O documento discute o golpe militar de 1964 no Brasil. Em três frases:
1) O golpe civil-militar no Brasil foi o resultado de uma conspiração de diversos setores insatisfeitos com o governo de Jango, incluindo militares, civis, políticos e empresários unidos pelo anticomunismo.
2) A crise econômica e as derrotas de reformas levaram o governo de Jango a ser pressionado pela esquerda e direita, com a imprensa passando a apoiar os golpistas.
O documento discute o golpe militar de 1964 no Brasil. Em três frases:
1) O golpe civil-militar no Brasil foi o resultado de uma conspiração de diversos setores insatisfeitos com o governo de Jango, incluindo militares, civis, políticos e empresários unidos pelo anticomunismo.
2) A crise econômica e as derrotas de reformas levaram o governo de Jango a ser pressionado pela esquerda e direita, com a imprensa passando a apoiar os golpistas.
O documento discute o golpe militar de 1964 no Brasil. Em três frases:
1) O golpe civil-militar no Brasil foi o resultado de uma conspiração de diversos setores insatisfeitos com o governo de Jango, incluindo militares, civis, políticos e empresários unidos pelo anticomunismo.
2) A crise econômica e as derrotas de reformas levaram o governo de Jango a ser pressionado pela esquerda e direita, com a imprensa passando a apoiar os golpistas.
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA MUNICÍPIO: SANTA INÊS – MA PERÍODO: 2020.2
O golpe civil-militar no Brasil e o mito da Ditabranda
Prof. MSc. Marcus Pierre de Carvalho Baptista
Santa Inês (MA), dezembro de 2020. 1
Golpe de 64 – Uma complexa trama de engenharia política.
A partir de outubro de 1963 a crise política e econômica que
tomava conta do país acelera as engrenagens da conspiração.
A conspiração agregou diversos setores unidos contra Jango e
o trabalhismo: militares, civis, políticos, empresários, liberais, autoritários, burguesia e a classe média. Todos unidos a partir do anticomunismo.
Derrotas parlamentares em 1963 no que concerne as reformas
de base e o fracasso em resolver a crise econômica levou o governo de Jango a ser pressionado pela Esquerda e pela Direita. Setembro de 1963 – Greve coordenada pelo Comando Geral dos Trabalhadores em solidariedade a greve de enfermeiras e funcionários dos hospitais.
Polícia paulista sob ordens do governador Adhemar de Barros
prendeu diversos grevistas em uma reunião sindical.
O CGT em resposta ameaça uma greve geral.
O ministro da guerra, Peri Bevilacqua, ordena uma intervenção
na cidade para conter os grevistas. Quanto a essa situação Jango fez um discurso conciliatório sem aludir ao CGT.
O Exército nesse momento encontrava-se dividido. Havia
grupos que queriam a deposição do presidente e outros que apoiaram Jango até o último momento.
O Exército se colocaria a favor de reformas, desde que estas
fossem feitas por cima e não a partir da ação direta da classe operária. Ao fim da crise sindical de Santos veio a decisão do STF de proibir a tomada do cargo dos militares eleitos em 1962 ao legislativo.
Revolta dos setores subalternos das Forças Armadas – Invasão
do Congresso Nacional e do STF. Instauraram o Comando Revolucionário de Brasília.
536 presos e 2 mortos ao fim do dia 12 de setembro.
PCB, as Ligas Camponesas, FMP, CGT, UNE, FPN apoiaram os revoltosos e pediram sua anistia.
Discurso de Jango conciliador terminou por ser percebido
enquanto o estopim para a formação da coalizão antigovernista que promoveria a conspiração e consequentemente o golpe civil-militar. A partir desse episódio a imprensa que, em maioria, havia apoiado sua posse ou aguardava para ver os rumos que o governo ia tomar, agora formaria um bloco contrário ao governo a partir de uma palavra de ordem emitida pelo Jornal do Brasil: BASTA!
Seria a palavra de ordem que promoveria a queda de Jango
no ano seguinte.
Articulação dos jornais na Rede da Democracia – Grande
imprensa brasileira legitimou a ideia de que o Brasil rumava para o comunismo e que o próprio Executivo estava contaminado e controlado pelos movimentos sociais radicais.
A imprensa legitimou e garantiu aos golpistas um ambiente
político e social favorável, uma opinião pública favorável. Deve-se lembrar que a opinião publicada pela imprensa não necessariamente refletia a opinião da maioria. Em março de 1964, prestes a ser deposto, Jango tinha 45% de aprovação do governo e 49% das intenções de voto para 1965. Apenas 16% consideravam o governo ruim e 59% dos entrevistados eram a favor das reformas de base.
Jango seria, então, um candidato forte. Em virtude disso a
Imprensa começa a veicular a possibilidade de um golpe revolucionário considerando sua aproximação com as esquerdas no final de 1963.
O discurso da imprensa reverberara em muitos setores. Os
grandes empresários não acreditavam mais que o governo conseguiria resolver a crise econômica e retornar o crescimento do país. Os empresários do capital externo estavam assombrados pela possibilidade de uma regulamentação da remessa de lucros. A classe média (profissionais liberais) se vê encurralada frente a crise e se vê na possibilidade de descenso social, ou seja, sua proletarização. Além disso, sentiam-se ameaçados pela possível ascensão dos proletários e camponeses que movimentavam-se para conseguir mais direitos.
Classe média por estar mais próxima da base da pirâmide social se
sentiu mais ameaçada; o fantasma do comunismo encontrou mais força nesses segmentos. As classes médias acreditaram que Moscou tramava com o governo de Jango para dominar o Brasil, pondo fim a civilização cristã e as liberdades individuais.
As elites civis e militares que formavam o discurso que as classes
médias deveriam reproduzir apontavam o destino histórico do Brasil: o totalitarismo comunista. O Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) nesse contexto produziram material de propaganda negativa contra o governo e articularam diversos setores sociais contrários ao comunismo e trabalhismo. Ambos eram financiados pela CIA. Foram responsáveis por garantir um discurso coeso entre: grandes empresários, representantes do capital internacional, parte da classe média, sindicalistas anticomunistas, militares conservadores.
Aliado a isso temos a corrupção do governo, incompetência
administrativa e fraqueza da liderança de Jango, visto enquanto dominado pelos radicais de esquerda.
Grandes proprietários de terra se sentiam ameaçados pela
possibilidade da reforma agrária e os interesses multinacionais pelo nacionalismo econômico defendido pela Esquerda. A Direita que conspirou em 1961 começou a ganhar mais terreno em 1963 e preparar este para o golpe preventivo. Golpe da Direita justificado a partir da disseminação de uma ideia de um golpe da esquerda para impor as reformas de base por decreto presidencial.
Deve-se lembrar que parte das esquerdas, principalmente
as Ligas Camponesas e os brizolistas acreditavam nessa solução, então o discurso das Direitas não se baseavam em uma completa inverdade, contudo Jango nunca pretendeu promover um golpe e implantar as reformas através de um decreto.
Nesse contexto, o golpe da Direita seria apenas legítima
defesa da democracia. Quanto a Jango, mesmo isolado politicamente, agora dirigia- se a política de ruas, aos comícios, o que dava força a tese do golpe. A Esquerda acreditava que essa aproximação significava a decisão do presidente em ser o líder da revolução, embora os documentos apontem que Jango nunca rompeu com sua política conciliatória.
Para um presidente sem poder de negociata com o Congresso,
sem apoio das elites econômicas e atacado pela imprensa, as ruas poderiam garantir sua permanência e dar um novo alento a sua isolação política.
Nesse sentido, aproximar-se das ruas significava se aproximar
da Esquerda, uma Esquerda dividida no momento pelo Reformismo e pela Revolução. Os reformistas também eram heterogêneos, dividiam-se entre diferentes correntes que interpretavam o reformismo de várias maneiras. Para a Frente de Mobilização Popular as reformas consolidariam a democracia social e o nacionalismo econômico, para o Partido Comunista Brasileiro seriam um primeiro passo para a construção do socialismo.
Tanto PCB, como a FMP, criticavam o governo Jango por ser
visto enquanto conciliador.
Quanto as Forças Armadas até 1964 encontravam-se
divididas. A desconfiança dos altos oficiais com relação aos reformistas e a cultura anticomunista não significava uma adesão automática a um golpe. Além disso, havia uma parte do Exército ligados ao nacionalismo de esquerda e alguns oficiais que ocupavam postos no governo de Jango. Mesmo sem ter o controle das Forças Armadas, as esquerdas acreditavam que no caso de um golpe pela direita civil e alguns setores militares, as Forças Armadas seguiriam as ordens de Jango, seu comandante em chefe. A articulação dos golpistas, no entanto, superou isso. Não obstante isso, os militares ligados ao governo não comandavam tropas efetivamente, ocupando cargos de natureza mais política e social.
Não podemos ver os reformistas e as esquerdas como vítimas da
História e de golpistas da direita. A Direita se aproveitou dos erros e do discurso radical da esquerda, mas não podemos deixar que isso encubra um fato: o projeto político de tomada do poder por parte da Direita. O Golpe foi um projeto multifacetado, complexo e, de certa forma, errático, mas ainda assim foi um projeto.
Nos primeiros meses de 1964 reformistas e antirreformistas
passam a se enfrentar fora das instituições, nas ruas. Grande manifestação no dia 13 de março na Central do Brasil, modelo para vários comícios reformistas. A Direita viu isso como o golpe comunista tomando forma e encaminhamento, principalmente por conta da participação direta de Jango no comício. Além disso, assinou vários decretos, como a desapropriação de terras ociosas próximas a rodovias para reforma agrária, além de uma longa mensagem ao Congresso pedindo e justificando a necessidade das reformas de base. Nesse contexto, o PSD rompe definitivamente com Jango em virtude de sua base eleitoral conservadora.
Com a política de ruas dois caminhos poderiam ser tomados: Ou
Jango e o governo conseguiria se fortalecer com a política de ruas ou os conservadores impediriam isso institucionalmente ou através do golpe. Para Jango dois caminhos começavam a se delinear: romper com as esquerdas e ficar refém dos conservadores e das direitas ou ser destituído do poder através de um golpe. Com relação a resposta da Direita esta viria no dia 19 de março em São Paulo reunindo diversos setores contrários aos reformistas numa grande manifestação social contrária ao governo.
Com essa tomada das ruas pelas massas da Direita os golpistas
perceberam que não era mais preciso esconder a conspiração, visto que as massas apoiavam a ação contra o governo, legitimando-a.
O ato final que descortinou o golpe foi a rebelião de soldados e
marinheiros a favor das reformas de base. A anistia garantida por Jango aos rebelados foi a cartada final para que o Alto Escalão do Exército reverberasse em um som uníssono: a tomada do poder. Para as Forças Armadas o governo estava patrocinando a quebra da hierarquia militar.
É preciso lembrar que os EUA participaram ativamente da conspiração
que levaria ao golpe, sendo um dos atores sociais presentes a partir da atuação do embaixador americano Lincoln Gordon. Mesmo com a articulação do golpe datando de meses antes de seu fatídico dia a desorganização ainda foi um fator determinante, tanto na Direita como na Esquerda. No dia 31 de março um dos grupos conspiradores se precipita e inicia a movimentação para o golpe a partir do comando do General Olimpio Mourão.
A ação surpreendeu governistas e golpistas. Castelo Branco repudiou a
ação apontando-a enquanto precipitada e Costa e Silva aproveitou a situação e criou o Comando Supremo da Revolução. Carlos Lacerda liberou sua policia e correligionários para agir contra a Esquerda em Guanabara.
As Esquerdas também ficaram sem saber o que fazer. Prender Lacerda?
Prender o General? Armar os operários e camponeses? Chamar uma greve geral? O próprio Jango deve ter ficado sem saber o que fazer considerando que era contrário a ações radicais, sabia que qualquer ação mais agressiva poderia gerar uma guerra civil. No dia 31 de março tentou dialogar para chegar a uma solução. No dia 31 de março perde completamente o apoio do Exército com exceção do III Exército situado no Rio Grande do Sul.
No dia 1 de abril a rebelião militar se ampliou e Jango foi informado
que os americanos iriam reconhecer o governo provisório e intervir na defesa do novo governo. Jango se refugia no Rio Grande do Sul.
O país “não tinha mais um presidente”. Auro de Moura Andrade
profere a famosa frase: “Declaro vaga a presidência da República do Brasil”. O presidente da câmara, Ranieri Mazzili assume.
O comunismo havia sido derrotado, Jango seguia para o exílio e
Castelo Branco surgia como nome para ser o novo presidente do Brasil.
No dia 11 de abril o Congresso Nacional elegeu Castelo Branco a
presidência. As primeiras cassações de mandados políticos tiveram início com um sentido muito claro: eliminar a elite vinculada ao reformismo, desarticular a esquerda e repressão aos movimentos sociais.
1964 marcou um período de polarização e ideologias contrárias
incapazes de se conciliarem. Devemos lembrar que o golpe não foi resultado apenas de uma conjuntura política, mas de um projeto da direita que nunca foi a favor do voto popular, o nacionalismo econômico e a presença dos movimentos sociais dos trabalhadores. O golpe foi contra um projeto de sociedade que estava em gestação.
Por fim, acreditava-se que o golpe seria um “golpe cirúrgico” assim
como fora em 1945 e 1954, mas o que se viu foi o contrário, logo o golpe civil-militar se tornou um regime militar.
Fecham-se as cortinas, escutam-se os aplausos e com eles a morte da
Democracia. O mito da ditabranda
Regime militar antes do AI-5 foi uma ditadura? Uma certa
memória liberal diria que não.
Nos primeiros anos ainda havia o recurso ao habeas corpus, certa
liberdade de imprensa, de expressão e de manifestação. As artes de esquerda vivenciaram seu auge entre 64 e 68. Para o autor isso seria um paradoxo.
Nessa perspectiva o regime se fechou ao cair frente a “extrema-
direita”.
Para o autor é inegável que esse momento não era marcado
ainda por uma censura prévia rigorosa, nem pelo caráter de terror sistemático do Estado contra seus opositores. Isso significa que o Estado era menos autoritário? Para responder essa questão é preciso refletir sobre quais eram os objetivos do golpe de 64?
Destruir uma elite política e intelectual reformista cada vez
mais presente no Estado.
Cortar os laços sociais estabelecidos entre essas elites e os
movimentos sociais organizados, como o movimento operário e camponês.
O regime, neste primeiro momento, evitava uma repressão
generalizada na base da violência, principalmente contra artistas e intelectuais de esquerda, porque sabiam que seria impossível governar o Brasil sem utilizar de um sistema político com respaldo civil e aceitação na sociedade, principalmente da classe média. Ao mesmo tempo não podiam tolerar críticas sob o medo de perder o apoio dos quartéis, portanto, era preciso uma justificativa (uma nova ameaça) para endurecer a repressão.
O governo precisava acalmar os cidadãos que aderiram ao
golpe, além de equilibrar o frágil consenso golpista e o Exército, e isso foi possível a partir da manutenção de certa liberdade de expressão.
Esta política de equilíbrio não pôs em xeque os objetivos do
golpe: destruir uma elite política reformista de esquerda, desestabilizar/dissolver os movimentos sociais organizados e reorganizar uma política econômica de Estado para uma nova etapa de acumulação de capital.
Essa relativa liberdade de expressão se explica mais pela base
social do golpe de Estado. Em função do setores que apoiaram o golpe os momentos iniciais foram marcados por uma repressão seletiva e a construção de uma ordem autoritária institucional. Para o autor nos anos iniciais a preocupação do regime era despolitizar setores populares e blindar o Estado das críticas e pressões da sociedade civil em detrimento de impedir completamente a manifestação de opiniões ou reprimir manifestações culturais de esquerda.
Os conflitos que ocorreram antes do AI-5 não se comparam
aos que seguiram após sua institucionalização.
Dessa forma, Castelo Branco passou ao hall da memória
como um homem bem intencionado, que acreditava que a “revolução” tinha o objetivo de sanear os problemas e era de caráter temporário. Um homem que terminou por sucumbir a linha dura. Castelo Branco, embora tenha passado para a memória como o grande representante da “ditabranda”, foi o responsável por construir institucionalmente o regime.
Em seu governo foram editados quatro Atos Institucionais, a
lei de imprensa e a nova constituição que marcava no novo regime brasileiro o princípio de segurança nacional.
Com relação as sanções legais a opositores do regime a partir
dos AIs totalizou cerca de 65% (aproximadamente 3644) considerando todo o período militar. Além dos civis, militares que não eram alinhados com o novo governo foram punidos, sendo que o governo de Castelo Branco concentrou mais ou menos 90% das 1230 sanções feitas aos militares durante o regime militar. Com relação a política externa o alinhamento foi automático com os EUA.
Esse regime conjugal duraria até o início dos anos 1970:
nacionalismo econômico por parte dos militares, armamentos nucleares e denúncias de violações dos direitos humanos se tornam pontos de conflito.
Na política interna a ação de Castelo Branco visava
institucionalizar o regime e reorientar a economia brasileira. Era preciso modernizar o Estado e sua economia em moldes capitalistas. Como fazer isso sem resolver problemas estruturais e sem mexer com interesses arcaicos, a exemplo da questão da terra?
A modernização da economia faria com que essas estruturas se
modernizassem sem uma ação efetiva do governo federal. Ao governo federal caberia garantir o crescimento econômico do Estado. Era preciso controlar a inflação e recuperar a capacidade do Estado de investir. O governo passou a controlar os gastos públicos e com salários, além de reorganizar o sistema fiscal.
Lançado o PLAEG – Plano de Ação Econômica do Governo. Nova
política de reajuste salariais. Era preciso resolver o problema da terra improdutiva do grande latifúndio para gerar mais alimentos, gerenciar o êxodo rural e inserir a terra no sistema capitalista moderno. Lançado o Estatuto da Terra em 1964 – Divergências entre os militares autoritários e oligarquias liberais e agrárias. Apesar de seu relativo fracasso no decorrer dos anos 1970 a própria dinâmica econômica inseriu o grande latifúndio no sistema capitalista – Ao invés de resolver os problemas do campo a modernização capitalista terminou agravando-os. No campo jurídico e institucional Castelo Branco estruturou o novo regime autoritário com uma política de equilíbrio criada em um primeiro momento ficando cada vez mais insustentável. Era preciso um regime a longo prazo para garantir a acumulação do capital e a reforma conservadora do Estado, o que entrava em conflito com aqueles que acreditavam em um golpe cirúrgico.
Essa tentativa de conciliação marcou o governo de Castelo Branco,
mas gradativamente as ilusões criadas em torno do golpe civil- militar foram se esvaindo ao ponto que o governo caminhava na direção de uma ditadura propriamente militar.
Os Atos Institucionais, principalmente o AI-2, marcam a passagem
de um governo visto como transitório para um regime autoritário mais estruturado. Marca também o fim da relação conjugal estabelecida entre políticos conservadores e os militares. Mas qual era a função dos Atos?
Principal objetivo: reforço legal do Poder Executivo.
Serviam para consolidar uma normatização autoritária, além de
afirmar o caráter tutelar de um Estado estruturado a partir de um regime autoritário que não queria personalizar o poder político.
Em 1967 é criado o Conselho de Segurança Nacional, sendo este
mais um passo para a institucionalização do regime. Além disso é sancionada a nova Constituição em janeiro e em fevereiro a Lei de Imprensa.
Castelo Branco, embora visto como “liberal”, foi o presidente que
mais cassou direitos políticos e mandatos parlamentares e que estruturou as bases jurídicas do regime militar. Em seu mandato também houve denúncias de torturas em instalações militares.
Ao mesmo tempo preservava algumas liberdades civis e
jurídicas, evitando romper completamente com os valores liberais, utilizados para justificar o golpe. Estas liberdades eram cada vez mais questionadas pela direita militar.
As ilusões pós-golpe logo se dissiparam. Já em 1964, o Correio
da Manhã, retirou seu apoio ao novo regime que se estruturava. Nos anos que se seguiram com a cassação de várias lideranças políticas, políticos da Direita passam a retirar seu apoio também. Os partidos eram um problema para os militares.
Na Esquerda o PCB apostava em oposição juntamente aos
liberais formando uma resistência civil, condenando as armas. Com relação a luta armada os brizolistas foram os primeiros ao organizar o Movimento Nacional Revolucionário.
No decorrer de 1967 com o nome de Costa e Silva vem a
esperança em uma liberalização do regime.
Na economia há uma redução das taxas de juros, o que
proporciona o aumento do consumo, além de uma revisão da política salarial. Na política externa retomava-se um certo nacionalismo e afastava-se do alinhamento automático com os EUA. No campo político o novo presidente enfrentava oposição do Congresso em função das cassações e no meio político perdeu o apoio dos grupos mais vinculados ao castelismo.
Com relação a sociedade civil crescia o número de grupos que
faziam oposição ao regime: estudantes, clero, intelectuais. Para o autor, no mesmo ano de sua posse, as máscaras liberalizantes vão caindo uma a uma.
Prisão de jornalistas que se colocavam contrários ao regime.
Aumento dos protestos estudantis, principalmente em função
da morte de Edson Luís em março de 1968 – Passeata dos 100 mil em junho de 1968 com grande adesão social.
Em julho as passeatas foram proibidas e há um aumento da
repressão – A ação armada torna-se uma opção para os estudantes na medida que a organização política e a ação pública através da UNE tornam-se inviáveis.
1968, o ano que não acabou, marca um momento decisivo na
história recente brasileira. Ao mesmo tempo foi o momento de grandes utopias libertárias, mas também o início dos “anos de chumbo”, com a transformação do Estado autoritário num Estado policial.
1968 marca a possibilidade da convergência das ações de uma
guerrilha de esquerda que começava a se estruturar com os movimentos de massa e contestação cultural. O movimento operário volta a se estruturar organizando uma greve de 15 mil metalúrgicos.
Estava montado o pior cenário possível: radicalização do
movimento estudantil e operário aliada a um oposicionismo da classe média, bem como dos artistas e intelectuais de esquerda e do próprio congresso a partir do caso do deputado Márcio Moreira, o qual o Congresso se recusou a conceder sua licença para ser processado. Com a derrota no Congresso, a pressão dos quartéis, a oposição das ruas, o governo convoca o Conselho de Segurança Nacional e dessa reunião nasce o AI-5.
Anunciado no dia 13 de dezembro de 1968 a promessa de
liberalização no início do governo tem seu fim e o que há é uma reiteração da promessa sombria que já existia desde o AI-2.
Para o autor, nesse contexto, o AI-5 teria sido fruto mais de
uma união militar do que desunião a partir de sua interpretação das várias crises políticas e sociais de 1967- 1968. REFERÊNCIA
NAPOLITANO, Marcos. O carnaval das direitas: o golpe civil-militar
In: ______.1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. p.43-64.
NAPOLITANO, Marcos. O mito da “ditabranda”. In: ______. 1964:
História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. p.66-88.
SCHWARCZ, M. Lilia. STARLING, M. Heloísa. No fio da navalha: ditadura, oposição e resistência In SCHWARCZ, M. Lilia. STARLING, M. Heloísa Brasil: uma biografia. Companhia das Letras, São Paulo – SP, p. 437-466.