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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA


COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
MUNICÍPIO: SANTA INÊS – MA PERÍODO: 2020.2

O golpe civil-militar no Brasil e o mito da Ditabranda

Prof. MSc. Marcus Pierre de Carvalho Baptista

Santa Inês (MA), dezembro de 2020. 1


Golpe de 64 – Uma complexa trama de engenharia política.

A partir de outubro de 1963 a crise política e econômica que


tomava conta do país acelera as engrenagens da conspiração.

A conspiração agregou diversos setores unidos contra Jango e


o trabalhismo: militares, civis, políticos, empresários, liberais,
autoritários, burguesia e a classe média. Todos unidos a partir
do anticomunismo.

Derrotas parlamentares em 1963 no que concerne as reformas


de base e o fracasso em resolver a crise econômica levou o
governo de Jango a ser pressionado pela Esquerda e pela
Direita.
Setembro de 1963 – Greve coordenada pelo Comando Geral
dos Trabalhadores em solidariedade a greve de enfermeiras e
funcionários dos hospitais.

Polícia paulista sob ordens do governador Adhemar de Barros


prendeu diversos grevistas em uma reunião sindical.

O CGT em resposta ameaça uma greve geral.

O ministro da guerra, Peri Bevilacqua, ordena uma intervenção


na cidade para conter os grevistas.
Quanto a essa situação Jango fez um discurso conciliatório
sem aludir ao CGT.

O Exército nesse momento encontrava-se dividido. Havia


grupos que queriam a deposição do presidente e outros que
apoiaram Jango até o último momento.

O Exército se colocaria a favor de reformas, desde que estas


fossem feitas por cima e não a partir da ação direta da classe
operária.
Ao fim da crise sindical de Santos veio a decisão do STF de
proibir a tomada do cargo dos militares eleitos em 1962 ao
legislativo.

Revolta dos setores subalternos das Forças Armadas – Invasão


do Congresso Nacional e do STF. Instauraram o Comando
Revolucionário de Brasília.

536 presos e 2 mortos ao fim do dia 12 de setembro.


PCB, as Ligas Camponesas, FMP, CGT, UNE, FPN apoiaram os
revoltosos e pediram sua anistia.

Discurso de Jango conciliador terminou por ser percebido


enquanto o estopim para a formação da coalizão
antigovernista que promoveria a conspiração e
consequentemente o golpe civil-militar.
A partir desse episódio a imprensa que, em maioria, havia
apoiado sua posse ou aguardava para ver os rumos que o
governo ia tomar, agora formaria um bloco contrário ao
governo a partir de uma palavra de ordem emitida pelo Jornal
do Brasil: BASTA!

Seria a palavra de ordem que promoveria a queda de Jango


no ano seguinte.

Articulação dos jornais na Rede da Democracia – Grande


imprensa brasileira legitimou a ideia de que o Brasil rumava
para o comunismo e que o próprio Executivo estava
contaminado e controlado pelos movimentos sociais radicais.

A imprensa legitimou e garantiu aos golpistas um ambiente


político e social favorável, uma opinião pública favorável.
Deve-se lembrar que a opinião publicada pela imprensa não
necessariamente refletia a opinião da maioria. Em março de 1964,
prestes a ser deposto, Jango tinha 45% de aprovação do governo
e 49% das intenções de voto para 1965. Apenas 16%
consideravam o governo ruim e 59% dos entrevistados eram a
favor das reformas de base.

Jango seria, então, um candidato forte. Em virtude disso a


Imprensa começa a veicular a possibilidade de um golpe
revolucionário considerando sua aproximação com as esquerdas
no final de 1963.

O discurso da imprensa reverberara em muitos setores. Os


grandes empresários não acreditavam mais que o governo
conseguiria resolver a crise econômica e retornar o crescimento do
país. Os empresários do capital externo estavam assombrados pela
possibilidade de uma regulamentação da remessa de lucros.
A classe média (profissionais liberais) se vê encurralada frente a
crise e se vê na possibilidade de descenso social, ou seja, sua
proletarização. Além disso, sentiam-se ameaçados pela possível
ascensão dos proletários e camponeses que movimentavam-se
para conseguir mais direitos.

Classe média por estar mais próxima da base da pirâmide social se


sentiu mais ameaçada; o fantasma do comunismo encontrou mais
força nesses segmentos. As classes médias acreditaram que
Moscou tramava com o governo de Jango para dominar o Brasil,
pondo fim a civilização cristã e as liberdades individuais.

As elites civis e militares que formavam o discurso que as classes


médias deveriam reproduzir apontavam o destino histórico do
Brasil: o totalitarismo comunista.
O Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) e o Instituto
Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) nesse contexto produziram
material de propaganda negativa contra o governo e articularam
diversos setores sociais contrários ao comunismo e trabalhismo.
Ambos eram financiados pela CIA. Foram responsáveis por garantir
um discurso coeso entre: grandes empresários, representantes do
capital internacional, parte da classe média, sindicalistas
anticomunistas, militares conservadores.

Aliado a isso temos a corrupção do governo, incompetência


administrativa e fraqueza da liderança de Jango, visto enquanto
dominado pelos radicais de esquerda.

Grandes proprietários de terra se sentiam ameaçados pela


possibilidade da reforma agrária e os interesses multinacionais
pelo nacionalismo econômico defendido pela Esquerda.
A Direita que conspirou em 1961 começou a ganhar mais
terreno em 1963 e preparar este para o golpe preventivo.
Golpe da Direita justificado a partir da disseminação de
uma ideia de um golpe da esquerda para impor as
reformas de base por decreto presidencial.

Deve-se lembrar que parte das esquerdas, principalmente


as Ligas Camponesas e os brizolistas acreditavam nessa
solução, então o discurso das Direitas não se baseavam
em uma completa inverdade, contudo Jango nunca
pretendeu promover um golpe e implantar as reformas
através de um decreto.

Nesse contexto, o golpe da Direita seria apenas legítima


defesa da democracia.
Quanto a Jango, mesmo isolado politicamente, agora dirigia-
se a política de ruas, aos comícios, o que dava força a tese do
golpe. A Esquerda acreditava que essa aproximação
significava a decisão do presidente em ser o líder da
revolução, embora os documentos apontem que Jango nunca
rompeu com sua política conciliatória.

Para um presidente sem poder de negociata com o Congresso,


sem apoio das elites econômicas e atacado pela imprensa, as
ruas poderiam garantir sua permanência e dar um novo alento
a sua isolação política.

Nesse sentido, aproximar-se das ruas significava se aproximar


da Esquerda, uma Esquerda dividida no momento pelo
Reformismo e pela Revolução.
Os reformistas também eram heterogêneos, dividiam-se entre
diferentes correntes que interpretavam o reformismo de várias
maneiras. Para a Frente de Mobilização Popular as reformas
consolidariam a democracia social e o nacionalismo
econômico, para o Partido Comunista Brasileiro seriam um
primeiro passo para a construção do socialismo.

Tanto PCB, como a FMP, criticavam o governo Jango por ser


visto enquanto conciliador.

Quanto as Forças Armadas até 1964 encontravam-se


divididas. A desconfiança dos altos oficiais com relação aos
reformistas e a cultura anticomunista não significava uma
adesão automática a um golpe. Além disso, havia uma parte
do Exército ligados ao nacionalismo de esquerda e alguns
oficiais que ocupavam postos no governo de Jango.
Mesmo sem ter o controle das Forças Armadas, as esquerdas
acreditavam que no caso de um golpe pela direita civil e alguns
setores militares, as Forças Armadas seguiriam as ordens de
Jango, seu comandante em chefe. A articulação dos golpistas, no
entanto, superou isso. Não obstante isso, os militares ligados ao
governo não comandavam tropas efetivamente, ocupando cargos
de natureza mais política e social.

Não podemos ver os reformistas e as esquerdas como vítimas da


História e de golpistas da direita. A Direita se aproveitou dos erros
e do discurso radical da esquerda, mas não podemos deixar que
isso encubra um fato: o projeto político de tomada do poder por
parte da Direita. O Golpe foi um projeto multifacetado, complexo
e, de certa forma, errático, mas ainda assim foi um projeto.

Nos primeiros meses de 1964 reformistas e antirreformistas


passam a se enfrentar fora das instituições, nas ruas.
Grande manifestação no dia 13 de março na Central do Brasil,
modelo para vários comícios reformistas. A Direita viu isso como o
golpe comunista tomando forma e encaminhamento,
principalmente por conta da participação direta de Jango no
comício. Além disso, assinou vários decretos, como a
desapropriação de terras ociosas próximas a rodovias para reforma
agrária, além de uma longa mensagem ao Congresso pedindo e
justificando a necessidade das reformas de base. Nesse contexto,
o PSD rompe definitivamente com Jango em virtude de sua base
eleitoral conservadora.

Com a política de ruas dois caminhos poderiam ser tomados: Ou


Jango e o governo conseguiria se fortalecer com a política de ruas
ou os conservadores impediriam isso institucionalmente ou através
do golpe. Para Jango dois caminhos começavam a se delinear:
romper com as esquerdas e ficar refém dos conservadores e das
direitas ou ser destituído do poder através de um golpe.
Com relação a resposta da Direita esta viria no dia 19 de março em
São Paulo reunindo diversos setores contrários aos reformistas numa
grande manifestação social contrária ao governo.

Com essa tomada das ruas pelas massas da Direita os golpistas


perceberam que não era mais preciso esconder a conspiração, visto
que as massas apoiavam a ação contra o governo, legitimando-a.

O ato final que descortinou o golpe foi a rebelião de soldados e


marinheiros a favor das reformas de base. A anistia garantida por
Jango aos rebelados foi a cartada final para que o Alto Escalão do
Exército reverberasse em um som uníssono: a tomada do poder. Para
as Forças Armadas o governo estava patrocinando a quebra da
hierarquia militar.

É preciso lembrar que os EUA participaram ativamente da conspiração


que levaria ao golpe, sendo um dos atores sociais presentes a partir da
atuação do embaixador americano Lincoln Gordon.
Mesmo com a articulação do golpe datando de meses antes de seu
fatídico dia a desorganização ainda foi um fator determinante, tanto na
Direita como na Esquerda. No dia 31 de março um dos grupos
conspiradores se precipita e inicia a movimentação para o golpe a
partir do comando do General Olimpio Mourão.

A ação surpreendeu governistas e golpistas. Castelo Branco repudiou a


ação apontando-a enquanto precipitada e Costa e Silva aproveitou a
situação e criou o Comando Supremo da Revolução. Carlos Lacerda
liberou sua policia e correligionários para agir contra a Esquerda em
Guanabara.

As Esquerdas também ficaram sem saber o que fazer. Prender Lacerda?


Prender o General? Armar os operários e camponeses? Chamar uma
greve geral? O próprio Jango deve ter ficado sem saber o que fazer
considerando que era contrário a ações radicais, sabia que qualquer
ação mais agressiva poderia gerar uma guerra civil. No dia 31 de março
tentou dialogar para chegar a uma solução.
No dia 31 de março perde completamente o apoio do Exército com
exceção do III Exército situado no Rio Grande do Sul.

No dia 1 de abril a rebelião militar se ampliou e Jango foi informado


que os americanos iriam reconhecer o governo provisório e intervir
na defesa do novo governo. Jango se refugia no Rio Grande do Sul.

O país “não tinha mais um presidente”. Auro de Moura Andrade


profere a famosa frase: “Declaro vaga a presidência da República do
Brasil”. O presidente da câmara, Ranieri Mazzili assume.

O comunismo havia sido derrotado, Jango seguia para o exílio e


Castelo Branco surgia como nome para ser o novo presidente do
Brasil.

No dia 11 de abril o Congresso Nacional elegeu Castelo Branco a


presidência.
As primeiras cassações de mandados políticos tiveram início com um
sentido muito claro: eliminar a elite vinculada ao reformismo,
desarticular a esquerda e repressão aos movimentos sociais.

1964 marcou um período de polarização e ideologias contrárias


incapazes de se conciliarem. Devemos lembrar que o golpe não foi
resultado apenas de uma conjuntura política, mas de um projeto da
direita que nunca foi a favor do voto popular, o nacionalismo
econômico e a presença dos movimentos sociais dos trabalhadores. O
golpe foi contra um projeto de sociedade que estava em gestação.

Por fim, acreditava-se que o golpe seria um “golpe cirúrgico” assim


como fora em 1945 e 1954, mas o que se viu foi o contrário, logo o
golpe civil-militar se tornou um regime militar.

Fecham-se as cortinas, escutam-se os aplausos e com eles a morte da


Democracia.
O mito da ditabranda

Regime militar antes do AI-5 foi uma ditadura? Uma certa


memória liberal diria que não.

Nos primeiros anos ainda havia o recurso ao habeas corpus, certa


liberdade de imprensa, de expressão e de manifestação.
As artes de esquerda vivenciaram seu auge entre 64 e 68. Para o
autor isso seria um paradoxo.

Nessa perspectiva o regime se fechou ao cair frente a “extrema-


direita”.

Para o autor é inegável que esse momento não era marcado


ainda por uma censura prévia rigorosa, nem pelo caráter de terror
sistemático do Estado contra seus opositores. Isso significa que o
Estado era menos autoritário?
Para responder essa questão é preciso refletir sobre quais
eram os objetivos do golpe de 64?

Destruir uma elite política e intelectual reformista cada vez


mais presente no Estado.

Cortar os laços sociais estabelecidos entre essas elites e os


movimentos sociais organizados, como o movimento operário
e camponês.

O regime, neste primeiro momento, evitava uma repressão


generalizada na base da violência, principalmente contra
artistas e intelectuais de esquerda, porque sabiam que seria
impossível governar o Brasil sem utilizar de um sistema
político com respaldo civil e aceitação na sociedade,
principalmente da classe média.
Ao mesmo tempo não podiam tolerar críticas sob o medo de
perder o apoio dos quartéis, portanto, era preciso uma
justificativa (uma nova ameaça) para endurecer a repressão.

O governo precisava acalmar os cidadãos que aderiram ao


golpe, além de equilibrar o frágil consenso golpista e o Exército,
e isso foi possível a partir da manutenção de certa liberdade de
expressão.

Esta política de equilíbrio não pôs em xeque os objetivos do


golpe: destruir uma elite política reformista de esquerda,
desestabilizar/dissolver os movimentos sociais organizados e
reorganizar uma política econômica de Estado para uma nova
etapa de acumulação de capital.

Essa relativa liberdade de expressão se explica mais pela base


social do golpe de Estado.
Em função do setores que apoiaram o golpe os momentos
iniciais foram marcados por uma repressão seletiva e a
construção de uma ordem autoritária institucional. Para o
autor nos anos iniciais a preocupação do regime era
despolitizar setores populares e blindar o Estado das críticas e
pressões da sociedade civil em detrimento de impedir
completamente a manifestação de opiniões ou reprimir
manifestações culturais de esquerda.

Os conflitos que ocorreram antes do AI-5 não se comparam


aos que seguiram após sua institucionalização.

Dessa forma, Castelo Branco passou ao hall da memória


como um homem bem intencionado, que acreditava que a
“revolução” tinha o objetivo de sanear os problemas e era de
caráter temporário. Um homem que terminou por sucumbir a
linha dura.
Castelo Branco, embora tenha passado para a memória como
o grande representante da “ditabranda”, foi o responsável por
construir institucionalmente o regime.

Em seu governo foram editados quatro Atos Institucionais, a


lei de imprensa e a nova constituição que marcava no novo
regime brasileiro o princípio de segurança nacional.

Com relação as sanções legais a opositores do regime a partir


dos AIs totalizou cerca de 65% (aproximadamente 3644)
considerando todo o período militar. Além dos civis, militares
que não eram alinhados com o novo governo foram punidos,
sendo que o governo de Castelo Branco concentrou mais ou
menos 90% das 1230 sanções feitas aos militares durante o
regime militar.
Com relação a política externa o alinhamento foi automático com
os EUA.

Esse regime conjugal duraria até o início dos anos 1970:


nacionalismo econômico por parte dos militares, armamentos
nucleares e denúncias de violações dos direitos humanos se
tornam pontos de conflito.

Na política interna a ação de Castelo Branco visava


institucionalizar o regime e reorientar a economia brasileira. Era
preciso modernizar o Estado e sua economia em moldes
capitalistas. Como fazer isso sem resolver problemas estruturais
e sem mexer com interesses arcaicos, a exemplo da questão da
terra?

A modernização da economia faria com que essas estruturas se


modernizassem sem uma ação efetiva do governo federal.
Ao governo federal caberia garantir o crescimento econômico do
Estado. Era preciso controlar a inflação e recuperar a capacidade
do Estado de investir. O governo passou a controlar os gastos
públicos e com salários, além de reorganizar o sistema fiscal.

Lançado o PLAEG – Plano de Ação Econômica do Governo. Nova


política de reajuste salariais. Era preciso resolver o problema da
terra improdutiva do grande latifúndio para gerar mais alimentos,
gerenciar o êxodo rural e inserir a terra no sistema capitalista
moderno. Lançado o Estatuto da Terra em 1964 – Divergências
entre os militares autoritários e oligarquias liberais e agrárias.
Apesar de seu relativo fracasso no decorrer dos anos 1970 a
própria dinâmica econômica inseriu o grande latifúndio no
sistema capitalista – Ao invés de resolver os problemas do
campo a modernização capitalista terminou agravando-os.
No campo jurídico e institucional Castelo Branco estruturou o novo
regime autoritário com uma política de equilíbrio criada em um
primeiro momento ficando cada vez mais insustentável. Era
preciso um regime a longo prazo para garantir a acumulação do
capital e a reforma conservadora do Estado, o que entrava em
conflito com aqueles que acreditavam em um golpe cirúrgico.

Essa tentativa de conciliação marcou o governo de Castelo Branco,


mas gradativamente as ilusões criadas em torno do golpe civil-
militar foram se esvaindo ao ponto que o governo caminhava na
direção de uma ditadura propriamente militar.

Os Atos Institucionais, principalmente o AI-2, marcam a passagem


de um governo visto como transitório para um regime autoritário
mais estruturado. Marca também o fim da relação conjugal
estabelecida entre políticos conservadores e os militares.
Mas qual era a função dos Atos?

Principal objetivo: reforço legal do Poder Executivo.

Serviam para consolidar uma normatização autoritária, além de


afirmar o caráter tutelar de um Estado estruturado a partir de
um regime autoritário que não queria personalizar o poder
político.

Em 1967 é criado o Conselho de Segurança Nacional, sendo este


mais um passo para a institucionalização do regime. Além disso é
sancionada a nova Constituição em janeiro e em fevereiro a Lei
de Imprensa.

Castelo Branco, embora visto como “liberal”, foi o presidente que


mais cassou direitos políticos e mandatos parlamentares e que
estruturou as bases jurídicas do regime militar.
Em seu mandato também houve denúncias de torturas em
instalações militares.

Ao mesmo tempo preservava algumas liberdades civis e


jurídicas, evitando romper completamente com os valores
liberais, utilizados para justificar o golpe. Estas liberdades eram
cada vez mais questionadas pela direita militar.

As ilusões pós-golpe logo se dissiparam. Já em 1964, o Correio


da Manhã, retirou seu apoio ao novo regime que se estruturava.
Nos anos que se seguiram com a cassação de várias lideranças
políticas, políticos da Direita passam a retirar seu apoio também.
Os partidos eram um problema para os militares.

Na Esquerda o PCB apostava em oposição juntamente aos


liberais formando uma resistência civil, condenando as armas.
Com relação a luta armada os brizolistas foram os primeiros
ao organizar o Movimento Nacional Revolucionário.

No decorrer de 1967 com o nome de Costa e Silva vem a


esperança em uma liberalização do regime.

Na economia há uma redução das taxas de juros, o que


proporciona o aumento do consumo, além de uma revisão da
política salarial. Na política externa retomava-se um certo
nacionalismo e afastava-se do alinhamento automático com os
EUA. No campo político o novo presidente enfrentava oposição
do Congresso em função das cassações e no meio político
perdeu o apoio dos grupos mais vinculados ao castelismo.

Com relação a sociedade civil crescia o número de grupos que


faziam oposição ao regime: estudantes, clero, intelectuais.
Para o autor, no mesmo ano de sua posse, as máscaras
liberalizantes vão caindo uma a uma.

Prisão de jornalistas que se colocavam contrários ao regime.

Aumento dos protestos estudantis, principalmente em função


da morte de Edson Luís em março de 1968 – Passeata dos
100 mil em junho de 1968 com grande adesão social.

Em julho as passeatas foram proibidas e há um aumento da


repressão – A ação armada torna-se uma opção para os
estudantes na medida que a organização política e a ação
pública através da UNE tornam-se inviáveis.

1968, o ano que não acabou, marca um momento decisivo na


história recente brasileira.
Ao mesmo tempo foi o momento de grandes utopias
libertárias, mas também o início dos “anos de chumbo”, com a
transformação do Estado autoritário num Estado policial.

1968 marca a possibilidade da convergência das ações de uma


guerrilha de esquerda que começava a se estruturar com os
movimentos de massa e contestação cultural. O movimento
operário volta a se estruturar organizando uma greve de 15
mil metalúrgicos.

Estava montado o pior cenário possível: radicalização do


movimento estudantil e operário aliada a um oposicionismo da
classe média, bem como dos artistas e intelectuais de
esquerda e do próprio congresso a partir do caso do deputado
Márcio Moreira, o qual o Congresso se recusou a conceder sua
licença para ser processado.
Com a derrota no Congresso, a pressão dos quartéis, a
oposição das ruas, o governo convoca o Conselho de
Segurança Nacional e dessa reunião nasce o AI-5.

Anunciado no dia 13 de dezembro de 1968 a promessa de


liberalização no início do governo tem seu fim e o que há é
uma reiteração da promessa sombria que já existia desde o
AI-2.

Para o autor, nesse contexto, o AI-5 teria sido fruto mais de


uma união militar do que desunião a partir de sua
interpretação das várias crises políticas e sociais de 1967-
1968.
REFERÊNCIA

NAPOLITANO, Marcos. O carnaval das direitas: o golpe civil-militar


In: ______.1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo:
Contexto, 2014. p.43-64.

NAPOLITANO, Marcos. O mito da “ditabranda”. In: ______. 1964:


História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.
p.66-88.

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