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Ficha de leitura Imbelela Monjane 12LH4

História concisa de Portugal


Biografia do Autor:
José Hermano Saraiva nasceu em Leiria, a 3 de Outubro de 1919, Um dos rostos mais conhecidos da
televisão pública, e também uma das figuras mais carismáticas, o percurso de Vida de José Hermano
Saraiva vai muito para além daqueles momentos em que, de forma muito pessoal e frequentemente
polémica, deu a conhecer ao telespetador português a sua visão apaixonada dos mais diversos
episódios da História do nosso país. Com formação em Ciências Histórico-Filosóficas e também em
Direito, José Hermano Saraiva foi professor e advogado, autor de dezenas de obras publicadas: A
Formação do Espaço Português e Lições de Introdução ao Direito e História Concisa de Portugal.
Dirigiu uma História de Portugal em 6 volumes, deputado na Assembleia Nacional e Ministro da
Educação no tempo do Estado Novo, e ainda antes do 25 de Abril de 1974 Embaixador de Portugal no
Brasil. Em 1971 já havia colaborado com a RTP como autor da série O TEMPO E A ALMA,
colaboração que seria interrompida pouco depois, e apenas retomada já no Portugal democrático com
a série GENTE DE PAZ, em 1978.
Membro de várias instituições académicas, academia de ciências de Lisboa, da academia portuguesa
da História, academia da marinha em Portugal, e do Instituto histórico de São Paulo, no Brasil. Sem
qualquer ligação a cargos oficiais, dedicou-se à apresentação da história de Portugal, quer através de
uma abundante produção de obra escrita, quer em sucessivos ciclos de programas televisivos, o que
lhe valeu uma popularidade apenas tornada possível pela inabitual combinação de grande erudição e
raro poder de comunicação. É autor de vasta bibliografia sobre temas jurídicos e históricos, com
destaque para a obra História Concisa de Portugal, que conheceu assinalável êxito também a nível
internacional.

Bibliografia da Obra e a temática:


Esta História Concisa de Portugal, traduzida em várias línguas, é a mais bem-sucedida das suas obras
em livro, e, com ela, o autor procurou dar resposta aos muitos pedidos que, ao longo dos anos, foi
recebendo para indicar uma «história de Portugal» abreviada, um livro «que não demorasse muito
tempo a ler, mas desse uma imagem global da evolução histórica do povo português», que não
contivesse «mais do que o essencial», mas não se ficasse pelo veiculado de forma elementar pelos
manuais escolares. Foi esse livro que procurou escrever e que, por apresentar a história de Portugal de
forma apaixonada e apaixonante, continua ainda hoje a ser procurado, lido e relido.
•Páginas: 367 •Exemplares 136 000
•Publicações: Europa •Edição: 12a
•Autor: José Hermano Saraiva •América -Coleção:Saber
Sinopse:
«Muitas vezes, e em muitas circunstâncias, me pediram que indicasse numa História de
Portugalabreviada, livro que não demorasse muito tempo a ler, mas desse uma imagem global da
evolução histórica do povo português. Livro que não contivesse mais do que o essencial, mas não
ficasse pelo nível elementarissimo dos vários epitomes escolares. Foi esse o livro que pretendi
escrever.»
José Hermano Saraiva
Módulo 1 - RAÍZES MEDITERRÂNICAS DA CIVILIZAÇÃO EUROPEIA - CIDADE,
CIDADANIA E IMPÉRIO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA

Roma: as origens do império


A origem da civilização romana é explicada de diversas formas, mas a ideia mais aceite é a de que
Roma nasceu fruto de influências etruscas e latinas. Fundada na zona fértil do Lácio, na península
Itálica, foi expandindo a sua influência ao longo do tempo. O seu domínio militar e cultural baseou-se
na organização de uma vasta rede de cidades que tinham a urbe de Roma como um modelo de
inspiração.

“[…]As primeiras tropas romanas entraram na Península por exigências estratégicas da segunda
guerra entre Roma e Car-tago. Era nas regiões da Ibéria que os Cartagineses recrutavam os homens
para as fileiras dos exércitos que atiravam contra Roma, e portanto os golpes que os Romanos aqui
vibrassem poderiam ser, como na verdade foram, de efeitos decisivos para o desfecho da guerra.
Concluída a destruição de Cartago, os Romanos conheciam os recursos peninsulares e continuaram
aqui para os explorar. Para isso empreenderam a ocupação sistemática do território, que em breve
dominaram quase completamente. Fora do quadro romano ficaram apenas as regiões montanhosas do
Cantabro, e isso explica que ainda hoje ali sobreviva a língua basca, um dos muito raros vestígios dos
idiomas pré-romanos da Europa.[…]”

A fundação da cidade de Roma é, tradicionalmente, explicada através de uma lenda. Reza esta que a
cidade foi fundada por Rómulo, em 753 a.C. Os gémeos Rómulo e Remo, filhos da sacerdotisa Reia
Silvia e do deus Marte, teriam sido abandonados nas margens do rio Tibre, amamentados por uma
loba e recolhidos pelo pastor Fáustulo e sua mulher. Quando cresce.
ram, decidiram fundar uma cidade; todavia, desentenderam-se, e Rómulo matou Remo.

Em contraponto a esta lenda, sabe-se que a região do Lácio, onde se situa Roma, era habitada desde o
Paleolítico. A arqueologia revela que, a partir do século IX a.C., houve um processo de concentração
de várias aldeias dispersas por algumas colinas. A cidade de Roma Antiga, à semelhança de outras do
Lácio (região central da península Itálica), tinha como base de organização o sistema gentílico: cada
domus (casa] correspondia a uma família; um grupo de famílias (gens), cujos elementos se
relacionavam religiosa e etnica-mente, formavam uma aldeia (pagus), que detinha um determinado
território.

Ao longo dos anos esta comunidade desenvolveu-se, com base no comércio e no artesanato, ao
mesmo tempo que foi sendo aculturada pelos Etruscos, povo mais evoluído, com elementos culturais
orientalizados e que teria como origem o território que hoje é a Toscânia. Com o aumento de
habitantes e a crescente influência etrusca, os grupos de população organizados no sistema gentílico
tentaram manter o seu prestígio social e político - será a partir deles que se irá constituir a classe
patrícia e, a partir da restante população, os plebeus, que mais à frente analisaremos.

Roma passou a ser governada por uma Monarquia, com os reis assessorados por um conselho real
composto pelos chefes das gens.
Segundo a tradição, Roma foi dominada por sete reis de origem etrusca, até 509 a.C., altura em que a
aristocracia romana expulsou o
monarca e instituiu uma República (de res publica, que significa o governo da «coisa pública»).
Assim, nos territórios dominados reorganizavam ou criavam urbes-núcleos urbanos protegidos, ou
não, por muralhas onde funcionavam as instituições de governo e que se distinguiam claramente da
zona rural do território.
À medida que o Império se expandia, precisava também de se organizar em termos de território.
Foram então criadas divisões administrativas, como as províncias, governadas por magistrados
nomeados pelo Senado ou pelo imperador.

Assim, o domínio militar e cultural foi desde sempre a base de organização da urbe de Roma, que se
estendeu a todo o extenso território do Império.

Da Monarquia à República
Em 509 a.C., a Monarquia romana foi abolida e o rei substituído por dois magistrados - primeiro
designados por pretores e, a partir de cerca de 500 a.C., por cônsules -, que detinham o imperium, ou
seja, o supremo poder militar e civil, instaurando-se uma República.
Na República, o poder começou por recair nos patrícios, membros das grandes famílias de radição
gentílica e que tinham assento no Senado.

recebiam proteção do patrício, em troca da realização de tarefas definidas por este.


Os plebeus - que compunham a restante população - eram cidadãos que se dedicaram à agricultura e
artesanato. Assim, os primeiros anos da República são marcados por constantes revoltas. Para
solucionar esta situação foram criados os tribunos da plebe,tinham como função proteger este grupo
social de possíveis abusos.

•os comitia centuriata-Esta assembleia tinha funções legislativas, judiciais e eleitorais, e elegia os
magistrados superiores que detinham o imperium: os cônsules e os pretores;

•os comitia tributa-Esta assembleia elegia os magistrados que se encon travam na base da
magistratura: os questores e os edis.

As magistraturas eram os mais altos cargos a exercer. Para se poder aceder às magis traturas era
necessário ser-se homem livre, sem qualquer condenação judicial, não exercer qualquer ofício
remunerado e possuir um elevado nível de fortuna para poder pagar as despesas, inerentes ao
cumprimento das suas funções, e da campanha eleitoral.

Para além destas, existiam ainda magistraturas extraordinárias: a ditadura e a censura.


No caso de existir uma ameaça interna ou externa, os cônsules nomeavam um ditador. Os censores
tinham como função presidir à elaboração do censo dos cidadãos, distribuindo-os por centúrias e
tribos, atendendo à idade, à fortuna, à residência ou à condição.

2.3 A romanização da península itálica ibérica: um exemplo de integração de uma região


periférica no universo imperial
A conquista:
A conquista da Península Ibérica iniciou-se em 218 a.C. e só culminou em 19 a.C. Foi um processo
difícil e atribulado devido à persistência dos povos do norte e centro da Hispânia, entre eles os
Lusitanos, os Calaicos, os Ástures e os Cântabros. A península era atrativa devido principalmente à
existência de metais e ao desejo dos romanos de expandir o seu território para o mundo desconhecido.

A expansão da cultura romana deu-se, na Hispânia, mais rapidamente no


Sul do que Norte devido à resistência dos povos autóctones. Apesar disso, o processo de romanização
foi bem aceite devido a diversos fatores:
• À medida de que o exército chegava, estes foram-se instalando e criando contacto com os povos
locais, trazendo a cultura romana e partilhando-a, tendo a participação de hispânicos no exército o
mesmo sentido assim como a chegada de imigrantes italianos;
• A ação das autoridades provinciais foi um fator que permitiu uma pacificação geral visto que
mostravam uma atitude de tolerância e respeito pelos nativos. Estas promoveram a construção de
obras públicas e atraiam os filhos dos chefes indigenas a terem uma educação tipicamente romana; - A
língua comum, o latim, difundiu-se e permitiu o melhor entendimento entre conquistados e
conquistadores. Já a religião oficial não foi sobreposta sobre as divindades locais, permitindo às
populações manter as suas práticas religiosas, apesar de ser introduzido o culto ao imperador.
O Direito e o respeito pelas suas leis era uma forma de manter a ordem e a segurança;
• A densa rede de estradas permitiu a fácil ligação entre os diversos municípios e colónias, que com
governos e órgãos de decisão própria, eram autênticas cidades romanas. O seu desenvolvimento (de
cidades preexistentes) e a criação de novas cidades urbanas atraíram as populações mais rurais.

Módulo 4 – A EUROPA NOS SÉCULOS XVII E XVIII – SOCIEDADE, PODER E


DINÂMICAS COLONIAIS
2.1.4 Sociedade e poder em Portugal: preponderância da nobreza fundiária e mercantilizada
A sociedade portuguesa, no século XVII e início do século XVIII, apresentava uma estrutura de
ordens, hierarquizada e estrati-ficada, típica de Antigo Regime.

A nobreza, enquanto proprietária de terras, continuava a afirmar-se como uma ordem privilegiada. De
facto, era dominantemente a esta nobreza antiga e de linhagem que cabiam os principais cargos,
distinções e títulos, bem como a maior parte das propriedades. Após a perda da independência em
1580 e a ascensão de Filipe II ao trono de Portugal, a aristocracia portuguesa viu a corte deslocar-se
para Madrid.

Após a Restauração da independência, em 1640, entre os reinados de D. João IV e de D. João V,


assistiu-se a uma reestruturação e renovação da nobreza. Assim, a nobreza reestruturara-se e
conseguira obter um quinhão das responsabilidades governativas. Nos fins do século XVII, os grandes
proprietários detinham firmemente as rédeas do poder.
Uma parte da nobreza portuguesa continuava a ver no Império Ultramarino uma forma de aumentar os
seus rendimentos. Esta participação na administração colonial contribuiu para engrandecer os
rendimentos das casas senhoriais.

Ao nível interno do reino, desde o final do século XVII e início .do século XVIII, no Norte de
Portugal, o alargamento da cultura da vinha, em ligação com o desenvolvimento do comércio do
vinho do Porto, sobretudo impulsionado pela procura do mercado. inglês, contribuiu para que muitas
casas senhoriais. Deste modo, podemos constatar que a prática do comércio foi sempre encarada pela
nobreza como uma fonte suplementar.
Esta nobreza mercantilizada, composta por fidalgos-mercadores, contou com o apoio régio e com um
regime de proteção económica que impediu, assim, o desenvolvimento de uma burguesia forte,
empreendedora e dinâmica, ao contrário do que acontecia no Norte da Europa, onde a burguesia
detinha um papel ativo no desenvolvimento comercial.

Criação do aparelho burocrático do estado absoluto no século XVII:


Numa época marcada pelo reforço da centralização do poder régio, em Portugal a estruturação do
aparelho burocrático encontra as suas raízes ainda no período do domínio filipino, sobretudo no
reinado de Filipe II, que promoveu uma reforma do sistema administrativo.

Com a Restauração e a subida ao trono de D. João IV, a necessidade de, por um lado, reconstituir a
administração central e, por outro, de recompensar a nobreza fiel à causa independentista. Assim, esta
partilha de poder entre o rei e a aristocracia assumiu expressão na criação de Conselhos: o Conselho
da Guerra,Conselho da Fazenda e o Conselho Ultramarino. Foi sob o reinado de D. João IV que o
cargo de escrivão da puridade foi extinto e que surgiu o de secretário de Estado, responsável pela
coordenação das tarefas de governo. O rei procedeu também à criação de duas secretarias. Esta
estrutura administrativa, cada vez mais complexa e burocratizada. Depois da morte de D. João IV, D.
Luísa de Gusmão, sua mulher, assumiu a regência até o infante D. Afonso atingir a maioridade.O
governo de D. Afonso VI foi marcado pelo declínio dos Conselhos e pela perda de poder por parte dos
secretários.
Estes deixaram de interferir na condução dos assuntos políticos, em grande parte devido ao facto de,
por regulamento datado de 1663, D. Afonso VI restaurar o cargo de escrivão da puridade, atribuído ao
3.° conde de Castelo Melhor, que se afirmara como a principal figura política e administrativa do
reino. Esta situação provocou descontentamento, pois significava a concentração do poder da
administração central numa figura que não a do rei, com a consequente exclusão de parte da
aristocracia. Neste sentido, D. Afonso VI acabou por retirar o seu apoio ao conde de Castelo Melhor,
o que significou o fim do cargo de secretário particular do rei (escrivão da puridade).

A instabilidade política marcou o reinado de D. Afonso VI que foi declarado incapaz . D. Pedro, seu
irmão, assumiu o trono como regente é depois como sucessor, tendo-se tornado rei. Durante o reinado
de D. Pedro II, as Cortes foram convocadas por três vezes, com caráter não tanto político mas
particularmente simbólico, e quando procuraram interferir politicamente no governo do reino, D.
Pedro II dissolveu-as. Neste sentido, as Cortes de Lisboa de 1697-1698 foram as últimas realizadas no
século XVII. Na verdade, as Cortes eram um órgão consultivo, pelo que cabia exclusivamente ao rei
quer a sua convocação, quer a liberdade de aceitar as decisões aí tomadas.

o processo de centralização em torno do rei prosseguiu e acentuou-se decisivamente com D. João V


(1689-1750), que encarnou em Portugal o modelo do rei absoluto.

O absolutismo Joanino:
O reinado de D. João V iniciou-se em 1707, numa Europa marcada pela figura de Luís XIV, que
serviu de modelo ao absolutismo joanino. ouro do Brasil permitiu a D. João V usar a opulência para
afirmar externamente Portugal como um grande reino. O absolutismo joanino se, por um lado, se
inspirou no modelo francês, por outro, assumiu particularidades que lhe conferiram uma identidade
própria. Neste sentido, o fausto, o cerimonial de corte, a figura do monarca paternalista são, sem
dúvida, de influência francesa; porém, D. João V não foi alvo de um culto tão intenso como aconteceu
com Luís XIV e manteve uma maior proximidade face aos seus súbditos.

a manutenção da ordem social dos privilégios e as prerrogativas de cada estado, foi a característica
que atravessou o reinado de D. João V. Cabia ao monarca cumprir e fazer cumprir as leis
fundamentais do reino, bem como fazer justiça, de acordo com os princípios morais e católicos.

O governo de D. João V ficou também marcado pelo facto do monarca controlar todos os assuntos de
Estado. Deste modo, assistiu-se ao declínio do governo apoiado por conselhos. Durante o seu reinado
não foram convocadas cortes, o que revelou a concentração de poderes nas mãos do rei.

A criação do Gabinete da Abertura, permitiu a D. João V conhecer o que se passava no reino, bem
como nos territórios coIoniais, a decisão suprema cabia sempre e só ao monarca.

Durante o reinado joanino procedeu-se a uma reforma adminis-trativa, que foi responsável pela
renovação da nobreza de corte, no desempenho dos cargos político-administrativos, através da criação
de um corpo de altos funcionários. em 1736, D. João V procedeu à reforma das secretarias de Estado,
com vista a tornar mais rápida e eficaz a expedição dos assuntos do reino. As secretarias receberam
novos nomes e foram reorganizadas e clarificadas as suas atribui-ções: a Secretaria de Estado dos
Negócios do Reino, a Secretaria de Estado da Guerra e Negócios Estrangeiros e a Secretaria da
Marinha e do Ultramar.

Porém, apesar destes organismos tratarem de grande parte dos assuntos do reino, reunindo com o rei
duas vezes por dia, as decisões cabiam sempre ao monarca, pelo que o secretário era meramente um
executor da vontade régia.

Outra forma de D. João V espelhar e simbolizar o seu poder e a sua magnificência foi o patrocínio das
letras e das artes. Como símbolos desta atividade mecenática, destacaram-se a criação da Academia
Real de História Portuguesa, no ano de 1720, que tinha como obietivo a investigação e a produção de
obras da História de Portugal, quer do ponto de vista político, quer eclesiástico; a criação da
Biblioteca da Universidade de Coimbra, conhecida como Biblioteca Joanina, e ainda alguns núcleos
da Biblioteca da Ajuda, em Lisboa.

No campo da ciência: para além de ter promovido a instalação de um gabinete e observatório


astronómico.

No domínio das obras públicas: procedeu a reformas no Paço da Ribeira, residência real, e deu início
à construção do Aqueduto das Águas Livres com o objetivo de solucionar o problema do
abastecimento de águas à população de Lisboa. Por todo o reino se edificaram igrejas, decoradas com
talha dourada, palácios e man-sões.

Mas o símbolo do seu reinado foi indubitavelmente a construção do palácio-convento de Mafra, numa
clara demonstração da grandeza joanina, um dos mais importantes edifícios barrocos de Portugal.

3. Triunfo dos atestados e dinâmicas económicas nos séculos XVII e XVIII


3.3 Portugal- dificuldades e crescimento económico
3.3.1 Da crise comercial de finais do século XVII á apropriação do ouro Brasileiro pelo mercado
britânico:
No final do século XVII, a economia portuguesa repartia-se entre a exploração dos recursos dos
espaços que constituíam o seu império, da Ásia ao Brasil, o comércio colonial e a atividade
económica da metrópole. Neste sentido, o comércio do Atlântico, em especial do Brasil, assumia-se
como o principal polo económico, bem como as riquezas que afluíam ao reino: açúcar, tabaco e
madeiras. Em menor escala, os produtos e especiarias do Oriente continuavam a conferir à economia
nacional um caráter essencialmente comercial (e menos produtivo), fazendo de Lisboa o entreposto
onde chegavam os produtos coloniais. Na verdade, no século XVII, o modelo económico do reino
continuava a assentar numa economia de base cerealífera, tradicional e longe de ser autossuficiente.
Era uma economia dependente do comércio colonial e do exterior, constituindo exceção a exportação
de alguns vinhos e do sal português, produtos apre-ciados na Europa.

Nos anos de 1670 e 1690, Portugal confrontou-se com uma crise eco-nómica. Esta crise fez-se sentir
tanto na Ásia, como na zona atlân-tica, e associou-se a uma conjuntura internacional adversa ao
comércio colonial português, do qual o reino era profundamente dependente. De facto, a concorrência
internacional dos holandeses, franceses e ingleses no Oriente conduzira ao declínio da hegemonia
portuguesa. Por outro lado, nas Antilhas, a produção de açúcar e do tabaco, desenvolvida pelos
holandeses e franceses, provocou a queda dos preços, em consequência do aumento da produ-ção,
retirando a Portugal alguns dos mercados para onde, tradicionalmente, escoava estes produtos
ultramarinos. Acresceu também o facto de Portugal se ver envolvido nas guerras da Restauração que
obrigaram a despesas elevadas e que acentuaram a dependência da economia nacional face à
Inglaterra. De referir ainda que as exportações do sal e do vinho português defrontavam-se com a
concorrência francesa e espanhola.

Assim, no final do século XVII, Portugal, confrontado com o elevado défice da balanca comercial e
com a debilidade das suas estruturas produtivas.
A implementação de várias iniciativas de desenvolvimento económico nacional, de índole
protecionista, destinadas a diminuir as importações e a aumentar a produção nacional.
De forma a atingir estes objetivos, foram postas em prática, sobretudo pelo conde da Ericeira, as
seguintes medidas:

Promulgação das Pragmáticas, com destaque para as de 1677, 1686, 1688 e 1690, que limitavam e
proibiam a importação de bens de luxo (panos, baetas, sedas, louças, vidros, chapéus, adereços e
calçado), produtos considerados desnecessários e negativos para as finanças do reino, e que
contribuíam para o desequilíbrio da balança comercial, os produtos que deixavam de ser importados
do estrangeiro;

•proibição da importação de matérias-primas que serviam as manufaturas nacionais;


•reorganização das fábricas antigas mediante regulamentos de produção, com vista também a garantir
a qualidade;
• criação de novas manufaturas: sedas; lanifícios; chapéus; vi-dro; ferro; couros; papel
• concessão de privilégios que permitiram a algumas manufaturas disporem do exclusivo da produção
e de ostentarem a
marca "Fábrica Real";
• contratação de artífices estrangeiros, entre os quais se destacaram franceses, italianos, alemães,
irlandeses e ingleses, no sentido de introduzir no reino melhores técnicas de produção.
A descoberta do ouro brasileiro e a sua apropriação pelo mercado britânico:
Foi a partir do século XVI que se iniciaram as primeiras expedições em busca de metais preciosos em
território brasileiro. Contudo, foi somente no final do século XVII que se encontraram as primeiras
jazidas no interior do Brasil, na região de Minas, por intermédio da ação dos bandeirantes Fernão Dias
Pais Leme. As bandeiras do final de Seiscentos foram impulsionadas pela coroa portuguesa, com o
objetivo de encontrar novas riquezas, no interior do Brasil, como forma de prover novas fontes de
rendimento que permitissem fazer frente à crise com que o reino se debatia.foi encontrado ouro na
Baía, em Mato Grosso e em Goiás. Estava aberta a corrida ao ouro que, conduzida pelos bandeirantes,
possibilitou a exploração do interior do Brasil e proporcionou uma nova forma de exploração e de
delimitação das fronteiras do território brasileiro, pois os limites estabelecidos no Tratado de
Tordesilhas foram substituídos pelos das fronteiras naturais.

Foi no final do século XVII, cerca de 1697, que aportou em Lisboa o primeiro carregamento de ouro
vindo do Brasil. A partir de então, e até cerca de 1740-1750, as remessas de ouro não pararam de
chegar à metrópole.

A descoberta do ouro veio dar novo fôlego à economia portuguesa e, entre 1697 e 1750, o afluxo de
metal precioso permitiu. resolver alguns dos problemas económicos do reino. Assim, na primeira
metade do século XVIII, a economia do reino viveu um período de relativa prosperidade. Para além
de aumentar a moeda em circulação (cerca de 80% do ouro acumulado em Portugal serviu para cunhar
moeda), tornava-se possível pagar no. vamente as importações, o que contribuiu para negligenciar as
políticas de fomento da produção interna, assentes no desenvol. vimento das manufaturas e na redução
das importações.

A ilusão de riqueza não diminuiu o défice comercial que passou, a partir de então, a ser pago com o
ouro brasileiro. Atraídos pelas remessas do metal aurífero, os países europeus, nomeadamente a
Holanda, a França, a Itália e a Inglaterra, dinamizaram as relações comerciais com Portugal com o
intuito de captar o ouro que chegava ao reino. Como veremos, a Inglaterra foi a maior beneficiária do
ouro brasileiro.

Podemos concluir que a pretensa complementaridade inicial entre a economia portuguesa e inglesa
não foi efetiva, pois a supremacia económica de Inglaterra acentuou-se, resultando, por um lado,
numa maior asfixia e estagnação da produção nacional e, por outro, na apropriação do ouro brasileiro
pela Inglaterra, através dos circuitos comerciais de uma balança comercial muito deficitária.

A política económica e social pombalina:


Em 1750, no final do reinado de D. João V, a conjuntura eco-nómica portuguesa apresentava-se
adversa, com indicadores claramente negativos: excessiva dependência da economia nacional face à
Inglaterra; elevado défice da balança comercial por-tuguesa; diminuição do afluxo do ouro e dos
diamantes ao reino; dificuldade de colocação dos produtos coloniais no mercado in ternacional;
produção manufatureira reduzida, de fraca qualidade e asfixiada pela concorrência inglesa; comércio
colonial cada vez mais suieito à concorrência e aos interesses estrangei-ros; agricultura atrasada e
pouco produtiva; setor vinícola afetado pela perda de qualidade, que se refletia na baixa do preço dos
vinhos e no recuo das exportações. Foi nesta conjuntura, marcada por dificuldades, que D. José
Iascendeu ao trono.
Neste sentido, a escolha de D. José I recaiu sobre um diplomata que havia ser vido em Londres e em
Viena, Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal, cuja experiência no estrangeiro
permitiu-lhe introduzir ideias de um governo renovador, das instituições e da mentalidade do país.
Tarefa exigente esperava o novo secretário: havia que proceder a reformas económicas, no sentido de
diminuir as importa-ções, de desenvolver a produção manufatureira, de reduzir a dependência face a
Inglaterra, de restringir os efeitos negativos. da concorrência externa, de retirar o controlo do
comércio nacional das mãos dos estrangeiros, de aumentar a produção agrí cola, de dotar o comércio
colonial de uma maior rentabilidade e de equilibrar a balança comercial, para promover a criação de
riqueza. Para a concretização destes objetivos, Sebastião losé de Carvalho e Melo optou pela
aplicação de medidas de cariz mercantilista. Relativamente ao domínio do comércio, promoveu a
criação de companhias monopolistas, apoiadas pelo Estado, como forma de reforçar e de centrar no
reino os interesses comerciais articulando o comércio da metrópole com o do ultramar, a fim de
enfrentar a concorrência estrangeira.

Na metrópole, assistiu-se à criação das seguintes companhias:


• Companhia para a Agricultura das Vinhas do Alto Douro
• Companhia Geral das Reais Pescas do Algarve

A criação destas companhias na metrópole implicou a concessão de privilégios pelo Estado e a


proteção régia. Para o comércio ultramarino foram igualmente criadas as seguintes companhias:
• Companhia da Ásia
• Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão
• Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba

De facto, este organismo garantia e supervisionava a atividade mercantil, fiscalizando as importações,


definindo políticas e ainda impedindo os contrabandos que lesavam os inte resses do Estado. Deste
modo, pode afirmar-se que a criação destas companhias melhorou a organização do comércio,
possibilitou o aumento da produção, fez crescer as exportações e acabou por favorecer o equilíbrio da
balança comercial. Em relação ao mercado interno metropolitano, estabeleceram a liberdade de
circulação para mercadorias, mantimentos, tecidos ou géneros fabricados ou produzidos no Reino, e
que se constituíram como os primeiros passos da criação do mercado interno unificado.

Marquês de Pombal dedicou atenção especial aos setores produtivos. Neste sentido, fomentou o
desenvolvimento de manufaturas e reestruturou o setor, através da criação de novas fábricas, do apoio
esta-tal, da concessão de privilégios e de subsídios a privados, com o intuito de dinamizar as
manufaturas.
Foi desenvolvida a indústria de lanifícios como forma de concorrer com a produção estrangeira,
destacando-se a Real Fábrica de Lanifícios

No domínio social, a ação desenvolvida pelo marquês de Pombal ficou ligada à valorização da alta
burguesia, apelidada de homens de negócios. Simultaneamente, procurou suscitar o interesse da
nobreza pela atividade comercial. Fez também desaparecer a distinção entre cristãos-novos e
cristãos-velhos.

Apoiada pelo Estado, pela primeira vez, a burguesia portuguesa pombalina desempenhava um papel
social e económico reconhecido
A legislação pombalina procurou colocar a nobreza ao serviço do Estado, deu-lhe educação própria,
reforçou o seu prestígio social com novas funções, incentivando até a prática do comércio pelos
aristocratas.
Assistiu-se também ao enfraquecimento e à reforma do tribunal do Santo Ofício, cujo funcionamento
era considerado contrário aos princípios iluministas, procurando a Coroa interferir na nomeação dos
inquisidores-mores.

Podemos então concluir que, no plano social, a ação do marquês de Pombal ficou marcada pela
perseguição à alta nobreza e ao clero, com o objetivo de limitar a ação de todos os que tentavam
contrapor-se à política régia e ao reforço do poder do Es-tado. A sua política social apoiou-se na alta
burguesia, que elevou a posições cimeiras na hierarquia social, dando forma à criação de uma nova
nobreza, que alguns historiadores designaram nobreza pombalina.
A política do Marquês de Pombal restringiu os poderes da alta nobreza, limitou a interferência da
Igreja nos assuntos do Estado e subordinou todos à vontade régia.

A prosperidade comercial de finais do século XVIII:


As políticas económicas levadas a cabo pelo marquês de Pombal acabaram, a breve trecho, por
produzir efeitos positivos, mesmo para além do seu afastamento do governo.
Assim, o saldo da balança comercial começou a inverter a curva descendente a partir de, logo depois
do terramoto que atingiu Lisboa, devido ao aumento das exportações sobre as importações. Em
1790-1792 os saldos foram positivos, com novo défice em 1793, e novo saldo positivo em 1794 e
1795, tendência que se manteve, embora de forma irregular, até ao início do século XIX.
A curva tendencialmente positiva da balança comercial foi consequência do fomento manufatureiro,
do aumento da produção agrícola, com a introdução de novos produtos (milho, arroz e batata), do
incremento da indústria do sal e das pescarias, do acentuar do exclusivo colonial, que protegeu o
comércio português, e ainda de uma conjuntura externa que fragilizou as principais economias
europeias (a guerra da independência das colónias inglesas da América do Norte, entre 1775 e 1783, e
ainda a Revolução Francesa de 1789), o que resultou em vantagem positiva para a economia
portuguesa.

A prosperidade comercial de finais do século XVIII foi uma realidade traduzida na reanimação da rota
do Cabo. No entanto, foi o Brasil que manteve acrescida importância na economia portuguesa, não
devido ao ouro ou aos diamantes, mas aos produtos agrícolas e às matérias-primas. o comércio com
África, nomeadamente Angola, manteve-se com base no tráfico de escravos, que voltou a aumentar a
partir de 1790.

4.Construção da modernidade europeia


4.3Portugal-o projeto pombalino de inspiração Iluminista:
O reinado de D. Josê foi marcado pelo Iluminismo cujas influências, vindas do estrangeiro, fizeram
sentir não só ao nível da doutrina política, mas também na prática de governo. Ainda que as ideias
iluministas tenham entrado tardiamente em Portugal, sobretudo a partir da segunda metade do século
XVIII, através dos contributos de figuras ligadas à corte, à elite intelectual ou à diplomacia portuguesa
no estrangeiro. Estas personalidades ficaram conhecidas como estrangeirados. Consequentemente, os
governantes esclarecidos, inspirados nas ideias iluministas, implementaram um conjunto de
transformações cujo objetivo era a modernização do Estado à luz da razão.
A política pombalina consolidou a autoridade dos funcionários do Estado, que eram recrutados pela
sua competência e habilitação, ao serviço do rei e do Estado.
O despotismo esclarecido josefino, do ponto de vista social, retirou privilégios antigos que se
encontravam ancorados na hereditariedade e na tradição. O objetivo era nivelar os grupos sociais
perante o poder do soberano e evitar a sobreposição de poderes, de jurisdições e de leis, contrários à
razão e ao interesse do Estado.

“[…]O projecto da cidade nova tem a data de 12 de Junho de 1758. Os donos dos terrenos onde
tinham estado, ou estavam ainda, os velhos prédios eram obrigados a construir ali em conformidade
com o projecto. Quem o não fizesse durante cinco anos perdia o direito a construir e os terrenos eram
vendidos a quem os pudesse comprar. A propriedade passou em muitos casos das mãos dos nobres,
sempre em apuros financeiros, para as dos negociantes afazendados, que podiam pagar as
indemnizações. Em 1763 já havia muitas casas feitas, mas estavam devolutas porque não havia quem
as quisesse habitar; os Lisboetas tinham-se entretanto habituado a viver em barracas. Mas uma nova
lei veio ordenar a demolição de todas as barracas, com o fundamento de que tinham sido construídas
no período em que a construção estava proibida.[…]”

Modernização do estado e das instituições


No sentido de agilizar a máquina burocrática para que a mesma cumprisse, eficazmente, a cobrança de
impostos, e assegurasse a aplicação da justiça, de forma mais moderna e racio-nal, o governo de D.
José I e de Pombal procedeu a um conjunto de reformas destinadas a centralizar e a reorganizar o
aparelho do Estado. Assim, a partir da 1756, a Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, a cargo
do futuro marquês de Pombal, controlava todos os assuntos que, vindos dos tribunais e das secretarias,
eram levados a despacho régio.

Assim, a partir da 1756, a Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, a cargo do futuro marquês de
Pombal, controlava todos os assuntos que, vindos dos tribunais e das secreta-rias, eram levados a
despacho régio. tinha como obietivo a centralização e o controlo das receitas e das despesas públicas,
pondo à disposição do poder central os recursos fiscais. à criação do cargo de tesoureiro-geral das
sisas, a quem cabia a recolha destas receitas, e do tesoureiro-mor, responsável pelos livros de contas.
Em termos económicos, conforme foi já analisado, foi criada a Junta do Comércio que promoveu o
desenvolvimento do reino e da produção nacional, adequando às exigências do Estado e de bem
comum.

Desde meados do século XVIII eram várias as queixas de in-segurança, tanto na capital, como noutras
cidades do reino, sendo frequentes os roubos, os homicídios e outros atentados à ordem pública. Foi
neste contexto, agravado pela insegurança criada após o terramoto de 1755, que se inseriu a criação da
po-lícia, para proteger as pessoas e os seus bens, fazer cumprir a lei e os seus regimentos, de modo a
garantir a boa ordem da sociedade pública. O cargo de intendente-geral da polícia era de confiança
régia. A criação deste cargo permitiu estabelecer a separação entre as funções judiciais e policiais.

A criação da Real Mesa Censória, retirou à Igreja, e nomeadamente à Inquisição, o controlo da


censura, que passou a estar dependente do Estado e nas mãos de jurisconsultos e de letrados. Passava
a caber ao Estado o controlo dos livros, dos panfletos e das publicações. Nesta medida, a censura, que
anteriormente tinha objetivos essencialmente religiosos, passou a ser exercida também por motivos
políticos. Apesar de se manter a proibição de livros que versassem assuntos como a feitiçaria, a
astrologia, o ateísmo e doutrinas não católicas, a censura recaía também sobre todos aqueles que
criticassem o governo ou pusessem em causa a ordem social.

Ordenação do espaço urbano


Lisboa entrara no século XVIII como uma cidade com algum esplendor arquitetónico barroco, da
época joanina. Foi um acontecimento catastrófico, de ori-
gem natural, que veio alterar profundamente a imagem da capital do império das descobertas. Na
manhã de 1 de novembro de 1755, no dia de Todos os Santos, Lisboa foi devastada por um violento
terramoto que destruiu mais de metade da cidade, deixando em ruínas os seus edifícios mais
importantes como o Palácio Real, inúmeras igrejas, o Hospital de Todos-os-Santos, a Ópera do Tejo e
os mais opulentos palácios da aristocracia portuguesa.
A ação dos governantes visou evitar que, à catástrofe natural, se juntasse um grave problema de saúde
pública, para além da destruição material e humana. Simultaneamente, procedeu-se à interdição de
construção nas zonas afetadas, já que a ruína da baixa da cidade abria o caminho para a criação de um
novo espaço urbano, pelo que o impacto do terramoto acabou por ter consequências mais vastas. A
necessidade de reconstrução de Lisboa implicou o reordenaménto urbano, inspirado na conceção
iluminista, mais racional.

Na chamada Lisboa pombalina, o espaço urbano foi organizado de acordo com os modelos
desenvolvidos nas modernas cidades europeias. Assim, foram dois os grandes centros a partir dos
quais se desenvolveu a nova cidade: o Terreiro do Paço, rebatizado de Praça do Comércio, e o Rossio.
A ligação entre estes dois espaços era feita através de ruas amplas, retilíneas, de traçado ortogonal e
com vias hierarqui-zadas. Não se tratava apenas de uma reconstrução ou de um reordenamento
urbano, mas sobretudo da afirmação de uma imagem política do rei e do reino. a coerência de todo o
projeto manteve-se nos modelos padronizados, quer nas obras arquitetónicas, quer no planeamento
urbano, pautado por elementos de simetria, visíveis nas portas, nas janelas e na altura dos edifícios
que acabaram por ser a marca de um "estilo" ar-quitetónico definido como pombalino. Assim, esta
nova cidade tinha princípios arquitetónicos e urbanísticos subjacentes, com reflexos e intenções
sociais.

A nova cidade desenvolvida no espírito das Luzes exigia infraestruturas com vista à melhoria das
condições de saúde pú-blica, tal como acontecia nas "nações mais iluminadas". Criou-se um novo
sistema de esgotos, construíram-se passeios, envidraçaram-se as janelas, construíram-se sistemas de
areja-mento e os pavimentos receberam também especial atenção. No domínio das técnicas de
construção, introduziu-se o sistema de gaiola que, através de estacas de madeira, no interior das
pare-des, constituiu um eficaz sistema antissísmico.

A reforma do ensino
As reformas pombalinas passaram também pelo campo do ensino. As influências que do estrangeiro
se fizeram sentir em Portugal eram consequência de uma nova atitude perante o conhecimento e a
realidade. As influências que do estrangeiro se fizeram sentir em Portugal eram consequência de uma
nova atitude perante o conhecimento e a realidade. O Estado assumiu-se, deste modo, como o
responsável pelo desenvolvimento do ensino, tarefa que era, tradicionalmente, da competência da
Igreja e em particular dos Jesuítas.

A influência dos estrangeirados trouxe para Portugal uma nova visão do ensino e da pedagogia. Nos
seus escritos, esses intelectuais valorizaram novas matérias.A ideia de que o ensino em Portugal
estava atrasado e era retrógrado despertou nestes homens, que haviam estado no estrangeiro, a crença
de que era necessário romper com o que se ensinava e como se ensinava e, consequentemente,
proceder a uma ampla reforma neste domínio.

Luís António Verney, em 1746, na sua obra Verdadeiro Método de Estudar, fez a apologia de um
sistema pedagógico e de ensino em que a aprendizagem da língua materna devia ser feita juntamente
com o latim. Nela condenou o recurso aos castigos físicos, defendeu uma formação nas humanidades
e nas ciências. Verney considerava ser necessário imprimir sebentas para auxiliar o estudo e
assumiu-se também como um defensor do alargamento do ensino às mulheres. Propunha o
afastamento dos métodos antigos, desenvolvidos sobretudo pelos Jesuítas, que considerava
responsáveis pela decadência a que havia chegado o ensino em Portugal.

Ribeiro Sanches (1699--1783), foi o inspirador da reforma da Universidade de Coimbra.


Foi na sua obra Cartas sobre a Educação da Mocidade, de 1759, que refletiu acerca dos meios
necessários para reorganizar o ensino no reino. defendia igualmente um ensino laico e orientado pelo
poder político. Defendeu a necessidade de criar uma escola direcionada para a educação dos fidalgos.
Deste modo, estabeleceu uma separação clara entre o que era do domínio eclesiástico e do Estado.
Ribeiro Sanches considerava que não podia faltar ao ensino uma vertente prática e de utilidade no
sentido de contribuir para o desenvolvimento do reino.

As novas ideias dos estrangeirados acerca do ensino acabaram por assumir expressão nas reformas
empreendidas por Pombal. Ao empreender a reforma do ensino, Pombal tinha em mente, não só o
progresso cultural e a instrução do reino, mas também objetivos de caráter político e social: colocar o
ensino sob a tutela do Estado, assumindo claramente a ideia de ensino público em Portugal,
secu-larizando-o, retirando-o do domínio religioso, e uniformizar os programas, adequando-os aos
novos tempos, e ainda a não menos utilitária intenção de formar e instruir um corpo de funcionários
segundo as ideias iluministas.

Pombal criou a Aula do Comércio, na medida em que defendia a necessidade de instrução nos
assuntos da vida comercial e mercantil (câmbios, pesos e medidas), de modo a formar pessoas que
pudessem acompanhar as mudanças comerciais e contribuir para o desenvolvimento económico do
reino.

No ano de 1761, fundou, em Lisboa, o Real Colégio dos Nobres destinado a ensinar os filhos da
fidalguia, com vista à sua preparação para os mais altos cargos de administração do Es-tado.
A criação da Junta de Providência Literária, em 1768, foi importante na medida em que auxiliou
Pombal na reforma univer-sitária. Assim, a Universidade de Coimbra* recebeu novos estatutos no ano
de 1772, que visavam modernizar o ensino aí ministrado, tanto ao nível das humanidades como das
ciências.
Neste sentido, a par da introdução de novas disciplinas (história do direito e história eclesiástica) e da
renovação do corpo docente, assistiu-se à criação de infraestruturas que possibilitavam ministrar um
ensino assente na observação e na prática: o gabinete de História Natural, o Jardim Botânico, os
laboratórios de Física e de Química, os laboratórios médicos e uma farmácia.

“[…]Mas julgar Pombal em função dos credos do liberalismo é um anacronismo menos flagrante, mas
do mesmo género do que seria, por exemplo, julgar D. Afonso Henriques por não ser republicano. O
valido de D. José nasceu ainda no sé culo XVII. Passou por Coimbra quando o iluminismo lá não
tinha chegado. O Contrato Social, de Roussau, teve a primeira edição em 1752; por essa altura
começava a publicação da Encyclopédie Française. Já então Pombal, passados os cinquenta, estava no
poder. Adam Smith publicou o seu sistema de liberalismo económico quando já o estadista se
aproximava do fim da vida política. As manifestações do espírito liberal eram portanto para ele
novidades que desafiavam todas as certezas que um homem da sua geração podia ter. Eram a obra dos
«pervertidos filosóficos destes últimos tempos», como ele lhes chamou. Assunto portanto da
competência da Real Mesa Censória, para quem ele o remeteu.[…]”

Módulo 5 – O LIBERALISMO – IDEOLOGIA E REVOLUÇÃO, MODELOS E PRÁTICAS


NOS SÉCULOS XVIII E XIX
O príncipe D. João (futuro D. João VI), que D. Maria I fizera regente, governava um país
profundamente ligado ao Antigo Regime. As atividades primárias predominavam. Pesadas obrigações
senhoriais condenavam o campesinato à miséria. O absolutismo estava para durar. Todavia, nos
principais centros urbanos, uma burguesia comercial, ligada aos tráficos com o Brasil, ansiava pela
mudança.Lutavam pelo exercício da liberdade política e económica; pelo fim dos privilégios sociais,
dos constrangimentos religiosos, do fanatismo. Uma conjuntura favorável lançou em breve o país no
caminho das transformações liberais, permitindo materializar as aspirações de mudança. Mais
concretamente, ao impacto que as Invasões Francesas tiveram em Portugal.

Decidido a abater o poderio da Inglaterra Napoleão Bonaparte decretou, em finais de 1806, o


Bloqueio Continental, nos termos do qual nenhuma nação europeia deveria comerciar com as Ilhas
Britânicas, não querendo hostilizar o imperador dos Franceses e arriscar uma invasão, o Príncipe
Regente adotou uma política ambígua.
Esta atitude custou ao país, o flagelo das três invasões napoleónicas. O embarque da família real para
o Brasil, que de colónia passou a sede de Governo, permitiu a Portugal manter a independência do
Estado. O preço a pagar revelou-se bem alto, pela devastação e pela destruição que as invasões
causaram, mas, especialmente, pelo domínio político e económico que a Inglaterra exerceu,
doravante, entre nós.

Quatro anos de guerra com a França deixaram o país na miséria.


- A agricultura, o comércio e a indústria foram profundamente afetados
- O património nacional sofreu importantes perdas em consequência do saque de mosteiros, igrejas,
palacios
A repressão de Beresford atingiu particular crueldade em 1817, quando o general Gomes Freire de
Andrade e mais 11 oficiais do exército foram executados, por suspeita de envolvimento numa
conspiracão.

“[…]Foi também com entusiasmo que a revolução foi recebida no Brasil, mas aí por outros motivos.
Os naturais viam na gente da corte uma presença incómoda e forasteira. Muitos comerciantes eram
portugueses e viam na revolução a oportunidade de restabelecer os antigos privilégios do comércio
português, sem os quais aguentavam mal a concorrência das firmas estrangeiras, instaladas a partir de
1808 em grande número. Brasileiros e Portugueses acharam-se assim reunidos no apoio à revolução
liberal.[…]”

“[…]A maior parte dos homens que formavam o Sinédrio tinha ligações com o comércio. Isto levou
muitos escritores a classificar a revolução de 1820 como uma revolução bur-guesa. É uma afirmação
só verdadeira em certo sentido.
Sabe-se que foi a força ascendente das burguesias que provocou os grandes movimentos liberais
europeus: tendo nas mãos o poder económico, os burgueses lançaram-se à conquista do poder político.
Nada de semelhante ocorreu em Portugal. Em 1820, a burguesia estava em declínio; a classe média
era formada principalmente por proprietários rurais, uns nobres e outros que aspiravam a viver como
se o fossem, e não estavam interessados numa revolução que de qualquer modo pudesse lembrar a
Revolução Francesa. De facto, se alguns membros do Sinédrio eram comerciantes, outros eram
proprietários e outros ainda militares nobres; o que havia de comum entre todos era serem pessoas
cultas. O seu liberalismo tinha na base não uma situação económica, mas a leitura de livros
estrangeiros, as ideias bebidas no convívio universitário e nas lojas maçónicas. É nesse sentido que se
pode dizer que a revolução de 1820 foi burguesa: foi a revolução da ilustração, numa época em que a
ilustração era característica quase exclusiva da gente burguesa. […]”

“[…]A revolução de Setembro não foi, como as anteriores o


haviam sido, um pronunciamento de chefes militares, mas um movimento popular a que depois as
tropas aderiram. Este facto tem levado os historiadores a prestar-lhe muita atenção e já se tem querido
ver nela uma primeira manifestação de luta do operariado e da pequena burguesia. A revolução de
Setembro teria sido, segundo essa tese, uma revolução do povo, que os políticos burgueses teriam
depois empalmado. A militância e a capacidade de mobilização popular voltaram a manifestar-se
nesse ano de 1836 e foi o povo que sufocou o contra-golpe da Belenzada, tentado em Novembro. Mas
depois disso desaparece sem vestígio, o que seria inexplicável se ela correspondesse aos impulsos de
uma camada social cujos problemas depois não foram resolvidos.[…]”

MÓDULO 1 - AS TRANSFORMAÇÕES DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX


1.5.Portugal no primeiro pós-guerra
1.5.1.As dificuldades económicas e a instabilidade política e social: A falência da primeira
república
A primeira República, instaurada a 5 de outubro de 1910, o esforço de participação na guerra trouxe
dificuldades acrescidas, pois obrigou à subida dos impostos, ao recurso a empréstimos e ao aumento
significativo da dívida pública.procederam à emissão de moeda, provocando a desvalorização do
escudo, o aumento da inflação e a diminuição do poder de compra. durante a guerra, e nos anos após o
fim do conflito, a persistente dificuldade de abastecimentos, a carência de bens e o consequente
racionamento de produtos, como o pão, o açúcar, o bacalhau e o azeite, tornaram penosa a vida dos
portugueses.
g A fome e a miséria atingiram o proletariado, mas as carências afetaram também as classes médias
(funcionalismo e patentes do exército), devido à forte perda de poder de compra.
Sidónio Pais instaurou um regime centrado na sua figura. O país estava fragilizado e, apesar da
realização das conferências de paz que se iniciaram em Paris, 1919, nem por isso a situação melhorou.

Durante a guerra, os EUA eram o principal fornecedor em bens e serviços à Europa. No final da
guerra,
perante uma Europa destroçada (estava arruinada, tanto material como humanamente), a perda da
hegemonia europeia agravou-se em favor da ascensão dos EUA. No período pós-guerra, a Europa
enfrentou graves problemas como a inflação, desvalorização da moeda, desemprego, enfim, um
colapso económico. Evidenciou igualmente grandes dificuldades em reconverter a economia, o que
agravou a sua dependencia em relação aOs EUA, aumentando os niveis de endividamento.
A desvalorização da moeda e a inflação surgiram pois houve um recurso a emissão massiva de notas
de modo a lazer lace as aividas, o que provocou uma desvalorização que se reflectiu numa subida
generalizada de preços (inflação), agravando mais as condições de vida das populações.
Os EUA iniciaram, então, um período de franca prosperidade, são os designados "Loucos Anos 20"
por viver um clima de euforia, optimismo e confiança no futuro. Em consequência, os países europeus
ficam mergulhados em dividas ao estado americano que afirmou a sua supremacia. A eventual
recuperação da Europa deveu-se á ajuda dos EUA.
No ini-cio de junho, a queda do poder demo-crático republicano era uma realidade:
o parlamento foi dissolvido e instau-rou-se a ditadura militar.

MÓDULO2 - O AGUDIZAR DAS TENSÕES POLÍTICAS E SOCIAIS A PARTIR DOS ANOS


30
2.5Portugal: O Estado Novo
A 20 de maio de 1926, um golpe de Estado promovido pelos militares pôs fim à 1ª República
parlamentar portuguesa. Para começar, instalou-se uma ditadura militar, que se manteve até 1933.
Acontece que também esta fracassou. Desentendimentos entre os militares provocaram uma sucessiva
mudança de chefes do Executivo. A impreparação técnica dos chefes da ditadura resultou no
agravamento do défice orçamental.

Em 1928, a ditadura recebeu um novo alento com a entrada no Governo de António de Oliveira
Salazar e geriu a pasta das Finanças. Com Salazar nas Finanças, o país apresentou saldo positivo no
Orçamento. Este sucesso financeiro explica a sua nomeação, em julho de 1932, para a chefia do
Governo

Em 1930, lançaram-se as Bases Orgânicas da União Nacional e promulgou-se o Ato Colonial. Em


1933 publicou-se o Estatuto do Trabalho Nacional e da Constituição de 1933. Ficou, então,
consagrado um sistema governativo conhecido por Estado Novo, do qual sobressaíram o forte
autoritarismo do Estado e o condicionamento das liberdades individuais aos interesses da Nação.
Salazar repudiou o liberalismo, a democracia e o parlamentarismo e proclamou o caráter autoritário,
corporativo, conservador e nacionalista do Estado Novo.

Conservadorismo e tradição:
Salazar foi uma personalidade extremamente conservadora. O Estado Novo distinguiu-se pelo seu
caráter profundamente conservador e tradicionalista. Repousou em valores e conceitos morais que
jamais alguém deveria questionar: Deus, a Pátria, a Família, a Autoridade, a Paz Social, a Hierarquia,
a Moralidade, a Austeridade. Respeitou tradições nacionais e promoveu a defesa de tudo o que fosse
genuinamente português. Protegeu a religião católica como religião da Nação portuguesa.

Reduziu a mulher a um papel passivo do ponto de vista económico, social, político e cultural. A
mulher-modelo foi definida como uma mulher de grande feminilidade, uma esposa carinhosa e
submissa, uma mãe sacrificada e virtuosa. Por sua vez, considerou-se que a “verdadeira família
portuguesa” era a família católica de moralidade austera que repelia o vício e a desregração de
costumes.

Nacionalismo:
O Estado Novo perfilhou um nacionalismo exacerbado, expresso no slogan “tudo pela Nação, nada
contra a Nação”.

A recusa do liberalismo, da democracia e do parlamentarismo


À semelhança do fascismo italiano, o Estado Novo afirmou-se antiliberal, antidemocrático e
antiparlamentar. Recusou a liberdade individual e a soberania popular enquanto fundamentos da sua
legitimidade.

Para Salazar, só a valorização do poder executivo era o garante de um Estado forte e autoritário. Por
isso, a Constituição de 1933 reconheceu: A autoridade do Presidente da República como o primeiro
poder dentro do Estado, completamente independente do Parlamento (Assembleia Nacional) e
Atribuiu vastas competências ao Presidente do Conselho (Primeiro-Ministro):

A consolidação do Estado Novo passou pelo culto ao chefe, que fez de Salazar o “salvador da Pátria”.
Porém, Salazar mostrava-se avesso às multidões e cultivava a discrição, a austeridade e a moralidade.

Corporativismo:
Semelhante ao fascismo italiano, o Estado Novo português mostrou-se empenhado na unidade da
nação e no fortalecimento do Estado. Negou o divisionismo fomentado pela luta de classes marxista,
propondo o corporativismo como modelo da organização económica, social e política.
O corporativismo concebia a Nação representada pelas famílias e por organismo onde os indivíduos se
agrupavam pelas funções que desempenhavam. As corporações acabaram por se transformar num
meio de o Estado Novo controlar a economia e as relações laborais.

O enquadramento das massas:


A longevidade do Estado Novo pode explicar-se pelo conjunto de instituições e processos que
conseguiram enquadrar as massas e obter a sua adesão ao projeto do regime.
O Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), criado em 1933, desempenhou um papel ativo na
divulgação do ideário do regime e na padronização da cultura e das artes.Para apoiar
incondicionalmente as atividades políticas do Governo, fundou-se, em 1930, a União Nacional –
tratava-se de uma organização não partidária.

A unanimidade pretendida em torno do Estado Novo só foi possível com a extinção dos partidos
políticos e a limitação severa da liberdade de expressão. Em fins de 1934, realizaram-se as primeiras
eleições legislativas. A União Nacional transformou-se num verdadeiro partido único.

Quanto à Mocidade Portuguesa, destinava-se a ideologizar a juventude, incutindo-lhe os valores


nacionais e patrióticos do Estado Novo. Controlou-se o ensino e adotaram-se “livros únicos” oficiais,
que veiculavam os valores do Estado Novo.

Estado repressivo:
Como outros regimes ditatoriais, o Estado Novo rodeou-se de um aparelho repressivo que amparava e
perpetuava a sua ação.
A censura prévia à imprensa, ao teatro, ao cinema, à rádio e à televisão, abrangeu assuntos políticos,
militares, morais e religiosos, assumindo o caráter de uma ditadura intelectual. Por sua vez, a polícia
política – Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (PVDE) – distinguiu-se por prender, torturar e
matar opositores ao regime.

A estabilidade financeira:
A estabilidade financeira converteu-se na prioridade e Oliveira Salazar e do Estado Novo. No que
respeitou a gastos públicos, os diversos ministérios foram submetidos a um apertado controlo por
parte de Salazar. Sob o lema de diminuir as despesas e de aumentar as receitas, Salazar conseguiu o
equilíbrio orçamental.

Administraram-se melhor os dinheiros públicos


Criaram-se novos impostos:
Imposto complementar sobre o rendimento
Imposto profissional sobre os salários e os rendimentos das profissões liberais
Imposto de salvação pública sobre os funcionários
Taxa de salvação nacional sobre o consumo de açúcar, gasolina e óleos minerais leves
Aumentaram-se as tarifas alfandegárias sobre as importações, o que relacionou com a redução das
dependências externas
A neutralidade adotada pelo país na Segunda Guerra Mundial mostrou-se favorável à manutenção do
equilíbrio financeiro.

Defesa da ruralidade:
Portugal dos anos 30 viveu um exacerbado ruralismo. O ideário do Estado Novo privilegiava o mundo
rural, porque nele se preservava o que de melhor tinha o bom povo português.

Porém, nenhuma das medidas tomadas em benefício da agricultura teve a projeção da Campanha do
Trigo, que decorreu entre 1929 e 1937. Procurou alargar a área de cultura daquele cereal,
nomeadamente no Alentejo. O Estado concedeu grande proteção aos proprietários, adquirindo-lhes as
produções e estabelecendo o protecionismo alfandegário. O crescimento significativo da produção
cerealífera conseguiu a autossuficiência do país, forneceu grãos à indústria de moagem, favoreceu a
produção de adubos e de maquinaria agrícola e deu emprego. A Campanha de Trigo representou um
momento alto da propaganda do Estado Novo.

O condicionamento industrial:
Num país de exacerbado ruralismo, a indústria não constituiu a prioridade do Estado.
O débil crescimento verificado poder-se-á explicar pela política de condicionamento industrial
concretizada pelo Estado entre 1931 e 1937.
Esse modelo determinava que qualquer indústria necessitava da prévia autorização do Estado para se
instalar, efetuar ampliações, mudar de local, ser vendida a estrangeiros ou até para comprar máquinas.
O condicionamento industrial, que reflete o dirigismo económico do Estado Novo, tratava-se de uma
política conjuntural anticrise.
Procurava-se evitar a sobreprodução, a queda dos preços, o desemprego e a agitação social.
Contudo, o condicionamento industrial acabou por se converter em definitivo. Criaram-se, assim,
obstáculos à modernização.

A corporativização dos sindicatos:


O Estado Novo publicou, em setembro de 1933, o Estatuto do Trabalho Nacional. Este diploma
estipulava que os trabalhadores se deveriam reunir em sindicatos nacionais e os patrões em grémios.
Grémios e sindicatos nacionais, agrupados em federações, uniões e em corporações económicas,
negociariam entre si os contratos coletivos de trabalho, estabeleciariam normas e cotas de produção,
fixariam preços e salários.
Ao Estado competira assegurar o direito ao trabalho e ao justo salário, proibindo o lockout e a greve.
Assim se promoveria a riqueza da Nação.
Considerados um instrumento da política, os sindicatos nacionais enfrentaram algumas resistências.
Logo em janeiro de 1934 estalaram greves e sabotagens. As confrontações registaram o seu auge no
dia 18 de janeiro, quando operários vidreiros ocuparam o posto da GNR e outros edifício públicos.

A política colonial:
O Ato Colonial de 1930 afirmava a missão histórica civilizadora dos Portugueses nos territórios
ultramarinos, considerados possessões imperiais.
Em consequência daquele pressuposto, reforçou-se a tutela metropolitana sobre as colónias.

Ao invés, insistiu-se na fiscalização da metrópole e no estabelecimento de um regime económico do


tipo “pacto colonial”, segundo o qual caberia às colónias ser um mero fornecedor de matérias-primas
para a indústria metropolitana.

“[…] A evolução política é conhecida: depois de um período de turbulência inicial, que dilacerou a
adesão necessária ao enraizamento de verdadeiras reformas, instalou-se uma situação de índole
centrista, ainda que programaticamente reformista. A lei fundamental do Estado foi elaborada com
base num compromisso entre os partidos e as forças armadas e contém insistentes enunciados
revolucionários, que não passaram das leis às instituições. A vida política foi organi-zada a partir dos
partidos, que, sob certos aspectos, conferiu à revolução de 25. de. Abril um carácter de «restau-ração»
da situação anterior à revolução de 28 de Maio.
Restauração aparente, porque no período intercalar entre as duas revoluções se registaram mudanças
profundas nas estruturas sociais e económicas do País. O sistema partidário voltou a ser factor de
instabilidade, mas a praxis orientou-se no sentido de um presidencialismo tutelar que tem garantido o
funcionamento regular do sistema.[…]”

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