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ANO: 2022.
Implicações estéticas, simbólicas e sociais na obra de Yasunari
Kawabata
1.Introdução
Em este trabalho me proponho a percorrer a vida e obra de Yasunari Kawabata, tendo
em conta suas preocupações estéticas e seu trabalho simbólico na escrita, sem descuidar
o contexto social onde este escritor, ganhador do prêmio Nobel de Literatura, se
desenvolveu. Nesta ocasião, vou trabalhar com três contos recopilados na coleção
Contos da Palma da Mão (Tanagokoro no Shôsetsu), traduzido ao português por Meiko
Shimon. Eles são: Frágil Recipiente (Yowaki Utsuwa, 1924), Dezesseis anos
(Junanasai, 1944), e O guarda chuva (Amagasa, 1932).
Yasunari Kawabata nasceu a 14 de junho de 1899 em Osaka, e morreu a 16 de abril de
1972. Ele foi um destacado escritor do século XX, pertencente a uma família tradicional
e reconhecida em sua região. Órfão de pais, e logo de avós, havendo perdido também a
sua irmã, Kawabata tornou-se interno em um colégio onde conheceu outros rapazes
apaixonados pela literatura. Em 1917 mudou-se para Tóquio, onde ingressou no curso
de literatura inglesa e mais tarde optou pela literatura japonesa. Em esta época o escritor
se preocupou muito pela expressão técnica em sua obra, e também se interessou na
literatura ocidental, a qual influenciou ele. Ademais, por essa época, Kawabata integrou
uma corrente literária chamada de Shinkankakuha (Neo-sensorialismo). Isto foi virando
a medida que ele foi sendo adulto, e depois da Segunda Guerra Mundial e os atentados
dos EE.UU em Hiroshima e Nagasaki, Kawabata dedicou-se a escrever contos com
ênfase na cultura tradicional japonesa, se bem isto já era tema em sua escritura, logo se
acrescentou.
2. Contexto histórico do autor
O autor nasceu a finais do período Meiji (1868-1912), e viveu em o período Taisho
(1912-1926) e em o período Showa (1926-1989). Em estes períodos o Japão passou por
múltiplos câmbios políticos e sociais. Herdeiros de um passado aristocrático no período
Edo (1615-1868) onde reinavam o clã guerreiro Tokugawa, conhecido como Tokugawa
bakufu, seu líder, o Shogun governava desde a cidade de Edo (hoje Tóquio). Ele
estabeleceu um sistema hereditário do poder que dividiu as classes, inspirado no
pensamento confuciano onde os samurais governavam, com os Tokugawa na cabeça e
os chamados Dimyo como senhores feudais. Os agricultores e artesãos estavam por
baixo desses, e logo, os comerciantes como última corrente. Além disso, neste período
foi proibido o cristianismo e só permitiram o comércio com os holandeses, chinos,
coreanos e okinawenses.
No século XIX as coisas começaram a mudar, os senhores Dimyo gastavam muito
dinheiro em segurar seus privilégios, e os samurais de rango mais baixo e dos domínios
externos sentiram moléstias e frustrações por não poder acessar a postos mais altos no
governo. É assim que alguns comerciantes ficaram ricos, enquanto alguns samurais
viviam na pobreza. Ademais, o comércio marítimo foi aberto a navios estrangeiros e,
em 1854, Japão fez um acordo comercial com os EE.UU, este foi o primeiro de vários
acordos que o país firmou com as potências ocidentais. Em resposta a esses tratados que
deram poder aos ocidentais, os samurais excluídos unificaram seu poder contra os
Tokugawa, destruíram o bakufu e fundaram um novo governo com o objetivo de
eliminar as distâncias de classes, modernizar o país e fazer frente aos potenciais
ocidentais.
O estabelecimento deste novo governo em 1868 marcou o começo do período Meiji no
Japão, conhecido pelo nome de Restauração Meiji. Em teoria, o novo governo restaurou
o poder à antiga linha de imperadores no Japão (os imperadores eram testaferros
impotentes na época de Tokugawa). Em realidade, o jovem imperador Meiji ficava
controlado por seus principais assessores, esses eram samurais que se converteram em
ministros de estado. Eles implementaram importantes programas e políticas para
unificar o país: Em primeiro lugar, eles aboliram os domínios dos senhores da guerra.
Em seu lugar, criaram prefeituras similares aos 50 estados dos EE.UU. Aos ex Daimyos
outorgar-lhes grandes assentamentos para recompensá-los pôr as terras que perderam.
Em resumo, o governo de Meiji obteve o controle do país. Além disso, eliminaram
formalmente o sistema hierárquico de classes. Essa reforma eliminou o status formal de
samurai, todo o povo foi declarado cidadão em pé de igualdade. O terceiro câmbio que
fez o governo foi exigir aos meninos que assistiram à escola primária formalmente. O
objetivo foi que os jovens serviram ao exército partindo de uma educação que fazia
ênfase no serviço militar e na educação moral, o qual serviu para criar um sentido de
identidade comum entre pessoas de diferentes origens e regiões. Também, deu ao
governo a oportunidade de ensinar lealdade, aos estudantes sê-los ensino a venerar ao
imperador. Cada aula tinha uma imagem do imperador na parede. Essas crenças foram
fortalecidas com o patrocínio estadual da fé xintoísta, onde o imperador era divino. Só
ele poderia nomear ministros, controlar ao exército, a marinha e dissolver o parlamento
se assim o considerava. Em quanto ao voto, só os homens que pagavam 15 ienes o mais
em impostos poderiam fazê-lo.
Os símbolos e lemas deste período foram o trem, a eletricidade, o telégrafo, estes
simbolizavam a indústria. Um dos seus lemas foram civilização e ilustração, outro foi
enriquecer o país e fortalecer o exército, Fukoku Kyohei. O tempo do Japão
imperialista foi começando. Em 1876 as canhoneiras japonesas obrigaram os coreanos a
um acordo que os prejudicava, e uma expedição militar ajudou os japoneses a afirmar o
poder e controle sobre as ilhas Ryukyu. Porém, os melhores logros foram as vitórias
sobre China em 1895 e Rússia em 1905, essas guerras liberaram-se para proteger os
interesses japoneses na Coreia.
Contudo, no século XX os novos problemas que se apresentaram foram a dívida pela
guerra. O descontento do povo, e a consequente formação de sindicatos anarquistas, a
mobilização feminista das mulheres, e os reclamos e protestas do povo obreiro. Isso
levou o governo a tomar medidas repressivas contra esses grupos e foi proibido pela lei
de Representação da Paz que as pessoas pudessem debater e se defender livremente. O
voto foi outro problema, porque os homens apenas no ano 1925 puderam votar em sua
totalidade, enquanto que as mulheres continuaram-lhe negando este direito. Elas foram
vítimas da ideologia criada pelo Ministro da Educação ligado ao Ministério Militar, pela
qual as mulheres foram educadas para ser mães e esposas que serviram ao estado para
formar filhos que serviram na Nación. Isto sucedeu no período Taisho, que começou
com a morte do imperador Meiji a seus 60 anos, e sua sucessão por seu filho que passou
a chamar-se Imperador Taisho. Ele, devido a uma enfermidade cerebral não podia
governar e anos mais tarde seu filho o faz, sendo chamado de Imperador Showa. Além
disso, em esse período, mais concretamente em 1920 as mulheres buscaram através do
feminismo sua individualidade como pessoas livres para tomar suas decisões. Embora, o
sufrágio feminino em Japão foi estabelecido em 1947, quando entrou em vigor a
constituição para o Japão da pós-guerra.
Apesar de esses acontecimentos, o Japão seguia com a ideia de avançar com sua política
imperialista e quer expandir-se nas colônias russas. Ademais, depois dos terremotos
Kanda e Nipponbashi, e em 1923 em Tóquio, e a explosão da via ferroviária em 1930, o
país necessitava pagar dívidas e pretendia expandir-se pela Ásia. É assim que viu que
precisava-se envolver na Segunda Guerra Mundial como aliado da Alemanha. Logo a
seguir, quando aconteceu a derrota, e depois da bomba lançada pelos EE.UU em
Hiroshima e Nagasaki, o Japão perdeu peso a nível mundial. Aliás, EE.UU ocuparam
suas terras e obrigaram o imperador a renunciar à qualidade de pessoa divina através de
um comunicado oficial. Consequentemente, a constituição japonesa foi criada baseada
na de EE.UU. Além disso, foi criado o Ministério do Comércio Internacional e
Indústria, e em 1947, a educação obrigatória foi mista. Devido à derrota, o Japão se
retirou da Coreia, perdendo assim poderio imperial. É assim que Japão entra em um
declive econômico e social que expandiu-se por toda sua população, chegando inclusive
a nosso escritor, que se viu intensamente comovido pelo avence da cultura ocidental
sobre a japonesa.
OKAMOTO, MÔNICA S. Breve análise dos reflexos da Segunda Guerra Mundial nas
obras literárias japonesas. Em: Estudos Japoneses. São Paulo, n. 27. (2007).
RIVIÉRE, Jean. A arte japonês. Em: O arte oriental. Biblioteca Salvat de Grandes
Temas. (1973).
SHIMON, Meiko. Yasunari Kawabata e Os contos que cabem na palma da mão. Em:
Os fragmentos do universo de Yasunari Kawabata. Cadernos de tradução n. 7.
Instituto de Letras. (1999)