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Rosemberg Ferracini*
África Negra, escrito em 2008 pelo pesquisador Sahel, Walata e Tombuctu, que serviam de parada
congolês Elikia M’bokolo, professor na Universidade nos portos mediterrâneos. Na parte ocidental,
de Kinshas do Congo, foi traduzido para o português em particular do Senegal a Angola, podem-se
em 2011 pela Editora da Universidade Federal da encontrar as zonas agrícolas coloniais do azeite
Bahia e é fruto do projeto editorial Histórias ao de dendê, óleo palmiste, algodão e o amendoim.
Sul, coordenado por José Murilo de Carvalho, Lilia Os dois primeiros desempenharam uma forte
Moritz Schwarcz e Valdemir Zamparoni. influência em demais países da África Oriental,
Além do título explicitamente geográfico, como Madagascar.
a obra é composta por sete minuciosos capítulos Temas presentes no segundo e terceiro
acompanhados de diversos documentos capítulos são os das plantações escravagistas.
cartográficos, que discutem as adjacências da Coloca-se em pauta uma discussão ausente na
Geografia, passando pelas “Guerras e Estados: Geografia brasileira: a migração de africanos
a África política no século XIX”, a “A África como escravos. Por meio de quadros e tabelas, o
independente”, as “Economias e sociedades do autor apresenta dados da população masculina,
século XX” e o “O avanço das fronteiras”, em feminina e de crianças que foram arrancados
conteúdos que se comunicam reciprocamente. e transpostos à força pelo Atlântico para as
Nos dois primeiros capítulos, que Américas. As informações passam pelas antigas e
apresentam um conjunto de mapas, encontramos novas formas do tráfico humano clandestino, do
as disputas territoriais que retratam as guerras século XVII ao XIX, entre a ascensão e declínio do
santas, a consolidação e a dissolução de reinos tráfico, seus métodos utilizados no processo, o
como Asante, Njoya e Sudão; e a formação dos comércio, a repressão e as leis abolicionistas. Estes
Estados na África Ocidental de Furta Toro, Futa estão presentes nas páginas da obra que tratam
Jalon, Kaarta, Khasso, Abomey, Oyo, Tio, Lunda, dos acordos “ilícitos” entre franceses, ingleses e
Cassanje, Ovimbundo, Lozi, Meyene, dentre portugueses para manter o comércio escravagista.
outros. Da África Central e Oriental, aprende-se a No terceiro e quarto capítulos percebemos
respeito dos Estados de Bornu, Wadai, Darfur, Funj, que, com o desequilíbrio demográfico africano,
Cazembe, a ocupação de Hausa, Nzakara Zande, a Geografia assume seu papel: entre réguas
Reinos Interlacustres, Zona de influência de Omã e compassos é efetivada a partilha da África.
e Imerina. Demais representações gráficas trazem O tema da fronteira é posto na mesa: criando
informações sobre a rede comercial do Saara por uma Geografia e uma História que pertencem
meio da rota dos camelos nas zonas desérticas em particular mais à Europa do que à África.
e toda a zona mediterrânea da Argélia, Tunis, Isso porque, como afirma o autor, os africanos
Alexandria, Porto Said, as principais cidades do não tinham o sentimento de estarem sendo
*Universidade de São Paulo/Geografia Humana. E-mail: rosemberggeo@yahoo.com.br
170 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 31, 2012 FERRACINI, R.