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A imagem divulgada por alguns meios de comunicação tenta construir a ideia de que o
Brasil estaria sendo ‘inundado’ por refugiados. Por enquanto, aumentos de fluxos
migratórios significativos podem ser verificados apenas em Roraima ou São Paulo [1] O
número de solicitações de refúgio aumentou 2.868% no período de 2010-2016. Porém,
em abril de 2016 só havia 8.863 refugiados no país. [2] Apenas 0,8% da população no
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Brasil é imigrante. Isso é muito abaixo da média mundial de 3%, e de países como a
Argentina (4%) e os EUA (14%) [3]
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lidando com os fluxos migratórios? Para entender as políticas públicas de imigração do
Brasil, é importante entender os marcos legais, os dados estatísticos e as experiências
das organizações da sociedade civil que recebem os imigrantes. Também é importante
distinguir as diferenças entre refugiados e imigrantes. A maioria dos imigrantes não
solicita refúgio ou não é reconhecido como refugiado. É considerado refugiado alguém
que “...devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião,
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de
nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país.” [4]
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direitos humanos. Uma grande parte daqueles que buscam refúgio no Brasil é oriundo
de países vitimados por conflitos ou turbulências internas [8] e para isso a lei também
torna institucionalizado o visto humanitário, que antes foi utilizado de maneira Accept
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espontânea para processar o fluxo migratório dos haitianos. [9]
Esse marco legal reforça o argumento de que o desempenho do governo para lidar com
as ‘crises’ migratórias também teria melhorado. ‘‘Nos últimos anos, a comunicação,
coordenação e colaboração interministerial melhoraram’’, afirma Luiz Alberto Matos
dos Santos, Coordenador Geral de Imigração do então Ministério do Trabalho. ‘‘Deste
modo, a Polícia Federal e os ministérios do Trabalho, da Justiça e das Relações
Exteriores estão mais harmonizados, por exemplo, na troca e no uso de dados
estatísticos de migração.’’ Também foi inaugurado em 2014 o Observatório de Migração
(ObMigra), um centro de pesquisa do governo. [10]
A imigração boliviana
São Paulo. Na realidade, os salários são muito mais baixos, e muitos bolivianos são
explorados nas oficinas de costura. [12]
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O boliviano
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oursituação análoga
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Click here escravidão:
the imprint ‘‘eu trabalhava
das 7h até 1h, 2h da manhã. Tinha só um dia de folga, mas não saía de casa. O dono não
deixava sair. Ninguém saía. Estávamos trancados mesmo.’’ [13] A maioria dos
imigrantes bolivianos que vão para o Brasil se estabelecem em São Paulo, devido às
oportunidades de trabalho no setor têxtil e da possibilidade de se reunirem com
parentes já moradores da cidade [14]. Esse fenômeno é ligado ao conceito de
chain migration: migrantes tendem a passar pelo mesmo trajeto, visto que já têm
informações sobre e contatos no lugar de destino.
Segundo a lei brasileira, os bolivianos não são reconhecidos como refugiados. [19] Eles
têm direitos previstos pelo Acordo de Residência do Mercosul. Porém, muitos não
utilizam esses direitos, então estão no Brasil em uma situação irregular, trabalhando no Accept
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setor informal. [20] O Estatuto do Estrangeiro, vigente até 2017, só possibilitou a entrada
com documentos legais de trabalhadores com qualificação profissional. Como muitos
bolivianos não possuíam isso, ficaram no Brasil de maneira indocumentada. [21] Os
fiscais do Ministério do Trabalho têm encontrado e resgatado muitos trabalhadores
bolivianos do setor têxtil em condições análogas à escravidão. Em um caso, bolivianos
trabalharam jornadas de 12 horas por um salário baixo, em condições insalubres em
uma oficina mal iluminada. [22]
‘‘Os bolivianos às vezes não sabem que podem declarar sua vontade de residir no Brasil
e solicitar residência temporária ou permanente. Em geral esses trabalhadores não
estão conscientes dos seus direitos’’, explica Luiz Alberto Matos dos Santos do Ministério
do Trabalho. [23] Também segundo Padre Paolo Parise, da Missão Paz, é importante
‘‘conscientizar os imigrantes bolivianos dos seus direitos.’’ [24] Além do Ministério do
Trabalho, várias organizações da sociedade civil fazem esforços para combater o
trabalho escravo. Exemplos são a Missão Paz (SP), o CAMI e o Instituto C&A. [25]
A imigração haitiana
A maioria dos haitianos percorreu um longo caminho para chegar ao Brasil, indo via a
República Dominicana, Panamá e Equador para atravessar a fronteira no
Peru. [28] Cerca de 50.000 chegaram via rota terrestre, entrando no estado do Acre.
Outra parte entrou pela rota aérea diretamente para São Paulo e Brasília. [29]
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A maior parte dos haitianos emigraram quando ainda era vigente a antiga lei de
migração, o Estatuto de Estrangeiro. Camila Asano, coordenadora na ONG Conectas,
conta que ‘‘essa lei não tinha soluções adequadas para acolher pessoas oriundas de Accept
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imigração irregular. Como muitos fluxos migratórios, a vinda dos haitianos foi
espontânea, e o governo federal e estadual estavam despreparados para lidar com a
situação.’’ [30] Porém, Luiz Alberto Matos dos Santos, Coordenador Geral de Imigração
do Ministério do Trabalho, contesta que ‘‘pode se dizer que o governo aprendeu – e está
aprendendo - bastante com o fenômeno migratório haitiano.’’ [31]
Quando os haitianos chegavam pela fronteira oeste do Brasil, demorou bastante para o
Estado reagir. Camila Asano acrescenta que ‘‘em nível estadual, não houve uma
coordenação com o governo federal, o que levou a um reassentamento caótico para
enviar parte dos imigrantes para outros estados.’’ [32]
Porém, as regras eram que o visto humanitário teria de ter sido pedido já no Haiti,
antes de emigrar para o Brasil. Isso causou problemas, porque havia muita demanda. Os
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haitianos tinham que ficar em longas filas de espera no consulado brasileiro na capital
haitiana. [35]
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Outra
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que os haitianos entrassem no Brasil pela via terrestre, se sujeitando a riscos de
exploração dos chamados ‘coiotes’, atravessadores nas fronteiras ocidentais do Brasil. A
partir de 2015, o governo federal estimulou a passagem por uma rota aérea mais
segura. [36]
Organizações que atuam nessa área apontam que o acolhimento aos imigrantes é
demasiado militarizado. Além disso, criticaram o governo por demorar bastante na
documentação e regularização dos imigrantes. No nível burocrático, há problemas com
o agendamento com a Polícia Federal. ‘‘Alguns imigrantes tiveram que esperar seis
meses até serem atendidos’’, relata Padre Paolo Parise, da Missão Paz. [37]
Para grande parte dos haitianos, a vinda para o Brasil se tornou uma desilusão. Muitos
alegam que há questões como o racismo, baixos salários e a queda do valor do
real. [38] Também é difícil encontrar emprego estável. Ideonete Baldila, imigrante do
Haiti, reclama que não há suficientes oportunidades de emprego. ‘‘Fiquei doente e fui ao
hospital. Aí, a firma me mandou embora, e depois não consegui trabalho mais.’’ [39]
A imigração venezuelana
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foram o maior grupo a se registrar no Brasil, e com 24% o segundo maior grupo a
receber a carteira de trabalho em 2017. [46]
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A resposta do governo brasileiro
No Brasil, atualmente o foco do problema está em Roraima. O governo federal
construiu, com o apoio da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados), campos de refugiados em Roraima. Parte dos migrantes foi enviada para
outros estados do Brasil. Segundo o Ministério do Trabalho, a coordenação do governo
federal com os municípios com respeito ao reassentamento dos venezuelanos foi
eficaz. [47] Porém, o alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, afirma que
‘‘ainda resta muito por fazer para garantir a coerência regional da resposta dada em
matéria de proteção dos indivíduos.’’ [48]
Camila Asano, da ONG Conectas em São Paulo, assinala que a burocracia demora
bastante no processo legal dos imigrantes: ‘‘muitos venezuelanos fizeram pedido de
refúgio [confira o gráfico], mas a maioria dos pedidos ainda está em trâmite.’’ [49] O
governo, porém, está investindo na capacitação e digitalização dos processos. [50]
Outra crítica da sociedade civil é que o governo não prestaria suficiente atenção para a
integração local dos migrantes venezuelanos em Roraima. [51] Os imigrantes também
tiveram problemas com a inserção no mercado de trabalho. Padre Paolo menciona que
‘‘o Ministério do Trabalho algumas vezes divulgou vagas de emprego às seis horas da
manhã, mas elas se esgotaram muito rapidamente’’. [52]
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Também há uma parcela dos imigrantes venezuelanos que vem trabalhar no Brasil para
enviar dinheiro para sua família na Venezuela. Eles não solicitam refúgio, visto que
pessoas em condição oficial de refúgio não podem voltar a seu país de origem. Muitos Accept
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entram de maneira regular, por exemplo, com visto de turista ou de trabalho. [53]
No dia 28 de outubro 2017, houve uma remoção forçada de 400 venezuelanos das ruas
de Boa Vista, onde tinham montado um acampamento provisório, um caso concreto da
violação dos direitos humanos desses imigrantes. Sem serem consultados e sem receber
assistência social, os imigrantes – entre eles famílias vulneráveis - foram deslocados
para um ginásio que, como foi revelado mais tarde, não tinha boas condições para
abrigá-los. [55]
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Constituição. Não há muita margem para o governo mudar a nova lei de migração. Se o
governo mexer na nova lei, vai haver muita oposição da sociedade civil.’’ [56]
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Entretanto,
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Policy. Click Migração da ONU,
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soberania nacional’. Embora o Pacto não seja vinculante, os países assinantes se
comprometem para uma migração mais segura e digna. O novo presidente afirmou que
o Brasil decide quem entra no país. Ainda não está claro como o governo Bolsonaro vai
lidar com a entrada dos venezuelanos em Roraima. [57]
Segundo Padre Paolo, o Brasil carece de uma política nacional de imigração. ‘‘O governo
reage aos fluxos migratórios. Essas soluções reativas podem ser boas, e muitas foram,
mas ainda falta um plano estrutural de longo prazo.’’ [58]
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[1] Fala de Luiz Alberto Matos dos Santos, Coordenador Geral de Imigração do
Ministério do Trabalho, durante o evento “Lançamento da plataforma
#observamigração: impactos dos fluxos migratórios no Brasil” da FVG-DAPP em Rio de
Janeiro (22 de novembro 2018).
[2] ASANO, Camila Lissa e TIMO, Pétalla Brandão. A nova Lei de Migração no Brasil e os direitos
humanos. Revista Perspectivas, Berlim:Heinrich Böll Stiftung, n. 3, jun. 2017.
[7] Disponível em http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/paz-e-seguranca-
internacionais/153-refugiados-e-o-conare [consultado em 29/11/2018]
[8] Disponível em http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/paz-e-seguranca-
internacionais/153-refugiados-e-o-conare [consultado em 29/11/2018]
https://br.boell.org/pt-br/2019/04/15/bolivianos-haitianos-e-venezuelanos-tres-casos-de-imigracao-no-brasil 13/19
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[19] http://caritas.org.br/programas-caritas/refugiados [consultado em 10/12/2018]
[22] https://reporterbrasil.org.br/2018/10/distribuidora-coca-cola-via-veneto-outros-48-
empregadores-entram-na-lista-suja-do-trabalho-escravo/ [consultado em 08/01/2019]
https://br.boell.org/pt-br/2019/04/15/bolivianos-haitianos-e-venezuelanos-tres-casos-de-imigracao-no-brasil 14/19
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[25] Para saber mais sobre o combate ao trabalho escravo, confira o vídeo do CAMI
(Centro de Apoio e Pastoral de Migrante): https://www.youtube.com/watch?
v=PJDIcSHKahE
[28] https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/apos-ser-rota-para-50-mil-imigrantes-ac-quer-
que-governo-federal-pague-quase-r-13-milhoes-gastos-com-ajuda-
humanitaria.ghtml [consultado em 19/12/2018]
[29] Entrevista com Padre Paolo, coordenador da instituição filantrópica Missão Paz em São Paulo
(20/12/2018).
[30] Entrevista com Camila Asano, coordenadora na ONG Conectas em São Paulo (23/11/2018).
https://br.boell.org/pt-br/2019/04/15/bolivianos-haitianos-e-venezuelanos-tres-casos-de-imigracao-no-brasil 15/19
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[33] Disponível em https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/apos-ser-rota-para-50-mil-
imigrantes-ac-quer-que-governo-federal-pague-quase-r-13-milhoes-gastos-com-ajuda-
humanitaria.ghtml [consultado em 19/12/2018]
[34] Disponível em https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/defesa-
nacional/sociedade-armadas-debate-militares-defesa-nacional-seguranca/depois-do-
terremoto-no-haiti-imigrantes-haitianos-buscam-refugio-no-brasil-e-recebem-
vistos.aspx [consultado em 19/11/2018]
[36] Sistema de Refúgio Brasileiro - Balanço até abril de 2016. Relatório produzido pelo
CONARE para o Ministério da Justiça, p.
20. https://pt.slideshare.net/justicagovbr/sistema-de-refgio-brasileiro-balano-at-abril-de-
2016?from_action=save [consultado em 03/12/2018].
https://br.boell.org/pt-br/2019/04/15/bolivianos-haitianos-e-venezuelanos-tres-casos-de-imigracao-no-brasil 16/19
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[39] Dia do imigrante: Brasil acolhe mas não emprega os imigrantes, Rede TVT
(25/06/2018)
[40] Disponível em https://oglobo.globo.com/mundo/questionada-posse-de-maduro-sera-
esvaziada-de-lideres-internacionais-23359958
[41] Lucas Neves, ‘Venezuela receberá ajuda humanitária das Nações Unidas’, Folha de
S. Paulo (26/11/2018) [https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/11/venezuela-
recebera-ajuda-hu…] [consultado em 29/11/2018]
[42] Disponível em https://www.youtube.com/watch?
time_continue=172&v=lrER1xWRjfM [consultado em 08/01/2019]
[43] Disponível em https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/08/29/brasil-tem-cerca-
de-308-mil-imigrantes-venezuelanos-somente-em-2018-chegaram-10-mil-diz-
ibge.ghtml [consultado em 10/01/2019]
https://br.boell.org/pt-br/2019/04/15/bolivianos-haitianos-e-venezuelanos-tres-casos-de-imigracao-no-brasil 17/19
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[55] https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/mpf-e-dpu-ajuizam-acao-contra-o-governo-
de-rr-por-remocao-forcada-de-venezuelanos-de-acampamento-na-rua.ghtml [consultado
em 18/12/2018]
[57] https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/01/bolsonaro-diz-que-brasil-e-soberano-
para-decidir-sobre-migracao-apos-saida-de-pacto-global.shtml [consultado em
10/01/2019].
https://br.boell.org/pt-br/2019/04/15/bolivianos-haitianos-e-venezuelanos-tres-casos-de-imigracao-no-brasil 19/19