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REFERENCIAL TEÓRICO

De acordo com Okano (2010), o Japão era praticante do isolacionismo, permitindo


que somente com a chegada dos portugueses, seguidos dos holandeses, ocorresse nos portos o
estabelecimento de câmbio comercial. Pode – se notar que os chefes japoneses obtinham o
extremo controle da ilha por meio de uma ditadura que se manteve desde 1603 até o ano de
1868.

Com isso, se dá o início da Era Meiji e a modernização japonesa com a entrada do


ocidente:
“Reconhecendo a impossibilidade de continuar no poder, o 15° xógum
Keiki (ou Yoshinobu) Tokugawa (1837- 1913), entrega as rédeas do governo ao
jovem imperador Meiji (1867- 1912). Os movimentos de patriotas, orientados por
esclarecidos pensadores, criam pressão interna irresistível no sentido da restauração
da monarquia em sua plenitude. A chegada, em 1853, da esquadra americana do
comodoro Mattew C Perry (1794 - 1858, exigindo a abertura dos portos, representa a
gota d'água que põe fim ao regime xogunal.” (YAMASHIRO, 1985, p.183)

Para Bruggemann (2016), a Restauração Meiji foi como um período de


transformações políticas, econômicas e sociais sem precedentes na história do Japão. É
possível notar que, apesar de compelida, a abertura do Japão para o mundo ocidental foi um
marco imbuído aspectos para a busca incessante da modernidade.

Assim como para Sakurai (2018), o país entra em um processo inesperado e radical
de suas estruturas políticas e econômicas, se obrigando então a inserção nas expectativas do
ocidente:

“Mas a Restauração Meiji é mais do que isso. Ela se pauta por reformas
internas cujo objetivo é adaptar o Japão às exigências do mundo na época. Trata-se
de um profundo redimensionamento das forças sociais no cenário político-
econômico levado a cabo pela elite do país (grandes senhores capitalizados, grandes
negociantes, intelectuais e tecnocratas de famílias poderosas) a partir de uma
escolha: participar com alguma força no circuito capitalista. Assim, a idéia é criar
uma sociedade com condições de inserção e competitividade no mercado mundial. O
Japão corre contra o relógio para, em poucos anos, adaptar-se aos padrões ocidentais
que dão as cartas naquele momento” (SAKURAI, 2018, p 133)

A ocidentalização do Japão desencadeou um avanço sobre o desenvolvimento da


nação, o que tornou possível sua entrada na Segunda Guerra Mundial, como aponta
Dellagnezze (2018) “com a industrialização e a elevação com
gastos militares, o Japão tornou-se uma potência mundial. Entretanto, para o Japão, havia uma
preocupação com a expansão do comunismo da União Sovietica”.

Dentre o final da Era Meiji e início da Segunda Guerra Mundial, com a investigação
das ações japonesas, aponta-se que era tido como comum, por mais que cruel a violência
exacerbada, como apontado:

“Antes do início formal da Segunda Guerra Mundial, em 1939, os crimes


de guerra japoneses eram denunciados. Essas denúncias afetaram a própria produção
historiográfica, em um contexto de alta censura e violência, durante a Era Showa,
nas décadas de 1930 e 1940. Um dos primeiros crimes (ainda não classificado como
crime contra a humanidade) a ser considerado como perpetrado pelo império
japonês é o chamado “mulheres de conforto”. (NETO, 2021)

No momento que se nota a brutalidade que transparece por entre os eventos da


Segunda Guerra, as percepções mundiais sobre o Japão transitam para uma militarização
feroz, após o ataque à Peal Harbor. Como afirma Sakurai (2018), “para o governo norte-
americano, o Japão, que em momentos passados foi aliado, agora era considerado uma
ameaça, e o corte nas fontes de abastecimento de combustível era um primeiro movimento no
sentido de impedir que o expansionismo japonês fosse muito adiante.”

Sua escala militar e crimes de guerra foram tão evidentes que sofreram várias frentes
de ataque, vindas principalmente dos Estados Unidos como meio de controle às investidas
japonesas. Após vários sucessos militares importantes na primeira metade da Guerra do
Pacífico, o Império Japonês também ganhou fama por sua eficiência militar e crimes de
guerra contra seus inimigos. Depois de muitas derrotas com a queda de duas bombas atômicas
pelos Estados Unidos nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, o império japonês se rendeu aos
aliados da Segunda Guerra Mundial em 02 de setembro de 1945. (Dellagnezze, 2020)

No imediato termino da participação do Japão, não foi deixado em branco suas


condutas para com as vítimas prejudicadas, logo, os Estados Unidos tomou a frente para o
julgamento internacional:

“...em 1946 o general MacArthur aprovou a carta do Tribunal Militar


Internacional para o Extremo Oriente, que tinha como base a carta previamente
escrita para o Tribunal de Nuremberg. A carta elaborada para o TMIEO possuía 17
artigos e expunha como o tribunal iria se configurar, assim os julgamentos se dão
início em maio de 1946 em Tóquio, no prédio que
costumava ser o Ministério de Guerra japonês e só vão terminar dois anos depois
em 1946.” Viegas et al. (2010 apud OLIVEIRA, 2020)

Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão se encontrava em devastação, neste


momento, começa a reformulação geral das estruturas do Estado no início de 1946, que
rompeu com os privilégios vigentes. As forças de ocupação e a sociedade japonesa ansiava
reconstruir o país sob novas bases, incentivando a prática democrática dando cargos de
relevância para quem estivesse alinhado com os novos valores no governo, educação e mídias.
Atingiu assim, em torno de duzentas mil japoneses. (SAKURAI, 2018, p 183)

A ocupação estadunidense foi um dos pontos de partida para a reestruturação


japonesa, pressionando um acordo de paz e mantendo vigilância à risca sobre as decisões para
abarcar a comodidade dos Estados Unidos:

“In 1947, the United States began serious planning for a peace treaty with
Japan. American officials considered that the peace terms would be crucial to
consolidating a postwar settlement in Asia that was favorable to
U.S. interests and consistent with American ideals. The process of drafting the treaty
accordingly prompted extensive internal debates over what should be asked of and
conceded to Japan and, in addition, how far the interests and demands of America’s
allies should be accommodated.” (Wilson, et. Al, 2017, p. 152-174)

A partir deste ponto, nota-se o princípio da diplomacia japonesa em construção, que


mais tarde, no meio globalizado, atingirá em grande escala diversas outras culturas. Os
momentos vivenciados no pós - Segunda Guerra transformaram um país dilacerado pela
guerra em um país com a tecnologia avançada com uma das melhores qualidades de vida do
mundo. (Bruggerman, 2016). Se tornando uma nação modelo e que desperta o interesse dos
outros Estados pela civilidade e grau de progresso nos variados setores.

Devido aos crescentes avanços e novos olhos da comunidade internacional, a


imagem japonesa que antes era vista como violenta e ameaçadora para o ocidente, passou a
ser vinculada como dócil e progressista. Tais transformações se popularizaram
majoritariamente com a população jovem, dando introdução para a cultura kawaii se
estabelecer:
“...Sei Shōnagon’s Pillow Book lists things that are utsukushi, an
adjective that shares common meanings with modern kawaii, i.e., a baby face
written on a melon, children wearing baggy kimono, chicks, sparrows, doll furniture,
bird eggs, glass pots, and the like.5 These are all fragile, small, and vulnerable things
that need the observer’s sympathy and benevolence to survive, and it seems that the
value of kawaii things lies in the observer’s attachment to the life of the weak object
rather than its death. Different cultures have developed different perspectives on
cute products, and in Japan’s case, the 1970s witnessed the rise of the kawaii as
commercial culture in a way unseen before. This particular cute culture first formed
around stationery goods and handwriting that quickly spread among students in the
late 1970s.” (SATO, 2009)

A cultura kawaii, fazendo-se mais evidente, passa a ser retratada nas mídias
consumidas pelo público jovem, sendo elas mangás, animes, jogos eletrônicos e a moda. A
estética ressaltou o romance e a fragilidade, ainda citando Sato (2009), “What predominates
the idol culture of cute is women’s pretension to be small children by means of childish talk,
pastel-colored fashion, and their love of cute stationery goods and fluffy animals.” Mesmo as
cantoras faziam uso da estética para atrair fãs e admiradores, colocando a inocência e doçura
como modo comportamental e da sua imagem.

A moda nas ruas de Harajuku é um exemplo do entusiasmo criativo de jovens devido


à influência da cultura pop. A comunicação através da moda inspirou diversos conceitos e as
heroínas dos mangás e animes do cinema, da televisão e do computador saltam as telas e saem
às ruas, vestindo as meninas (LUYTEN, 2014). Deste modo, a cultura kawaii se tornou um
fenômeno começando apenas nas ruas do Japão para logo em seguida se espalhar pelo mundo,
finalmente atingindo seu objetivo de transformação de imagem.

Obviamente, não deixando seu papel de superpotência de lado, o Japão investiu


ainda mais em sua imagem para a propagação de sua cultura através também da internet, se
convertendo exportador de produção artística autentica, servindo para o início do Cool
Japan. Para Buggerman (2016) “para compreender o Cool Japan é preciso analisar a
subcultura “otaku”, presente no Japão e disseminada ao redor do mundo através de,
principalmente, mangás e animes.” Os Otakus são um dos maiores responsáveis da
perpetuação da cultura kawaii, principalmente dos mangás e animes.

Vê-se, então, os meios que a diplomacia japonesa tomou para se abrir para o mundo
ocidental com um comportamento não agressivo e popular. De acordo com
Quise (2013), a produção e o consumo do animê geram fluxos diversos, e mobilizam questões
financeiras, culturais e, indiretamente, até mesmo políticas.

Portanto, o Japão notou que, claramente, o investimento na cultura kawaii e nas artes
para sua mudança de imagem foi recebida com sucesso no lado ocidental do mundo, abrindo
assim, novas portas para sua economia e desenvolvimento:

“The relationship of Japanese culture and cuteness has developed on


several different levels in the country’s cultural environment. After defeat in World
War II and postwar recovery, Japan’s cultural proclivity toward dependence and
indulgence seemed to lead the nation to conclude that its political and economic
dependence on the United States was the key to success.” (SATO, 2009)
Bibliografia

OKANO, Michigo. Fronteira e diálogo na arte japonesa. 2010. 380 f. VI EHA -


ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE – UNICAMP, 2010. Disponível em:
<https://www.ifch.unicamp.br/eha/atas/2010/michiko_okano.pdf>. Acesso em: 09 outubro.
2021.

YAMASHIRO, José. A História da cultura japonesa. São Paulo. IBRASA -


Instituição Brasileira de Difusão e Cultura LTDA. 1985

BRÜGGEMANN, Diogo. O Japão do Soft Power: o potencial dos filmes do studio


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Internacionais, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016.
Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/174585/Monografia
%20do%2 0Diogo%20Bruggemann.pdf?isAllowed=y&sequence=1. Acesso em: 19 set. 2021.

SAKURAI, Célia. Os japoneses. São Paulo. Editora Contexto. 2007

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< https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-internacional/o-imperio-e-a- constituicao-
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