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Ficha técnica:
Nota prévia
Salomão Munguambe
Professor Auxiliar da UEM
INDICE DAS MATÉRIAS
CAPITULO I
INTRODUÇÃO
CAPITULO II
COMÉRCIO E MERCADOS
CAPITULO III
A MÁQUINA COMERCIAL E PRINCIPAIS INTERVENIENTES
CAPITULO IV
LUGARES PARA A PRÁTICA DO COMÉRCIO
CAPITULO V
ORGANISMOS DINAMIZADORES DO COMÉRCIO
CAPITULO VI
MARKETING E DESLOCAÇÃO DOS PRODUTOS
CAPITULO VII
OS CONTRATOS
CAPITULO VIII
BANCOS, MOEDA E OPERAÇÕES BANCÁRIAS
CAPITULO IX
SEGUROS E OPERAÇÕES DE SEGURO
CAPÍTULO X
ALGUNS DESENVOLVIMENTOS RECENTES
CAPITULO I
INTRODUÇÃO
Os temas a estudar serão apresentados através de uma exposição oral pelo professor, sendo
depois discutidos e esclarecidos até que as noções, princípios, propriedades ou métodos estejam
bem definidos e compreendidos por todos. Este trabalho corresponde à chamada aula teórica.
Haverá aulas práticas em que os alunos serão chamados a resolver exercícios de aplicação e
consolidação dos conhecimentos introduzidos nas aulas teóricas. Estes exercícios são em geral
resolvidos em grupo; o professor dará, por vezes, indicações de exercícios para estudo e
resolução individual.
Antes de iniciar o estudo da disciplina, uma pergunta que se pode colocar é: "para quê e o
que é isto de Propedêutica Comercial e Financeira?"
Finalmente o termo Financeiro quer dizer relativo a finanças, palavra que, por sua vez,
significa administração das receitas e despesas ou ciência que estuda a origem e aplicação dos
recursos do Estado ou de qualquer univeso económico e social. É neste sentido que são usadas as
expressões "Finanças do Estado", "Finanças da Empresa", "Finanças do Clube", "Finanças do
Hospital", etc.
Agora resta-nos ver a primeira parte da questão atrás colocada isto é, "para quê
Propedêutica Comercial e Financeira" e porquê introduzir noções de prática comercial e
financeira no início de um bacharelato ou licenciatura nas áreas de Economia, Gestão,
Contabilidade e Auditoria.
Perguntas deste tipo são sempre colocadas em qualquer disciplina sempre que se discute
um plano curricular. No nosso caso em Moçambique, hoje já podemos dizer que a experiência
indica que sem noções de prática e técnica comercial e financeira, um bacharel ou lincenciado em
Economia, em Gestão ou em Contabilidade e Auditoria, primeiro, sente muitas dificuldades no
estudo de uma série de disciplinas como sejam Contabilidade, Organização de Empresas, Cálculo
Financeiro, Cálculo Actuarial, Administração e Gestão de Projectos, Direito Comercial,
Auditoria; em segundo lugar, na vida prática, sobretudo ao nível das empresas, bancos, seguros,
comércio internacional, os bacharéis ou licenciados são chamados a discutir, propor ou resolver
muitos e variados problemas que exigem o conhecimento de instrumentos de análise que
normalmente são aprendidos na disciplina de Propedêutica Comercial e Financeira.
Resumindo, o que dissémos no ponto 1.1.1 podemos concluir que o objectivo central da
disciplina de Propedêutica Comercial e Financeira é o de facultar os conhecimentos básicos da
actividade mercantil, desde o uso da terminologia corrente, passando pela compreensão e análise
das principais e mais vulgares operações comerciais e financeiras.
CAPITULO II
COMÉRCIO E MERCADOS
Ao iniciar o estudo de uma ciência é muito natural que as pessoas queiram desde logo
saber qual é o seu objecto e em que é que ela se diferencia das ciências afins.
Embora no ponto 1.1.3 já tenhamos indicado as razões fundamentais que levaram a
introduzir o estudo de algumas noções de comércio logo no início do curso de licenciatura,
julgamos ser agora o momento oportuno de tecer breves considerações sobre as relações ou
diferenças existentes entre o Comércio e a Economia.
No ponto 2.3 apresentamos uma definição de Comércio que em poucas palavras significa a
troca e circulação de mercadorias. Hoje o comércio envolve um grande número de funções e
pessoas em todas as actividades de produção de bens e serviços de tal maneira que se chega a
pensar que o seu âmbito de estudo é o mesmo que o da Economia. Estatísticas de número de
pessoas envolvidas nos vários sectores (primário, secundário e terciário) revelam que há muito
mais gente trabalhando em actividades comerciais (sector terciário) do que em quaisquer outros
ramos de actividade económica. Com efeito, pode dizer-se que não há pràticamente nenhuma
área da Economia onde não haja operações comerciais ou onde as teorias, as noções e os
instrumentos do Comércio não desempenhem um papel de relevo e por vezes decisivo.
Em todo o caso, em termos de estudo de uma disciplina de Noções de Comércio e mesmo
em termos de prática comercial, é aceite por muitos tratadistas que o Comércio é uma ciência
essencialmente prática, no sentido de que trata de mecanismos operatórios (v.g. contratos)
tendentes a realizar com rapidez e eficiência a troca e circulação de mercadorias.
A Economia é uma ciência muito mais vasta. O seu âmbito de estudo é, em geral, difícil de
definir. Tal como sucede com a maioria das definições de uma ciência, é quase impossível
encontrar dois autores com a mesma noção sobre o objecto de estudo da Economia. No entanto,
cingindo-nos à maneira clássica de definir o conteúdo do estudo da Economia, podemos dizer
simplesmente que esta ciência estuda problemas da produção, circulação, repartição e consumo,
dando particular ênfase à explicação dos instrumentos e mecanismos de funcionamento das
economias (procura oferta, mercadorias, preços, salários, moeda, etc.).
É muito conhecida a noção de que a Economia é o estudo da escassez e dos problemas dela
decorrentes. Afirmando-se que, se não houvesse escassez nem a necessidade de repartir os bens
entre os indivíduos, não existiriam tão pouco sistemas económicos nem Economia.
Uma análise detalhada e profunda deste artigo dá-nos desde logo uma ideia do grande
alcance político, económico e social do comércio no nosso país. Aliás a dimensão que em
Moçambique se dá à actividade comercial é também sentida em muitas partes do nosso planeta.
Com efeito, podemos dizer que em quase todo o mundo o comércio realiza a distribuição
dos bens e serviços produzidos pela agricultura, pela indústria e por outros sectores económicos e
sociais de acordo com um plano pré-estabelecido ou tendo em conta os mecanismos da oferta e
procura em sistema de livre mercado.
A distribuição aqui referida tem as suas regras ou os seus condicionalismos. Trata-se de
uma distribuição que se opera por via de transferência ou cedência dos bens ou serviços de umas
pessoas ou entidades para outras. Em linguagem económica essa transferência tem o nome de
troca. A troca, como veremos em seguida, foi e continua a ser o elemento dinamizador do
comécio.
Como verão mais tarde em disciplinas da especialidade, em particular economia política e
comércio externo, as formas de troca tem variado e evoluído conforme os períodos históricos.
Diz-se que o comércio existiu sempre ou pelo menos a origem da permuta está ligada à
infância da Homem. No estudo das civilizações primitivas (período do neolítico) foram
encontrados objectos e utensílios que os arqueólogos admitem terem servido para realizar trocas
comerciais. Quer esta hipótese seja verdadeira ou não, o certo e comprovado é que a primeira
forma de troca foi a directa, isto é, a permuta imediata de produtos por produtos.
Vê-se imediatamente que para alguém trocar uma galinha por um par de sapatos é
necessário em primeiro lugar que as partes envolvidas na operação estejam interessadas
exactamente na galinha e nos sapatos (princípio da identidade de interesses) e em segundo lugar
que estes bens sejam equivalentes (princípio da equivalência).
Com o desenvolvimento das sociedades e consequente multiplicidade de interesses dos
indivíduos estas duas condições nem sempre se verificavam no acto da troca. Então é o próprio
processo objectivo do desenvolvimento que exige dos homens a utilização nas trocas de um bem
de uso geral ao qual todos atribuíam a mesma importância social e o mesmo valor económico.
Foi assim que produtos como os cereais, as peles, as conchas, o gado, o sal passaram a servir
como instrumento geral de trocas. Uma aberração de instrumentos de troca foi o uso de escravos
no feudalismo e nas sociedades sob dominação e colonização estrangeira.
Este tipo de troca passou a chamar-se troca indirecta na medida em que as coisas que uma
pessoa produzia ou possuía não as cedia pura e simplesmente por outras quaisquer, mas sim por
aqueles bens considerados de uso e aceitação generalizada; é com estes que por sua vez que iria
adquirir (também por troca) os produtos de que efectivamente necessitava para seu uso.
Entretanto o comércio foi-se tornando cada vez mais dinâmico e complexo, ultrapassou
regiões e fronteiras sobretudo a partir do grande surto de desenvolvimento industrial (Século
XVII). Em muitos casos não era cómodo nem possível transportar as medidas comuns de valor
que então eram representadas por bens físicos de aceitação geral entre as pessoas.
Então passou-se a utilizar como instrumento de troca e medida comum de valor das coisas
pequenos utensílios metálicos de uso corrente (por exemplo faca, colher, taça, brincos, colares,
etc.). Foi assim que começou na história das civilizações a utilização da moeda (chamada então
moeda-utensílio).
É assim que surge e se desenvolve a chamada moeda bancária, também conhecida por
moeda escritural que como o advento de computadores se tornou conhecida por moeda
electrónica. Este processo de desenvolvimento tem o nome de desmonetarização da economia e
do comércio sendo os cartões de crédito o seu mais activo instrumento dinamizador.
Para nos introduzirmos melhor nesta área do comércio é bom ficarmos desde já com
algumas ideias sobre como aparece na história o comércio internacional que liga pelas trocas,
diferentes povos, diferentes países e diferentes culturas.
O comércio internacional não surgiu da mesma maneira e na mesma época em todos o
países. Cada país, cada continente tem a sua história de comércio com as suas especificidades.
Em África podemos dizer que o aparecimento e desenvolvimento do comércio
internacional estão muito associados a processos de ocupação e à formação dos impérios
coloniais (século XVI).
Da História de Moçambique (Agosto de 1971), edição do Departamento de Educação e
Cultura da FRELIMO retiramos o seguinte:
"Os historiadores árabes da antiguidade que visitaram a costa da Africa Oriental e do Sul
durante os primeiros mil anos da era cristã, falam-nos de um grande entreposto comercial, Sofala,
onde os mercadores árabes iam comerciar o ferro. Esse mesmo porto do mar, Sofala, serviu mais
tarde, a partir do século XIV, aos reis do Monomotapa para exportar os seus produtos minerais, o
ouro, o ferro e o cobre e também o marfim. Esta cidade de Sofala encontrava-se dentro do reino
de Sofala, um dos vassalos do Monomotapa, embora dominassem lá os mercadores árabes e
tivessem um sultão que no entanto pagava tributos de vassalagem ao Monomotapa.
A economia do Monomotapa baseava-se no comércio com o exterior. As várias minas de
ouro e outros metais eram directamente controladas pelo Monomotapa ou pelos seus funcionários
que ele enviava para as diversas regiões do Império. Todos os mercadores que vinham comerciar
nas diversas feiras que se realizavam no Império tinham que pedir guias de passagem pelo
território do Monomotapa. Todos os mercadores do Império que levavam ouro para comerciar na
costa tinham que pagar pesados impostos sobre as mercadorias que traziam, que eram geralmente
tecidos de algodão e outros produtos de luxo, tais como missangas, colares e outros adornos.
Por volta dos séculos XVII e XVIII houve um comércio de escravos. No entanto foi um
comércio que não atingiu as proporções da costa ocidental de África".
Antes de apresentarmos uma síntese do que correntemente se entende por comércio, os
alunos já estão em condições de compreender fácilmente que afinal de contas o comércio é um
ramo da economia nacional, tão importante e decisivo como a Agricultura, a Indústria, a
Pecuária, as Florestas, etc.
Em estudos relacionados com a Economia Política do socialismo há autores que destacam
um capítulo especial denominado circulação das mercadorias. Nele é usual apresentar-se a
circulação de mercadorias como sendo a troca de mercadorias por intermédio do dinheiro.
Portanto o comércio tem por base uma permuta de valores e uma transferência de direitos e
obrigações entre os intervenientes na troca.
Acabámos de fazer considerações sobre a origem, função e evolução das trocas e seus
instrumentos fundamentais.
Apresentamos em seguida, e em jeito de síntese, uma definição de comércio.
Esta definição não é de interpretação fácil; muitos especialistas de Direito fizeram e têm
feito longas dissertações à volta daquele conceito e em certos casos não há unanimidade entre os
autores. Não cabe numa disciplina de Propedêutica Comercial e Financeira analisar
pormenorizadamente a definição apresentada. Vamos reter o essencial para o nosso estudo.
1Convém notar que o Código Comercial de Moçambique ainda está em processo de criação e
aprovação pela Assembleia da República
Nos pontos 2.2 e 2.3 foram feitas considerações gerais sobre o comércio e foi apresentada
uma definição. Do exposto aprendemos que o comércio é uma actividade que serve de
medianeira entre a produção e o consumo.
Vamo-nos deter um pouco neste ponto procurando analisar a função económica do
comércio, isto é, salientar alguns aspectos particulares da actividade comercial no quadro da
economia em geral.
No ponto 2.2 transcrevemos o Artigo 1 da Lei do Comércio Privado. Convém relembrar e
destacar de novo que esse artigo resume as funções essenciais da actividade comercial. E embora
a lei seja do comércio privado, estamos já em condições de dizer que aquelas funções são
extensivas a qualquer instituição, empresa ou pessoa autorizada a praticar actos de comércio. Na
verdade, dada vastidão do papel e das tarefas que recaem sobre o comércio em geral, a actividade
comercial desempenha uma função económica e social vital para o bem-estar do Povo e para o
desenvolvimento da economia nacional.
É útil compreender e saber distinguir as funções económicas nos dois regimes de
organização económica e social mais importantes.
Numa economia centralmente planificada e numa economia de mercado o comércio tem
funções e aspectos que são comuns mas também tem objectivos e características que as
diferenciam profundamente. Assim, comecemos por notar que no socialismo e no capitalismo o
comércio tem a função geral de medianeiro entre a produção e o consumo.
No sistema de economia de mercado puro encontramos as seguintes funções económicas
que lhe são próprias: (vide Manual de Noções de Comércio de A. filomeno Lourenço):
"1. O comércio abastece os mercados de todos os produtos que os consumidores
necessitam, promovendo para isso o seu transporte dos locais de produção para os locais de
consumo, e aí, retalhando-os nas quantidades que cada um deseja ou necessita.
2. O comércio instiga e desenvolve a produção e o consumo das riquezas, porque põe ao
alcance dos indivíduos muitas delas que eles não conhecem e que, portanto não comprariam.
3. O comércio nivela o valor das mercadorias da mesma espécie, pois adquire-as nos locais
onde elas abundam ou onde o seu preço é baixo e lança-as nos centros onde não se produzem ou
onde se produzem insuficientemente.
4. O comércio contribui para o desenvolvimento das vias de comunicação e para o
apereiçoamento dos meios de transporte.
5. O comércio favorece a aproximação dos povos e o intercâmbio da sua cultura e do seu
progresso material, tornando-se portanto, um dos mais importantes factores da civilização".
Apresentamos estas 5 funções como sendo típicas do comércio numa economia de
mercado. Os alunos poderão colocar a questão de saber se algumas ou mesmo todas aquelas
funções não existem em economia socialista onde a planificação é a base de organização da
sociedade.
Podemos responder que existem de facto. A única função que pode suscitar algumas
dúvidas de interpretação é a que afirma que "o comércio nivela o valor das mercadorias de
mesma espécie, pois adquire-as nos locais onde elas abundam ou onde o seu preço é baixo e
lança-as nos centros onde não se produzem ou se produzem insuficientemente".
Nos países socialistas este papel de fixação e nivelamento dos preços das mercadorias é
exercido e coordenado pelo Plano Central.
Mas sabemos e vivemos a experiência entre nós, de 1975 até finais dos anos 80, que nem
todos os produtos tinham os preços determinados pelos órgãos centrais. Assim, logo no início da
década 80, foram introduzidas as primeiras medidas de liberalização dos preços de algumas
mercadorias e como consequência começou-se a assistir a variações constantes dos preços, ao
sabor dos mecanismos de mercado, de produtos como tomate, couves, alface, cenoura, laranja,
etc; neste sentido podemos dizer também que em alguns casos, nos países socialistas, o comércio
em si, desempenha o tal papel nivelador dos preços.
Por outro lado, quando o autor daquela série de funções diz que "o comércio contribui para
o desenvolvimento das vias de comunicação e para o aperfeiçoamento dos meios de transporte"
está ele a fazer uma simplificação querendo com isso destacar apenas o importante papel que o
comércio desempenha como instrumento que leva (transporta) os bens de um lado para o outro, e
para que essa função se realize com maior eficiência e rapidez, as autoridades competentes (em
geral do Estado) são instigadas a deenvolver e melhorar as vias de comunicação e os
transportadores por sua vez os meios de transporte.
O comércio numa economia socialista é uma componente integrada do Plano Estatal
Central; na essência é a actividade comercial que põe em movimento (i.e. em circulação) os
resultados do trabalho do homem, pois leva os bens e serviços até ao consumidor final.
Neste sentido, ao analisar as funções de comércio no socialismo devemos ter o cuidado de
ver a questão de uma maneira integrada, dizendo que o comércio contribui para o
desenvolvimento não só dos meios de transporte como também cataliza e dinamiza o
Em síntese diremos que comércio, em economia de puro mercado, é uma actividade que se
rege bastante pela lei da oferta e da procura segundo a qual o sistema de preços e mecanismo das
suas variações têm o papel de regulador da produção, distribuição e consumo.
Por outro lado nas economias socialistas é o Plano Estatal Central que, em primeira linha,
determina a orientação do comércio; mas como na prática a planificação, por razões várias, não
abrange toda a realidade nacional, os mecanismos de puro mercado têm um papel importante não
só no funcionamento geral de sectores não estratégicos da economia como também na orientação
da actividade comercial não sujeita a planos de cumprimento obrigatório.
Quando se fala em comércio a ideia que temos no imediato é a troca de mercadorias entre
duas pessoas singulares ou colectivas. Assume-se que o comércio está apenas circunscrito à troca
de mercadorias entre habitantes de um determinado país. No entanto é mais que sabido que são
poucos os países que não dependem do exterior; as trocas comerciais com outros países entram
no domínio do comércio internacional que desempenha um papel importantíssimo (muitas vezes
vital) para certos países, e não poucos no mundo.
Mesmo países com recursos naturais variados e uma indústria nacional bastante
desenvolvida (v.g. Inglaterra, Rússia, Estados Unidos, China, França, República Federal da
Alemanha) difícilmente poderiam sobreviver se fechassem as suas fronteiras ao comércio
interpaíses. Tomando casos extremos como o dos Países Menos Desenvolvidos, dos quais faz
parte a República de Moçambique, podemos afirmar que as relações económicas internacionais
são o sustentáculo dessas economias. Moçambique por exemplo depende muito (e de forma
determinante) das importações, subsídios, donativos e empréstimos em divisas para abastecer as
populações em bens duradoiros e de consumo corrente e para adquirir "inputs" (v.g. matérias
primas, matérias subsidiárias, peças sobressalentes, "Kits" e outras componentes mais ou menos
acabadas) para pôr em funcionamento as nossas empresas e fábricas instaladas pelo país fora.
É sabido também que grande parte dos produtos que fabricamos ou colhemos em bruto
destinam-se aos mercados estrangeiros onde obtemos os recursos financeiros (em divisas) para
pagar as nossas importações e as dívidas que contraimos. Por outro lado a situação geográfica
previligiada do nosso país, a proximidade do mar e a existência de naturais e bons portos fazem
com que tenhamos uma economia naturalmente aberta à prestação de serviços (transporte, carga
e descarga) em benefício dos países do "hinterland", casos do Zimbabwe, Malawi, Swazilandia,
Lesotho, Zâmbia e a própria África do Sul. Em condições normais (inexistência de guerra e
infraestruturas portuárias reabilitadas) as receitas provenientes da prestação de serviços deste tipo
são as que permitem um certo desafogo na situação cambial de Moçambique.
De notar que Adam Smith (1786) foi o criador da teoria das vantagens
absolutas. A sua teoria dizia que o comércio seria vantajoso sempre que houvesse
diferenças nos custos de produção de bens entre países.
No entanto foi David Ricardo (1817) que demonstrou o que aconteceria se um país
tivesse custos de produção de todas as mercadorias que fossem maiores do que o resto
do mundo.
Este modelo básico, conhecido por princípio das vantagens comparativas, era
visto como uma clara explicação de como e porque é desejável encorajar um
completo e livre comércio entre todas as nações. O modelo aplica-se para qualquer
especialização no comércio que possa ter lugar, não necessáriamente entre nações. Se
toda a gente, ou mesmo todo um país inteiro, se especializar naquilo que for "muito
melhor" ou "menos mau", então todas pessoas envolvidas podem beneficiar da
especialização e troca "comercial" de produtos.
Ricardo sugeriu que a fonte de diferenças entre países era devida a diferenças
de produtividade do trabalho nos diferentes países (isto é uma extensão lógica da
teoria de valor que sugeria que os custos de trabalho ditavam o valor de todos
produtos).
A posição ricardiana sugere que o comércio livre vai maximizar o bem estar
geral das pessoas. Mais específicamente, vai conduzir à posição da optimização de
Pareto dado que o comércio vai apenas ter lugar se o mesmo for mútuamente
vantajoso.
No entanto Ricardo não explicou porque é que os países tem custos relativos
de produção diferentes. Assim, só a partir dos anos de 1980s é que começam a surgir
teorias de comércio internacional (por P. Krugman e outros) que sugerem que não
pode haver qualquer presunção automática em favor de livre comércio. A importância
de identificação de mercados imperfeitos é vista como sendo central.
Com o desenvolvimento da teoria de preços neoclássica, nunca mais se
defendeu como verdade que o trabalho era o único factor de produção que era
responsável pela deterninação do valor dos produtos: outros factors de produção
podiam também ter uma influência.
Assim Heckscher e Ohlin (1933)3 sugeriram que diferentes custos de
oportunidade entre diferentes países eram o resultado de diferente dotação inicial de
factores em geral (não apenas trabalho). Assim se um país for bem dotado com um
pobre e não treinado trabalho, enquanto outro país for bafejado com um grande e
produtivo stock de capital, então o primeiro terá uma vantagem comparativa na
produção de produtos que requerem trabalho intensivo, enquanto que o último terá
uma vantagem comparativa em produtos que exigem capital intensivo.
Isto tudo irá assim ditar a especialização na economia mundial e a direcção do comércio
internacional de diferentes produtos.
Desde o início da década 90, a economia mundial tem vindo a experimentar uma nova e
bem destacada fase do seu ciclo que podemos designar por boom económico (prosperidade
económica) devido fundamentalmente ao despontar de novas tecnologias de comunicação que
culminaram com o aparecimento da Internet5 ; esse boom já deu origem, na ciência económica, a
uma nova área ou actividade especializada que alguns autores chamam "neteconomia, uma
economia fundada sobre as qualidades intrínsecas da rede6 e focada sobre uma nova raça de
empreendimentos (Godeluck, S. in A explosão da economia na Internet).
3 Estes autores produziram um argumento que passou a ser chamado abreviadamente modelo H-O
4 Mais conhecido por E-commerce, do inglês Electronic Commerce
5 De origem americana, a Internet é um sistema de rede pública de comunicações que possiblita a troca
Ainda segundo Godeluck, no dia 9 de Agosto de 1995 nasce uma nova empresa com
características diferentes das habituais. Chama-se Netscape Communications, a nova estrela do
Silicon Valley7que vende o já bem conhecio Navigator que é um software de navegação
(browser) que, com um simples "apontar e clique" do rato, permite que um indivíduo situado em
qualquer parte do mundo, desde o oriente mais longíquo até a parte mais extrema do ocidente, do
pólo norte ao pólo sul, se oriente fácilmente na chamada Web, estabelecendo contacto com
qualquer daqueles intervenientes do comércio já estudados, bastando para o efeito conhecer bem
o endereço electrónico (website ) da pessoa ou instituição que se pretende contactar.
É com a Netscape que surgem os primeiros passos de uma economia de rede que liga
virtualmente todos os intervenientes e organismos dinamizadores da actividade económica que
vimos nos capítulos III e V.
Como qualquer nova descoberta, no início apresenta algumas dificuldades e insuficiências
do ponto de vista prático. Assim, entre outros inconvenientes, aponta-se à neteconomia o facto de
ainda ser preciso conhecer bem o uso do software apropriado, embora na perspectiva do
utilizador, sendo por vezes necessário solicitar a intervenção de especialistas ou entendidos de
informática para usar ou desenvolver aplicações com grande eficiência e rapidez.
Tom Lambert, no seu livro "E-commerce answers, how to turn your website into a money
machine", anota com certo amargor que "uma das maiores queixas a respeito de fazer negócios
ou tentar fazer negócios em rede é que torna-se muitas vezes bastante difícil colocar uma
encomenda. De acordo com uma investigação muito divulgada, mais de 80% de potenciais
clientes abandonam o site (endereço), e nunca mais voltam, porque não conseguiram colocar a
ecomenda que pretendiam; e também acontece que mesmo depois dos bens terem sido pagos, os
serviços de entrega ao domicílio falham por completo".
É comum na literatura da especialidade dizer-se que no futuro os computadores do tipo lap
top ou desk top8 tem tendência a ser mais virtuais (o cliente visualizará os bens em três
dimensões, com todo o formato e colorido, tal como se estivesse na loja real); os aparelhos vão
ser muito mais baratos, mais rápidos, mais compactados em termos de volume e peso, e até
poderão ser comandados pela voz humana.
Até agora estivémos a falar de neteconomia; mas vimos logo por alturas da introdução
deste livro, e mesmo à medida que íamos introduzindo a neteconomia, notámos que é difícil
estabelecer as fronteiras entre economia e comércio. Falemos agora as novas categorias de E-
business e E-commerce, objectos desta secção.
Por negócio electrónico (E-business) designa-se a actividade de negócios que se realiza
com uso de tecnologias de informação via multi-rede (computador-video-Internet). De passagem
diremos que o termo negócio usa-se muitas vezes com o sinónimo de comércio. No entanto
7Zona de Nova York de maior concentração de indústrias de muito alta tecnologia de ponta
8Designações que significam respectivamente "computador portátil" e "computador de mesa de
secretária"
pode-se considerar a actividade de negócio como sendo mais abrangente que a comercial strictu
sensu (troca de bens e serviços).
Com efeito quando se fala em "fazer negócios"9 significa estar-se envolvido num conjunto
de ocupações que podem ir desde a produção (extracção e/ou transformação), comercialização
(compra, venda, marketing e distribuição) e prestação de serviços aos consumidores (v.g.
serviços pós-venda do tipo garantia e manutenção).
Voltando a citar Lambert, "a razão de ser de se estar na web do comércio electrónico é
aumentar os negócios mobilizando as pessoas a visitar o seu site (endereço); permanecer lá o
tempo suficiente a contemplar o que realmente gostam; completar uma compra; ficar encantado e
voltar a comprar vezes sem conta. Tudo o que for menos do que isto equivale a ter um elefante
branco electrónico !…………."
Vejamos agora o que se entende por comércio electrónico, tema central da presene secção.
Do que foi dito em relação à neteconomia e negócio electrónico, verificamos que não é fácil
apresentar uma definição que resista a críticas. Eis algumas:
Kalakota, R. e Whinston, A. in Electronic commerce, a manager´s Guide, apresenta
diferentes perpectivas de análise: ponto de vista de comunicações; perspectiva de processo de
negócios; ângulo de serviços e por último perspectiva de rede (online). Vamos reter apenas as
definições nas perspectivas de negócios e de rede:
Do ponto de vista de negócios, o comércio electrónico é a aplicação da tecnologia através
da automação das transacções de negócios e fluxos de trabalho.
Quanto à perspectiva de rede, o comércio electrónico proporciona a capacidade de comprar
e vender produtos e informação na Internet e outros serviços online.
Por sua vez os autores Silva, M. et al (in Comércio Electrónico na Internet ) caracterizam
duas definições: uma fraca e outra fraca. Definição fraca: Qualquer sistema tecnológico e
económico que potencie ou facilite a actividade comercial de um conjunto variado de
participantes através de mecanismos electrónicos.
Definição forte: Qualquer sistema tecnológico e económico que potencie ou facilite a
actividade comercial de um conjunto variado de participantes e que inclua o suporte à
generalidade das próprias transacções comerciais.
Assim como o comércio clássico tem os seus elementos de força que foram estudados sob a
rubrica "máquina comercial e principais intervenientes" (Capítulo III) assim também o comércio
electrónico tem forças ou vectores que canalizam os fluxos de actividade. Kalakota e Whinston
identificam essas forças as saber: as económicas (v.g. empresas que procuram neste tipo de
comércio uma maior eficiência), as forças do marketing e de interacção dos clientes (são novos
canais de marketing para abranger maiores segmentos de mercado, com destaque para as
9 Doing business
1. Comércio interno
É o que se realiza entre as pessoas singulares ou colectivas de um país com as mercadorias
e serviços existentes nesse mesmo país.
2. Comércio externo
É o que se realiza entre pessoas singulares ou colectivas de um país e as de outros países
utilizando as suas respectivas mercadorias ou serviços.
Ao nível do comércio externo é costume considerar as seguintes categorias:
a) Importação normal10
É a entrada num país de mercadorias provenientes de outros países que se destina ao
consumo dos habitantes do país importador.
Se as mercadorias importadas se destinam por sua vez ao comércio com outros países,
trata-se de importação temporária ou em trânsito.
c) Exportação normal12
É a saída de mercadorias nacionais ou mesmo nacionalizadas para países estrangeiros.
Ao nível da exportação há a considerar a categoria de exportação triangular, pela qual um
país importa mercadorias de um certo país para em seguida exportá-las para um terceiro país.
Normalmente este comércio é feito quando o país exportador se encontra em dificuldades
conjunturais de produção e necessita de mercadorias para satisfazer compromissos (quotas de
exportação) que assumiu com terceiros países; então importa as mercadorias de que necessita e
exporta-as em geral a um preço mais alto.
d) Exportação Temporária
Em certos casos as autoridades que controlam o comércio externo autorizam que certas
mercadorias sejam exportadas com a condição de regressarem ao país de origem findo o prazo
concedido. É normal essas mercadorias pagarem um depósito em dinheiro às autoridades
alfandegárias o qual é restituido aos interessados logo que as mercadorias regressem ao país. Em
vez de dinheiro pode-se apresentar uma garantia bancária ou autorização especial de alguma
autoridade competente de controlo do comércio externo.
Exemplo de mercadorias sujeitas ao regime de exportação temporária: produtos para
exposição em feiras internacionais, quadros, esculturas também para exposição no exterior.
e) Reimportação
É o retorno ao país de mercadorias exportadas temporáriamente.
Nestas operações é normal haver fraudes (v.g. troca por mercadorias similares). Compete às
autoridades alfandegárias criar mecanismos de controlo e verificação das quantidades,
características e qualidades dos produtos envolvidos nas operações de exportação temporária.
f) Reexportação
A figura de reexportação dá-se quando há uma saída para o estrangeiro de produtos vindos
de um outro país não para consumo interno do reexportador.
Esta figura verifica-se portanto quando um determinado país ( Moçambique por exemplo)
vende a um outro (seja o Zimbabwe) mercadorias que importou de um terceiro país (por exemplo
a Swazilândia).
Em regra as mercadorias em regime de reexportação não pagam direitos aduaneiros; o país
que faz a reexportação beneficia dos lucros resultantes da diferença de preços
(exportação/importação) e de receitas de tráfego, armazenagem e manuseamento de cargas.
Veja-se a definição de exportação triangular que apresentamos na alínea c).
12 Ou exportação definitiva.
g) Baldeação
Dá-se o nome de baldeação ao transbordo de todo ou parte de carga de um navio para o
outro dentro das águas territoriais do país.
Normalmente as alfândegas não cobram direitos aduaneiros em relação às mercadorias
sujeitas a baldeação.
h) Comércio especial
É uma classificação meramente para efeitos estatísticos. Diz-se comércio especial a toda a
importação para consumo ou em regime de draubaque ou ainda às mercadorias que estando em
regime de armazém sofreram alguma transformação; também inclui-se no comércio especial toda
a exportação de mercadorias nacionais ou nacionalizadas, quer por terem sido despachadas para
o consumo, quer por terem sofrido transformação em regime de draubaque ou de armazém.
i) Comércio geral
O comércio geral inclui o comércio especial mais o comércio de trânsito indirecto.
Interessa destacar que o trânsito indirecto abrange todas as mercadorias que entram no país
apenas para serem exportadas sem serem submetidas a operações de transformação física ou
química (admite-se o mínimo de manipulações como sejam de empacotagem, pequenas misturas,
aposição de rótulos).
Nota prévia: O texto desta secção ainda está na sua forma embrionária. Trata-
se de apontamentos extraídos de várias fontes; daí a sua extensão, densidade e alguma
falta de sequência temática. Durante as aulas será feito um resumo sobre o tema.
Assim o ratio do preço médio das exportações com o preço médio das
importações de um país é mais conhecido como termos de troca dos produtos ou,
usando a terminologia originária inglesa, o net barter terms of trade (NBTT) do país
em causa.
Diz-se que os termos de troca de um país melhoram quando o seu rácio
aumenta e que pioram quando diminue, isto é, quando os preços das importações
aumentam a uma velocidade relativamente mais rápida que os preços das exportações
(isto parece ser a experiência da maioria dos LDCs nas décadas recentes até aos anos
60).
Daí a grande preocupação que existe sobre os termos de troca entre o centro e
a periferia que ainda são vistos como tendo movido contra as periferias dado que os
preços dos produtos primários continuam a cair em relação aos preços das
manufacturas.
Convém notar de passagem que também é usual utilizar um indicador com
algumas semelhanças, que é o chamado coeficiente de cobertura das importações -
rácio entre o valor das exportações e o das importações. Em geral nos países menos
desenvolvidos e com forte endividamento, esse rácio é menor do que a unidade15 e
tem tendência de diminuir ou quando muito mostra uma certa estabilização por
13 Esta lei diz que as famílias pobres gastam proporcionalmente maior percentagem do rendimento em
necessidades básicas (v.g. alimentação, vestuário, habitação); `a medida que o rendimento aumenta, as
despesas com outras rubricas complementares vai crescendo (v.g. carne, queijo, transporte privativo,
viagens de férias, TV/Video, música). Lógicamente as despesas em necessidades primárias vão
diminuindo proporcionalmente mais com o crescimento do rendimento.
14 Diz-se que um bem X tem procura elástica em relação ao preço quando as quantidades procuradas
desse bem sofrem uma variação mais do que proporcional em resposta a uma alteração do seu preço
15 Significa que as receitas de exportação não chegam para pagar as importações
Não vamos aqui dar uma resposta detalhada pois os alunos estudarão esta questão em
disciplinas especializadas como sejam Economia Política e Planificação. Aliás nos pontos
anteriores, em particular o ponto 2.4, fizemos alusão aos princípios fundamentais que explicam a
lógica de economias socialistas e de economias do tipo capitalista.
Assim, observando a nossa própria experiência de organização da sociedade, diremos que
em países socialistas existe um plano económico central que dá orientações de cumprimento na
área de comércio em termos de acções, tarefas, e prazos. Então os bens e serviços que irão ser
objecto de comércio nos mercados locais, regionais, provinciais estão perfeitamente
determinados. O próprio plano realiza a coordenação e controlo por forma a introduzir
ajustamentos e correcções onde se revelar necessário. A procura e a oferta não são categorias
espontâneas cujo mecanismo garante a manutenção das relações e proporções do comércio.
Como também deixámos implícito, nem todos os bens comercializáveis estão planificados.
Há os que estão sujeitos ao mecanismo dos preços e de mercado espontâneo.
Temos assim resumidos os fundamentos teóricos que determinam que no mercado
socialista haja num dado momento X1 quantidades do bem A, X2 quantidades do bem B, etc. aos
preços P1, P2 ……. respectivamente.
reconverter as suas fábricas para passarem a produzir sumos da nova marca mais procurada no
mercado.
Vemos assim que pelo simples jogo das forças e mecanismos de mercado a oferta agora
aumentou de tal maneira que no decurso dos acontecimentos poder-se-á chegar a um momento
em que há um excesso da oferta em relação à procura (isto é, a procura de sumos é menor do que
a respectiva oferta).
Neste caso a prática de mercado também ensina que os preços tem tendência a diminuir. Os
empresários diminuem os preços para poderem vender maiores quantidades e garantir os lucros
que tinham previsto nos seus planos.
E assim vemos que é o mercado, com sua lei espontânea da oferta e procura, que determina
e orienta o que se deve produzir, onde se coloca a produção, em que quantidades e a que preços.
É útil saber figurar num eixo de coordenadas cartesianas as curvas da oferta e da procura para
podermos compreender melhor as respectivas leis.
Comecemos pela procura. Nós sabemos por experiência própria que a um determinado
preço vigente, por exemplo no mercado de hortícolas, estamos dispostos a comprar X
quantidades; quando os produtos ficam mais caros os compradores adquirem menores
quantidades (a procura diminui); por outro lado quando há uma redução de preços, a reacção
natural das pessoas é passarem a comprar mais hortícolas. Então em economia diz-se que a
procura é uma função do preço (depende do preço); a maneira como ela se relaciona com o
preço, ou dito doutro modo, o andamento da função procura é decrescente, no sentido de que
para preços altos a procura diminui, e para preços baixos ela aumenta.
É assim a LEI DA PROCURA que tem as suas excepções que não vamos aqui analisar.
Representando as quantidades em abcissas e os preços em ordenadas tem-se o seguinte
gráfico:
p Procura
p1
p2
p3
p4
q1 q2 q3 q4 q
Vejamos em seguida alguma coisa sobre LEI DA OFERTA. Por definição, oferta é a
quantidade de produtos que os vendedores colocam no mercado a um determinado preço.
Portanto estamos agora na posição contrária (de vendedor). Também sabemos da prática que, no
mercado, os vendedores reagem conforme os preços: a um preço alto colocam mais produtos; se
os preços baixam eles estão dispostos a vender menores quantidades. Então diz-se em linguagem
económica que a curva da oferta ou a função oferta tem inclinação positiva (ou crescente) no
sentido de que quanto mais altos forem os preços maiores são as quantidades oferecidas pelos
vendedores.
Do mesmo modo que há bocado, figurando num eixo cartesiano as quantidades em abcissas
e os preços em ordenadas tem-se a seguinte representação gráfica:
p1
p2
p3
p4
p Procura Oferta
GRÁFICO Nº 3
p1
E
pm
p2
E'
p'm
q'm q
NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE COMÉRCIO - 2ª Edição (Rascunho)
Mais estritamente, em muitos países, a ideia de mercado está associada ao lugar onde se
vendem comestíveis e outros géneros. Nas escolas comerciais apresenta-se o seguinte conceito,
extraído do livro de Noções de Comércio de A. Filomeno Lourenço:
"Os locais certos onde em dias e a horas fixas se vendem ao público géneros vindos de fora
que se têm, em regra, de consumir frescos ou em bom estado de conservação são conhecidos por
mercados ou praças.
Os mercados funcionam todos os dias, a horas regulamentares, nas cidades, e nas
localidades menos populosas, três, duas ou uma vez por semana, consoante a importância de
cada uma.
Os recintos em que se estabelece os mercados, os grandes centros populacionais são
cobertos e possuem instalações adequadas; nas terras pequenas, são descobertos.
A organização dos mercados, a fixação do aluguer do lugar de cada vendedor, bem assim a
fiscalização que neles se exercem cabem às câmaras municipais. Mas estas, por vezes, concedem
às sociedades comerciais, mediante certas condições, o privilégio da exploração". Fim de citação.
É nestes mercados onde as leis da oferta e da procura realizam melhor o papel de auto-
regulador dos preços. Daí que em linguagem económica os países capitalistas também sejam
designados por países de economia de mercado.
Mas não fiquemos limitados, associando a noção de mercado com lugar de venda de
frescos (v.g. mercado da Baixa, mercado de Xipamanine em Maputo, mercado de Maquinino na
Beira e mercado de Brandão em Quelimane). Mercado para nós é um conceito muito mais amplo,
conforme o definimos no início deste ponto. Repare-se por sinal que modernamente até o
requisito "espaço geográfico" já não constitui requisito sine qua non (veja-se o mundo financeiro
como funciona através de comunicações intercomputadores via INTERNET).
No estudo sintético que acabámos de fazer àcerca de mercado vimos que há dois grandes
sistemas de organização económica que andam íntimamente associados ao socialismo e
capitalismo. Em cada um deles os mercados têm características específicas e os preços formam-
se de acordo com leis que constituem o fundamento básico do funcionamento dos próprios
sistemas políticos.
2. Mapa resumo
GRÁFICO nº 5
b) Concorrência imperfeita
A chamada concorrência imperfeita corresponde a situações mais realistas. Há vários tipos
dos quais destacamos os seguintes:
• Monopólio bilateral
Um só comprador e um só vendedor. Acontece muito poucas vezes e dá-se quando no
mercado há um só vendedor a lançar um determinado produto e por outro lado um só comprador
a "disputar" o referido produto. Suponhamos o caso mais simples de idealizar de um único
construtor de uma cidade a fazer pontes aéreas sobre estradas para o Estado. Há um monopólio
na procura (o Estado) e na oferta (o construtor).
• Monopólio
É o termo mais conhecido e designa aquelas situações em que uma única empresa
vendedora domina o mercado que é constituído por um grande número de empresas e pessoas
compradoras; portanto do lado da oferta, uma só unidade e do lado da procura, um sem número
de unidades.
Na prática os monopólios puros são muito raros. Mais frequentes são os casos de
fornecimentos de bens e serviços públicos por parte do Estado. Como exemplos em muitos
países tem-se os caso de água, luz, telefones correios, transportes públicos, prisões, parques e
jardins públicos.
• Monopsónio
É uma situação inversa da do monopólio e que se traduz por existir um único comprador
que se defronta no mercado com uma pluralidade de vendedores.
É o exemplo adaptado do construtor de pontes; no monopsónio há vários construtores
(oferta) e um só utilizador, o Estado (procura).
• Oligopólio
A característica essencial é existir um pequeno grupo de vendedores a dominar o mercado
onde há uma procura atomística, isto é, um grande número de compradores sem poder ou
capacidade de exercer qualquer tipo de influência.
CAPITULO III
A MÁQUINA COMERCIAL E PRINCIPAIS INTERVENIENTES
Destacamos o presente capítulo, "A Máquina Comercial e Principais Intervenientes", apenas para
dar ênfase às formas básicas de organização comercial e aos principais agentes que mais
intervém nas actividades correntes de comércio.
Os capítulos seguintes, em particular o , IV, V, VIII e IX, tratam de estruturas e formas de
intervenção de tal maneira sui generis no comércio (v.g. Bancos, Seguros, Alfândegas, Bolsas)
que entendemos que merecem um destaque especial.
Por máquina comercial consideramos todos os organismos, estruturas e meios de que um
sistema económico necessita para que o comércio realize a sua função económica fundamental.
Os intervenientes do comércio são os agentes que têm o papel de, no quadro da máquina
comercial existente, agir e dinamizar a actividade mercantil quer a nível interno quer no âmbito
das relações económicas internacionais.
Como veremos nos pontos seguintes, numa região ou território comercial formado por
países que se interelacionam no contexto de programas de cooperação bilateral ou multilateral ou
ainda dentro de um esquema mais vasto de integração e globalização económica, uma máquina
comercial é essencialmente constituída por dois grandes grupos de unidades:
-As empresas em geral e
-Os organismos de controlo, dinamização e e coordenação económica.
A importância da máquina comercial e dos métodos e mecanismos que imprimem um
maior dinamismo à actividade comercial podem ser bem entendidos através da seguinte
afirmação de Lenine:
"O desenvolvimento do comércio, posto ao serviço do socialismo, e o aperfeiçoamento dos
seus métodos constituem uma das condições necessárias à construção do comunismo".
Encontraremos até ao final deste capítulo vários exemplos de unidades importantes que existem
em qualquer sistema económico.
Nas secções seguintes trataremos sucessivamente da seguintes figuras:
• COMERCIANTE EM NOME INDIVIDUAL
• EMPRESÁRIO
• COOPERATIVAS
• LOJAS DO POVO, EMPRESAS ESTATAIS e EMPRESAS PÚBLICAS
• SOCIEDADES COMERCIAIS CLÁSSICAS
a) SOCIEDADES EM NOME COLECTIVO
b) SOCIEDADES EM COMANDITA
c) SOCIEDADES ANÓNIMAS
d) SOCIEDADES POR QUOTAS
• SOCIEDADES MODERNAS
a) PARTICIPAÇÕES FINANCEIRAS
b) CONSÓRCIOS
c) JOINT-VENTURES
d) TRUSTS
e) Empresas HOLDINGS
f) RINGER ou CORNER
g) POOLS
h) SINDICATOS
A lei do comércio privado, no seu artigo 13, dá a resposta directa à pergunta há pouco
colocada. Assim,
"Podem ser comerciantes em nome individual as pessoas residentes nacionais ou
estrangeiras, que:
a) Tenham a maioridade legal;
b) Não tenham sido condenados judicialmente pela prática de crimes dolosos em pena
superior a 2 anos de prisão maior;
c) Possuam a capacidade financeira necessária à prossecução da actividade comercial, a
determinar pela entidade licenciadora".
Vejamos em seguida quem não pode ser comerciante em nome individual. Responde ainda
a lei do comércio privado através do artigo 7 que trata das incapacidades.
"1. É interdito o exercício da actividade comercial, a título privado, a todo o indivíduo que
exerce funções em regime de exclusividade, em qualquer organismo do Aparelho de Estado,
unidades económicas e sociais subordindas e empresas estatais;
2. Esta interdição abrange o cônjuge dos dirigentes e quadros de direcção do Aparelho de
Estado, unidades económicas e sociais subordinadas e empresas estatais.
3. A interdição não se aplica aos trabalhadores que não exerçam funções de direcção no
Aparelho de Estado, unidades económicas e sociais subordinadas e empresas estatais, no que
respeita à venda de produção doméstica resultante de trabalho próprio e seus familiares directos".
Reparando bem, as interdições indicadas abrangem apenas:
a) Trabalhadores do Aparelho do Estado
b) Trabalhadores das empresas estatais
c) Quadros dirigentes
A lei específica ainda que, com excepção dos quadros dirigentes, todos os outros
trabalhadores podem vender a sua produção doméstica mas deve ficar claro que, por definição do
comerciante, é necessário que essa venda não se transforme na profissão habitual e fundamental
do trabalhador.
Estudando o Código Comercial vigente em Moçambique, podemos completar as
interdições dizendo que a profissão do comércio é também proibida:
a) A todas as sssociações ou unidades sociais que não tenham objectivos comerciais;
b) Aos que tenham cometidos crimes puníveis pela lei.
Para terminar este ponto vejamos qual o papel do comerciante em nome individual. Muito
do que haveria a dizer já foi referido na parte introdutória destas lições.
No nosso país há muitos sectores da actividade económica em que a circulação de
mercadorias pode ser garantida com eficiência pelos comerciantes em nome individual. Até ao
Do livro "A Economia em vinte e quatro lições - Uma iniciação para gestores" de Mário
Murteira, extraimos com a devida vénia o seguinte:
"Num livro escrito em 1911 - Teoria do Desenvolvimento Económico - o então jovem
Schumpeter caracterizou o capitalismo como um sistema económico essencialmente dinâmico,
auto-adaptativo, gerador do que chamou "processo de destruição criadora". Este processo é
endógeno, vem de "dentro" do capitalismo e, assim, não resulta de factores exógenos, actuando
de "fora" do próprio sistema, embora tais factores possam acelerar ou travar o processo (guerras,
descobertas científicas, mudanças nos valores sociais, etc.). Nesse processo endógeno de
desenvolvimento do capitalismo, a grande personagem é o empresário (entrepreneur termo
diferente de manager, que em português teria como melhor equivalente a palavra empreendedor)
capaz de inovar; inovar, para Schumpeter, é lançar produtos novos ou novas técnicas para
produzir bens já existentes, é conquistar novas fontes de matérias primas ou novos mercados ou,
ainda, novas formas de organização desses mercados.
Compreende-se que, nesta perspectiva, o mercado só é factor de desenvolvimento (do
capitalismo) porque fornece o contexto aberto à energia empresarial. Ou seja: o mercado é o
meio ambiente que propicia o acto criador do empresário schumpeteriano, logo, a inovação.
Oitenta anos mais tarde, que valem estas intuições de Schumpeter?
Há aqui três categorias analíticas que, embora hoje assumidas em moldes algo diferentes, se
revelam de grande actualidade:
- O empresário como agente inovador.
- A inovação como elemento essencial do desenvolvimento do capitalismo.
- A concorrência como processo incessante de competição e cooperação entre agentes
económicos que se manifestam de várias formas, não apenas em termos de
quantidades e preços de produtos dados, mas também de lançamento de novos
produtos, processos, técnicas, formas de organização, etc.
………………………………………………………………………………………………
………………
"Convém notar que o empresário não é (necessáriamente) nem o gestor (manager) nem o
proprietário dos meios de produção. O empresário é a pessoa ou a entidade responsável pela
estratégia da empresa, isto é, pela direcção do desenvolvimento da empresa. Considerando que a
empresa se situa perante um contexto envolvente, o empresário estabelece a relação com esse
contexto mais propícia ao desenvolvimento da sua actividade, do seu negócio. O gestor é o
profissional técnicamente habilitado para se ocupar de aspectos específicos do funcionamento da
empresa: contabilidade e finanças, marketing, produção, pessoal, etc. O proprietário contrata,
elege ou escolhe o empresário ou o gestor, mas não tem de ser uma ou outra coisa (embora, claro,
possa acumular essas funções, sobretudo numa pequena ou média empresa - PME). Isto significa,
por exemplo, que uma empresa pública - propriedade do Estado - pode contratar um empresário
privado para gerir a actividade. Neste sentido, o empresário não tem de ser um técnico de gestão,
embora seja conveniente conhecer algo dessas técnicas. O que além do mais significa que o bom
empresário não resulta tanto do estudo da gestão como da sua prática bem sucedida, fruto de
qualidades pessoais específicas", fim de citação.
Face à transcrição vejamos alguns aspectos do empresariado emergente em Moçambique,
ou Moçambicano.
Constitue pensamento dominante ou pelo menos sonante na inteligentsia económica de
Moçambique a ideia de que é o empresário Moçambicano que é capaz de impulsionar e gerar o
desenvolvimento económico em Moçambique, práticamente em total substituição da concepção
que prevaleceu até aos Acordos de Paz de 1992, em que eram a empresa estatal e a cooperativa
as instituições capazes de criar acumulação necessária ao crescimento e desenvolvimento. É
assim que se verifica uma “corrida” para a constituição de sociedades em que o Moçambicano é
o elemento obrigatório como parte social.
Em regra, e quase se pode afirmar que na totalidade dos casos, o parceiro Moçambicano é
como que uma espécie de pivot para que o real investidor estrangeiro tenha acesso aos centros de
decisão. O nacional aparece com a parte menor do capital (é sócio minoritário); raras vezes
ultrapassa os 5%; só o Estado Moçambicano é que atinge valores da ordem dos 50% ou mais
pela simples razão de ter sido o proprietário exclusivo das empresas estatais ou quando o Estado
exige que 20% do capital se destine aos trabalhadores das empresas estatais em transformação.
Por outro lado, este empresário mete-se em mil uma coisas, actividades e empresas como
sócio, quadro superior ou director, na mira de acumular fontes de rendimento para "sobreviver",
ter uma vida estável ou beneficiar de alguns luxos, o que torna ainda mais difícil a realização da
veradeira função de empresário..
Algumas limitações e constragimentos deste processo. O empresário Moçambicano é mais
proprietário, sócio e/ou gestor do que aquele empreendedor e criativo concebido por
Schumpeter. Ele não tem poder económico, quer porque é minoritário na “sua” empresa quer por
ter reduzida credibilidade nos meios financeiros nacionais e internacionais.
Os custos de oportunidade do empresário típico Moçambicano (v.g. o seu salário, o seu
carro pessoal, as despesas de representação, as viagens) não são devidamente contabilizados na
empresa; são pelo contrário ainda mais agravados pela vida de ostentação que patenteia à custa
da descapitalização da empresa, reduzindo ainda mais as potencialidades de crédito na banca.
Talvez se argumente que podemos criar um novo tipo de empresário polivalente com
matizes moçambicanas (v.g. proprietário, gestor e quadro). Então como à partida não tem meios
mínimos, é o Estado que deve intervir para criar o tal empresário “rico” com poder económico e
capacidade inovativa e capaz de induzir, de forma multiplicativa, o investimento sensível à
escala nacional.
Para isso urge criar uma espécie de Lei do Empresário Moçambicano apoiada por um fundo
ad hoc com regras e áreas de actuação bem determinadas, em que por exemplo a agro-indústria-
pecuária teriam prioridade absoluta e os serviços de pura intermediação seriam secundarizados.
Um processo e mecanismo deste tipo, que até por sinal nem são originários, deveriam ser
precidos de debate à escala nacional pois que, dado já ser bastante tarde a sua introdução,
levantaria problemas éticos do tipo “será que é tarefa do Estado produzir gente muito rica numa
sociedade camponesa como a nossa?”. Por outro lado já se interroga mesmo se a economia de
mercado é a via mais correcta de resolver os problemas fundamentais dos Moçambicanos.
Enquanto isso há que fazer mais qualquer coisa que dê substância e fundamento ao modelo
de desenvolvimento actualmente em voga.
Artigo 2. "As cooperativas tem por objecto prosseguir uma actividade económica e
desenvolver acções de ajuda mútua entre os respectivos membros, destinadas a promover o seu
bem estar material, social e cultural.
As cooperativas contribuem para o fortalecimento da aliança operário-camponesa, para a
construção do Socialismo e para a luta do Povo Moçambicano contra todas as formas de
exploração do homem pelo homem".
Os tipos de cooperativas que podem constituir-se na República de Moçambique encontram-
se indicados no artigo 5 da referida lei que passamos a transcrever:
"1. Poderão constituir-se os seguintes tipos de cooperativas.
a) De produção agrária;
b) De produção pesqueira;
c) De produção industrial;
d) De produção artesanal;
e) De consumo;
f) Habitacionais;
g) De prestação de serviços.
2. O objecto económico dos diversos tipos de cooperativas será definido nos respectivos
Estatutos-Tipo.
3. Poderão constituir-se cooperativas de tipos dos mencionados no número 1 deste artigo
mediante a aprovação do respectivo Estatuto-Tipo".
Até finais dos anos 80 e inícios da década 90, as cooperativas desempenharam um papel
vital na vida do povo Moçambicano porque elas e as empresas estatais constituiam a forma
principal de organização da vida económica da nossa sociedade. A experiência de organização
cooperativa surgiu e desenvolveu-se bastante durante a luta de libertação nacional, precisamente
nas zonas libertadas, onde as formas de organização impostas pelo colonizador foram destruídas
para dar lugar ao novo processo de vida económica que veio a constituír exemplo e alavanca
impulsionadora do movimento cooperativo lançado após a proclamação da Independência
Nacional.
Dentre os tipos de cooperativas previstos na nossa lei as cooperativas de prestação de
serviço e muito particularmente as cooperaticas de consumo foram a arma fundamental do povo
que se acreditava iria introduzir uma dinâmica e conteúdo novo na circulação de mercadorias.
A explicação é simples. Com efeito a socialização do campo e organização da população
das cidades em moldes cooperativos na área da distribuição dos produtos assegurava que os
canais mais importantes da circulação da mercadorias estivessem nas mãos do povo, permitindo
assim uma melhor defesa e consolidação dos interesses da maioria da população moçambicana.
Nós conhecemos bem da história de Moçambique e da história de muitas civilizações que o
comércio está na origem de grandes saltos de desenvolvimento, de conflitos, de invasões, de
fenómenos de colonização, de guerras e de profundas transformações políticas, económicas e
sociais.
A actividade do comércio em qualquer sociedade deve por isso estar nas mãos de quem
exerce o poder. No caso de Moçambique entendia-se que o comércio devia ser conduzido por
operários e camponeses.
Desde o primeiros anos da dédcada de 90 tem-se verificado uma diminuição da importância
da forma cooperativa de organização económica em que a tónica dos jargões “propriedade
colectiva”, “trabalhadores”, “camponeses”, “sem exploração do homem”, "ajuda mútua", "povo",
"sem intuitos lucrativos" tende a desaparecer a favor do "empresário rico”, “propriedade
individual”, “lucrativo”, "competição", "indivíduo".
De notar que S. Exa. O Presidente da República na cerimónia de graduação de bacharéis do
Instituto Superior Politécnico Universitário, no dia 16 de Setembro de 2000, lançou um desafio
às universidades para investigarem se a inversão de marcha que fizémos para o regime de
economia de mercado é a que melhor corresponde aos anseios dos Moçambicanos tendo em vista
a solução dos seus problemas fundamentais. Significa que estamos no limiar de um novo ciclo
que terá efeitos práticos e teóricos.
Finalmente deve notar-se que a forma de organização económica em moldes cooperativos
não é exclusiva dos sistemas de planificação central (socialista) e nem têm a paternidade da sua
criação. Em muitos países de economia de mercado (capitalistas), donde aliás as cooperativas são
originárias, adopta-se este modelo organizacional por um lado sempre que os associados têm
como preocupação a simples mútua ajuda ou a protecção mútua dos seus interesses e por outro
lado quando os objectivos últimos da organização não são de puro lucro pelo lucro. No
Moçambique colonizado existiram muitas cooperativas , v.g. a muito conhecida COOP -
cooperativa da construção habitacional que até tinha uma ramificação bancária e uma livraria.
Por outro lado, há pouco mais de 5 anos, foi instituida e existe a funcionar em pleno um banco
cooperativo.
3.5. As Lojas do Povo, as empresas estatais, as empresas públicas e seu papel no comércio
Falemos agora um pouco sobre as empresas públicas que em Moçambique constituem uma
novidade, mas que em muitos paises já existem há muitos anos.
A lei nº 17/91, de 3 de Agosto define e regulamenta uma nova figura de unidade
económuica – a empresa pública. No seu artigo 1º (objectivos) diz:
“As empresas públicas criadas pelo Estado, com capitais próprios ou fornecidos por outras
entidades públicas, realizam a sua actividade no quadro dos objectivos sócio-económicos do
mesmo”.
Confrontando empresas estatais com empresas públicas nota-se o seguinte:
▪ Alteração de jargões cujos exemplos démos a propósito de cooperativas
▪ A figura de director geral da empresa estatal foi substituida na empresa pública pelo
Conselho de Administração, um órgão colegial dirigido por um Presidente, mais
conhecido pela sigla PCA (Presidente do Conselho de Administração)
▪ A subordinação directa e funcional ao órgão central do Estado que criou a empresa estatal
também desaparece em favor da autonomia administrativa, financeira e patrimonial
atribuida ás empresas públicas
▪ A preocupação ideológica e política de natureza socialista (elevação do nível técnico,
científico e cultural dos trabalhadores, participação destes na gestão da empresa,
organização e gestão planificada e centralizada) são substituidos na empresa pública por
motivações lucrativas e de mercado.
Por ter interesse formativo e pedagógico transcreve-se o preâmbulo da lei das empresa
públicas.
“A Lei nº 2/81, de 30 de Setembro, estabeleceu as regras de organização e funcionamento
das empresas estatais.
A filosofia subjacente aos princípios consignados na referida lei, por força de um
circunstancionalismo económico-finananceiro recente, designadamente o Programa de
Reabilitação Económica, demonstra que o regime jurídico aplicável às empresas estatais, se
encontra sobremaneira ultrapassado.
Deste modo, necessário se mostra introduzir novos mecanismos jurídicos no sentido de
garantir uma cada vez maior eficiência e rentabilidade do sector empresarial público.
Simultâneamente, é de aproveitar a oportunidade para a designação de empresa estatal para
uma nova denominação que, para além do aspecto meramente formal, acarreta profunda alteração
na gestão das empresas dotadas de capital do Estado.
Nestes termos, ao abrigo do disposto no nº 1 do artigo 135 da Constituição da República, a
Assembleia da República determina:“. Fim de citação.
De notar que a figura de empresa pública é a forma de organização económica empresarial
de tipo estatal mais usada nos países ocidentais; só que entre nós a iniciativa de criação tem sido
até agora do Estado; lá fora não o é necessáriamente. Por exemlo na Inglaterra muitos bancos são
empresas públicas de iniciativa e capitais privados. Um dos maiores bancos ingleses chama-se
Barclays Bank, Plc; as iniciais vem de Public Limited Company que significa empresa pública
limitada.
b) Pela responsabilidade limitada dos sócios ao valor do capital social que faltar realizar, no
caso das quotas subscritas não estarem totalmente realizadas.
c) Pela responsabilidade limitada dos sócios ao valor das prestações suplementares que
forem exigíveis nos termos dos estatutos da sociedade.
Deve notar-se que nos tempos que correm as sociedades em comandita são as formas
menos usuais de constituição de sociedades comerciais. Em Moçambique não temos
conhecimento da existência de sociedades em comandita. As formas mais dominantes são as
sociedades anónimas, por quotas e em nome colectivo.
Tem grande interesse saber identificar rápidamente que tipo de sociedade se trata através de
simples leitura do nome da firma ou denominação social. Assim:
Quando os sócios são numerosos, normalmente mais do que 3, indica se o nome de alguns
(um, dois ou três) e acrescenta-se a expressão "& Companhia" ou abreviadamente "& Cia". Esta
expressão pode ser substituida por uma outra que dê a conhecer claramente que existem outros
sócios. Exemplos,
-Edgar & Companhia
-Manuel, Jacob & Cia.
-João Gomes & Filhos
-Gito, Irmão & Filhos
2. Sociedades em comandita
A firma das sociedades em comandita deve ter pelo menos o nome de um dos sócios de
responsabilidade ilimitada seguida de uma expressão ou palavra que indique claramente que se
trata de sociedade em comandita. Exemplos,
-Vasco, Fernandes & Barros, em comandita
-Hélder & Irmão, em Cta. 18
-Fonsecas & Cta.5
18 Abreviatura de comandita
5 Idem
3. Sociedades anónimas
A firma das sociedades anónimas deve consistir numa denominação social ou sigla
qualquer que dêm a conhecer sem equívocos o objecto da sociedade. Essa denominação ou sigla
deve ser seguida da expressão "Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada" ou, o que é
mais vulgar, da forma abreviada "S.A.R.L.". Exemplos:
-Entreposto Comercial de Moçambique, S.A.R.L.19
-Sociedade de Panificação, S.A.R.L.
-Peles e Curtumes, S.A.R.L.
-Companhia de Seguros ALFA, S.A.R.L.
-Empresa de Transportes Aéreos, S.A.R.L.
-Banco Standard Totta de Moçambique, S.A.R.L.6
5. Empresas estatais
A denominação destas empresas deve ser constituida por um nome, expressão ou sigla que
também dêm a conhecer claramente o objecto da empresa.
Tal denominação tem que ser precedida ou seguida das letras "E.E.", abreviatura de
"Empresa Estatal". Normalmente as letras "E.E." vêm imediatamente a seguir à denominação
como sucede com os seguintes exemplos:
-IMBEC, E.E.- Importadora de bens de consumo20
6. Empresas Públicas
O nome ou denominação das empresas públicas deve ser seguida das palavras "Empresa
Pública" ou das iniciais "E.P.". Exemplos:
- Companhia Siderúrgica de Moçambique, Empresa Pública22
- Transportes Aéreos de Meguzina, E.P.9
7. Cooperativas
Nos termos do nº 2 do artigo 3 da Lei das Cooperativas (Lei 9/79 de 10 de Julho),
"Cada cooperativa adoptará uma denominação particular, distinta das demais existentes da
província da respectiva sede".
Do que dissémos sobre outras formas societárias é evidente que a denominação adoptada
deve dar a conhecer, também claramente, o tipo de cooperativa. Exemplos23
-Cooperativa de Consumo da Macaneta
-Cooperativa Habitacional da Maxaquene
-Cooperativa Livreira de Mueda
-Cooperativa de Seguros da Malanga
-PESCOOGA, cooperativa de pesca da Manga
-AGROCOOP, cooperativa de produção agrária de Ribáue
7 Idem
7 Idem
21 Esta empresa resulta da biparticipação da 1ª empresa esatatal do comércio externo de
Moçambique - ENACOMO, Empresa Nacional de Comercialização que foi criada em 1975, dois
anos antes do decreto-lei nº 17/77 que define o estatuto tipo das empresas estatais. Conhecida
internacionalmente por ENACOMO decidiu-se manter a denominação original, designando-se a
outra empresa por IMBEC, E.E. que apresentamos como primeiro exemplo e que já foi extinta.
22 Nome fictício
9 Idem
23 Nomes fictícios
-Sapataria Timene
-Ouriversaria do Alto-Maé
-João Pedro, Transportes de Carga
-Alfaiataria Dominguês
-Mercearia Marcos Zicale
As sociedades que estudámos no ponto anterior são as mais conhecidas entre nós porque,
como frisámos então, são as mais antigas formas de constituição societária, foram os primeiros e
mais importantes modelos de sociedades comerciais estabelecidos e espalhados por todo o
território Moçambicano e são também os tipos mais estudados desde o ensino secundário em
particular nas escolas e Institutos Comerciais.
Todavia em muitos países, em especial do mundo ocidental, têm-se desenvolvido formas
diferentes de sociedades particularmente a partir dos anos 40; por isso preferimos incluir um
ponto especial com a designação de modernas formas societárias.
Com o nome de agrupamento (ou coligação) de sociedades e aquisições24 queremos referir
todo o tipo de associação entre sociedades juridicamente já constituidas ou simples aquisição de
partes sociais de uma outra sociedade.
Duma maneira geral o objectivo central destas coligações e aquisições é beneficiar das
economias de escala25 resultantes de grandes combinações de sociedades já existentes.
As operações e aquisições assumem formas mais variadas e normalmente levantam
problemas jurídicos, económicos e contabilísticos muitas vezes bastante complexos de tal
maneira que os diferentes países procuram resolvê-los através de uma legislação mais ou menos
rigorosa. Vejamos as formas mais usuais de agrupamento e aquisição:
a) Absorção e aquisição
Uma absorção dá-se quando uma sociedade integra uma ou mais unidades empresariais
mantendo-se apenas a personalidade jurídica da empresa integradora.
Várias razões podem levar a esta operação. Entre muitas destacamos:
-Necessidade de aumento do capital da empresa integradora
-Alargamento do mercado de vendas
-Dificuldades económicas e financeiras das empresas absorvidas
Quando se trata de simples aquisição de partes sociais de uma empresa, sem extinção
jurídica desta, estamos em presença de uma participação financeira de que trataremos a seguir.
A absorção pode ser horizontal, vertical ou mista. Dá-se a absorção horizontal quando a
coligação se processa entre duas ou mais empresas afins, isto é, que operam na mesma área de
produtos ou serviços. O efeito imediato é reduzir o número de empresas em competição no
mesmo tipo de produtos e consequentemente aumentar o grau de monopólio da empresa
integradora.
Este tipo de operação é em geral fortemente regulamentado (leis que regulam as
concentrações de empresas em defesa da concorrência); os pedidos de fusão ou absorção de
empresas estão sujeitos à análise e autorização prévias por partes das autoridades governamentais
que têm particular cuidado em impedir o desenvolvimento de práticas monopolísticas.
A absorção vertical tem lugar quando a coligação se processa entre empresas que actuam na
mesma área de produtos ou serviços mas em diferentes fases do ciclo produção-consumo.
Exemplo típico: uma empresa agro-industrial que produz açúcar decide absorver uma ou mais
empresas grossistas e retalhistas por forma a ser ela própria a fazer a distribuição e venda directa
ao público.
A absorção mista dá-se quando duas ou mais empresas que actuam em áreas diferentes (não
afins e nem competitivas) se juntam para formar uma só. Exemplos: uma açucareira que absorve
uma empresa de produção de lacticínios. Uma empresa especializada na produção de massas
alimentícias que absorve uma outra que se dedica à produção e venda de pão e produtos de
pastelaria, é um caso particular de absorção mista em que os produtos de ambas as empresas,
sendo diferentes, são no entanto complementares.
b) Participações financeiras
casos em que as sociedades que detêm participações financeiras de determinado vulto acabam
por exercer um domínio total ou parcial nas empresas em que participam; daí que também haja
legislações que procuram restringir o domínio dessas empresas estabelecendo condições e limites
de participação.
Para realizar determinados objectivos que uma sociedade por si só não tem capacidade
financeira para o fazer, hoje em dia estão em voga agrupamentos de empresas que visam angariar
recursos financeiros, e algumas vezes até gerí-los com o fim de os aplicar em empreendimentos
específicos.
Estes agrupamentos ou são ad-hoc (realizados os fins por que se constituiram extinguem-
se imediatamente) ou acabam por se constituir em sociedades com um prazo indeterminado (v.g.
as sociedades de leasing e outras sociedades financeiras)27.
d) Consórcios
O consório é uma forma societária moderna que entre nós ainda não estava suficientemente
implantada até ao lançamento do Program de Reabilitação Económica (1987/90) e nem sequer
havia legislação que a define e regulamenta. Noutros países, em particular no continente
americano e europeu, a prática de contratos de consórcio já ganhou raízes e está amplamente
divulgada. Em Moçambique só a partir do início da década de 90 é que os consórcios começaram
a ocupar espaço notório nos modelos de constituição de sociedades.
O contrato de consórcio dá-se quando duas ou mais pessoas singulares ou colectivas, que
exercem uma actividade própria, se juntam para realizar um determinado número de tarefas ou
objectivos específicos tais como: estudos de viabilidade económica, realização de projectos,
gestão de fundos e empreendimentos, fornecimento de bens ou serviços, investigação pura e
pesquisa de recursos naturais.
Dentre os membros associados deve ser nomeado um chefe (leader) cuja actividade e acção
estendem-se sòmente ao objecto do consórcio; isto quer dizer que o chefe não exerce a direcção
sobre qualquer das actividades prosseguidas individualmente pelos associados.
O consórcio extingue-se normalmente pelos seguintes motivos:
-Acordo das partes contratantes
-Terminados os fins por que foi feita a associação
-Expirado o prazo indicado no contrato, se não foi estipulada qualquer cláusula de
prorrogação
26 Investments trusts
27 Sobre os contratos leasing (locação financeira veja-se capítulo VI.
e) Joint-venture28
Joint-venture é uma expressão muito conhecida entre nós, especialmente ao nível das
conversações e contratos entre governos e empresas .
É uma forma de associação bastante vulgarizada nas relações económicas internacionais,
segundo a qual duas ou mais sociedades se juntam para realizar uma determinada actividade
comercial ou industrial com carácter momentâneo ou mesmo por tempo indeterminado.
O joint-venture é uma forma societária que as partes interessadas utilizam normalmente
para superar (beneficiando do dinamismo e flexibilidade que caracterizam a sua forma e
estrutura) as peias burocráticas e requisitos jurídicos de constituição e funcionamento que são
apanágio das sociedades comerciais normais.
Em linguagem corrente a expressão joint-venture está associada a um agrupamento entre
empresas nacionais e estrangeiras para a realização de uma determinada actividade ou negócio
comercial.
No comércio internacional é normal a associação em joint-venture entre sociedades ou
empresários para a realização de operações de comércio externo utilizando contas conjuntas
(joint accounts).
Tratando-se de operações de importação/exportação, uma das partes contratantes é a
vendedora (exportadora) e a outra (importadora).
Nas operações financeiras uma das partes fornece um determinado capital (financiador) e a
outra utiliza e administra o montante envolvido, de acordo com o que se encontra estatuido no
contrato de joint-venture.
Findo o contrato, quer porque os objectivos foram realizados quer porque o prazo acordado
expirou, os resultados são repartidos entre as partes contratantes sob a forma de comissões ou
lucros.
Os joint-ventures tem em regra duração limitada mas nada obsta a que sejam prorrogáveis
por tempo indeterminado.
Bem vistas as coisas nota-se que em termos práticos não há substanciais diferenças entre
consórcios e joint-ventures. Ambos são formas de sociedade que se utilizam em actividades que
envolvem grandes somas de dinheiro, capacidades tecnológicas e know-how de ponta tais que
cada associado individualmente considerado seria incapaz de possuir.
f) Parcerias
Pode dizer-se muito simplesmente que uma parceria é um acordo informal entre duas ou
mais pessoas singulares ou colectivas com o fim de discutirem e realizarem determinada
actividade económica ou social.
Uma parceria pode dizer-ae muit simplesmente que é um acordo informal entre duas ou
mais pessoas singulares ou colectivas com o fim de realizarem determinada actividade
económica ou social.
É uma forma moderna de associação tácita que vem ganhando grande simpatia entre os
homens de negócios a partir de finais da década 90. No estádio embrionário actual ela dá-se com
muita frequência apenas ao nível de contactos informais preliminares em que se procura que as
partes intervenientes se situem em condições de igualdade negocial de tal modo que todos saiam
ganhadores,
É só quando este requisito de fundo se verifica que o acordo toma o nome de parceria
inteligente (win-win, isto é, todos ganham). Naturalmente que a parceria inteligente para ter força
jurídica, obrigar as partes contratantes e fazer fé em juízo, terá que ser formalizada através de
qualquer um dos tipos de sociedade já consagrados no ordenamento jurídico dos países.
Tal como muitos conceitos teóricos e paradigmas em gestação, a parceria inteligente não
deixa de ser polémica e controversa. Do ponto de vista teórico é uma concepção moderna,
valiosa e bem adaptada aos actuais processos de globalização e eliminação de barreiras à
mobilização de pessoas, capitais, bens e serviços interpaíses.
Em termos práticos, e tal como destacámos em relaçaõ aos modelos de economia
planificada e de mercado, a parceria win-win está enfermada de muitas imperfeições e
dificuldades que a tornam inviável desde logo nos países do 3º Mundo ainda sob profunda
dependência económica de países industrializados.
O Quarto Diálogo Internacional realizado em Maputo entre os dias 20 e 23 de Agosto do
ano corrente, revelou que os objectivos prosseguidos no Primeiro Diálogo realizado na Malásia
em 1995, entre os quais se destacam promover a interactividade e consequente sustentabilidade
entre as economias "emparceiradas" de molde a eliminar progressivamente a pobreza e aumentar
o bem estar social geral, tais objectivos estão muito longe de ser atingidos pois que as estatísticas
da própria ONU revelam que o fosso entre os países pobres e ricos se alarga, a desejada
mobilidade de factores continua repleta de condicionamentos governamentais e nacionalistas.
g) Trusts
h) Empresas Holding32
Em lugar de adquirir a totalidade das acções, uma empresa pode possuir sómente uma parte
delas e actuar como uma companhia holding.
Por definição uma empresa é considerada subsidiária de uma outra chamada holding se e só
se:
-A empresa mãe é associada da subsidiária e controla a composição do corpo directivo
desta.
-A empresa mãe detém mais de metade dos valores das acções que compõem o capital da
subsidiária.
-O controlo do corpo directivo da subsidiária é feito discricionáriamente , isto é a holding
pode nomear, demitir ou substituir todos ou a maioria do elenco directivo sem prévio
consentimento de qualquer outra entidade.
Há duas variantes de holding a saber: holding puro e holding misto. Diz-se que o holding é
puro quando a sociedade mãe não exerce qualquer exploração directa , apenas possue uma
32 Holding companies.
carteira de títulos das sociedades afiliadas, podendo no entanto financiar as associadas por
quaisquer formas que entender necessárias.
O holding é misto quando a empresa mãe exerce uma exploração directa33 e tem, além
disso, o domínio sobre as afiliadas com as quais é possível fazer uma integração quer horizontal
quer vertical.
O holding pode ser exercido em cadeia, quando a sociedade mãe detém uma parte do
capital de uma ou mais sociedades subsidiárias, as quais por sua vez possuem partes sociais de
outras afiliadas. Em esquema ter-se-ia o seguinte:
Afiliada
Subsidiária 1.1
1
GRÁFICO Nº 6
Subsidiária 2.1
Afiliada
Subsidiária 2.2
2
Empresa
Holding
Do exposto concluimos que uma empresa holding é a que possui suficiente poder de voto
que lhe permite controlar uma ou mais sociedades. Embora em muitas leis que regulam esta
forma de coligação de empresas se imponha a condição da companhia mãe deter a maioria do
capital, a verdade é que nem sempre é necessário possuir os 51% ou mais das acções para se
poder ter o controlo das subsidiárias.
Em relação às grandes sociedades anónimas, com uma dispersão e vastidão de número de
accionistas, as empresas holding podem deter apenas 1/4 ou menos das acções em circulação e
com isso possuirem um controlo absoluto das afiliadas. Como anteriormente falàmos dos casos
de absorção ou fusão de empresas, podemos agora entender que as formas societárias de holding
possuem a vantagem de com uma pequena aplicação de capitais poderem exercer o controlo de
outras empresas.
Dentre as formas societárias até agora estudadas, podemos notar que não há diferenças
substanciais entre as figuras de consórcio, joint-venture e empresa holding. Qualquer destas
formas pode ser adoptada na prática para realizar os objectivos que indicámos como sendo
específicos de cada uma. Com efeito pode usar-se por exemplo o nome empresa holding para se
referir a uma unidade concebida para exercer funções de coordenação e gestão das actividades de
empresas coligadas tal como vimos no exemplo do Consórcio Águas de Moçambique.
j) Ringer ou corner34
k) Pools35
Em termos puramente semânticos pool quer dizer arranjo ou combinação comercial entre
partes competitivas para fixar preços e realizar operações comerciais com o fim de eliminar a
concorrência.
Pool é uma combinação entre produtores que visa a eliminação dos competidores através
da divisão do mercado quer no que respeita às compras (pool de compra) quer no que se refere às
vendas (pool de vendas). Também se designa por pool a um fundo instituido com este fim. As
empresas coligadas mantém a sua autonomia administrativa e financeira.
Em França esta forma de associação chama-se comptoir
Os pools foram muito usados nos E.U.A. até finais do século XIX, mas dados os abusos
cometidos foram posteriormente banidos, estando hoje substituidos pelos trusts.
Comparando o conceito de pool com o de corner nota-se que existe apenas uma diferença
de profundidade de objectivos. O pool é mais agressivo, isto é, tem expressamente a intenção de
eliminar concorrentes. Deve notar-se que a prática económica e comercial consagrou o termo
pool para designar simplesmente um grupo de pessoas organizadas informalmente e disponíveis
para realizar um determinado número de tarefas for a das suas actividades normais. Este tipo de
pool é normalmente muito flexível em termos de composição dos elementos. Como exemplo
tome-se o caso de um pool com engenheiros, arquitectos e economistas pronto para fazer um
projecto de reabilitação de estradas sempre que uma certa instituição do Estado o requerer.
l) Sindicatos
Os sindicatos, em particular os industriais, são também coligações de empresas que têm por
objectivo essencial regular a produção, controlar os mercados e fixar os preços dos produtos.
Se qualquer outra unidade industrial, que não pertença à coligação, surge no mercado a
fazer concorrência, os sindicatos que normalmente dispõem de maior poderio em termos de
capitais e de produção em grande escala (beneficiando assim das chamadas economias de escala),
utilizam o artifício de baixar os preços dos produtos a fim de que os eventuais concorrentes (por
disporem de menor potencial financeiro) se afoguem por não poderem continuar a vender a
preços tão baixos, ou se decidam a integrar-se no sindicato que passa assim a contar com mais
um membro o que permite ao sindicato, assim alargado, possuir ainda um maior domínio dos
mercados.
Vemos assim que no fim de contas as coligações como os trusts, os corners, os pools são
formas ou variantes de sindicatos industriais.
O sindicato tem semelhanças por exemplo com o pool, mas difere deste pelo simples facto
de ser uma associação de produtores que compra a estes a sua produção a um determinado preço
que o sindicato em seguida vende ao público de acordo com as condições do mercado. Em
princípio não há actividade declaradamente especulativa e eliminatória tal como vimos em
relação ao pool.
cartéis, comptoirs, pools, trusts e outras formas de concentração monopolística espalhadas pelo
mundo fora.
Não devemos confundir sindicatos industriais, definidos como organismos de concentração
e monopólio de mercados, com o conceito mais comum dos sindicatos nacionais (trade unions)
que são agrupamentos sócio-profissionais que têm por fim a coordenação, estudo e defesa dos
interesses profissionais das pessoas que trabalham por conta de outrem ou exercem profissões
livres.
Num sindicato industrial (organismo de concentração industrial) podem formar-se um ou
mais sindicatos nacionais de trabalhadores do mesmo ramo das diferentes empresas coligadas.
Observe-se que hoje em dia grandes organizações económicas e comerciais "subterrâneas"
(ilegais) são por vezes identificadas com o nome de sindicatos, talvez porque os objectivos
originários destas coligações foram sendo cada vez menos transparentes precisamente para
sonegarem melhor os lucros fabulosos e ilícitos muitas vezes por via da chamada operação
lavagem de dinheiro. São os chamdos sindicatos do crime organizado que nas suas formas mais
tenebrosas se transformam em sindicatos do crime, da droga e venda de armas.
Assim como as empresas entre si criam e desenvolvem instrumentos para a defesa dos seus
interesses e maximização dos lucros, também é usual criarem-se mecanismos de defesa, controlo
e coordenação das actividades económicas mas salvaguardando os interesses gerais dos países e
do público em particular.
Em geral podemos dizer que todos os governos têm quase sempre uma posição de suspeita
em relação às práticas monopolísticas não controladas, isto é de pura iniciativa das empresas.
As associações comerciais e industriais são as formas mais internacionalmente em voga de
defesa e coordenação das actividades económicas não só dos associados como também do
público em geral pois que tais associações, embora em muitos casos sejam de iniciativa dos
associados, são em regra incentivadas, apoiadas e directa ou indirectamente controladas pelos
governos.
As associações comerciais, do tipo Câmara do Comércio do nosso país, têm objectivos
muitos genéricos e visam em regra defender os interesses dos associados em qualquer área das
suas actividades. Por vezes emitem certificados de garantia da qualidade dos produtos fabricados
e vendidos pelas empresas associadas.
Em alguns países estas associações fixam preços e condições de venda, havendo por isso
medidas legislativas que procuram prevenir os abusos.
Para mais detalhes veja-se Capítulo IV - Organismos Dinamizadores do Comércio. Para
já, e no prosseguimento do estudo de algumas formas de associação de produtores e
consumidores, façamos uma breve revista aos principais organismos de controlo e coordenação
económica.
m) Institutos
n) Uniões cooperativas
a) Consumo;
b) Comercialização;
c) Agrícola;
d) Crédito;
e) Construção e Habitação;
f) Produção operária;
g) Artesanato;
h) Pescas;
i) Cultura;
j) Serviços;
l) Ensino.
a) Grossista
Esta modalidade de comércio pode ser realizada pelo próprio produtor (produtor grossista)
ou por qualquer dos intervenientes do comércio atrás descritos (grossistas própriamente dito). O
grossista vende sempre por atacado (também se diz venda por grosso) e raras vezes tem contacto
directo com o consumidor, por isso os seus estabelecimentos comerciais em regra não tem as
portas abertas ao público.
b) Retalhista
c) Armazenista
Os armazenistas são uma figura muito importante no comércio de hoje. Eles compram
mercadorias também por atacado, guardam em armazéns próprios e em regra não abertos ao
público e as revendem quer a grossistas quer a retalhistas.
O que os distingue dos grossistas é o facto de possuirem armazéns o que nem sempre é
necessário para se ser grossista.
d) Armador
Duma maneira geral, e como veremos com um pouco mais de pormenor no capítulo
"contratos mais usuais do comércio", o transporte de mercadorias por via marítima ou aérea,
utilizando navios ou aviões, deve ser préviamente organizado e formalizado através de um
contrato que se chama fretamento.
Os navios e aviões, para realizarem qualquer operação de transporte devem ser
devidamente preparados com antecedência, adequando-os com espaço, equipamento e estruturas
apropriadas. Em linguagem comercial diz-se que os navios e aviões devem ser armados.
Portanto armador (proprietário ou não do meio de transporte) é todo aquele que realiza a
tarefa de preparar e equipar navios e aviões para a operação de transporte de mercadorias ou
pessoas por via marítima, fluvial ou aérea
e) Transportador
É a actividade comercial que consiste em fazer deslocar por mar, terra ou ar, mediante uma
retribuição estabelecida em contrato, quaisquer bens ou pessoas.
O transportador comercial é o agente fundamental e muitas vezes decisivo na circulação de
mercadorias.
f) Segurador
A actividade seguradora é uma função económica e social pela qual uma pessoa ou unidade
económica (segurador) se compromete, mediante uma retribuição estabelecida em contrato
(chamada prémio de seguro), a entregar uma certa quantia em dinheiro ou espécie sempre que se
verificar qualquer acontecimento fortuito e imprevisto de que resulte danos ou prejuízos à outra
contraparte (segurado) ou a um terceiro indicado pelo segurado (beneficiário).
g) Despachante
h) Agente e correspondente
i) Adido comercial
Adidos comerciais são pessoas indigitadas pelos governos dos diferentes países para
realizar no estrangeiro todas as tarefas de dinamização das relações económicas e comerciais.
Para isso, analisam e propõem medidas concretas para o desenvolvimento do comércio externo.
Os adidos funcionam normalmente junto das delegações ou representações diplomáticas e
consulares.
Entre nós ainda não está muito divulgada a figura de adido comercial, naturalmente por
razões de insuficiência de quadros. As embaixadas de Moçambique em Bruxelas e nas Nações
Unidas em Nova Iorque foram as premeiras representações diplomáticas Moçambicanas para
onde foram destacados economistas para desempenhar funções de conselheiro económico e
comercial. Em Maputo é bastante corrente ouvirmos falar das figuras de adido militar e adido
cultural que nas suas áreas realizam tarefas semelhantes às do adido comercial.
j) Mandatário comercial
Em geral o broker contacta vários jobbers e escolhe aquele que oferece melhores
condições. O jobber que aceitar o negócio assume o risco das oscilações do mercado uma vez
que ele também negoceia por sua própria conta e a sua renumeração resulta da diferença entre o
preço de compra acordado com o broker e o de venda que ele conseguir no mercado.
A renumeração do broker baseia-se na comissão estabelecida com o seu cliente logo que as
condições do contrato estiverem completas por acordo entre o broker (mediador-corretor) e o
jobber (biscateiro).
É evidente que o negócio só se considera concluido quando o cliente aceita as condições
contratuais exaradas na nota de contrato - promessa estabelecida entre o broker e o jobber.
Façamos uma breve referência à questão da mediação de seguros. Para o efeito socorremo-
nos do Código Comercial (legislação sobre a mediação de seguros). O artigo 1 diz o seguinte:
"Mediação de seguros é a actividade tendente à realização, á assistência ou à realização e
assistência de contratos de seguro entre pessoas, singulares ou colectivas, e as seguradoras.
A mediação de seguros fica reservada aos mediadores de seguros, não podendo ser exercida
por companhias de seguros e resseguros, agências de companhias de seguros estrangeiras e
mútuas de seguros".
O artigo 2 e 3 definem mediadores da seguinte maneira:
"Mediador de seguro é a pessoa, singular ou colectiva, que, reunindo as condições
prescritas na presente legislação, exerce a atividade relativa à mediação de seguros. Os
mediadores de seguros, abreviadamente designados por mediadores, dividem-se apenas em duas
categorias:
a) Agentes de seguros;
b) Corretores de seguros.
Os trabalhadores de seguros, para efeitos de mediação de seguros, são equiparados a
agentes de seguros, desde que inscritos nos termos do presente diploma..."
No artigo 7 se diz que:
"Só pode ser autorizada a inscrição como mediador a pessoa singular que reúna,
cumulativamente, as seguintes condições:
a) Ser maior ou emancipado;
b) Ter capacidade legal para praticar actos de comércio;
c) Não ter sido condenado por qualquer dos crimes previstos no artigo 78º do Código
37
Penal ou por crimes de peculato ;
d) Possuir como habilitações literárias mínimas a escolaridade obrigatória legalmente
fixada à data da inscrição.
Os utentes ou interessados em negócios onde estes mecanismos de mediação são já uma
prática institucionalizada têm que sujeitar-se a todas as regras de jogo existentes. Por sua vez os
mediadores (brokers e jobbers), para serem elegíveis devem revelar um alto nível de
competência profissional e probidade moral e intelectual reconhecidas pelos associados do
"clube" (do tipo bolsa por exemplo).
37 Designa-se por crime de peculato o furto realizado por todo aquele que tem a
responsabilidade de guardar ou gerir bens e direitos pertencentes ao erário público.
Em relação aos desvios às regras de jogo estabelecidas existem sanções previstas dentro do
próprio "clube", assim como sanções legais de nível governamental para assegurar os altos
padrões e prestígio internacionais dessas instituições.
O artigo 18 do Código Comercial, a lei do comércio privado, a lei das cooperativas, a lei
das empresas estatais e a lei das empresas públicas estabelecem um conjunto de obrigações
mínimas que os intervenientes na actividade comercial têm de observar para poderem exercer a
sua função. Assim:
a) Devem ter nome ou denominação social que identifique claramente a unidade comercial
e tanto quanto possível dê a entender a actividade que exercem (exemplos: Transportes Oliveiras,
Lda.; Organizações Turísticas, S.A.R.L.; Empresa Moçambicana de Aglomerados, E.E.;
EMOSE, S.A.R.L.; Cooperativa Agrícola Maguiguana).
b) Devem ter uma contabilidade organizada de acordo com o Plano Nacional de Contas que
dê a conhecer com muita clareza e em qualquer momento a situação patrimonial da unidade
comercial.
c) Devem estar registados nas autoridades competentes.
d) Devem dar balanço e prestar contas regularmente nos períodos indicados pela lei,
normalmente nos 3 primeiros meses de cada ano.
A actividade comercial, tal como qualquer outra actividade que envolva questões de gestão
de dinheiro segundo o princípio do cálculo económico, está sujeita a inúmeras contingências
algumas das quais podem conduzir a modificações e transformações profundas das unidades
empresariais. Dentre os factos que podem provocar mudanças radicais destacam-se a dissolução
das sociedades com as consequentes liquidação e partilha.
Como causas da dissolução das sociedades comerciais podemos realçar as seguintes que
vem discriminadas no artigo 120 do Código Comercial:
"1º Findo o tempo porque foram constituidas não havendo prorrogação;
2º Pela extinção ou cessação do seu objecto;
3º Por se achar preenchido o fim delas, ou ser impossível satisfazê-lo;
4º Pela falência da sociedade;
38Utilizamos o termo bancarrota por corresponder ao termo mais usado na língua inglesa -
bankruptcy. Em português a tradução mais correcta é falência ou quebra.
5º Pela diminuição do capital social em mais de dois terços, se os sócios não fizerem logo
entradas que mantenham pelo menos num terço o capital social;
6º Por acordo dos sócios;
7º Pela fusão com outras sociedades".
Os motivos enunciados são em direito comercial conhecidos por causas comuns a todas as
formas de sociedade. Existem as causas específicas a cada tipo de sociedade e que naturalmente
variam de país para país.
A título exemplificativo e ainda de acordo com o Código Comercial (artigo 120, § 4º) e a
lei das sociedades por quotas de 1901 (artigo 42) as sociedades anónimas e as sociedades por
quotas, que são as mais conhecidas entre nós, podem dissolver-se a pedido dos credores desde
que estes provem que "posteriormente a época dos seus contratos, metade do capital social está
perdido; mas a sociedade pode opor-se à dissolução, sempre que dê as necessárias garantias de
pagamento aos seus credores".
Importa aqui dar um destaque especial à falência que é uma das importantes causas da
dissolução das sociedades.
Muito simplesmente dá-se a falência de uma empresa quando ela passa a operar
normalmente sem produzir proveitos para suportar os custos do seu funcionamento. Em direito
diz-se que a situação de falência é o "estado dum comerciante que se encontra impossibilitado de
solver os seus compromissos" (Código do Processo Civil artigo 1.135).
O Código do Processo Civil do qual extraímos a definição jurídica de falência indica um
conjunto de fundamentos que podem dar origem à declaração de falência. Destacamos os
seguintes:
Ora se o comerciante se recusa a beneficiar-se desta faculdade pode-se presumir que não
está em condições de solver os seus compromissos financeiros.
Como complemento das noções apresentadas a propósito de falência importa não confundir
concordata com uma figura semelhante, a moratória. Com efeito a concordata é uma noção mais
ampla que abrange uma dilação do prazo de pagamento das dívidas como também o perdão de
parte das mesmas. Na moratória só há apenas uma dilação dos prazos de pagamento; por isso é
que quando nestes acordos se verifica apenas o perdão de parte das dívidas, sem dilação de
prazos, a figura jurídica toma o nome de concordata própriamenete dita.
Do exposto importa referir que nem todas as causas previstas na lei dão, por si sós, origem
a processos de falência. Daí que seja costume distinguir os seguintes tipos de falência:
de unidades empresariais, terminam em processos de falência todos os anos. Grande negócio para
os juristas!.
CAPITULO IV
LUGARES PARA A PRÁTICA DO COMÉRCIO
39
Já extinta como supermercado. A empresa mantém a sua existência jurídica tendo as instalações da
Av. 24 de Julho sido transformadas em centro comercial
Feiras são locais onde em determinados dias de cada ano, e numa base regular, se
concentram comerciantes, cooperativistas, representantes de empresas, sociedades comerciais e
outras pessoas ou entidades para realizarem diversas operações relativas a mercadorias e
serviços. Há feiras de carácter geral onde se realizam operações sobre todo o tipo de produtos e
há feiras especializadas (de bens de consumo, de equipamento, de mobiliário, de gado, de
artesanato, etc).
Este é o significado original de feira. No entanto hoje as feiras ganharam uma dimensão
mais vasta e um conteúdo novo. Com efeito, podemo-nos reportar à nossa Feira Internacional do
Maputo (FACIM) para verificar de imediato que hoje, na maioria das situações, não se vai a uma
feira para comprar ou vender o que quer que seja.
As feiras hoje transformaram-se em centros de amostra e exposição das principais
realizações no campo económico e dos principais produtos e serviços que os países podem
fornecer nos mercados nacionais e internacionais. No entanto práticamente em todas as feiras do
mundo, os participantes com interesses comerciais aproveitam e reservam alguns períodos
durante a realização dos certames para fazer contactos e mesmo acordos de transacções
comerciais com países, empresas, organizações e sociedades presentes.
É muito frequente assinarem-se acordos ou contratos comerciais de muito vulto cuja
materialização se vem a verificar durante um período longo; são acordos de fornecimento válidos
por 1,2,3 ou mais anos. As feiras dão larga publicidade desses contratos na rádio, televisão e em
órgãos de imprensa de maior circulação, precisamente para dar um cunho original às feiras,
ganhar prestígio internacional, promover e divulgar a imagem do desempenho económico, social
e cultural dos países.
O segundo aspecto das feiras modernas é que transformaram-se em centros de atracção
turística e de recreação porque nelas se concentra e se sintetiza tudo o que de maior interesse
económico (e por vezes político e social) importa conhecer no país e no mundo, e também
porque o país organizador, as estruturas responsáveis pelo certame, participantes e expositores
em geral, fazem o máximo de esforços durante o ano para apresentar, naqueles escassos dias em
que duram as feiras, um certame alegre, atraente, cheio de vida e cor.
Não acontece por simples acaso que a inauguração das principais feiras é frequentemente
envolvida de muita pompa e circunstância onde as autoridades máximas do país, a nível do
ministério de tutela, do Conselho Executivo e das Câmaras de Comércio se fazem representar.
Em muitos casos é o próprio Chefe de Estado ou 1º Ministro que dirigem o acto.
Há feiras nacionais, regionais e internacionais. Os alunos conhecem exemplos de cada tipo.
A feira realizada em Maputo por ocasião do 10º Aniversário da Independência foi uma feira
nacional. As feiras que se realizam nas províncias (exemplo em Nampula) são regionais ou
provinciais; as feiras de Ndola (Zâmbia), Dar-Es-Salaam (Tanzania), FACIM (MAPUTO),
Leipzig (ex-RDA), são feiras internacionais.
Falámos o suficiente sobre mercados nos pontos 2.8, 2.9 e 2.10. Talvez tenha interesse
frisar aqui, sobretudo depois de conhecermos o significado de feira, que a noção de mercado
diferencia-se da de feira pelo seguinte:
-Os mercados funcionam normalmente todos os dias.
-Nos mercados até hoje ainda se realizam operações de compra e venda efectivas.
-Os mercados não tem a amplitude e objectivos que se atribuem hoje às feiras, em
particular o papel destas como centro de mostruários.
Nos nossos dias tem grande importância económica os mercados de matérias primas e de
valores, locais onde, como o próprio nome indica, se transaccionam matérias primas (para a
agricultura e indústria) e valores como sejam títulos de crédito, moedas e divisas.
Tal como as feiras, podemos dizer que, em relação aos mercados de matérias primas e
valores, hoje já não se faz a compra e venda directamente no próprio local dos mercados. Lá
discute-se, trocam-se opiniões e formulam-se contratos com base, quando muito, em amostras de
produtos. Dir-se-ia que houve um refinamento em relação à concepção tradicional de mercado de
matérias primas e valores.
Compreenderão melhor estas noções quando os alunos estudarem com desenvolvimento a
matéria sobre bancos e bolsas.
O Governador da Província40 teve que aparecer em público a clamar por uma maior
intervenção dos poderes públicos a nível central porque, argumentava, o problema de
comercialização ultrapassa as competências da Província e dos distritos. É um problema
nacional, dizia.
Vemos assim que o comércio rural foi e continua a ser para nós "um instrumento de grande
impacto no campo nas suas três componentes principais: A comercialização determina
significativamente a composição da produção, o aprovisionamento determina a tecnologia e o
abastecimento determina o consumo das populações; no seu conjunto determinam o nível de vida
no campo" (Carrilho J. et al, in Estratégia Alternativa de Desenvolvimento Agrário).
-Fixam os preços das mercadorias, divisas e títulos de crédito que passam a vigorar nos
mercados internacionais determinando e influenciando a stiuação económica de quase todos os
países do mundo.
- Contribuem para desenvolvimento das relações económicas internacionais na medida em
que são locais importantes de concentração do comércio.
-São um instrumento típico de nivelamento e estabilização dos preços internacionais para
as economias de mercado, pois as bolsas são os locais onde se manifestam com maior rigor os
mecanismos da lei da oferta e da procura.
Dado que os mecanismos de mercado são a alavanca essencial do funcionamento das bolsas
podemos concluir que em economias centralmente planificadas, não há e nem faz sentido haver
bolsas na acepção referida, mas é demasiado sabido que essas economias são indirecta e
fortemente influenciadas pelas decisões tomadas nas bolsas capitalistas mais poderosas como a
New York Stock Exchange (NYSE) na Wall Street de Nova Iorque ou a London Stock Exchange
dos ingleses.
O resultado ou o trabalho mais importante das bolsas manifesta-se através das cotações dos
valores negociados. Essas cotações são diáriamente afixadas em lugar público mais visível nas
próprias bolsas e publicadas em jornais e revistas especializadas, nos diários ou publicações
oficiais dos Governos ou nos jornais mais lidos.
Durante muitos anos entre nós diáriamente o jornal Notícias e a Rádio Moçambique41
deram a conhecer o boletim de câmbios e outras informações de carácter financeiro que são
recolhidas das bolsas. Isto por si só atesta a grande importância e o alcance das operações de
bolsa. Hoje apenas o Notícias continua a manter esta tradição.
Vejamos alguma coisa sobre esta questão das cotações das bolsas que preocupa e interessa
a todo o mundo. Para já convém alertar que não é fácil entender e descrever todos os mecanismos
que explicam tal e tal preço internacional na medida em que intervém não só factores objectivos
como também, e com igual peso, factores subjectivos e psicológicos.
Recordemos que logo no início do curso explicamos a origem e desenvolvimento das
trocas. Vimos que a moeda acabou por representar o preço de uma mercadoria. Portanto em
princípio há uma correspondência perfeita entre o valor da mercadoria e o valor da moeda uma
vez que esta representa aquela.
Nos primórdios da existência da moeda foi sempre assim, daí que a moeda tinha de facto
um valor material expresso pelo peso, em ouro ou prata.
No entanto com o desenvolvimento das trocas comerciais a moeda foi perdendo o valor
material que tinha quando "nasceu", tendo nos nossos dias apenas um valor convencional
garantido pelo Estado através dos bancos emissores; nós convencemo-nos que 500.000 meticais
em papel valem uma camisa ou uma determinada quantidade de peixe porque o Banco de
Moçambique assume o compromisso teórico de que qualquer cidadão que queira, pode ir aos
balcões reclamar a quantidade de ouro correspondente aos 500.000 meticais em papel.
Em princípio e teóricamente os bancos centrais ao lançarem dinheiro na Economia devem
ter nos cofres a quantidade de ouro correspondente às moedas e notas em circulação. Mas
sabemos que na prática não é assim. O Estado e os bancos centrais lançam notas e moedas e
garantem por lei que o dinheiro vale o que nele está inscrito e deve portanto ter circulação
obrigatória.
Tudo o que dissémos equivale a dizer que as notas e moedas têm um valor que depende de
dois factores como já dissémos: factor material e factor psicológico. Isto é importante para
compreendermos o que se explica a seguir.
O câmbio é uma relação entre duas moedas de países diferentes. Essa relação exprime o
preço por que se realiza a troca dessas moedas.
Os preços que aparecem diáriamente nos boletins de câmbios são o resultado de
negociações efectuadas nas sessões diárias das bolsas. Portanto quando lemos que, num
determinado dia, o câmbio de compra de um rand é por exemplo de 2.100 MT quer dizer que
naquele dia, tomados em conta vários condicionalismos, um cidadão Moçambicano para adqurir
um rand teria de pagar um preço avaliado em 2.100 meticais.
Obrigatóriamente o câmbio das moedas, tal como sucedia em relação ao valor de cada
moeda nacional nos diferentes países, baseou-se no seu valor intrínseco (material).
Assim suponhamos que em dado momento que o valor do metical se mede pela quantidade
de ouro nele contido. Então admitamos como hipótese teórica que o metical contém
materialmente 0,030 gramas de ouro e que o rand encerra realmente 0,75 gramas. Então a
cotação do rand em relação ao metical é dada pela razão 0,75/0,030=25. Isto significa que o rand
vale, em termos reais (físicos) 25 vezes mais do que o metical; então se Moçambique quizer
adquirir um rand para fazer qualquer importação terá que desembolsar 25 meticais.
Podia acontecer que o metical tivesse naquele momento exactamente o mesmo valor que o
rand, para isso era preciso que a nossa moeda também contivesse 0,75 gramas de ouro fino e a
relação seria 0,75/0,75=1. Neste caso dir-se-ia que as duas moedas se equivalem, ou a
PARIDADE é um, ou ainda que o câmbio está ao PAR.
Todavia esta é apenas uma hipótese teórica que hoje práticamente já não se verifica em
nenhum país. A prática é que:
1º Os câmbios estão acima ou abaixo do par, isto é, a relação entre as moedas é maior ou
menor que 1.
2º Os câmbios flutuam isto é, sofrem variações frequentes.
As razões são objectivas (materiais) e são também de ordem psicológica.
Ocupemo-nos rápidamente das razões de ordem material (objectivas).
Hoje o valor intrínseco das moedas (em ouro fino) já não tem nenhum significado ou tem
apenas um conteúdo simbólico e um valor nominal garantido pelo Estado.
Um país pode possuir os milhões de notas e moedas que quizer na sua própria moeda
nacional (basta que o Estado mande fabricar tantas notas e moedas que entender); pode emitir
decretos e leis que bem lhe apetecer para garantir aos seus parceiros comerciais que tal montante
de dinheiro lançado no seu mercado corresponde ao valor real dos produtos produzidos pelos
seus habitantes e/ou à quantidade de ouro guardado nos cofres fortes do Banco Central.
O que interessa nas relações económicas internacionais não é tanto o valor da moeda em
circulação dentro de cada país. O que interessa sim é a capacidade que cada um tem de exportar
mercadorias e vender serviços e de pagar os seus compromissos, o que interessa no fundo é o que
o país pode fornecer em bens e serviços, em suma o que vale é o produto do trabalho efectivo.
Assim um país, do que é seu, pode exportar mercadorias, pode vender serviços de
transportes, seguros, turismo, direitos de patentes e de marcas, Know how, cooperantes, etc.
Como resultado da venda de mercadorias e serviços o país ganha em contrapartida moeda
estrangeira mais conhecida por DIVISAS (rand, dólar, franco, marco, libra, etc.). É com essas
divisas que vai comprar (importar) o que necessita mas não produz.
Então a comparação entre o que se recebe em divisas e o que se paga dá-se o nome de
Balança de Pagamentos. Tal como a simples comparação entre receitas e despesas da nossa casa,
pode acontecer que a balança de pagamentos seja positiva (favorável) ou negativa (desfavorável).
Suponhamos que em dado momento ela é favorável (há um superavit). Então o país
atravessa um momento bastante bom, os seus bens são muito procurados e demonstra possuir
uma boa política de gestão das despesas. Os negociadores das bolsas que normalmente se regem
pela lei da oferta e da procura vão certamente fixar um preço alto para a moeda desse país (o
câmbio sobe, a moeda está valorizada, a moeda diz-se forte, isto é, tem capacidade de compra no
mercado internacional; no processo de desenvolvimento a moeda pode tornar-se
CONVERTÍVEL, se já não o é).
Suponhamos que num outro momento a balança de pagamentos é negativa (há um déficit).
Por um raciocínio análogo chegaremos à conclusão de que as bolsas fixarão um valor baixo para
a moeda nacional desse país (o câmbio desce, a moeda desvaloriza -se, a moeda é fraca se a
economia for crónicamente deficitária).
Os corretores44 de bolsas são intermediários das operações junto dos mercados financeiros
que gozam do direito exclusivo de intervirem nas transacções sobre fundos públicos ou
particulares, mercadorias e moedas estrangeiras.
Também pode haver corretores de seguros, corretores de fretamento de navios.
A remuneração dos corretores chama-se corretagem e é constituída por uma percentagem
sobre o valor das operações.
Na linguagem financeira fala-se muitas vezes em compras à corretagem e vendas à
corretagm. Nas vendas, o vendedor emite uma ordem de venda que apresentará ao corretor da
bolsa de mercadorias; nessa ordem ele fixa as condições em que este deverá promover a venda
por conta e ordem daquele. No que respeita às vendas, e com as adaptações necessárias, o
comprador procede de forma idêntica.
Antes de abordarmos a importante questão das arbitragens vejamos em que consiste o certo
e o incerto.
Quanto à forma de fixação de cotações, isto é, quanto à forma de estabelecimento de
relações de câmbios há dois sistemas: assim, existem praças que dão o CERTO e outras que dão
o INCERTO.
Diz-se que uma praça dá o certo quando fixa (como unidade) a quantidade de moeda
nacional do país no qual as cotações estão sendo estabelecidas e determina qual a quantidade de
moeda dos diferentes países que equivale a essa moeda nacional.
Note-se que a quantidade de moeda nacional a fixar pode ser em termos de 1, 2, 5, 10, 20,
100 ou qualquer outro número de unidades monetárias.
Mesmo que haja flutuações de câmbios a quantidade de moeda do país que dá o certo é
sempre a mesma, o que varia são as quantidades de moeda dos outros países. A Inglaterra é dos
poucos países que dão o certo.
Significa que Londres compra moeda americana pagando 2,3 dólares por libra e vende por
2,35 dólares a mesma libra; no que respeita a francos franceses, Londres compra-os a 12,8 por
libra e vende-os a 12,9 por libra. Pode acontecer que a base seja 100 unidades em vez de uma
unidade (i.e., neste caso 100 libras). Então far-se-ia a leitura dizendo que Londres compra a
moeda francesa à razão de 1.280 francos por 100 libras e vende-as recebendo 1.390 francos por
cada 100 libras esterlinas.
Por outro lado quando um país adopta o sistema do incerto as cotações seguem o seguinte
esquema (Moçambique como exemplo):
(Meticais)
Países Moeda Compra Venda
África do Sul Rand 16,5 16,8
França Franco 5,1 5,2
Zimbabwe Dólar 25,3 25,7
E.U.A. Dólar 41,8 42,6
A leitura é simples: uma unidade cada moeda estrangeira está sempre cotada em meticais
(pode-se tomar como base 100 unidades, tal como a alternativa apresentada no exemplo anterior).
Assim, olhando para o quadro supra, os bancos compram cada rand por 16,5 meticais e vendem o
mesmo rand por 16,8 meticais.
Note-se que os exemplos apresentados referem-se aos câmbios praticados em Moçambique
em Outubro de 1985. No momento em que estamos a reescrever e actualizar o presente texto
com vista à produção da 2ª edição do livro (Setembro de 2000) os câmbios estão bastante
alterados.
Para termos uma ideia do ritmo de variação dos câmbios num espaço de tempo de 15 anos
(1985 a 2000) reproduzimos a seguir o quadro anterior aos câmbios de 30 de Setembro de 2000.
Comparando este quadro com o anterior verificamos que, por exemplo, a taxa de câmbio do
dólar americano em 15 anos (de 1985 a 2000) passou de 41,8 MT para 15.560 MT, o que
representa um encarecimento de 372,2 vezes mais (um aumento de cerca de 25 vezes por ano!)
Em termos de estrutura nota-se que o banco deixou de fornecer 2 câmbios (compra e
venda) certamente para maior simplicidade de consulta do leitor comum; contudo na prática os
bancos operam internamente com 2 câmbios conforme explicado, sendo na generalidade o de
venda superior ao de compra; na diferença entre os dois reside o ganho dos bancos e cambistas.
Voltaremos ao assunto quando no ponto 4.6. falarmos da terminologia e linguagem mais
usadas nas bolsas.
Vamos terminar este ponto apresentando o problema das arbitragens de câmbios45.
"A arbitragem é uma operação que consiste em utilizar o processo mais vantajoso para
pagar uma dívida ou cobrar um crédito sobre uma praça estrangeira, ou para vender ou comprar
cambiais numa praça estrangeira".
A arbitragem comporta a utilização de dois processos:
a)- A arbitragem directa , que se opera entre duas praças;
b)- A arbitragem indirecta, que se efectua com intervenção de uma ou várias praças
estrangeiras, chamadas praças medianeiras entre a do comprador (ou devedor) e a do vendedor
(ou credor).
As arbitragens directa e indirecta não devem ser confundidas com as noções de câmbio
directo e indirecto. Com efeito o câmbio diz-se directo quando é estabelecido com base na oferta
e procura existentes numa praça.
Por sua vez o câmbio diz-se indirecto quando o mesmo é feito com base nas cotações duma
praça intermédia.
As moedas cotadas nas bolsas mais importantes do mundo são objecto de câmbios directos
(por exemplo o dólar, o marco, a libra, o rand, o franco); as moedas não cotadas nessas bolsas
são objecto de câmbios indirectos (por exemplo: o metical de Moçambique, o lilangueni da
Swazilândia, a pula do Botswana, o marco da ex-R.DA., o rublo da ex-União Soviética, a
Kwacha da Zâmbia).
No entanto qualquer país com moedas cotadas ou não cotadas nas bolsas pode fazer uso das
arbitragens directas e indirectas.
Apresentámos a arbitragem como sendo básicamente um processo de escolha da melhor via
de liquidação de uma dívida ou cobrança de um crédito.
45Não devemos confundir arbitragem de câmbios com o problema das arbitragens de conflitos que
veremos no ponto 6.4 a propósito do incumprimento dos contratos.
Se A devesse francos franceses sobre Paris enviaria francos sobre esta praça.
Saca em MT
(Maputo) A B (Londres)
Técnicamente tudo se passa em resumo do seguinte modo: o credor B saca uma letra em
meticais que negociada em Londres dê o valor do débito de A.
Como A está interessado em modificar a operação cambial (é ele que faz a arbitragem)
então são de sua conta todas as despesas adicionais.
Acabámos de estudar as duas mais importantes vias directas de câmbios.
Boletim
de
A (Maputo) Câmbios B (Londres)
FF/£
Esta via é ainda considerada uma via ordinária de câmbios, entendendo-se por vias
ordinárias as que não exigem a intervenção efectiva de um intermediário. Isto porque embora se
opere com 3 moedas, no exemplo em análise, as praças que estão em jogo só são duas (Maputo e
Londres); não há intervenção real de uma 3ª praça.
Vejamos agora as vias não ordinárias que se caracteizem pela existência de intermediários.
Neste caso não se envia uma cambial em francos suiços para Genebra; procede-se
exactamente o contrário.
Admita-se que o câmbio mais favorável para A é o dos francos (FS) suiços em Londres e a
libra (£) em Genebra (os câmbios de Maputo não interessam ao devedor no momento da análise).
Então A emite um fax para o seu credor B em Londres dando-lhe ordens para que saque sobre
Genebra em francos suiços, tantos quantos os que precisa para que vendendo-os em Londres
receba o valor do seu crédito; em seguida A envia um outro fax para o seu intermediário em
Genebra instruindo-o para que saque por sua vez sobre Maputo em meticais uma importância que
cubra as despesas que realizou mais as comissões a que tem direito.
Maputo neste caso realiza uma operação corrente, sem envolvimento de divisas. Londres e
Genebra realizam operações com cambiais em moeda externa.
Em esquema tem-se:
Saca em MT Saca em FS
A (Maputo) B (Londres)
C (Genebra)
f) Via de remessa-saque
Saca em FS
A (Maputo) Remete FS B (Londres)
C (Genebra)
Esta modalidade não tem interesse pois que a via remessa sobre Genebra (remessa sobre 3ª
praça) é mais económica e não há que pagar comissões aos intermediários.
g) Via de saque-remessa
Saca em MT
A (Maputo) Remete £ B (Londres)
C (Genebra)
Teóricamente é possível efectuar-se uma operação com a intervenção de mais do que uma
praça mas o que se ganha em diferenças de cotação não chega para compensar a morosidade da
operação e pagar as despesas e as comissões.
4.6 Terminologia e linguagem dos relatórios sobre a situação dos mercados (stock
market reports)
Existem bolsas46na maioria das cidades mais importantes do mundo. As bolsas são
dirigidas por um corpo de directores eleitos pelos membros accionistas.
O público em geral não pode realizar directamente nenhuma operação nas bolsas. Todos os
interessados devem utilizar os corretores de bolsas (chamados brokers) e os agentes ou
biscateiros (jobbers) que em seu nome e por sua própria conta e risco realizam nas bolsas as
transacções pretendidas pelos clientes.
Nas operações de bolsa tem muito interesse conhecer duas figuras típicas: uma é o
especulador ou jogador na alta, conhecido simplesmente por Bull em inglês47 e o especulador ou
jogador na baixa, que em inglês se designa por Bear48.
Portanto o Bull adquire uma determinada quantidade de títulos, mercadorias ou outros
fundos negociáveis nas bolsas na expectativa de que os seus preços subam a fim de poder
revendê-los obtendo os seus proveitos pela diferença de preços.
O Bear procede de modo contrário, isto é, especula na baixa dos preços vendendo
quaisquer fundos ou mercadorias negociáveis nas bolsas a um preço alto na esperança de que os
preços venham a baixar para comprá-los arrecadando lucros provenientes das variações dos
preços.
Estes profissionais de especulação muitas vezes não precisam de manipular físicamente o
objecto da compra ou venda e nem de desembolsar dinheiro por essas operações. São os casos
em que se procede a um simples jogo de cotações, arriscando quer na alta quer na baixa e
escriturando-se os resultados obtidos nas contas desses especuladores.
O mundo das bolsas e as manipulações que nelas se operam são relativamente complexos.
Existe uma extensa literatura sobre os problemas e meandros das bolsas.
Há três tipos básicos de fundos públicos49 que são negociados nas bolsas:
-Fundos comuns
-Fundos preferenciais
-Fundos convertíveis
Os fundos comuns implicam apenas o direito de um voto por cada acção. Mas o que mais
os caracteriza é o facto de os dividendos que lhes correspondem, embora devidos
trimestralmente, não beneficiaram de garantias de pagamento regular, isto é pode haver
circunstâncias que levem a que os seus portadores não recebam os dividendos a que têm direito;
um exemplo de factores que podem conduzir a esta situação é a não existência de lucros nas
empresas emitentes dos títulos.
Os fundos preferenciais são os que gozam da faculdade de beneficiar de dividendos ou da
distribuição de resultados líquidos (em casos de liquidação e partilha) prioritáriamente em
relação aos portadores de fundos comuns. Em geral os fundos preferenciais têm preço e
dividendos mais baixos que os fundos comuns, mas em contrapartida beneficiam de maior
segurança em termos de prioridade e regularidade no recebimento dos proveitos.
Os fundos convertíveis são aqueles que possibilitam ao accionista a faculdade de converter
os seus títulos em fundos comuns. A conversão é feita em certas condições e a partir de certo
prazo. Por exemplo se o preço dos fundos comuns sobe o portador dos fundos convertíveis pode
trocá-los por exemplo numa base de uma acção convertível por 15 acções comuns. É um tipo
característico de títulos para as operações de especulação por parte dos "bulls" e "bears".
Vejamos agora alguma coisa sobre como ler e interpretar a linguagem e terminologia mais
correntemente utilizadas nas bolsas ou nas informações e relatórios periódicos das bolsas50.
Comecemos primeiro por apresentar o modelo de boletim de câmbios do Banco de
Moçambique que é diáriamente inserido no jornal Notícias e que até há bem poucos anos era
duas vezes anunciado pelos nossos locutores da Rádio Moçambique respectivamente nos
noticiários das 8 e 23 horas51.
BANCO DE MOÇAMBIQUE
Boletim de câmbios
11 de Fevereiro de 1988
PAISES MOEDAS COMPRA VENDA
Àfrica do Sul Rand 221,5350 225,9660
Alemanha Federal Marco 266,1934 271,5173
Áustria Xelim 37,9011 38,6591
49 Nas publicações especializadas encontra-se com frequência o termo stocks que se traduz por fundos
ou títulos públicos
50 Estas informações têm em inglês o nome de "stock market reports" que literalmente quer dizer
52 Prime rate significa a taxa de juro básica vigente num determinado mercado financeiro; é em geral
fornecida pelos bancos centrais. Neste caso refere-se ao mercado de Nova Iorque. LIBOR tem o
mesmo signifcado, só que refere-se ao mercado londrino
53 Já vimos o conceito de CERTO e INCERTO. No entanto convém recordar que um país dá o incerto
quando apresenta as suas cotações em relação às quantidades variáveis de sua moeda nacional, fixando
sempre uma certa quantidade de moeda estrangeira como um dado.
caso da África do Sul, poder-se-ia dizer que 100 rands são comprados no Banco por 22.153,5
MT e vendidos por 22.596,6 MT ou que 5 rands têm o câmbio de venda de 1.129,83 e de compra
avaliado em 1.107,675 MT (estes valores foram obtidos por uma regra de três simples aplicada às
cotações indicadas na tabela acima).
Tabela 1
MERCADO DE CÂMBIOS
BOLETIM Nº 175/2000
DATA: 29 DE SETEMBRO DE 2000
TAXAS DE REFERÊNCIA
MERCADO CAMBIAL INTERBANCÁRIO (MCI - MAPUTO)
METICAIS POR UNIDADE DE MOEDA
PAÍSES MOEDAS
CÂMBIO
Estados Unidos …………………………Dólar ……………………………………15.620,00
MERCADO INTERNACIONAL (MI)
PAISES MOEDAS Meticais/unidade Moeda
Unidade Moeda/USD
Àfrica do Sul Rand 2.167,00 7,2080
Alemanha Federal Marco 7.073,00 2,2085
Áustria Xelim 1.005,40 15,5361
Bélgica Franco 342,95 45,5460
Canadá Dólar 10.452,00 1,4945
Dinamarca Coroa 1.843,40 8,4733
Espanha Peseta 83,15 187,8600
Tabela 2
MERCADO MONETÁRIO INTERBANCÁRIO
Taxas MAIBOR em vigor até às 12 horas
de 28/)2000
Nº 187/2000
Prazos Taxas anuais
1 Dia 19,68 %
1 Semana 19,77 %
2 Semanas 19,85 %
3 Semanas 19,93 %
1 Mês 20,33 %
2 Meses 20,62 %
3 Meses 20,94 %
6 Meses 21,18 %
12 Meses 21,56 %
MAIBOR (Maputo Inter-Bank Offered Rate): Taxa de juro média do Mercado Interbancário na praça
de Ma-
Puto, calculada na base das cotações "offer" das instituições subscritoras do Acordo de Adesão `a
utilização
da MAIBOR para os prazos acima indicados. As taxas são utilizadas para transacções entre estas
institui-
ções, apenas para montantes iguais ou superiores a 5,0 milhões de contos.
Maputo, 27 de Setembro de 2000
Fonte: Banco de Moçambique
A leitura destas duas tabelas é muito simples. Na primeira, o banco apresenta apenas uma
cotação para cada moeda estrangeira; fá-lo por mera simplificação de consulta. Contudo na
prática o banco, na sua qualidade de "comerciante" de moeda, utiliza dois câmbios, um de
compra e outro de venda tal como explicámos. Além disso a tabela inclui dois novos aspectos
importantes: o primeiro destaca o dólar americano e quanto ao segundo trata-se da introdução de
uma coluna que relaciona todas moedas estrangeiras cotadas com o dólar dos Estados Unidos.
A segunda tabela traz informações do Mercado Monetário Interbancário. Como se explica
na caixa destacada, trata-se de taxas de juro que devem ser utilizadas nas transacções entre as
instituições financeiras que assinaram o Acordo de Adesão do chamado MAIBOR (Maputo Inter-
Bank Offered Rate). Notando bem o MAIBOR de Maputo tem formalmente o mesmo papel que
o LIBOR de Londres e o Prime Rate de Nova Iorque que já foram explicados acima.
Relativamente à terminologia usada no mundo dos negócios financeiros acabámos de dar
uma pequena vista de olhos ao boletim de câmbios da República de Moçambique.
Acontece que as principais praças financeiras do mundo, revistas especializadas em
economia, finanças e comércio e alguns jornais mais lidos publicam também numa base
periódica (diária, semanal ou mensal) uma ou mais tabelas das bolsas de fundos que fornecem
informações financeiras, em particular câmbios e taxas de juro com base na situação económica e
financeira mundial de cada país. Normalmente as operações realizadas no dia anterior têm muita
influência nas informações e relatórios diários.
Vejamos agora um exemplo de uma tabela um pouco mais complexa do que as que estamos
habituados em Moçambique. Uma tabela deste tipo fornece não só as cotações de compra e
venda das moedas externas (como entre nós) como também dá, entre outros elementos, a
chamada “amplitude do dia”54, isto é as cotações mais alta e mais baixa verificadas nas
negociações financeiras do dia anterior. Inclui também uma coluna que indica os preços vigentes
no mercado no momento do encerramento dos negócios.
Seja o seguinte extracto de tabela típica na Inglaterra55.
20 de Outubro de
2000
Nº de ordem PRAÇAS Moedas Taxa de juro Amplitude do Valores de
dia encerramento
1 Amsterdão Florim 6 1/4 % 9,38 – 9,34 9,40 – 9,41 2/5
2 Lisboa Escudo 4 1/4 % 72,10 – 72,55 73,00 – 73,00 1/3
3 Madrid Peseta 7 1/2 % 210,68 - 211,30 210,85 – 211,12
4 Nova Iorque Dólar 8 % 3,50 – 3,50 1/2 3,50 – 3,50 3/4
5 Paris Franco 8 % 15,87 – 15,92 15,87 1/4 – 15,91 2/3
6 Tóquio Yéne 7 2/3 % 920,00 - 920,00 3/4921,00 – 921,05 1/4
A leitura deste quadro não levanta quaisquer dificuldades na medida em que os títulos são
suficientemente claros56. A primeira coisa que devemos notar é que na Inglaterra, assim como em
muitos outros países (v.g. E.U.A., França, Japão, Portugal, Bélgica) existem muitas cidades que
publicam ou tem as suas próprias informações financeiras.
Por exemplo em relação à praça de Tóquio não está claro se a amplitude indicada corresponde a 1, 2, 5,
10, 100 ou mais libras.
57 Quem estiver interessado em fazer comparações triangulares ou em cadeia, isto é, por exemplo,
determinar o valor do metical em Londres a partir do boletim do Banco de Moçambique, e com base no
conhecimento do câmbio do yene (que está cotado simultâneamente em Maputo e Londres) deverá ter
em conta as noções do certo (Londres) e incerto (Maputo).
ACÇÕES 2000
Nome dos Valor Conta- Cotações (Outubro) Cotações Variação
títulos bilístico Máximo Mínimo 5ª Feira 4ª Feira 3ª Feira 2ª Feira das cota-
ções em
Fevereiro
(%)
Comp. I. Mt
Soc. Ind. Tb.
(*)
OBRIGAÇÕES
2000
Ob. Tes. Est.
H.C.B.
Prov. Zamb.
(*)
(*) Vide a seguir a explicação das siglas indicadas.
Na coluna dos nomes dos títulos demos dois exemplos para o caso das acções e três para o
das obrigações. Normalmente os nomes dos títulos estão associados às denominações sociais das
pessoas singulares ou colectivas que as emitiram; em regra tais nomes são constituidos ou pelo
nome todo do emitente, ou pelas iniciais ou ainda por uma outra sigla convencial.
No exemplo que apresentámos temos sucessivamente os seguintes nomes: Companhia
Industrial da Matola (Comp.I.Mt.), Sociedade Industrial de Tabacos (Soc.Ind.Tb.) Obrigações do
Tesouro do Estado (Ob.Tes.Est.) Hidroeléctrica de Cahora Bassa (H.C.B.) e Província da
Zambézia (Prov.Zamb.).
20 DE OUTUBRO DE 2000
Nº de Nome dos Cotações do ano Juros Vendas Cotações do dia (em MT) Valor
Ordem títulos Alta (MT) Baixa (MT) (MT) do ano Alta Baixa Encerra. Nominal
(Númer) (MT)
61 Lugar onde está a maior praça financeira do mundo – New Iork Stock Exchange (NYSE)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 Comp. Ind. MT9.650 9.600 500 18.700 - - - 10.000
2 H.C.B. 12.100 9.000 675 20.250 8.600 7.725 9.505 9.500
3 Prov. Zamb. 11.500 11.410 308 30.120 - - - 11.300
: : : : : : : : :
: : : : : : : : : :
Como dissémos a propósito do exemplo anterior, o nome dos títulos pode ser em
abreviaturas. Neste caso com os números de ordem 1, 2 e 3 temos respectivamente os títulos da
Companhia Industrial da Matola, Hidroeléctrica de Cahora Bassa e Província da Zambézia.
Tomando o exemplo da Companhia Industrial da Matola vemos pela coluna dos juros que
em 2000 a empresa pagou 500 meticais por cada obrigação; as outras duas entidades emitentes
pagaram 675 e 308 meticais respectivamente por cada obrigação em circulação.
O preço por que os títulos são negociados muitas vezes afastam-se dos respectivos valores
nominais que no nosso quadro se encontram registados na última coluna.
Durante o ano de 2000 os títulos da H.C.B. tiveram a cotação mais alta de 12.100 MT e
mais baixa de 9.000 MT; os títulos das outras duas entidades tiveram preços que se lêm
fácilmente nas colunas 3 e 4.
A amplitude dos preços de compra e venda dos fundos da H.C.B. mede-se achando a
diferença 12.100-9.000 que dá 3.100 o que é uma margem de flutuação boa pois permite maiores
possibilidades de discussão em actividades especulativas (vide o significado dos bulls e bears
indicado há pouco).
Na 6ª coluna indicam-se as quantidades (unidades físicas) de obrigações vendidas no ano.
Assim as obrigações da H.C.B. foram transaccionadas em número de 20.250.
As colunas 7 e 8 podem estabelecer alguma confusão com as 3ª e 4ª. Em certa medida
aquelas são opcionais e de reduzido significado; a coluna da alta (a sétima) significa o preço da
1ª operação do dia 20 de Outubro de 2000; a coluna da baixa (a oitava) é o preço mais baixo
verificado nas operações do mesmo dia (as colunas 3 e 4 dizem respeito ao movimento do ano
todo).
A penúltima coluna (a nona) indica o preço de encerramento verificado no dia 20 de
Outubro; em relação à H.C.B. vemos o valor de 9.505 MT.
Acabámos de dar um exemplo de resumo das transacções de títulos hipotéticamente feitas
na praça de Maputo (Moçambique).
Sabemos no entanto que Maputo não possuia bolsas de fundos nem de mercadorias até
muito recentemente. Só nos princípios do ano 2000 é que foi instituida a primeira Bolsa de
Valores de Moçambique, conhecida pela sigla BVM que funciona nas instalações do Hotel
Polana.
Os índices industriais começaram em 1928 e até hoje baseiam-se num pacote de 30 fundos
emitidos pelas maiores empresas industriais já daquela época. Como curiosidade deve notar-se
que apesar de já lá irem mais de 70 anos os nomes de algumas empresas ainda hoje permanecem
como indicadores da situação do mercado, mesmo nos casos em que essas firmas tenham caido
na bancarrota ou modificado a sua estrutura económica e financeira.
Paralelamente, e eventualmente tendo em conta os casos de empresas menos significativos,
o NYSE actualiza os Dow Jones Averages suprimindo alguns nomes ou incluindo outros novos.
Para além dos três índices acima indicados podemos destacar ainda os seguintes:
• Standard & Poor´s 500 Stock Average que apesar de conter índices de 500 pequenas (poor)
empresas, as pessoas muitas vezes estão convencidas de que este é o indicador da verdadeira
situação do mercado porque normalmente traz mais índices do que o DJIA.
• Financial Times Actuaries 500 index. Este, ao contrário dos que até agora nos referimos, é da
Inglaterra.
• The Times Industrial Shares index. Também é da Inglaterra e inclui índices referentes a 100
mais pequenas empresas e 50 maiores unidades empresariais.
• Em Tóquio (Japão) há a destacar o NIKKEI 225 que abarca 225 empresas
• Em Londres tem-se o FT-SE 100 composto por 100 empresas
• Em Hong Kong tem-se o Hang Seng
• Em Frankfurt (Alemanha) destacam-se dois como mais importantes: o FAZ e o DAX
• Em Zurique (Suiça) há realçar o Credit Suisse
• Em Johannesburg destaca-se o Johannesburg Gold
• Em Portugal existe o índice Totta & Açores que é o mais antigo e o índice da Bolsa de
Valores de Lisboa
Cada pacote de índices tem a sua técnica própria de cálculo de médias. Citemos a título de
curiosidade alguns casos: a ASE dos Estados Unidos baseia-se nos valores dos fundos
transaccionados em 1969 e calcula para cada ano a média aritmética simples das cotações
vigentes no mercado em relação aos fundos que compõem o cabaz de índices; os Dow Jones
Averages Industrial utilizam a mesma técnica mas em relação ao cabaz de 30 acções ou
obrigações; na Inglaterra o Financial Times Industrial baseia-se nos preços vigentes em 1935 e
calcula a média geométrica dos preços correntes dos títulos.
Em qualquer dos casos apresentados, para se obter um índice num determinado ano é
preciso, como é óbvio, dividir o valor médio encontrado em cada ano pelo valor do ano tomado
para base.
Como termómetros que são, os índices em certa medida não só diagnosticam os mercados
como também os governam. Assim se o DJIA americano cai em "queda livre", passe a
expressão, é quase certo que grande parte ou uma parte significativa dos fundos da bolsa da Wall
Street sofrem uma drástica redução. E inversamente se o DJIA sobe meteorísticamente, o que vai
acontecer é que um lote importante dos títulos no NYSE (bolsa de Nova Iorque) terá os seus
preços em processo de "boom"62.
Os mercados financeiros de que demos alguns exemplos da Inglaterra e Estados Unidos,
por serem praças que dominam ou exercem forte influência no comércio internacional, afectam
grandemente os sistemas financeiros de práticamente todos os países do mundo.
Como penetrar nessas bolsas? Ou, doutro modo, imaginemos que a nossa Companhia
Industrial da Matola gostaria de ter as suas acções e obrigações cotadas e transaccionáveis por
62 Alta
exemplo no NYSE ou na ASE, ambas dos Estados Unidos. Para o efeito são exigidas as
seguintes condições63:
-A ASE exige, entre outras, que a empresa pretendente
a) Tenha pelo menos 400.000 acções subscritas pelo público
b) Tenha receitas brutas (antes dos impostos) de pelo menos 750 mil dólares
americanos, que representam aproximadamente 11.715.000 contos64.
c) Tenha pelo menos 1.200 accionistas
Até ao presente existem poucas empresas e instituições com títulos cotados na BVM. A
primeira empresa foi Cervejas de Moçambique em 1999, mais tarde apareceram a Madal, o
Banco de Internacional de Moçambique em 2000 e a MOZAL.
63 Fonte destes requisitos: “Why stocks go UP and DOWN” de William H. Pickle – Dow Jones Irwin;
Homewood, Illinois.
64 Quase 12 biliões de meticais ao câmbio de 15.620/USD de 29 de Setembro de 2000.
65 Cerca de 40 biliões de meticais ao câmbio referido na nota anterior
Resta-nos dizer que as emissoras estrangeiras, em particular as que se situam nas praças
financeiras mais importantes do mundo (v.g. a BBC de Londres e a CNN americana) além de se
limitarem a prestar informações fornecidas oficialmente quer pelos bancos, quer pelas bolsas,
quer ainda pelas revistas e jornais da especialidade, fazem comentários em jeito de editorial sobre
a situação diária dos preços dos fundos públicos, das matérias primas e produtos diversos em
geral alimentares, dão o ponto de situação dos índices financeiros mais relevantes, que, como
tivémos ocasião de referir a propósito dos pacotes de índices, são o barómetro da situação das
bolsas e em certa medida acabam por serem elas os verdadeiros “timoneiros” dos mercados
financeiros.
Entrepostos Comerciais
Porto franco é um entreposto comercial com porto de mar onde as mercadorias são
conservadas ou submetidas a operações de transformação física ou química e depois colocadas
no mercado interno ou internacional.
Sempre que os requisitos que caracterizam o porto se aplicam não a toda a área do porto
mas apenas a uma determinada zona então esta toma o nome de zona franca ou a designação
mais genérica de Zonas de Processamento das Exportações (ZPE)66, zonas livres de direitos ou
ainda zonas económicas livres. As ZPEs são na essência um território encravado dentro de um
país e ao qual se atribui um regime especial de administração. Os produtos que nele entram para
serem processados são isentos de direitos alfandegários e outras imposições fiscais existentes no
país. Quando depois são exportados também ficam isentos de direitos fiscais. Apenas no caso em
que esses produtos são vendidos no mercados internos é que são passíveis de impostos.
Por vezes a chamada zona franca abarca apenas uma fracção de armazéns alfandegários nos
quais as mercadorias são guardadas em regime especial sem pagamento de impostos aduaneiros.
Para além de incentivos fiscais as ZPEs beneficiam de incentivos não fiscais a saber: as
chamadas férias de impostos (tax holidays) pelas quais se concede um certo número de anos (5 a
10) de isenção ou redução considerável de impostos aduaneiros, isenção ou redução de impostos
sobre rendimentos para os técnicos e especialistas que trabalham nessas zonas, subsídios em
determinados bens e serviços públicos tais como energia eléctrica.
As ZPEs não têm só vantagens. Apontam-se-lhes, inter alia, os seguintes inconvenientes:
atraem os melhores trabalhadores e especialistas nacionais, desviando-os das tarefas que vinham
fazendo anteriormente; criam uma zona de alta tecnologia de ponta, com altos rendimentos o que
contribui para o aumento das distorções67 e desiquilíbrios em termos de desenvolvimento e de
salários. Há pois que balançar os efeitos positivos e negativos (custos e benefícios) para se
ajuizar do impacto da instalação das ZPEs.
São muito conhecidos no mundo portos francos e zonas francas onde os turistas gostam de
passar férias e fazer compras porque os preços são relativamente baixos. Exemplos: Hong Kong,
Macau, Gibraltar, Hamburgo, Roterdão, Ilhas Canárias, Dubai, Madeira e Açores.
De notar que em Miami encontra-se a maior zona de comércio livre dos Estados Unidos da
América; as empresas de importação/exportação estão autorizadas a processar, empacotar ou
reexportar bens, não produzidos internamennte, sem pagamento de direitos. Estas enormes
facilidades fazem de Miami um centro de grande atracção de investimentos e emigrantes cubanos
e haitianos68 que vendem mão de obra barata; também é um pólo de atracção de negócios e
actividades subterrâneas ilegais (comércio de drogas), jogadores , especuladores e gangs de
malfeitores.
Muito positivo para a economia americana é o facto de a indústria de transportes em Miami
ter-se desenvolvido considerávelmente no pós guerra colocando o seu Aeroporto Internacional
entre os dez primeiros no mundo em termos de movimento de passageiros e de carga. Para
aquilatar da sua importância basta notar que (A. Portes et al) nos Estados Unidos é o segundo
aeroporto de passageiros e carga, depois do Aeroporto Internacional de Kennedy em Nova
Iorque; cerca de 160.000 trabalhadores (20% da força laboral de Miami) estão directa ou
indirectamente ligados às actividades do aeroporto!
Em Moçambique, como consequência da implantação da empresa Alumínios de
Moçambique - MOZAL (Mozambique Aluminium), foi construido o porto franco da Matola, o
primeiro por sinal, por onde e como referência histórica importante, em 7 de Agosto de 2000,
foram exportadas as primeiras 1.000 toneladas de alumínio ao preço de 2,5 milhões de dólares
americanos.
A própria MOZAL possui uma zona franca com as características atrás indicadas. De referir
que este complexo industrial, situado na provícia de Maputo (Belulane) é dos mais importantes
pólos de desenvolvimento, não só pelo grande impacto do valor das exportações no Fundo
Cambial como também, e sobretudo, pelos efeitos multiplicadores directos em toda a área que
circunda o projecto, como ainda pelas consequências indirectas em todo o País, em particular no
que respeita às oportunidades de geração de empregos e atracção de novos investimentos.
A situação destes portos francos, que têm regimes especiais de administração política,
permite aos países onde estão integrados a arrecadação de substanciais receitas em divisas pelo
grande volume de comércio aí realizado; constituem, como acabámos de ver, um pólo de
67 Dá-se uma distorção sempre que os custos privados do trabalho superam os custos de oportunidade
sociais; Doutra maneira diz-se que uma economia só tira proveito global das ZPEs quando o custo de
oportunidade social do trabalho que se desloca dentro do país para essas zonas é ZERO.
68 Estima-se que em finais dos anos 80 havia cerca de 750.000 latino americanos que representavam
grosso modo 40% da população (in "The Informal Economy" de A. Portes et al)
desenvolvimento significativo porque atraem capitais nacionais e estrangeiros que afluem para
montar indústrias e estabelecimentos comerciais pois além de terem custos de exploração baixos
(pelo menos em termos de custos de mão de obra e ao nível de impostos e direitos alfandegários)
os produtos tem mercado assegurado.
CAPÍTULO V
ORGANISMOS DINAMIZADORES DO COMÉRCIO
69
Vide modelo de certificado de origem emitido pela Câmara de Comércio da República de
Moçambique na página seguinte
Em acordos bilaterais com alguns países socialistas da Europa, até ao início dos anos 90,
Moçambique mantinha um sistema especial do tipo "clearing". Moçambique exporta por
exemplo 100 unidades para o país C e este exporta para nós 125 unidades; as 25 unidades que
nós temos de pagar constituem um crédito que C concede a Moçambique por um certo período (6
meses, 1 ano, 2 anos, etc.) e mediante o pagamento periódico de uma taxa de juro (1, 2, 3, 4, 5, 6
ou mais por cento).
70 Doge quer dizer magistrado superior das antigas repúblicas Italianas de Veneza e Génova.
O sistema mais vulgarizado é o de pautas múltiplas que nos casos ainda mais correntes
trata-se de pauta dupla: pauta máxima e pauta mínima.
A pauta máxima corresponde à tarifa geral aplicada a qualquer mercadoria proveniente de
países com os quais não há nenhuma convenção, tratado nem acordo comercial.
A pauta mínima aplica-se a mercadorias que provém de países que beneficiam de
preferência expressa em convenções, tratados ou acordos multilaterais. Normalmente as
bagagens de passageiros que atravessam qualquer território aduaneiro beneficiam de taxas
mínimas.
As taxas aduaneiras constantes das pautas (máximas e mínimas) podem ser específicas ou
"ad valorem"; dizem-se específicas as que tem por base uma certa medida da própria mercadoria
(unidade, capacidade, peso, comprimento, superfície); assim quando se diz que 100 metros de
tecido, uma tonelada de milho, 20 metros cúbicos de carga pagam X meticais de direitos
aduaneiros, esta taxa é específica.
As taxas "ad valorem" incidem sobre o valor monetário das mercadorias; normalmente são
expressas em percentagem. Assim, quando se diz que uma mercadoria que custou 15 milhões
meticais paga 11% de direitos alfandegários, esta taxa é "ad valorem".
Muito ligado à questão das pautas aduaneiras e ao nível das convenções, tratados e acordos
comerciais, os alunos vão encontrar com muita frequência um ou mais artigos que introduzem a
internacionalmente conhecida "cláusula da nação mais favorecida". Segundo esta cláusula dois
ou mais Estados que façam um acordo devem aplicar entre si o regime aduaneiro mais favorável
de entre todos os que cada Estado tiver acordado com os outros.
Por exemplo se Moçambique aplica a pauta mínima com um país A e se logo a seguir
assina um acordo comercial com dois outros países B e C, pela referida cláusula,
automáticamente Moçambique tem que aplicar a pauta mínima em relação a estes dois países.
Tem muito interesse terminar esta secção com algumas notas e informações sobre os
recentes desenvolvimentos no âmbito do processo de reestruturação das Alfândegas. Um dos
grandes desafios de qualquer instituição de gestão e controlo de instâncias aduaneiras é, como
vimos, o combate ao contrabando, roubos, subfacturação, sobrefacturação, evasão fiscal (função
de mero controlo fiscal). Esta missão é muito mais crítica nos paises do 3º Mundo dado que o
peso das receitas aduaneiras no Orçamento Geral é bastante significativo e as estruturas
alfandegárias são em regra muito fracas, deixando muitas brechas para actividades ilícitas.
Moçambique não foge à regra.
Todavia a disciplina que se pretende instalar teve os seus revezes que os órgãos de
informação, os agentes económicos e cartas de leitores bastas vezes denunciaram. Fala-se de uma
rispidez da Crown Agents em termos de tratamento das pessoas, quer funcionários
moçambicanos quer sobretudo utilizadores dos serviços, havendo (diz-se) manifestações de
racismo e desrespeito à soberania nacional.
As indicações que existem é que muito provávelmente o contrato com a empresa vai ser
renovado. Mais uma vez há sempre que balancear os aspectos positivos e negativos. Neste caso
diferentes sensibilidades apontam que a missão da empresa deve ser terminada tão cedo quanto
possível, deixando que a componente Moçambicana caminhe por seus próprios meios.
No capítulo X são introduzidos mais alguns aspectos importantes ligados ao esforço que o
sector das Alfândegas tem vindo a fazer para tornar mais eficientes as suas actividades.
71Este plafond representa cerca de 170 milhões de dólares americanos ao câmbio de 1975 (27,64
Esc/USD)
monetárias embora haja aqui e ali partes menos desenvolvidas de certos países em que a moeda
ainda não desempenha a sua função como instrumento de troca.
Os bancos têm uma forte acção, intervenção e controle na política monetária de um país.
Em particular os bancos centrais são muitas vezes utilizados como meio de direcção e controlo
das economias através da moeda em circulação. Registemos que se o Estado, através dos bancos,
decide retirar a moeda em circulação e substituí-la por outra, durante o período da substituição
pode haver grande perturbação na vida do país até à sua paralização (lembremo-nos que numa
operação desta encerram-se as fronteiras e ninguém entra nem sai do país).
Se por outro lado o banco central decide emitir maior quantidade de moeda e lançá-la no
mercado, sem que tenha havido aumento da produção, é bem sabido que isso afecta
negativamente a economia em termos de pressão inflacionária; se numa região existe um projecto
de instalação de uma empresa agro-pecuária, a sua concretização depende muito da política e
decisão que os bancos de crédito (no nosso caso o ex-B.P.D., hoje Banco Austral) tomarem a
respeito do financiamento de tal projecto.
Os bancos guardam o dinheiro das pessoas; mas as pessoas depositam o seu dinheiro nos
bancos ou porque tem confiança neles (e consideram mais seguro do que tê-lo em casa) ou
porque esperam ter algum benefício sob a forma de juro.
Então se os bancos por qualquer razão têm uma gestão crónicamente deficiente, as pessoas
retiram imediatamente o seu dinheiro porque perderam a confiança; ou se os bancos reduzem
considerávelmente os juros dos depósitos pode acontecer que as pessoas se sintam menos
interessadas em guardar o seu dinheiro nas instituições de crédito.
No ordenamento financeiro moçambicano, muito pouco ou mesmo nada se tem dito sobre
uma das mais genuinas instituições bancárias moçambicanas do pós independência - o Banco de
Solidariedade. Foi instituido informalmente pelo Governo de Moçambique em 1976 tendo como
fonte de recursos as quotizações voluntárias, em geral provenientes de um dia de salário por mês,
valores que eram depositados numa conta à ordem no Ex- BPD.
O voluntarismo das contribuições era a essência da instituição e pretendia-se com isso
desenvolver sentimentos altruista, patriótico de cada doador bem como o espírito de
solidariedade para com o próximo, nacional ou estrangeiro.
A gestão do Banco de Solidariedade competia ao então Governador do Banco de
Moçambique Alberto Cassimo, já falecido, que respondia perante o Governo. Esta instituição
tinha os mais variados objectivos dos quais se destacam:
a) Apoiar pessoas afectadas por calamidades naturais (v.g. inundações, ciclones, secas)
b) Dar assistência a pessoas em situações críticas acidentais (doenças raras, acidentes
graves, mortes anormais)
c) Apoiar partidos e movimentos em luta contra o colonialismo e outras formas de
opressão
CAPÍTULO VI
MARKETING E DESLOCAÇÃO DOS PRODUTOS
72 A tradução literal é "mercado em acção". Há quem tenha proposto o termo "mercantística" mas
cremos que não vingou pois é muito pouco utilizado nos textos.
73 Transferências de propriedades verificam-se quando os produtos fluem dos produtores para os
consumidores.
mercados - texto y casos dos autores Harper W. Boyd Jr. e Ralph Westfall, tradução espanhola de
Raúl Ferandez Suarez - Union Tipografica Editorial Hispano Americana, México).
Finalmente, e sem tradução, inserimos a seguinte definição de Philips Kotler in "Marketing
Management, Analysis, Planning, and Control" - Prince-Hall, Inc. - New Jersey:
-"Marketing is the set of human activities directed at facilitating and consumating
exchanges". O autor desenvolve em seguida uma longa explicação em volta desta definição; os
alunos mais interessados poderão consultar a fonte.
Há uma certa tendência de assimilar o marketing à comercialização que normalmente se faz
nos departamentos comerciais das empresas ou quando se pretende vender produtos provenientes
de campanhas agrícolas.
Em boa verdade certas empresas têm os seus departamentos comerciais tão bem
organizados e com uma gama muito ampla de actividades que incluem o que modernamente se
chama marketing, de tal modo que a gestão comercial clássica se confunde com o marketing.
No entanto podemos dizer que a gestão comercial (merchandising) abrange a planificação e
exercício de toda a actividade de compras, armazenagem e controlo de stocks, fixação de preços,
inventário, publicidade e vendas (publicidade entendida no sentido mais amplo e compreendendo
a promoção de vendas).
Os serviços comerciais têm a seu cargo todo o movimento de aquisição de matérias primas
e mercadorias, o estudo dos circuitos de distribuição e colocação dos produtos, bem como o
estudo e diligências atinentes à respectiva expansão comercial. Os serviços costumam ter várias
subsecções ou funções como sejam: compras ou abastecimento, vendas, publicidade e estudos de
mercados.
O marketing, como podemos deduzir das várias definições que apresentámos, é uma acção
comercial de uma amplitude, passe a expressão, sem limites. Quando por vezes se diz estudos de
mercado já se está a fazer uma aproximação à verdadeira natureza e conteúdo do marketing; mas
como em inglês também existe o "marketing research" diríamos que o marketing envolve não só
os estudos de mercados (mercado em sentido restrito) como também o estudo e comportamento
do utilizador final, o que em inglês se designa por "consumer research".
As duas características combinadas (estudos de mercados e estudo do consumidor) exigem
um conhecimento e investigação permanentes dos produtos e serviços a vender (aspectos de
compras, de aprovisionamento, produção, embalagens, distribuição, marca dos produtos e preços,
conjuntura dos produtos) e um estudo e percepção também permanentes da cultura, psicologia e
hábitos dos consumidores em diferentes mercados onde esses produtos e serviços vão ser
lançados.
A par de serviços de investigação de mercados e dos consumidores que se montam em
empresas de certa dimensão, existem em países como a Inglaterra, os E.U.A. e a França,
empresas especializadas em marketing que prestam assistência por encomenda às empresas
necessitadas.
É evidente que há entidades ou empresas que fazem marketing pernicioso, ou que no meio
da boa intenção procuram enganar o consumidor impingindo-lhe produtos ou serviços maus ou
defeituosos. Desses a história não deve rezar ou existem medidas administrativas para punir as
actividades de marketing que prejudicam os interesses do público.
Na dinâmica do marketing é preciso que uma empresa não se limite a utilizar apenas os
meios e técnicas modernas de informação (rádio, televisão, jornal, panfletos, cartazes,
exposições, feiras periódicas, etc.); ela deve possuir os seus agentes de publicidade e promoção
de vendas, os quais viajam de país para país em jeito de caixeiros-viajantes, e/ou andam ao nível
de certos mercados específicos, de porta em porta a persuadir e incutir nas pessoas, através de
amostras, o gosto e hábito pelo uso e consumo de bens e serviços das empresas que representam.
Modernamente o uso de computadores pessoais, ligados à Internet, torna ainda mais fáceis e
rápidas as actividades de marketing.
O sentimento que muita gente tem é de que numa economia centralmente planificada, em
que todas as componentes do plano estão perfeitamente compatibilizadas, o marketing no sentido
moderno que pretendemos definir, não existe ou não faz sentido.
Em certa medida podemos afirmar que até à introdução do PRE assistimos em
Moçambique ao desmoronar do marketing (v.g. ao nível dos medicamentos, seguros de vida,
bens douradouros e produtos de consumo corrente) tanto mais que tudo o que se produzia ou
importava no pós-independência tinha mercado assegurado; a procura era maior que a oferta e as
bichas já entravam nas componentes da cultura moçambicana; ir à bicha por ir ou para ver o que
há hoje.
Depois, com a nova mentalidade dinâmica que Programa de Reabilitação Económica
passou a exigir de todos nós, os produtores e ofertantes de bens e serviços deixaram de continuar
a manter-se numa passividade animalesca primitiva, pois mesmo numa situação de oferta menor
que a procura passou a haver necessidade de fazer um mínimo de marketing de qualidade, isto é,
lutar sempre por produzir e vender cada vez mais produtos e serviços de maior qualidade. E essa
luta não tem fim.
No limiar do século XXI a publicidade e o marketing, no quadro de uma economia de
mercado formal e oficial, já se fazem sentir com bastante acuidade e são parte integrante dos
instrumentos de dinamização da actividade comercial e empresarial.
Em muitos livros especializados de marketing verifica-se uma tendência de concentrar a
acção nos mercados sobre um conjunto de 4 variáveis ou compostos de marketing conhecidos
pelos "4 Ps" a saber: Preço, Praça, Promoção e Produto. Tem interesse destacar que uma acção
sobre a componente "Praça" implica fazer o que se chama segmentação do mercado, isto é
divisão do mercado em partes com características específicas e homogéneas. Tomando como
exemplo o caso de Moçambique, um critério importante de segmentação do mercado consiste em
considerar que grosso modo 80% da população é rural, vive do e no campo, e apenas 20% tem
características urbanas, vive e trabalha nos centros urbanos. No campo a economia mercantil é
dominada, desde o período colonial até aos nossos dias, pela comercialização agrária; face a uma
constatação deste tipo, diríamos por exemplo que muito pouco êxito pode ter um marketing
destinado a promover a venda de discos compactos de música ou pastilhas elásticas nas zonas
rurais; pelo contrário terá muito maior êxito se houver a preocupação de lançar produtos como a
capulana, o lenço, a camisa.
Encontrados estes dois segmentos gerais é útil fazer uma subsegmentação por exemplo
tendo em conta as profissões e postos que as pessoas ocupam: membros da direcção de Partidos,
membros do Governo, directores de empresas, trabalhadores por conta de outrém, corpo
diplomático, estrangeiros em geral, mineiros, "marginais", etc. Cada um destes segmentos, e
conforme os objectivos do marketing, pode ser subdividido por sexos, nível de educação, estado
civil, rendimento, salários, etc.
É tendo em conta a segmentação do mercado que a acção das outras três componentes de
marketing deve incidir.
Cremos ter dado uma breve explicação e um número de acepções variadas de marketing
que permitem aos alunos avaliar a complexidade desta categoria económica que se impôs no
mundo moderno como um instrumento e ciência autónomas.
Em estudos posteriores, particularmente nas disciplinas ligadas à Economia da Empresa,
os alunos terão ocasião de aprofundar esta matéria.
locais quase que instintivamente levadas pelo ambiente atraente e muito movimentado e acabam
por comprar o que possívelmente nunca tinham sequer pensado antes.
Por meio da troca o comércio realiza uma permanente distribuição de bens e serviços da
agricultura, da indústria, da construção, dos transportes e de outros sectores económicos e
sociais, transferindo os produtos de umas regiões para outras e das mãos de umas pessoas para
outras.
Ao falarmos aqui de canais de distribuição queremo-nos referir ao importante problema dos
circuitos de comercialização. Com efeito, não basta produzir os bens económicos (açúcar,
castanha, arroz, pão, amendoim, tecidos, etc.); torna-se necessário fazer contratos de compra e
venda, transportá-los e colocá-los nas mãos dos utilizadores finais.
Este conjunto de actividades tendentes a pôr os produtos em condições de poderem ser
utilizados pelo consumidor final tem, em terminologia económica, o nome de circulação de
mercadorias. Os autores também utilizam com o mesmo significado os termos "distribuição" ou
"comercialização".
A circulação económica física ou material opera-se através do transporte mas é o comércio,
tal como definimos, que na essência faz a circulação social ou jurídica dos bens ou serviços da
qual pode resultar a necessidade de fazer uso dos transportes. Diz-se “pode resultar” porque há
situações em que não é necessário fazer nenhuma deslocação de bens como por exemplo a
transferência da propriedade de um imóvel não necessita de nenhum tipo de transporte.
Dissémos já que o comércio deve colocar os produtos no espaço apropriado e a tempo
adequado; importa acrescentar agora que a eficiência e a racionalidade da distribuição são
condições necessárias para o comércio desempenhar correctamente o seu papael na economia.
Nas Directivas Económicas e Sociais do IV Congresso da FRELIMO encontramos muito
claramente explícita esta exigência de eficiência e racionalidade em relação á distribuição. Com
efeito na área do comércio interno diz-se, sic:
"A actividade de comércio interno assume um papel fundamental no funcionamento da
economia nacional, porque vende ao Povo os bens de consumo alimentar que lhe são necessários
e compra os excedentes da produção.
O desenvolvimento dos circuitos de comercialização é um factor para a intensificação das
trocas e constitui um estímulo efectivo ao incremento da produção.
A prioridade é organizar a comercialização correcta e com dinamismo nas zonas rurais,
assegurando a venda de utensílios agrícolas e bens de consumo industriais, normalmente
utilizados em cada zona. Devemos priorizar esta acção e actuar para eliminar as perdas
consideráveis que se registam neste processo actualmente.
necessário garantir as condições materiais para que a circulação de mercadorias sirva também os
objectivos fixados no plano.
A circulação de mercadorias deve ser dotada de meios (por exemplo armazéns, mercados,
meios de transportes, lojas, meios circulantes financeiros e materiais, etc.). Os intervenientes de
comércio integram-se nessa malha que constitui a rede comercial não de uma maneira anáquica,
como descrevemos para o caso do cantineiro, mas segundo um plano préviamente estabelecido
que traça orientações sobre a forma como se devem distribuir no território, que tarefas lhes
compete e que interesses devem servir. A orientação centralizada da circulação de mercadorias
visa evitar que o sector comercial se transforme em parasitário, elevando desnecessáriamente os
custos dos produtos por insuficiência ou intervenção de um número exagerado de estruturas,
circuitos e pessoas.
Sabendo que as empresas do Estado e as cooperativas constituem a forma de organização
sócio-económica dominante no sistema socialista, e tendo o plano um papel decisivo, as
empresas de distribuição e os canais de circulação dos produtos devem ter uma produtividade
muito alta, reduzindo os custos, racionalizando os transportes e outros meios disponíveis.
A este respeito recordemos que a nossa lei diz claramente que "a rede de comércio privado
deve ser orientada no sentido de cumprir as orientações do plano, controlando-se a abertura de
novos estabelecimentos privados e dirigindo-se a instalação destes para locais prioritários".
Embora a lei se refira expressamente ao comércio privado é evidente que os princípios e
orientações indicados são válidos para o comércio estatal e cooperativo.
Tal como o fizémos ao estudar os mecanismos de economia de mercado e de direcção
centralmente planificada, importa aqui frisar de novo que as redes de comércio descritas para os
dois sistemas políticos e económicos funcionam assim apenas na sua forma teórica-pura. Na
prática encontramos uma mistura das propriedades e vantagens de cada uma das redes “puras”.
Assim, em economia de mercado também se introduzem mecanismos de planificação central
embora com carácter indicativo (i.e., não obrigatório); por outro lado, em economias socialistas,
muitas redes comerciais (em geral as consideradas não estratégicas) são deixadas ao livre sabor
das leis de mercado (soberania do consumidor-preço-lucro).
embalagens de 10 latas cada uma ou arranjar-se um contentor de aço que comporta todas as
latas; a solução da contentorização é a melhor e mais económica pois que o contentor neste caso
tem múltiplas aplicações.
A segunda vantagem traduz-se na grande facilidade e rapidez de manuseamento (carga e
descarga); pegando o exemplo das latas de jam vê-se que o contentor uma vez preparado exige
uma única operação de carga para o navio através de guindastes e outra operação idêntica no
momento da descarga.
Uma outra vantagem tem a ver com a possibilidade que o contentor dá de armazenamento
ao ar livre (dispensando assim a utilização de armazéns). Conhecemos e vemos muitas vezes nos
nossos portos de Maputo e Nacala um grande número de contentores arrumados ao ar livre no
cais, os quais são conhecidos exactamente por cais de contentores. Um contentor muito
raramente é guardado em armazéns fechados.
Devemos destacar ainda o facto de a contentorização permitir uma maior protecção dos
produtos contra o meio ambiente e uma maior redução de riscos de quebras, derrames e roubos.
Finalmente convém sublinhar que hoje a contentorização suscitou o desnvolvimento de
meios de transportes (em particular navios) especiais e a construção de portos e cais apropriados
que permitem a movimentação e manuseamento de mercadorias contentorizadas a um ritmo e
produtividade rápidos. Os navios conhecidos por RO-RO74 que passam muitas vezes pelos
nossos portos têm demonstrado na prática as enormes vantagens da contentorização em termos
de rapidez, eficiência e aproveitamento máximo de espaço disponível. Esses navios manuseam as
cargas, entram e saem dos portos de atracagem em muito menos de 24 horas!
Esta questão poderia colocar-se de uma maneira mais genérica com o título "medição ou
contagem das mercadorias" dado que as mercadorias são comercializadas com base em medidas
de volume (m3), de capacidade (litro), de superfície (m2), de comprimento (metro), de peso
(quilo) de simples contagem em unidades (uma dúzia), etc.
Não há espaço nem tempo suficiente numa disciplina com as caraterísticas da nossa, de
abordar as questões particulares que se podem colocar no uso de cada uma das medidas
indicadas.
No estudo de problemas comerciais é usual introduzir questões típicas ligadas ás medidas
de peso. E compreende-se que assim seja pois que, no comércio, as mercadorias e as embalagens
levantam quase sempre problemas de peso bruto e o peso líquido que é preciso saber encontrar
soluções adequadas.
Com efeito ao calcular o preço das mercadorias cuja contagem é na base do peso, é preciso
ter em linha de conta o peso bruto (inclui as embalagens) e o peso líquido (sem as embalagens).
Quando se coloca a questão do material que acondiciona as mercadorias é preciso notar que há
um certo tipo de embalagens que faz parte integrante do produto e que portanto não faz sentido
falar em peso bruto e peso líquido. Exemplos: o açúcar acondicionado em saquinhos de plástico;
chá embrulhado em saquinhos (tea bags); arroz empacotado em cartuchos; os rebuçados,
chocolates e os papelinhos que os envolvem e protegem, etc.
Trata-se aqui de considerar as embalagens não só com peso significativo mas também com
valor económico (reutilizáveis ou vendáveis); citemos alguns exemplos: as garrafas de gás, os
barris e garrafões de vinho, sacos de batatas, as grades de repolho, um contentor para transportar
o cha´.
Há técnicas apropriadas de calcular o peso bruto e o peso líquido das mercadorias. Para nós
interessa saber que a pesagem deve ser feita directamente sobre o próprio produto incluindo os
invólucros que o acondicionam; depois, das duas uma: ou é possível pesar os invólucros
separadamente, ou calcula-se por estiamtiva o peso das embalagens tomando por base o peso
médio indicado nas disposições legais referentes ao produto em causa; então por simples
subtracção (peso bruto menos o peso das embalagens) obtém-se o peso líquido do produto.
Assim, enquanto que a determinação do peso líquido de um saco de arroz não levanta
quaiquer problemas pois o peso de um saco de ráfia ou sisal é conhecido e aceite por qualquer
interveniente num contrato de compra e venda comercial, o cálculo do peso líquido de chá
transportado num contentor ou o de carvão transportado num camião já exige o conhecimento e
controlo das características técnicas (peso, volume, densidade, etc.) do contentor e do veículo; a
pessoa que está encarregada de verificar o peso do contentor e do camião em balanças especiais
tem que recorrer a essas técnicas.
Para terminar este ponto importa saber que dá-se o nome de tara ao peso das embalagens.
No entanto convém também dizer que em linguagem corrente, e mesmo na terminologia
comercial, é frequente usar os termos tara e embalagens como sinónimos.
Neste ponto queremos fazer breves considerações sobre o papel e função das vias de
comunicação e dos meios de transporte no comércio.
No capítulo seguinte que trata dos contratos em geral, ocupar-nos-emos do transporte como
figura jurídica basilar no domínio da circulação das mercadorias.
A necessidade de fazer deslocar os produtos de um lugar para outro foi sentida pelo homem
desde o alvorecer da humanidade. Com efeito não se pode falar de comércio sem introduzir a
necessidade de utilizar as vias de comunicação e os diferentes meios de transporte.
O homem utiliza as vias de comunicação que a própria natureza lhe faculta (mar, rios,
lagos, ar) e as que ele próprio cria ou transforma (caminhos de ferro, estradas, pontes).
No que diz respeito aos meios de transportes a circulação de mercadorias é feita:
Aqui ao falarmos de métodos de comunicação queremo-nos referir aos meios que qualquer
entidade ou unidade empresarial utiliza para se relacionar com terceiros no quadro das suas
actividades correntes, com particular destaque para as operações comerciais e financeiras.
Duma maneira geral está estabelecido, e já é prática universal, que as relações entre
empresas, que impliquem deveres e direitos de parte a parte, devem ser traduzidas a escrito por
meio de contratos formais. Veremos mais tarde (Capítulo VII) a questão dos contratos em geral e
as principais características de algumas formas contratuais típicas.
No mundo comercial e financeiro, os contratos por escrito ocorrem só no fim de um mais
ou menos complexo e intricado número de consultas, contactos informais, propostas e contra-
propostas.
Por outro lado é sabido que há muitas operações comerciais e financeiras e um grande
número de decisões que não terminam ou não passam necessáriamente pela elaboração de
contratos. No entanto também nestes casos os meios de comunicação, tal como os definimos, são
sempre necessários e úteis.
O nosso objectivo, neste ponto, é tecer algumas considerações sobre as formas mais usuais
de meios de comunicação, com especial ênfase no formalismo e maneiras que os mesmos devem
revestir.
Sobre esta questão existem livros, cursos e mesmo programas de formação e reciclagem
especiais ao nível de certas empresas que se preocupam com este problema e tem a noção e
sensibilidade sobre a importância e vantagens, em termos de melhoria de gestão, que advém de
uma boa política de meios e formas de comunicação.
Em primeiro lugar queremo-nos ocupar do meio mais utilizado, e em certa medida já
clássico no mundo dos negócios - a carta comercial. Uma carta comercial, entre muitos outros
atributos, deve obedecer aos seguintes requisitos essenciais:
-Polidez. Significa que numa carta comercial não se deve ser "grosseiro"; mesmo quando
se trata de um conflito de interesses o subscritor da carta tem que ser sempre polido e tentar
tornear a sua eventual "fúria" com uma linguagem cortez. Isso preserva e até faz aumentar o
prestígio da empresa, o qual é um elemento essencial no mundo do comércio.
-Períodos curtos. Com isto queremos dizer que numa carta comercial deve-se ir directo ao
assunto principal e não perder tempo com parágrafos longos. Eventualmente se o assunto exige
um texto maior do que o das cartas normais deve-se fazer um esforço por evitar prosas literárias.
Em negócios "o tempo é dinheiro", diz um ditado inglês. Quando uma empresa escreve
uma longa carta75 com muitos parágrafos, pode ter a certeza de que na maior parte dos casos a
pessoa responsável pela recepção e leitura do expediente, sobretudo numa unidade empresarial
com um volume considerável de correspondência comercial, fará uma leitura panorâmica (v. g.
75Em situações normais uma carta comercial corrente com mais de uma página e meia já se pode
considerar longa
Para terminar esta importante questão queremos dar dois exemplos fictícios de cartas
comerciais, a primeira ilustra um modelo que não deve ser seguido e a segunda sugere uma
solução melhor para a mesma carta.
À
Empresa Comercial Alfa
C.Postal, 787
MAPUTO
Caro João
Espero que esta carta lhe encontre bem de saúde. Ontem mesmo recebemos a vossa carta
datada de 15 de Setembro passado a solicitar cotações para os produtos que fabricamos.
Em anexo aí vai o catálogo solicitado e um contrato de compra e venda para vossa
apreciação e assinatura.
Atenção: Agradecemos que nos responda o mais rápidamente possível pois temos muitos
clientes à espera dos nossos produtos.
Como os nossos melhores cumprimentos esperamos que a carta seja devidamente
considerada por vocês
Muito obrigado e até breve.
À
Empresa Comercial Alfa
C.Postal, 787
MAPUTO
Exmos. Senhores76
De V. Exas.
M.to. At.os e Obg.os77
P`la Direcção
José Maltos
Anexo:
1 modelo de contrato
1 catálogo de preços
Deve notar-se que a prática constante de elaborar cartas comerciais acabará por fazer nascer
um estilo sui-generis da própria empresa de tal maneira que não mais precisará de seguir à risca
as fórmulas comerciais convencionais. Só terá que obedecer aos requisitos essenciais, de que
demos alguns exemplos, e ter sempre em mente que a estrutura básica de uma carta comercial
deve conter pelo menos:
-O endereço da empresa remetente
-A data e referência numérica da carta
-O endereço do destinatário
-Introdução (em geral consiste numa pequena saudação ou, se for o caso, acusa-se a
recepção de uma carta, de uma informação, de um pedido, etc.).
Por ter interesse histórico passemos ao segundo meio de comunicação mais importante e
bastante em voga antes do uso crescente de fax e E-mail: o telex e o telegrama.
Se uma carta comercial normal deve ser curta e concisa, e normalmente não deve ir além de
uma página, até finais dos anos 80 um telex ou telegrama deviam ser ainda mais curtos e
concisos, até porque o seu custo era relativamente muito mais elevado.
Não havia regras fixas para a elaboração de telexes ou telegramas. Tanto quanto a prática
permitia instituir é que não se devia gastar tempo e papel com frases muito elaboradas em termos
de morfologia e sintaxe (sujeito, predicado e complementos). Em regra, e desde que não
houvesse margem a equívocos, no corpo do telex omitiam-se palavras e elementos gramaticais
não vitais para a compreensão do cerne do assunto e utilizavam-se muitas abreviaturas. Como
norma a estrutura básica de um telex continha:
-Endereço, i.e., o número do telex de quem envia e o do destinatário
-Corpo fundamental
-Fecho com uma linha em que básicamente se pergunta se a emissão foi bem recebida.
A feitura de um telex-telegrama exigia a deslocação física do emitente aos Serviços de
Correios, na altura chamados Correios, Telégrafos e Telefones (CTT).
Um telex devia ser utilizado em regra para contactos internacionais com a finalidade
resolver uma questão urgente com o máximo de proveitos para empresa ou nos casos em que a
carta comercial seria mais morosa e faria perder uma oportunidade de realizar um negócio.
A partir de finais dos anos 80 ganharam grande desenvolvimento e utilização cada vez mais
crescente os meios de comunicação por fax e correio electónico (E-mail)78 de tal modo que hoje,
no virar do século 20, os telegramas já cairam em completo desuso.
As máquinas de fax-telefone (fax-machine) que a maioria das modernas empresas e muitas
pessoas individuais tem instaladas nos locais de trabalho ou residência, vieram imprimir maior
dinamismno e rapidez nas relações económicas e comerciais entre empresas nacionais e
estrangeiras, para além das vantagens de (com excepção do E-mail) redução considerável de
custos de operação.
Com efeito, a combinação simultânea do uso do computador e máquina fax, faz com que
hoje já não existam as limitações de forma gramatical que apontámos em relação à feitura de
telegramas. As cartas por fax tem as mesmas características das cartas comerciais clássicas por
via de correio postal, embora estas continuem a gozar de maior preferência pois constituem ainda
um meio de comunicação mais barato.
No que respeita ao E-mail basta dizer que representa mais um grande salto tecnológico,
não só porque dispensa o uso de uma máquina (a comunicação é apenas entre computadores)
como também e sobretudo porque o uso do computador-E-mail permite integrar todo o tipo de
actividades e necessidades de informação, v.g. investigação, recolha bibliográfica, contratos
comerciais, conversa, informação dos mass medias, informação das bolsas financeiras,
espectáculos, diversões, jogos, etc.
No fundo a decisão entre usar a carta comercial por via postal, o telex, o fax, o E-mail, o
telefone depende, em cada caso, do balanceamento entre os custos e benefícios que advém desses
meios.
Acontece que infelizmente entre nós, por razões várias (uns dizem por ser mais rápido,
outros alegam avarias constantes dos telefones, outros ainda justificam-se na falta de transportes)
algumas empresas utilizam o fax e E-mail para fazer tudo e mais alguma coisa como sejam
convocatórias de reuniões, localizar e chamar alguém com urgência, dar informações correntes,
emitir circulares e quejandas coisas de ainda menor importância para as empresas comerciais
como conversas, saudações, felicitações, comiserações familiares. Esta prática deve ser banida
tanto quanto possível.
O terceiro meio de comunicação que queremos destacar é o telefone. Há situações em que o
uso do telefone, nas relações internacionais, se revela mais aconselhável apesar de implicar
maiores custos do que o telex, telegrama, fax e E-mail .
As conversações telefónicas têm no entanto o inconveniente de não constituirem um meio
formal de prova em caso de necessidade, exactamente por não serem registáveis a escrito, pelo
que só devem ser utilizadas como meio complementar quer para dar início a uma operação, quer
para confirmar, esclarecer ou renunciar um negócio ou assunto urgente. Devem ser estabelecidas
as condições gerais em que o telefone pode ser usado.
Tendo em conta o que sabemos e ouvimos, há muito mais aspectos que interessa referir.
Em princípio, numa empresa o telefone só deve ser utilizado para tratar de problemas da própria
empresa e mais nada. As chamadas para resolver questões pessoais devem ser banidas a todo o
custo.
Se fosse possível encontrar um interceptor e contador do número e tempo de chamadas
telefónicas para resolução de problemas meramente pessoais, as empresas e serviços públicos
talvez chegassem à triste conclusão de que o peso em termos de custos (medidos pelas facturas
mensais dos Correios) é bastante significativo.
Deixando de lado estes desvios cuja investigação e controlo devem ser da alçada da
direcção de cada empresa, queremos destacar duas coisas essenciais: primeiro é a questão da
delicadeza e boas maneiras e em segundo lugar é o problema das relações públicas em geral.
A primeira questão tem a ver com a maneira como se comportam os telefonistas,
recepcionistas e empregados de balcão quando em serviço. A polidez, a delicadeza e o saber falar
correctamente são características essenciais que devem estar sempre presentes no atendimento de
telefonemas e do público seja ele quem for.
Em Moçambique muita gente conhece e comenta com amargura, ou em jeito de anedota, os
casos de telefonistas e balconistas que se dirigem às pessoas com rudeza; no trato com o
interlocutor, ao longo da conversação, utilizam indistintamente o "você", "tu", "pá", "senhor",
V.Exa.". Pior ainda, na conversações misturam "tu", "você" e "senhor". Finalmente, antes de
desligarem o receptor, e como despedida, também é-lhes indiferente dizer "Tcháu", "tatá",
"adeus" ou "até mais ver".
E, o que é mais grave, discriminam as pessoas pelo aspecto exterior: côr da pele,
indumentária, apetrechos e quinquilharias que trazem (v.g. anéis, porta-chaves, relógio e, hoje
em dia, telefone móvel). Vai daí uns são excelências, senhores, patrões e são tratados com
salamalecos, sorrisos e vénias, enquanto que outros são considerados como compichas, colegas
de escola, de carteira; são os tais ”tu” e não raro descarregam sobre os mesmos as quezílias e
indisposições que trazem das suas casas.
Neste aspecto a política da empresa deve ser no sentido de dar orientações rigorosas sobre
como falar ao telefone e como atender ao balcão. Ademais deve-se procurar saber,
periódicamente, se todo o pessoal que lida com o público está a agir de acordo com as instruções
dadas. Uma caixa de sugestões e reclamções bem visível nos locais de atendimento é uma
medida salutar e demonstra confiança e predisposição das entidades para melhor servir o público.
Não devemos esquecer que do domínio das relações públicas também fazem parte
programas ou matérias sobre comunicações pelo telefone.
Para dar pequenos exemplos da prática quotidiana, ao levantar o auscultador para receber
uma chamada nunca se deve dizer como primeira frase de apresentação "o que é que quer?" e
muito menos "o que desejas?". A primeira coisa a fazer é identificar a sua empresa "daqui a
empresa X" ou “daqui número tal” e depois "faça favor". Um bom dia, boa tarde, boa noite,
sendo embora opcional, são também recomendáveis.
No seguimento da conversa, e se for para pedir para esperar um momento, não é delicado
dizer-se "espere um momento" e muito menos o é dizer-se "espera um pouco heim!". É
aconselhável usar-se as fórmulas "importa-se de aguardar um momento" ou então, tentando
traduzir o estilo inglês prático "queira esperar um momento por favor"79.
Como já atrás dissémos, e convém repisar, deve evitar-se chamadas telefónicas
internacionais para tratar de problemas correntes. Se foi necessária uma conversação ou
explicação detalhada deve-se estudar primeiro a hipótese de um fax mais longo e só em casos de
extrema necessidade é que se decide pela utilização do telefone.
Em finais dos anos 90, e durante muito tempo, a Rádio Moçambique emitia regularmente
um anúncio em que aconselhava os ouvintes a serem breves nas chamadas telefónicas porque
estas constituem divisas ao País.
O segundo aspecto que pretendemos realçar, mais ou menos relacionado com atendimento
pelo telefone, na essência pode ser incluido como o quarto meio de comunicação. Trata-se das
relações públicas em geral, isto é, do relacionamento da empresa com o público, o qual em geral
se processa ao balcão ou em compartimentos apropriados, quer para prestação de simples
informação, quer para a realização de operações correntes de compra e venda.
O modo de atendimento ao público joga um papel decisivo na política comercial de uma
empresa. A indumentária apropriada, a cortesia, a polidez e o asseio devem ser o apanágio dos
trabalhadores afectos ao contacto directo com o público.
As empresas devem, neste aspecto e talvez com prioridade em relação a outros meios de
comunicação, fazer programas de formação e reciclagem. Há muitos aspectos a considerar.
Destacamos os seguintes como simples exemplos:
- O trabalhador deve estar de pé quando atende o público, a menos que a natureza do
trabalho que realiza exija sempre tomar notas ou preencher documentos e fichas.
- Deve apresentar-se discreta e decentemente vestido de acordo com a época, os hábitos e
padrões de indumentária e cultura do seu país.
- Deve mostrar sempre uma cara de boa disposição, isto é nunca deve apresentar-se ao
público com aspecto carrancudo e testa franzida.
-Numa grande empresa, supermercado por exemplo, é de boa norma o pessoal de
atendimento estar devidamente uniformizado em termos de indumentária.
-No mundo dos negócios costuma dizer-se que o cliente tem sempre razão.
Se houver motivos objectivos para uma chamada de atenção ao cliente não se deve discutir
em público ou ao balcão. Convida-se delicadamente o cliente para uma sala ou gabinete interior
da empresa.
-Ao lidar com o público o trabalhador não deve fumar e muito menos lançar baforadas de
fumo para a cara do cliente.
Estes são princípios gerais de comportamento face ao público. Há questões específicas do
domínio da psicologia e técnica de vendas que não cabem num texto de "Noções Fundamentais
de Comércio".
Para efeitos de ilustração sejam dois exemplos de comportamento anormal de um cliente
que exige uma acção e política comerciais adequadas:
Num supermercado uma senhora foi vista a meter furtivamente na sua carteira um perfume
de luxo. O acto foi registado através de um dispositivo interno de câmaras televisivas.
Ao chegar ao caixa para fazer o registo e pagamento das coisas que escolheu e meteu no
carrinho de rodas, a cliente não declarou que também queria pagar o perfume que já tinha
guardado na carteira. Então duas atitudes podem ser tomadas pela empresa:
a) Se é uma cliente habitual e sem antecedentes de furto é boa política comercial instruir-se
o caixa para "fechar os olhos" e deixar passar a senhora.
80Pelo menos todos os 5 elementos do grupo, pelo preço irrisório de um “boujeaulais”, publicitarão o
hotel, contando pela vida fora a história que protagonizaram
Há muito boa gente que usa os termos ética, moral (mesmo a religiosa) e valor
(no sentido de juízos) como sinónimos; estão no seu direito de o fazer na medida em
que as definições e os limites do que consideramos ética são difíceis de traçar. Talvez
o princípio geral de que "A LIBERDADE DE UMA PESSOA TERMINA ONDE
A DE OUTRA COMEÇA" consubstanciada no cristianismo sob a forma de "AMA
O PRÓXIMO COMO TE AMAS A TI PRÓPRIO" sublinhe bem o conteúdo da
ética geral a que nos reportamos até agora.
CAPÍTULO VII
OS CONTRATOS
Para que um contrato seja válido à face da lei é necessário que sejam observados
determinados requisitos de que passamos a indicar os mais importantes:
Para que um contrato seja válido é necessário que as vontades das partes contratantes sejam
concordantes. É evidente que na actividade comercial há sempre um que toma a iniciativa de
propor as condições do contrato (é o proponente) mas é necessário que a outra parte aceite
livremente as condições propostas para que o contrato produza efeitos legais.
Esta questão da concordância pode á primeira vista parecer uma redundância ou um
preciosismo dos juristas. Bem vistas as coisas é uma condição fundamental no mundo comercial.
A nossa lei do comércio privado atribui uma importância de tal ordem que desceu ao pormenor
de introduzir um artigo específico sobre a "compra e venda condicional" (artigo 10). Com efeito
diz-se claramente:
"É proibido obrigar o comprador a adquirir um produto como condição para a aquisição de
outro.
A violação do disposto no presente artigo será punida com a multa de 1.000 MT a 10.000
MT"
Este requisito é demasiado evidente. Alguns exemplos são suficientes para ilustrar esta
condição.
Suponhamos que um comerciante de lacticínios assina um contrato em que se
responsabiliza a entregar uma certa quantidade de material radioactivo a extrair da Lua,
mediante o pagamento de uma determinada quantia em meticais. Este contrato enferma de vários
vícios dos quais destacamos: primeiro o objecto da actividade do comerciante é a venda de leite e
derivados e não de materiais radioactivos (portanto o contrato é ilegal); o segundo aspecto é que
o objecto do contrato não existe físicamente, nem está provado que existe na Lua (o contrato é
materialmente impossível).
Em linguagem jurídica este requisito tem o nome de "forma externa". Este requisito nem
sempre é exigido em todas as circunstâncias. Há muitos contratos em que a lei faculta às partes
contratantes a possibilidade de manifestar o seu acordo da melhor maneira que entenderem (com
ou sem forma externa).
No entanto em alguns contratos a nossa lei é taxativa, isto é exige prova documental e por
vezes um acto público. Alguns exemplos são conhecidos de todos nós: contratos de
arrendamento, contrato de casamento, contratos de empréstimo de quantias avultadas.
Duma maneira geral, mesmo nos casos em que a lei não impõe a formalização dos
contratos em documentos, as partes contratantes só têm vantagens em submeter-se ao requisito
da forma externa uma vez que a validade dos contratos é melhor provada, em caso de
necessidade (p. ex. para fazer prova nos tribunais) com documentos escritos que obedecem a um
certo número de exigências formais legalmente instituídas (forma, dimensão, publicidade,
selagem, reconhecimento notarial, testemunhas, etc.).
Ao definirmos contrato dissémos uma coisa essencial que importa aqui destacar de novo: é
um acordo entre duas ou mais partes. Ora por ser um acordo, o contrato pressupõe que as partes
se encontraram, discutiram e chegaram a um consenso. A vida económica e comercial que, como
sabemos, é hoje caracterizada por um grande envolvimento de muitas estruturas e pessoas, não
teria o dinamismo e o desenvolvimento que conhecemos se todos os contratos tivessem que
seguir rígidamente o princípio de "encontro, discussão e consenso".
Vimos que uma das funções principais do comércio é a aproximação de povos, culturas e
civilizações, embora em alguns casos, como o de Moçambique, o comércio internacional tenha
sido desenvolvido por efeito de razões ligadas à ocupação e colonização.
Hoje, mais do que nunca, a tendência é desenvolver relações bilaterais e criar estruturas e
mecanismos de integração das economias à escala regional e internacional. Nestes processos
todos, desempenham papel de relevo os tratados e acordos comerciais que têm já uma longa
história e que são objecto de estudo em ramos especializados das ciências como Economia
Internacional, Direito Comercial, Direito Internacional.
Por exemplo ao nível dos transportes aéreos e marítimos podemos afirmar que existem
regras e princípios taxativos e válidos em todo o mundo. As convenções internacionais de
transportes visam uniformizar certas regras, conceitos, direitos e obrigações para que seja mais
fácil e dinâmico o contacto e resolução de operações entre as diversas companhias do mundo.
82A Área de Comércio Preferencial (PTA), que em 1993 era composta por 22 países, deixará de existir
quando a COMESA, a seguir referenciada, tiver sido ratificada por 11 dos seus subscritores
Para já chamamos a atenção aos alunos para as diferenças entre tratado, acordo, convenção.
Na prática económica e comercial não há diferenças substanciais. Mesmo em linguagem corrente
aquelas palavras têm o mesmo significado. Com efeito tão depressa se diz Convenção de Lomé,
Convenção de Viena como se rotula Tratado de Roma, Tratado de Comércio Preferencial,
Acordo de Lusaka de 1974, Acordo Geral de Paz de 1992, Acordo Geral de Tarifas e Comércio.
Trocando entre si os termos convenção, tratado e acordo nos exemplos indicados não
cometeríamos nenhum erro de fundo e nem soaria menos bem.
7.1.5. Os INCOTERMS83
A indicação do lugar onde devem ser entregues as mercadorias é uma das questões
obrigatórias no contrato de compra e venda, porque permite logo à partida conhecer as
responsabilidades das partes contratantes. Isto é tão importante que em muitos casos a não
fixação do local de entrega levanta problemas muito delicados e de difícil solução em caso de
roubos, deteriorações, derrames, quebras, demoras no transporte, etc.
O princípio é de que as partes têm o direito de livremente decidirem onde é que se faz a
entrega das mercadorias. Mas se o contrato for omisso (não for fixado nenhum lugar) então deve-
se presumir que o lugar é o do domicílio do comprador. Em termos de responsabilidade verifica-
se assim que o vendedor responde por todos os danos e prejuízos até o local onde as mercadorias
devem estar à disposição do comprador.
No entanto quando há algum acordo é costume convencionar-se os seguintes locais de
entrega em geral:
1º - No domicílio do vendedor - esta modalidade é usual no comércio a retalho (transacção
é vista).
2º - No domicílio do comprador - é usual no comércio a retalho sobretudo quando os
produtos tem um certo volume, são pesados ou requerem cuidados muito especiais (exemplos:
venda de mobílias, de vidros para montras, de aparelhos de rádio e televisão). As despesas de
transporte e todos os riscos decorrentes são da conta do vendedor.
3º - No armazém do vendedor - esta modalidade é comum nas vendas por grosso ou retalho
nos casos em que é preciso verificar in loco as quantidades e a qualidade.
Neste caso o comprador responsabiliza-se por todas as despesas que decorrem do transporte
das mercadorias até ao seu domicílio bem como assume todos os riscos que as mesmas vieram a
sofrer.
4º - Sobre vagão na estação de expedição. Nesta modalidade o vendedor tem de colocar a
mercadoria no local e dentro do meio de transporte que vai ser utilizado (vagão neste caso); daí
para a frente a responsabilidade por danos e prejuízos que eventualmente venham a ocorrer
durante o transporte até ao local de destino cabe ao comprador. Internacionalmente esta
modalidade é conhecida por F.O.R. (free on rail).
Esta modalidade é mais conhecida por F.O.B., do inglês free on board. Por isso
variadíssimas vezes verão na prática comercial indicações do tipo FOB Maputo, FOB Paris, etc.;
significa que o contrato responsabiliza o vendedor a pôr as mercadorias no porto de Maputo ou
no porto de Paris respectivamente; lógicamente que quando se trata de transporte aéreo em vez
de porto está-se a falar de aeroporto.
10º - Livre a bordo no porto de destino.
Esta é uma extensão da modalidade anterior e significa simplesmente que o vendedor paga
todas as despesas inerentes à colocação das mercadorias no porto de destino. É evidente que estes
custos já forma incluidos no contrato por acordo entre as partes.
Comercialmente é mais conhecida por C.I.F. que são as iniciais da expressão inglesa cost,
insurance and freight (custo, seguro e frete).
Tal como o caso anterior a modalidade C.I.F. está muito consagrada no mundial. Diz-se
com frequência que importámos 20 toneladas de milho C.I.F. Beira, C.I.F. Nacala ou C.I.F.
MAputo; exportou-se camarão C.I.F. Tóquio, C.I.F. Madrid, etc.. Significa que o vendedor pagou
todas as despesas (custo, seguro e frete) até os produtos chegarem ao porto (aeroporto) de
destino.
11º - Na alfândega, no porto de origem ou de destino. Esta modalidade caracteriza-se pelo
seguinte: o comprador para ter o direito de posse sobre as mercadorias deve pagar todas as
despesas inerentes ao processo de desalfandegação (direitos aduaneiros, despesas com o
despacho, selos e impostos fiscais, despesas com a remoção das mercadorias, etc.).
12º - No armazém geral ou no entreposto de origem ou de destino. É uma variante da
modalidade anterior que se verifica quando as mercadorias são postas não nas alfândegas
(Aparelho de Estado) mas em armazéns gerais ou entrepostos que normalmente são geridos por
unidades empresariais especializadas e estão organizados para guardar e conservar produtos
manuseados nos portos, estações de caminhos de ferro e aeroportos enquanto se processam as
formaliddes burocráticas necessárias ao seu desalfandegamento.
Em aditamento aos termos clássicos (1936) que acabámos de ver, a Câmara de Comércio
Internacional foi estabelecendo até aos anos 90, novos incoterms agrupados por letras a saber: E
refere-se à partida no sentido de origem (o vendedor coloca as mercadorias à disposição do
comprador nas instalações indicadas por este); F refere-se ao transporte principal não pago (o
vendedor limita-se colocar as mercadorias no local do transporte acordado); C diz respeito ao
transporte principal pago (o vendedor tem a obrigação de organizar e pagar o transporte); e
finalmente a letra D refere-se à chegada no sentido de destino (o vendedor coloca as mercadorias
no local de destino, sem proceder ao deslfandegamento e pagamento de direitos).
Assim, são considerados os seguintes INCOTERMS:
a) EXW - Ex-Work, na fábrica (no local combinado). Este termo significa que o vendedor
tem a responsabilidade de entregar a mercadoria na instalações indicadas pelo
comprador.
b) FCA - Fre Carrier, Franco Transportador (no local combinado). Significa que o
vendedor tem a obrigação de entregar a mercadoria exportada à responsabilidade do
transportador indicado pelo comprador no local combinado.
c) FAS - Free Alongside Ship, FOB - Free On Board, C&F (ou CFR) - Cost and Freight,
CIF - Cost, Insurance and Freight. . Estas modalidades clássicas não sofreram alterações
em relação ao que foi dito atrás.
d) CPT - Carriage Paid To, Transporte Pago Até (local de destino combinado). Esta
modalidade significa que o vendedor paga o frete para o transporte da mercadoria até ao
destino combinado no contrato. Os riscos de perdas e danos, bem como quaisquer
outros custos incorridos depois de a mercadoria ser entregue à guarda e
responsabilidade do transportador, são transferidos para o comprador.
e) CIP - Carriage and Insurance Paid To, Transporte e Seguro Pago Até (local do destino
combinado). Significa que o vendedor tem as mesmas obrigações atribuidas pela
modalidade CPT, acrescidas da responsabilidade de pagar o seguro da mercadoria
contra riscos durante o transporte.
f) DES - Delivered Ex Ship, Entregue no Navio ( no porto de destino combinado).
Significa que o vendedor tem a responsabilidade de entregar a mercadoria à disposição
do comprador a bordo do navio, sem estar desalfandegada no porto de destino,
suportando o vendedor todos os custos e riscos de expedição até ao porto de destino
combinado.
g) DEQ- Delivered Ex Quay, Embarque no Cais com Direitos Pagos (no porto de destino
combinado). Significa que o vendedor tem a obrigação de entregar a mercadoria à
disposição do comprador no cais do porto de destino acordado e devidamente
desalfandegada, devendo o vendedor suportar todos os riscos e custos realcionados com
a referida entrega.
h) DDU - Delivered Duty Unpaid, Entregue sem Direitos Pagos (no local de destino
combinado). Este INCOTERM significa que o vendedor tem a obrigação de entregar a
mercadoria à disposição do comprador no local indicado no país de importação,
devendo o vendedor suportar todos os custos e riscos, com excepção de direitos, taxas e
outros encargos aduaneiros referentes à entrega da mercadoria.
i) DDP - Delivered duty Paid, Entregue com Direitos Pagos (no local de destino
combinado) Este INCOTERM significa que o vendedor tem a obrigação de entregar a
mercadoria à disposição do comprador no local indicado no país de importação,
devendo o vendedor suportar todos os custos e riscos, incluindo direitos, taxas e outros
encargos aduaneiros referentes à entrega da mercadoria.
Até agora, no estudo dos aspectos mais relevantes a ter em conta na elaboração dos
contratos de compra e venda, concentramos a nossa atenção na mercadoria em si e observámos
que a definição do lugar de entrega é de tal importância que em muitos casos ela é obrigatória.
Vejamos em seguida os contratos mais usuais no mundo comercial começando por destacar mais
alguns aspectos específicos ligados com as mercadorias.
a) As marcas
Em qualquer mercado as pessoas são sem dúvidas muito influenciadas pela qualidade do
produto; mas muitas vezes sofrem a influência das marcas. As marcas são sinais exteriores que
tem por objecto identificar o produto, individualizá-lo e distingui-lo dos demais. A sua função
Neste sentido diremos para simplificar que há patentes referentes a marcas ou a simples
técnicas de fabricar uma bebida (com ou sem marca industrial ou comercial).
No que diz respeito à determinação das quantidades de mercadorias que devem ser objecto
do contrato de compra e venda há a considerar os seguintes processos:
-Por bloco ou partida inteira (também se diz a esmo) quando o preço é combinado tendo
por base uma partida de mercadorias que está num certo local sem necessidade de se contar,
pesar ou medir. Apenas se faz uma estimativa global das unidades de contagem ou medição.
Neste processo há pelo menos duas hipóteses: ou de facto a estimativa é feita de maneira
definitiva no momento do contrato (venda de um conjunto de galináceos contidos num aviário)
ou faz-se uma avaliação aproximada e abre-se a possibilidade de verificação e controlo à
posteriori (então se a diferença fôr para menos, o comprador beneficia de uma redução no preço;
se a diferença fôr para mais o vendedor não beneficia do amuento de preços se a estimativa for
feita em proveito do comprador).
84De notar que há nomes de empresas que a prática consagrou como verdadeiras marcas; são os casos
de LAM (Linhas Aéreas de Moçambique), SAA (South African Airways), TAP (Transportes Aéreos
Portugueses), BIM (Banco Internacional de Moçambique), BCM (Banco Comercial de Moçambique).
- Por conta, peso e medida. Esta expressão é muito conhecida pelo vulgo. Significa que o
preço das mercadorias foi fixado tendo em conta certas unidades de conta (100 canetas, 12
relógios, 1 automóvel), de peso (1 kg de bananas, 3 kgs de arroz) e de medida (5 metros de pano
crú, 30 cm de renda, 25 metros de cabo).
Note-se que a forma de regularização das diferenças pode estar prevista no clausulado do
contrato.
Queremos chamar a atenção dos alunos para o estudo atento deste aspecto. Recomendamos
para o efeito a questão do uso dos INCOTERMS que abordámos no ponto 7.1.5.
Passemos ao estudo dos aspectos ligados à fixação dos preços - é a outra face importante
dos contratos comerciais.
Primeira questão: que moeda utilizar?
Segunda questão: qual o preço contratual?
No que respeita à espécie de moeda a utilizar nas transacções comerciais há que ter em
conta as seguintes situações:
- Se as partes contratantes numa operação de compra e venda são nacionais e o contrato
realiza-se dentro do seu país então a moeda a utilizar é lógicamente a desse país. A este respeito
importa dizer que em todo o mundo o comércio nacional, entre cidadãos do mesmo país, não
pode ser feito em moeda de outros países. Há leis rigorosas que impedem a utilização de moeda
estrangeira nas trocas comerciais entre nacionais do mesmo país.
- Se as partes contratantes são de países diferentes (dá-se isto no comércio de importação e
exportação) então a moeda a utilizar pode ser a do país que tiver a moeda mais estável no
comércio internacional (por exemplo entre um indiano e um inglês é normal convencionar-se o
pagamento em libras porque a moeda inglesa tem sido mais estável do que a rupia da India). Se
ambas as moedas forem instáveis ou não tiverem cotação internacional, as partes convencionam
o pagamento numa 3ª moeda geralmente a dos considerados como tendo moeda forte (exemplo,
entre um zambiano que exporta cobre e um finladês que quer importar este metal a moeda de
pagamento nem será a Kwacha da Zâmbia e nem tão pouco a coroa da Finlândia porque nenhuma
delas é considerada moeda forte internacionalmente; então ambos escolhem por exemplo o dólar
americano).
No que diz respeito à fixação dos preços temos as seguintes modalidades mais usuais:
- Por acordo entre as partes contratantes. O preço fixado por ajuste entre o comprador e o
vendedor rege-se pelas leis económicas de mercado de livre concorrência - lei da oferta e
procura.
- A forma mais corrente consiste em distinguir produtos que podem submeter-se ás leis do
mercado e produtos que devem ter os preços fixados e controlados pelo Estado.
Assim temos preços fixados por lei que constam de tabelas oficiais publicadas em órgãos
de informação do Governo e/ou na Rádio e nos Jornais mais lidos. Normalmente esta forma de
determinação dos preços visa assegurar uma certa estabilidade de preços de produtos essenciais
de consumo e utilização corrente (arroz, açúcar, sabão, transportes públicos, etc.).
Actualmente com a eliminação total dos subsídios do Estado a certos bens de consumo,
apenas os produtos sujeitos à comercialização agrícola é que têm preços administrativos fixados
pelo Estado e que visam proteger o produtor (neste caso são preços tabelados mínimos).
Em países onde a planificação e controlo atingiram altos níveis de eficiência, práticamente
todos os produtos no mercado tem os preços tabelados e devidamente controlados.
- Os preços podem ainda ser fixados por concurso público. Conhecemos bem a posição do
comprador de grandes quantidades, que lança um anúncio no jornal declarando que está disposto
a adquirir uma determinada coisa e que aceita propostas. Os potenciais vendedores enviam para o
local designado pelo comprador as suas ofertas com indicação do preço; o comprador escolhe a
proposta que achar mais favorável (preço, qualidade, quantidade, prazo etc.).
O Estado e as grandes empresas utilizam bastante esta modalidade (exemplos: concurso
público para fornecimento de mobiliário escolar; concurso público para construção de uma
barragem).
- A modalidade anterior (concurso público) também pode ser utilizada pelo vendedor. As
mercadorias são expostas públicamente e o vendedor propõe um preço de partida às pessoas que
se juntarem no local de exposição; os potenciais compradores vão propondo preços cada vez
mais altos até que o produto é entregue ao proponente que ofereceu o preço mais alto.
Esta modalidade tem vários nomes dos quais destacamos os mais usuais: leilão, hasta
pública, arrematação.
- Finalmente façamos uma breve referência à forma conhecida por cotação da bolsa. O
preço é estabelecido diáriamente nas bolsas internacionais e aplica-se geralmente a moedas e
certas mercadorias tipo café, chá, madeiras, cobre, algodão, etc.
É costume conceder este desconto aos clientes que pagam as mercadorias ou no momento
da sua entrega ou num prazo não superior a 8 dias. O desconto incide sobre o valor da factura e a
taxa varia conforme a natureza da operação comercial.
f) Quando ao pagamento
-Pagamento a pronto
Dá-se quando o pagamento se efectua até 8 dias depois da entrega das mercadorias. Verão
com muita frequência que na prática é norma associar-se esta com a modalidade anterior então
diz-se "a pronto e imediato pagamento".
-Pagamento a prazo
Esta modalidade acontece quando o pagamento se faz dentro de um certo prazo fixado nas
cláusulas contratuais a partir da data do envio das mercadorias. Pode ser de 30, 60, 90 dias; raras
vezes ultrapassa os 6 meses nas transacções correntes. Nas compras a médio e longo prazo pode
convencionar-se períodos maiores; como exemplos tem-se situações de um a dois anos para
obras de reabilitação de um apartamento e cinco, dez, quinze, vinte anos para pagamento de um
moradia adquirida a crédito.
-Pagamento a prestações
pelas mercadorias até ao momento em que elas são descarregadas do navio no porto de destino
(seja por exemplo Paris) porque isso é por princípio contra a definição de INCOTERM FOB).
A distribuição, como já vimos, é uma função essencial no comércio. Ela tem que ser feita
de tal maneira que se tire o melhor proveito possível dos recursos disponíveis. Mas isso não pode
significar necessáriamente que o canal mais curto ou com menores custos é o mais recomendável
ou que o canal mais longo (mais caro em termos absolutos ) é o menos recomendável.
A escolha dos canais tem que ser devidamente ponderada e há que ter em conta vários
factores e intervenientes nos circuitos de distribuição: transportes, seguros, agentes,
correspondentes, armazenistas, tipo de produto, quantidade, prazos etc.
Este ponto foi estudado no capítulo VI ponto 6.3. "A distribuição dos produtos. Os canais
de distribuição".
A encomenda é o acto pelo qual o comprador solicita por carta, por telefone, por telefax ou
E-mail o envio de uma determinada quantidade e qualidade de mercadoria e as condições de
contrato que gostaria de negociar. A encomenda dá sempre lugar à emissão de documentos como
sejam:
- A nota de encomenda, que é o documento mais em voga na actividade comercial por
grosso; é sempre emitida pelo comprador em duplicado, sendo o original enviado ao vendedor.
- A ordem de compra, que é o documento pelo qual um comprador dá indicações a um seu
agente, representante ou correspondente sediado numa outra praça para fazer um certo número de
aquisições.
Fique bem claro que a ordem de compra não se confunde com nota de encomenda; esta é
feita ao vendedor e aquela é dirigida ao representante do comprador.
- Requisição. Este termo é muito conhecido na actividade comercial, industrial e nos
serviços em geral; podemos dizer que no comércio também tem o sentido que o vulgo lhe
consagra. Então uma requisição comercial é um documento emitido pelo comprador pelo qual ele
levanta as mercadorias no armazém do vendedor. Claro que pressupõe que o vendedor já acordou
com quem faz a requisição e o levantamento das mercadorias.
- Nota de venda. Não é tão vulgar a emissão deste documento. É mais utilizado no
comércio por grosso e serve para dar conhecimento aos caixeiros viajantes, agentes e outros
representantes do vendedor, das mercadorias que os clientes encomendaram.
Não se deve confundir com a ordem de venda que funciona para os vendedores como a
ordem de compra funciona em relação aos compradores.
A nota de recepção pode ser apensa à guia de remessa, pode ser uma parte destacada desta
por um picotado adequado, ou pode ser a própria guia de remessa que para o efeito tem no pé da
folha uma linha reservada à assinatura do comprador ou de quem o represente que declara que
recebeu as mercadorias em boas condições.
- Factura85
É o documento mais importante de todos os que vimos até agora. É obrigatório nas
operações comerciais e está sujeita a normas rígidas em termos fiscais (selos e impostos).
A factura é o documento pelo qual o vendedor faz a discriminação completa das
mercadorias, indica as despesas que efectuou, as vantagens que concede ao vendedor, as
condições de entrega e de pagamento e o seu preço final. É evidente que numa compra a pronto e
imediato pagamento não faz sentido emitir este documento. Passa-se logo um recibo.
Os modelos de factura variam de empresa para empresa, mas há um conjunto mínimo de
requisitos que todas as facturas devem conter, a saber: o nome do estabelecimento comercial; o
endereço da sede; o número do documento; a data da emissão; a quantidade, qualidade e
referências das mercadorias; as condições de entrega e de pagamento; o número de telefone e o
código de telex ou do telefax o endereço do E-mail.
Vejamos quais as espécies de factura mais utilizadas:
- Factura de praça. É emitida nos casos em que ambas partes contratantes são da mesma
praça (praça tem o sentido de local). Em geral estas facturas servem também de recibo.
- Factura de expedição. É aquela que é emitida entre praças diferentes quer do mesmo país
quer de países diferentes.
- Factura provisória ou condicional. É a factura que diz respeito a mercadorias que um
comerciante remete a outro para este vender à condição podendo ele mesmo ficar com elas, isto é
comprar; então em relação às mercadorias que o intermediário ou o comprador não devolver, o
vendedor passa uma factura definitiva.
- Factura-pro-forma ou factura simulada. É um documento bastante utilizado no comércio
internacional. É passado pelo vendedor nos casos em que ainda não há uma venda efectiva (real)
e que tem apenas por objectivo dar informações ao comprador sobre as condições de venda
(preço, seguro, transporte, pagamento) de uma mercadoria préviamente solicitada pelo
comprador.
- Nota de débito
Nota de débito é um documento que o vendedor emite para informar ao comprador o valor
que tem a pagar relativamente à factura que anteriormente lhe foi passada.
Como muitas vezes a própria factura já dá indicações completas sobre a importância que o
comprador deve pagar, na prática a nota de débito só é utilizada excepcionamente nos casos em
que houve um erro ou omissão na discriminação ou cálculo dos preços (é corrente as razões
principais serem devidas a esquecimentos em debitar despesas de transporte, embalagens,
seguros, comissões, etc.).
Na essência o que importa saber é que a nota de débito não deve confundir-se com a
factura; aquela é um documento rectificativo desta.
- Nota de crédito
Tal como o documento que acabámos de exemplificar, a nota de crédito serve para
rectificar erros ou omissões que o vendedor cometeu ao fazer ajustamentos de preços por
motivos não previstos na altura da emissão da factura; a nota de crédito beneficia o comprador.
- Certificado de origem
Comércio, pela Alfândega ou outra instituição competente da origem, em face das facturas
apresentadas pelo vendedor.
As Alfândegas em geral exigem nas importações que o comprador (importador) comprove
a origem das mercadorias quer para efeitos de desalfandegamento normal quer sobretudo para
casos de isenção de direitos alfandegários.
- Extracto de factura
O seguinte exemplo foi preparado pelo gabinete jurídico do antigo Ministério do Comércio
Externo.
É um modelo de contrato com condições gerais de venda que é normalmente aplicado pela
ENACOMO, primeira empresa estatal de comércio externo da República de Moçambique, hoje
transformada em sociedade anónima de responsabilidade limitada.
CONTRATO
3 - QUANTIDADE
A mercadoria deverá ser entregue na quantidade acordada. As tolerâncias normais para
entrega devem ser acordadas no contrato pelas partes e o número de embalagens e/ou peso da
mercadoria entregue serão determinadas:
- No transporte por via marítima, através do conhecimento de embarque.
- No transporte por via aérea, através da carta de porte aéreo.
- No transporte por remessa postal, com base no recibo postal.
4 - Embalagens e Marcas
Se nada se estipular no contrato o vendedor deve embalar a mercadoria de acordo com as
normas de exportação do país do vendedor em correspondência com o produto objecto da
compra e venda, de modo a que se garanta a protecção da mercadoria durante o seu transporte.
Se não se estipular expressamente no contrato, cada embalagem será claramente marcada
com pintura indelével da seguinte maneira:
- Número do contrato e/ou número de ordem do comprador
- Nome do comprador
- Número de embalagem
5 - Prazos de Entrega
6 - Bases de Entrega
b) Nas vendas FOB o vendedor deverá notificar o comprador num prazo razoável que a
mercadoria está pronta para o embarque;
c) O comprador, em todas as vendas, deverá transmitir oportunamente as obrigações
contratuais do vendedor no que se refere às marcas, embarque, notificação e outros elementos
que de conformidade com as circunstâncias não possam ser do seu conhecimento.
Se não se estipularem outros prazos no contrato, o comprador obriga-se a comunicar tais
dados ao vendedor 30 dias antes do início do prazo de entrega estipulado no contrato.
7 - Formas de Pagamento
Salvo se o contrário tiver sido estabelecido pelas partes, o pagamento por parte do
comprador deverá ser efectuado por meio de uma carta de crédito irrevogável e confirmada por
100% do valor da factura de embarque, aberta por um banco da primeira classe aprovada pelo
Banco de Moçambique a favor da ENACOMO, Sarl., na moeda de pagamento estabelecida por
ambas as partes no contrato.
A carta de crédito poderá permitir embarques parciais e será negociável contra a
apresentação pelo vendedor ao Banco de Moçambique dos seguintes documentos.
- Jogo completo de conhecimentos de embarque limpos a bordo emitidos á ordem do Banco
de Moçambique e endossados em branco.
- Factura comercial
- Certificado de seguro negociável, em caso de venda CIF.
8 - Inspecção
9 - Força Maior
As partes não serão responsáveis pela falta de cumprimento total ou parcial das suas
obrigações contratuais quando esta se deve a acontecimentos extraordinários, imprevisíveis e
inevitáveis que, fora da vontade e actuação das mesmas surjam depois da formalização dos
contratos.
A parte que invoque a causa que a exima da responsabilidade, notificará imediatamente a
outra parte por um certificado emitido pela Câmara do Comércio do seu país, a natureza,
começo, duração e as possíveis consequências do acontecimento assim como, em seu devido
tempo, a cessação do mesmo.
O prazo e a data do cumprimento das obrigações afectadas prorrogar-se-à automáticamente
por um prazo de igual duração á vigência do acontecimento ocorrido.
Não obstante o previsto nos parágrafos anteriores, se os acontecimentos perdurarem por
mais de 3 (três) meses as partes estarão livres das suas responsabilidades e nenhuma delas terá
direito a qualquer tipo de acções relacionadas com o incumprimento das suas obrigações.
10 - Reclamações
a) As reclamações poderão ser apresentadas:
- Em relação á qualidade da mercadoria, dentro dos dois meses seguintes à data da entrega;
- Em relação à quantidade da mercadoria, dentro dos 30 dias seguintes à data da entrega;
- Em relação com o cumprimento inadequado ou incumprimento das obrigações
estabelecidas no contrato, durante os três meses seguintes á data do cumprimento da obrigação.
Se o comprador não apresentar a reclamação dentro dos prazos indicados na alínea anterior
perderá o direito de recorrer à arbitragem.
Depois de recebida a reclamação, dentro dos termos estipulados na alínea anterior, segundo
o caso, a parte reclamada deverá dar resposta á mesma dentro de 30 dias posteriores à data do
conhecimento da reclamação em caso de não dar resposta no prazo antes indicado, a reclamação
considerar-se-á sem efeito.
11 - Arbitragem
As partes comprometem-se a cumprir este contrato de boa fé. Todas as disputas emergentes
da interpretação, execução ou de alguma forma em conexão com o contrato serão solucionadas
mediante negociação entre as partes e caso não se chegue a acordo o assunto será submetido á
decisão de _______________________________________
______________________________________________________________________________
_______________
aplicando-se as leis substantivas e processuais do dito país. A sentença que for proferida será
definitiva e de cumprimento obrigatório para as partes.
12 - Vigência
As presentes condições gerais entrarão em vigor depois de firmadas pelas partes e terão
uma vigência de_______ anos prorrogáveis automáticamente por igual período se nenhuma das
partes decidir a sua denúncia com três meses de antecedência ao fim do período de vigência.
As presentes condições gerais foram elaboradas em dois originais sendo ambos em língua
_________________ de igual teor e validade jurídica.
A de peças no montante de 50,58 milhões de meticais. Então pelo sistema de conta corrente A
recebeu mais do que entregou pelo que no fim do contrato (que neste caso é de um ano) deverá
pagar a B a diferença (50,850 - 45) ou sejam 5, 85 milhões de meticais.
Como se vê neste exemplo simples, o contrato de conta corrente tem grandes vantagens
entre as quais se destacam: dinamizar o comércio na medida em que as partes interessadas não
têm que preocupar-se com os mecanismos de liquidação em cada operação que intervém; por
outro lado o facto de terem de fazer só uma liquidação no fim do prazo do contrato poupa-lhes
tempo e sobretudo despesas bamcárias, fiscais e outras relacionadas com documentos e papelada.
Verifica-se também que há uma economia em termos de quantidade de moeda usada nas
transacções realizadas durante o período; neste caso em vez de se movimentar 95, 85 milhões de
meticais, apenas se utilizam 5,85 milhõe de meticais que representam o saldo. Isto multiplicado e
visto a uma escala nacional (onde há milhares de intervenientes) representa sem dúvida uma
apreciável redução de massa monetária "física" em circulação.
Há uma modalidade de conta corrente muito importante que se verifica ao nível dos bancos.
Com efeito é muito frequente as instituições bancárias terem contas correntes com os seus
correspondentes estrangeiros e mesmo clientes nacionais.
As contas correntes podem ser a descoberto, com caução e com juros. Normalmente nos
três casos os beneficiários têm a faculdade de utilizar um crédito até um certo montante
designado por plafond. Quando o beneficiário não tem que dar nenhuma garantia para a
liquidação do saldo final diz-se conta corrente a descoberto; quando o beneficiário apresenta ao
banco uma garantia real de pagamento do saldo final diz-se conta corrente com caução. Dos
contratos de conta corrente resulta normalmente a necessidade de calcular juros; está-se então em
presença de conta corrente com juros (a descoberto ou com caução).
Quando os alunos estudarem as aplicações da matemática financeira nas operações
comerciais e financeiras verão alguns métodos de cálculo de juros em contas correntes
(disciplinas de Matemática Financeira e Análise Financeira).
Antes de concluir façamos duas observações importantes em jeito de ressalva: primeiro,
não devemos confundir conta corrente que é um contrato comercial que deve ser entendido tal
como o definimos, com as designações comuns na linguagem do dia-a-dia "tenho uma conta no
banco, tenho uma conta na loja", que significam o facto de se ter dinheiro no banco no 1º caso e
ter a possibilidade de levantar normalmente mercadorias na loja sem pagar no imediato, no
segundo caso.
A segunda observação refere-se ao termo descoberto. Os bancos por vezes dão aos seus
clientes a faculdade de levantar dinheiro para além do montante que eles têm em depósito;
suponhamos que um cliente C tem depositado num banco B a importância de 200.000 contos; se
o banco B autoriza que C saque da sua conta até a importância de 250.000 contos (sem ser por
empréstimo) então diz-se que C está a beneficiar de um descoberto no valor de 50.000 contos.
Esta possibilidade deve ser formalizada num acordo documental em que se estabelece um
plafond para além do qual os juros começam a ser agravados.
7.2.4. Empréstimo
O empréstimo é o contrato segundo o qual alguém cede a outrem alguma coisa (bens ou
dinheiro) para que este a utilize durante um certo prazo comprometendo-se a restituí-la na mesma
espécie ou em qualquer outra coisa equivalente.
O empréstimo toma caráter comercial quando a coisa cedida se destina a qualquer acto
comercial e quando o contrato é feito mediante uma certa retribuição.
A figura do empréstimo também é muito corrente em actos civis, isto é, entre cidadãos que
não estão envolvidos em nenhuma actividade comercial.
O empréstimo aparece com o nome de comodato quando recai sobre coisa que deva ser
restituida na mesma espécie, então o que cede chama-se comodante e o que recebe intitula-se
comodatário. Quando o empréstimo recai sobre uma coisa que deva ser restituida por outra
qualquer, mas de valor equivalente. recebe o nome de mùtuo; neste caso o cedente chama-se
mutuante e o que recebe tem o nome de mutuário.
Convém reparar que o comodato e o mútuo são geralmente gratuitos, mas quando a
cedência da coisa se faz mediante uma certa retribuição o primeiro recebe o nome bastante
corrente de aluguer e o segundo o de usura.
Nos empréstimos de dinheiro o valor absoluto da retribuição resultante do contrato chama-
se juro e é a diferença entre o capital acumulado ao fim de certo período e o capital inicialmente
emprestado. Por seu turno a taxa de juro é um ratio que representa a importância a ser paga numa
base de 100 unidades da quantia emprestada. Esse ratio em geral é referido ao ano (taxa de juro
annual) mas pode tomar como referência qualquer período (v.g., hora, dia, mês, trimestre,
semestre, casos em que se diz respectivamente taxa de juro horária, diária, mensal, trimestral,
semestral. Na disciplina de Matemática Financeira estuda-se o problema dos juros com maior
desenvolvimento.
7.2.5. Depósito
O contrato de depósito dá-se quando uma pessoa, empresa ou qualquer tipo de unidade
económica e social se compromete a:
- Guardar qualquer coisa móvel que recebeu da outra parte contratante;
- Devolver essa mesma coisa no termo do contrato ou quando lhe for exigido.
- O depósito é comercial quando os objectos de depósito se destinam a um ou mais actos de
comércio.
No caso particular de a pessoa que recebe o depósito tiver a faculdade de utilizar a coisa em
seu próprio proveito ou para qualquer outra actividade, o contrato deixa pura e simplesmente de
ser depósito e passa a designar-se empréstimo comercial ou outro tipo de contrato de acordo com
as características e o conteúdo das operações envolvidas.
A pessoa que recebe o depósito tem o nome de depositário e a que entrega chama-se
depositante.
O depósito bancário que estudaremos no capítulo sobre os bancos e operações bancárias é
um caso particular de depósito.
Nos portos, aeroportos e estações de caminhos de ferro, existem lugares apropriados onde
os passageiros podem guardar as suas bagagens durante um certo período mediante pagamento de
uma certa importância.
O depositário tem certas obrigações que vêm expressas no contrato; normalmente no
documento ou bilhete-talão que o depositante recebe no acto de depósito vêm extractos de alguns
direitos e obrigações das partes contratantes.
Dá-se o contrato de locação quando alguém faculta a outrem, por um certo prazo, e
mediante uma retribuição, o direito de fazer uso de uma determinada coisa.
A locação tem o nome de aluguer quando o contrato tem por objecto uma coisa móvel (v.g.
aluguer de um veículo para transportar uma mobília; note-se que não se trata de empréstimo).
Quando a locação recai sobre um objecto imóvel tem o nome de arrendamento.
Dada a importância política e social que reveste o arrendamento para os cidadãos em geral,
demoremo-nos um pouco sobre esta figura de contrato. Para o efeito façamos uso da Lei do
Arrendamento que define o regime jurídico do arrendamento dos imóveis para habitação,
indústria, comércio ou serviços.
Segundo a nossa lei (Artigo 4) "arrendamento é o contrato entre o locador e um inquilino,
pelo qual este adquire o direito de utilizar um imóvel, obrigando-se ao pagamento de uma renda".
Inquilino é a pessoa, individual ou colectiva, que recebe de arrendamento um imóvel. Até à
introdução formal do sistema de economia de mercado, o locador era apenas o Estado ou
entidade legalmente autorizada para exercer o direito de arrendar imóveis. Hoje não há
monopólio estatal na área de arrendamento de imóveis.
Portanto as partes do contrato são o inquilino e o locador. O contrato para a habitação é
celebrado por tempo indeterminado. O locador tem, entre outras, as seguintes obrigações:
-Entregar o imóvel nas condições de habitabilidade que o seu tipo de construção permita;
-Garantir ao inquilino a utilização do imóvel e o exercício dos seus direitos;
-Proceder à execução e pagamento das reparações do imóvel.
Por outro lado estão previstos para o inquilino os seguintes deveres (entre outros):
No que respeita á fixação da renda a nossa lei diz claramente que há que ter em conta os
seguintes elementos:
87Convém advertir que a distinção que aqui se faz entre móveis e imóveis é meramente jurídica e
condiz com o próprio sentido etimológico das palavras. Do ponto de vista técnico-económico, os
meios imobilizados podem ser corpóreos e incorpóreos; aqueles são constituidos por coisas
concretas ou materiais (no sentido de serem tangíveis) e os segundos são o conjunto das coisas
imateriais (elementos não tangíveis).
Em Matemática Financeira, mais concretamente nos contratos de locação financeira, o que está em
jogo são as imobilizações corpóreas (móveis e imóveis); as imobilzações financeiras (v.g. participações
de uma emprea noutras sociedades) nada têm a ver com os contratos que estamos a estudar.
Em termos práticos as operações de leasing podem ser básicamente de dois tipos: leasing
operativo e leasing financeiro. No leasing operativo a característica de fundo reside no facto de
se prever a rescisão do contrato e consequente anulação da opção de compra antes de terminado o
prazo; no leasing financeiro esta hipótese só é admissível se o locatário desembolsar a quantia
referente aos custos de cancelamento. Este tipo de contrato é muito ususal em equipamento de
escritório, em especial computadores e máquinas de fotocopiar; alías foi a International Business
Machinery (IBM) que divulgou o leasing operativo em relação ao uso dos seus computadores.
O leasing financeiro é por excelência a verdadeira locação financeira pois, com a opção de
compra e a irrevogabilidade do contrato que ela traz sempre implícita, tem constituido
modernamente um dinâmico e flexível instrumento de financiamento a médio e longo prazo.
Entre nós foi muito conhecido e falado o contrato de locação financeira que tinha por objecto o
avião DC10 de que foi locatário a empresa Linhas Aéreas de Moçambique (L.A.M.) que acabou
por não comprá-lo. Posteriormente a LAM operou vários tipos de aviões de longo curso; o
interessante é que todos foram negociados em regime de leasing.
Qualquer dos tipos que acabámos de caracterizar admite uma gama de variantes que
dependem das cláusulas contratuais caso a caso. De passagem registamos a interessante
modalidade de venda-locação segundo a qual uma empresa proprietária de um bem vende-o a um
comprador o qual por sua vez cede àquele o direito de uso por um determinado período. O
comprador passa a ser o locador e o vendedor converte-se em locatário (lease back); neste caso o
tipo mais lógico é o leasing operativo.
Os contratos de locação financeira, sendo contratos especiais que como frisámos envolvem
consideráveis montantes de dinheiro, são realizados e geridos por instituições financeiras
especializadas que normalmente têm o estatuto jurídico semelhante ao dos bancos e por isso são
designados por instituições parabancárias. Acontece até que, para certas operações financeiras
que ultrapassam o montante normal e corrente da instituição locadora, duas ou mais sociedades
de locação financeira se juntam em consórcio só para resolver essas situações.
As sociedades e os contratos de locação financeira são objecto de regulamentação detalhada
e específica. Em Moçambique as sociedades de leasing só começaram a surgir muito
recentemente a partir de finais dos anos 90.
Quem estiver interessado em aprofundar os seus conhecimentos sobre esta tão impoprtante
matéria poderá consultar qualquer livro moderno que trate de modalidades de financiamento a
médio e longo prazo; em particular, do ponto de vista de legislação, recomenda-se um código
comercial anotado que contenha legislação complementar desde dos fins dos anos 70 até aos
nossos dias.
O contrato de franquia (do inglês franchising) é um acordo pelo qual uma das partes
contratantes (o franqueador) faculta a outra (o franqueado) o direito de usar ou explorar, durante
um determinado período, uma tecnologia, uma marca, bens e serviços ou em geral quaisquer
outros conhecimentos de saber fazer (know how) que são propriedade do primeiro outorgante.
Uma vez assinado o contrato o papel do franqueador é acompanhar e assegurar que a qualidade
dos produtos e serviços se conforme com os padrões exigidos pelo seu proprietário de direito.
São conhecidos os casos de empresas detentoras de marcas comerciais famosas que já há
muitos anos realizam contratos de concessão de direitos de uso e exploração dessas marcas nos
diferentes países: Como exemplos podemos citar a Coca Cola, Fanta, Adidas, Nike, Pierre
Cardan, Christian Dior, C.K., Toyta, Compal, Ceres, etc.
Conforme diz Barata Simões, in "Frinchising - franquia, inovação e crescimento", a
tendência actual nos contratos de franquia é para a inclusão de direitos de entrada, ou seja, o
pagamento de um preço para aceder à rede de franquia. O direito de entrada é, antes de mais
nada, um teste à motivação dos candidatos. Além dos direitos de entrada, o franqueado paga
direitos proporcionais ao volume de negócios, royalties, sob a forma de prestações periódicas,
mensais ou trimestrais.
É natural que os alunos tenham uma ideia, ainda que empírica, do que é seguro e resseguro.
Mas também não é de estranhar que não tenham muita sensibilidade sobre a importância
económica e social de um seguro. No ISPU, nos curricula dos cursos de Administração e Gestão
de Empresas e de Contabilidade e Auditoria, existe a disciplina de Cálculo Actuarial onde se
estuda a Matemática desta importante matéria para a vida das sociedades. Por isso justifica-se
que, para além de apresentar uma breve noção, nos debrucemos, em jeito de introdução, um
pouco mais sobre as funções económicas e sociais do seguro.
Jurídicamente um seguro é o contrato pelo qual uma das partes contratantes (o segurador)
se compromete, mediante uma certa remuneração chamada prémio, a indemnizar a outra parte
(segurado) ou a a uma terceira pessoa por esta designada (o beneficiário) no caso de se verificar
um acontecimento incerto.
Interessa destacar que, em terminologia económica e jurídica, o acontecimento contra o
qual se faz o seguro, chama-se risco.
Portanto o seguro está intimamente associado ao risco. Podemos afirmar que a vida em
sociedade e as coisas que nos rodeiam estão permanentemente expostos a riscos de vários tipos
como sejam: incêndio, naufrágios, calamidades naturais, roubos, acidentes, negligência, etc.
Todo o bom empresário, gestor, director ou proprietário de uma empresa deve saber que os riscos
espreitam sempre em qualquer momento da vida da empresa e deve também compreender que o
facto de eventualmente uma unidade ter passado 10, 15 ou mais anos sem acontecimentos
aleatórios (fortuitos) do tipo indicado isso não deve levá-lo á conclusão de que não é necessário
fazer seguros.
Em resumo, risco refere-se a um acontecimento incerto que pode não verificar-se durante
muitos anos, mas que ao dar-se numa pequena fracção da vida da empresa, pode dar origem a
prejuízos de natureza financeira muitas vezes de avultado montante incomportável para a
tesouraria da empresa.
Vejamos os documentos mais importantes dos seguros:
- Proposta de seguro, é uma declaração por escrito em que o segurado apresenta à empresa
seguradora as condições do contrato e muito particularmente as características do risco que
pretende ver coberto.
- A minuta do contrato é a 2ª fase importante na qual a seguradora responde indicando
todas as condições e as bases essenciais do contrato.
- Apólice de seguro88 é o documento mais importante de um contrato de seguro. Contém
todas as condições gerais que são comuns a todos os seguros do mesmo ramo e condições
específicas que se referem a cada segurado e procura responder as preocupações de cada um.
Em geral uma apólice deve ter obrigatóriamente: o nome e domicílio da entidade
seguradora; o nome e domicílio do segurado; o objecto do seguro; os riscos que se seguram; o
valor do objecto seguro; o prémio de seguro.
- Acta adicional89 é um documento passado pela seguradora, durante o curso do contrato,
pelo qual se introduzem modificações ao contrato inicial; a partir do momento em que é emitida,
a acta adicional faz parte da apólice.
b) Resseguro
O resseguro é uma figura importantíssima no mundo dos seguros. É o contrato pelo qual
uma empresa seguradora transfere para outra entidade ou empresa todo ou apenas uma parte do
valor de um seguro da sua responsabilidade.
Isto acontece normalmente nos seguros de objectos de grande valor e importância
económica. Nestes casos uma empresa seguradora por si só não tem capacidade financeira (e
nem lhe convém) de fazer face a prejuízos de elevado montante. Então ela própria faz um
contrato de seguro para um conjunto de valores cuja responsabilidade assumiu por contrato com
seus clientes.
O prémio de seguro é o preço do seguro, isto é, a quantia que o segurador determina para
poder assumir a responsabilidade de cobrir os riscos propostos pelo segurado.
Os prémios podem ser conforme os casos, prémio único (paga-se só uma vez) prémio anual
(paga-se todos anos durante a vigência do contrato) e prémio vitalício (o que se paga durante toda
a vida do segurado).
Os prémios a pagar são muitas vezes fixados em tabelas oficiais e dependem da idade dos
objectos seguros, do nível e frequência dos riscos e de um sem número de circunstâncias externas
(meio ambiente, situação política, nível organizacional, idoneidade de segurado, etc).
Tem interesse possuir uma panorâmica muito geral de como se calculam os prémios. O
seguro depende dos riscos. Há riscos que surgem de causas naturais (calamidades naturais como
inundações, secas, ciclones, sismos, etc.); há riscos que provém da acção do homem (roubos,
assaltos, guerra, negligência, desorganização); há-os de origem económica (flutuações de
câmbios, variações de preços dos produtos).
Ora ao longo de muitos anos de experiência foi possível determinar para cada tipo de risco
uma média de ocorrências em determinadas condições. Trata-se simplesmente de aplicar a lei das
probabilidades numa observação de um grande número de acontecimentos incertos.
Por exemplo: Em Moçambique sabe-se que a esperança de vida á nascença de um cidadão
não é superior a 43 anos. Se alguém pretende fazer um seguro de vida de 1 milhão de contos a
favor de um seu parente se ele não atingir os 60 anos, a empresa colocará reservas quanto à
aceitação deste contrato ou exigirá um prémio demasiado elevado porque as estatísticas indicam
que em regra a probabilidade de se chegar a essa idade é muito baixa; mas se uma empresa fabril
quizer fazer um seguro em Moçambique contra riscos de terramoto, certamente não terá qualquer
dificuldade e até pode pagar um prémio demasiado baixo porque a probabilidade de ocorrência
dessa catástrofe é práticamente nula.
Nas compras à comissão o comissário recebe uma ordem de compra da parte do seu
mandante (comprador); realiza as démarches necessárias para adquirir a mercadoria indicada
naquela ordem e emite uma nota de compra ao verdadeiro comprador (mandante) discriminando
as quantidades compradas, a natureza dos produtos, os preços unitários e totais e a remuneração a
que tem direito. Esta remuneração chama-se precisamente COMISSÃO. È importante notar que
nas compras à comissão o vendedor remete directamente a mercadoria ao comprador (mandante)
que é quem deve pagar o preço indicado pelo mandatário; este é um mero intermediário cuja
função essencial é promover a compra nas melhores condições.
Nas compras à consignação, o intermediário da compra tem o nome de consignatário de
compras; ele recebe a ordem de compra, faz a promoção da compra, recebe físicamente a
mercadoria comprada e remete-a por meio de documentos apropriados, a conta de compra, por
exemplo. Também recebe uma comissão. Note-se pois que neste caso o intermediário recebe a
mercadoria primeiro; no caso anterior (compras à comissão) ele actua como mero caixa de
correio, a mercadoria é directamente enviada ao comitente.
Quanto às vendas à comissão, tal como sucede nas compras à comissão, o vendedor só faz
a promoção das vendas de acordo com as condições indicadas na ordem de venda do
consignante. Depois deste ter recebido do mandatário (comissário) a nota de venda o mandante
(consignante) envia directamente as mercadorias ao comprador que é quem pagará o valor da
compra efectuada.
O comissário, promotor de venda, recebe uma remuneração chamada COMISSÃO. Nas
vendas à consignação, o consignatário recebe uma ordem de venda do mandante, vendedor
própriamente dito e recebe também a mercadoria com a indicação de a vender nas melhores
condições ou nas condições indicadas na ordem de venda; portanto aqui, e tal como nas compras
à consignação, há uma maior responsabilidade também com a recepção, armazenagem,
conservação, venda e liquidação das facturas comerciais passadas aos clientes.
Ao nível das consignações, as vendas à consignação são as mais usuais sobretudo no
comércio internacional; nas comissões o que é mais corrente são as compras à comissão. Por isso
dissémos lá no Capítulo III, quando nos referimos aos mandatários comerciais, que as comissões
estão associadas às vendas.
Voltando à figura do consignatário das vendas, este mandatário deve prestar contas do
preço das mercadorias, das despesas que realizou e das comissões a que tem ditreito. De tudo isto
ele envia ao seu mandante o que comumente se designa por CONTA DE VENDA e LÍQUIDO
PRODUTO.
A comissão de venda é uma percentagem que incide sobre o montante das vendas a contado
e a prazo (isto é a pronto pagamento e a crédito); mas se o consignatário for responsável pelo
pagamento das vendas que realiza a prazo então é usual ele ter direito a uma comissão especial
que tem o nome de DEL CREDERE que é uma percentagem que recai sobre as vendas e crédito.
Entre nós é muito frequente a importação de mercadorias ser feita com apoio de empresas
sediadas no estrangeiro que actuam como simples comissários ou, como lhes chamámos
frequentemente, comissionistas, os quais são preciosas auxiliares de comércio na busca e
proposta de melhores condições de mercado. Nas exportações, e em relação a certos produtos, o
chá por exemplo, usa-se o processo de venda à consignação; expede-se uma certa quantidade de
chá para o consignatário que a recebe sem qualquer compromisso, apenas com a condição de
VENDER AO MELHOR, isto é vender nas melhores condições de mercado.
Então existem leis gerais (constituição, lei do comércio privado, lei das cooperativas, lei
das empresas estatais e das empresas públicas, código civil, código comercial, etc.) que cumprem
a função de preencher as lacunas e dúvidas que podem suscitar os contratos realizados entre os
cidadãos. Um exemplo: num contrato de transporte de carga por via terrestre pode acontecer que
as partes contratantes não tenham previsto onde (em que lugar) é que se faz o pagamento do
serviço prestado pelo camionista.
Em caso de dúvida, o Código Civil vigente diz expressamente "Se a obrigação tiver por
objecto certa quantia em dinheiro, deve a prestação ser efectuada no lugar do domicílio que o
credor tiver ao tempo do cumprimento".
O princípio geral como vimos é o do cumprimento obrigatório. Mas pode acontecer que
uma das partes se veja impossibilitada ou se recuse pura e simplesmente a cumprir o que foi
acordado. Então quem se sentir lesado nos seus interesses, a lei faculta-lhe a possibilidade de
exigir o cumprimento forçado do contrato ou a indemnização pelos prejuízos directos resultantes
do incumprimento das cláusulas contratuais.
Em muitas operações comerciais e financeiras, sobretudo naquelas em que se exige a forma
externa contratual, prevê-se o estabelecimento de uma garantia específica do cumprimento das
obrigações emergentes dos contratos. Assim, a garantia normal de carácter geral é o património
do sujeito das obrigações; quer isto dizer que, no caso de um contrato de compra e venda se o
comprador não pagar nos prazos previstos , eventualmente porque não tem meios para o fazer,
então os seus bens pessoais poderão ser utilizados para fazer face á dívida contraída.
É evidente que compete aos tribunais determinar que bens pessoais são susceptíveis de
serem aplicados como garantia, porque não faz sentido que se escolham por exemplo garfos,
colheres, sapatos, lenços e outros objectos de uso doméstico e estritamente pessoal.
Este é o princípio geral que conhece muitas especificidades e aplicações práticas em todas
as sociedades.
No entanto existem categorias específicas de garantias, muito mais práticas e que dão maior
segurança às partes contratantes. Podem ser divididas em dois grandes grupos a saber: garantias
reais e garantias pessoais. Vejamos alguns exemplos:
a) Garantias pessoais
São as que consistem na indicação de uma terceira pessoa ou entidade que se compromete a
substituir a parte faltosa no cumprimento das obrigações.
A fiança é o exemplo mais conhecido: é uma garantia pessoal, muito utilizada na actividade
comercial, segundo a qual uma terceira pessoa, conhecida por fiador, se compromete por escrito
a responder pelo cumprimento das obrigações de uma das partes contratantes (o afiançado) no
caso de este não o fazer nas condições e prazos estabelecidos.
b) Garantias reais
São as que constam de um conjunto de bens especialmente indicados para fazer face às
obrigações dos contratos no caso de uma das partes faltar ao cumprimento. Exemplos mais
típicos são a caução, o penhor e a hipoteca.
No comércio, penhor é uma garantia real que consiste na indicação de um bem móvel que
servirá para cobrir as dívidas comerciais caso o devedor não pague nas condições estabelecidas
no contrato.
Na linguagem corrente comercial diz-se que o penhor "cauciona" dívidas que procedem de
um acto comercial. Utiliza-se penhor e caução quase indistintamente. Mas caução, embora seja
também uma garantia real, tem o sentido mais exacto de importância em dinheiro que se deposita
nas mãos de alguém (bancos, seguros, empresas, ou mesmo pessoas) para fazer face a uma
responsabilidade futura de carácter acidental. Exemplo muito conhecido: uma pessoa A pretende
atravessar a fronteira com um automóvel de uma empresa X; a empresa, querendo assegurar o
seu património exige de A a entregar de uma caução de 25 milhões de MT que ficam à ordem da
empresa no Banco de Moçambique ou num banco comercial.
Hipoteca é uma garantia real que incide sobre meios imobilizados (prédios, aeronaves,
instalações, navios, etc.).
"ARBITRAGEM NA EXPORTAÇÃO
comuns. Eles são frequentemente menos onerosos, menos morosos, menos formais, realizam-se
em privado e as decisões sendo em geral definitivas, não admitem qualquer espécie de recurso.
Em negócios de exportação as partes contratantes dependem de jurisdições diferentes e a
transacção estende-se sobre países diversos. Por isso a cláusula de arbitragem deve prever um
mecanismo apropriado ao carácter internacional da transacção e em particular, com vista a
facultar a execução da sentença arbitral nos diversos sistemas jurídicos, envolvidos.
Ususalmente prevêem-se os mecanismos arbitrais constantes dos contratos - tipo usados
internacionalmente e patrocinados pelas várias associações comerciais já referidas. Na ausência
de mecanismos arbitrais especializados consoante a classe de mercadoria que se trate, as partes
podem utilizar a cláusula - tipo da Câmara de Comércio Internacional (CCI) segundo a qual
"todos os diferendos resultantes do presente contrato serão definitivamente resolvidos nos termos
do regulamento conciliação e arbitragem da CCI por um ou mais árbitros nomeados em
conformidade com o referido regulamento".
No comércio com os países socialistas, sem que exista ainda um mecanismo fixo, as
empresas exportadoras são aconselhadas a recorrer às modalidades já citadas ou aos tribunais de
arbitragem adjuntos às Câmaras de Comércio dos países membros do CAME90. Não
abordaremos neste trabalho o problema da lei aplicável pois a extensão e complexidade do
mesmo levar-nos-iam certamente a extravasar o âmbito da exposição a que inicialmente nos
propusemos. Informamos que sobre este assunto tem estado a ser desenvolvido um estudo
conjunto pelo MCE91 e pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM), que será oportunamente
objecto de divulgação.
Em numerosos casos, a sentença é lealmente executada pelas partes mas por vezes é
necessário assegurar meios através dos quais a sentença possa tomar-se legalmente executória.
O método mais simples e o mais lógico de execução de uma sentença estrangeira é o de
tratar esta do mesmo modo que a uma sentença proferida em jurisdição comum e admitir a sua
execução sob as mesmas condições. Nesta perspectiva, dois acordos internacionais foram
concluídos em Genebra: o Protocolo de 1923 sobre as Clásulas de Arbitragem e a Convenção de
1927 sobre a execução das Sentenças Arbitrais Estrangeiras. As sentenças arbitrais são
executórias em regime de reciprocidade nos países que ratificaram a Convenção de 1927.
Em 10 de Junho de 1958, foi aprovado por uma conferência das Nações Unidas em Nova
Yorque, a Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução das Sentenças Arbitrais
Estrangeiras. A Convenção de Nova Yorque tinha em vista substituir o Protocolo e a Convenção
de Geneve por um único instrumento e, ao mesmo tempo, tornar mais efectivos o
90 Mercado Comum que abarcava os países socialistas da Europa sob a égide da Ex-União Soviética
91 Ministério do Comércio Externo, hoje extinto
a) O objecto do diferendo não possa ser regulado por arbitragem segundo a legislação desse
país, ou
b) O reconhecimento ou a execução da sentença sejam contrários á ordem pública desse
país (artigo 5, nº 2).
Se algum advogado defender que a sentença não deveria ser reconhecida ou executada por
qualquer outra das razões admitidas pela Convenção, é a ele a quem caberá o ónus da prova de
tal pretensão (artigo nº 1). Através destas disposições, a Convenção de Nova Yorque suprimiu a
exigência da "dupla execução" que em muitos países era um obstáculo considerável à execução
de sentenças arbitrais estrangeiras. Por "dupla execução" deve entender-se o processo segundo o
qual uma parte que deseja executar uma sentença no estrangeiro deve primeiro obter, no país
onde a sentença foi proferida, uma decisão judicial provando que ela pode aí ser executada, e em
seguida, no país onde a parte pretende fazer a sentença, uma outra decisão judicial dos tribunais
ou outras autoridades competentes do país, autorizando essa execução.
Esta introdução ao problema do reconhecimento e execução de sentenças arbitrais
estrangeiras, além do interesse doutrinário, visa alertar as competentes autoridades a curto prazo
da República de Moçambique à Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de sentenças
arbitrais estrangeiras. Faz-se notar que a fórmula a subscrever pelos Estados interessados não é
Dado o grande interesse, para o estudo de questões do comércio, do livro donde extraímos
o que acabámos de transcrever recomendamos a sua aquisição ou consulta.
CAPITULO VIII
BANCOS E OPERAÇÕES BANCÁRIAS
8.2. Bancos
Se bem que já tenhamos dado uma ideia muito genérica de banco, no ponto 5.4, convém
que os alunos saibam que a definição, a concepção os objectivos variam de país para país e têm
sofrido modificações ao longo dos tempos
Comecemos por ver que a palavra banco vem do temo italiano "Banco" que pura e
simplesmente significa mesa. Por isso mesmo diz-se que origináriamente um banqueiro foi um
homem que ficava atrás de uma mesa a trocar dinheiro (comerciante de dinheiro).
Hoje em pleno século XX, a função e objectivos dos bancos e banqueiros ganharam uma
dimensão ampla e complexa de tal ordem que a sua acção se estende a toda a economia de cada
país.
Uma digressão rápida por alguns, permite-nos ver ainda melhor a importãncia, amplitude e
complexidade da função dos bancos.
Assim em Moçambique, segundo a lei orgânica do Banco de Moçambique (Decreto nº 2/75
de 17 de Maio):
"O Banco tem como principais fins, em conformidade com a política económica do
Governo promover a realização de correcta política monetária, procurar, através de critérios e
controlos do crédito à economia, assegurar a estabilidade interina e externa do valor da moeda,
gerir disponibilidades externas de forma a manter adequado o volume de meios de pagamento
necessários ao comércio internacional, fornecer recursos financeiros ao Estado, disciplinar a
actividade bancária e orientar a política de crédito do país com vista ao seu desenvolvimento e à
realização dos interesses do Povo".
Entretanto a Lei nº 1/92 de 3 de Janeiro redefine em novos moldes a natureza, os objectivos
e funções do Banco de Moçambique como Banco Central da República de Moçambique.
Destacamos algumas passagens. No preâmbulo diz-se:
"A actual conjuntura política e económica do país impõe às instituições de crédito uma
nova dinâmica da sua actuação como impulsionadoras do desenvolvimento económico.
A implementação do Programa de Reabilitação Económica e Social e o relacionamento
cada vez mais alargado do Banco de Moçambique com instituições financeiras internacionais
vieram a acelerar a necessidade de uma maior operacionalidade do Banco Central no seu papel
de formulador e gestor da política monetária e de crédito e de supervisor do sistema financeiro
nacional.
A materialização desses objectivos passa, necessáriamente, pela separação institucional das
funções de Banco Central das de banco comercial, por forma a permitir que o Banco de
Moçambique assuma plenamente as suas funções de Banco Central e a conferir maior
competitividade aos bancos comerciais", fim de citação.
Em termos de objectivos o artigo 3 da referida lei diz:
"1. O Banco tem por objectivo principal a preservação do valor da moeda nacional.
2. No prosseguimento do seu objecto, o Banco visa ainda alcançar os seguitnes fins:
a) promover a realização de correcta política monetária;
b) orientar a política de crédito com vista à promoção, crescimento e desenvolvimento
económico e social do país;
c) gerir disponibilidades externas de forma a manter adequado volume de meios de
pagamento necessários ao comércio internacional;
d) disciplinar a actividade bancária.
Finalmente no que diz respeito às funções encontramos estipulado que (Artigo 16):
"1. Como Banco Central, o Banco será o banqueiro do Estado, consultor do Governo no
domínio financeiro, orientador e controlador das políticas monetária, financeira e cambial, gestor
das disponibilidades externas do país, intermediário nas relações monetárias internacionais,
supervisor das instituições financeiras.
2. Compete ao Banco assegurar a centralização e compilação das estatísticas monetárias,
financeiras e cambiais que julgue necessárias para a prossecução de uma política eficiente
naqueles domínios.
3. Compete igualmente ao Banco controlar a actividade dos mercados monetário, financeiro
e cambial.
São questões típicas que fazem parte dos estudos de iniciação à Economia e que
consideramos importante conhecer para compreendermos melhor a matéria dos bancos e das
operações bancárias.
Quando se olha para um banco, a ideia que um observador pouco atento, ou não
suficientemente informado e esclarecido, tem é de que os bancos são casas ou serviços que,
apenas, guardam dinheiro dos depositantes. Veremos, com mais detalhe, que os bancos têm
funções muito mais amplas e estratégicas, em qualquer sistema económico.
Por ora, vamo-nos cingir ao papel dos bancos em tanto que instituições que, através de
mecanismos apropriados e deveras interessantes, criam moeda. O ponto de partida são os
depósitos bancários. Os depósitos reduzem o volume de notas e moedas em circulação e
aumentam, do mesmo valor, o volume de dinheiro existente no bancos; portanto, a quantidade de
moeda bancária original aumenta por efeito de depósitos. Temos, assim, um proceso simples de
criação de moeda, muito embora se trate de simples transferência das mãos do cidadão para os
cofres dos bancos. Mas, o interessante é o que vem depois.
Os bancos utilizam os depósitos efectuados pelas pessoas, para realizarem operações de
crédito, isto é, emprestar dinheiro. Há muitas maneiras de fazer a concessão de crédito; teremos
oportunidade de ver as mais importantes formas. Por agora interessa reter que dar crédito
significa, simplesmente, "emprestar dinheiro", no sentido vulgar da expressão.
O banco concede crédito porque tem interesse em ganhar juros maiores do que aqueles que
paga aos seus depositantes. A direfença entre aquilo que recebe e o que paga representa uma das
suas fontes mais importantes de receitas.
Seja, então, um depósito originário de 1.000 unidades monetárias (há portanto um
acréscimo de depósitos). O banco que recebeu este depósito não precisa de guardar todo esse
dinheiro nos cofres fortes. A experiência mostra que em todos os países há uma percentagem
relativamente fixa de depósitos que é suficiente manter nos cofres, como reserva para fazer face a
levantamentos normais. Em regra, essa percentagem situa-se entre 10 a 30% e, em muitos países,
ela está fixada por lei.
Suponhamos, então, que a nossa lei impõe uma reserva de 15%. No caso vertente tem-se:
1.000 x 15% = 150 unidades monetárias como reserva
1.000 x 85% = 850 unidades monetárias livres para o banco
O banco está livre de pegar nas 850 unidades monetárias e emprestar, por hipótese, a um
comerciante que deseja comprar um camião. Ora, acontece que na prática, o banco não dá o
montante do crédito em dinheiro "físico"; limita-se a abrir uma conta no montante indicado a
favor do comerciante.
Se repararmos bem, o banco ao fazer isso, criou moeda que, neste caso, se chama escritural
(ou electrónica)92, cujo montante é de 850 unidades monetárias; a economia passa a ter sob a
forma de notas, moedas e bits de informação electrónica os seguintes valores:
Depósito original ……………………………1.000 u.m.
Moeda escritural (ou electrónica) ……………..850 u.m.
TOTAL …………………………..1.850 u.m.
De novo, repare-se que das 850 u.m. pertencentes ao comerciante, o banco só é obrigado a
guardar 127,5 u.m. (850 x 15%). Com o resto, no montante de 722,50 (850 x 85%), a instituição
financeira tem a liberdade de fazer o que quizer dentro das suas atribuições; normalmente,
empresta a quem o solicitar. Se o fizer a uma cooperativa agro-pecuária, a economia passará a ter
como moeda total em circulação os seguintes valores:
Depósito original ……………………………1.000,0 u.m.
Moeda escritural (comerciante) …….………….850,0 u.m.
Moeda escritural (cooperativa) ………………...722,5 u.m.
TOTAL …………………………..2.572,5 u.m.
Num terceiro estágio, as 722,5 unidades monetárias, também estão sujeitas a um processo
semelhante de reserva/crédito. Segue-se, depois, um 4º estágio e assim sucessivamente; do ponto
de vista teórico, a série de estágios não tem fim. Em esquema tem-se:
92 Diz-se escritural (ou electrónica) porque, como próprio nome indica, o banco limitou-se a escriturar
num papel de registo (ou na memória de um computador) o montante de 850 u.m. a favor do
comerciante
93 O mesmo é dizer que "poupa". Em Economia é muito frequente usar-se a letra S para simbolizar
poupança; é inicial da palavra inglesa "SAVE" que significa poupar. Daí a expressão propensão
marginal para poupar se simbolize por PMS
A partir de um depósito inicial de 1.000 u.m. o banco criou nova moeda no montante
de 5.666.6 u.m., o que dá uma circulação monetária total de 6.666,6 u.m.
Neste momento já temos uma ideia geral do que é moeda. É difícil defini-la com precisão.
É usual, em Economia, em vez de definir o que se entende por moeda, apresentar as suas
principais funções. Ei-las:
• A moeda é um meio de pagamento, no sentido de que é um intermediário das trocas.
Fala-se em motivo de transacção.
• A moeda é reserva de valor. Com efeito, muita gente guarda produtos (gado, jóias,
metais preciosos, milho, arroz, etc.), constrói casas para garantir o futuro, ou porque
algumas pessoas simplesmente não confiam no dinheiro, ou porque este perde
rápidamente o seu valor com o tempo. Mas há quem guarde o próprio dinheiro como
reserva de valor. Fala-se então de motivo de precaução.
• A moeda como unidade de medida ou de cálculo económico. Toda a gente, as
empresas, os ministérios ou quaisquer outras entidades fazem cálculos com base na
moeda (meticais, libras, dólares, pulas, xelins, etc.). Fazem esses cálculos para terem
uma ideia da gestão, dos custos e das despesas; para saberem se há progressos ou
retrocessos na vida (v.g. as variações do PNB e respectiva capitação são um indicador
importante do nível de desenvolvimento de um país).
Tomemos alguns exemplos curiosos para ilustrar esta função de unidade de cálculo:
Muita gente, ainda hoje, para compreender o valor do metical, associa-o ao escudo ou
mesmo à libra (pondo)94 ou ainda ao conto95. E há pessoas, mesmo entre nós, que
conseguem, sem esforço, raciocinar em dólares americanos, como medida de cálculo. São
excepções, pois a maioria de nós não tem essa facilidade; precisa de converter os valores
expressos na moeda americana em meticais, para ter a dimensão exacta da medida de valor.
Talvez haja muito boa gente que não se apercebe que a moeda, em si, não vale nada;
quando muito, pode-se dizer que tem um valor intrínseco que corresponde aos custos da sua
94 Ou "m´pondo"; deriva do inglês pound. Nos anos 50, a libra esterlina (pound) tinha um cotação
aproximada de 100 escudos portugueses. Por isso, na zona sul de Moçambique, as pessoas ainda hoje
consideram que a nota de 100 meticais se chama "pondo", apesar da cotação da libra ter andado pelos
1.200 meticais em 1989 e cerca de 23.000 em Novembro de 2000.
95 A palavra conto é uma simplificação da expressão portuguesa "um conto de reis" ou um milhão de
reis que são 1.000 escudos portugueses. Note-se que cada 10 reis equivalem a um centavo e os
portugueses ainda hoje dizem 2.500 reis quando se referem a 2 escudos e 50 centavos. Os
Moçambicanos "naturalizaram" as designações como "çarês" (100 reis); "duzenta" (200 reis);
"quinhenta" (500 reis); dôs mil quinhenta" (2 escudos e 50 centavos ou 2 mil e 500 reis) e assim por
diante.
produção. Para compreender melhor o que estamos aqui a afirmar, basta dizer que quando as
moedas são feitas de ouro ou prata pura podemos dizer que elas, de per si, têm não só um valor
que resulta dos custos efectivos da sua laboração, como também um valor que advém da
qualidade do metal aplicado96.
Há três aspectos importantes que fazem com que a moeda corrente valha e tenha poder
liberatório:
1º - a confiança social na moeda. O aspecto exterior que se manifesta na sua forma prática,
nas cores atribuídas, nos símbolos e outros pormenores e "aparato" que fazem com que as
pessoas acreditem nela e a dignifiquem;
2º - a lei que emite e impõe a circulação da moeda, decretando assim o chamado curso
forçado. Quer dizer que, mesmo que as pessoas desconfiem da moeda, toda a gente, em
princípio, é obrigada a utilizá-la como meio de pagamento;
3º - o valor da moeda como medida do nível do Produto Social. Aceita-se, em geral, que a
moeda representa o esforço de produção e indica portanto o resultado do trabalho das pessoas.
A teoria quantitiva da moeda que a seguir se explica torna mais claro este aspecto.
Vimos que uma das funções da moeda é servir de instrumento de troca (motivo de
transacção). Uma das ferramentas importantes de análise monetária é a chamada EQUAÇÃO DA
TROCA que tem a seguinte expressão geral:
PNB = M.V
em que PNB é o Produto Nacional Bruto, M é a quantidade de moeda existente e V a velocidade
de circulação de moeda97. Aquela igualdade assume, também, a forma
PNB = P.Q
em que P é a média dos preços do produto final e Q a quantidade existente do referido produto.
Das duas fórmulas anteriores decorre
M.V = P.Q
A teoria quantitativa da moeda é já um teorita clássica, mas é hoje ainda válida como
instrumento de análise parcial. Os defensores desta teoria usam, básicamente, a equação da troca
para explicar o movimento de preços no decorrer do tempo. Com efeito, supõem que V e Q são
constantes em determinados intervalos de tempo; então, quando há variações (aumentos) de
oferta de moeda, elas implicam necessáriamente aumentos proporcionais do nível dos preços. Há
portanto, um relacionamento proporcional entre o volume da moeda existente e o nível dos
96 Doutro modo dir-se-ia que o valor real (efectivo) da moeda metálica e da moeda de papel é o custo
de oportunidade da sua produção (o papel e os metais que poderiam servir para outros fins alternativos)
97 Velocidade de circulação da moeda define-se como sendo o número médio de vezes em que a
unidade monetária de um país é utilizada durante o ano, para adquirir bens e serviços.
preços; o PNB (Produto Nacional Bruto) tem um relacionamento estreito com a quantidade de
moeda em stock.
Desta tese segue-se, como um dos corolários importantes de análise económica que, para
controlar ou evitar a inflação pela elevação do nível dos preços, impõe-se fazer o controlo
apertado da quantidade de moeda em circulação.
Um exemplo numérico facilita a compreensão desta tese.
Seja M = 600 unidades monetárias (u.m.); Q = 1.200 unidades físicas (v.g. toneladas) e P
= 6,0 u.m.
Então, P.Q = 6,0 x1.200 = 7.200; V = 7.200/600 = 12
M.V = P.Q 600 x 12 = 6 x 1.200
Se o valor de M passar para 1.800 (o que significa três vezes mais) vê-se que
imediatamente que os preços P também aumentam para o triplo, se a quantidade Q e a velocidade
V forem as mesmas do período anterior. Esta conclusão decorre da relação M.V = P.Q que
vimos atrás.
A teoria quantitativa da moeda98, assim muito sumáriamente descrita, é verdadeira apenas
numa análise parcial. Diga-se, em abono da verdade, que muita gente em todos os países,
consciente ou inconscientemente, se baseia nesta tese quando diz que é preciso controlar a
emissão de moeda para evitar a inflação. No entanto, e embora em muitos casos a teoria seja
válida, não devemos perder de vista o facto de que ela tem limitações. Com toda a teoria, ela é
válida em certas condições e é uma abstracção de uma realidade bastante complexa.
O caso da República de Moçambique é suficientemente elucidativo das limitações desta
teoria. Com efeito, temos assistido, últimamente, a fenómenos de subida de preços (processo
inflacionário) sem, todavia, haver uma variação do stock da moeda; há, portanto, outras razões
que justificam a alteração de preços e salários (v.g. um simples decreto).
Constitui uma modalidade de depósito pela qual o depositário (Banco) se obriga, a todo o
momento, a restituir ao depositante a verba que este lhe tenha confiado préviamente.
O depositário obriga-se a renumerar os capitais confiados á sua guarda em função do prazo
de tempo em que deles dispõs. O depósito vence juros (calculados por diferentes métodos como
veremos na breve introdução à Matemática Financeira que faremos em breve). Em "D.O:" os
bancos renumeram os capitais colocados à sua disposição desde que os titulares sejam pessoas
individuais, cooperativas ou instituições consideradas de utilidade pública.
As reduzidas taxas de renumeração dos "D.O.", justificam-se pelo facto de apenas uma
escassa percentagem deste passivo captado se destinar ao investimento.
Por outro lado, nesta modalidade de depósito, como vimos, o Banco é pressionado, a todo o
momento, a desembolsar os valores entregues.
b) Depósito a prazo - "D.P."
99 Entre nós os depósitos a prazo e com pré-aviso não são passíveis de impostos
100 Vide modelo de cheque na página seguinte
A inscrição da cláusula "para levar em conta", feita na frente do cheque, impede que o
mesmo seja liquidado em numerário.
O valor do cheque será sempre objecto de lançamento contabilístico, traduzido num
crédito em conta de depósito, aberta em nome do beneficiário e portador do efeito.
c) Cheque visado
a) Aval bancário
Constitui uma operação pela qual, e a pedido dum cliente, o Banco se responsabiliza pelo
bom cumprimento duma transacção, titulada por letra ou livrança. O título avalizado por um
Banco permite uma mais fácil transacção com as instituições de crédito, através do desconto
bancário. Vence as mesmas comissões aplicáveis às garantias.
b) Garantias
São documentos emitidos por um Banco, a pedido dum cliente, e a favor duma entidade
oficial ou particular, perante a qual se responsabiliza pela satisfação de um compromisso, caso o
referido cliente não dê cumprimento a determinadas obrigações ou cláusulas de um contrato
celebrado entre aquela entidade e este.
A garantia representa uma transferência de responsabilidade para o Banco, que aos clientes
incumbe perante o Estado, organismos oficiais, etc.
Garantido o contrato pela eventual intervenção do Estado, que se substitui ao cliente na
falta do cumprimento das suas obrigações, pode este vir sendo gradualmente ressarcido pela
prestação do serviço até à conclusão final do contrato, evitando estrangulamento financeiros que
decrreriam se apenas fosse reembolsado no termo do prazo estipulado.
Ao emitir a garantia, o Banco exige uma caução (contra-garantia) que salvaguarda por si
assumida, normalmente representada por garantias pessoais (livranças, termo de fiança, etc.) ou
garantias reais (hipotecas, depósitos a prazo, títulos, metais preciosos, etc.).
a) Cartões de crédito
b) Descobertos em contas
O descoberto (overdraft) é a operação pela qual o banco consente que o seu cliente saque,
para além do saldo existente na conta de que é titular, até um certo limite e por um determinado
prazo.
c) Crédito em conta-corrente
É uma operação através da qual o Banco concede crédito até certo limite, durante um prazo
passível de prorrogação; o somatório dos créditos concedidos consubstancia um saldo devedor
numa conta que traduz o valor do empréstimo efectivo.
Constitui o meio, por excelência, para a obtenção dum crédito, através do desconto
bancário. É o meio mais comum para o financiamento da Banca, até porque a sua selagem é
inferior à da letra.
Para melhor compreensão desta modalidade de crédito veja-se o conceito e características
da livrança no ponto 7.4.4, alínea b).
É uma das formas de crédito por empréstimo mais importantes no comércio internacional.
Por isso decidimos dar destaque especial.
Entende-se por crédito documentário a operação pela qual um banco por conta de um
cliente-importador, abre um crédito a favor de um vendedor-exportador, assumindo o
compromisso de pagar ao vendedor-exportador o valor das suas mercadorias contra a entrega dos
documentos estipulados pelo crédito.
- Emitente do crédito: o banco que, aceitando as condições indicasdas pelo seu cliente,
emite uma carta de crédito que remete ao exportador, em geral através de um banco seu
correspondente, pela qual assume o compromisso de pagar, por conta e oredem do comprador, o
valor das mercadorias mediante entrega dos documentos e cumprimento das condições
estipuladas no contrato;
Revogável - como o próprio termo implica, é aquele que pode ser anulado, o que, como é
óbvio, não oferece quaquer garantia, pelo que, é pouco praticado.
Irrevogável - é todo o crédito que uma vez aberto, não pode ser anulado.
O crédito irrevogável implica compromisso firme do banco que abre um tal crédito para
com o beneficiário no mesmno; este compromisso não poderá ser modificado ou anulado sem o
acordo de todas as partes interessadas.
Podem ainda considerar-se as seguintes espécies de créditos:
Neste caso, abre-se um crédito para a primeira parcela; uma vez liquidada esta, o crédito
fica automáticamente renovado para a imediata, e assim sucessivamente, até à sua extinção.
A prazo - em que o beneficiário do crédito se reembolsa apenas depois de decorrido um
determinado prazo, préviamente estabelecido.
A vantagem deste crédito reside no facto de poder dar ao comprador tempo para liquidar a
mercadoria, permitindo-lhe até vendê-la no lapso de tempo decorrido entre a sua recepção e o
prazo em que o crédito será liquidado.
"Red clause" - expressão inglesa que pode traduzir-se por "Cláusula vermelha", devido ao
facto de as indicações virem expressas a vermelho no título da abertura do crédito.
Por meio desta cláusula o beneficiário pode receber adiantamentos por conta do crédito.
Deve porém notar-se que o banco notificador, fazendo esses adiantamentos, não assume
qualquer responsabilidade, que é de conta do ordenador, limitando-se a exigir um termo por
escrito de compromisso de entrega dos documentos de embarque antes de expirar o crédito ou de
devolver a importância recebida adiantamente.
a) - A letra101
- O tomador é o portador e beneficiário do crédito titulado pela letra, que pode não
coincidir com a figura do sacador. É o que acontece no desconto bancário, em que a letra é
cedida pelo sacador ao Banco, figurando este como tomador do efeito.
- O avalista é aquele que intervém como garante do pagamento da letra. Constituirá uma
espécie de fiador que, inscrevendo no rosto do efeito "Bom para Aval" ou outra fórmula
semelhante, assume o compromisso de se substituir ao sacado, sacador ou endossantes na falta de
pagamento do efeito.
- Os endossantes são aqueles que transferem o título e os direitos a ele inerentes para outra
pessoa.
O endosso constitui o meio pelo qual é permitido ao ao detentor/beneficiário do crédito
crédito titulado pela letra, transferir os direitos daí emergentes para outrem.
Nas operações com letra existe uma formalidade importante conhecida pelo nome de aceite.
Designa-se por aceite o acto formal em que o sacado, através da assinatura posta em lugar
apropriado, assume o compromisso de pagamento da letra no prazo fixado. Ele aceita a ordem
dada pelo sacador. Passa a designar-se por aceitante, a partir do momento em que se obriga ao
pagamento do efeito.
b) A Livrança102
c) Extracto de Factura
102Conhecida em inglês por promissory note e em brasileiro por promissória. Vide modelo na página
seguinte
Apesar das evidentes semelhantes com letra, convém distinguir algumas diferenças:
- O montante em dívida pode não ser liquidado duma só vez dando lugar, assim, a tantos
extractos quantas as prestações acordadas.
- O extracto da factura não é reformável. Vide conceito de reforma na alínea a) do presente
ponto.
8.5.5. O Redesconto
Os bancos recorrem aos Bancos Centrais para, junto desta entidade, obterem o diferencial
das taxas de juro não suportado pelo mutuário das operações bonificadas, como aliás já vimos.
Mas também se socorrem dos Bancos Centais para efeitos de referenciamento - redesconto em
momentos de carência de disponibilidades financeiras.
Parte do "papel" que possuem em carteira - representativo do crédito concedido - é sujeito à
apreciação do Banco Central para efeito de (re)desconto.
Através da operação de redesconto, os bancos recebem um adiantamento sobre os efeitos
que endossam ao Banco Central, deduzido dum prémio nunca inferior à taxa básica de
redesconto em vigor.
Pode-se portanto, dizer que o redesconto é uma operação de desconto bancário, semelhante
à que é praticada em bancos comerciais, mas onde cedente e tomador são substituídos pela Banca
em geral e Banco Central respectivamente.
Os cartões e crédito, como vimos no ponto 8.5.2., entram na categoria dos créditos por
empréstimo.
Um cartão de crédito é um documento, normalmente plasticizado, do tamanho de um
bilhete de identidade que cabe perfeitamente num vulgar bolso de camisa, que tem sido
amplamente utilizado nos últimos 60 anos como um dos mais importantes e flexíveis meios de
pagamento.
Um cartão de crédito contém entre outros elementos que o caracterizam os seguintes:
- O nome da empresa ou entidade que emitiu;
- O prazo de validade;
- O nome e assinatura do portador ou titular;
- Um número de codificação.
Alguns cartões possuem a fotografia do portador ou titular e indicações sobre o tipo de bens
e serviços que podem ser pagos por este meio de pagamento.
Uma das vantagens dos cartões de crédito é facilitar o pagamento de bens e serviços sem
utilização de dinheiro ou "traveller cheques", o que em certa medida não só evita os titulares
andem com muitas notas ou cheques bancários nos como também, e sobretudo, aumenta a
segurança contra eventuais acidentes do tipo roubos, extravios e perdas, dado que, como regra, os
cartões de crédito são pessoais e intransmissíveis.
Para que o cartão de crédito cumpra os seus objectivos é necessário a intervenção de pelo
menos 3 partes a saber:
- A entidade emisspra que é quem emite o cartão e dá o crédito às pessoas que achar
merecedoras de usá-lo junto das empresas ou entidades fornecedoras de bens ou serviços.
- O fornecedor dos bens e serviços que em regra estabelece um acordo prévio com a
entidade emissora103
- O interessado ou portador-titular do cartão que deverá preencher um certo número de
requisitos, em particular ligados à sua idoneidade e rendimentos financeiros.
Em certos mas pouco frequentes casos, o fornecedor de bens e serviços é o próprio emissor
dos cartões.
103 Lógicamente o cartão de crédito não serve para todo e qualquer fornecedor de bens e serviços
A intervenção dos bancos nas operações comerciais e financeiras implica, a maior parte das
vezes, determinados encargos que importa conhecer desde já. Vejamos então quais são as
deduções mais importantes que se verificam nas operações bancárias.
a) Taxa de desconto
Constitui uma percentagem anual que, incidindo sobre o valor nominal do título e em
função do prazo que decorre entre a data da execução dos descontos e a do vencimento, permite
obter o designaremos de prémio de desconto (juro a deduzir na operação que constituem receitas
do Banco).
O cálculo da taxa de juros resolve-se por uma regra de três simples ou composta. Nesta
disciplina faremos apenas uma breve introdução à Matemática Financeira; em Cálculo Financeiro
os alunos estudarão mais desenvolvidamente a problemática dos operadores i e (1 + i).
Importa para já saber que existem duas modalidades de desconto:
- O desconto por fora ou comercial, que é calculado sobre o valor nominal do efeito, isto é,
sobre um capital superior aquele que na realidade o Banco adianta e constitui aplicação comum
na Banca.
- O desconto por dentro ou racional, que é obtido a partir do valor actual do efeito, ou seja,
sobre o capital que o Banco realmente antecipa. Resta dizer que valor actual é o valor nominal
deduzido dos encargos do desconto. Por ser menos vantajoso para os bancos, caíu em desuso.
b) Comissões de Cobrança
Constituem também parte dos encargos com desconto bancário. Traduzem a retribuição,
para com o serviço de cobrança, que o banco presta no vencimento do efeito.
c) Imposto do selo
Traduz-se por uma percentagem que, incidindo sobre o valor dos juros e comissão de
cobrança, constitui um encargo da operação de desconto e uma receita a entregar nos cofres do
Estado.
d) Portes
É outra dedução de desconto bancário, traduzida por um valor fixado por efeito, e destinado
a cobrir despesas de correio.
Note-se que a palavra porte significa o preço pago pela condução de determinada coisa.
Tem também os sentidos de carga de selo postal.
CAPÍTULO IX
SEGUROS E OPERAÇÕES DE SEGURO
Em sentido restrito a disciplina de Cálculo Actuarial faz o estudo dos seguros reais e de
vida, utilizando também o método matemático com especial incidência no cálculo financeiro.
Em certas escolas superiores formam-se e especializam-se pessoas em actuariado.
Sabemos que a vida económica e a vida do Homem estão sujeitas a variadíssimos riscos
contra os quais as sociedades modernas estão cada vez para encontrar soluções tendentes a
minorar os efeitos negativos.
Isto significa as operações e fenómenos que vamos abordar, estão sujeitas a contigências.
Para a sua análise intervém bastante a Estatística, em particular a teoria das probabilidades.
"Todos os cidadãos têm direito à assistência em caso de incapacidade e na velhice. O
Estado promove e encoraja a criação de condições para a realização deste direito"(Artigo 95 da
Constituição de 1990 da República de Moçambique).
A República de Moçambique consagra portanto na própria constituição o princípio da
segurança social através do artigo que acabámos de transcrever.
Das Directivas Económicas e Sociais do III Congresso do partido FRELIMO, alínea h) da
III Parte (directiva para as Finanças, Banca e Seguros) extraímos:
"O sector de seguros, recentemente estatizado, deve prosseguir uma função essencialmente
social"...
"No campo dos seguros, devemos iniciar ainda em 1977 uma política de seguros contra os
riscos de produção, com tarifas preferenciais para os sectores prioritários, nomeadamente para sa
formas colectivas de produção. Devemos fazer esforços de obter uma maior cobertura do seguro
do ramo automóvel e de acidentes de trabalho para os trabalhadores. A empresa nacional de
seguros deve dedicar uma atenção especial à cobertura dos bens do Estado.
Finalmente, devemos praticar uma política de resseguros que garanta, nos mercados
internacionais, as coberturas mais convenientes para cada tipo de risco".
Por outro lado a Lei do Trabalho desnvolve o princípio constitucional enunciado, no
Capítulo XIII qual extraímos apenas o artigo 146 sobre o sistema de segurança de social.
"Será criado de harmonia com as condições sócio-económicas e as possibilidades do
desenvovimento da economia nacional um sistema de segurança social, garantindo-se por este
meio a subsistência material dos trabalhadores em caso de doença, acidente, maternidade,
invalidez e velhice bem como a sobrevivência dos seus familiares".
Note-se que relativamente a estes seguros (que recaem sobre bens em geral) a nossa lei não
obriga expressamente a fazê-los. A Lei da Organização e Funcionamento das Empresas Estatais,
Lei nº 2/81 de 30 de Setembro de 1981, artigo 27, Capítulo IV, diz que "as empresas estatais
devem proceder ao seguro dos seus bens".
Já temos uma realativamente vasta legislação sobre seguros de vida que aparecem com o
nome de segurança social.
Mas além do que a nossa lei determina em relação à segurança e protecção social dos
trabalhadores em geral e dos da Função Pública em particular, cada cidadão ou qualquer entidade
colectiva pode fazer, entre outros, os seguintes tipos de seguros junto das seguradoras:
a) Seguro de vida inteira que por sua vez admite duas modalidades.
- Uma em que o vencimento se processa no fim do ano em que tem lugar a morte;
-Outra em que o vencimento se processa na data da morte.
b) Seguro temporário pelo qual o segurador só paga o capital convencionado logo após a
morte se a pessoa com a idade X na data do contrato morrer antes da idade X + N, sendo N o
prazo do contrato.
c) Seguro misto - Este seguro é realizado por um determinado prazo durante o qual o
segurador se compromete a pagar o capital convencionado só quando a morte da pessoa ocorrer
dentro do prazo do contrato. Se a morte não se verificar neste prazo, isto é, se a pessoa em
questão morrer depois deste, então o segurador compromete-se a pagar aquele capital no fim
daquele prazo.
Em rigor o que passa é o seguinte:
O xi-tiki é uma forma de empréstimo ou de seguro social sem juros muito conhecido em
Moçambique e cremos que em muitos países africanos se considerarmos que em suahili tem o
nome de Kupela fedha.
Algumas pessoas que contactámos afirmam que o termo xi-tiki vem da África do Sul o que
não é de estranhar. Repare-se na definição que mais adiante apresentamos, cujo autor pergunta-se
se a palavra não virá do inglês ticket. Por outro lado o termo em questão é usado só no sul do
Save; em bitonga (Inhambane) diz-se gui-tiki; mas já em xuabo (Zambézia) tem o nome de
socolo(corruptela do português socorro) termo que designa uma forma diferente de entre-ajuda,
mais humanitária e consoante as necessidades do clã ou grupo.
É interessante registar que houve pessoas que nos asseguraram que a melhor maneira
(entende-se a maneira mais moçambicana) de designar a operação em estudo é "Ku-holisana"105,
eventualmente porque a que o vulgo consagrou é um estrangeirismo.
Na tentativa de conseguir uma definição mais rigorosa deste tipo de operações consultámos
o dicionário ronga-português de Rodrigues de Sá Nogueira que oferece o seguinte conceito:
31/1/2000 31/1/2001
áreas e casos como morte, invalidez, velhice, doença, nupcialidade, natalidade, maioridade legal,
acidentes de trabalho, fogo, terramotos, naufrágios, acidentes de viação e aviação roubos, etc.
No meio desta de seguros, e querendo preservar a suis-generidade do xi-tiki, não é dificil as
seguradoras introduzirem esta modalidade do grupo nos seus esquemas. E chamar-se-ia por
hipótese "seguro de vida xi-tiki" ou "seguro xi-tiki" ou ainda muito simples, como está
vulgariozado, "xi-tiki"106.
Um estudo mais profundo indicaria quais os procedimentos práticos, mais simples e
eficientes. Tomando exemplo das 12 pessoas que depositam mensalmente 10.000 MT cada uma,
uma sugestão para análise seria considerar as seguintes linhas de raciocínio:
106
Ressalva-se o facto de a designação ser apenas utilizada no Sul. Outra alternativa daria origem á
mesma ressalva pois não existe correspondente em português
a) Método empírico
-Juros de 1º ano, 15% x 120 = 18 contos, ao fim do 1º ano tem-se, 120+18=138 contos.
-Juros do 2º ano, 15% x 138 = 20,7 contos ao fim do 2º ano tem-se, 138 + 20,7=158,7
contos.
V2 = 120 (1 + 0,15)2 = 120 x 1,3225 = 158,7 o que significa que ao fim do 2º ano o valor
acumulado na conta do grupo monta a 158,7 contos (ou 158.700 MT).
Nota: Se o grupo ficasse com o dinheiro em casa, ao fim de 2 anos não ganharia 38.700
MT (158.700 - 120.000).
107
Em 1999 esta empresa estatal foi transformada em Sociedade Anónima de Responsabilidade
Limitada com a sigla EMOSE, Sarl
Sobre a Empresa Moçambicana de Seguros, conhecida pela sigla EMOSE, E.E. vamos
transcrever um extracto muito útil de um documento sobre este ramo de actividade económica,
feito pela própria empresa.
"Embora o seguro, na sua forma moderna, tenha começado a praticar-se na Europa desde o
século XIV e registado um grande desenvolvimento nesse continente a partir do século XVIII,
fruto do aumento do comércio marítimo e navegação ligados aos impérios coloniais, em
Moçambique, o seguro começou a ser trabalhado no início do século XX.
Contudo, é sabido que as modalidades de inter-ajuda no seio da comunidade e famílias
perante infortúnios, que não são mais do que a ideia básica do seguro e do princípio "um por
todos, todos por um", foram praticados desde há muitos anos.
Nos primeiros anos, as transacções de seguro estavam entregues a firmas comerciais, que,
para além do comércio interno, importação e exportação, se dedicavam a outras actividades
subsidiárias, tais como, navegação e seguro. A maior parte das agências estabelecidas em
Moçambique eram de companhias ingleses e sul-africanas e não de portugueses, o que reflecte,
em certa medida, a debilidade do colonialismo português, país económicamente mais atrasado
que outras potências coloniais como a Inglaterra.
Em 1943 foi criada a 1ª Sociedade de Seguros Coloniais, a "NAUTICUS" e em 1945 a 2ª, a
"LUSITANA".
Em 1949 foram criados em Moçambique os Serviços de Fiscalização Técnica da Indústria
Seguradora, que mais tarde receberam o nome de Inspecção de Seguros.
Poderá considerar-se, assim em traços gerais, que é só a partir da década de "50" que o
seguro praticado por companhias começa a existir veraddeiramente, com crescimento forte ao
longo de toda a década de 60.
Sómente em 1957 se formaram mais duas novas sociedades de seguro com sede local
nomeadamente, a "MUNDIAL DE MOÇAMBIQUE" e a "TRANQUILIDADE DE
MOÇAMBIQUE", elevando, assim, o número de companhias com sede em Moçambique para
quatro, número esse que se manteve até à Independência Nacional.
Durante todo esse período, os lucros e até as reservas das companhias com sede fora de
Moçambique eram transferidos para os seus países. Quanto às companhias com sede em
Moçambique essas passaram a investir localmente a maior parte dos seus lucros e reservas, por
isso lhes trazer rendimentos mais altos s seguros.
Contudo, lagos milhares de contos sairam anualmente de Moçambique, por via do
resseguro, pois, a retenção líquida de responsabilidade das companhias com sede local era
mínima.
Após a Independência Nacional, a importância económica deste sector mereceu desde logo
a atenção do Governo Moçambicano, tendo sido um dos primeiros sectores de actividade
económica a ser nacionalizado, o que se verificou em Janeiro de 1977.
a) Vida
Os seguros de Vida podem classificar-se em seguros em caso de morte.
Os primeiros têm por objecto garantir o pagamento dum capital ou duma renda se o
segurado for ainda vivo data determinada antecipadamente.
Os seguros em caso de morte têm, pelo contrário, por objecto, garantir o pagamento dum
capital se o segurado vier a falecer seja em que época for (vida inteira) seja duma data fixada
antecipadamente (temporário morte)
b) Acidente de Trabalho
É um seguro pelo qual se transferem para a seguradora as responsabilidades do
empregador relativas à reparação das consequências dos acidentes de trabalho.
c) Automóveis
Há vários riscos nítidamente distintos:
-Risco de responsabilidade civil do autor do acidente quanto á vítima. Este risco chama-se
Responsabilidade Civil ou de Danos a Terceiros.
A Seguradora toma a posição do Segurado quanto à sua responsabilidade civil para com
terceiros (vítima), com quem tratará directamente para efeitos da indemnização.
- Riscos de danos materiais causados à própria viatura por:
. Choque, colisão, capotamento;
. Incêndio, raio ou explosão;
. Furto ou roubo;
. Quebra isolada de vidros;
- Riscos de acidentes corporais causados ao próprio Segurado;
- Riscos de acidentes corporais causados passageiros transportados.
d) Aéreo
Neste ramo temos:
- Seguro de perdas e danos sobrevindos à aeronave por acidente aéreo, incêndio, raio
explosão, roubo;
- Seguro contra acidentes sobrevindos aos passageiros e tripulação;
- Seguro de responsabilidade civil do proprietário da aeronave para com terceiros ou com
os passageiros transportados ou proprietários das cargas transportadas;
- Seguro de mercadorias transportadas por via aérea.
e) Acidentes pessoais
É este um seguro que garante as consequências de acidentes que possa sobrevir a um
indivíduo isolado.
Os riscos seguros são os de invalidez e morte e ainda os de incapacidade temporária com ou
sem despesas médicas.
f) Incêndio
Esta é uma das categorias mais importantes do seguro, podendo-se dizer, também que é
uma das mais necessárias a qualquer entidade singular ou colectiva, pública ou privada.
O seguro de incêndio garante não só os danos do próprio incêndio mas, também as
consequências deste e as dos meios empregues para o seu ataque.
O objecto seguro pode ser o próprio edifício(residência, estabelecimento comercial, fábrica,
etc.) com o respectivo conteúdo (recheio, mercadorias, maquinaria, etc.).
g) Marítimos
Estes são os seguros mais antigos.
Cobrem contra os riscos de mar, o próprio navio (casco) ou as mercadorias transportadas108.
h) Transportes terrestres
Em princípio, estes seguros garantem os danos ou prejuízos ocorridos em mercadorias
transportadas por via terrestre (rodo ou ferroviária) em virtude de acidentes sofridos pelo meio
transportador.
i) Engenharia
O desenvolvimento industrial, para além do incremento ao seguro contra incêndio,
condicionou o surgimento de novo ramos de seguros, dentre os quais os genéricamente
designados por Seguros de Engenharia.
Os principais tipos de coberturas compreendidos nos seguros de engenharia são:
1. Seguro de caldeiras
Caldeiras, pré-aquecedores, tubos de vapor e superaquecedores podem ser seguros ao
abrigo duma Apólice de Seguro de Caldeiras, de indemnização por (i) danos ao próprio objecto
seguro; (ii) danos aos bens existentes nas proximidades, pertencentes ao segurado; (iii)
responsabilidade legal do segurado para com terceiros, por morte, dano corporal ou dano material
causado pela explosão ou queda do objecto seguro.
2. Seguro de montagens
Este seguro dá cobertura à maquinaria e o equipamento, durante o período da montagem e
do teste. O âmbito da cobertura é de "todos os riscos" e inclue (i) fogo; (ii) dano acidental
durante a montagem; (iii) queda, choque ou colisão, roubo e danos maliciosos; (iv) explosão
durante os testes. A cobertura pode ser ampliada de forma a cobrir a responsabilidade legal para
com terceiros.
3. Seguro de empreitadas
As estatísticas demonstram que pelo mundo inteiro em cada 3 dias verifica-se um sinistro
de elevadas proporções, provocando perdas de vidas humanas e bens materiais, calculados em
largos milhares de meticais. E isto sem contar com os pequenos incêndios, acidentes rodoviários,
ferroviários, marítimos, acidentes de trabalho que diáriamente ocorrem em todos os lados.
Empresas há que possuem seguros mas que não são os mais adequados quer em termos de
capitais seguros quer em de cobertura.
Certas empresas seguram os seus bens por valores muito inferiores aos reais, partindo do
princípio que é remota a possibilidade duma perda.
Tais ideias são erradas. É certo que as possibilidades dum sinistro (principalmente de
elevadas proporções) são poucas. Mas acontecem e há provas disso.
Em qualquer altura pode vir a perder-se um dos bens dessas empresas. Aí por muito que
tenham economizado fazendo os seguros por valores inferiores aos reais, essa economia não será
suficiente para compensar a perda.
Outras há que tem os seguros mais ou menos adequados, mas desconhecem as suas
obrigações e direitos:
- Não pagam os prémios dentro dos prazos concedidos para o efeito;
- Não comunicam as alterações verificadas após a feitura do seguro (de valores, de
objectos, de pessoal, etc.);
E quando se verifica o sinistro:
- Não o participam prontamente à Seguradora;
- Não cumprem a sua obrigação de "actuar como se não tivessem seguro", reclamando a
terceiros responsáveis e minimizando perdas;
- Não requerem o exame (vistoria) à seguradora, no local e prazo contratualmente
estipulados,
- Não apresentam dentro do prazo estabelecido na Apólice, a documentação necessária para
a Seguradora analisar o sinistro e decidir sobre a sua responsabilidade.
Todas essas situações tem de ser rápidamente ultrapassadas pelas empresas e organismos,
para o correcto e integral aproveitamento dos benefícios e protecção que o esguro oferece.
A "Lei da Organização e Funcionamento das Empresas Estatais", nº 2/81 de 30/9/81 no seu
Capítulo IV, artigo 27, refere que "as empresas estatais devem proceder ao seguro dos seus bens".
A EMOSE, E.E. está pronta a colaborar com todas as empresas e organismos, a pedido
destas, para o estudo e conselhos em matéria de Seguros".
Fim da transcrição do documento da EMOSE sobre a história do grupo em Moçambique, os
seguros explorados em Moçambique e problemas ainda existentes nas empresas com respeito ao
seguro.
Para terminar convém recordar, em breves palavras, o que dissémos na parte final do ponto
6.2.7 (Seguro e Resseguro). A lei nº 24/91 de 31 de Dezembro de 1991 liberalizou a actividade
seguradora e resseguradora, autorizando que seja exercida também por entidades públicas,
privadas ou outras, desde que para tal estejam devidamente autorizadas.
A Lloyd´s ou, como também se diz com frequência, os Lloyd´s de Londres são a mais
importante organização de seguros do mundo. A sua principal área de actuação concentra-se no
ramo marítimo; também se dedica a outros ramos de seguros, sendo até usual contar-se que
aceita seguros clandestinos e riscos hipotéticos do tipo "se determinada figura deixar de existir no
prazo de X anos a organização paga uma indeminização de Y unidades monetárias".
O funcionamento e gestão da Lloyd´s processa-se de maneira algo diferente do comum das
sociedades seguradoras e resseguradoras. Antes de mais interessa referir que o nome da
organização deve-se acidentalmente ao senhor Edward Lloyd, dono de um café de Londres - o
Lloyd´s Café, por volta de 1680. Era nesse café que se reuniam os proprietários de barcos,
armadores, capitães e outros intermediários e interessados em transportes marítimos, para
discutirem e assumirem a responsabilidade pelos seguros contra riscos de mar.
Este movimento associativo, cujos membros eram na sua maioria ingleses, assumiu no
início um carácter marcadamente nacionalista pois tratava-se de uma reacçaão contra o facto de
até aí os seguros marítimos estarem nas mãos de estrangeiros. A segunda característica, que
marcou para sempre o fundamento organizativo da Lloyd´s, é que os clientes desse café faziam a
subscrição dos seguros numa base puramente individual. Tudo se passava como se cada
interessado passasse pelo café, comprasse um bilhete de "lotaria - seguro" que lhe punha na
contigência de pagar um risco até apenas ao valor da fracção que adquiriu.
O que se passa hoje é fundamentalmente o mesmo princípio. Existem nos Lloyd´s os
membros que são os subscritores (underwriters) que, por subscreverem uma quota parte dos
riscos lançados pela associação, acabam por serem eles próprios, e individualmente, os
verdadeiros seguradores. Existem, como veremos mais adiante em pormenor, os intermediários
chamados brokers e jobbers.
De notar que a Lloyd´s, em tanto que organização, não emite nem subscreve apólices de
seguro e consequentemente não assume responsabilidades de cobertura de riscos. Tudo é alçada
dos "underwriters".
Vejamos mais alguns aspectos particulares.
É na Lloyd´s que os seus membros realizam normalmente as operações relacionadas com os
seguros. O papael da Lloyd´s consiste ainda no desenvolvimento e protecção dos interesses dos
seus membros, na recolha, sistematização e publicação de informações sobre seguros para uso
dos membros ou outros utilizadores e interessados em seguros.
A Lloyd´s possui serviços especiais dos quais destacamos a Lloyd´s Register of Shipping
(registo dos barcos) ou a Lloyd´s Shipping Index (registo de índices) onde todos os navios do
Por sua vez as companhias seguradoras, de per si, dispondo de maiores capitais e possuindo
uma maior capacidade comercial, estão em melhores condições de angariar mais navios e
proporcionar um maior volume de transacções de seguro e resseguro.
Este relacionamento seguro/segurador/Lloyd´s, assim tosca e sumáriamente descrito, é bom
que se diga que é bastante complexo. Recomenda-se aos interessados nesta matéria a consulta e
estudo em livros da especialidade.