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HISTORIA

Pouco se sabe sobre


o verdadeira batalho
pela sobrevivência travada
pe las com uni do des i n d íg e nos

durante a período
do colonizoção do Brosil.
Os relatas existentes
sõo openos peças da versõo
ofi cial " Entreta nta, possog en s
desso nossa histôria,
que aindo estô para ser contada,
mostrarn que os índias lutarom,
sim - e muito" Não só contro
a invasõo portugueso
do territôrio mas também
em prol do manutençõo
do prôprio identidade.
Mos 5oo anos depois
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que se vê é que o conquista
dos territôrios e das povas
nativos nunca deixou de ovançar.
Em um triste e contínua
processo de exte rm ín i o.

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Aviagem de Cabral faz 5oo anos. Está certo. Mas o Brasil, náo. Querer

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mazelas e virtualidades, é um problema dos atuais
brasileiros. É, sobretudo, um desejo do Estado, cujo
presente governo (assim como os anteriores) acredi-
ta ser o verdadeiro portador de uma 'brasilidade'.
Como pudemos testemunhar, a elite ocupante insis-
tiu no caráter'comemorativo' dos festejos oficiais, a
Pedro Puntoni ser preservado a ferro e fogo. Contudo, o que se
Departomento de HÍstória, comemorava?
Universidade de Sõo Paulo O Brasil é uma construçáo tardia. A independên-
e Centro Brasileiro de Anólise cia política de Portugal, em1,822, náo predestinava
e Plonejamento (Cebrap) a sociedade formada na América portuguesa a que
se constituísse como comunidade nacional. Esta foi

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forjada nas lutas políticas e intelectuais, Ievadas a ia-se, claramente, a intençáo formativa da consciên-
termo por uma elite engajada nesse projeto de ma- cia nacional, entendida como 'missão' civilizadora,
nutençáo da unidade polÍtica, sob o domínio dos Para além das medidas militares ou institucionais
Braganças, e da continuidade do escravismo. Nossa que garantissem a unidade nacional, a monarquia
história foi escrita para moldar um discurso no qual (agora'brasileira') tinha de desdobrar-se para costu-
o Brasil aparecia como uma realidade desde aquela rar as diversidades regionais em um todo, cujo
manhã de quarta-feira, quando a gente portuguesa sentido deveria ser traçado em uma história geral a
avistou "um grande monte, muito alto e redondo; e ser escrita.
de outras serras mais baixas ao sul dele". Nas primeiras reunióes do Instituto, logo coloca-
Em 1838, foi criado o Instituto Histórico e Geo- do sob a proteção direta do 'menino imperador',
gráfico Brasileiro, com o objetivo de reunir, seriam discutidas as alternativas à periodizaçáo de
metodizar, publicar ou arquivar os documentos nossa história e a construçáo dos episódios dignos
necessários para a história e a geografia do Brasil, de indicar uma linha ascendente, e contínua, da
assim como promover o conhecimento desses dois afÍrmaçáo da especificidade nacional e da vontade
ramos científicos por meio do ensino público. Reve- secular de independência, O engenheiro brasileiro

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lír§{Ô§r§ -

Raimundo losé da CunhaMatos (1776-1839) propôe tória da escravidáo indígena que mal comeÇa a ser
então a periodizaçáo da história do Brasil em três escrita (Negros da terra, de John Manuel Monteiro,
épocas: a primeira relativa aos aborígenes e aos Cia. das Letras, 1994). O cativeiro dos índios, Iegiti-
autóctones; a segunda, que relata dos descobrimen- mado em 1570, seria váIido até 1,757 (para o
tos à administraçáo colonial e, por último, a nacio- Maranháo) ou 1758 (para o Estado do Brasil). Os ín-
nal. No dia 2 de março de 1839, na sexta sessão, foi dios eram a maioria nos engenhos de açúcar no sé-
aprovada essa divisáo. culo 16. Nos séculos seguintes, apesar de substituÍ-
Como se vê, essa triangulaçáo de nossa história dos pelos africanos no núcleo mais dinâmico da eco-
parte de dois pressupostos. Primeiramente, a idéia nomia colonial, seriam ainda numerosos nos setores
de que existiu um período colonial do Brasil, isto é, produtivos marginais. Contudo, para além de sua
um momento onde a naçáo (que já existiria, ainda utilidade como força de trabalho, os indígenas apa-
que de forma potencial, desde 1500) estava des- reciam para os portugueses como aquele substrato
possuída de sua autonomia, que é garantida por mÍnimo de povoadores necessário para a manuten-
um Estado independente de Portugal. A ausência çáo do domínio. Eram importantes aliados para en-
do Estado é que define o período. Um claro anacro- frentar tentativas de conquista ou de invasáo de
nismo. O segundo pressuposto é a noçáo de que outras potências européias, ou mesmo a resistência
haveria uma história dos índios, mas em uma época dos grupos nativos que se mantivessem hostis. Nas
anterior ao nascimento do Brasil. Desse modo, os tropas coloniais, nas guerras contra os holandeses,
Índios ficam relegados à pré-história do Brasil, as- os indígenas eram sempre o maior contingente.
sunto de etnólogos e arqueólogos. Como eram con- Outro mito de nossa historiografia é a idéia de
siderados inimigos da naçáo (porque eram inimigos que a legislaçáo indigenista portuguesa era contra-
da empresa colonial) e previa-se o seu fim inexorá- ditória e oscilante: de um lado os colonos, ávidos de
vel, sua história náo parecia despertar interesse, lucro, e de outro os jesuítas, protetores da alma e da
guardando-se apenas nas páginas de eruditos, afei- liberdade dos índios; no meio, a Coroa, ora ordenan-
çoados a perspectivas regionais ou cientificistas. do a escravizaÇáo, ora a proibindo. Na verdade,
E também dos literatos, para quem os índios eram essâs leis eram o resultado da percepçáo das possi-
elemento referencial na reconstrução historicista bilidades de utilização da diversidade sociocultural
da literatura romântica e símbolo privilegiado da dos povos autóctones e das conjunturas da situaçáo
especificidade da pátria. Para a elite dominante, o de contato para a realizaçáo dos objetivos concretos
índio náo tinha futuro, apenas passado. da empresa colonial. Ao mesmo tempo a expansâo
Nunca houve um encontro de culturas. As da fé e a realizaÇão do lucro. E, para tanto, a afirma-
guerras de resistência aos portugueses mostram ção (militar) do domínio. Ou seja, a legislaçáo
como a empresa colonial foi sobretudo uma con- indigenista procurava regulamentar e legitimar a
quista militar. Ao longo destes 500 anos, o coloni- escravidáo dos indígenas, ao mesmo tempo em que
zador promoveu uma contínua e inexorável con- protegia uma política de alianças militares com os
quista do território e dos povos nativos. E conti- povos considerados amigos.
nua a fazê-lo ainda hoje. Outra mistificaçáo, di- Aliados ou resistentes, aos índios cabia um des-
fundida desde o século 19, é que os Índios se tino terrível: desintegraçáo social ou extermínio.
integraram ao povo brasileiro. Em um processo de Mas a verdade é que também resistiram. E a história
amálgama, três raças constituÍram o que somos. dessa resistência ainda está para ser feita. Como se

Raças, ou culturas, como queria o sociólogo bra- sabe, para ahistória colonial dos povos indígenas no
sileiro Gilberto Freire (1900-1987). Tanto faz. Por caso do Brasil - diferentemente da Mesoamérica -
trás dessa idéia, está mais uma operaçáo ideoló- possuímos apenas documentos produzidos pelos
gica. Na sua maior parte, e na sua experiência colonizadores. É muito difÍcil escrever o que já se
social, os povos indígenas sofreram um contÍnuo chamou de "história dos vencidos". Os índios náo
processo de extermínio. Nós temos a rede, a ta- nos deixaram nenhuma documentaçáo escrita, ne-
pioca, a pipoca, o piruá... mas e os primitivos nhuma versão de sua luta. E, contudo, Iutaram.
habitantes do litoral? Onde estáo? Âlguns episódios, por sua dimensão, acabaram sen-
Ao lado da escravidáo africana há toda uma his- do registrados nas páginas da papelada administra-

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Hr§TÔnrl

tiva, nas patentes dos oficiais, providências para vam estar'invadindo' as fronteiras do império por-
abastecimento das tropas. Ou ainda, serviam de tuguês e cristáo. Resultado de diversas situaçóes
propaganda do Estado absolutista na sua luta contra criadas com o avanÇo da fronteira da pecuária e a
o poder dos jesuítas, como se viu no século 18. necessidade de conquistar e 'limpar' as terras para a
Resultaram em uma série de crônicas e memórias criaçáo do gado, essa guerra envolveu vários grupos
que nos revelam a força e a obstinaçáo desses povos e sociedades indígenas contra moradores, soldados,
e nos permitem redimensionar sua derrota. missionários e agentes da Coroa portuguesa.
Do período dito colonial de nossa história, pode- Mas quem eram esses povos 'bárbaros' contra
mos destacar alguns momentos principais. Dois quem lutavam os colonos e as tropas do rei? Na falta
grandes conflitos que envoiveram, de um lado, os de um estudo mais minucioso, basta notar aqui que,
povos ditos 'tapuias' (náo tupis) do atual sertáo do grosso modo, o sertão encontrava-se habitado por
Nordeste, e de outro, os povos guaranis (tupis) do dezenas de grupos étnicos distintos, entre os quais
sul do continente. Uns, rebeldes indômitos, resis- se destacavam os cariris e os tarairius. Os cariris
tentes à invasáo dos pecuaristas e à conquista de ocupavam notadamente o sertáo de dentro e as
suas terras; outros, aliados e aculturados pelos jesuí- margens do rio São Francisco. Já os tarairius, natu-
tas, em um século de missóes, mas rebeldes à po- rais do sertáo de fora, principalmente das capitanias
Iítica ibérica de deslocamentos, resultante do Trata- do Rio Grande e do Ceará, estavam divididos em
do de Madri. Vamos falar da Guerra dos bárbaros diversas naçóes, em disputa entre si, que levavam o
(1650-1704) e das Guerras guaraníticas (1752-1756). nome de seus chefes (ou 'reis'), como os janduís,
paiacus, jenipapoaçus, icós, caborés e capeias. Além
desses, no sertáo baiano, os paiaiases e anaios se
§**r*n /oo k larwe, viram envoltos nas guerras do Aporá e Orobó, no
recôncavo baiano.
Na segunda metade do século 17, a expansáo da Conjunto complexo e heterogêneo de batalhas,
economia e, portanto, da fronteira colonial na Amé- esparsas no sertáo, a Guerra dos bárbaros, pode ser
rica portuguesa, criou novas zonas de contato e dividida entre os acontecimentos no recôncavo
fricçáo com as populaçóes autóctones, nem sempre baiano (165 1-1679) e as guerras do Açu (1687-1 705),
integradas ou subjugadas pela força militar ou pela na ribeira do rio que leva o mesmo nome no sertáo
iniciativa dos missionários. No caso das capitanias do Rio Grande do Norte e do Ceará. Apesar de alguns
do Norte do Estado do Brasil, onde se estabelecera I ;ffi historiadores procurarem interpretá-la como um
de maneira definitiva um sistema econômico e st.r-
cial baseado na produção de açúcar, o processo de
I{ ffi movimento unificado de resistência, nunca houve
í ffi uma grande aliança indígena. Sem a possibilidade
expansáo da economia colonial implicava duas for- {I tsÉ+
de articulaçáo política, os povos do sertáo se viam
mas distintas de apropriaçáo do território e de fragmentados diante de um inimigo coeso e articu-
organização social: de um lado, no litoral, a zona
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IF lado - fato que justamente nos ajuda a entender sua
produtora da mercadoria de exportaçáo (açúcar) e I H
derrota. Do lado português, a compreensáo dos
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do sistema produtivo coadjuvante (alimentos, taba- povos ditos tapuias como uma unidade histórica e
co etc.); do outro, a zorra da pecuária no sertáo. Para cultural - em oposiçáo náo só ao mundo cristáo
essa regiáo convergiam as tensóes e os conflitos europeu, mas aos povos tupis, habitantes do litoral
resultantes da expansáo territorial da Colônia. Ten- - foi um dos elementos mais importantes na carac-

sóes agravadas com o desenrolar dos acontecimen- terizaçáo da unicidade dos conflitos no Nordeste. A
tos das guerras holandesas (1645-1654), que envol- Guerra dos bárbaros foi também uma das mais
veram no conflituoso mundo colonial vários povos iongas, concorrendo com as guerras dos Palmares
autóctones de maneira irreversível. (1644-1695), da mesma época. De maneira diferen-
Entre 1651 e 1,704, o sertáo foi palco de uma série te, no entanto, náo se tratava aqui de defender uma
de conflitos entre os povos indígenas e os recém- opção de resistência à escravidáo e uma comunida-
chegados colonos luso-brasileiros. Os conflitos fo- de de fugidos, mas de preservar a sobrevivência de
ram conhecidos na época como a Guerra dos bárba- culturas seculares, ou mesmo milenares, no territó-
ros, como se chamavam os indígenas que imagina- rio que se via invadido.

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Iniciada com Llma série de jornadas enviadas dÍgenas habitam a regiáo atualmente, estabelecidos
pelo governo geral ao sertáo, entre os anos de 1651 em 43 áreas. E o aniquilamento também é cultural:
e 1656, a guerra no recôncavo ganharla mais hoje só os fulniô expressarn-se em língua própria, en-
regularidade com a contrataçáo de tropas de quanto toclos os demais conhecem apenas o portu-
paulistas, que eram pessoas especiallzadas na guês. NIas, nos marcos dos direitos estabelecicios pela
arte da guerra dos matos. Três grandes campanhas Constituiçáo de 1988, várias etnias indígenas emer-
podem, entáo, ser identlficadas: a Guerra do Orobó gem e reivindicam sua identidade e sua autonomia.

(1657-1659) e a Guerra do Âporá [1669-1673J,


contra os paiaiases e os topins habitantes do
sertáo do Paraguaçu, e as guerras na regiáo do Sáo
Francisco (167 4-167 9), contra os anaios. A Guerra O Tratado cle -\lach'i. assinaclo ern 1.1 cie janeiro cle
do Açu iniciou-se em fevereiro de 1687, colr um 1750, r'erlesenhar,a as fronteiras arnericanas cnlre
levante geral dos tarairius do Rio Grande e pode Espanha e Portugal. r\ concepçáo do limite nalulal
ser dividida em três campanhas. Primeiramente, do rio do Prata, d e[endida pela rronarquia poltuguesa
as expediçóes punitivas (1687-1688) cornandadas clesde a lirndação cla Colônia de Sacramento. era agola
por Antônio de Albuquerque Câmara, Domingos substituÍcla por um acoldo rlue r,isarra estabelecer
Jorge Velho [que havia sido contratado para des- cl efinitir,amente as fronteiras. contrariando o
truir os Palmares e fora desviado para o Açu) e melidiano rias Tordcsilhas (que, em 1.+94, har,ia re-
N4anuel A. Soares. Depois, com a contrataçáo dos partido o mLrndo a scr descobelto entre os espanhóis
serviços de \4atias Cardoso de Aimeida, de 1690 e os portugueses]. Pelo Trataclo de lvladri, a linha cla
a 1695, obtém-se a rendiçáo do rei dos janduÍs, fronteira nreridional entre o Brasil e as pror,íneias
Canindé, em 5 de abril de 1692. e spanholas do Prata ficarla r-nais ao norte, englobari-

Em 1699, com a chegada do terço - antigo corpo do a banda oriental r1o rio LJrr.rguai e, seguindo por
de tropas - dos paulistas, chefiado por N4anuel unt de seus afhrentes (o rio Ibicuíl até o Iitoral, na foz
Ál.,"res de Morais Navarro, inicia-se a terceira fase do rio ChuÍ. Tal medida r:olocar,a sob o clornínio por-
da guerra com uma campanha reivindicativa e de tuguôs seie alcieanren Los jestríticos Ios chanrados sete
'limpeza' do território. Os paulistas de Narrarro povos) dos 30 estabeleciclos nas cluas margens clcr
Íicam na regiáo, causando mortes e destruição, até l-lmguai. Erarn eles: São Borja. São Luís, Sáo Lolenzo.
pelo menos :t704, quando os conflitos alrefecem. Sáo loào, Sanlo Sáo Nlcolírs e São Nliguel. e
'\ngelo.
Entre outros crimes dessa guerra, nos ficou a memó- relLnlam. então. cerr;a dc 75 mil habitantes. Sob o
ria do massacre na ribeira do Jaguaribe fno Ceará), corlanrkr rlos jesuítas, conr Lrra orgauizacàrr 1tulíti-
em que cerca de 400 Índios da naçáo jenipapoaçu r;a pcculiar (apcsar cle lolrnah'nente subrnetidos à
foram traiçoeiramente assassinacios pelos paulistas, Castela). essa'república gualani' eraorgulhosa cle sua
mesmo estando aldeados e catequizados pelos pa- riqrreza e ciosa de sua autononia.
dres oratorianos. Era 4 de agosto de 1699. À nor,a realidarle irnposta pelo trataclo acabava
Depois de uma série de derrotas, a resistência in- por tror:ar o controle cle Sacranrento pela banda
dígena se abrandou e o sertão foi tomado por uma orlental do LIruguai, onde os sete povos habitavant.
violência entrópica, mas funcional. Os povos indí- Â nrorte cle Dom loào V, alguns nrcses apenas a1tírs
genas remanescentes foram aldeaclos e extermina- a assiuatura clo tratiido, alçou Sebastião José 11e

dos. Para telmos uma idéia do resultado do aniquiia- Calvalho e Nlelo [futur.o marrluês de Pombal) conrri
mento a que foram submetldas as sociedades autóc- ser:rctário dos negócios estrangeiros c da gtrelra. Os
tones, hoje a população indígena do Nordeste é de jcsuítas e os ínclios demorrstr-ar,am r;laranrente resis-
cerca de 36 mil indivíduos, ou seja, 5,5% da esti- tência à idéia de se color;arr:nr sob a dominaçao clos
mativa histórica à época do Descobrimento. Se- portuguescs, r:ujos Íiéis r,assalos (os paulistasl os
gundo as estimativas do antropólogo brasilianista e havian atar;arlo táo brutalmente. Além clisso. nos
historiador norte-americano fohnHemming [1935-), conflitos do Prata, os aldeados semJlre estir,eran
a populaçáo era de pelo menos 652 mil pessoas. Da engajados (iorr] as tropas espauhoias. Nào obslante
irnensa diversidacle existente, apetlas 26 grupos in- essas prevenÇÕes. en 17it2. o governaclor das lt,Iitras,

5o. ctÊl'lctn HoJE. vo[. 28. ne 764


HrsrÔnrl

Gomes Freire de Andrade, fora nomeado como che- derrotaram. Os que fugiram foram caçados e mor-
fe da cornissáo demarcadora e deveria, sem atraso, tos. A perda foi catastrófica: 1.500 mortos e 154
reunir-se com os delegados espanhóis para delimi- prisioneiros. No exército aliado, apenas quatro
tar os territórios e supervisionar a permuta da Colô- mortos (um português) e 40 feridos.
nia pelos sete povos. Nos meses seguintes, uma série de conflitos
O comissário castelhano, o marquês de pouco importantes marcou o avanÇo inexorável
Valdeiírios, foi ao encontro de Gomes Freire, em dos alia-dos. Depois de Caibaté, os guaranis evita-

Castilho Grande, de onde seguiram os técnicos e ram qualquer confronto direto e perderam, pouco
oficiais para efetuar os estudos e demarcaçôes. Fo- a pouco, o telreno. As missôes foram tomadas e
ram divididos em três partidas. A primeira delas, cerca de 14 mil índios passaram para a margem
acompanhada de duas escoltas de dragões (cavalei- direita (como descrito em Á república comunista
ros) com 160 homens, acabou esbarrando com os crista dos guaranis, de Clóvis Lugon, Paz e Terra,
índios na regiáo de Santa Tecla, ao norte de Bagé. Os 1949, pp. 294-295). As tropas ficaram alguns me-
espanhóis e portugueses foram rechaçados pelos ses no terreno. Quando o novo governador de
guerreiros comandados por ]osé (ou Sepé) Tiarajú, Buenos Aires, Dom Pedro de Cevallos, chegou as
principal líder do povo de Sáo \,Iiguel. A colabora- missóes, compreendeu a situaçáo bizarra da guer-
ção dos jesuÍtas com a rebeliáo dos índios foi, e ra: Gomes Freire náo desejava o controle dos sete
ainda é, motivo de controvérsia. Servindo para povos, porque náo entregaria a Colônia de Sacra-
justificar o combate que Ihes Íazia o marquês de mento. No fundo, o maior interesse de Carvalho e
Pombai, a colaboração era entáo negada veemente- Mello fora satisfeito ao derrotar os jesuítas e, so-
mente. De toda maneira, à resistência dos guaranis bretudo, produzir elementos quase incontestes para
contrapunha-se, agora, um poderoso exército orga- sua campanha contra a ordem. A maior preocupa-
nizado pelas duas coroas. çáo era proteger o Rio de ]aneiro,
Em 1.754, os exércitos coligados marchariam em principal porto por onde escoava a
cluas colunas separadas. Perto da foz do Ibicr-rí, os produçáo do ouro e dos diamantes
§*zgeslôas
espanhóis loram atacados pelos índios de La Crr,rz e do Brasil. para leitura
Japejú e decidiram recuar, deixando os portngneses Enquanto isso, mudando o rumo
sozinhos. Depois de algumas operações desastlo- da guerra, Cevallos garantiu proteçáo CUNHA, M.C. da,
(org.), História
sas, o comandante português optou por uma retila- aos jesuítas e recomendou que os dos índios no
da, o que foi feito (pala clissimr-rlar a derrota) após a Índios rroltassern para os aldeamentos. Brasil. São Paulo,
Cia. das Letras,
assinalura de uma tréglra com os rebelados en'r Tal conjuntura fez com que Gomes 1992.
novembro de 1,751. Tal desastre repercutir,r na Euro- Freire retolnasse ao Rio de Janeiro HEMMING, j., Red
pa coiro uma rritória dos guaranis, ah,orotando-se o Gold, the conquest
em 1759. No mesmo ano, com a mor-
of the Brazilian
espírito anti jesuítico. te de Fernando VI. assumia o trono lndians.
A segunda campanha, mais bern organizada, aca- espanhol Carlos III. Quando ainda Cambridge,
Harvard University
baria por destruir a rebelião, Ern janeiro de 1756, as era apenas rei de Nápoles, o soberano Press,19Z8.
tropas espanholas, com 1.500 soldados, e as portu- não aprovara o tratado de 1750 e LUGON, C., A
repú blica
guesas, corn 1.000, reuniram-se enl Lrma fortificação tampouco a remoção dos sete povos.
comunista cristã
às margens do rio Piratini. Em fevereiro, os dois No contexto da guerra dos sete anos, dos guaranis, t6to-
exércitos se colocaram em marcha, em colunas e na eminência da Espanha se ligar à 1768. Rio de
janeiro, trad. port.,
separadas. Depois de algr-ins encontros. no dia 10, o França, Portugal preferiu manter a Paz e fefia,7977,
exército luso-espanhol foi interceptado por uma aliança inglesa. Em 1 2 de fer,ereiro cle (tsqil.
MONIEIRO, J.IU.,
numerosa tropa indÍgena em Caibaté, nai cabecei- 1761, em El Pardo, as duas rronar- Negros da terra:
ras do rio Cacequi. Liderados por Nenguiru, cerca cle quias ibéricas assinaramum'distrato' índios e
2 mil índios missioneiros colocaram-se atrás de que ordenava a irnediata evacuação bandeirantes nas
orígens de São
uma linha rudinentar de trincheiras, aguardando dos "terrenos que foram ocupados". Paulo. São Paulo,
algum clesfecho. Com armamentos superiores e ca- Contudo, os Ínclios já haviam sido Cia. das Letras,
1994.
valos, as tropas européias atacaram os índios e os mortos e os sete porros destruÍdos. m

setembro de zooo . ttÊNctA HoJE.5Í

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