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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


Jacobina-BA. 2023.2

Análise Historiográfica.1

Claudiane Oliveira Pereira2


Aislan Nascimento Pedroza3

CARVALHO, Flávia Maria. Diáspora africana: travessia atlântica e identidades


recriadas nos espaços coloniais. Mneme - Revista de Humanidades, [S. l.], v. 11, n. 27, 2010.
Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/mneme/article/view/835. Acesso em: 1 nov. 2023.

Flávia Maria de Carvalho Professora Adjunta da Universidade Federal de Alagoas.


Doutora em História Social (UFF) realiza pesquisas sobre a História de Angola e de regiões
da África Centro Ocidental, sobre as relações de poder estabelecidas pelas elites políticas do
antigo Ndongo, sobre a História dos sobados, e sobre escravidão africana. Possui mestrado em
História pela UFF (2002) e graduação pela UERJ (1999). Atualmente desenvolve pesquisas
relacionadas às hierarquias sociais da África Centro Ocidental e sobre administração
portuguesa em Angola nos séculos XVII e XVIII, que fazem parte de seu projeto de pós-
doutoramento junto ao Programa de Pós-Graduação em História da UFRRJ. Coordenadora do
Grupo de Pesquisa Territórios Atlânticos (GETA-UFAL).

1
Atividade avaliativa da disciplina de Historiografia, ministrada pela professora doutora Joana
Medrado Nascimento.
2
Claudiane Oliveira Pereira, discente do curso de licenciatura em História na Universidade do
Estado da Bahia, Campus IV – Jacobina, 2023.2.
3
Aislan Nascimento Alves Pedroza, discente do curso de licenciatura em História na Universidade
do Estado da Bahia, Campus IV – Jacobina, 2023.2.
1
Com o exposto, dá-se para notar que a dita autora tem propriedade sobre o objeto de
estudo dela: História da África e o Tráfico Transatlântico. Tendo os seus títulos de pesquisa
do Doutorado Os Homens do rei em Angola: sobas, governadores, capitães mores, séculos
XVII e XVIII, Mestrado Violência e corpo escravo: impasses nas experiências coloniais
ilustradas: Rio de Janeiro e Angola na segunda metade do século XVIII e de Graduação A
mercantilização dos corpos: violência no tráfico de africanos.
Diáspora africana: travessia atlântica e identidades recriadas nos espaços coloniais é
um artigo de Carvalho onde foi inserido no Dossiê de Diáspora, Identidade e memória, em
2010, na revista MNEME (Revista de Humanidades). Com isso, os contextos que estão
envoltos nesse tempo da produção desse artigo está a eleição da primeira mulher presidenta da
república do Brasil, Dilma Rousseff, as catástrofes naturais como tempestades, inundações,
invernos e calor fortes na Europa e na Rússia, além da Primavera Árabe que iniciou nesse
período com revoluções e revoltas contra governos ditadores no norte da África.

O objeto de estudo
Carvalho tem como o objeto de estudo os corpos africanos do centro ocidental, nos
recortes seculares: XVI com as relações dos Europeus com os Reis africanos; XVII na lei de
D. Pedro II sobre as navegações e suas condições; XVIII nas chegadas de escravizados de
Angola com seus nomes cristãos, juntamente com preocupações do governador de Angola
sobre a higiene e saúde dos escravizados, e XIX abordando o aumento da lucratividade e
rentabilidade sobre o comércio ultramarino de escravos. Tudo isso nas regiões do Ndongo
(Congo), da Nagola (Angola) e no Brasil. A autora também busca refletir sobre esses
impactos notáveis nos reinos africanos desses locais em relação às utilidades do escravo nas
suas culturas, em como ocorreram de fato nessas viagens na kalunga (mar e lugar de
passagem para um novo mundo) e como as identidades foram recriadas.

Segmentos historiográficos
Nesse respectivo artigo, a autora segue linhagens historiográficas direcionadas para
uma História Cultural, Econômica e Ambiental em suas abordagens sobre a diáspora africana
à América.
Em relação a História Econômica, onde esta abordagem está mais próxima nas escritas
da autora, demarca uma retirada da utilidade do escravo em sua função de demonstrar poderes
dos governantes africanos sobre os governados, para o uso como mercadoria. No entanto,

2
classificados como mercadoria, criou-se sistemas de relações econômicas aos europeus com
os africanos, no sentido de haver trocas de mercadorias como: as vendas de escravizados de
Nagola e Ndongo e o sal para os lusitanos, tendo em troca as vendas de armas de fogo para os
chefes locais africanos. Esse sistema se baseou em: sobas (soberanos e chefes locais onde
davam permissões para os europeus em aquisições de escravos), mafougnes (embaixadores) e
os pumbeiros (responsáveis pelas negociações e pelo transporte dos escravos dos sertões aos
barracões, locais onde os africanos permaneciam até o momento de seu embarque).
Contudo, vale destacar também que um meio de economizar as viagens e de se obter
um maior lucro, as naus eram superlotadas de mercadorias (escravizados), pois assim
obteriam menores gastos e pagamentos de tributos e um maior lucro com as superlotações dos
“produtos” nos transportes ultramarinos. Entretanto, não era o que se esperava, com as
condições péssimas de higiene, muitas mercadorias adoeciam e tinham uma taxa elevada de
mortalidade desses escravizados, ocasionando em uma perda lucrativa.
No sentido da História Cultural, as relações sociais entre as diferenças culturais eram
de extrema violência, pois, segundo a autora, a existência de uma dominação sociocultural
sobre os africanos trazidos ao Brasil eram fortes, com os maus tratos, a estratégia de queimar
a pele dos negros escravizados como marca e identidade do seu proprietário, juntamente com
o batismo coletivo, como forma de eliminar a identidade africana e aderir a identidade cristã
portuguesa, com o intuito de “salvar” essas almas, mudando seus nomes, como: João,
Benifácio, Gonçalo, Joaquina, Maria, etc.
Assim, os laços de parentesco e familiares foram completamente desmembrados,
levando esses negros africanos escravizados a criarem laços com diversos povos de várias
regiões de África, juntando as línguas, criando meios de preservação das suas vidas culturais,
físicas e suas identidades. A autora traz exemplo apenas da linguagem kimbundo, umbundo e
kikongo, em que formaram a identidade “malungo” (companheiro de embarcação).
Por fim, na parte da História Ambiental, está nas relações diretas do clima da África
com o desempenho do comércio de escravos. As estações do ano, segundo a autora,
desenvolviam um papel resultante em relação aos europeus e suas aquisições de escravos, por
exemplo: a chuva e a seca resultavam nas quantidades de escravizados que estariam
disponíveis nos portos, por motivo das agriculturas que eram afetadas, levando a fome e a
doença, onde tinha períodos de abundante e escassa “mercadoria”.

Lacunas

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A utilização das fontes são diversas e compatíveis com o tema, como a base teórica
historiográfica dos historiadores econômicos do comércio de escravos João Fragoso, Manolo
Florentino e Charles Ralph Boxer; o uso dos documentos do Arquivo Histórico de Angola,
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro,
onde tinham registros de óbitos, relações comerciais, depoimentos de descendentes de
escravos, relatos de viajantes e obras literárias.
Apesar disso tudo, as discussões de Carvalho sobre as relações de recriações de
identidades africanas e das suas culturas, são rasos, pois ela não explica de quais formas eles
preservaram seus elementos culturais de identidade e as suas estratégias de sobrevivências. A
autora mostra uma nova realidade que esses povos tinham que recriar, não abordando sobre as
resistências da população Nagola e Ndongo, sendo insuficiente, criando uma escrita onde
essas dominações culturais foram dadas sem nenhuma revolta. Outra questão é a
heterogeneidade cultural como resultante dessas relações, mas é apenas explicado apenas nos
nomes e da linguagem, onde estão as crenças e a parte religiosa desses africanos? Como
fizeram para recriá-las e sobreviverem sobre a escravidão? Com isso, essas são as lacunas
deixadas pela autora em sua escrita do seu artigo, mas podem ser justificadas por causa da
revista que pode conter regras e limites na estrutura das páginas, levando uma possibilidade
de restrição e redução dos conteúdos que são, em sua forma, abrangentes.

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