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INTRODUÇÃO
O Curso de graduação em Licenciatura em Estudos Africanos da Universidade
Federal do Maranhão permite aos seus discentes encontrarem autores e intelectuais
negros do Continente Africanos e diaspóricos que produzem grandes obras e, através
delas, ajuda-nos e descobrir que existe um pensamento africano para além do europeu e
de seus campos acadêmicos gravitacionais fora do chamado “velho mundo”. Na
primeira parte deste artigo será apresentado os objetivos gerais e específicos de um
projeto de Mestrado de discente oriundo dessa graduação citada que pretende contribuir
intelectualmente com a difusão do pensamento africano.
O tema da história global já não é mais novidade na historiografia brasileira e
mundial. Tem autor que classifica os praticantes desta metodologia de atlanticistas.
Estes, são cientistas sociais da área de humanas interessados em estudar as sociedades
que pertencem às américas, mas em sua grande maioria são historiadores. Na segunda
parte deste artigo isso será aprofundado.
Para este fim vou me valer de uma vasta bibliografia de obras dos autores antes
mencionados, além de uma pesquisa empírica sobre a origem de algumas organizações
do Maranhão citadas no intervalo descrito, bem como de seus dirigentes, indagando-os
sobre o conhecimento das obras e autores delineados anteriormente. Concluída todas
essas fases descritas vou construir a dissertação sobre os resultados obtidos e quem sabe
me tornar um historiador atlanticistas tal qual define Armitag (2022). É sobre esse tema
que falarei no próximo capítulo.
Historiador Atlântico
A história atlântica faz parte do espectro da História Global. David Armitag um
historiador britânico, escreveu um artigo, intitulado “Três conceitos de história
atlântica”. O britânico (ARMITAG, 2002, p. 206) usa a expressão atlanticistas para
definir todos e todas pesquisadores das ciências humanas (literatura, sociologia e
economia) interessados em ter o mundo Atlântico como objeto de estudo. Eles existem
na América do Sul, do Norte, do Caribe, da África e da Europa ocidental. Ele enfatiza,
que entre esse rol de pesquisadores os historiadores são os mais interessados no tema.
Essa expressão no período da graduação em Estudos Africanos na Universidade Federal
do Maranhão (UFMA) não havia ficado muito claro para mim e nem dei a importância
necessária.
Retornando a Armitag (2002, p. 207), ele nos chama atenção para pensarmos de
que atlântico falamos. Esse termo se refere literalmente a uma porção de água que chega
a quase toda a américa descoberta por Colombo? O autor diz que sim. Para ele, “o
Atlântico parece ser uma das poucas categorias históricas que possui uma geografia
interna”. Tem diferenças com a historiografia que existe sobre os Estados Nacionais e
também tem uma cronologia clara: “se inicia com a primeira travessia de Colombo em
1492 [...] e termina, convencionalmente, com a era das revoluções no final do século
XVIII e início do século XIX”. Ele prossegue dizendo que o termo atlântico se
diferencia sobre o marco temporal da modernidade:
Segundo Armitag (2002), o termo atlântico foi uma invenção europeia. Esse
“oceano” não estava dado na consciência europeia e nem dos moradores originários das
“Américas”. Ele faz uma crítica contundente a um “amplo grupo de historiadores e
outros acadêmicos”, que parecem ter feito de “seu atlanticismo um fetiche”. E vai mais
além, levanta uma questão:
Na sequência dessa citação ele (ARMITAG, 2002, p. 208) faz elogios a três
intelectuais negros que fazem parte do meu objeto de pesquisa no Mestrado: Du Bois,
James e Williams. Esses autores abordaram de fato temas atlânticos como “as dinâmicas
do tráfico de escravos e da abolição, a relação entre escravismo e industrialismo, a
própria revolução haitiana”. Fizeram isso “durante mais de 60 anos antes que a história
atlântica fosse” uma reprodução (não necessariamente com essas palavras) do
pensamento da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte. Ele complementa
que os três citados autores nos “fornece uma genealogia mais longa, mais multiétnica e
mais genuinamente internacional do que a esposada pela maioria dos proponentes do
Atlântico branco que, como muitos outros genealogistas, ignoraram esses ancestrais
inconvenientes ou incompatíveis”.
No entanto, Armitag (2002, p. 208), reconhece que existe uma historiografia
que se afasta daquela que faz apologia ao imperialismo. Trata-se da história atlântica
mais multicolorida. Esta mutação atinge até o chamado Atlântico branco que tornou-se
“um campo de estudo autoconsciente mais do que um modelo definidor para todas as
outras histórias atlânticas” , temos também o chamado “Atlântico negro” que se
unificou ao “Atlântico verde da dispersão política e demográfica irlandesa” e por
último, ele completa seu caleidoscópio historiográfico/atlântico, com o chamado
Atlântico vermelho que é “escrito a partir do marxismo, que descreve a formação de
uma classe trabalhadora multinacional, multiétnica e multicultural no mundo atlântico
inglês, formando uma “hidra de muitas cabeças” aos olhos de seus senhores”.
Esta posição atlanticistas de Armitag penso que dialoga como meu projeto de
mestrado em construção, pois nele pretende-se apresentar o pensamento africano, pela
via de autores originários do continente africano e diaspóricos que pensaram e
produziram conhecimentos e engendraram dois movimentos importantes para o
Movimento Negro Mundial em enlace com as ideias marxistas: o panafricanismo e a
negritude. Dito isso, passamos a descrever a origem, o conceito de História Global e
suas duas importantes vertentes (entre outras) desta metodologia historiográfica: história
comparada e história conectada.
Cada uma dessas “novas tendências” surgiu defendendo seu território, seus
conceitos e metodologias próprios. Concordamos com José d’Assunção Barros
(2014a, p. 104, e 2014b, p. 288), quando aponta que essa pluralidade desvela
uma disputa por campo acadêmico. Entretanto, a nosso ver, essa disputa
dificultou a compreensão dessas correntes historiográficas como disposições
mais gerais, ou desdobramentos, de dois pressupostos essenciais e típicos ao
ofício do historiador no século XXI. Pode-se dizer que há um escopo comum
entre essas tendências, que podem ser resumidas em duas características
principais, nomeadamente: os esforços no sentido de evitar o nacionalismo
metodológico e também de escapar ao eurocentrismo/ocidentalismo. (SANTOS
JUNIOR, 2017, p.05).
Já vimos aqui que vão ocorrer conexão histórica das ideias socialistas europeias
com o movimento da negritude. Isso vai advir também entre o socialismo e o
panafricanismo e comprova a terceira conexão. Ao concluir a graduação em Estudos
Africanos encontrei vários intelectuais africanos como Kwame Nkrumah, Amílcar
Cabral, Léopold Sédar Senghor e diaspóricos como William Edward Burghardt Dubois,
Frantz Omar Fanon, Malcolm Ivan Meredith Nurse (George Padmore), verifiquei que
eles tiveram contato (conexão) com as ideias socialistas dos teóricos europeus Karl
Marx e Friedrich Engels.
Para eles é preciso praticar a microhistória sem perder o todo e mostrar que para
além da história nacional existe troca de saberes dos dois lados do atlântico. O que
implica pra Gruzinski (20030 “que as histórias só podem ser múltiplas”, ao invés de
“uma História única e unificada com “h” maiúsculo”. Ele conclui que o “historiador tem
de converter- se numa espécie de eletricista encarregado de restabelecer as conexões
internacionais e intercontinentais”. É, no papel de eletricista historiador, que Luiz
Noleto está desenvolvendo um projeto de pesquisa no mestrado de história da UFMA
que pretende encontrar se houve conexões atlânticas entre as ideias do panafricanismo,
da negritude e do socialismo com as organizações do Movimento Negro do Maranhão.
REFERÊNCIAS