Você está na página 1de 6

OFICINA DE REDAÇÃO

ENCONTRO 8

DIREITO DE IR E VIR
Artigo XIII da Declaração dos Direitos Humanos:

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro
das fronteiras de cada Estado.
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio,
e a este regressar.

Leia os textos abaixo, discuta sobre o assunto, forme uma opinião, para depois escrever.

Texto 1

Os haitianos e o tratamento dos estrangeiros no Brasil


Por Carmen Tiburcio

O ingresso de haitianos no Brasil traz à tona questão delicada que suscita aspectos econômicos,
sociais, políticos e humanitários, que devem ser analisados no âmbito de suas respectivas competên-
cias. Quanto aos aspectos jurídicos cabem alguns esclarecimentos.
O direito internacional estabelece claramente a regra de que somente os nacionais têm o direito de
ingressar no país de sua nacionalidade. Há algumas exceções que envolvem agentes diplomáticos e
consulares e pessoas que sofrem perseguições no exterior. Assim, qualquer autorização para ingres-
so e permanência, salvo as exceções mencionadas, se insere no poder discricionário dos Estados, de
modo que nenhum país é obrigado a abrir as suas fronteiras a não-nacionais. É importante mencionar,
todavia, que não se admite que o Estado impeça o ingresso por razões puramente discriminatórias, ou
seja, porque o estrangeiro é negro, judeu, muçulmano ou mulher. Mas tampouco se exige que o país
justifique sua decisão, o que dificulta o controle.
Para que um estrangeiro ingresse no Brasil, em geral, exige-se passaporte e visto, concedido por
autoridades brasileiras no exterior. Os vistos podem ter caráter temporário ou permanente e somente
nesse último caso se autorizam a residência e o exercício de atividade remunerada no país. Além
disso, o estrangeiro pode pretender ingressar por sofrer perseguição em seu país de origem, o que dá
margem à concessão de asilo ou refúgio, instrumentos de proteção de direitos humanos.
O asilo é empregado apenas na América Latina. Em 1954 foram firmados dois tratados versando
o tema, ambos ratificados pelo Brasil: um sobre asilo territorial, concedido pelo Estado no qual
o indivíduo se encontra, e o outro disciplinando o asilo diplomático, concedido temporariamente
por embaixador para permitir que o asilado deixe o país onde se vê ameaçado. Já o refúgio
se baseia na Convenção de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados, alterada por um Protocolo
de 1967. A convenção considera refugiado toda pessoa que seja, ou tema ser, perseguida por
motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. Os tratados foram
ratificados pelo Brasil e, na sua essência, reproduzidos na Lei do Refúgio brasileira. Atualmente,
segundo o ACNUR encontram-se, no Brasil, estrangeiros de aproximadamente 77 nacionalidades
beneficiados com esse status. 1
No caso dos haitianos, não se cogitou tratar de concessão de refúgio por razões econômicas
ou ambientais, até porque esses fundamentos não foram previstos na convenção ou na lei brasileira.
Assim, trata-se de hipótese de imigração, o que suscitou a decisão governamental de outorga de visto
permanente aos interessados.
Por fim, há que se mencionar o tratamento que o Brasil tem conferido aos estrangeiros. Em en-
trevista recente, o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, ressaltou com
propriedade que o Brasil tem tradição no tratamento favorável dos estrangeiros. A verdade é que o
Brasil se destaca nessa área. A legislação tradicionalmente impede a expulsão de estrangeiro com
família nacional, o que ocorreu no caso de Ronald Biggs — o inglês que participou do assalto ao trem
postal em 1963 — e em muitos outros. Apenas para que se tenha uma ideia, esse direito só veio a ser
reconhecido pela Corte Europeia de Direitos Humanos no final da década de 80 e ainda assim não de
forma absoluta, pois a Corte ressalva que a expulsão pode ocorrer por motivo de ordem pública, o que
o Brasil não admite em nenhuma hipótese. A política para estrangeiros, no Brasil, sempre esteve muito
mais próxima da tutela dos direitos humanos do que da prevalência dos interesses do Estado.
Esse tratamento favorável não decorre somente da lei, mas também da jurisprudência. A legis-
lação determina que o reconhecimento de um filho depois de editado o decreto de expulsão não a
impede, mas o Superior Tribunal de Justiça tem ignorado essa regra, permitindo a permanência de
estrangeiro com filho brasileiro, que dele dependa econômica e afetivamente. Segundo o tribunal,
ainda que seja possível a ocorrência de fraude, há valores mais importantes envolvidos, tais como a
proteção à família e à criança.
Relativamente ao tratamento oferecido pelas autoridades brasileiras aos haitianos e, de maneira
geral aos estrangeiros em situação análoga, duas circunstâncias merecem registro. Eventual aspe-
reza é decorrência de preconceito econômico — também suportado por brasileiros — e não de in-
tolerância a estrangeiros. Ademais, o tratamento conferido pela Administração Pública a brasileiros
também é frequentemente criticado, por força da burocracia estatal, por vezes intransponível, sem
que isso decorra de preconceito contra estrangeiros. Em outras palavras: a dificuldade, pessoal ou
burocrática, de lidar com essa situação específica é ruim, mas não mancha a tradição protetiva do
Estado brasileiro.

Carmen Tiburcio é professora de Direito Internacional da UERJ e da pós-graduação da UGF. Mestre e doutora em
Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de Virginia, EUA. Consultora no escritório Luís Roberto
Barroso & Associados.
Revista Consultor Jurídico, 24 de janeiro de 2012
http://www.conjur.com.br/2012-jan-24/haitianos-tratamento-estrangeiros-estado-brasileiro. Acessado em 28/01/2012

Os textos 2 e 3 foram publicados no jornal Folha de S.Paulo, no dia 21 de janeiro de 2012 e


respondem à pergunta: O país deve limitar a entrada de imigrantes haitianos?

Texto 2

SIM
Imigração com regras e controles

Precisamos ter uma política clara e pragmática sobre a imigração, com regras e controles adequados.
Impedir a imigração de forma ampla e geral é uma grande burrice e um contrassenso histórico, já
que o Brasil tem sido construído por várias levas de imigrantes. Não podemos deixar de reconhecer o
papel de portugueses, alemães, japoneses, italianos, poloneses e espanhóis, entre outros povos, na
formação do país.
Em junho de 2010, escrevi que o Brasil não estava preparado para a nova onda de imigrantes que
vem se constituindo. Eu alertava para o fato de que o ciclo de crescimento econômico do país e os
tempos duros da economia mundial fariam do Brasil um alvo para a imigração.
Na época, o então ministro da Justiça dizia que não estava satisfeito com o tratamento que os bra-
sileiros em viagem na Europa recebiam.
Dei como exemplo os milhares de bolivianos que vivem em São Paulo, muitos em condições sub-
humanas. De fato, os episódios verificados desde então indicam que estamos a caminho de ser um
2 destino mais relevante para imigrantes.
No entanto, nos faltam parâmetros e controles. Que tipo de imigrantes queremos no Brasil? Que
tipo de trabalhadores e de empreendedores desejamos importar? Existem necessidades regionais
particulares que desejamos suprir? Ou simplesmente vamos deixar os imigrantes rumarem para São
Paulo atrás de empregos?
Pois bem, o governo e a sociedade devem olhar para a questão a partir de alguns princípios. O
primeiro deles é que o Brasil jamais deve deixar de ser uma opção para estrangeiros que venham para
cá por razões humanitárias.
O segundo aspecto é que deve existir uma política nacional que estabeleça metas específicas para
o imigrante. Em especial, com relação ao pagamento de impostos e ao acesso aos serviços públi-
cos.
O terceiro aspecto é que devemos ter uma atitude proativa. Não adianta esperar a casa ser ar-
rombada para só depois tomar providências. Ter uma boa política de imigração pode ser um fator de
sucesso econômico e cultural. Devemos, por exemplo, estimular determinados tipos de imigrantes,
visando atender às necessidades econômicas, educacionais e tecnológicas do país.
O outro desafio que deve ser enfrentado se refere aos controles de nossas fronteiras. O Brasil é
um imenso buraco negro. Aqui, as pessoas podem viver durante anos sem qualquer importunação
relacionada à fiscalização por parte de autoridades públicas.
Nossas fronteiras são imensas áreas descampadas que podem ser cruzadas de forma tranquila.
Terroristas localizados em países vizinhos muitas vezes fazem a travessia e compram aqui mantimen-
tos e remédios calmamente.
O Brasil tem uma imensa fronteira seca, com mais de 15 mil quilômetros de extensão, tangencian-
do quase todos os países da América do Sul. Apesar de o governo ter anunciado um programa para
aumentar a vigilância nessas regiões, as iniciativas demoram a sair do papel.
Os EUA, com pouco mais de 3 mil quilômetros de fronteira com o México, já enfrentam sérias difi-
culdades. Caso o ciclo de crescimento brasileiro se consolide, teremos muitos problemas para garantir
a nossa segurança.
Ter segurança e controle em nossa fronteira é um desafio, pelo volume de recursos financeiros e
tecnológicos que a questão exige. Também é uma oportunidade para poder desenvolver tecnologias
na indústria nacional e em nossos centros de pesquisas. Os episódios recentes com os haitianos que
chegam ao Brasil pelo Acre servem de alerta. Temos de ter preocupações humanitárias, mas não po-
demos deixar de exercer nossa soberania.
MURILLO DE ARAGÃO, 55, doutor em sociologia (estudos latino-americanos) pela Universidade de Brasília,
é presidente da consultoria Arko Advice

Texto 3

NÃO
Europeus bem-vindos, haitianos barrados

Após o terremoto de janeiro de 2010, o Ministério das Relações Exteriores anunciou uma iminente
"invasão" de mais de 20 mil haitianos por ano. Dois anos depois, chegaram pouco mais que 3.500.
Inicialmente solicitando refúgio, eles ficarem ilegais em 2011. Na época, foram suspensos, apenas
para os haitianos, os protocolos de solicitação de refúgio. Foi assim que as autoridades brasileiras
lançaram os haitianos na ilegalidade, na imobilidade e na precariedade.
A mesma instabilidade política que justificava a missão militar brasileira no Haiti foi negada como
razão para pedir refúgio.
Vozes oficiais insistem que estipular um limite de cem vistos mensais e vedar a entrada legal para
os que já estão na região seriam medidas humanitárias.
Poucos conseguiram entender o raciocínio tortuoso que tenta transformar restrições em benesses.
Sem qualquer novidade, requenta-se a política histórica de cerceamento à imigração oriunda de de-
terminados países ou regiões.
O limite foi estabelecido ao sabor do arbítrio. Ele não se apoiou em qualquer avaliação da demanda
por mão de obra ou do tamanho da dinâmica da diáspora haitiana. O temor de que os recém-chega-
dos tragam as suas famílias inteiras é infundado: praticamente todas as famílias haitianas têm seus
mais bem formados membros espalhados entre os Estados Unidos, a República Dominicana, Cuba e 3
outras ilhas do Caribe, a França, o México, a Venezuela, o Canadá e diversos países africanos.
As remessas individuais de dinheiro do exterior são a única fonte segura de recursos para uma
população acometida por sucessivas crises, especialmente deletérias no âmbito escolar, em um país
onde a educação é privatizada e cara.
As remessas são os únicos recursos que realmente chegam ao destino. Os bilhões entregues à
cooperação ou às Nações Unidas se perdem na manutenção do aparato internacional no país e em
insondáveis corredores onde burocracia e corrupção se encontram.
Se quisermos apoiar a reconstrução do Haiti, a última coisa a fazer é estabelecer barreiras arbitrá-
rias à circulação de trabalhadores do país.
Logo após o terremoto, uma onda de genuína solidariedade mobilizou a população brasileira em
prol dos haitianos. Mas as estruturas governamentais e diplomáticas demonstraram não ter preparo e
capacidade para lidar com as ofertas de cá ou com as demandas de lá.
Agora, a forma como o governo e seus agentes encaminham o debate revela novamente o divórcio
com a sensibilidade da opinião pública, a recusa ao diálogo com organizações que oferecem apoio
aos recém-chegados e o recurso a estereótipos e mistificações para disfarçar a necessidade de am-
plas reformas nas instituições voltadas para a absorção de imigrantes.
Na mesma tacada em que cria barreiras discricionárias à vinda de haitianos, algo que deveria
envergonhar um país que nas últimas décadas tanto se beneficiou com as remessas de sua própria
diáspora, o governo brasileiro aplaude a chegada de dezenas de milhares de europeus, ajudando
esses imigrantes a contornar a burocracia.
O país assim reencontra a sua tradição secular de promoção de imigração seletiva. Não há diferen-
ças significativas de qualificação entre os bem acolhidos europeus e os vilipendiados haitianos, mas
sim uma seletividade míope, centrada no status de seus países de origem.
Talvez seja assim que complexos de inferioridade e mecanismos de autocomplacência se reprodu-
zam, mas certamente não é assim que uma política migratória moderna e eficaz se concretiza.
OMAR RIBEIRO THOMAZ, 46, antropólogo, e SEBASTIÃO NASCIMENTO, 35, sociólogo,
são pesquisadores do Centro de Conflitos, Catástrofes e Mudanças Ambientais da Unicamp

PROPOSTA

Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos
ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma culta escrita
da língua portuguesa sobre o tema: Como resgatar a cidadania usurpada das pessoas
que tiveram que abandonar a sua pátria?, apresentando experiência ou proposta de ação
social, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coe-
rente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

4
Melhorando seu texto

01-A/HÁ
Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não
pode ser substituído por faz):
Partiu há (passado=faz) dois dias e voltará daqui a (tempo futuro) duas horas.
A polícia estava a (distância) 15 metros do assaltante.
Ele saiu há (faz) cerca de vinte dias.

02-CONSTROM/CONTRÓI
Evite este equívoco comum: as flexões verbais constrói e destrói têm acento, mas o sinal
inexiste nas formas do plural, constroem e destroem:
Ações eficazes constroem uma reputação.
Furacões às vezes destroem cidades inteiras.

03-ONDE/AONDE.
Com verbo que indicam situação estática usa-se onde:
Não sei onde ele mora.
Não sei onde ele está.
Aonde se emprega com verbos de movimento:
Não sei aonde ele quer chegar.
Aonde vamos?

04 –CAÇAR/CASSAR.
Revogar é cassar, com ss:
A justiça cassou a liminar.
A mesa cassou a palavra do orador.
Caçar, com ç, equivale a procurar:
A polícia caçou o criminoso no morro.
Os amigos gostavam de caçar perdizes.

05-CALDO/CALDA
O rabo ou apêndice é cauda.
Tinha um belo piano de cauda.
A caixa-preta estava perto da cauda do avião.
O cão abanou a cauda.
Calda é a solução de açúcar: doce em calda, calda de caramelo.

06 –INFRINGIR/ INFLIGIR
Infringir é que significa transgredir:
Infringiu as normas, o regulamento.
Infligir equivale a impor:
Infligiu derrota ao adversário.

5
Melhorando seu texto

07-ACIDENTE/INCIDENTE
Incidente é um fato secundário, peripécia, desinteligência:
Houve um incidente entre os dois deputados.
O incidente levou-os a romper a amizade.
Acidente é que corresponde a acontecimento imprevisto ou infeliz, desastre:
Houve grave acidente na estrada.
Ninguém se feriu no acidente.
Evitar acidentes é dever de todos.
A palavra pode também ser empregada em expressões como acidente de trabalho, acidente
pós-operatório, etc.

08-MANDATO/MANDADO
O deputado perdeu o mandato.
Esta palavra é que significa delegação, representação que o político obtém pelo voto:
A câmara cassou o mandato do deputado.
Muitos políticos renunciaram para não perder o mandato.
(Mandado é uma ordem judicial: mandado de segurança, mandado de busca e apreensão).

09- SESSÃO/CESSÃO/SEÇÃO
Sessão é que equivale ao tempo que dura uma reunião, função: A sessão começa às 8 ho-
ras. Aquela era a última sessão de cinema. Assistiu à sessão da Câmara.
Seção significa divisão, partição: Seção eleitoral, seção política, seção de eletrônicos.
E cessão é o ato de ceder: Cessão de direitos autorais.

10-NOVE/NOVES
Números quando substantivados, têm plural:
Tirou a prova dos noves.
Noves fora.
Retirou os cincos do baralho.
Faltavam os oitos no bingo.
Não existe plural apenas quando número expressa uma unidade:
Havia nove pessoas na sala.
Já escreveu oito livros.

Você também pode gostar