História indígena: conquista, conversão e resistência Então, para os indígenas o Escambo era uma relação de troca e dádiva para

estabelecer alianças. Portanto, era compatível com suas tradições culturais e

sociais.
Começar no Slide 15 Estes degredados também vão se incorporar a cultura nativa, a essas
sociedades, vão estabelecer parentesco, aprender costumes, participar de
Na aula de hoje, discutiremos esses primeiros contatos, as guerras e alianças
guerras e vão ter esse papel de intermediários como fundamental.
que se seguiram e depois os processos de catequização, conversão e
hibridismo cultural e adaptações que vão aconteceu entre europeus e Depois, nas gerações seguintes, que fará esse papel serão os mestiços entre
indígenas. europeus e indígenas, que circulavam por ambas as sociedades. Muitas vezes,
tanto europeus, quanto os mestiços, preferiam morar nas sociedades indígenas
Slide – primeiras impressões
devido a liberdade que eles experimentavam nesses locais.
Durante as primeiras três décadas, é interessante notar que essa relação se deu
Então, essas relações nesse primeiro momento, de dádiva ou parentesco, não
fundamentalmente sem afetar as estruturas sociais indígenas, porque ela
causaram grandes transformações nas sociedades indígenas.
aconteceu de maneira compatível com as sociedades indígenas. Pois, era
uma relação que acontecia, fundamentalmente, por alianças, por dádiva Como nesse momento não tinha os animais domesticados trazidos pelos
ou parentesco. europeus, nem uma presença europeia muito significativa, existiam poucas
doenças.
Slide – Contatos e transformações
Então, quando que muda essa relação, levando em conta que nessas primeiras
Essa relação acontecia especialmente por meio dos degredados que eram
décadas a relação foi relativamente harmoniosa? Fundamentalmente quando
deixados pelos portugueses para aprender a língua, os padrões sociais e como
os portugueses começam a ocupar o território para garantir a sua posse, em
intermediários entre os europeus e nativos.
razão da ameaça francesa que também estabeleciam essas mesmas relações
O escambo, que para os portugueses era uma relação comercial, para os com os nativos.
indígenas era uma dádiva ritual. Por que eram sociedades baseadas na dádiva.
A partir de 1530, com as capitanias hereditárias, os portugueses começam
Lembrando que o ESCAMBO não era uma forma de enganar os nativos:
a ocupar mais efetivamente esse território com a agricultura. E qual o
“ahh, índios otários, trocando Pau Brasil que é valioso por espelho e radinho a
problema disso? Implica que com as capitanias houve uma grande busca por
pilha”.
força de trabalho.
Mas, a questão era que o Pau Brasil não era valioso para os nativos, mas sim
Os portugueses vão querer trabalhadores para suas terras. Eles não vieram
para os portugueses. As ferramentas e, depois, até armas de fogo trazidos
para essas novas terras para plantar mandioca. Eles querem trabalhadores para
pelos europeus tinham vantagens significativas: diminuíam o trabalho
plantar alimentos e também para plantar açúcar.
coletivo (machado), podendo aproveitar mais tempo para a guerra, eventos
religiosos, caça e por ai vai.
Essa exigência de mão de obra vai alterar essa relação porque os portugueses
vão exigir que os indígenas, ao invés de trocar coisas que eles queriam como
o Pau Brasil que não afetava os indígenas, trocassem por prisioneiros.
Isso afetava essa relação, pois isso requeria que os nativos fizessem mais
prisioneiros e impossibilitava os rituais de sacrifício que tinham um papel de
integração comunitária, construção de identidade. Eram os rituais
ANTROPOFAGICOS.
Slide – De Bry
Por último, e talvez mais importante, essa demanda por cativos vai causar
conflitos e a escravização dos próprios indígenas, que antes estabeleciam
relações com os próprios europeus.
Em resistência a essas demandas, os indígenas vão muitas vezes atacar os
europeus, vão destruir os seus estabelecimentos, suas casas, vão matar os
europeus. Esses conflitos serão muito intensos nessas décadas de 1530 e
1540.
De maneira geral, os nativos foram bem sucedidos em colocar os portugueses
na defensiva ou até mesmo expulsando eles das capitanias.
Isso, foi um dos motivos para o fracasso das capitanias e para a
instalação do Governo Geral. Aliás, o principal motivo do fracasso foi a
resistência nativa. Únicas que prosperaram Pernambuco e São Vicenti.
Por que elas foram bem sucedidas? O fundamental era estabelecer alianças
com os grupos indígenas, que podiam servir de defesa como aliados contra
outros grupos. Aliança estabelecida fundamentalmente através do parentesco.
Tanto é que as elites que vão surgir nessas capitanias, tinham descendentes
indígenas. Isso era essencial para dominar esse território.
Então, o Governo Geral veio para socorrer essas capitanias que fracassaram,
inclusive na Bahia onde o governador geral vai se estabelecer.
Então nos primeiros 20 anos do governo geral, tinha um esforço defensivo
para proteger os poucos núcleos de povoamento que existiam no litoral,
principalmente contra os nativos, mas também contra os franceses que se
estabeleceram aqui, no RJ. Isso, veremos nas próximas aulas.
Ai, depois de garantir a posse, em 1570, você começa a expandir e conquistar
territórios. Então, o principal objetivo do Gov Geral era proteger, depois
expandir e durante esse processo ele tem que facilitar a conversão dos nativos
ao cristianismo. Por último eles tinham que racionalizar e organizar como vai
se explorar esses nativos escravizados.
Com isso, as doenças também começam a se espalhar e ajudam nessa
dominação. Então, é um processo longo. A conquista da América durou
bastante tempo.
Slide “Os Indios como espelho invertido
Vejam essa citação agora. Esse contato com os indígenas, especialmente para
os franceses, vai estimular uma reflexão entre os próprios europeus. Então,
alguns viajantes como o Jean de Léry, utilizarão os indígenas para pensar
sociedade europeia que eles viviam.
O Jean de Léry, francês, vai falar: “olha, talvez os bárbaros sejamos nós,
porque é muito pior as guerras de religião que acontecem na França do que os
indígenas antropófagos fazem”.
Esse trecho é interessante porque ele mostra como um viajante francês podia
pensar os indígenas como um “espelho invertido”. Podia pensar esses povos
originários como uma forma de refletir e criticar a própria sociedade europeia.
Ler citação – slide 6 e 7
Claro que essa conversa não aconteceu dessa forma. Mas, esse momento de
contato de europeus e indígenas foi interessante para que os europeus
pensassem sobre as suas próprias sociedades.
Slide – aliados e inimigos
Então, o governo geral, a partir de 1570, vai adotar uma política indigenista
dual. Eles tratarão os indígenas de maneira diferente. Alguns grupos
indígenas aliados serão convertidos e não deveriam ser escravizados.
Já os “bárbaros”, os inimigos, os que não aceitavam a subordinação, a
dominação colonial e a conversão ao cristianismo, devem ser escravizados e
exterminados. A “guerra justa” que era a doutrina usada para justificar
isso, tem uma origem medieval que era uma maneira de dizer: “olha, a guerra
é legítima quando é em defesa e quando ela é para a expansão da fé”.
Então, para justificar essa guerra, os portugueses falavam que estavam sendo
agredidos pelos indígenas e que eles não queriam receber a palavra de Deus.
Só que também existiam disputas políticas sobre se alguns grupos indígenas
deveriam ser vistos como aliados ou como inimigos. Por que isso? Porque
muitas vezes os colonos queriam tratar os nativos como inimigos para que
eles pudessem ser escravizados. De outro lado, os religiosos, mas nem
sempre, queriam tratar os nativos como aliados para que eles pudessem ser
convertidos.
Era muito mais fácil converter um grupo indígena que estava em uma missão
jesuítica, onde que os religiosos era a autoridade maior, do que os nativos
escravizados nas fazendas dos colonos, onde a autoridade maior era o Senhor
do Engenho.
E por que essa divisão existia? Existia porque os próprios nativos estavam
divididos. A divisão dos nativos era absolutamente essencial para a conquista
portuguesa. Se os nativos fossem unificados, teria sido impossível os
conquistar.
Ai vocês podem pensar? Porque os povos originários não se uniram contra os
europeus? Porque eles não eram iguais. É um profundo etnocentrismo achar
que eles eram todos iguais. Eles tinham rivalidades, relações, conflitos, e cada
grupo procurava alguma vantagem imediata para si mesmo quando se aliava
aos europeus.
Eles não tinham como prever as doenças, a grande chegada dos europeus, ou
algo parecido. Então, cada grupo tinha sua própria realidade e tomava sua
decisão de aliança ou rivalidade entre eles ou com portugueses e franceses,
nesses momentos específicos.
Os portugueses sabiam que esse tipo de rivalidade era essencial para a
conquista.
Slide Rivalidade e conquista – ler
Em todo lugar da conquista da América a gente encontra citações
equivalentes. Por que em todas as américas, esse processo de divisão que
impossibilitou alianças entre os nativos, era absolutamente essencial para
poder conquistar esse território. Sem isso, seria impossível a conquista dos
europeus. Exemplo dos Astecas.
As demandas europeias farão sentido aos povos originários, como eu falei
anteriormente. Mas, essas relações alterou as tradições, os costumes, a guerra.
A guerra indígena vai mudar muito por causa dessa relação com o europeu,
pois ela se torna cada vez maior.
O europeu quer cada vez mais escravizados. Então, as sociedades nativas
aliadas aos europeus levavam cada vez mais gente para suas batalhas: mais
homens, mulheres, crianças. O europeu queria cada vez mais escravizados
oriundos dessas batalhas.
Slide – demandas europeias – ler
Então, essas guerras se intensificam porque os europeus demandam mais
escravos. Mas, elas se intensificam também porque os europeus vão estimular
essas guerras e por outro lado, os nativos vão aproveitar as alianças com os
europeus para lutar contra seus inimigos tradicionais.
Então, essas guerras indígenas eu europeias vão se misturar até o século
XIX. No século XVI e XVII, o conflito entre portugueses e franceses, tanto
no RJ quanto no Maranhão, os nativos eram a grande parte dos combatentes.
Então, muitas vezes grupos rivais se aliavam aos europeus rivais (portugueses
ou franceses e depois holandeses) e acabavam lutando nesses conflitos.
Essa mistura entre guerras coloniais (europeus) e guerras indígenas vão
continuar até o século XIX, ou seja, até a Guerra do Paraguai, em que tinham
tropas indígenas.
Enfim, os nativos foram fundamentais para manter as possessões portuguesas
na América. Muitas vezes os nativos conseguiam benesses graças a essa
capacidade de manobra, de circular em áreas periféricas. Você não tinha uma
população europeia grande ou uma grande força militar.
Então, era essencial a colaboração indígena e esses indígenas se aproveitam
disso para obter vantagens. Tipo, ameaçam trocar de império, ir dos franceses
para os portugueses. O texto dessa aula fala sobre isso, sobre esses processos
de aliança.
Sobre o RJ e a relação com os franceses, tem também um dos principais livros
sobre a história indígena que é o
Metamorfoses indígenas – Maria Regina Celestino
Então, essa importância militar indígena possibilitou alguns privilégios como
posse de terras, salários e não serem escravizados. Isso acontecia,
principalmente, para as lideranças indígenas que não eram hereditárias.
A liderança era conquistada.
Esses líderes que vão negociar com os religiosos, com os governadores gerais
e com os colonos. Esses líderes recebiam esses privilégios, principalmente,
em épocas de guerra. Contudo, a grande parte desses privilégios eram
precários.
Mas, sua colaboração sempre foi essencial. Inclusive porque os nativos
podiam se rebelar e quem podia influenciar para isso não acontecer eram as
principais lideranças que recebiam privilégios.
Não se sabe quantas foram. É algo que a historiografia precisa se aprofundar
mais. Esses “indígenas coloniais” que estavam sob autoridade ou que tinham
aliança com os portugueses, mesmo assim se rebelavam.
Mas, além desses indígenas coloniais, existiam também os nativos não
conquistados. E a conquista foi um processo de longuíssima duração. As
vezes parece que os nativos só estão aqui no Brasil lá em 1500: tem o
escambo, as conquistas, a escravização e daí o nativo some, acabou, não tem
mais nativo.
Na verdade, o processo de conquista continua até hoje. O que foi a ocupação
e invasão das terras indígenas por mineração, por pecuária, senão a
continuação do processo de conquista?
Exemplo – Yanomamis
Exemplo - Ditadura
Exemplo – Amazônia – Integrar para não entregar
O que foi a expansão territorial da Ditadura para a Amazonia “integrar para
não entregar”, fazendo a transamazônica, senão um processo de conquista
extremamente violento?
Matou-se muito mais nativos na Ditadura do que subversivos urbanos. Mas,
esses não entraram na “conta oficial” – cerca de 430 mortos.
O que é ratanaba? = justificativa para a mineração.
O ponto é destacar que o processo de conquista é de longuíssima duração.
Essa conquista dura até os dias de hoje. E as sociedades indígenas estão longe
de desaparecer.
Durante o período colonial, esses processos de conquistas dos europeus sobre
os povos indígenas, sempre contavam com a aliança de outros grupos
indígenas que conheciam o local, que tinham interesses próprios ou que eram
inimigos dessa outra comunidade que estava sendo conquistada.
Por que a conquista dura muito tempo? Por que os nativos resistirão até os Contrarreforma
dias de hoje: fugindo para o interior, matando o colono, destruindo plantações
Nesse momento, também houve uma relação mais intensa entre as
e o gado, matando os escravizados etc. Essa dinâmica de indígena resistindo e
monarquias e as igrejas, seja católica ou protestante. É nessa relação que
colono tentando o matar, dura até hoje.
temos que entender a empresa catequizadora: era uma política imperial que
A partir de 1650, nós temos um processo de mudança da conquista. A via a catequização como elemento central para submeter, controlar os
conquista, até esse momento, sempre esteve ligada a escravização do nativo indígenas.
para obtenção da mão de obra. Mas, com a introdução da escravidão africana,
Slide – missão
os portugueses passaram a escravizar cada vez menos os nativos.
Ai, os aldeamentos possuem uma função religiosa, política e econômica.
Agora, o objetivo era a conquista da terra e não de mão de obra (atenção: em
As missões jesuíticas, ao reunir os nativos em grandes aldeias próximas aos
algumas partes era maior o numero de nativos – sempre houve a escravidão
núcleos de ocupação dos portugueses, faziam que esses indígenas: fossem
deles). Então, como o objetivo era a terra, você poderia matar o nativo.
mais facilmente catequizados; mais facilmente controlados pois estavam mais
Pedro Puntoni – A Guerra dos Barbaros próximos do poder colonial; faziam com que fossem usados em guerras
contra outros indígenas, contra quilombos e contra europeus; e também
Nesse livro, o autor cita uma série de conflitos que fazem parte do processo
serviam de mão de obra.
de interiorização da colonização para o interior para obter terras,
principalmente, para a pecuária. Como era terras, podia matar, mas Proteção militar, ressocialização....
obviamente que alguns também eram escravizados.
Vejam, isso mostra como a história indígena está ligada a história africana e
O primeiro momento de ação jesuítica, será caracterizado pelo otimismo. Os
afro-brasileira. O fato da maior oferta de mão de obra africana, diminui a
povos nativos serão percebidos como uma “tábula rasa”, como se eles não
necessidade de mão de obra indígena e transforma as possibilidades de se
tivessem nenhum tipo de Fé, Religião, Crença. Assim, pensavam que seria
lidar com os nativos.
muito fácil os converter.
Por que eles tiveram essa impressão inicial? Justamente por causa da
Slide catequizar alteridade, da abertura ao outro. Os nativos não tinham problema nenhum em
ter contato com a religiosidade europeia e incorporar até mesmo em suas
Mas, como se justifica esse processo de dominação? Por meio da
práticas.
catequização que estava ligada ao projeto católico da contrarreforma, uma
reação a reforma protestante na Europa. O problema que eles tinham era com o dogma, com a ortodoxia, com a
exclusividade. O problema era que a religiosidade europeia queria excluir a
Essa contrarreforma vai reforçar os dogmas católicos: reforço da ortodoxia,
sua religiosidade anterior. Essa percepção de que essa abertura deles era, na
reforço dos sacramentos especialmente a confissão.
visão dos europeus, inconstante, mudou a visão de otimismo para
pessimismo. Quem trabalhar isso é:
Livro Antonio Vieira de casto – A inconstância da alma selvagem.
Por que acontece esse pessimismo por parte dos jesuítas e religiosos
europeus? Devido ao fato dos indígenas absorverem seletivamente o
catolicismo. Os nativos vão combinar o catolicismo a suas crenças e práticas.
Eles pegavam o que lhes aprecia interessante, fazendo uma espécie de
bricolagem, de adaptação com o sobrenatural deles.
Ou seja, eles não eram agentes passíveis nesse processo de catequização. Eles
vão reincorporar. Por isso, os jesuítas para terem sucesso, precisam moldar os
ritos católicos, moldas as suas práticas tradicionais. Eles precisam também
se apresentar como uma espécie de substituto dos xamãs: os jesuítas
precisam se apresentar como tendo poder de cura, de espantar espíritos
malignos, precisam fazer rituais e até de trazer a chuva.
Então, os jesuítas precisaram buscar essas semelhanças com as práticas
indígenas. Por exemplo, eles querem um equivalente ao Deus supremo, ai ele
pegam o Tupã, que era uma divindade de alguns grupos indígenas, e tentam
transforma-lo em um equivalente ao Deus cristão.
Os jesuítas vão tentar reinterpretar alguns mitos indígenas para dizer, “olha,
isso é uma visão distorcida da trindade ou do dilúvio”. Então, os jesuítas
reinterpretavam a cultura indígena para moldar e facilitar a transmissão do
cristianismo, e o indígenas também reinterpretavam de acordo com sua
cultura as mensagens cristãs.
Os sermões do Padre Antonio Vieira, são talvez um dos melhores momentos
para pensarmos como era esse processo de tentar entrar na mente desses
jesuítas. Esse trecho aqui é muito interessante para observarmos a
centralidade da conversão para a monarquia portuguesa e para o seu projeto
imperial.
Slide A igreja, o império..... ler
Ou seja: império, violência, conversão. Está tudo intimamente relacionado.
Mas, é claro que os jesuítas terão muitas dificuldades. Vejam essa citação do
padre Navarro:
Slide – uma difícil catequese
Isso dá uma noção de como essa catequese era difícil nesse momento inicial.
Além disso, a violência tinha um papel central. Afinal de contas, era possível
usar até a bíblia para fazer isso. Tem uma expressão retirada do Evangelho de
Lucas Chamada
Slide – Comelle Intrare (força-os a entrar) – O fiel tem que forçar os
outros a entrar na fé, porque só assim eles serão salvos da danação
eterna. Esses dois trechos aqui fornece uma noção de como a violência
estava intimamente ligada à conversão – LER TRECHO 1
Ou seja, como era possível converter os nativos? Vai ser escravizando-os, pois
assim você consegue os controlar para poderem ser convertidos.
Trecho 2 – ler
O que significa “passado tudo ao fio da espada”? Degolar. Então, você tem
um jesuíta elogiando o governador porque ele matou milhares de pessoas e
incendiou 160 aldeias. Isso da uma ideia de como a violência estava
profundamente integrada nesse projeto de catequização.
Slide – e converter?
Então, esse processo de conversão teve muita violência, mas também teve
esse processo de comunicação, que foi muito central.
Livro – Cristina Pompa – religião como tradução – procura mostrar
como esse processo de comunicação entre as culturas, são essenciais para
conversão e como isso vai gerar um cristianismo indígena diferente. Mas,
isso é meio que um telefone sem fio, pois toda hora ambas culturas estão
reinterpretando.
Você tinha muitos mal entendidos, criando uma lógica culturalmente
mestiça.
Contudo, os religiosos não aceitam isso, eles querem ocidentalizar, querem
curar essa “inconstância da alma selvagem”. Querem sedentarizar,
homogeneizar, querem impor a monogamia, querem impor novos ritmos de
tempo e trabalho, querem eliminar a questão da guerra e do sacrifício. Então,
eles querem transformar esses povos.
Ai, os principais líderes indígenas eram os que precisavam ser convertidos
com maior rapidez. Ai assim, quem era o contraponto político em relação a
esses nativos principais? Eram os xamãs, que circulavam entre várias aldeias
e não tinham, necessariamente, uma única aldeia para ficar.
Enquanto a colonização vai fortalecer esses indígenas principais, como
intermediários essenciais para empresa colonizadora, ela também procura
destruir esses xamãs porque eles eram os guardiães da religiosidade indígena.
Qual será a consequência desse processo de aldeamento, de conversão, de
mudança, de exploração? Foi a expansão de doenças, que foram fundamentais
para a conquista e a dominação. Principalmente a varíola.
Só que, mais uma vez, a conversão era uma tarefa difícil. Não existia um
imperador de todos os nativos, que pudesse ser convertido para que,
consequentemente, todos fossem. Então era um processo lento: primeiro
converte os principais, depois as crianças e assim por diante. Mas, era algo
que sempre precisava ser feito.
Para isso, era ideal que se eliminasse as diferenças entre os povos originários.
Então, eles juntavam um monte de etnia em uma missão jesuítica, para que
todos estivessem de acordo com esses modelos europeus.
Slide – a inconsistência – Esse trecho do Vieira de 1657 – ler
Então, é interessante como ele está pensando o seguinte: “olha, a conversão
pode ter sido difícil lá na Europa quando se converteram os povos
germânicos, mas depois que eles são convertidos, eles são realmente cristãos
por convicção. Mas, os indígenas não. Eles sempre voltam as suas tradições
culturais”.
Por que isso acontece? Justamente pelo fato desse nativo se converter devido
a essa abertura ao outro, incorporando certas características a sua cosmologia.
É essa abertura ao outro que vai fazer com que seja preciso a violência. Você
vai precisar ficar o tempo todo presente para impedir que essa incorporação
não aconteça em termo indígenas, mas sim aos termos dogmáticos e restritos
dos europeus.
Slide – conversão e coerção
Então, eles sempre precisam da violência. Outros religiosos terão uma visão
um pouco menos violenta
Slide – a manutenção – relatório sobre os indígenas Cariri, no Rio São
Francisco, jesuíta capuchino francês – ler
Então, para o Capuchino mudou. Mas, será que mudou mesmo? Será que
aquilo que o Capuchino está chamando de festa de São Francisco, o Cariri
não está chamando de Politun.
Slide – e converter?
Então, sempre existiu esse tipo de conflito, porque essa religiosidade
adquirida pelos nativos nunca será pura. Sempre existi um sincronismo
religioso, uma mescla, uma incorporação de práticas de outras religiões.
Então você tinha uma mestiçagem cultural, política e até biológica.
Contudo, essa incorporação pode acontecer de maneira completamente oposta
ao desejo dos europeus. Como por exemplo, o fenômeno das Santidades. Os
xamãs eram vistos como instrumentos do demônio pelos jesuítas. Mas, esses
xamãs podiam, às vezes, utilizar elementos cristãos, porque o sobrenatural
cristão era reconhecido forte.
Então, eles podem incorporar alguns elementos do cristianismo à elementos
indígenas, fazendo uma nova interpretação. Tem, por exemplo, a
Santidade de Jaguaripe (“movimentos” religiosos orginalmente indígenas) – em
que você incorpora nomes de santos, bispos, Maria, João, enfim, para
construir uma interpretação religiosa do mundo, do sobrenatural, que
invertesse a ordem, onde que os indígenas deixassem de ser um povo
dominado e passassem a ser um povo dominante.
Livro Vainfas – A heresia dos índios – ele usa os processos inquisitoriais
da Bahia na década de 1590, para estudar a santidade do Jaguaripe que
existiu entre 1580 e 1586, para perceber essa mestiçagem cultural que
aconteceu entre índios, europeus, africanos.
Isso era natural dos povos indígenas: incorporar elementos do outro e os
reinterpretar. Era contra isso que os europeus estavam tentando lutar o
tempo todo. Então, o que os europeus chamam de inconstância era essa
abertura ao outro, essa resistência a um dogma fechado que era característico
dos europeus.
O ponto é que essa religiosidade é sempre localmente reinterpretada. Então
você pode colonizar o imaginário, frase do historiador francês Serge
Gruzinski, mas ela só se completa quando esses povos indígenas realmente
incorporam essa religiosidade, mas dentro dos seus próprios padrões.
Então, a religião foi imposta aos nativos, mas foi incorporada por eles dentro
da sua lógica.
Como os nativos podiam resistir a esse processo de catequização, conversão,
conquista e violência? Muitas vezes a partir da migração. Grupos que se
retiravam para longas distâncias, fugindo dessa dominação. Se interiorizavam,
no meio das matas.