Você está na página 1de 36

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DISCIPLINA: INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
PROFESSOR: FABRÍCIO ROBERTO COSTA OLIVEIRA

GABRIELA FERNANDES KURATOMI MIRANDA 112926


JÚLIA GABRIELA RODRIGUES CRUZ 112929
CECÍLIA PANZERI RODRIGUES 112944
HELOÍSA DA COSTA PEREIRA 112975

ATIVIDADE AVALIATIVA 1

VIÇOSA, MG
2023
GABRIELA FERNANDES KURATOMI MIRANDA

A COMUNIDADE JAPONESA NO BRASIL: A CONSTRUÇÃO DO PERIGO


AMARELO E SEUS EFEITOS NA VIDA DOS IMIGRANTES JAPONESES
DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Monografia apresentada aos professores


do Colégio Prígule como requisito para a
obtenção de nota no 3º trimestre sob a
orientação do Professor Fernando Alves
de Abreu.

SÃO PAULO
2022
Dedico este trabalho aos meus pais.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais por me apoiarem durante minha vida, nunca
duvidarem da minha capacidade de realizar meus sonhos e sempre fazerem eu
confiar em mim mesma.
Agradeço aos meus amigos que sempre me deram forças para tudo que eu
precisei.
Agradeço também ao meu namorado, que sempre me motivou e contribuiu
para que eu fosse capaz de continuar.
RESUMO
Esta monografia trata sobre os assuntos que envolvem a comunidade
japonesa no Brasil: o período anterior a imigração; a relação entre Brasil e Japão; a
vinda dos japoneses; a estadia na Hospedaria dos Imigrantes; a ida as fazendas, e
as discussões e repressões principalmente durante a Era Vargas e a Segunda
Guerra Mundial.
A escolha do tema foi através da afinidade e gosto pessoal da autora com o
assunto, que possui ascendência japonesa e buscava adquirir saberes acerca do
tema.
O trabalho foi produzido através da leitura de livros e artigos científicos,
também foi assistido documentários.
Este trabalho proporcionou que a autora adquirisse conhecimento a fim de
sanar suas dúvidas pessoas. Cabe, também, salientar que ele contribuiu para o
conhecimento de formatações pelas normas ABNT.
ABSTRACT
This monograph deals with the issues involving the Japanese community in
Brazil: the period prior to immigration; the relationship between Brazil and Japan; the
coming of the Japanese; stay at the Immigrants Inn; the going of the farms, and the
discussions and repressions mainly during the Vargas Era and the Second World
War.
The choice of the theme was through the affinity and personal taste of the
author with the subject, who has Japanese ancestry and sought to acquire
knowledge about the subject.
The work was produced through the reading of books and scientific articles,
also watched documentaries.
This work allowed the author to acquire knowledge in order to answer her
people's doubts. It is also worth noting that it contributed to the knowledge of
formatting by ABNT standards.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

1 O PERÍODO PRÉ IMIGRATÓRIO 11

1.1 A IMIGRAÇÃO JAPONESA 15

1.2 O DESTINO DOS JAPONESES 21

1.3 AS COLÔNIAS JAPONESAS 22

1.4 OS BAIRROS JAPONESES EM SÃO PAULO 24

2 DISCUSSÕES ACERCA DA IMIGRAÇÃO JAPONESA E O PERIGO AMARELO 27

2.1 A REPRESSÃO DURANTE A ERA VARGAS E A SEGUNDA GUERRA


MUNDIAL 28

2.2 SHINDO RENMEI 30

2.3 DISCUSSÕES ATUAIS ENVOLVENDO A COMUNIDADE JAPONESA 30

3 CONCLUSÃO 31
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Cartaz de propaganda de imigração para a América do Sul 14
Figura 2 - Ryu Mizuno (centro), que organizou a primeira viagem de imigrantes
japoneses ao Brasil 14
Figura 3 - Lista de passageiros do Kasato-Maru, 1908. 15
Figura 4 - Passaporte de identificação de estrangeiros. 16
Figura 5 - Passaporte de Masataro Yamada e sua esposa. 16
Figura 6 - O navio a vapor Kasato-Maru atracado no Porto de Santos. 18
Figura 7 - Viagem de trem rumo a Hospedaria de Imigrantes 19
Figura 8 - Hospedaria de Imigrantes, bairro do Brás, São Paulo 19
Figura 9 - O refeitório da hospedaria 20
Figura 10 - Os imigrantes japoneses no dormitório da Hospedaria 20
Figura 11 - A colônia Hirano 23
Figura 12 - Unpei Hirano 23
8

INTRODUÇÃO
A seguir, será apresentado fatos históricos e discussões acerca da
comunidade japonesa no Brasil.
No capítulo 1 foi abordado a parte histórica do tema, sendo subdividida em 4
subcapítulos. A primeira parte aborda os processos anteriores a imigração, a
segunda parte engloba a vinda dos japoneses ao Brasil, terceira parte mostra o
destino dos imigrantes no Brasil, a quarta fala sobre as colônias japonesas que se
formaram no Brasil e a quinta fala sobre o bairro da Liberdade, sendo o bairro com
mais japoneses do Brasil.
Em 1908, o navio Kasato-Maru atracou em Santos, trazendo diversos
imigrantes vindos do Japão, a fim de trabalhar nas fazendas cafeeiras ao longo do
interior de São Paulo, que necessitavam de mão de obra após o fim da escravidão e
a queda na vinda de imigrantes europeus, em contrapartida, o Japão, após o início
da Era Meiji, sofreu com graves crises socioeconômicas no campo, o que ocasionou
num enorme êxodo rural e uma superpopulação que enfrentava as mais diversas
dificuldades.
Os japoneses ficaram por um tempo hospedados na Hospedaria dos
Imigrantes, e depois foram designados para suas respectivas fazendas. Os
japoneses vindos não possuíam grandes conhecimentos acerca da agricultura e más
condições de trabalho e moradia resultou em diversas fugas das fazendas, e assim
os imigrantes se instalaram por diversos locais em São Paulo e outros estados,
exercendo diversificadas profissões.
Ao longo do tempo, alguns japoneses juntaram dinheiro e foram em busca de
sua independência, comprando sua própria terra e distribuindo lotes delas aos
colonos. A primeira colônia foi a Hirano, sendo Unpei Hirano seu líder. Eles
plantaram arroz e café, mas acabaram passando por diversas crises e seu líder
acabou falecendo.
Alguns imigrantes após fugirem das fazendas, se instalaram na Rua Conde de
Sarzedas, na Sé, pois o aluguel de quartos na região era barato. A comunidade
japonesa foi crescendo e acabou dominando o bairro da Liberdade, conhecido
atualmente pelos comércios japoneses e estruturas tradicionais do Japão. São Paulo
engloba a maior comunidade japonesa fora do Japão.
No capítulo 2 foi abordado as discussões envolvendo a vinda dos japoneses
ao Brasil, as repressões enfrentadas por eles e o período da Era Vargas e Segunda
9

Guerra Mundial, em que o preconceito contra os amarelos sofreu um grande


aumento.
Diversos políticos e críticos foram contra a imigração japonesa e propuseram
diversas leis para impedir a vinda dos amarelos, considerados um perigo ao
embranquecimento da população brasileira e inassimiláveis devido as diferenças
culturais.
A Era Vargas (período em que Getúlio Vargas governou o Brasil e instalou a
ditadura do Estado Novo) e a Segunda Guerra Mundial contribuíram para um
período turbulento para os japoneses, que foram impedidos de se reunir e formar
colônias, falar e ensinar japonês e ler ou publicar jornais em sua língua materna,
devido ao fato de que cada país estava de um lado diferente na guerra, ou seja,
eram inimigos. Brasil ficou ao lado dos Estados Unidos, França, Inglaterra, União
Soviética etc., formando o grupo dos aliados, já o Japão estava ao lado da Alemanha
nazista comandada por Hitler e da Itália fascista de Mussolini, formando o grupo do
eixo. No Brasil, os japoneses e seus descendentes sofreram duros efeitos devido a
escolha do Japão em se juntar ao eixo.
Os japoneses foram vítimas de ataques desde sua chegada, pois por não
serem europeus, não se enquadravam no padrão eugênico, que preferia a vinda dos
brancos para embranquecer a população através da miscigenação. Os amarelos
representavam uma ameaça a população branca e católica, isso era o perigo
amarelo, os ocidentais tinham medo de que o Oriente os dominasse e a raça
amarela tomasse poder sobre a raça branca. O Japão havia vencido a China na
Guerra Sino-Japonesa e vencido a Rússia, o que fez ele se tornar um perigo político
militar, amedrontando os brancos. Eles era um perigo étnico e imperialista.
No capítulo 3 está o fechamento da monografia. Nele é respondido as
problemáticas propostas no título “A comunidade japonesa no Brasil: a construção
do perigo amarelo e seus efeitos na vida dos imigrantes japoneses na Segunda
Guerra Mundial”. A China era considerada o país mais forte do Oriente, mas após
perder a Guerra Sino-Japonesa, o Japão passou a ser considerado a maior potência
asiática, se tornando um perigo político e militar, que poderia dominar a Europa
devido ao seu caráter imperialista, e a raça amarela dominaria a raça branca, assim
se construiu o perigo amarelo. Durante a Segunda Guerra Mundial, A repressão
contra os imigrantes japoneses sofreu um grande aumento e eles sofreram com
diversas proibições, tendo até mesmo que sair de suas casas, ter seus bens
10

confiscados e alguns até mesmo foram presos em campos de concentração sob a


acusação de serem espiões para o Japão.
11

1 O PERÍODO PRÉ IMIGRATÓRIO

A imigração japonesa no Brasil ocorreu pois ambos os países buscavam


resolver suas próprias questões socioeconômicas. Em 1868, o Japão transicionava
do Período Edo1, uma ditadura militar feudal, em que o país era governado por
xoguns (ditador militar) da família Tokugawa, para a Era Meiji 2, que pôs fim ao Japão
feudal, centralizou o poder novamente na mão do Imperador, e fez com que o país
abrisse suas portas para a modernização, entrando no sistema capitalista e iniciasse
uma competição com grandes potências mundiais, e para o exterior. Os impostos,
antes pagos em arroz pelos camponeses aos daimios3, passou a ser cobrado em
dinheiro e a mecanização nos campos ocasionou no aumento da pobreza dos
moradores das áreas rurais, o que os fez entrar em dívidas e perder suas terras,
ocasionando num êxodo rural, causando um aumento na taxa de desemprego e na
taxa de natalidade, tornando o Japão um país superpovoado. Tais fatores
influenciaram o Japão a colocar em prática uma política imigratória, a fim de tentar
resolver alguns problemas sociais, por meio de acordos com outros governos. Em
contrapartida, o Brasil enfrentava a abolição da escravidão, o que aumentou o valor
dos escravos e provocou falta de mão de obra, principalmente na área rural, e com o
aumento da indústria cafeeira, o país se viu necessitado de mão de obra imigrante, e
com a queda na vinda dos europeus, resolveu abrir-se para os japoneses.
Anteriormente, o Brasil buscou imigrantes chineses, porém não obteve
bons resultados, pois eles reclamavam das condições precárias que trabalhavam, do
trabalho forçado e das longas horas, enquanto os brasileiros os acusavam de serem
preguiçosos.
Com o intuito de fazer um acordo diplomático e comercial com o Japão,
Artur Silveira da Mota4 foi recebido por Kagenori Ueno, vice-ministro dos negócios
estrangeiros, a fim de fazer com que o Brasil e o Japão assinassem o Tratado de

1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_Edo

2 https://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_Edo

3 Senhor de terras. https://pt.wikipedia.org/wiki/Daimi%C3%B4

4 Oficial da marinha brasileira, nobre e escritor, responsável por algumas missões diplomáticas, como
o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre Brasil e China e mais tarde entre Brasil e Japão.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_Silveira_de_Mott
12

Amizade, Comércio e Navegação, porém ainda não havia intenções de fazer do


Brasil um dos destinos dos imigrantes japoneses 5, que iam principalmente para os
Estados Unidos6. Porém o interesse do Japão pela América Latina se tornou
crescente no século XIX, pois ele os enxergava como consumidores potenciais, e os
imigrantes japoneses seriam os uma facilitação para que essa relação fosse
possível. O acordo entre os dois países foi realizado apenas em 1895, em Paris, na
França. Após o acordo, eles instalaram diplomatas nas capitais para representar
seus governos. No Brasil, o primeiro chefe da Legação Japonesa foi o Ministro
Sutemi Chinda, e no Japão estava o Ministro Henrique Carlos Ribeiro Lisboa,
representando o Brasil.
Com o acordo entre Estados Unidos e Japão 7 para cessar a ida de
imigrantes japoneses para lá e da proibição da Itália de enviar italianos para o Brasil,
os interesses de um acordo imigratório tornaram-se crescentes. Em 1905, o ministro
do Japão Fukashi Sugimura8 veio ao Brasil. Ele foi recebido e conversou com o
Presidente da República e o Ministro sobre questões relacionadas a imigração 9. Em
junho do mesmo ano, ele produziu um relatório, onde detalhou sua viagem ao Brasil,
principalmente em São Paulo, um local muito promissor aos seus olhos. Ele gostou
do que viu e de como os brasileiros os receberam de forma simpática, e fez o
relatório com o intuito de fazer o Japão olhar para o Brasil com a intenção de
introduzir imigrantes aqui.
O Relatório Sugimura, que descrevia a receptividade simpática
dos brasileiros, alavancou o interesse do Japão pelo Brasil.
Influenciados por este relatório e pelas palestras proferidas pelo
secretário Kumaichi Horiguchi, da Legação japonesa no Brasil,
começaram a surgir japoneses decididos a viajar
5 Houve um recesso na agricultura cafeeira em 1897, o que fez com que as fazendas não pudessem
arcar com os custos dos colonos. (DAIGO, 2008, p.7).

6 O foco da imigração japonesa era os Estados Unidos, por causa de sua economia mais sólida e
que poderia proporcionar uma boa estabilidade para aqueles vindos do Japão. (SAKURAI, 2000).

7 O acordo Gentlemen’s Agreemente ocorreu devido a conflitos envolvendo japoneses na Califórnia.


Imigrantes japoneses não entrariam mais, apenas familiares daqueles que já moravam no país.
(ABRANCHES, 2019, p.19).

8 Ministro e 3º titular da Legação Japonesa. https://www.ndl.go.jp/brasil/pt/s2/s2_1.html

9
13

individualmente para o então país desconhecido. (DAIGO,


2008, p.8).

Ryu Mizuno10 se interessou pelo Brasil após ler o relatório de Sugimura e


resolveu fazer uma visita ao país em 1906, ao lado de Teijiro Suzuki, que
permaneceu no Brasil trabalhando na Fazenda Tibiriçá. Em 1907, Mizuno voltou ao
Brasil e fez um contrato com a Secretaria de Agricultura de São Paulo, em que foi
estipulada a vinda de 3 mil imigrantes japoneses ao Brasil. De acordo com o
contrato, a Kokoku Shokumin Kaisha seria responsável por trazer os 3 mil imigrantes
até o Porto de Santos, compostos de família de 3 a 10 pessoas com idades entre 12
e 45 e aptas para trabalhar na lavoura; o Estado de São Paulo financiaria as
passagens marítimas, pagando 10 libras esterlinas para aqueles com mais de 12
anos e 5 libras esterlinas para as crianças de 7 a 12 anos, e os proprietários da
fazenda pagariam, respectivamente, 4 e 2 libras esterlinas ao Estado, que depois
seriam descontadas dos salários dos imigrantes; os japoneses deveriam receber as
mesmas moradias e salário que os imigrantes europeus; seria pago de 450 a 500
réis pela saca do grão de café que equivalia a 50 litros, e seria pago de 2000 a 2500
réis por dia pelos trabalhos extras; a Kokoku Shokumin Kaisha deveria recrutar 6
tradutores da língua portuguesa ou espanhola, cujas passagens marítimas seriam
pagas pelo governo do Estado de São Paulo e receberiam um salário de 200.000
réis pago pelo governo ou proprietário da fazenda. Os intérpretes eram falantes da
língua espanhola, vindos do curso de Língua Estrangeira de Tóquio.

10 Presidente da Kokoku Shokumin Kaisha (Companhia Imperial de Emigração), pioneiro e peça


fundamental na vinda dos imigrantes japoneses ao Brasil. (DAIGO, 2008, p.8).
14

Figura 1 - Cartaz de propaganda de imigração para a América do Sul

Fonte: Imigração japonesa no Brasil – Wikipédia, a


enciclopédia livre (wikipedia.org).

Ryu Mizuno voltou ao Japão para fazer propagandas de imigração para o


Brasil. Havia muitas promessas, diziam que no Brasil, os imigrantes ganhariam
dinheiro rápido, enriqueceriam e poderiam voltar ao Japão.

Figura 2 - Ryu Mizuno (centro), que organizou a primeira viagem de imigrantes


japoneses ao Brasil

Fonte: Imigração japonesa no Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre


(wikipedia.org).
15

1.1 A IMIGRAÇÃO JAPONESA


A imigração japonesa é dividida em 3 períodos. O primeiro iniciou-se em
1908 e acabou em 1924, nessa fase o governo do Estado de São Paulo subsidiava a
vinda dos imigrantes, havendo a entrada de 31 mil indivíduos. Já entre 1924 e 1941,
os recursos vieram através do governo japonês, pois não era possível imigrar para
os Estados Unidos11 e o Brasil não contribuía mais com apoio financeiro, nesse
período houve a vinda de 158 mil japoneses. Na metade da década de 30, 44% dos
imigrantes estrangeiros eram vindos do Japão, entretanto, em 1934 foi implantada
uma política imigratória no Brasil que limitou a entrada de 24% imigrantes de cada
nacionalidade. Em 1941, devido ao início da 2ª Guerra Mundial, a imigração
japonesa cessou completamente, voltando apenas em 1952, porém em menor
quantidade, sendo seu auge no início da década de 60 e cessando na década de 70,
contando com a entrada de 48 mil indivíduos.

Figura 3 - Lista de passageiros do Kasato-Maru, 1908.

Fonte: Imigração japonesa no Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre


(wikipedia.org).

11Em 1924, os japoneses foram proibidos de entrar nos Estados Unidos, através da Quota
Immigration Law. (SHIZUNO, 2001, p.29).
16

No dia 28 de abril de 1908, saiu do Porto de Kobe, no Japão, o navio Kasato


Maru. Ele transportava 800 imigrantes, destinados a trabalhar nos cafezais paulistas,
sendo 781 sob contrato, 10 espontâneos e outros, de 168 famílias, formadas pelo
Chefe (marido), esposa, filhos e muitas vezes alguns outros parentes, estava
presente também o Ryu Mizuno. O navio fez escalas em Cingapura e Cidade do
Cabo, e chegou no Porto de Santos, litoral paulista, no dia 18 de junho, após
enfrentar duros 51 dias de viagens, mas que felizmente não foi marcado por mortes
ou doenças.

Figura 4 - Passaporte de identificação de estrangeiros.


Fonte: autoria própria

Os primeiros japoneses vindos não possuíam muito conhecimento e


dominação da agricultura. O presidente do Estado de São Paulo relatou ao
congresso do Estado Nacional:
"A imigração japonesa parece não produzir os resultados
esperados. Os 781 primeiros imigrantes, introduzidos na
vigência do contracto de 6 de Novembro de 1907, deram
entrada na Hospedaria da Capital em junho do anno indo; mas,
17

na maioria indivíduos solteiros e pouco habituados á lavoura,


esquivaram-se a certos serviços agrícolas, que abandonaram
aos poucos. Somente ficaram nas fazendas algumas familias
constituidas por verdadeiros agricultores, que trabalham muito
a contendo dos fazendeiros em cujas propriedades se
localizaram." (LINS, Manuel Joaquim de Albuquerque.
Congresso do Estado de São Paulo, 1909.)
324 imigrantes eram originários da ilha de Okinawa, outros 172 vinham da
província de Kagoshima, e o resto de locais variados.

Figura 5 - Passaporte de Masataro Yamada e sua esposa.


Fonte: Fonte: Imigração japonesa no Brasil – Wikipédia, a enciclopédia
livre (wikipedia.org).
18

Na primeira noite em território brasileiro, os japoneses permaneceram no


navio, e apenas na manhã do dia 19 iniciou-se o desembarque dos passageiros e a
ida para o local onde eles permaneceriam antes de serem enviados para as
fazendas, a Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo.

Figura 6 - O navio a vapor Kasato-Maru atracado no Porto de Santos.


Fonte: HANDA, Tomoo. O imigrante japonês, p.4.
Ao atracar pela manhã, entraram no navio os integrantes da comitiva de
recepção, formada por Arajiro Miura, um dos intérpretes e funcionário da Legação
Japonesa, Teijiro Suzuki, que era secretário da Hospedaria de Imigrantes, Rafael
Monteiro, representante da Companhia Imperial de Emigração, e Takeo Goto, da
Casa Fujisaki12.
Ao desembarcarem do navio, os imigrantes entraram no trem e partiram às 10
horas à Hospedaria. Trocaram de trem no Alto da Serra, atualmente Paranapiacaba,
pegando uma locomotiva especial para a Hospedaria. A viagem durou 3 horas e eles
chegaram no local às 13 horas.

12 A Casa Fujisaki, de Sendai, no Japão, abriu uma loja em São Paulo, “Japão em São Paulo”.
(DAIGO, 2008 p.8.).
19

Figura 7 - Viagem de trem rumo a Hospedaria de Imigrantes


Fonte: HANDA, Tomoo. O imigrante japonês, p.6.
Na Hospedaria, eles foram recebidos pelos intérpretes japoneses: Massaru
Mine, Motonao Ohno, Umpei Hirano, Junnosuke Kato e Takashi Nihei, pelo diretor e

pelos funcionários.

Figura 8 - Hospedaria de Imigrantes, bairro do Brás, São Paulo


Fonte: HANDA, Tomoo. O imigrante japonês, p.7
20

De acordo com Teijiro Suzuki, funcionário da Hospedaria, o jantar daquele


dia, servido a partir das 17 horas e em dois turnos, foi feito em homenagem aos
japoneses. Os pratos eram pão, sopa de bacalhau e batatinhas 13.
Figura 9 - O refeitório da hospedaria

Fonte: HANDA, Tomoo. O imigrante japonês, p.8.

Após a janta, os japoneses foram conhecer as acomodações, que eram


precárias e insuficientes.

Figura 10 - Os imigrantes japoneses no dormitório da Hospedaria

Fonte: HANDA, Tomoo. O imigrante japonês, p.9.

13 Normalmente, o jantar era pão e caldo de carne. HANDA, Tomoo. O imigrante japonês, p.7.
21

Os japoneses trouxeram pequenas bagagens, em que traziam roupas e


objetos de uso diário, como escova e pasta de dente, frasco de conservas, raízes
medicinais, cobertores, casacos, ferramentas, livros, papéis para carta e nanquim
para escrever, hashis14 e etc.
Entre os dias 27 de junho e 6 de julho 15, eles seriam enviados para as
fazendas onde trabalhariam e ficariam o tempo necessário para a primeira colheita,
entre meio ano ou 1 ano. Os primeiros imigrantes, de 24 famílias okinawanas16,
partiram de trem para a Fazenda Canaã, depois foram enviados à Fazenda Floresta
mais 23 famílias de Okinawa17. Nos próximos dias, famílias de outras regiões foram
enviadas para as fazendas: São Martinho, Guatapará, Dumont e Sobrado. Ao todo,
586 homens e 187 mulheres foram enviados para as fazendas.
Outros imigrantes livres conseguiram empregos rapidamente em São
Paulo. A companhia de emigração Kokoku Shokumin Kaisha abriu um escritório no
bairro da Liberdade18.

1.2 O DESTINO DOS JAPONESES


Os japoneses foram recebidos por seus patrões, que diziam palavras de
saudação, e a tradução era feita pelos intérpretes.
As moradias eram precárias e muito básicas, não possuindo sequer camas,
apenas folhas postas ao chão de terra batida. Roupas e alimentos poderiam ser
adquiridos sem pagar, porém, gerava pesadas dívidas.
Eles iniciaram seus trabalhos nas fazendas de café, mas logo houve diversos
descontentamentos. Os japoneses deveriam chegar entre abril e maio, porém devido
ao atraso da viagem, eles chegaram numa época em que não havia muitos frutos
nas plantações, uma família de 3 pessoas rendia bem menos do que o esperado,
diminuindo o ganho pelo serviço. Eles se frustraram com o que haviam encontrado

14 Varetas utilizadas como talheres pelos japoneses e outros povos asiáticos. Hashi – Wikipédia, a
enciclopédia livre (wikipedia.org)

15 HANDA, Tomoo. O imigrante japonês, p.13.

16 Grupo japonês vindo da Ilha de Okinawa. Culto aos antepassados okinawanos: memória,
identidade e gênero - sescsp.org.br

17 HANDA, Tomoo. O imigrante japonês, p.17.

18 DAIGO, Masao. Pequena História da Imigração Japonesa no Brasil, p.16.


22

no Brasil, pois devido a diversas falácias dos recrutadores, eles acreditavam que o
país era um maravilhoso paraíso e que enriqueceriam rapidamente, mas a realidade
era outra, completamente contrária a propagada feita.
Na Fazenda Dumont, 4 jovens fugiram para viver na capital paulista, mas
foram convencidos a voltar para a fazenda, entretanto em agosto, todas as 52
famílias de imigrantes que ali estavam, resolveram voltar para a Hospedaria dos
Imigrantes, após um fracasso na quantidade de café que conseguiam colher, o
trabalho era árduo e eles não estavam acostumados. Tal fenômeno foi visto em
outras fazendas, muitos imigrantes abandonaram o trabalho e fugiram. A safra de
café daquele ano foi uma das piores. Dos 772 japoneses distribuídos pelas
fazendas, após 6 meses aproximadamente 430 já haviam deixado os locais.
O destino dos imigrantes que fugiram foi muito variado. A maioria das famílias
vindas de Okinawa se mudou para Santos, pois além da semelhança com sua região
natal, acreditavam que o porto de Santos teria boas oportunidades de emprego.
Alguns trabalharam em construções de estradas de ferro ao longo do interior paulista
e outros foram para a capital, assumindo diversas profissões. Houve também
pessoas que acabaram cultivando hortaliças, cujas sementes haviam trazido do
Japão, no bairro do Brás, em São Paulo, que na época possuía um grande terreno
aberto, entretanto acabaram enfrentando dificuldades para vender as hortaliças, já
que o público brasileiro não conhecia aqueles legumes e não sabiam como prepará-
los.
Os imigrantes do Kasato Maru enfrentaram grandes sacrifícios desde sua
chegada.

1.3 AS COLÔNIAS JAPONESAS


Os imigrantes foram acumulando dinheiro ao longo do tempo e começaram a
idealizar sua independência, tendo sua própria terra.
Devido a falta de conhecimento da língua portuguesa e a falta de
entendimento de certas burocracias, os japoneses adotaram um sistema de colônia.
Havia um líder, que conhecia a língua e as burocracias, ele adquiriria uma terra e a
dividiria em lotes, que seriam comprados por outros imigrantes.
A primeira colônia japonesa no Brasil foi a Hirano, fundada pelo intérprete
Unpei Hirano, em 1915, que se instalou inicialmente na Fazenda Guatapará. Os
lotes foram sorteados para várias famílias, compostas por 4 pessoas cada uma.
23

Inicialmente plantaram arroz e depois café. A colônia sofreu um surto devastador de


malária19, causando o falecimento de 80 pessoas, desestabilizando a colônia.
Depois, pragas tomaram conta das plantações, os gafanhotos atacaram os produtos
agrícolas na véspera da colheita, deixando-os sem nada.
Figura 11 - A colônia Hirano

Fonte: DAIGO, 2008, p.43

Mais tarde veio a geada, e as plantações de café, muito vulneráveis, tiveram


suas folhas queimadas. Isso levou os colonos a criarem mais experiência e
delimitarem as terras.
A colônia Hirano foi a primeira a desbravar a mata virgem, o que os levou a
enfrentarem muitas dificuldades, mas que puderam ajudar outros colonos
inexperientes.
Unpei Hirano se frustrou, levando-o a virar um alcoólatra 20. Aos seus 34 anos,
ele contraiu gripe espanhola21 e acabou falecendo.

19 Flr sobre o q é e eles estarem perto da agua plantando arroz


20
21
24

Figura 12 - Unpei Hirano

Fonte: DAIGO, 2008, p.43

1.4 OS BAIRROS JAPONESES EM SÃO PAULO


Os imigrantes japoneses e seus descendentes se concentraram
principalmente no estado de São Paulo. Atualmente, há mais de 1 milhão de
japoneses e descendentes na cidade, tornando-a a cidade com maior população
japonesa fora do Japão.
Após as fugas das fazendas, muitos imigrantes vieram se instalar em São
Paulo, e devido a falta de dinheiro, acabaram alugando casas baratas na Rua Conde
de Sarzedas, no bairro da Sé. Assim iniciou- se a comunidade de japoneses em São
Paulo. A rua era uma ladeira íngreme, em que havia um riacho na parte baixa e a
maioria dos imóveis possuíam porões.
Com o tempo foram sendo fundados comércios japoneses: casas de tofu 22,
manju23, hotel etc. Em 1915 foi fundada a Taisho Shogakko, uma escola primária
para ajudar na educação dos filhos dos japoneses. Os estabelecimentos
funcionavam a fim de atender a demanda da comunidade nipo-brasileira 24
Devido ao crescimento da comunidade japonesa, o povo se expandiu até o
bairro da Liberdade.

22
23
24
25

A história do bairro da Liberdade começa como um bairro periférico, onde


estava localizado o largo da Forca 25, pois ali ficava uma forca utilizada em penas de
morte, que mais tarde foi transferida para outro local, resultando no novo nome largo
da Liberdade. Lá foi instaurado o primeiro cemitério público de São Paulo, onde
eram enterradas as pessoas consideradas indigentes 26 que eram enforcadas.
Originalmente, a Liberdade era um bairro de negros, abrigando inclusive
organizações formadas por ex-escravos e seus descendentes, como a Frente Negra,
forte entidade do movimento negro. Mais tarde, portugueses e italianos construíram
sobrados, que viraram pensões e foram alugadas pelos japoneses.
Atualmente é conhecido por ser um bairro de asiáticos, principalmente
japoneses, com comércios, estruturas e comidas tradicionalmente asiáticas.

Figura 13 – Imagem do bairro da Liberdade

Fonte: https://saopaulosemmesmice.com.br/coisas-imperdiveis-pra-fazer-
na-liberdade/

Na Liberdade há o Museu Histórico da Imigração Japonesa, que retrata a


história dos imigrantes, com um grande acervo que conta com diversas imagens e

25 O local foi um palco de execuções de criminosos e escravos. Crueldade marca início do bairro da
Liberdade :Especiais - Arquivo Portal NippoBrasil

26 Os indigentes são pessoas com baixas condições financeiras, que não possuem família e
identidade, o que faz com que muitas sejam enterradas sem nome.  www.dicio.com.br/indigente/
26

pertences doados pelas famílias dos imigrantes. Para aqueles com ascendência
japonesa, é possível buscar os antepassados no site do próprio museu.

Figura 14 – Réplica em miniatura do navio Kasato-Maru presente no Museu Histórico


da Imigração Japonesa

Fonte: https://mundo-nipo.com/variedades/07/06/2018/imperador-do-japao-
faz-doacao-a-museu-da-imigracao-japonesa-no-brasil/attachment/03-
replica-do-navio-kasato-maru-no-museu-da-imigracao-japonesa-no-brasil-
foto-cortesia-tripadvisor-min/
27

2 DISCUSSÕES ACERCA DA IMIGRAÇÃO JAPONESA E O PERIGO AMARELO


Muitas discussões envolvendo a imigração japonesa eram marcadas por
teorias eugenistas27.
Os imigrantes desejáveis eram os europeus, que através da miscigenação
transformariam a população brasileira, tornando-os mais brancos ao longo das
gerações. O imigrante japonês era indesejável.
Muitas pessoas, como políticos e críticos, discordaram da vinda dos
japoneses para o Brasil. Dentre elas, está o crítico Silvio Romero, que disse ser a
favor da vinda de italianos, portugueses e espanhóis, povos miscigenáveis, diferente
dos japoneses, que piorariam a raça brasileira.
Nessa concepção, os "amarelos" representavam uma
civilização "viciada", "decadente", "corrupta", "imoral", até
"duvidosa" e, por isso mesmo, potencialmente perigosa. Os
receios da elite em relação ao "perigo amarelo" não se
limitaram às expressões habituais acerca da "influência viciosa"
de representantes de uma civilização envelhecida sobre a
população brasileira mestiça. O pretexto maior para a
condenação de qualquer imigração asiática, na década de 1860
como na de 1940, dizia respeito aos possíveis "riscos" de mais
uma miscigenação inadequada. (SHIZUNO, Elena Camargo,
2001, p.35).
A noção do mito do perigo amarelo é extensa e acompanha diversas fases. É
um conceito racista, que considera os asiáticos amarelos uma ameaça ao mundo
ocidental.
A etnia amarela era uma ameaça a formação da raça branca brasileira, e
também era vista como uma ameaça aos empregos, pois já que eram bons
trabalhadores e dóceis, eles poderiam “tomar” os trabalhos dos brasileiros.
Antes da vinda dos japoneses, chineses foram trazidos ao Brasil. Políticos
queriam impedir sua vinda, pois os consideravam uma ameaça a raça brasileira, e
por fim D. Pedro II acabou com a imigração chinesa. Os estereótipos e preconceitos
aplicados aos chineses, seriam aplicados aos japoneses também. Mas, após a

27 O eugenismo consiste numa ideologia racista que visa “melhorar” a genética da população. Para
os eugenistas, a raça branca seria a superior e as outras seriam inferiores, então propunham o
“branqueamento” da população. Eugenia: a teoria da superioridade racial - Notícias Concursos
(noticiasconcursos.com.br).
28

vitória do Japão sobre a China na Guerra Sino-Japonesa em 1985, o perigo amarelo,


além de considerar o japonês como uma ameaça étnica, passou a considerar o
Japão como uma ameaça política e militar ao mundo. Os brancos ocidentais temiam
ter seu território invadido e serem dominados pelos asiáticos amarelos.
O perigo amarelo representa o medo do expansionismo amarelo sobre o
branco, a não assimilação da etnia amarela e seus perigos aos embranquecimentos
de populações através da miscigenação com europeus.
Na América do Sul jornais falavam que japoneses deveriam ser evitados, pois
eram de uma nação imperialista e ameaçadores a raça branca. A intolerância contra
os japoneses foi manifestada desde sempre de diversas maneiras, desde discursos
políticos até artigos científicos contrários à imigração japonesa.

2.1 A REPRESSÃO DURANTE A ERA VARGAS E A SEGUNDA GUERRA


MUNDIAL
Na década de 20, o discurso antinipônico foi ganhando mais força. O
deputado estadual, Fidélis Reis era contrário a imigração japonesa. Ele disse:
“se o japonês se cruza com o nacional, vamos ter um mal
irremediável – o mestiço; se não se cruza, teremos outro
inconveniente – o de ficar constituindo uma ameaça perigosa
para o futuro” (REIS, 1920, p. 35).
O deputado apresentou uma proposta de lei que visava limitar a entrada de
asiáticos no Brasil, pois os considera inassimilável ao brasileiro devido aos
costumes, sangue, língua, religiões e características biológicas distintos.
Miguel Couto, presidente da Academia Nacional de Medicina, publicou
diversos editoriais em que afirmava que a imigração japonesa era um perigo ao
Brasil pois fazia parte de um plano do expansionismo japonês.
O sociólogo Oliveira Vianna publicou o livro “Raça e Assimilação”, em que diz:
“O japonês é como o enxofre: insolúvel. É este justamente o
ponto mais delicado do seu problema imigratório, aqui como em
qualquer outro ponto do globo” (VIANNA, 1934, p. 209).
Vianna via os japoneses como uma raça que não poderia se juntar aos
brasileiros, diferente de outras nações que estavam aqui no Brasil e se assimilaram
com a população local.
29

Em 1930, Getúlio Vargas candidatou-se a presidência do Brasil, concorrendo


com Júlio Prestes, que saiu vitorioso, entretanto o resultado não foi aceito pela
oposição, que fez várias rebeliões armadas, pondo fim ao governo oligárquico.
Getúlio então passou a governar.
Durante o governo Vargas, ocorreram uma série de restrições aos imigrantes
japoneses.
Francisco de Campos, Ministro da justiça durante o Estado Novo 28, disse em
um discurso antinipônico:
Nem cinco, nem dez, nem vinte, nem cinquenta anos serão
suficientes para uma verdadeira assimilação dos japoneses que
praticamente devem considerar-se inassimiláveis. Eles
pertencem a uma raça e a uma religião absolutamente
diversas; falam uma língua irredutível aos idiomas ocidentais;
possuem uma cultura de baixo nível, que não incorporou,
da cultura ocidental, senão os conhecimentos
indispensáveis à realização dos seus intuitos militaristas e
materialistas; seu padrão de vida desprezível representa
uma concorrência brutal com o trabalho do país; seu egoísmo,
sua má fé, seu caráter refratário, fazem deles um enorme
quisto étnico, econômico e cultural localizado das mais
ricas das regiões do Brasil. Há característica que nenhum
esforço no sentido da assimilação conseguira remover.
Ninguém lograra, com efeito, mudar a cor e a face do
japonês, nem a sua concepção de vida, nem o seu
materialismo (CAMPOS, 1986, p. 132).
Em 1939 iniciou-se a Segunda Guerra Mundial, em que o Brasil se aliou com
os Estados Unidos, inimigo do Japão.29
O governo de Vargas possuía tendências ditatoriais, ele assumiu drásticas
medidas em relação aos imigrantes. Em 1933, foi proibido o ensino de línguas
estrangeiras para crianças que não sabiam ler e escrever em português. Entre 1938
e 1939 houve a fiscalização de publicações em línguas estrangeira e atividades
culturais dos imigrantes a fim de integrá-los na sociedade brasileira.

28
29 Os países se dividiram em dois grupos: eixo, composto por Itália, Alemanha e Japão e aliados,
composto por Estados Unidos, França, Inglaterra e União Soviética. VASCONCELOS, Edjar Dias. A
Segunda Guerra Mundial.
30

Na Constituição de 1934 estabeleceu-se que: “A entrada de imigrantes no


território nacional sofrerá as restrições necessárias à garantia da integração étnica e
capacidade física e civil do imigrante, não podendo, porém, a corrente imigratória de
cada país exceder, anualmente, o limite de dois por cento sobre o número total dos
respectivos nacionais fixados no Brasil durante os últimos cinqüenta anos.
(Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1934).”
A lei de imigração proibiu o ensino de línguas estrangeiras, limitou a vinda de
imigrantes, suas residências, formação de colônias etc. Isso resultou no fechamento
de escolas japonesas e a proibição da circulação de jornais em língua japonesa,
impedindo os japoneses de saber sobre o que estava acontecendo mundo afora,
pois acreditavam que os eventos da comunidade japonesa poderiam ser formas de
organizar um complô contra o Brasil.
Mais tarde, o Brasil rompeu relações diplomáticas com o Japão em
decorrência de estarem em lados inimigos. O Departamento de Ordem Política e
Social (DOPS) proibiu que a língua japonesa fosse falada em público. O povo
japonês sofreu diversas perseguições, eram sempre vigiados sob acusação de
serem espiões de guerra. Além de não poderem falar ou ensinar sua língua materna,
eles não podiam se reunir, se deslocar de uma cidade para outra etc.
Essa época foi marcada por diversas discussões envolvendo os japoneses.
As teorias eugênicas os acompanharam desde sua chegada ao Brasil, mas durante
o governo Vargas e a Segunda Guerra Mundial, elas cresceram e afetaram ainda
mais os amarelos30.
Durante o Estado Novo, o conceito de perigo amarelo se expandiu. Os
amarelos representavam uma civilização “viciada”, “decadente”, “corrupta”, “imoral” e
“duvidosa”, por isso eram perigosos. Mas os receios não se limitaram a isso, a elite
tinha medo das influências dos amarelos sobre a mestiçagem do povo brasileiro.
O deputado Fidélis Reis, citado anteriormente, também pronunciou:
“Se o japonês se cruza com o nacional, vamos ter um mal
irremediável – o mestiço; se não se cruza, teremos outro
inconveniente – o de ficar constituindo uma ameaça perigosa
para o futuro” (REIS, Fidélis, Congresso Legislativo de Minas
Gerais, 1920).

30 Os amarelos são um grupo étnico formado por povos originários do leste asiático, como por
exemplos, japoneses, chineses, coreanos etc. Quem é amarelo no Brasil? (todasasrespostas.pt).
31

No livro “A ofensiva japonesa no Brasil: Aspecto social, econômico e político da


colonização nipônica” publicado por Carlos de Souza Moraes, a capa representa o
pensamento de muitos sobre os imigrantes japoneses.

Figura – Capa do livro “A ofensiva japonesa no Brasil”

Fonte: SHIZUNO, Elena Camargo. Bandeirantes do oriente, p.38


32

A figura retrata os japoneses como ameaçadores. Nela, há a representação


da sociedade japonesa, é possível ver um soldado, um militar de alto escalão, o
imperador, o capitalista, o religioso, um homem sem atribuições, o que pode
significar um dissimulado, uma gueixa estereotipada e camponeses. Na
apresentação de sua obra, o autor disse:
“Constituindo a colonização japonesa um dos mais graves problemas nacionais,
tornava-se necessário fôsse publicada alguma obra que desse a conhecer, aos
brasileiros, em todos os seus aspectos, ainda que perfunctoriamente, a atividade
nociva dos amarelos em nosso território, pois que as publicações aparecidas, com
rarísstma exceção, só têm encarado o imigrante como produtor, realizador.
Apenas, artigos de jorrais e revistas trataram do verdadeiro sentido dessa atividade
e examinaram a questão, social, econômica e politicamente.” (MORAES, Carlos de
Souza, apresentação de sua obra)

Falar de tomé açu e liberdade

2.2 SHINDO RENMEI

2.3 DISCUSSÕES ATUAIS ENVOLVENDO A COMUNIDADE JAPONESA


33

3 CONCLUSÃO
Ao longo desta monografia, observou-se o contexto histórico do Brasil e do
Japão antes da imigração japonesa, e o processo de amizade e acordo entre eles.
Abordou-se também como ocorreu a vinda dos japoneses ao Brasil, o local em que
foram hospedados e as fazendas cafeeiras que foram trabalhar.
É possível observar que foi abordada a formação do conceito perigo amarelo,
uma ideologia racista que coloca os lestes asiáticos numa bolha de perigo étnico,
político e militar, que representava uma ameaça de dominação do Ocidente. Os
japoneses foram o maior grupo da Ásia a imigrar para o Brasil, o que fez com que a
maioria das discussões os envolvessem. Os efeitos disso atualmente é a
generalização, no Brasil as pessoas tendem a generalizar que todos os amarelos
são japoneses.
A chegada dos japoneses foi marcada por diversas discussões de críticos e
políticos contrários a imigração japonesa, que usavam de um discurso antinipônico e
eugênico, que valorizavam apenas a imigração europeia, pois ao longo dos anos e
através da miscigenação com a população brasileira, que era majoritariamente negra
e parda, os brancos seriam responsáveis pelo embranquecimento da sociedade
brasileira, fazendo do Brasil um país de brancos. Os japoneses eram uma ameaça a
esse embranquecimento, e por isso não foram bem recebidos por muitos.
Com a chegada da Era Vargas, período do governo de Getúlio Vargas, que
possuía tendências ditatoriais, e da Segunda Guerra Mundial, as discussões
envolvendo os japoneses voltaram com muita força. Os conceitos do imperialismo
japonês, vistos na construção do perigo amarelo, voltaram à tona, e os efeitos foram
duros para os japoneses que viviam aqui no Brasil.
Na Segunda Guerra Mundial, Brasil e Japão estavam em grupos diferentes,
se tornando inimigos. Isso fez com que houvesse muita desconfiança com os
japoneses que moravam no Brasil, pois eles eram acusados de serem espiões e
estarem armando um complô contra o Brasil. Eles foram impedidos de se reunirem,
de falaram japonês em público e ensinar sua língua materna para as crianças, não
puderam receber as cartas de parentes enviadas do Japão e nem lerem jornais
japoneses, isso fez com que as informações sobre a guerra fossem escassas e
incertas, cada um possuía uma crença sobre derrota ou vitória e o que estava
acontecendo. Houve casos até mesmo de japoneses, em Tomé Açu, que foram
presos num campo de concentração para que não pudessem espionar o que ocorria
34

por fora, e alguns japoneses foram tirados do litoral de Santos sob as mesmas
circunstâncias, tendo seus bens confiscados pelo governo brasileiro.
35

REFERÊNCIAS

SHIZUNO, Elena Camargo. Bandeirantes do Oriente ou Perigo Amarelo: os


imigrantes japoneses e a DOPS na década de 40. Curitiba: UFPR, 2001.

HIRAYAMA, Mayumi. Imigração Japonesa e a Segunda Guerra Mundial: a


construção da imagem dos imigrantes japoneses no jornal O Estado de S. Paulo
(1939-1945). Guarulhos: UNIFESP, 2021.

ABRANCHES, Rodrigo Ishihara. Shindo Renmei Entre Duas Narrativas: releituras da


organização. Foz do Iguaçu: UNILA, 2019.

HANDA, Tomoo. O imigrante japonês. São Paulo.


DAIGO, Masao. Pequena História da Imigração Japonesa no Brasil.
SUZUKI, Teiiti. Vida e arte dos japoneses no Brasil. São Paulo: MASP, 1988.

Você também pode gostar