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Universidade do Estado da Bahia

Departamento de Ciências Humanas, Campus IV.


Graduação Licenciatura em História – 2024.1
Docente: Mariza Rodrigues
Discente: Aislan Nascimento Alves Pedroza
Disciplina: Sociedades Africanas Pré-Coloniais

FICHAMENTO

FURTADO, Cláudio Alves. “Pesquisa em e sobre África no século XXI: África,


africanos e africanistas”. In: AbeÁfrica: Revista da Associação Brasileira de Estudos
Africanos, v.04, n.04, abril de 2020.

Cláudio Alves Furtado, o autor desse artigo, é doutor em Sociologia pela


Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP (1994), professor associado da
Universidade de Cabo Vede e Professor Permanente do Pós-Afro da Universidade
Federal da Bahia1. Assim, tendo experiência em História, mais com a História de África,
ele constrói esse artigo a fim de denunciar os cientificismos modistas na pesquisa sobre
e em África, a partir dos africanos e africanistas.

Á priori, deve-se destacar que a análise teórica sobre África precisa levar aos
pesquisadores da área para duas reflexões. Uma está voltada, segundo o autor, a uma
“análise profundamente crítica das condições meta-teóricas e teóricas de produção do
conhecimento em e sobre África e o quão elas são heuristicamente relevantes para os
fins a que se propõem”, e a outra se refere “a tomada de consciência de que o campo de
produção do saber e do conhecimento científico é um campo de luta, estando, por
conseguinte, assente e enredado em relações de poder”. Esses seriam um dos meios de
contornar as desigualdades intelectuais presentes no meio científico de pesquisa de
África, pois, o continente africano acaba se tornando apenas uma área (em um sentido

1
Informações coletadas no site do https://www.escavador.com/sobre/8184765/claudio-alves-
furtado. Acessado em 18/04/2024.
unificado) segmentado e partilhado apenas aos africanistas, sem haver nenhumas trocas
intelectuais institucionais ou de retorno, mantendo uma hegemonia de países “mais
avançados” (estrangeiros) sobre as pesquisas/pesquisadores de África. Nesse sentido, o
autor denota a importância da África e dos africanos em sua pluralidade de cultura,
política, sociedade, etnias, línguas e crenças, para que os africanistas possam
descolonizar o continente, evitar estereótipos e generalizações, assim podendo construir
meios “paradigmáticas que melhor permitam descrever, analisar e explicar as realidades
africanas”, favorecendo um diálogo entre africanos e africanistas, a fim “de uma co-
construção de saberes” sem barreiras continentais hegemônicas.

Em relação aos africanistas brasileiros, a relevância dos estudos africanos está


mais vinculada em sua reflexão sobre a construção da sociedade brasileira, no sentindo
de buscar “a herança dos africanos e dos afro-brasileiros na construção da nação,
secularmente (de)negada”. Com o Centro de Estudos de Ásia e África (CEAA) fez com
que não só aumentasse os estudos africanos em toda América Latina, mas em
perspectivas pluri, inter ou multidisciplinar, acrescentando noções antropológicas,
sociológicas, históricas, filosóficas, literárias e, também, a partir das ciências políticas.
Além disso:

“Os estudos feitos sobre os primeiros centros de Estudos Africanos no Brasil, particularmente, o
CEAO (Centro de Estudos Afro-Orientais), o CEA (Centro de Estudos Africanos) e o CEAA (Centro de
Estudos Afro-Asiáticos) demonstram as áreas temáticas, disciplinares e geográficas recobertas, bem como
a dinâmica de evolução e/ou inflexão.” p. 27.

Logo, os pesquisadores não africanos — os cujos africanistas — devem levar em


conta “as condições sociais (mas também políticas, econômicas e ideológicas) da
produção do conhecimento científico. A isso acresce, também, a necessidade de
desconstrução das narrativas científicas, fazendo emergir suas dimensões ideológicas”,
ou seja, obterem a consciência da importância em incluírem os seus estudos às
pluralidades das epistèmes africanas provenientes delas mesmas, construindo as
pesquisas sobre África em uma perspectiva horizontal e não “Norte-Sul”,
desconstruindo, portanto, as relações de poder provenientes do período colonial.

Assim, desacelerando essa “corrida” intelectual em relação ao continente e


levando o questionamento a esses pesquisadores africanistas: essas produções e disputas
científicas não estão associadas a conhecer a África para poder dominá-la e classificá-
la? A fim de manter um projeto (neo)colonial hegemônico, no sentido de fazer com que
as produções científicas provenientes do continente fiquem sempre em posição de
marginalização ou inferiorzação em relação aos estudos dos mais “avançados”? Com
isso, o autor traz exemplos de pesquisadores africanos que abordam uma
decolonialidade dos conhecimentos africanos no processo de construção do
conhecimento científico: “Mafeje, Magubane, Hountondji, Amadiune, Oyewumi,
Thiong’o, Mbembe, Mudimbe, Comaroff & Comaroff, etc.”

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