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Cledisson Junior1
Este texto (ainda que incipiente) tem como objetivo jogar luz as significativas
contribuições de Amílcar Cabral, para o marxismo revolucionário, e sua contribuição
para os processos politico-pedagógicos da luta anticolonial em todo o mundo assim
como localizar o seu destacado papel nas guerras de independência no continente
africano. Este texto não é um ensaio acadêmico, mas sim, uma reflexão a fim de
provocar debates entre a militância de esquerda.
Boa leitura
Introdução
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Disponível em https://www.marxists.org/portugues/tematica/1980/arma/04.htm
este projeto, a exemplo dos processos insurgentes dos povos negros e indígenas, sendo
as guerras por independência no continente africano, o combate ao racismo anti-negro
no Brasil e a resistência cotidiana dos povos indígenas por todas as Américas, elementos
fundamentais para o aperfeiçoamento das nossas analises e o enriquecimento das
nossas estratégias pedagógicas.
Arma da Teoria
Criada em 1944 a Casa dos Estudantes do Império Português (CEI) era parte da
estratégia politica do Estado Novo (ditadura militar que se estendeu de 1933 até 1974)
que tinha como objetivo organizar em um único lugar os estudantes bolsistas oriundos
das colônias portuguesas na África que chegavam a portugal para obterem uma
formação superior, a intenção era cooptar estes estudantes, assim também exercer um
controle sobre suas atividades.
Cabral defendia que o marxismo revolucionário não poderia ser simplesmente aplicado,
tal qual uma tradução a uma realidade diferente da que foi forjado. Era fundamental
que houvesse um processo de adaptação, considerando o contexto africano marcado
pelo colonialismo e pelo racismo que subalterniza e massacra vidas negras.
A partir desse ponto, o PAIGC passou a adotar rigorosas orientações de segurança com
o objetivo de garantir o funcionamento do seu núcleo dirigente, a exemplo dos partidos
comunistas quando estes foram jogadas na clandestinidade, como a criação de
pequenas células, um rigor disciplinar, o uso de apelidos entre os militantes e a
realização de reuniões secretas do comitê central em outros países.
A década de 1960 ficou marcada em todo o mundo pelas denuncias dos crimes
praticados pelos países imperialistas nas suas colônias africanas e asiáticas. As
denuncias publicas foram ferramentas largamente utilizadas naqueles anos. Foram
realizadas inúmeras conferências organizadas pelos povos colonizados que viviam na
diáspora com o apoio dos partidos políticos de esquerda, sindicatos, Universidades e
figuras publicam, como artistas, esportistas e intelectuais. Também foram feitas
denuncias em instancias da governança internacional, como o histórico discurso de Che
Guevara na ONU e o próprio discurso de Amílcar Cabral realizado durante a assembleia
geral da ONU em 1961, assim como o utilização de espaço na imprensa progressista.
Estes esforços foram combinados com a luta armada, onde a denuncia tinha como
objetivo desgastar a imagem dos países imperialistas junto a comunidade internacional
e na frente de batalha, derrota-los militarmente.
Paulo Freire o mais renomado educador brasileiro de todos os tempos, certa vez,
escreveu sobre Amílcar Cabral denominando-o de pedagogo da revolução. Este apelido
elogioso se deu por causa do legado de ideias e lutas deixadas por Cabral contra o
colonialismo. Para Paulo Freire, Amílcar Cabral encarnou o sonho da libertação de um
povo, fazendo uso de procedimentos pedagógicos. As contribuições de Cabral para a
educação politica do povo da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, no período anterior a
guerra de independência e mesmo durante o conflito, abriram caminho para a
formação de uma identidade africana pós-colonial.
Amílcar Cabral compreendia a educação como uma poderosa ferramenta de resistência
e o mais importante instrumento de reafricanização dos povos colonizados. Para Cabral
a aposta na educação e a valorização das sínteses culturais a partir dos referenciais
africanos são elementos fundamentais para o advento dos novos sujeitos pós-coloniais,
assim importantes para a reconstituição de diversas experiências de sociabilidades
comunais existentes no período anterior a invasão dos brancos. O processo de
aprendizagem nas escolas criadas pelo partido se atrelava às tarefas das comunidades,
o estudo era concatenado ao trabalho produtivo e toda a comunidade escolar
participava da gestão e eram responsáveis pela preservação das unidades escolares.
Cabral acreditava e defendia Estado como indutor de investimentos em educação,
ciência e tecnologia para o desenvolvimento econômico e cultural das ex-colônias.
A guerra pela independência no Gui-Bissau e Cabo Verde não fez uso apenas de armas,
mas principalmente do poder da educação e do resgate e da valorização cultural dos
africanos, peças chaves na promoção de uma maior consciência dos povos destes
territórios acerca das suas próprias realidades. Infelizmente Amílcar Cabral, não pode
ver realizado o sonho da independência dos seus dois países de origem, ele foi
brutalmente assassinado em 1973 por fascistas a serviço dos portugueses.
Com Amílcar Cabral aprendemos que a educação é revolucionaria e por acreditar nisso
ele a transformou na principal arma de um povo que lutou e conquistou a sua própria
independência e que se viu diante de um novo desafio que era o de fundar dois novos
países após o fim da guerra e governa-los guiados pelo povo, desmontando as
estruturas coloniais e erguendo uma nova sociedade contra-colonial com o objetivo de
superar a força ideológica e as permanências do colonialismo na África.
Infelizmente a história nos apresenta que o segundo objetivo não foi concluído, fruto da
fraqueza moral e da cooptação das lideranças politicas pelos países capitalistas.