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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

MILENA ÉLEN LIMOEIRO DO ESPÍRITO SANTO


RESUMO DOS TEXTOS SOBRE ÁFRICA
UNIDADE I

Os três textos apresentados nesta unidade são elementos importantes para desmistificar
a ideia de que não há historicidade na África, apresentar a relação do africano (agente)
com sua história e como é passada ao longo de gerações. Encontra-se também as técnicas
utilizadas para estudar essa região que é vasta e diversificada.
O texto “Lugar da história na sociedade africana” escrito por Boubou Hama e J. Ki
-Zerbo introduz para o leitor aspectos importantes da cultura africana, para que se tenha
uma noção desse povo: tempo mítico e o tempo social. Não havia um marco de tempo
determinado ou preciso - com datas-, tudo se dá através de narrativas presas aos costumes
de um povo envolvido em um modelo mítico que determina e justifica as ações deles e do
soberano, uma “ uma reedição estereotipada do passado’’. Seu apego aos ancestrais, ao
que significa, os faz mais influente nas gerações posteriores. O senso de coletividade é
outro destaque, a história é contada e é de importância a todo um povo, e não a um único
indivìduo.
Entretanto, isso não faz com que os africanos estejam presos ao passado muito menos
em um retorno cíclico, seu tempo é dinâmico: “na concepção global do mundo, entre os
africanos, o tempo é o lugar onde o homem pode, sem cessar, lutar pelo desenvolvimento
de sua energia vital.”, a resolução de seus diversos conflitos e exemplos são adquiridos de
seus antepassados, o que não anula o presente e a transformação que pode surgir no
futuro.
Com a chegada da cultura islâmica na África adicionada de uma cultura letrada,
começa a se estabelecer pontos de referência e por conseguinte uma organização do fluxo
histórico.
“A tinta mais fraca é preferível à mais forte palavra” é a partir desse provérbio chinês
que entraremos em outro ponto: a tradição oral. É definida como um relato passado de
forma oral de uma geração para outra, preservando a sabedorias dos ancestrais - que é
extremamente enaltecida e grandes feitos, são passadas pelos griots. O ‘boato’ e o
testemunho ocular não considerados uma tradição, é uma informação verbal e neles
repousam a origem de uma tradição. Numa civilização oral como esta que estamos
estudando se faz necessário - principalmente para o pesquisador - uma análise mais
delicada e repetitiva dos textos orais, deve ser minuciosamente ponderada, e internalizada
“já que o corpus da tradição é a memória coletiva de uma sociedade que se explica a si
mesma.’’.
Para entender a superfície social - “uma identidade própria que traz consigo, um
passado inscrito nas representações coletivas de uma tradição, que o explica e o
justifica.” - de um grupo é necessário entender o tipo de sociedade que vai ser estudada.
Compreender como se obtinha as informações e por quem eram passadas e que ela
podem ter sidos manipuladas pelas tradições do local. Ele cita no texto também dois tipos
de tradições: as tradições oficiais como as histórias das dinastias, lista de soberanos e que
também abrange os assuntos de significância pública; e as tradições particulares que por
serem consideradas pouco importantes, não são bem conservadas, é relacionada a
histórias de grupos ou famílias. Sendo essa última firmada como oficial no grupo em que
pertence. Seus relatos são importantes quando é necessário ser feito uma análise da
política em sua época, já que o relato é menos afetado pelas restrições e imposições do
Estado.
Em sua conclusão ele sintetiza algumas dificuldades: “Além das tradições recentes,
existe um vasto corpo de informações literárias, como as narrativas épicas, e de dados
cosmogônicos, que podem ocultar informações históricas às vezes relativas a épocas
bastante remotas.” e afirma que “Em caso de contradição entre fontes orais, deve -se
escolher a mais provável. A prática, muito difundida, de tentar encontrar um acordo não
faz sentido ’’.
Outras dificuldades encontradas para a construção de uma cronologia, retirada da
interpretação do texto oral, são a distorção do tempo e a genealógica duvidosa. É comum
um relato alongar ou encurtar o tempo de determinados momentos históricos. Em locais
que aconteceram acidentes demográficos é fácil a perda da genealogia de um grupo que
em seguida é subjugado e substituído por outro grupo maior, o que gera uma espaço em
branco entre a história e sua origem.
Esse risco diminui - mas não some - quando trata-se de dinastias e monarquias, pois a
transferência do poder é, por muitas vezes, dado a indivíduos que pertencem a linhagem
real: sucessão primogênita e patrilinear.
No texto “Fontes e técnicas específicas da história da África – Panorama Geral”, T.
Obenga escreve sobre os instrumentos e fontes de pesquisas que são utilizados, até
mesmo de forma simultânea, pelo historiador. São elas: “geologia e paleontologia, pré-
história e arqueologia, paleobotânica, palinologia, medidas de radiatividade de isótopos
capazes de fornecer dados cronológicos absolutos, geografia física, observação e análise
etno-sociológicas, tradição oral, linguística histórica ou comparada, documentos escritos
europeus, árabes, hindus e chineses, documentos econômicos ou demográficos que
podem ser processados eletronicamente”. Vale ressaltar que essas técnicas que serão
apresentadas não são específicas a história do continente africano.
Através do uso de elementos químicos, como o isótopo Carbono-14, para datação de
elementos encontrados, em especial os fósseis. Bem como por meio das ciências da Terra
foi informado as características climáticas em determinado momento, a partir muito foi
explicado sobre a movimentação de diferentes povos, a realidade em que viviam, a
alimentação baseada na análise das plantas cultivadas e localizações estratégicas.
Outra fonte, mais utilizada para o estudo da África é a egiptologia - compreende a
arqueologia histórica e a decifração dos textos - mas para isso precisa entender o idioma
da linha egípcia, que tem cerca 5000 anos de existência. Ela é apresentada de três
maneiras:
Escrita hieroglífica:
·0 Ideogramas ou signos-palavras
·1 Fonogramas:
·2 Trilíteros: com três consoantes.
·3 Bilíteros: com duas consoantes.
·4 Unilíteros: uma vogal ou uma consoante.
·5 Escrita hierática: escrita da direita pra esquerda, com cálamo sobre folhas
de papiro ou fragmentos de cerâmica e de calcário.
·6 Escrita demótica: uma simplificação da escrita hierática e também uso de
grafemas.
É importante deixar claro que essa escrita se difundiu na África negra. E não se pode
isolar o Egipto do contexto africano.
Outro ponto, da técnica da tradição oral é: “O griot só se interessa pelo homem
apreendido em sua existência, como condutor de valores e agindo na natureza de modo
intemporal.” e por tal razão ele não trabalha com um relato cronológico, de modo
intemporal, também é descontínuo. Percebe-se ainda que há a parcialidade da história:
“Quem conta um ponto, acrescenta um ponto”.
Nos estudos das ciências históricas e no trabalho comparativo há a análise da diferença
de alguns regimes políticos econômicos que se constituem de forma diferente no
continente africano.
Todo conteúdo apresentada demonstra que as peculiaridades e suas características
sociais e históricas da África impõe uma necessidade de utilizar de diversas formas para
compreender seu território. E prova historicidade da África.

MILENA ÉLEN LIMOEIRO DO ESPÍRITO SANTO


Expectativa de nota: 9
1- Disserte sobre as origens dos antigos egípcios, evidenciando os argumentos dos
autores que debatem sobre a problemática do Egito pertencer ou não à África.
No texto trabalhado é evidenciado a hipótese que o surgimento da raça humana se deu
na África, especificamente nas montanhas da Lua, situada na fronteira entre o Uganda e a
República Democrática do Congo. Em seguida dois pontos precisam ser identificados:
eles apresentavam pigmentação escura e começaram seu deslocamento para outros
continentes através do Saara e o vale do Nilo - que encontra-se do Egito.
O primeiro argumento apresentado são evidências da antropologia física dos antigos
egípcios, que apesar de ter sido abordado de outro ângulo, é possível dele extrair
informações que não negam a existência de pessoas negras ali - confirmam a sua
presença precoce -, mesmo que tentem minimizá-la. Os critérios, fracos e elásticos,
usados buscam uma comparação ao povo germânico e tentam definir e caracterizar uma
diferença entre os povos ‘‘negróides’’ e ‘‘não-negróides’’, os traços apresentados como
ditos negros corresponderia a hoje, por exemplo, cerca de 30% de uma população negra
na África, o que mostra seus exageros e o racismo mascarado.
O segundo argumento vem dos estudos das representações humanas, onde estabelece
a relação de origem a tribo Anuak e os antigos Anu (negros nativos). Ambos eram negros
e não apresentavam diferenças étnicas. E as figuras proto-dinásticas e dinásticas não
apresentavam os homens indo-europeus ou semitas como homens livres, eles estão de
joelhos, as mãos atadas e o cabelo trançado. É mostrado também duas variantes da raça
negra que entram na formação dos egípcios: “os negros de cabelos lisos, representados na
Ásia pelos dravidianos e, na África, pelos núbios e os tubbou ou Tedda, todos com pele
negro-azeviche; y os negros de cabelo crespo das regiões equatoriais.”.
O terceiro é o teste de dosagem de melanina, que prova a presença dos negros na
África. Como a melanina preserva-se, é possível fazer análises sobre a presença da
pigmentação escura da pele. Outro teste que também afirma essa presença do povo negro
é a osteometria, com o estudo da forma, estrutura e desenvolvimento dos ossos e permite
a distinção entre as raças de forma menos traidora. E a presença do mesmo tipo de grupo
sanguíneo, B, presente da África Ocidental e no Alto Egito.
Alguns testemunhos de autores clássicos da antiguidade como Heródoto, Luciano,
Apolodoro, entre outros, expõe as características percebidas: “os egípcios eram negros,
de lábios grossos, cabelo crespo e pernas finas’’. Volney é um dos que põem-se a
disfarçar as evidências, ele afirma que a pele escura e o cabelo crespo não eram
suficientes para rotular um povo como negro, e que isso era forçado na África, um
verdadeiro absurdo dito por ele. Na bíblia dos judeus e árabes o Egito se encontra entre
os países negros, onde surge a circuncisão. Enquantos eles (egípcios) viam a si mesmo
como kmt ,= “os negros” (literalmente), isso é encontrado nas escritas do povo, em toda
sua semântica. E o último argumento apresentado é a afinidade linguística do Antigo
Egito com a walaf, lingua senegalesa.
Todos os argumentos apresentados mostra a presença da raça negra no Egito há mais
tempo que se imagina, bem como a sua importância e fama entre outros países fora da
África. E o desespero entre acadêmicos Europeus para deslegitimar os negros egípcios.

2 - Discorre sobre o Egito faraônico, realçando as principais realizações das várias


dinastias.

O período da pré-história é marcado por conflitos pela dominação de territórios, como


do Nilo e suas longas faixas de terras férteis, aproveitamento e aprimoramento de suas
terras. No período arcaico (-3200 a -2900) surge a primeira dinastia das trinta até a época
de Alexandre, O Grande, ela se dá por Menés - soberano do Alto Egito - quando domina
o Baixo Egito. Durante esse período é forte a ideia do faraó como divindade, II dinastia, o
que vai se prolongar por anos, e no decorrer na III dinastia o faraó é visto como deus.
O faraó era o sacerdote dos deuses, pois servia a eles, e ele também tinha a quem o
servisse, já que, por mais ‘absoluto’ que fosse seu poder era necessário ter outros
representantes na sociedade. O vários deuses da cultura africana era representadas em
forma humana ou animal.
Seguindo para o Antigo Império (-2900 a -2280), a III dinastia é marcada pela
substituição da pedra pelo tijolo na construção das ‘‘pirâmides de degraus’’.Na IV, no
governo de Snefru é construído diversos palácios, fortalezas e templos pelo Egito, e a
pirâmide de seu filho Khufu é o monumento mais pesado construído pelo homem - é a
primeira das Sete Maravilhas do mundo. Durante a V dinastia há a expansão das relações
comerciais, defesa das fronteiras e expedições punitivas na fronteira da Palestina e em
outras. Mas é na VI que o grande exército, sob as óticas de Pépi I, invadiram as terras
inimigas; o governo de seu filho Pépi II durou 94 anos, sendo o mais longo da história. O
término de seu governo foi marcado pelo empobrecimento e descentralização, o que
culminou num período de anarquia e guerra civil chamado Primeiro Período
Intermediário.
Um exemplo dessa desordem foi que durante a VII dinastia teve setenta reis numa
faixa de tempo de setenta dias. Na IX e X houve o controle sobre o Delta, o Alto Egito
dividiu-se como antigamente. O poder tebano que cresceu nessa época e durante a XI
dinastia dominou o Alto Egito e logo depois todo país. De toda essa situação, o extrato
positivo é a valorização do indivíduo e de uma democracia - igualdade de todos, que vai
ser perdido com a recuperação do governo e da disciplina no Médio Império (-2060 a
-1785).
Na base da repreensão e uso de armas se dá a revitalização do país, pelo rei
Mentuhotep II. Após seu governo vem Amenemés I, na XII dinastia, ele fundou a nova
capital Ithet-Tawi, o costume do filho se tornar um corregente e o posto comercial de
Kerma. No reinado de Sesóstris I, seu filho, construiu-se a fortaleza de Buhen e a
conquista da Baixa Núbia. Já Amenemés III priorizou um ousado projeto de irrigação que
possibilitou a crescente econômica e agrícola do Faium.
No Segundo Período Intermediário aconteceu a dominação dos hicsos sobre o Egito,
durou 150 anos e abalou profundamente a confiança do povo. Eles introduziram o uso
das armaduras, o carro e o cavalo, que mais tarde foram utilizados contra eles mesmo no
processo de recuperação da região e invasão do território de Zahi, que resultou no fim do
poder hicso.
Com sua queda surge o período do Novo Império (-1580 a -1085), com a XVIII
dinastia da rainha Hatshepsut que fez o Egito prosperar, cuidou somente de negócios
internos e das edificações. Toda história seu reinado é ameaçado pelo seu sucessor
Tutmés III, que destrói tudo que a lembra naquele local. Apesar disso, ele torna o Egito
uma potência mundial, com um poderoso exército. Amenófis IV, é o mais polêmico
durante essa dinastia: ele tenta impor um único deus, Áton, como verdadeiro e o mesmo
expunha sua vida privada ao público.
Horemheb, da XIX dinastia, promulgou decretos para acabar com a corrupção - em
todas as esferas - e institui a arrecadação de impostos. Depois de um longo período de
problemas políticos e fronteiriços, Ramsés III, XX, salvou o país dos estrangeiros porém
não os salvou da inflação e o declínio.
No período de declínio da XXI à XXIV dinastia, é marcada pelo controle estrangeiro
do território egípcio, por duzentos anos com diversos soberanos. Na XXV dinastia o
Egito foi alvo dos sudaneses. O Egito vou a prosperar economicamente no reino saíta -
Psamético -com a priorização agrícola, XXVI. E por último veio o período persa que
durou da XXVII até a XXX, marcada pela aliança com Atena e Esparta. Após essas
dinastias vem a invasão de Alexandre, O Grande.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


MILENA ÉLEN LIMOEIRO DO ESPÍRITO SANTO

RESUMO DOS TEXTOS SOBRE ÁFRICA


UNIDADE II e III

Os textos “Relações do Egito com o resto da África” por Abd El Hamid Zayed com a
colaboração de J. Devisse e “O Império de Kush: Napata e Méroe” de J. Leclant
trabalham a relação do Egito com a região do Meroé, em tempos remotos, ainda
reforçando o Egito negro e africano e sua historicidade. Para tal, ambos pesquisadores
trabalham com materiais que possam comprovar esse contato e ainda com outras partes
da África.
Ao citar a estátua de Osíris e a estátua gravada com o cartucho de Tutmés III,
associadas a região da Gana atual, Zayed reitera que a influência - comprovada - não é
uma prova de contatos antigos. Ao longo do texto ele demonstra-se contraditório em suas
palavras mesmo com os materiais apresentados, ele assinala hipóteses e teorias. A
segunda observação feita por ele é: “parece haver uma considerável discrepância
cronológica e tecnológica entre este último e as civilizações periféricas”, além de que
esses periféricos eram concentrados na região do baixo vale do Nilo e assim mantinham
contato com os egípcios, mas a relação não era imóvel, onde um só sempre mandou.
A teoria inicial é sobre os vizinhos do ocidente: No Saara há influências do Egito, isso é
comprovado mas não há mais detalhes além da hipótese de intercâmbio humano. Sendo o
povo saariano basicamente os líbios, estes que foram pressionados ininterruptamente à
periferia devido ao hostil deserto. A partir da XIX dinastia que dá-se essa negociação de
mão de obra humana e de soldados para o Egito; a intenção era evitar conflitos devido a
invasão desse povo e no governo Ramsés III eles participam intensamente na segurança
dessa região. Os líbios chegam até mesmo a governar o Egito na XXII e a XXIII
dinastias, o que gerou, finalmente, conflitos e em resposta os núbios - sudaneses-
instalam uma dinastia Etíope.
Criando um longo parênteses agora, para depois retornarmos as teorias acerca de
outras regiões da África, com o intuito de aprofundarmos mais um pouco a dinastia
Etíope, Império de Kush por Leclant. Esse reino, também denominado de Kerma, tem
como primeiro regente a ser estudado o Peye (Piankhy) - pois não sabe-se quem foram os
primeiros reis - responsável pela inscrição mais detalhada e extensa do antigo Egito que
descreve seus discursos, as deliberações do rei, sua campanha, a supremacia do deus
mon e a índole federativa do Império de Cuxe. Em seguida, seu irmão Shabaka - este sim
considerado por muitos o fundador da XXV dinastia - torna-se rei e conquista todo o vale
do Nilo até o Delta.

“Na região tebana ele erigiu colunatas nos quatro pontos cardeais
do templo de Carnac e construiu grande número de pequenas
capelas, onde se associavam os cultos de mon e de Osíris. Há
evidências de sua presença também em Mênfis e no Delta.
Abandonando a tradicional necrópole de el‐Kurru, Taharqa
construiu em Nuri o que parece ser um cenotáfio comparável ao
Osireion de Abidos; em Sedinga descobriu‐se um túmulo inscrito
com alguns de seus títulos e distinções. Várias estátuas de
excepcional qualidade, em granito esplendidamente esculpido e
realçado por ornamentos de ouro, representam o monarca a
caminhar em passos firmes, revelando‐nos seus traços: a face é
pesada; o nariz carnudo dilata‐se sobre a boca larga, de lábios
grossos; o queixo curto e forte sublinha o extraordinário vigor do
rosto”.

Nessa dupla monarquia vale ressaltar que houve uma mistura entre as culturas: os
sudaneses absorvem do comportamento (atitudes e vestimentas) egípcio e estes
utilizavam de ornamentos do Sudão, entre outras; e também a inclusão feminina em seu
império.
Após a derrota para os assírios, o domínio sobre o Egito acabou e os cuxitas
direcionaram-se para o sul (tornam-se os vizinhos do Sul). Concentraram-se em Napata -
onde foi encontrado cemitérios que provam essa similaridade com os faraós -, onde
houve a deterioração da influência egípcia em sua cultura, mas seu contato não termina
aí: o império (591 a.C) foi invadido por uma expedição egípcia e Kush teve que mover-se
novamente, desta vez em direção a Méroe por motivos econômicos e climáticos. Em sua
língua, meroíta, tem base alguns hieróglifos de seus vizinhos do Norte, porém tem suas
diferenciações como a leitura feita de forma inversa e seu sistema gráfico; ainda sim a
tradução é irrealizável o que impossibilita à novas descobertas.
Novamente por questões conflituosas com vizinhos e invasões, a capital de Meroé cai
assim como sua antecessora. Finalizando o autor ressalta a importância de Méroe: a
exploração de ferro local difundiu-se no continente africano e a transmissão de influência
egípcia para o interior da África através de Méroe.
No restante da África ele cita a expedição de Necau II - possível responsável pela
construção canal talvez ligasse o Mediterrâneo (ou Nilo) ao mar Vermelho - pela costa da
África em busca de produtos que necessitavam e não havia em seu território:
“A Líbia é circundada pelo mar, exceto na região fronteiriça com a
Ásia; quem por primeiro comprovou esse fato, ao que sabemos, foi
Necau, rei do Egito. Após concluir a abertura do canal que liga o
Nilo ao golfo Arábico, Necau enviou navios tripulados por
fenícios, incumbindo‐os de, na viagem de volta, contornarem as
Colunas de Hércules até atingir o mar, ao norte, e daí rumarem
para o Egito. Assim, os fenícios partiram do mar Vermelho e
navegaram pelo mar Austral. Sempre que chegava o outono, em
qualquer parte da Líbia que estivessem, desembarcavam e
semeavam a terra, e ali aguardavam a safra; em seguida, realizada
a colheita, partiam. Assim, passados dois anos, ao terceiro
contornaram as Colunas de Hércules e voltaram para o Egito. Lá,
relataram que durante a viagem viram o sol à sua direita (há quem
acredite nisso, mas não eu). Foi assim que se obteve a primeira
informação sobre a Líbia”.
Ele termina salientando a necessidade de junção dos materiais dado pelos africanos e
com as dos pesquisadores estrangeiros, fomentando e estudando teorias com a ajuda dos
diversos equipamentos científicos.

UNIDADE III
O tráfico árabe-muçulmano deu-se anteriormente ao tráfico europeu, ou tráfico
atlântico, e serviu de base para seu sucessor ao transferir sua visão, suas crenças e seus
preconceitos. É importante salientar que apesar de não haver números exatos da
quantidade de escravos, há especulações, é indiscutível que não foi algo pequeno; porém
tem-se duvidas que tenha sido menos danoso que a exploração dos europeus, mesmo com
as práticas diferentes.
Realizou-se através do Saara e do oceano índico, inicialmente, o primeiro eixo do
tráfico Árabe ligava a costa oriental da África com a Arábia; além do tráfico humano, era
praticado o comércio de marfim para Índia e a China. Os negros não eram os únicos
escravos presentes ali, havia persas e europeus, mais adiante entenderemos o por quê do
negro ser considerado mais importante.
Após a pregação do profeta Muhammad, que também teve africanos como
companheiros, e a expansão Árabe - com o surgimento do califado, a expansão militar e
religiosa (e o Islã) - a estrutura do tráfico muda e torna-se mais maciça e intensa. A
escravatura era legitimada durante a guerra santa, todos que eram capturados - os
idólatras - viravam escravos, bem como a necessidade domésticas, econômicas e
militares fortaleceram-se dessa exploração.
O eixo comercial também foi modificado, o primeiro era do “país dos zandj” (países
situados ao sul da Abissínia, em especial, com a costa oriental da África - onde tudo foi
organizado - e o povo bantu) para península Arábica. No século VII era do Egito a Núbia
(onde mulheres serviam como concubinas) e a terceira era a rota transaariana (ligava o
Ifriqiya e o Magreb a parte do Sudão - transformado em reservatório de escravos).
A utilização dos africanos dependia das necessidades locais, no mundo muçulmano
eles são geralmente postos em três situações: nas atividades domésticas; na segurança,
onde eram vistos com bons olhos devido a sua à sua coragem e ao mesmo tempo com
olhares temerosos exatamente pelo mesmo motivo; e no trabalho (preferencialmente
agrícola) também chamado de escravatura produtiva. Eunucos (não só negros) valiam
mais por sua condição, porém devido ao grau de degradação dos negros escravos, o que
levava a sua docilidade, eles eram menos perigosos que os escravos brancos temidos por
seus donos. As mulheres desempenhavam serviços domésticos e eram cobiçadas nas
famílias árabes. Vale ressaltar que o número de africanos nessas condições passada da
casa dos milhares.
Mas, como dito os escravos negros não foram tão desumanizados como no tráfico
atlântico:
“Os fatímidas do Egito (909-1171) deram-lhes um papel oficial na
organização dos grandes servidores do Estado, colocando-os
imediatamente após os emires e organizando-os em corpo
estruturado e hierarquizado.” (Pag. 226)

A principal diferença entre os a escravidão europeia e a Árabe é o fato de que o


negro, nesse último, realizava tarefas administrativas e por muitas vezes renunciou a sua
posição de escravo - diversas formas -, por exemplo: o eunuco Malik Sarwar aproveitou-
se de suas vantagens, admirado militar e em seguida responsável por questões públicas
juntos ao sultão, para constituir um Estado e uma dinastia. O que também não significa
uma ótima relação com os muçulmanos, além da castração já mencionada e da
exploração, alguns deles censuravam em escritas o tom de pele dos negros, todos eram
vistos de acordo com a religião e não reconhecidos por sua origem. Cada povo, cada cor
possui defeitos e qualidades.
Outra informação a ser elevada é a relação dos Árabes com a China e a Índia. Ambos
países participaram desse comércio de escravos, a China buscava também produtos e
animais - há falta de mais informações, como em todos os estudos até aqui - enquanto a
Índia valorizava os escravos e lhe agregaram diversas funções: as mulheres além de
tarefas domésticas podiam ser concubinas e alguns homens chegaram até mesmo a
trabalhar em tripulações de navios comerciais. É importante frisar que os indianos -
principalmente os hindus - já demonstravam desprezo a negros, é citado que seu deus
caçava criaturas de pele escura e sombria.
“Por outro lado, a partir do momento em que o Novo Mundo, após
a viagem de Cristóvão Colombo, em 1492, abriu ‐se à exploração
européia, um tráfico de escravos africanos, envolvendo números
muito maiores, se superpôs ao antigo tráfico: trata‐se do tráfico
transatlântico de escravos, praticado do século XVI até meados do
século XIX. Os dois tráficos perpetuaram‐se simultaneamente
durante quase quatro séculos e arrancaram milhões de africanos de
sua pátria. Até hoje, o papel desse comércio no desenrolar da
história mundial ainda não foi devidamente evidenciado.” (Pag. 1)
Em “A África na história do mundo: o tráfico de escravos a partir da África e a
emergência de uma ordem econômica no Atlântico”, J. E. Inikori busca analisar a origem
histórica da ordem econômica atual e sua relação com o Terceiro Mundo - o antigo Novo
Mundo século - marcado pelo sistema escravocrata (século XVI até meados do século
XIX) que é omitido nos estudos produzidos, por motivos políticos ou ideários.

“No desenvolvimento desse argumento, buscaremos, por um lado,


evidenciar o papel desse tráfico e da escravidão praticada na
América, no quadro da transformação capitalista da América do
Norte e da Europa Ocidental (particularmente da Grã‐Bretanha),
além de, por outro lado, ressaltar a influência desses mesmos
fatores no surgimento de estruturas de dependência na América
Latina, no Caribe e na África, por volta de meados do século XIX.
Por falta de espaço e em razão da extensão da zona considerada,
não será possível entrar em detalhes na questão das sub ‐regiões.
Portanto, a análise centrar‐se‐á essencialmente sobre os grandes
problemas gerais.” (Pág. 95)

Para entendermos melhor, o autor traz as ideias de desenvolvimento econômico -


favorecido por uma combinação das estruturas econômicas, sociais e políticas - para
entendermos os efeitos globais desse processo de criação, em especial os três tipos de
economia, sucessivamente: não desenvolvida, desenvolvida e subdesenvolvida:
1 -“... a economia não desenvolvida é aquela que não possui, nem as estruturas do
desenvolvimento, nem tampouco aquelas do subdesenvolvimento e que permanece,
portanto, livre para facilmente tomar tal ou qual direção, em função do tipo de
oportunidade apresentada.” (Pág. 97);
2 -“Por economia desenvolvida, entende‐se uma economia que possui sólidas ligações
internas, estruturais e setoriais, apoiando‐se em uma técnica evoluída e em estruturas
sociopolíticas as quais permitem um crescimento autônomo” (Pág. 97);
3 -“A expressão “economia subdesenvolvida e dependente” significa, por sua vez, uma
economia privada de articulações estruturais e setoriais, em função da existência de certas
estruturas internas, herdadas de relações internacionais anteriores cuja natureza torna
extremamente difícil, senão impossível, a implementação de uma técnica evoluída e de
sólidas ligações internas, setoriais e estruturais, gerando assim uma situação na qual a
expansão ou a contração da economia depende inteiramente do exterior”. (Pág. 97).
No final do século XV a economia da Europa Ocidental era subdesenvolvida, uma
gradativa mudança aconteceu anteriormente a chegada no Novo Mundo devido ao
crescimento populacional que estimulou suas relações comerciais em nível regional
(interna e externa): surgimentos de inovações na estrutura fundiária e no trabalho,
modificando as estruturas sociais e, todo esse conjunto, permitiu o aproveitamento do que
viria a ser encontrado nas Américas. Bem como, consolidou leis de mercado na região
europeia, e essas leis tiveram impactos diferente pois cada região tinha sua estrutura -
capaz de dividir funções e lucros entre seus membros.-, mais recente ou não.
“Para analisar o impacto do nascente sistema atlântico sobre as
economias da Europa Ocidental, convém distinguir dois períodos:
de 1500 a 1650 e de 1650 a 1820.” (Pág. 102)

Como já dito, no primeiro período não havia estruturas necessárias para o pleno
funcionamento de seu mercado para além de sua região, que repetindo, teve seu
crescimento. As riquezas da zona africana não tinha o devido valor devido que o tráfico
escravo ampliava-se, então o metal e o ouro provinham principalmente das colônias da
América espanhola, sendo o outro utilizado como moeda de troca impulsionando o
processo de comercialização nas atividades econômicas. Torna-se claro o que seria um
processo de dependência entre as regiões.:

“Além disso, as colônias espanholas da América não usufruíam do


direito de produzir seus próprios produtos manufaturados. Todavia,
suas riquezas minerais tornaram a classe dominante espanhola
dependente de diversas importações de outros países europeus,
com vistas a satisfazer as necessidades dos espanhóis na Espanha e
na América espanhola.” (Pág. 103)

No segundo período, para superar a crises (XVII), envolveu-se principalmente das


atividades agrícolas de plantação. Enquanto as Antilhas e a América Latina produzia o
açúcar, os norte-americanos produziam tabaco e algodão, fez-se necessário um aumento
de mão-de-obra escrava e por assim um repovoamento - feito pela população negra
retirada de seu lar - desta região que ampliou gradativamente o lucro Europeu. Também,
desenvolveu nesta região a criação de empregos e a volta do crescimento demográfico, o
surgimento de mais inovações num contexto de revolução industrial.
“Em função da superioridade do transporte marítimo sobre os
transportes terrestres, a economia europeia do século XVIII era
organizada em torno de alguns grandes portos marítimos, dos quais
os mais prósperos eram aqueles que concentravam uma boa parte
do comércio colonial, tais como Bordeaux e Nantes; cada um
desses portos, implantado no estuário de um rio, tinha suas
próprias indústrias, formando um entorno industrial para o qual
servia como saída comercial”. (Pág. 108)

Em todo a exploração realizada, além da retirada de riquezas naturais de cada país -


hoje subdesenvolvido - houve o despovoamento na África que foi crucial para o atraso no
avanço da produção comercial, principalmente em relação a países que também foram
devastados pelas mãos europeias. Na América Latina e nas Antilhas as razões foram: “A
pequena densidade populacional, em amplas zonas da América pré‐colombiana,
prejudicou o desenvolvimento das trocas e a divisão do trabalho. Ademais, o fato de as
regiões mais povoadas serem afastadas, umas das outras, e separadas das regiões pouco
povoadas por densas florestas, montanhas e vales profundos, o que dificultava as
comunicações, limitando o comércio intra‐americano”. Hoje ainda vemos reflexos dessa
relações desiguais que aconteceram nessa época.

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