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No livro Brasil Colonial 1443-1580, a autora Elisa Fruhauf Garcia disserta no

capítulo sete as “Trocas, guerras e alianças na formação da sociedade colonial”,


buscando enfatizar o processo da construção da identidade da sociedade colonial através
da relação entre as etnias que coexistiam no período inicial da colonização.

A princípio, a autora se baseia nas argumentações de Russell-Wood no qual ele


afirma que a presença do Império português foi “com, e não isoladamente contra, os
povos com os quais entraram em contato” (RUSSEL-WOOD apud GARCIA, 2014, p.
248). Baseado nisso a autora traz algumas políticas que protegiam os indígenas, como
as políticas indígenas e indigenistas. Os indígenas foram fundamentais para o processo
de colonização, pois compunham um cenário de alianças, ou não, denominando assim
os “aliados” e os “não-aliados”, o que propiciou algumas guerras entre nativos de tribos
distintas, na qual a rivalidade entre elas foi de suma importância para que os colonos
conseguissem se constituir na América portuguesa, ou seja, os portugueses souberam
usar as rivalidades nativas a seu favor, por meio de tratados e alianças e dando
privilégios aos indígenas aliados. Dessa forma, as alianças possibilitavam a coroa
adentrar territórios no processo constitutivo da colônia. Nesse contexto, a maioria dos
nativos passaram pelo processo de escravidão, contribuindo nos engenhos, para o
transporte de pau-brasil, entre outras mercadorias, entretanto, a Igreja contrapunha a
ideia de escravização do índio, cabendo assim, aos jesuítas catequiza-los e assim “salva-
los”, pois na perspectiva católica, os índios ao contrário dos negros, tinham uma alma
“pura”. No entanto, a Igreja e Coroa não obteve um completo sucesso ao implantar as
leis de liberdade aos indígenas e políticas indigenistas em 1609, 1680 e 1755, pois os
colonos sempre arrumavam meios de escravizar o nativo de forma ilícita.

O princípio do antigo sistema colonial tinha como principal ato econômico, o


escambo (três primeiras décadas do século XVI), no entanto tais trocas sempre
favoreciam economicamente os colonos, sendo efetivada, por exemplo, escambo de
pau-brasil por roupas, miçangas, calçados, espelhos. No entanto tal troca proporcionava
aos nativos o estabelecimento de um status social entre as tribos, grande exemplo disso
foi a introdução do sapato. É incabível pensar que os indígenas eram imbecis no que
tange ao desfavoreci mento no escambo, pois “isso não ocorreu porque os índios
desconheciam o valor dos objetos, mas porque eles adquiriam significados distintos à
proporção das suas interações, indicando os estatutos dos envolvidos”. No entanto as
trocas começaram a proporcionar uma demanda por parte dos indígenas, cabendo a eles
exigirem produtos mais “qualificados”, evidenciando assim um posicionamento
indígenas perante ao sistema econômico no princípio do antigo sistema colonial. Advêm
desse raciocínio a inserção de machados mais sofisticados, a arma de fogo com a
pólvora. O acumulo primitivo de capital, por parte dos colonos, na sua relação de com
os nativos aliados e com os nativos escravizados de forma ilícita, propiciou a compra de
mão de obra escrava advindas da África, que no nordeste passou a ser predominante no
final do século XVI. Já em São Paulo, ainda no século XVII, a mão de obra indígena era
predominante, na qual, mesmo sendo proibida, os paulistas desenvolveram métodos de
burlar as acusações de escravidão.

A autora ressalta, que o espaço atlântico foi fundamental para a consolidação do


Império Português, possibilitando trocas de conhecimentos, mercadorias e culturas entre
a América, Europa e África, propiciando a formação “multicultural” da sociedade
colonial.

No final do capítulo, a autora se embasa no teórico Stuart Schwartz, dividindo o


processo constitutivo da sociedade colonial em dois momentos, o de miscigenação e
adaptação cultural. A miscigenação se baseou nas misturas de culturas para formar a
identidade da sociedade colonial e com a mistura de etnias sobrepostas a um modelo
europeu, buscaram se adaptar de uma forma que as suas tradições continuassem fazendo
sentido para a sua existência.

Portanto, a sociedade colonial, foi fundada entre a relação de alianças e trocas,


que beneficiavam de forma significante os colonos. Já para os nativos, foi uma
experiencia traumática, pois muitos acabaram morrendo com essas guerras, não só isso,
mas também por doenças espoliadas pelos europeus aqui presentes. Por outro lado,
aqueles que fizeram parte do sistema colonial, sofreram certamente muitas derrotas, mas
tiveram alguns êxitos explicados pela autora durante o texto. Dessa forma, vemos que o
nativo não foi um mero sofredor da colonização, eles foram parte dessa construção, e
que sem dúvidas, e que sem dúvidas propiciou uma fundamental troca de
conhecimentos entre nativos e europeus.
Universidade Federal de Uberlândia

Relatório de Leitura:

Troca, Guerras e Alianças na Formação da Sociedade Colonial

Gustavo Fernandes Domingues

João Vitor Solano

Vinícius Passos Paulucci

ITUIUTABA

2018

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