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Nelson Mabucanhane
Edição electrónica
URL: https://journals.openedition.org/espacoeconomia/22069
DOI: 10.4000/espacoeconomia.22069
ISSN: 2317-7837
Editora
Núcleo de Pesquisa Espaço & Economia
Refêrencia eletrónica
Nelson Mabucanhane, «Subdesenvolvimento em África: Dilemas, Debates, Realidades e Perspectivas
de Políticas Continentais Coordenadas », Espaço e Economia [Online], 23 | 2022, posto online no dia 07
agosto 2022, consultado o 06 fevereiro 2023. URL: http://journals.openedition.org/espacoeconomia/
22069 ; DOI: https://doi.org/10.4000/espacoeconomia.22069
Subdesenvolvimento em África:
Dilemas, Debates, Realidades e
Perspectivas de Políticas
Continentais Coordenadas
Underdevelopment in Africa: Dilemmas, Debates, Realities and Perspectives for
Coordinated Continental Policies
Subdesarrollo en África: dilemas, debates, realidades y perspectivas para
políticas continentales coordinadas
Sous-développement en Afrique : dilemmes, débats, réalités et perspectives de
politiques continentales coordonnées
Nelson Mabucanhane
Introdução
1 A análise dos problemas que há mais de meio século vem adiando o sonho de
autodeterminação de África como consequência da emancipação política tem dividido
especialistas interessados no estudo do fenómeno. Enquanto uns, na sua maioria da
linha ocidental e neoliberal invocam factores endógenos para explicar a pobreza em
África, outros de caris nacionalista, marxista e socialista analisam o problema a partir
de factores exógenos. Neste sentido o debate é orientado, por exemplo, pelos estudos da
linha ocidental no seu casamento com o pensamento dominante neoliberal numa
abordagem que tende a culpabilizar os africanos e seus “amigos de cooperação Sul-Sul”
pela pobreza, chegando mesmo a afirmar que África ao diversificar as estratégias de
cooperação com o oriente está a reeditar o modelo imperialista colonial, o que irá
desvirtuar todo o esforço rumo ao desenvolvimento criado junto ao ocidente. Por seu
turno, os nacionalistas e revolucionários políticos conservadores e alguns académicos
de caris marxistas partidários da teoria da dependência e neo-institucionalismo
6 Mudar para permanecer na mesma! É uma das célebres frases tanto em Mao Tse-Tung
ao falar “Sobre a Prática” e, principalmente “Sobre a Contradição” quanto em Albert
Hirschiman em “A Retórica da Intransigência”. Se por um lado, o problema central de Mao
Tsé-tung era corrigir os erros do dogmatismo existente no Partido Comunista Chinês
(PCC) durante a terceira etapa da guerra revolucionária, onde era preciso saber, com
precisão, onde estava o inimigo e o aliado entre as classes revolucionárias da sociedade
chinesa. Por outro lado, Hirschiman, ao analisar os problemas da revolução francesa
explicita as três reacções e sobretudo as três teses reaccionárias onde fala do efeito
perverso. Na sua ortodoxia, o autor entende que qualquer acção para melhorar um
aspecto de ordem económica, social e política só serve para exacerbar a situação que se
deseja remediar.
7 É sobre este prisma de corrigir os erros da brutalidade e desumanidade colonial que os
nacionalistas e/ou socialistas africanos após identificar o inimigo do continente,
através da luta armada de libertação das nações, da diplomacia e outros meios exigiram
às potências imperialistas coloniais a independência total e completa de África.
Decorrido meio século a propalada autonomia política, económica, social e cultural de
África que laurearia o esforço e os objectivos da descolonização está gerando o efeito
perverso. O que é evidenciado pela permanência do estado mais crítico de pobreza. Será
que este artigo pretende negar as mudanças operadas pela descolonização de África?
Claramente que não! Não porque as independências africanas não são relevantes
enquanto conectadas ao desenvolvimento social ou a outro factor. Elas são importantes
per si, dado que são a
8 condição sobre a qual brotam todos efeitos desejados. Então, como é que se caracteriza
o efeito perverso da descolonização? Se por um lado, se caracteriza pela exacerbação e
contínua subordinação, dependência económica, interferência externa nos assuntos do
continente pelas potências colonialistas, por outro lado, as armas continuam soando
alto, no que se convenciona designar por guerras civis, conflitos étnicos, religiosos,
terrorismo, canibalismo, ditaduras, corrupção, violação dos direitos humanos, etc. Uma
desculpa descabida para defender e perpetuar o novo figurino do colonialismo e do
neocolonialismo, como bem alertara Kwame Nkrumah nos anos 50.
9 Os actuais problemas, dilemas e realidades africanas não são gerados necessariamente
por um sistema colonial declarado ou ao menos com características do passado, mas
sim, pelos modelos neoliberais que ditam as regras de relacionamento entre os Estados,
as pessoas, o funcionamento do sistema mundo, o que tem implicações na divisão do
mundo em países pobres e desalinhados em termos de cooperação de modo a resolver
problemas comuns e países desenvolvidos alinhados.
10 Ao analisar os dilemas e as realidades relativas à penúria do continente, perspectiva
económica se a percebe que a descolonização não gerou o desenvolvimento esperado, a
autodeterminação, pelo contrário, produziu efeito perverso, caracterizado pelo penoso
subdesenvolvimento. Por exemplo, dos 53 países africanos, apenas 9 possuíam em 2019
Índice do Desenvolvimento Humano (IDH) alto, ou seja, acima de 0.7 na classificação do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Na sua maioria, 31 países
africanos, portanto, foram classificados como países de índice baixo, 0.3 e os demais, 13
apresentam IDH médio, 0.6. O desemprego, o analfabetismo, limitado acesso ao ensino
ocorrendo uma reedição do modelo imperialista colonial, o que limita, as relações que
África vinha estabelecendo com o Ocidente.
15 Não obstante a posição ortodoxa acima indicada, a elite política revolucionária,
patriótica, os nacionalistas e académicos da linha marxista, solidarista, portanto,
consideram o pensamento neoliberal como uma aberração, como luta hegemónica do
ocidente e dos reacionários africanos de modo a perpetuar a sua dominação em África.
Esta posição é de forma recorrente associada à tentativa de desacreditar e impedir a
África de usufruir dos frutos da autodeterminação, o que alarga a dependência externa
e, desacredita a governação africana, exacerba a pobreza, atiça os conflitos armados,
religiosos, étnico, gerando o espectro de que a redenção africana está nas mãos
ocidentais.
16 Assim, o trajecto analítico e geopolítica centra-se basicamente na forma como os
estados africanos exercem a sua soberania junto aos estados hegemónicos e organismos
multilaterais. A ideia subjacente nesta abordagem aponta que as independências
geraram estados frágeis, isto é, com deficiências no seu ambiente, capacidade e arranjos
institucionais para defendem os interesses do continente para além-fronteiras.
17 Após a apresentação do enquadramento das três perspectivas que orientam este artigo,
a questão seguinte é de onde parte este artigo e aonde pretende chegar? O breve
enquadramento das três perspectivas mostra o ponto de partida. E onde pretende
chegar? O artigo pretende desaguar no argumento de que a persistência dos dilemas,
debates e realidades que caracterizam o estado mais crítico e profundo da manifestação
de pobreza em África desde as lutas armadas de libertação nacional até então, não é
produto apenas do descaminho nos princípios nacionalistas gerados pelo pan-
africanismo e muito menos pela reemergência dos antigos “amigos de África”, mas sim,
da configuração da geopolítica internacional desfavorável à África.
18 Para sustentar este argumento, o artigo aplica as três perspectivas para analisar oito
factores explicativos do subdesenvolvimento africano alguns dos quais Paul Collier os
designou por armadilhas. Usando como instrumento analítico a abordagem económica
e geopolítica, o artigo analisa a penosa experiência de instalação de gasoduto
denominado Chad-Camarões - Pipeline Petroleum Development Project. Ainda na linha de
pensamento económico é feita uma apresentação sobre o efeito económico das
calamidades naturais, tomando como exemplo, a penosa experiência de Moçambique. A
partir do neo-institucionalismo histórico em Dias, Lúcio e Coelho (2014) o artigo discute
o legado colonial como factor central da fragilidade institucional e consequentemente
da corrupção. E, por fim, discute a relação entre as cinco armadilhas em Collier (2007)
com o subdesenvolvimento em África, nomeadamente: conflitos armados, a abundância
de recursos naturais, a interioridade dos países africanos, os maus vizinhos e a má
governação em pequenos países.
19 Na sua obra “os milhões da pobreza” Collier (2007) seguindo a abordagem neoliberal,
identifica, através do conceito de Jeffey Sachs, cinco armadilhas que as considera
relevantes para explicar os motivos que levam os países mais carenciados do mundo a
ficarem cada vez mais pobres, nomeadamente: a armadilha do conflito, dos recursos
naturais, da interioridade e maus vizinhos e da má governação em pequenos países.
Para este autor, em 2006, existiam no mundo, 980 milhões de pessoas presas em
algumas destas armadilhas e, na sua maioria, 70% em países africanos 2. O que faz com
que a pobreza a nível mundial, tenha o rosto africano, pois, é onde a maioria vive
abaixo da linha da pobreza. Para demonstrar a situação de penúria nos países com
extrema pobreza, Collier apresenta as suas características, nomeadamente: são países
onde a esperança de vida ao nascer situa-se em média a 50 anos, contra a média
mundial de 70 anos; a taxa de mortalidade infantil é de 15 por cento, ou seja, crianças
que morrem antes do seu primeiro aniversário, contra a média mundial de 4 por cento;
a proporção de crianças com sintomas de malnutrição é de 36 por cento, 29% dos países
pobres obtêm receitas a partir de recursos naturais, 30% em situação de interioridade
com escassez de recursos e maus vizinhos, 79% sofreram um período de má governação
e más políticas económicas, etc.
20 Outra forma de ver o mesmo problema da pobreza é dada pelo Administrador do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Achim Steiner, ao prefaciar o
relatório de 2019 e afirma que “apesar de todo o nosso progresso, há algo na sociedade
globalizada que não está a funcionar” para fazer referência à pobreza. Steiner (2019)
toma como evidências para demonstrar que o mundo não vai bem os inúmeros
protestos de rua, o custo de transporte, o preço da gasolina, as frustrações
consequentes das desigualdades sociais, o poder de uns poucos e a impotência de
muitos, as disparidades ao nível dos padrões de vida, a fome e as doenças severa, os
conflitos armados, a maioria analfabeta, desempregada, a falta de acesso à
electricidade, água potável e até ao teto onde dormir.
21 De facto, este é o mapa vergonhoso e que ilustra os dilemas e as realidades africanas em
particular e de mais de 90% da população mundial. Os factores geradores das
desigualdades sociais no acesso as coisas importantes para construir o futuro que cada
pessoa almeja no mundo, tem vindo a ser discutidos por vários analistas, dos quais
Hobsbawm (1995:11) traça uma linha incisiva de várias expressões para caracterizar,
por exemplo, o século XX. No seu entendimento, o século XX foi caracterizado por
catástrofes e tragédias; século mais terrível na história da humanidade; acontecimentos
históricos horríveis; massacres e guerras; século de repressão; século mais violento na
história da humanidade; crise da racionalidade humana; século de holocausto, da
escravatura, da pilhagem, etc.
22 Como se pode notar, as expressões do autor estão associadas a conflitos armados apesar
de reconhecer a relativa paz a nível mundial no século XXI. Sabe-se, portanto, que
alguns países de África, da América Latina e Ásia continuam sob fogo cruzado. Estes
países, são considerados, muitas vezes, pela literatura ocidental como sendo o bastião
da pobreza, chegando mesmo a considerá-los como territórios inóspitos.
23 Ainda que se reconheça a universalidades destes factores, o continente africano, bastião
das mais reconhecidas e cobiçado riquezas do subsolo é o palco dos piores ensaios da
desumanidade, o que faz dele se encontra no extremo quando se fala de acesso às coisas
da vida humana. Como evidência disso, o Índice de Desenvolvimento Humanos de 2019
que analisou 189 países do mundo e, em África dos 53 países 31 apresentam os piores
índices. Se países como Noruega, Suíça Irlanda e Alemanha apresentam IDH entre 0.954
a 0.939, os designados por estados falhados de África apresentam IDH penosamente
baixo, como é o caso de Moçambique (0.446), da Serra Leoa (0.438), do Burquina Faso e
Eritreia (0.434), do Mali (0.427), do Burundi (0.423), do Sudão do Sul (0.413), do Chade
(0.401), da República Centro Africano (0.381) e do Níger (0.377).
24 Não obstante a visão pessimista acima descrita sobre o continente africano, o relatório
“Perspectivas Africanas 2019” da African Development Bank Group caracterizou o estado
do continente como bom. Esta fantasmagoria baseia-se na análise de indicadores
macroeconómicos de 2016 a 2018. O relatório aponta que em geral o desempenho
económico de África continua a melhorar com um crescimento interno bruto de 3.5%
em 2017 e 2018, o que representou um aumento de 1.4% em relação a 2016. De acordo
com o mesmo relatório a maior dinâmica para este crescimento é dada pela África
Oriental que em 2018 teve o PIB de 5.7 por cento, seguida por Norte de África com 4.9
por cento, África Ocidental com 3.3 por cento, África Central com 2.2 por cento e a
África Austral, com 1.2 por cento.
25 Este desempenho é explicado a partir, por exemplo, das reformas fiscais que o
continente africano tem vindo a implementar desde os anos 2000, o que contribui não
apenas na consolidação orçamental através do aumento das receitas fiscais, como
também, na disciplina de planificação, através da redução da despesa pública de modo a
reduzir o rácio despesa/receita.
26 Todavia, o relatório reconhece que apesar de o crescimento económico de África ser
bem maior quando comparado com outras regiões do mundo desenvolvido e das
economias emergentes, ele é insuficiente para enfrentar os desafios estruturais dos
persistentes défices orçamentais, da balança corrente, da vulnerabilidade ao
endividamento, à desindustrialização, economia baseada na informalidade, baixa
produtividade e incapacidade de criar emprego de qualidade.
27 Ao mesmo tempo que se assistem algumas melhorias no continente, os níveis de
endividamento do continente tende a aumentar, embora não representando risco
sistémico de uma crise da dívida. A partir de dados disponíveis de 52 países africanos, o
Banco Africano de Desenvolvimento (2018) classifica os países africanos em dois grupos,
os com rácio dívida/PIB abaixo dos 40% (Argélia, Botsuana, Burquina Faso e Mali) e os
com rácio dívida/PIB acima dos 100% (Cabo Verde, Congo, Egipto, Eritreia, Moçambique
e Sudão). Este último grupo de países é considerado pelo relatório como aquele que
apresenta elevado risco de sob endividamento e que é insustentável.
28 Para além da insustentabilidade do endividamento da maioria dos países africanos, a
desindustrialização e o carácter informal da economia africana tem gerado, de entre
várias consequências o desemprego. Estudos indicam que o rápido crescimento da
população em idade activa em África tendo atingido 705 milhões em 2018 com
tendência para alcançar um mil milhão em 2030 o que faz com que África precise de
gerar em média 12 milhões de empregos ao ano para impedir que o desemprego
aumente. Dados actuais apontam que um aumento de 1 por cento no PIB apenas
aumentam em 0.40 por cento no emprego, o que significa, de acordo com o relatório do
Banco Africano de Desenvolvimento (2019) que o emprego se expande a menos de 1.8%
ao ano. Esta situação irá lançar ao desemprego mais de 100 milhões de desempregados
até 2030, juntando aos actuais desempregados.
29 Estes resultados revelam um paradoxo, uma vez que o continente africano possui
"22.5% da terra do globo; 30 milhões de quilómetros quadrados; mais de 10% da
população mundial, podendo duplicar até 2050; contém 30% das reservas naturais mais
conhecidas e cobiçadas do mundo" Saraiva (2015:36). O autor aponta ainda que África
possui mais de 90% das reservas de platina, 66% do diamante mundial; 58% do ouro;
45% do cobalto; 17% de manganês; 15% de bauxita; 15% de zinco e petróleo, em síntese
guarda no seu subsolo mais de 30 tipos de recursos mais cobiçados do mundo.
cheias são Tete (77), Sofala (73), Zambézia (66), Maputo e Manica (40) e Cabo Delgado
(32).
53 A frequência das cheias no período estudado pelo INGC foi maior no mesmo período nas
províncias de Nampula (53), Gaza (48), Inhambane (27) e Sofala que registou ocorrência
de cheias 19 vezes. O dado substancial não deve ser o de entender que estas são as
províncias que registam calamidades naturais, mas sim, todo o país, sendo que no
período de 2000 a 2012, as províncias acima indicadas registaram maior frequência
quando comparadas com as demais.
54 Relativamente a ocorrência de sismos, o relatório do Banco Mundial e Ministério de
Economia e Finanças de Moçambique de 2017 apresenta dados sobre os anos de
ocorrência, as províncias e a magnitude, conforme indica a tabela, abaixo:
custos financeiros destas adversidades são estimados em $600 milhões, tendo regredido
o crescimento económico de 7.5% para 6.4% em 2000.
58 Os anos de 2008 e 2013, bem como 2015 e 2016 registaram, igualmente, efeitos
calamitosos de magnitude considerável, caracterizados por chuvas fortes, inundações,
cheias, num custo de $384 milhões, correspondente a 2.4% do PIB. Os autores apontam
ainda que o ano de 2016, caracterizou se pela escassez de precipitação em toda a Africa
Austral devido ao fenómeno de El Niño, tendo sido, o período mais critico dos últimos 35
anos em termos de falta de chuva e afectou mais de 1.5 milhão de pessoas em todo o
país.
59 Em 2017, a costa da província de Inhambane foi severamente afetada pelo ciclone Dineo
e cerca de 600 mil pessoas foram directamente afetadas. A partir da tabela anterior que
cita o estudo de Manjoro, Rosse e Ferreira (2020) nota se que entre 2006 a 2015,
Moçambique foi fustigado por 55 eventos calamitosos que incluem, inundações, cheias,
secas ciclones tropicais tendo afetado 2.739.976 pessoas em todo o país. Todavia, o
estudo da Federação Internacional das Sociedades Nacionais de Cruz Vermelha e do
Crescente Vermelho (2008) citando Queface (2019) ao globalizar dados sobre epidemias
e terramotos diversas aponta para 67 eventos catastróficos que afetaram Moçambique
entre 1956 a 2008, tendo causado 105.288 mortes e afetado 25.803.847 pessoas, o que
corresponde a aproximadamente, atualmente 100% da população moçambicana.
60 De acordo com Manjoro, Rosse e Ferreira (2020) citando Muzell (2019), o ciclone IDAI foi
o mais forte que atingiu Moçambique depois do Eline e é de categoria 3, com uma
intensidade e velocidade de ventos de 200 km ̸ hora. O Instituto Nacional de Gestão de
Calamidades aponta 518 pessoas mortas, 1.641 feridos e 146 mil deslocados e acolhidos
nos vários centros criados para o efeito.
61 Enquanto o ciclone tropical IDAI fustigou o centro de Moçambique em particular a
província de Zambézia e as cidades da Beira, Dondo e Búzi, o ciclone Kenneth atingiu
severamente a região norte do país, porém, com maior intensidade considerando que os
ventos e chuvas tinham a velocidade de 215 km ̸ hora. Não obstante a maior velocidade
dos ventos do ciclone Kenneth, a experiência do Instituto de Gestão de Calamidades
sobretudo adquirida no IDAI, ajudou para reduzir o efeito negativo deste. Mesmo com
essa experiência, foram contabilizadas 41 mortes e 34 mil pessoas abrigadas em centros
de acomodação, sendo 14% a estimativa de destruição de infraestruturas como escolas,
centros de saúde instituições governamentais, privadas, habitações, etc. O ciclone
Kenneth atingiu de forma severa a Ilha do Ibo e com relativa intensidade os distritos de
Quissanga e Macomiana província nortenha de Cabo Delgado.
62 Em termos de efeito financeiro e humanos, o relatório do Banco Mundial e Ministério
de Economia e Finanças de Moçambique de 2017 indica que em 14 anos, 2000 a 2014, o
país perdeu 7.543 milhões de Meticais. Nos anos de 2000, 2001, 2007 e 2013, o país
registou eventos calamitosos de maior intensidade e destruição. No mesmo período
mais de 122.000 pessoas foram afetadas anualmente por inundações, gerando um custo
anual de $440 milhões, contra $20 milhões como resultado dos efeitos gerados por
secas.
63 Por sua vez, o estudo do INGC aponta que entre 2009 a 2015, Moçambique gastou 562
milhões de meticais para a reconstrução de habitações destruídas pelas calamidades
naturais. Dos quais 120 milhões de meticais foram destinadas para reconstrução de
infraestruturas da educação, 2.178 bilhões de meticais para a reconstrução de estradas
e pontes, 308 milhões de meticais para a agricultura. Estes dados não incluem os custos
77 Angola pode ser tomado como exemplo, no qual a União Nacional para Independência
Total de Angola (UNITA)6 era financiado por diamantes, enquanto o governo do
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) era financiado pelo petróleo. Este
facto, significou que quanto maior for a procura do diamante e do petróleo maior era o
risco da continuação da guerra e vice-versa.
78 O importante para este artigo não é descrever com detalhes os países africanos onde
ocorreram e/ou ocorreram guerras, mais sim, explicitar que a guerra é um dos factores
explicativos da pobreza, paradoxalmente, negligenciado pelos autores de linha
neoliberal quando estudam o subdesenvolvimento em África.
79 Ao assumir este factor Collier (2007:47), por exemplo, fundamenta que em termos
económicos a guerra, tende a reduzir em 2.3% o crescimento económico ao ano,
deixando, portanto, cerca de 15% da população na extrema pobreza. Gera escassez de
medicamentos, fazendo com que a maioria das pessoas não morra em combate, mas
sim, de doenças. A guerra provoca não só refugiados, mas, sobretudo, deslocado que
regra geral deixa tudo nas zonas residência anterior para começar tudo do zero.
Pessoas anteriormente abastadas em Palma, Macomia e demais distritos da nortenha
província de Cabo Delgado em Moçambique, tornaram-se mendigos, pedintes, ou
melhor, dependentes de ajuda de pessoas e organizações de boa vontade nas zonas de
reassentamento.
80 Os campos de refugiados e/ou de deslocados internos por serem na fase inicial centros
de ruptura com serviços do Estado, como educação e saúde, por exemplo, tendem a
serem locais não apenas de incubação do analfabetismo, mas também, de eclosão de
doenças como cólera e malária, Covid-19, criminalidade, entre outros males.
81 Para além da armadilha de conflito e de recursos minerais abundantes, Collier (2007:79)
aponta a interioridade como factor explicativo de pobreza em muitos países, em
particular os africanos. O continente africano tem mais países do interior do que apenas
1% da população mundial que vivem em países do interior. Existe uma tendência em
África de a capital do país não apenas ser o centro político, mas também, económico.
Neste caso, avultadas somas são investidas nas capitais de países interiores, incorrendo
a custos altos de transporte tanto para a distribuição da produção dentro do país
quanto para exportação. Estudos realizados pelo autor em várias capitais da Europa e
América mostraram que os custos de transportes variavam em função de quanto o
vizinho costeiro gastara em infraestrutura de transporte. Neste caso, os países do
interior estão reféns dos seus vizinhos. O autor mostra que o sucesso, por exemplo, da
Suíça ao mar depende das infraestruturas alemãs e italianas, enquanto o sucesso ao mar
da Uganda depende das infraestruturas do Quénia.
82 Assim, as infraestruturas precárias do país costeiro tendem a gerar dificuldades ao país
interior e, o mais gravoso nisto é que este não tem poder de obrigar o outro para
melhorar tais infraestruturas. As dificuldades causadas pelas infraestruturas encarecem
os produtos dos países interiores o que aumentam a pobreza, sobretudo nos casos em
que não existem condições de manufatura. Não é por acaso que o agro processamento, a
criação de empresas manufatureira se mostra não só importante para a conservação
dos produtos, mas sobretudo porque constituem fonte central para geração de
emprego.
83 Ao analisar a importância dos vizinhos fora da dimensão corredor de transporte, Collier
(2007) questiona o valor destes sob ponto de vista do mercado. Retomando o caso da
foram a causa dos conflitos, mas sim, instrumentos do capital financeiro para
imortalizar a sua hegemonia.
95 Kulipossa citado por Picasso (2003:43) ao analisar os problemas africanos defende que a
crise do Estado em África não representa necessariamente a crise interna, mas sim, a
crise do modelo europeu imposto ao Estado africano. De facto, a construção do Estado
em África ocorreu mediante as imposições das terapias ocidentais, no contexto do
Consenso de Washington de 1986. O facto é que essa imposição não foi capaz de gerar
instituições com ambiente e arranjos institucionais capazes de defender a soberania dos
recéns estados criados. Para Gomide e Pires (2014) ambiente institucional são as
directrizes políticas, económicas e jurídicas que orientam de forma geral, a
institucionalização e funcionamento das instituições estatais. Ao passo que arranjos
institucionais estão associados ao conjunto de regras, mecanismos e processos que
definem a forma particular de coordenação de atores e interesses na implementação
das políticas públicas específicas. O problema africano até confunde intelectuais e a
comunidade internacional quando se fala do ambiente, da capacidade e dos arranjos
institucionais, porque isso, analisado a partir da definição de Gomide e Pires (2014) está
presente em África, mas o problema é como é que isso gera de fato, a construção de um
Estado de Direito democrático, alicerçado na separação e interdependência de poderes,
no pluralismo, na liberdade de expressão, de organização partidária, das associações e
no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.
96 Carothers (1999 apud Knack, 2003:2), por exemplo, se vangloriam amostrando que a
Agência Internacional para o Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID)“gastou
sozinha, US$ 700 milhões em programas de promoção da democracia”. E para este
autor, o resultado foi a democratização de 115 nações em 1995 contra os 58 em 1980.
Das 115 nações, mais de metade fizeram a transição democrática de forma sucedida.
Não cabe aos objectivos do presente artigo analisar o alcance do que significa a
transição democrática em África, não apenas porque o primeiro passo deveria ser o de
questionar se se trata de democracia africana ou de democracia em África, mas porque
parte da extrovertida imagem africana é mais nítida no processo pós-eleitoral.
Independentemente da resposta a dar, a questão seguinte é se essa democracia faz
sentido em África? Sabe-se, porém, a partir de Pedone (1986:9) que para o caso africano
é melhor falar da democracia formal, a que se esgota, portanto, nas eleições rotineiras e
não necessariamente na democracia substantiva, ou seja, aquela que envolve valores
justiça, igualdade, liberdade, pluralismo político, instituições inclusivas que permitam o
acesso igualitário aos bens e serviços, entre outros.
97 A democracia substantiva está associada, como ensina Acemoglu e Robinson (2013)à
criação de instituições políticas e económicas inclusivas. As instituições africanas são
na sua maioria extrativas, fontes do patrimonialismo, do clientelismo, da impunidade,
da corrupção, do crime organizado, o que leva Ngoenha (2015, p.99), a afirmar que “[...]
indivíduos ou grupos de malandros, mafiosos, traficantes, aparecem como
financiadores dos aparatos políticos e isso diminui ou mesmo retira a credibilidade
moral, à política mesmo e à democracia”. A verdade é que as instituições criadas sob
imposição das IBW em África não estão sendo capazes de gerar um ambiente e
capacidade institucional capaz de permitir o acesso a recursos para a vida digna à
população africana.
98 Analisando os problemas africanos numa perspectiva histórica percebe-se que o quadro
institucional criado nos estados africanos e os horrores da escravatura e da pilhagem
105 Os dilemas e realidades africanas acima descritos devem ser resolvidos através de
políticas continentais coordenadas e capazes de engendrar um bom ambiente,
capacidade e arranjos institucionais de forma a domesticar todo o efeito externo.
Considerando que os problemas africanos são mais preocupantes dado ao seu impacto
negativo nas precárias condições de vida nas populações é preciso que os governos
desenhem boas políticas, ou seja, aquelas que na perspectiva do Banco Mundial (2002)
constituem forças motrizes de redução da pobreza. Como, por exemplo, as de protecção
social ao nível, por exemplo dos trabalhadores. A ausência por exemplo de políticas de
protecção social no contexto de globalização e entrada excessiva de capital externo
gera competitividade no emprego, por exemplo, eleva o custo de produtos devido à
tendência de capitalização local, o que coloca em situação dramática as pessoas que não
têm acesso a esses recursos financeiros. Baixa a exportação dos produtos tradicionais
devido a uma tendência de concentração das políticas governamentais nos novos
produtos extractivos, o que gera não só fome, mas também, desemprego (Jatrpha, feijão
bóer, etc.).
Conclusão
não terminou apenas ocorreu mudança do modelo, já não se trata de pilhagem aberta
do continente, mas sim, da escravatura sofisticada, do saque de recursos naturais via
multinacionais e transnacionais, do uso da força militar em nome da garantia da paz
internacional, do combate ao terrorismo, entre outras formas impercetíveis de operar a
colonização.
110 O presente artigo entra neste debate com o objetivo de analisar os factores que
explicam a persistência dos problemas que impedem a África de desfrutar na plenitude
o produto da sua luta pela descolonização.
111 Para este fim, o artigo assumiu três perspetivas, nomeadamente: geopolítica,
económica e histórica para analisar oito indicadores que são: o projecto de instalação
de gasoduto entre Chad-Camarões (Pipeline Petroleum Development Project), calamidades
naturais, tomando como estudo de caso a penosa experiência de Moçambique, o legado
colonial como factor central da fragilidade institucional e consequentemente da
corrupção e dos conflitos armados, a abundância de recursos naturais, a interioridade
dos países africanos, os maus vizinhos e a má governação em pequenos países.
112 Com base no método indutivo, na abordagem qualitativa e nas técnicas de revisão
bibliográfica, documental conjugados a teorica do neo-institucionalismo histórico, o
artigo conclui que a pobreza africana é explicada a partir de fatores endógenos e
exógenos, simultaneamente. Esta conclusão sustenta em parte, o argumento inicial do
artigo que aponta que a persistência dos problemas, dilemas, estado mais crítico e
profundo da manifestação de pobreza em África desde a luta armada de libertação
nacional até então, não é produto apenas do descaminho nos princípios nacionalistas
gerados pelo pan-africanismo e muito menos pela reemergência dos antigos “amigos de
África”, mas sim, da configuração da geopolítica internacional desfavorável à África.
113 A não sustentabilidade total do argumento inicial está associado ao fato de o artigo não
ter desenvolvido com profundidade a perspetiva geopolítica, o que significaria mostrar
o quanto cada um dos indicadores da indigência africana tem uma relação com o
exterior. Apesar do menor grau analítico da dimensão geopolítica, o artigo provou a
partir da visão histórica, com base no estudo de Dias, Lúcio e Coelho (2014) que analisa
as causas da corrupção em África e que concluiu que a corrupção está associada ao
legado colonial, que igualmente, explica a fragilidade das instituições do continente. A
tenuidade institucional é o fator explicativo de todo um conjunto da precariedade
governamental na oferta de serviços básicos à sociedade. Neste caso, ficou evidente que
as relações de dependência económica entre ex-colónias e ex-metrópoles são factor
importante para o exame da relação entre a corrupção e a pobreza.
114 Por via da debilidade das instituições africanas como consequência da perpetuação da
antiga relação colónia e metrópole que não só gera corrupção, mas também, conflitos
armados, vulgarmente apelidadas como conflitos étnicos, religiosos, golpes de estado,
ditadura, falta de democracia, entre outras formas aperaltadas para incumbir as reias
causas do conflito. O artigo demonstrou a existência de uma relação direta entre a
pobreza absoluta e a guerra e vice-versa. Neste sentido, a captura do Estado pela
metrópole no seu casamento com a elite africana fragiliza as instituições, o que
fundamenta o cenário de penúria do continente.
115 Na dimensão económica, o artigo evidenciou a partir do estudo de caso de Pipeline
Petroleum Development Project entre Chad – Camarões o quanto a entrada das
multinacionais e transnacionais em África é factor explicativo do aumento da pobreza
em África. Contra todas as expetativas, ficou claro que após a exploração do petróleo, as
comunidades locais do Chad e Camarões ficaram cada vez mais pobres após a extracção
do petróleo. Chad e Camarões é apenas um exemplo, o mesmo acontece, por exemplo,
em Moçambique com as multinacionais Vale Moçambique em Tete, com a exploração
do gás pela Sasol na província de Inhambane, do Rubi em Cabo Delgado. Nestes e
demais exemplos em Moçambique e outros países a nível de África e dos demais países
do terceiro mundo não existem experiências memoráveis do desenvolvimento
socioeconómico como produto do Investimento Directo Estrangeiro (IDE).
116 O artigo assumiu apenas dois dos oito indicadores que analisou como fatores endógenos
que explicam a pobreza africana. Trata-se, portanto, das calamidades naturais e d a
interioridade dos países africanos. Tomando como estudo de caso Moçambique, ficou
evidente entre 1956 a 2016, o país registou 1.315 eventos calamitosos, sendo que em
apenas 4 anos, 2002 a 2006, Moçambique registou cinco sismos. Estes eventos
calamitosos se distribuem em termos de tipologia em 741 secas, 437 cheias e
tempestades, 137 ciclones, 13 são registos de secas, para além de sismos e deslizamento
de terra.
117 Os casos mais recentes estão associados com o ciclone Dineo que afectou directamente
cerca de 600 mil pessoas, o ciclone IDAI que fustigou o centro de Moçambique em
particular a província de Zambézia e as cidades da Beira, Dondo e Búzi, o ciclone
Kenneth atingiu severamente a região norte do país, porém, com maior intensidade
considerando que os ventos e chuvas tinham a velocidade de 215 km ̸ hora. Apesar da
menor intensidade, causou 41 mortes e 34 mil pessoas abrigadas em centros de
acomodação, sendo 14% a estimativa de destruição de infraestruturas como escolas,
centros de saúde instituições governamentais, privadas, habitações, etc, na Ilha do Ibo e
com relativa intensidade os distritos de Quissanga e Macomiana província nortenha de
Cabo Delgado. Destaque vai ainda para o ciclone Eline de categoria 3, com uma
intensidade e velocidade de ventos de 200 km ̸ hora, tendo causado a morte de 518
pessoas, 1.641 feridos e 146 mil deslocados.
118 Como se sabe, os eventos calamitosos causam mortes, distruição de infraestruturas,
inundações gerando perdas em enormes estimados pelo Banco Mundial e Ministério de
Economia e Finanças de Moçambique em 7.543 milhões de Meticais, num período de 14
anos, 2000 a 2014. Apenas nos anos 2000, 2001, 2007 e 2013, o país registou eventos
calamitosos de maior intensidade e destruição, tendo afectado directamente 122.000
pessoas, num custo anual de $440 milhões.
119 Moçambique foi apenas um estudo de caso, sabe-se, porém, que o continente é
ciclicamente afectado pela escassez de precipitação devido ao fenómeno de El Niño,
tendo sido, o período mais critico dos últimos 35 anos em termos de falta de chuva e
afectou mais de 1.5 milhão de pessoas em todo o continente, com particular destaque
para África Austral.
120 Porque a enumeração de casos não resolve o problema, a ideia central deste estudo de
caso é que as calamidades naturais são, igualmente, um factor fundamental quando se
estudam as causas da pobreza absoluta em África.
121 Em termos de recomendação aos estudos futuros, o artigo sugere que seja aferido a
significância estatístico do efeito dois oitos indicadores (exploração dos recursos
naturais pelas multinacionais, calamidades naturais, corrupção, conflitos armados, a
abundância de recursos naturais, a interioridade dos países africanos, os maus vizinhos
e a má governação em pequenos países) sobre a pobreza absoluta.
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NOTAS
1. Neoliberalismo de acordo com Anderson (1995) nasce logo depois da II GM na Europa e
América do Norte onde reinava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política veemente contra
o Estado intervencionista e de bem-estar, seu texto de origem é o livro "O Caminho da Servidão"
de Friedrich Hayek publicado em 1944. Trata-se de um ataque apaixonado contra qualquer
tentativa de limitação das forças do mercado por parte do Estado, denunciadas como uma ameaça
letal à liberdade, à economia e também à política.
2. Apesar de o autor usar a expressão África para explicar as armadilhas de pobreza, ele
reconhece que não é apenas em África onde existe pobreza, por isso, seria aceitável dizer “África
+”. O sinal + como é conhecido na linguagem matemática, significa adicionar, neste caso outro
país que não seja africano, como, por exemplo, Haiti, Bolívia, Laos, CambojaIêmen, Birmânia,
Coréia do Norte, etc.
3. A partir do conceito da Universidade do Michigan Collier (2007:36 e 47) define guerra civil
como sendo um conflito interno que envolve pelo menos mil mortes em combate, com cada parte
a sofrer pelo menos 5 por cento destas mortes e dura, regra geral dura mais de 10 anos.
4. Ao explicar este dado, Paul Collier indica que um aumento em 3 por cento do crescimento
económico do país diminuiria na mesma proporção o risco de guerra, 11 por cento, portanto. Se a
economia se reduz a um ritmo de 3 por cento, o risco aumenta para 16, por cento.
5. Ver dissertaçao de mestrado de Mabucanhane (2009) na qual assume que o conceito de
instabilidade política é amplo e significa a não-política, ou melhor, ausência de uma política de
resolução pacífica dos conflitos.
6. Collier (2007:48) aponta que no início dos anos 90, Jonas Savimbi havia acumulado uma fortuna
estimada em cerca de 4.000 milhões de dólares resultante de controlo das zonas de diamante.
Depois de perder as eleições gastou tudo reivindicando a vitória, reacendendo a guerra civil.
RESUMOS
O sonho da autodeterminação de África como resultado da descolonização não está sendo
observado na sua plenitude. Na análise deste fenómeno, a maioria dos estudos aponta factores
endógenos, o que desautoriza a teoria do neo-institucionalismo histórico que explica os
fenómenos a partir da dependência de trajectória. Este artigo resgata a dependência de
trajectória e orienta-se em três abordagens: geopolítica, económica e histórica. O objectivo é
analisar os factores que explicam a persistência dos problemas que limitam África de desfrutar na
plenitude o resultado da sua luta pela descolonização. O artigo assume abordagem qualitativa,
técnicas de revisão bibliográfica e documental, tomando como base a teorica do neo-
institucionalismo histórico. O artigo argumenta que a persistência dos problemas, dilemas,
estado mais crítico e profundo da manifestação de pobreza em África, não é resultado do
descaminho nos princípios nacionalistas gerados pelo pan-africanismo e muito menos pela
reemergência dos antigos “amigos de África”, mas, da configuração da geopolítica internacional
desfavorável à África.
poverty in Africa, is not a result of the deviation from nationalist principles genereted by Pan-
Africanism, much less by the reemergence of the old “friends of Africa”, but the configuration of
international geopolitics unfavorable to Africa.
ÍNDICE
Keywords: underdevelopment; absolute poverty; neoliberalism; african economy; Africa.
Palabras claves: en desarrollo; pobreza absoluta; neoliberalismo; economía africana; África.
Palavras-chave: subdesenvilvimento; pobreza absoluta; neoliberalismo; economia africana;
África.
Mots-clés: sous-développement; la pauvreté absolue; néolibéralisme; économie africaine;
Afrique.
AUTOR
NELSON MABUCANHANE
Doutor em Políticas Públicas na Linha de Estado e Políticas Públicas pelo Programa de Políticas
Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Brasil. É Professor
Auxiliar na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) da Universidade Joaquim Chissano.
Email: mabucanhane.nelson@gmail.com