:
Promulgação das Pragmáticas, com destaque para as de 1677, 1686, 1688 e 1690, que limitavam e
proibiam a importação de bens de luxo (panos, baetas, sedas, louças, vidros, chapéus, adereços e
calçado), produtos considerados desnecessários e negativos para as finanças do reino, e que
contribuíam para o desequilíbrio da balança comercial, os produtos que deixavam de ser importados
do estrangeiro;
Foi no final do século XVII, cerca de 1697, que aportou em Lisboa o primeiro carregamento de ouro
vindo do Brasil. A partir de então, e até cerca de 1740-1750, as remessas de ouro não pararam de
chegar à metrópole.
A descoberta do ouro veio dar novo fôlego à economia portuguesa e, entre 1697 e 1750, o afluxo de
metal precioso permitiu. resolver alguns dos problemas económicos do reino. Assim, na primeira
metade do século XVIII, a economia do reino viveu um período de relativa prosperidade. Para além
de aumentar a moeda em circulação (cerca de 80% do ouro acumulado em Portugal serviu para cunhar
moeda), tornava-se possível pagar no. vamente as importações, o que contribuiu para negligenciar as
políticas de fomento da produção interna, assentes no desenvol. vimento das manufaturas e na redução
das importações.
A ilusão de riqueza não diminuiu o défice comercial que passou, a partir de então, a ser pago com o
ouro brasileiro. Atraídos pelas remessas do metal aurífero, os países europeus, nomeadamente a
Holanda, a França, a Itália e a Inglaterra, dinamizaram as relações comerciais com Portugal com o
intuito de captar o ouro que chegava ao reino. Como veremos, a Inglaterra foi a maior beneficiária do
ouro brasileiro.
Podemos concluir que a pretensa complementaridade inicial entre a economia portuguesa e inglesa
não foi efetiva, pois a supremacia económica de Inglaterra acentuou-se, resultando, por um lado,
numa maior asfixia e estagnação da produção nacional e, por outro, na apropriação do ouro brasileiro
pela Inglaterra, através dos circuitos comerciais de uma balança comercial muito deficitária.
Marquês de Pombal dedicou atenção especial aos setores produtivos. Neste sentido, fomentou o
desenvolvimento de manufaturas e reestruturou o setor, através da criação de novas fábricas, do apoio
esta-tal, da concessão de privilégios e de subsídios a privados, com o intuito de dinamizar as
manufaturas.
Foi desenvolvida a indústria de lanifícios como forma de concorrer com a produção estrangeira,
destacando-se a Real Fábrica de Lanifícios
No domínio social, a ação desenvolvida pelo marquês de Pombal ficou ligada à valorização da alta
burguesia, apelidada de homens de negócios. Simultaneamente, procurou suscitar o interesse da
nobreza pela atividade comercial. Fez também desaparecer a distinção entre cristãos-novos e
cristãos-velhos.
Apoiada pelo Estado, pela primeira vez, a burguesia portuguesa pombalina desempenhava um papel
social e económico reconhecido
A legislação pombalina procurou colocar a nobreza ao serviço do Estado, deu-lhe educação própria,
reforçou o seu prestígio social com novas funções, incentivando até a prática do comércio pelos
aristocratas.
Assistiu-se também ao enfraquecimento e à reforma do tribunal do Santo Ofício, cujo funcionamento
era considerado contrário aos princípios iluministas, procurando a Coroa interferir na nomeação dos
inquisidores-mores.
Podemos então concluir que, no plano social, a ação do marquês de Pombal ficou marcada pela
perseguição à alta nobreza e ao clero, com o objetivo de limitar a ação de todos os que tentavam
contrapor-se à política régia e ao reforço do poder do Es-tado. A sua política social apoiou-se na alta
burguesia, que elevou a posições cimeiras na hierarquia social, dando forma à criação de uma nova
nobreza, que alguns historiadores designaram nobreza pombalina.
A política do Marquês de Pombal restringiu os poderes da alta nobreza, limitou a interferência da
Igreja nos assuntos do Estado e subordinou todos à vontade régia.
A prosperidade comercial de finais do século XVIII foi uma realidade traduzida na reanimação da rota
do Cabo. No entanto, foi o Brasil que manteve acrescida importância na economia portuguesa, não
devido ao ouro ou aos diamantes, mas aos produtos agrícolas e às matérias-primas. o comércio com
África, nomeadamente Angola, manteve-se com base no tráfico de escravos, que voltou a aumentar a
partir de 1790.
“[…]O projecto da cidade nova tem a data de 12 de Junho de 1758. Os donos dos terrenos onde
tinham estado, ou estavam ainda, os velhos prédios eram obrigados a construir ali em conformidade
com o projecto. Quem o não fizesse durante cinco anos perdia o direito a construir e os terrenos eram
vendidos a quem os pudesse comprar. A propriedade passou em muitos casos das mãos dos nobres,
sempre em apuros financeiros, para as dos negociantes afazendados, que podiam pagar as
indemnizações. Em 1763 já havia muitas casas feitas, mas estavam devolutas porque não havia quem
as quisesse habitar; os Lisboetas tinham-se entretanto habituado a viver em barracas. Mas uma nova
lei veio ordenar a demolição de todas as barracas, com o fundamento de que tinham sido construídas
no período em que a construção estava proibida.[…]”
Assim, a partir da 1756, a Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, a cargo do futuro marquês de
Pombal, controlava todos os assuntos que, vindos dos tribunais e das secreta-rias, eram levados a
despacho régio. tinha como obietivo a centralização e o controlo das receitas e das despesas públicas,
pondo à disposição do poder central os recursos fiscais. à criação do cargo de tesoureiro-geral das
sisas, a quem cabia a recolha destas receitas, e do tesoureiro-mor, responsável pelos livros de contas.
Em termos económicos, conforme foi já analisado, foi criada a Junta do Comércio que promoveu o
desenvolvimento do reino e da produção nacional, adequando às exigências do Estado e de bem
comum.
Desde meados do século XVIII eram várias as queixas de in-segurança, tanto na capital, como noutras
cidades do reino, sendo frequentes os roubos, os homicídios e outros atentados à ordem pública. Foi
neste contexto, agravado pela insegurança criada após o terramoto de 1755, que se inseriu a criação da
po-lícia, para proteger as pessoas e os seus bens, fazer cumprir a lei e os seus regimentos, de modo a
garantir a boa ordem da sociedade pública. O cargo de intendente-geral da polícia era de confiança
régia. A criação deste cargo permitiu estabelecer a separação entre as funções judiciais e policiais.
Na chamada Lisboa pombalina, o espaço urbano foi organizado de acordo com os modelos
desenvolvidos nas modernas cidades europeias. Assim, foram dois os grandes centros a partir dos
quais se desenvolveu a nova cidade: o Terreiro do Paço, rebatizado de Praça do Comércio, e o Rossio.
A ligação entre estes dois espaços era feita através de ruas amplas, retilíneas, de traçado ortogonal e
com vias hierarqui-zadas. Não se tratava apenas de uma reconstrução ou de um reordenamento
urbano, mas sobretudo da afirmação de uma imagem política do rei e do reino. a coerência de todo o
projeto manteve-se nos modelos padronizados, quer nas obras arquitetónicas, quer no planeamento
urbano, pautado por elementos de simetria, visíveis nas portas, nas janelas e na altura dos edifícios
que acabaram por ser a marca de um "estilo" ar-quitetónico definido como pombalino. Assim, esta
nova cidade tinha princípios arquitetónicos e urbanísticos subjacentes, com reflexos e intenções
sociais.
A nova cidade desenvolvida no espírito das Luzes exigia infraestruturas com vista à melhoria das
condições de saúde pú-blica, tal como acontecia nas "nações mais iluminadas". Criou-se um novo
sistema de esgotos, construíram-se passeios, envidraçaram-se as janelas, construíram-se sistemas de
areja-mento e os pavimentos receberam também especial atenção. No domínio das técnicas de
construção, introduziu-se o sistema de gaiola que, através de estacas de madeira, no interior das
pare-des, constituiu um eficaz sistema antissísmico.
A reforma do ensino
As reformas pombalinas passaram também pelo campo do ensino. As influências que do estrangeiro
se fizeram sentir em Portugal eram consequência de uma nova atitude perante o conhecimento e a
realidade. As influências que do estrangeiro se fizeram sentir em Portugal eram consequência de uma
nova atitude perante o conhecimento e a realidade. O Estado assumiu-se, deste modo, como o
responsável pelo desenvolvimento do ensino, tarefa que era, tradicionalmente, da competência da
Igreja e em particular dos Jesuítas.
A influência dos estrangeirados trouxe para Portugal uma nova visão do ensino e da pedagogia. Nos
seus escritos, esses intelectuais valorizaram novas matérias.A ideia de que o ensino em Portugal
estava atrasado e era retrógrado despertou nestes homens, que haviam estado no estrangeiro, a crença
de que era necessário romper com o que se ensinava e como se ensinava e, consequentemente,
proceder a uma ampla reforma neste domínio.
Luís António Verney, em 1746, na sua obra Verdadeiro Método de Estudar, fez a apologia de um
sistema pedagógico e de ensino em que a aprendizagem da língua materna devia ser feita juntamente
com o latim. Nela condenou o recurso aos castigos físicos, defendeu uma formação nas humanidades
e nas ciências. Verney considerava ser necessário imprimir sebentas para auxiliar o estudo e
assumiu-se também como um defensor do alargamento do ensino às mulheres. Propunha o
afastamento dos métodos antigos, desenvolvidos sobretudo pelos Jesuítas, que considerava
responsáveis pela decadência a que havia chegado o ensino em Portugal.
As novas ideias dos estrangeirados acerca do ensino acabaram por assumir expressão nas reformas
empreendidas por Pombal. Ao empreender a reforma do ensino, Pombal tinha em mente, não só o
progresso cultural e a instrução do reino, mas também objetivos de caráter político e social: colocar o
ensino sob a tutela do Estado, assumindo claramente a ideia de ensino público em Portugal,
secu-larizando-o, retirando-o do domínio religioso, e uniformizar os programas, adequando-os aos
novos tempos, e ainda a não menos utilitária intenção de formar e instruir um corpo de funcionários
segundo as ideias iluministas.
Pombal criou a Aula do Comércio, na medida em que defendia a necessidade de instrução nos
assuntos da vida comercial e mercantil (câmbios, pesos e medidas), de modo a formar pessoas que
pudessem acompanhar as mudanças comerciais e contribuir para o desenvolvimento económico do
reino.
No ano de 1761, fundou, em Lisboa, o Real Colégio dos Nobres destinado a ensinar os filhos da
fidalguia, com vista à sua preparação para os mais altos cargos de administração do Es-tado.
A criação da Junta de Providência Literária, em 1768, foi importante na medida em que auxiliou
Pombal na reforma univer-sitária. Assim, a Universidade de Coimbra* recebeu novos estatutos no ano
de 1772, que visavam modernizar o ensino aí ministrado, tanto ao nível das humanidades como das
ciências.
Neste sentido, a par da introdução de novas disciplinas (história do direito e história eclesiástica) e da
renovação do corpo docente, assistiu-se à criação de infraestruturas que possibilitavam ministrar um
ensino assente na observação e na prática: o gabinete de História Natural, o Jardim Botânico, os
laboratórios de Física e de Química, os laboratórios médicos e uma farmácia.
“[…]Mas julgar Pombal em função dos credos do liberalismo é um anacronismo menos flagrante, mas
do mesmo género do que seria, por exemplo, julgar D. Afonso Henriques por não ser republicano. O
valido de D. José nasceu ainda no sé culo XVII. Passou por Coimbra quando o iluminismo lá não
tinha chegado. O Contrato Social, de Roussau, teve a primeira edição em 1752; por essa altura
começava a publicação da Encyclopédie Française. Já então Pombal, passados os cinquenta, estava no
poder. Adam Smith publicou o seu sistema de liberalismo económico quando já o estadista se
aproximava do fim da vida política. As manifestações do espírito liberal eram portanto para ele
novidades que desafiavam todas as certezas que um homem da sua geração podia ter. Eram a obra dos
«pervertidos filosóficos destes últimos tempos», como ele lhes chamou. Assunto portanto da
competência da Real Mesa Censória, para quem ele o remeteu.[…]”
“[…]Foi também com entusiasmo que a revolução foi recebida no Brasil, mas aí por outros motivos.
Os naturais viam na gente da corte uma presença incómoda e forasteira. Muitos comerciantes eram
portugueses e viam na revolução a oportunidade de restabelecer os antigos privilégios do comércio
português, sem os quais aguentavam mal a concorrência das firmas estrangeiras, instaladas a partir de
1808 em grande número. Brasileiros e Portugueses acharam-se assim reunidos no apoio à revolução
liberal.[…]”
“[…]A maior parte dos homens que formavam o Sinédrio tinha ligações com o comércio. Isto levou
muitos escritores a classificar a revolução de 1820 como uma revolução bur-guesa. É uma afirmação
só verdadeira em certo sentido.
Sabe-se que foi a força ascendente das burguesias que provocou os grandes movimentos liberais
europeus: tendo nas mãos o poder económico, os burgueses lançaram-se à conquista do poder político.
Nada de semelhante ocorreu em Portugal. Em 1820, a burguesia estava em declínio; a classe média
era formada principalmente por proprietários rurais, uns nobres e outros que aspiravam a viver como
se o fossem, e não estavam interessados numa revolução que de qualquer modo pudesse lembrar a
Revolução Francesa. De facto, se alguns membros do Sinédrio eram comerciantes, outros eram
proprietários e outros ainda militares nobres; o que havia de comum entre todos era serem pessoas
cultas. O seu liberalismo tinha na base não uma situação económica, mas a leitura de livros
estrangeiros, as ideias bebidas no convívio universitário e nas lojas maçónicas. É nesse sentido que se
pode dizer que a revolução de 1820 foi burguesa: foi a revolução da ilustração, numa época em que a
ilustração era característica quase exclusiva da gente burguesa. […]”
Durante a guerra, os EUA eram o principal fornecedor em bens e serviços à Europa. No final da
guerra,
perante uma Europa destroçada (estava arruinada, tanto material como humanamente), a perda da
hegemonia europeia agravou-se em favor da ascensão dos EUA. No período pós-guerra, a Europa
enfrentou graves problemas como a inflação, desvalorização da moeda, desemprego, enfim, um
colapso económico. Evidenciou igualmente grandes dificuldades em reconverter a economia, o que
agravou a sua dependencia em relação aOs EUA, aumentando os niveis de endividamento.
A desvalorização da moeda e a inflação surgiram pois houve um recurso a emissão massiva de notas
de modo a lazer lace as aividas, o que provocou uma desvalorização que se reflectiu numa subida
generalizada de preços (inflação), agravando mais as condições de vida das populações.
Os EUA iniciaram, então, um período de franca prosperidade, são os designados "Loucos Anos 20"
por viver um clima de euforia, optimismo e confiança no futuro. Em consequência, os países europeus
ficam mergulhados em dividas ao estado americano que afirmou a sua supremacia. A eventual
recuperação da Europa deveu-se á ajuda dos EUA.
No ini-cio de junho, a queda do poder demo-crático republicano era uma realidade:
o parlamento foi dissolvido e instau-rou-se a ditadura militar.
Em 1928, a ditadura recebeu um novo alento com a entrada no Governo de António de Oliveira
Salazar e geriu a pasta das Finanças. Com Salazar nas Finanças, o país apresentou saldo positivo no
Orçamento. Este sucesso financeiro explica a sua nomeação, em julho de 1932, para a chefia do
Governo
Conservadorismo e tradição:
Salazar foi uma personalidade extremamente conservadora. O Estado Novo distinguiu-se pelo seu
caráter profundamente conservador e tradicionalista. Repousou em valores e conceitos morais que
jamais alguém deveria questionar: Deus, a Pátria, a Família, a Autoridade, a Paz Social, a Hierarquia,
a Moralidade, a Austeridade. Respeitou tradições nacionais e promoveu a defesa de tudo o que fosse
genuinamente português. Protegeu a religião católica como religião da Nação portuguesa.
Reduziu a mulher a um papel passivo do ponto de vista económico, social, político e cultural. A
mulher-modelo foi definida como uma mulher de grande feminilidade, uma esposa carinhosa e
submissa, uma mãe sacrificada e virtuosa. Por sua vez, considerou-se que a “verdadeira família
portuguesa” era a família católica de moralidade austera que repelia o vício e a desregração de
costumes.
Nacionalismo:
O Estado Novo perfilhou um nacionalismo exacerbado, expresso no slogan “tudo pela Nação, nada
contra a Nação”.
Para Salazar, só a valorização do poder executivo era o garante de um Estado forte e autoritário. Por
isso, a Constituição de 1933 reconheceu: A autoridade do Presidente da República como o primeiro
poder dentro do Estado, completamente independente do Parlamento (Assembleia Nacional) e
Atribuiu vastas competências ao Presidente do Conselho (Primeiro-Ministro):
A consolidação do Estado Novo passou pelo culto ao chefe, que fez de Salazar o “salvador da Pátria”.
Porém, Salazar mostrava-se avesso às multidões e cultivava a discrição, a austeridade e a moralidade.
Corporativismo:
Semelhante ao fascismo italiano, o Estado Novo português mostrou-se empenhado na unidade da
nação e no fortalecimento do Estado. Negou o divisionismo fomentado pela luta de classes marxista,
propondo o corporativismo como modelo da organização económica, social e política.
O corporativismo concebia a Nação representada pelas famílias e por organismo onde os indivíduos se
agrupavam pelas funções que desempenhavam. As corporações acabaram por se transformar num
meio de o Estado Novo controlar a economia e as relações laborais.
A unanimidade pretendida em torno do Estado Novo só foi possível com a extinção dos partidos
políticos e a limitação severa da liberdade de expressão. Em fins de 1934, realizaram-se as primeiras
eleições legislativas. A União Nacional transformou-se num verdadeiro partido único.
Estado repressivo:
Como outros regimes ditatoriais, o Estado Novo rodeou-se de um aparelho repressivo que amparava e
perpetuava a sua ação.
A censura prévia à imprensa, ao teatro, ao cinema, à rádio e à televisão, abrangeu assuntos políticos,
militares, morais e religiosos, assumindo o caráter de uma ditadura intelectual. Por sua vez, a polícia
política – Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (PVDE) – distinguiu-se por prender, torturar e
matar opositores ao regime.
A estabilidade financeira:
A estabilidade financeira converteu-se na prioridade e Oliveira Salazar e do Estado Novo. No que
respeitou a gastos públicos, os diversos ministérios foram submetidos a um apertado controlo por
parte de Salazar. Sob o lema de diminuir as despesas e de aumentar as receitas, Salazar conseguiu o
equilíbrio orçamental.
Defesa da ruralidade:
Portugal dos anos 30 viveu um exacerbado ruralismo. O ideário do Estado Novo privilegiava o mundo
rural, porque nele se preservava o que de melhor tinha o bom povo português.
Porém, nenhuma das medidas tomadas em benefício da agricultura teve a projeção da Campanha do
Trigo, que decorreu entre 1929 e 1937. Procurou alargar a área de cultura daquele cereal,
nomeadamente no Alentejo. O Estado concedeu grande proteção aos proprietários, adquirindo-lhes as
produções e estabelecendo o protecionismo alfandegário. O crescimento significativo da produção
cerealífera conseguiu a autossuficiência do país, forneceu grãos à indústria de moagem, favoreceu a
produção de adubos e de maquinaria agrícola e deu emprego. A Campanha de Trigo representou um
momento alto da propaganda do Estado Novo.
O condicionamento industrial:
Num país de exacerbado ruralismo, a indústria não constituiu a prioridade do Estado.
O débil crescimento verificado poder-se-á explicar pela política de condicionamento industrial
concretizada pelo Estado entre 1931 e 1937.
Esse modelo determinava que qualquer indústria necessitava da prévia autorização do Estado para se
instalar, efetuar ampliações, mudar de local, ser vendida a estrangeiros ou até para comprar máquinas.
O condicionamento industrial, que reflete o dirigismo económico do Estado Novo, tratava-se de uma
política conjuntural anticrise.
Procurava-se evitar a sobreprodução, a queda dos preços, o desemprego e a agitação social.
Contudo, o condicionamento industrial acabou por se converter em definitivo. Criaram-se, assim,
obstáculos à modernização.
A política colonial:
O Ato Colonial de 1930 afirmava a missão histórica civilizadora dos Portugueses nos territórios
ultramarinos, considerados possessões imperiais.
Em consequência daquele pressuposto, reforçou-se a tutela metropolitana sobre as colónias.
“[…] A evolução política é conhecida: depois de um período de turbulência inicial, que dilacerou a
adesão necessária ao enraizamento de verdadeiras reformas, instalou-se uma situação de índole
centrista, ainda que programaticamente reformista. A lei fundamental do Estado foi elaborada com
base num compromisso entre os partidos e as forças armadas e contém insistentes enunciados
revolucionários, que não passaram das leis às instituições. A vida política foi organi-zada a partir dos
partidos, que, sob certos aspectos, conferiu à revolução de 25. de. Abril um carácter de «restau-ração»
da situação anterior à revolução de 28 de Maio.
Restauração aparente, porque no período intercalar entre as duas revoluções se registaram mudanças
profundas nas estruturas sociais e económicas do País. O sistema partidário voltou a ser factor de
instabilidade, mas a praxis orientou-se no sentido de um presidencialismo tutelar que tem garantido o
funcionamento regular do sistema.[…]”