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Prof.

Marcus Pierre de Carvalho Baptista

O início de tudo? Os
primeiros registros
sobre o território que
se tornou o Piauí
Uma breve linha do tempo da
História do Piauí

1571 1697 1717 1759 1822


Nicolau de Pe. Miguel de Vila da João Pereira Simplício
Rezende Carvalho Mocha Caldas Dias da Silva

1823 1852 1862 1877-79 1880


Batalha do Vila Nova do A epidemia A grande seca O litígio
Jenipapo Poti do cólera entre o PI e o
CE
Tópicos da aula
01 02
Alteridade,
Os primeiros
Guerras Justas e
registros do
Descimentos: uma
território que
leitura a
veio a se tornar
contrapelo sobre
o Piauí
os povos indígenas
no Piauí Colonial
As bandeiras, entradas
e os sertões do que veio
a ser o Piauí
O que foram as bandeiras e
as entradas? Por que são
importantes para
compreendermos a
História do Piauí?
Domingos Jorge
Velho
Um dos bandeirantes que no século
XVII encontrava-se nos sertões do
Piauí, próximo ao rio Parnaíba vindo
da Bahia

À época eram contratados para


diversos fins, dentre eles
empreender guerra aos povos
indígenas considerados belicosos

É solicitado para a destruição do


Quilombo de Palmares em fins do
século XVIII
A Casa da Torre, os
D’Ávila e Mafrense
Doações de Sesmarias à Casa da
Torre nas margens do Parnaíba em
fins do século XVII

À época buscavam ampliar suas


fazendas de gado pelo interior do
que hoje entendemos enquanto o
Piauí

Também se depararam e entraram


em conflito com inúmeros povos
indígenas
Padre Miguel de Carvalho e a
descrição do sertão do Piauí
O que dizia o documento em questão?

Trazia dados estatísticos e censitários das populações que


passaram a reocupar este território.

129 fazendas de gado e 153 sítios localizados próximos a rios ou


lagoas.

438 colonos nesta localidade neste momento segundo o


documento
Composição da população no
Piauí segundo o Pe. Miguel de
Carvalho
Mestiços
3.2%
Indígenas
PRETOS - 210 13.5%

BRANCOS - 155 Brancos


35.4%

INDÍGENAS - 59

MESTIÇOS - 14

Pretos
48%
Pe. Miguel de
Carvalho
[...] alguns moradores meteram lá gados
e se retiraram com medo e os que moram
nas fazendas acima ditas andam sempre
em contínua guerra e muitos perderam as
vidas nas mãos daqueles bárbaros por
cuja causa se não tem aumentado muito
esta povoação pelas beiras daqueles
famosos rios Parnaíba e Gurguéia [...].
Esta abundância faz com que naquela
terra habitem muitos Tapuias, os mais
bravos e guerreiros que se acharam no
Brasil [...]
Identidade?
Perspectiva de si Qual deve ser nosso olhar?
Devemos nos
Importância do olhar questionar o que os
do grupo sobre si e povos indígenas
das diferenças pensavam de si?
percebidas Como se
percebiam?
Grupo Étnico A Alteridade
O grupo étnico pode De que modo a
ser definido deste Alteridade
modo, pelas possibilita
diferenças apontadas compreender o
pelo próprio grupo olhar do “eu” sobre
o “outro”
O que é a identidade?
O “nós” e o “eles”: o olhar sobre si
Auto-identificação
Critérios para a produção destes significados
se alteraram ao longo do tempo

Os indígenas
Categorizações aparecem entre o início da
conquista até a contemporaneidade

Ressignificação
A importância hoje da ressignificação e
problematização de certos termos
produzidos em outros momentos
O por quê da homogeneização?
Classificava-se estes
grupos enquanto
“bárbaros” e “tapuias”
por quais razões? O que
significava neste
momento?
Legitimação das ações
de conquista sobre os
povos nativos e
domínio sobre seus
territórios
O por quê de outras classificações?
Classificava-se estes
grupos enquanto aliados
ou belicosos por quais
razões? O que significava
nesta conjuntura?
Percepção sobre os
espaços a serem
conquistados e as
dificuldades que
podem se fazer
presentes
Pe. Miguel de
Carvalho
“No interior do rio Parnaíba residiam os aroachizes, os
carapotangas, os aroaquanguiras, os precatis, os
cupequacas, os cupicheres, os aranhis, os corerás, os
ayitetus, os abetiras, os beirtês, os goaras, os nongazes
comedores de brancos e os tremembés aliados dos
portugueses. No rio Gurguéia, moravam os acroás, os
rodeleiros, os beiçudos, os bocoreimas, os corsiâs e os
lanceiros. No rio Preto, residiam os anicuás, comedores de
brancos. Na Serra de Ibiapaba, os anassus e os alongás. Os
aruás, também aliados dos portugueses, habitavam o Riacho
São Vitor. Na serra do Araripe, residiam os ubatês, os
meatans, os jendois, os ycos e os uriûs. Os arayês e os
acumês moravam nas cabeceiras do Piauí e os goaratizes
nas cabeceiras do Canindé. No mesmo rio residiam os
cupinharôz, os que têm feito maiores danos nesta povoação
[...]”.
E a resistência?
Os conflitos
Disputas intensas na região entre o século
XVII e XVIII

A Guerra dos “Bárbaros”


Guerra promovida com o objetivo de tomar
os territórios e exterminar os povos nativos

Exclusão?
Várias ações e atividades das populações
nesta época foram silenciadas pelos
documentos produzidos pelos portugueses
Uma leitura a contrapelo
A importância de realizar uma leitura a
contrapelo de documentos já analisados
previamente, como relatos de guerra de
funcionários régios, das atas de reuniões
do tribunal da Junta das Missões, das
consultas do Conselho Ultramarino e
da legislação indigenista. O que significa
dizer isso?
Guerras Justas e Descimentos
Relacionamentos móveis Qual o motivo disso?
O que significa Táticas de
quando indicamos um resistência que não
relacionamento necessariamente
“móvel” entre implicavam um
indígenas e conflito bélico
portugueses?
Aliado ou Inimigo? A Alteridade
Utilizavam esta Como a Alteridade
relação para conseguir possibilitou a estes
espaços de autonomia grupos estabelecerem
no interior da ações para se
legislação indigenista beneficiarem e resistirem
a disciplina imposta?
Guerras Justas e Descimentos
Descimentos Defensiva Ofensiva
Acordos entre os Realizada em casos
Só poderia ser
povos indígenas e os de grupos que
padres para que os atacassem os realizada em casos
primeiros saíssem portugueses, de ameaças diretas
de seus territórios e atrapalhassem o aos agrupamentos
se dirigissem a deslocamento dos
coloniais com
aldeamentos colonos ou a
comandados pelos pregação do autorização da
segundos evangelho coroa portuguesa
A Alteridade
Belicosidade
Construção da belicosidade de outros grupos
para os portugueses
Descimentos
Compreensão das condições que estariam
submetidos no caso de descimentos, no que
se refere ao trabalho, moradia e religião
Armistícios
Estabelecimento de momentos de paz
temporários para se aliar com outros grupos
e se organizar contra os portugueses
Reflexos destas relações nas estatísticas
demográficas
Expansão demográfica de modo
significativo no decorrer do século XVIII
- Esta, por sua vez, relacionava-se com
a expansão e conquista dos territórios
indígenas na capitania do Piauí -
Dezenas de guerras ocorreram nesta
época e possibilitaram isto
Composição da população no
Piauí em 1772 - 19.191
Brancos
16.7%
PRETOS - 6343

BRANCOS - 3205

INDÍGENAS - 1131 Mestiços


44.4%

MESTIÇOS - 8512

Pretos
33%

Indígenas
5.8%
Motivos dos conflitos bélicos
Pecuária
Estender os territórios dos colonos para se
ampliar a pecuária extensiva
Mão-de-obra
Também funcionavam como um modo de
conseguir mão-de-obra escrava para
trabalhos distintos (pecuária, doméstico etc.)
Incorporação dos Indígenas
Tratava-se de um modo de integrar estes
grupos ao sistema colonial - Posteriormente
os aldeamentos serão ainda mais pertinentes
Diferentes ações dos indígenas
Anaperus Acroás
Conflitos bélicos no início Manutenção de paz
do século XVIII - com os portugueses
Aldeados a partir de 1730 desde que
e concessão de sesmarias atendessem
- O que isso significa? algumas demandas
- Sustentação
Gueguês
Guerra ofensiva com Resultado?
os portugueses. O não cumprimento das
Aceitaram a paz e o promessas dos
aldeamento para portugueses culminaram
auxilío no conflito em novo conflito bélico.
contra os Acroás Difícil indicar os motivos
exatos
Novas ações dos indígenas
Alianças
Gueguês, anteriormente inimigos dos
Acroás, se unem contra os portugueses
Inimizades
Voltam a tornar-se inimigos. Gueguês realizam
nova aliança com os portugueses para aldear-se e
combater os Acroás. Gueguês se incorporam à
ordem colonial
Novos acordos
Após os conflitos novamente os Acroás
aceitam o descimento e tornam a serem
aldeados pelos portugueses
Uma tática específica?
Esse novo aldeamento dos Acroás era
significamente menor em termos
populacionais. De milhares de indivíduos
apenas algumas centenas teriam sido
aldeados. Não obstante, pouco tempo
depois empregaram fuga. Haviam
acordado com o descimento enquanto
tática para dispersar as tropas
portugesas e depois fugir?
Por que esta
discussão é
importante? E o
que podemos
concluir?
Desconstrução de uma História “Tradicional”
Desaparecimento?
Desconstrução de uma narrativa focada no
completo extermínio destes grupos no Piauí
Sujeitos Históricos?
Desconstrução de um olhar destes indivíduos
enquanto passivos sem ações ou vontades
próprias
Reinterpretação
Novos olhares e interpretações para
documentos previamente conhecidos por
meio de uma leitura a contrapelo
Fernanda Bombardi
“Anaperús, guegues, acroás e timbiras
conformaram uma gama de
estratégias que manejavam as regras do jogo da
legislação e da política
indigenista portuguesa. Foioscilando entre a
condição de inimigo e aliado
que esses grupos conseguiram malograr boa
parte das iniciativas lusas, conquistar direitos e
garantir espaços de autonomia em um contexto
de guerras, escravidão, trabalho compulsório e
violências. Fossem nos processos que
representaram ganhos ou nos que lhes causaram
severas perdas, seus projetos, atuação e
escolhas nunca foram secundários. Uma história
que ignore suas ações, portanto, será sempre
uma história contada pela metade” (Bombardi,
2020, p. 67)

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