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FAP - FACULDADE PARAIBANA DE DIREITO

DIREITOS DA NACIONALIDADE E CIDADANIA

SERGIO LUIZ COSTA PONTES

JOÃO PESSOA
2016
FAP - FACULDADE PARAIBANA DE DIREITO

DIREITOS DA NACIONALIDADE E CIDADANIA

SERGIO LUIZ COSTA PONTES

Venho apresentar este trabalho acadêmico


Para obtenção de nota da disciplina de
Direitos Humanos ministrada pelo Prof.
João Ricardo do Curso de Direito da FAP.

JOÃO PESSOA
2016
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 04
2 NACIONALIDADE...............................................................................................................
05
3 ESPÉCIES DA NACIONALIDADE......................................................................................
06
4 CONFLITOS DA NACIONALIDADE....................................................................................07
5 DISTINÇÃO ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS ..................................08
6 RECIPROCIDADE ENTRE PORTUGUESES ................................................................... 10
7 PERDA DA NACIONALIDADE .......................................................................................... 10
8 DIFERENÇA ENTRE NACIONALIDADE E CIDADANIA ................................................... 12
9 CIDADANIA ........................................................................................................................13
10 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 17
11 REFERÊNCIAS ................................................................................................................18
1. INTRODUÇÃO

O trabalho foi elaborado com o objetivo de estudar sobre os direitos da


nacionalidade e da cidadania, ou seja, entender que a aquisição da nacionalidade pode
ocorrer de forma originária adquirida pela pessoa natural com o nascimento ou
posteriormente por naturalização conforme previsão. A cidadania, por sua vez, é o gozo do
conjunto de direitos políticos concedido à pessoa natural, ou seja, é a participação
econômica, social e política do cidadão de um Estado. Contudo, é necessária a condição de
nacional para o exercício da cidadania, mas não é primordial ser cidadão para ser nacional.
O objetivo é identificar a definição de nacionalidade, definindo-a como direito
fundamental que é, identificar e definir suas espécies e os conflitos que podem ser gerados.
Há também a discussão doutrinária sobre a distinção entre brasileiros natos e
naturalizados e a reciprocidade entre os portugueses.
Após a análise dentre se há ou não distinção legal entre brasileiros natos e
naturalizados, e a reciprocidade entre portugueses, apresentamos as possibilidades de
perda da nacionalidade, expondo os casos em que é possível tal situação.
Foi abordado a diferença entre nacionalidade e cidadania de forma clara e
objetiva, definindo o conceito de cidadania e um pouco do seu contexto histórico.
Todo o trabalho tem por fonte a doutrina constitucional e várias pesquisas
elaboradas em sites da internet, pois trata-se de um trabalho teórico, de cunho
eminentemente doutrinário, que pretende funcionar como apoio para que se possa contribuir
para o aperfeiçoamento desta importante matéria.

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2. NACIONALIDADE

“Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado


Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o povo desse Estado e, por
consequência, desfrute de direitos e submeta-se a obrigações”, conforme ensina Pedro
Lenza. Importa dizer então que direito de nacionalidade gera direitos e obrigações para
quem adquire a nacionalidade de determinado país.
Apesar de nacionalidade derivar de natio (nação), o conceito de nacional não é
ligado a nação, mas ao povo (conceito mais amplo). A nação pressupõe um vínculo entre as
pessoas, ou de origem histórica, ou de origem cultural, ou de língua. As pessoas têm
características em comum. O povo é um conceito mais amplo. No Canadá, por exemplo,
alguns são mais ligados ao povo francês, outros são mais ligados ao povo inglês. A palavra
povo abrange os nacionais de um país.
Povo é o conjunto de indivíduos, ligados a um determinado território por um vínculo
chamado nacionalidade. No conceito de povo estão incluídos os brasileiros natos e
naturalizados. Distingue-se do conceito de população, pois neste incluem-se, além dos
natos e naturalizados, os estrangeiros e os apátridas. População é o conjunto de residentes
no território, sejam eles nacionais ou estrangeiros, ou, ainda, apátridas.
A sociologia atribui ao termo nacionalidade significado diverso do que lhe é conferido
pelo direito, referindo-se a uma nação ou a um grupo étnico (indivíduos com as mesmas
características: língua, religião, hábitos etc.). Embora a etimologia de nacionalidade
evidentemente contenha a palavra nação, a dimensão jurídica do termo refere-se ao vínculo
entre uma pessoa e um Estado, não entre uma pessoa e uma nação.
Tradicionalmente, nenhum ramo da ciência jurídica pode alegar exclusividade no
estudo do instituto da nacionalidade. Dessa forma, áreas tão diferentes como o direito
internacional público, o direito internacional privado e o direito constitucional costumam
dedicar um capítulo de seus livros acadêmicos ao tema.
De qualquer modo, como já assinalado acima, a nacionalidade é uma relação de
direito público interno; o corolário desta definição é o princípio de que as questões relativas
à aquisição ou perda de uma nacionalidade específica são, via de regra, reguladas pelas
leis do Estado cuja nacionalidade é reivindicada ou contestada. Em outras palavras, cada
Estado define, de maneira exclusiva, a sua própria nacionalidade, a quem atribuí-la e de
quem cassá-la. Os eventuais tratados internacionais sobre nacionalidade são aplicáveis
apenas aos Estados que consentiram em se lhes submeter, nos termos do direito
internacional. Evidentemente, uma vez que um Estado assuma um compromisso

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juridicamente vinculante acerca de nacionalidade, no campo do direito internacional (por
exemplo, ao ratificar um tratado sobre o tema), está obrigado a cumpri-lo
A nacionalidade é um direito fundamental, protegida aqui no brasil por nossa
constituição federal em seu capítulo III, que trata exclusivamente sobre nacionalidade, e em
âmbito internacional pela Declaração Universal dos Direitos dos Homens, que em seu artigo
15 que informa:
[...] DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS.
Artigo XV
I. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
II. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de
nacionalidade. [...]

3. ESPÉCIES DE NACIONALIDADE

A nacionalidade costuma ser dividida em duas espécies: Originária e Adquirida.


A nossa constituição federal traz regras para as duas espécies de nacionalidade, nos
quais para a nacionalidade originária são os brasileiros natos, e para a nacionalidade
adquirida ou secundárias são os brasileiros naturalizados.
A nacionalidade originária ou, como também é conhecida, nacionalidade primária, é,
em regra, involuntária, pois ela decorre do nascimento, ou seja, a pessoa nasceu e diante
de determinadas condições ele adquiri a nacionalidade originária. Essa nacionalidade
originária é imposta, de maneira unilateral pelo estado no momento do nascimento,
involuntariedade essa porque cada país pode estabelecer, de forma soberana, regras e/ou
critérios para que seja concedida essa nacionalidade aos que nascem sob o seu governo.
A nacionalidade adquirida ou, como também é conhecida, nacionalidade secundária,
é uma opção para quem não tem nacionalidade originária, é uma regra que vai permitir ao
estrangeiro se tornar brasileiro, demanda vontade de quem deseja adquirir, que significa que
ser necessário que haja vontade do estrangeiro em se tornar brasileiro. Normalmente ocorre
pela naturalização, que poderá ser requerida pelos estrangeiros como pelos heimatlos
(apátridas), que são aqueles indivíduos que não possuem pátria alguma. Quem adquire
nacionalidade adquirida ou secundária passa a ser chamado de naturalizado.
O Brasil adotou, em sua constituição federal, dois critérios diferentes para a
aquisição de nacionalidade originária: Critério “ius solis” ou “ius sanguinis”.
1. ius sanguinis: tem como fato gerador, o vínculo de sanguíneo, decorrente de filiação,
ascendência, não importando qual o local onde o indivíduo nasceu. A título de

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ilustração, é muito comum nos países europeus devido à emigração, com o intuito de
manter o vínculo com os seus descendentes.
2. ius solis: observa-se o vínculo de territorialidade, como o local de nascimento.
Em regra, a constituição adota o critério “ius solis”, que implica dizer que qualquer
pessoa nascida no território brasileiro adquire nacionalidade brasileira, mesmo que filho (a)
de pais estrangeiros, contanto que esses não estejam a serviço de seu país. Caso os pais
estejam a serviço de seu país de origem, o filho (a) será considerado nacional de seu país,
não será considerado brasileiro nato somente com o critério “ius solis”, sendo essa a
exceção à regra.
A constituição em seu art. 12, I, “b” diz: “Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro
ou de mãe brasileira (não há distinção se brasileiro nato ou naturalizado), desde que
qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil”. Serão considerados
como brasileiros natos os que sejam filho de pai e mãe brasileiros e qualquer dele esteja a
serviço da República Federativa do Brasil, mesmo tendo nascido no estrangeiro. Eis aqui a
definição do critério “ius sanguinis” que os pais estavam no estrangeiro a serviço do Brasil.
A constituição em seu art. 12, I, “c”: “os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou
de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de
atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira”. Seria mais uma espécie do critério “ius
sanguinis, sendo que na primeira parte da alínea em questão trata do critério “ius sanguinis”I
+ o registro em repartição brasileira competente, pois os pais não estavam a serviço do país
no momento do nascimento e sendo o pai ou a mãe brasileiros e registrando o filho em
repartição brasileira competente terá essa criança a nacionalidade brasileira, quanto à
nacionalidade do lugar onde ela nasceu, dependerá das regras sobre nacionalidade
aplicadas aquele país. Na segunda parte do inciso em questão temos o critério “ius
sanguinis”I + opção confirmativa, quando o filho de brasileiro ou brasileira que não estejam a
serviço do país, vier a residir no país e optar, em qualquer tempo, depois de atingida a
maioridade, pela nacionalidade brasileira. Chama-se de nacionalidade potestativa, pois
depende exclusivamente da vontade do do filho do brasileiro ou brasileira que estava no
estrangeiro e não estavam a serviço da República Federativa do Brasil.

4. CONFLITOS DA NACIONALIDADE

O conflito de nacionalidade vai ocorrer quando, por causa da fixação desses critérios
diferenciados, uma pessoa acaba adquirindo a nacionalidade de forma deformada. Esse
conflito se dará de duas formas:

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Positivo: vai ocorrer todas as vezes que o indivíduo adquirir várias nacionalidades,
ou seja, quando o indivíduo é polipátrida, tendo assim várias nacionalidades.
Negativo: vai ocorrer quando o indivíduo não preenche requisitos para adquirir
nenhuma nacionalidade, ou seja, quando o indivíduo é apátrida, não possuindo nenhuma
nacionalidade.
Mas é possível um indivíduo não possuir pátria?
A Agência da ONU para Refugiados – ACNUR, estima que sejam apátridas
aproximadamente 10 milhões de pessoas em dezenas de países desenvolvidos e em
desenvolvimento, embora não se conheçam os números exatos. São pessoas, que na maior
parte das vezes, são oriundas de guerra civil em seus países, onde o indivíduo foge para
outro país e ali se aloja em campos de refugiado, sendo que quando as mulheres dão a luz
à seus filhos naquele campo de refugiado, dependendo das regras adotadas pelo país onde
o filho nasceu, aquela criança fica sem nacionalidade.

5. DISTINÇÃO ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS.

Em princípio, o brasileiro nato não poderá perder a nacionalidade, salvo se adquirir


outra. O naturalizado poderá ter sua naturalização cancelada não só por esse motivo, como
também por conta de atividade nociva ao interesse nacional (art. 12, §4º, I).
Coerente com o princípio da igualdade, a nossa carta magna vedou qualquer
possibilidade de se estabelecer por lei distinção entre brasileiros natos e naturalizados,
ressalvados os casos previstos pela própria constituição:

I. Extradição:
A extradição é um ato de cooperação internacional que consiste na entrega de uma
pessoa, acusada ou condenada por um ou mais crimes, ao país que a reclama. Durante o
ato de entrega deverá se constatar se os direitos humanos do extraditando serão
garantidos.
O objetivo principal da extradição é evitar, mediante cooperação internacional, que
um indivíduo deixe de pagar pelas consequências de crime cometido.
A extradição pode ser ativa ou passiva.
Ativa: O Estado pede a outro Estado a entrega de um indivíduo.
Passiva: O Estado é solicitado para entregar um indivíduo.
De acordo com o o art. 5º, LI que diz: “Nenhum brasileiro será extraditado[...]”,
estamos claramente nos referindo a extradição passiva, pois a extradição ativa poderá

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ocorrer nos casos em que o brasil peça a outro estado a extradição do brasileiro. Já o
naturalizado poderá ser extraditado, em 2 situações especificas:
- Crime Comum: O naturalizado somente poderá ser extraditado caso tenha
praticado um crime comum antes da naturalização;
- Tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins: O naturalizado poderá ser
extraditado, caso se comprove o envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, não importando o momento da prático do fato típico, seja antes ou depois da
naturalização.

II. Cargos privativos de brasileiros natos:


O art. 12, §3º, CF/88 estabelece que alguns cargos serão ocupados somente por
brasileiros natos, fazendo expressa diferenciação em relação aos brasileiros naturalizados.
Assim há alguns cargos privativos de brasileiro nato. São eles:
- Presidente e Vice-Presidente da República;
- Presidente da Câmara dos Deputados;
- Presidente do Senado Federal;
- Ministro do Supremo Tribunal Federal;
- de carreira diplomática;
- de oficial das Forças Armadas.
- de Ministro de Estado da Defesa.

III. Atividade nociva ao interesse nacional:


Somente o brasileiro naturalizado poderá perder a nacionalidade em virtude da
prática de atividade nociva ao interesse nacional (art. 12, § 4º, I, da CF/88).

IV. Conselho da República:


Participam do Conselho da República, além de outros membros, seis cidadãos
brasileiros natos, segundo o art. 89 da CF/88.

V. Empresa jornalística e de radiodifusão:


Para que o brasileiro naturalizado seja proprietário de empresa jornalística e de
radiodifusão no Brasil é necessário que tenha se naturalizado há mais de 10 anos.

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6. RECIPROCIDADE ENTRE OS PORTUGUESES

Os portugueses, como originários de país de língua portuguesa, enquadram-se na


regra do art. 12, II, “a”, ou seja, podem naturalizar-se brasileiros bastando que tenham
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral. Temos a hipótese dos portugueses
com residência permanente no
Brasil que queiram continuar com a nacionalidade portuguesa (estrangeiros) e não façam a
opção pela naturalização brasileira.
Havendo reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos aos portugueses
com residência permanente no Brasil os mesmos direitos inerentes ao brasileiro, salvo os
casos em que houver expressa vedação constitucional. Observar que os portugueses não
perdem a sua cidadania. Continuam sendo portugueses, estrangeiros, portanto, no Brasil,
mas podendo exercer os direitos conferidos aos brasileiros, desde que não sejam vedados
(ex.: art. 12, § 3.º) e haja, como visto, a reciprocidade para brasileiros em Portugal. Trata-se
da chamada cláusula de reciprocidade (do ut des), assegurada pelo Tratado de Amizade,
Cooperação e Consulta, entre a República Federativa do
Brasil e a República Portuguesa, celebrado em Porto Seguro em 22.04.2000. O STF
confirma a importância do referido acordo bilateral entre Brasil e Portugal: “a norma inscrita
no art. 12, § 1.º, da Constituição da República — que contempla, em seu texto, hipótese
excepcional de quase nacionalidade — não opera de modo imediato, seja quanto ao seu
conteúdo eficácia, seja no que
se refere a todas as consequências jurídicas que dela derivam, pois, para incidir, além de
supor o pronunciamento aquiescente do Estado brasileiro, fundado em sua própria
soberania, depende, ainda, de requerimento do súdito português interessado, a quem se
impõe, para tal efeito, a obrigação de preencher os requisitos estipulados pela Convenção
sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre brasileiros e portugueses”

7. PERDA DA NACIONALIDADE

As hipóteses de perda da nacionalidade estão taxativamente previstas na CF/88, nos


incisos I e II do § 4.º do art. 12. Assim, os pressupostos para declaração da perda da
nacionalidade são 2:
I - Cancelamento da naturalização por sentença judicial, em virtude de atividade
nociva ao interesse nacional (art. 12, § 4.º, I):
A doutrina denomina de "perda-punição". Se um brasileiro naturalizado praticar
atividade nociva ao interesse nacional terá cancelada a sua naturalização. Essa perda

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ocorre por meio de um processo judicial, assegurado contraditório e ampla defesa, que
tramita na Justiça Federal (art. 109, X, da CF/88).
A lei não descreve o que seja atividade nociva ao interesse nacional. Após a
tramitação do processo, a perda efetiva-se por meio de sentença que deve ter transitado em
julgado. Os efeitos da sentença serão ex nunc. Esta hipótese de perda somente atinge o
brasileiro naturalizado.
Assim, o brasileiro nato não pode perder a sua nacionalidade, mesmo que pratique atividade
nociva ao interesse nacional.
Havendo a perda da nacionalidade por este motivo, a sua reaquisição somente
poderá ocorrer caso a sentença que a decretou seja rescindida por meio de ação rescisória.
Desse modo, não é permitido que a pessoa que perdeu a nacionalidade por esta hipótese a
obtenha novamente por meio de novo procedimento de naturalização.
Exceção: Não perde a nacionalidade, mesmo se adquirir outra nacionalidade,
quando:
- Há imposição pelo Estado estrangeiro, para quem tiver residência, há outorga
unilateral do Estado para permanência no país estrangeiro ou para exercício de direitos
políticos.
- Há reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira.

A atual constituição do Brasil admite a requisição da nacionalidade brasileira,


conforme entendimento da doutrina dominante, se for brasileiro nato ou naturalizado.
Porém, se houve perda da nacionalidade por sentença judicial, não tem como readquirir a
nacionalidade brasileira

II - Aquisição de outra nacionalidade (art. 12, § 4.º, II):


A doutrina denomina de "perda-mudança". Se um brasileiro, nato ou naturalizado,
adquirir voluntariamente uma nacionalidade estrangeira, perderá, então, a brasileira. Esta
perda ocorre por meio de um processo administrativo, assegurado contraditório e ampla
defesa, que tramita no Ministério da Justiça. Após a tramitação do processo, a perda efetiva-
se por meio de Decreto do Presidente da República. Os efeitos do Decreto serão ex nunc.
Esta hipótese de perda atinge tanto o brasileiro nato como o naturalizado.
Havendo a perda da nacionalidade por este motivo, a sua reaquisição será possível
por meio de pedido dirigido ao Presidente da República, sendo o processo instruído no
Ministério da Justiça. Caso seja concedida a reaquisição, esta é feita por meio de Decreto.
Alexandre de Moraes defende que o brasileiro nato que havia perdido e readquire sua
nacionalidade, passa a ser brasileiro naturalizado (e não mais nato).

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Por outro lado, José Afonso da Silva afirma que o readquirem recupera a condição que
perdera: se era brasileiro nato, voltará a ser brasileiro nato; se naturalizado, retomará essa
qualidade.
A CF traz duas hipóteses em que a pessoa não perderá a nacionalidade brasileira,
mesmo tendo adquirido outra nacionalidade. Assim, será declarada a perda da
nacionalidade do brasileiro que adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
Ex: a Itália reconhece aos filhos de seus nacionais a cidadania italiana. Os brasileiros
descendentes de italianos que adquirem aquela nacionalidade não perderão a brasileira,
uma vez que se trata de mero reconhecimento de nacionalidade originária italiana em
virtude do vínculo sanguíneo. Logo, serão pessoas com dupla nacionalidade.

b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em


estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício
de direitos civis;
Aqui, o objetivo da exceção é preservar a nacionalidade brasileira daquele que, por
motivos de trabalho, acesso aos serviços públicos, moradia etc., praticamente se vê
obrigado a adquirir a nacionalidade estrangeira, mas que, na realidade, jamais teve a
intenção ou vontade de abdicar da nacionalidade brasileira.

8. DIFERENÇA ENTRE NACIONALIDADE E CIDADANIA

Apesar de parecerem a mesma responsabilidade, a nacionalidade e a cidadania


andam atreladas, mas com significados diferentes. Por nacionalidade entende-se o vínculo
jurídico-político que une a pessoa ao Estado. A cidadania pode ser definida como uma
decorrência do estado de ser a pessoa natural cidadã ou cidadão.
Para desmistificar a ideia de sinônimos, iremos trazer a definição de cada uma.
Cidadania o conjunto de direitos civis e políticos de que dispõe essa mesma pessoa física,
podendo, em consequência, desempenhar funções públicas, atividade profissional, comercia
empresarial, votar, ser votado para qualquer cargo da trindade estatal, pertencer a partidos
políticos, enfim, exercer os atos da vida civil em toda a plenitude.
Além disso, é importante afirmar inexistir cidadania sem nacionalidade, pois a perda
da última implicará a perda nos direitos civis e políticos que lhe são inerentes. Enquanto a
cidadania é interdependente da nacionalidade, enquanto a nacionalidade não necessita da
cidadania, mas é um fator determinante para tal.

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Agora é importante que se defina a nacionalidade. O princípio da nacionalidade e a
condição de nacional revestem-se de excepcional importância, onde é responsável por
determinar a pertinência, ao indivíduo, de certos direitos e obrigações próprias do ambiente
nacional, no qual se constitui a condição ou requisito básico para a condição de cidadão,
isto é, do exercício de direitos políticos.
Pode-se ser nacional sem ser cidadão, mas não pode ser cidadão, sem ser nacional.
Aos nacionais corresponde a proteção de determinada soberania, da soberania corresponde
à sua nacionalidade.
O exercício da cidadania configura-se em um dos incrementos do Estado
Democrático de Direito, pois é um dos princípios fundamentais da República Federativa do
Brasil, e traz a previsão do inciso II, do art. 1º da Constituição Federal de 1988, e tem como
consequência a democratização do acesso à justiça e a participação popular no processo
decisório governamental.

9. CIDADANIA

Cidadania é a prática dos direitos e deveres de um (a) indivíduo (pessoa) em um


Estado. Os direitos e deveres de um cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que o
direito de um cidadão implica necessariamente numa obrigação de outro cidadão. Conjunto
de direitos, meios, recursos e práticas que dá à pessoa a possibilidade de participar
ativamente da vida e do governo de seu povo.
O conceito de cidadania tem origem na Grécia antiga, sendo usado então para
designar os direitos relativos ao cidadão, ou seja, o indivíduo que vivia na cidade e ali
participava ativamente dos negócios e das decisões políticas. Cidadania pressupunha,
portanto, todas as implicações decorrentes de uma vida em sociedade. Ao longo da história,
o conceito de cidadania foi ampliado, passando a englobar um conjunto de valores sociais
que determinam o conjunto de deveres e direitos de um cidadão.
A nacionalidade é pressuposto da cidadania - ser nacional de um Estado é condição
primordial para o exercício dos direitos políticos. Entretanto, se todo cidadão é nacional de
um Estado, nem todo nacional é cidadão - os indivíduos que não estejam investidos de
direitos políticos podem ser nacionais de um Estado sem serem cidadãos.
Os direitos políticos são regulados no Brasil pela Constituição Federal em seu artigo
14, que estabelece como princípio da participação na vida política nacional o sufrágio
universal. Nos tempos da norma constitucional, o alistamento eleitoral e o voto são

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obrigatórios para os maiores de dezoito anos, e facultativos para os analfabetos, os maiores
de dezesseis e menores de dezoito anos e os maiores de setenta anos.
A Constituição proíbe a eleição de estrangeiros e brasileiros conscritos no serviço
militar obrigatório, considera a nacionalidade brasileira como condição de elegibilidade e
remete, à legislação infraconstitucional, a regulamentação de outros casos de inelegibilidade
(lei complementar n. 64, de 18 de maio de 1990).
O exercício pleno dos direitos civis, políticos e sociais em uma sociedade que
combine liberdade completa e participação numa sociedade ideal é, para José Murilo de
Carvalho, a definição de cidadania. Carvalho entende que esta categoria de liberdade
consciente é imperfeita numa sociedade igualmente imperfeita. Neste sentido, numa
sociedade de bem-estar social, utópica por assim dizer, a cidadania ideal é naturalizada pelo
cotidiano das pessoas como um bem ou um valor pessoal, individual e, portanto,
intransferível.
Esta cidadania naturalizada é a liberdade dos modernos, como estabelece o artigo III
da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada na Assembleia Geral das Nações
Unidas, em 1948: "toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal". A
origem desta carta remonta das revoluções burguesas no final do século XVIII, sobretudo na
França e nas colônias inglesas na América do Norte; o termo "cidadão" designa, nesta
circunstância e contexto, o habitante da cidade "no cumprimento de seus simples deveres,
em oposição a parasitas ou a pretensos parasitas sociais".
A etimologia da palavra cidadania vem do latim civitas, cidade, tal como cidadão
(ciudadano ou vecino no espanhol, ciutadan em provençal, citoyen em francês). Neste
sentido, a palavra-raiz, cidade, diz muito sobre o verbete. O habitante da cidade no
cumprimento dos seus deveres é um sujeito da ação, em contraposição ao sujeito de
contemplação, omisso e absorvido por si e para si mesmo, ou seja, não basta estar na
cidade, mas agir na cidade. A cidadania, neste contexto, refere-se à qualidade de cidadão,
indivíduo de ação estabelecido na cidade moderna. A rigor, cidadania não combina com
individualismo e com omissões individuais frente aos problemas da cidade; a cidade e os
problemas da cidade dizem respeito a todos os cidadãos.
No Brasil, nos léxicos da língua portuguesa que circularam no início do século XIX,
observa-se bem a distinção entre os termos cidadão (em português arcaico, cidadam) e o
fidalgo, prevalecendo o segundo para designar aquele indivíduo detentor dos privilégios da
cidade na sociedade de corte. Neste contexto, o fidalgo é o detentor dos deveres e
obrigações na cidade portuguesa; o cidadão é uma maneira genérica de designar a origem
e o trânsito dos vassalos do rei nas cidades do vasto império português. Com a
reconfiguração do Estado a partir de 1822, vários conceitos políticos passaram por um

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processo de ressignificação; cidadão e cidadania entram no vocabulário dos discursos
políticos, assim como os termos "Brasil", "brasileiros", em oposição a "brasílicos". Por
exemplo: povo, povos, nação, história, opinião pública, América, americanos, entre outros.
A partir disso, o termo "cidadania" pode ser compreendido racionalmente pelas lutas,
conquistas e derrotas do cidadão brasileiro ao longo da história nacional, a começar da
história republicana, na medida em que esta ideia moderna, a relação indivíduo-cidade (ou
indivíduo-Estado) "expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de
participar ativamente da vida e do governo de seu povo (...)". Em outros termos,
fundamenta-se na concessão pelo Estado das garantias individuais de vida, liberdade e
segurança. O significado moderno da palavra é, portanto, incompatível com o regime
monárquico, escravista e centralizador, anterior à independência política do Brasil. No
entanto, este divisor monarquia-república não significa, no Brasil, uma nova ordem onde a
cidadania tem um papel na construção de sociedade justa e igualitária. Este aspecto é bem
pronunciado na cidadania brasileira: estas garantias individuais jamais foram concedidas,
conquistadas e/ou exercidas plena e simultaneamente em circunstâncias democráticas, de
estado de direito político ou de bem-estar social.
O longo caminho inferido por José Murilo de Carvalho refere-se a isto: uma cidadania
no papel e outra cidadania cotidiana. É o caso da cidadania dos brasileiros negros: a
recente Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989 é um prolongamento da luta pela cidadania dos
"homens de cor", cujo marco histórico formal é a Lei Áurea de 1888; ou seja, foi necessário
um século para garantir, através de uma lei, a cidadania civil de metade da população
brasileira, se os números do último censo demográfico estão corretos; portanto, há uma
cidadania no papel e outra cidadania cotidiana, conquistada no dia a dia, no exercício da
vida prática; tanto é que, ainda hoje, discute-se, nas altas esferas da jurisprudência
brasileira, se o cidadão negro é ou não é injustiçado pela história da nação. Considere-se
que, na perspectiva de uma cidadania plena, equilibrada e consciente, não haveria de
persistir por tanto tempo tal dúvida.
O mesmo se pode dizer da cidadania da mulher brasileira: a Lei 11 340, de 7 de
Agosto de 2006, a chamada "Lei Maria da Penha", criou mecanismos "para coibir e prevenir
a violência doméstica e familiar contra a mulher". Ou seja, garantir sua liberdade civil, seu
direito de ir e vir sem ser agredida ou maltratada. No caso da mulher, em geral, a lei chega
com atraso, como forma de compensação, como retificação de várias injustiças históricas
com o gênero; o direito de votar, por exemplo, conquistado através de um "código eleitoral
provisório" em 1932, ratificado em 1946. A lei do divórcio obtida em 1977, ratificada
recentemente pela chamada Nova Lei do Divórcio, ampliando a conquista da liberdade civil
de outra metade da população brasileira. São exemplos de como a cidadania é conquistada,

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de forma dramática por assim dizer, à custa de esgotamentos e longas negociações
políticas.
Neste contexto, a lei torna-se o último recurso da cidadania, aquela cidadania
desejada e praticada no cotidiano por deficientes físicos, deficientes mentais, homossexuais,
crianças, adolescentes, idosos, aposentados etc. Um caso prático para ilustrar esta
realidade cotidiana é a superlotação dos presídios e casas de custódia; a rigor, os direitos
humanos contemplam, também, os infratores, uma vez que "toda pessoa tem direito à vida,
à liberdade e à segurança pessoal".
Embora existam leis que visam a reparar injustiças, existe também uma longa história de
lutas cotidianas para conquistar estes direitos: o direito à liberdade de expressão, o direito
de organizar e participar de associações comunitárias, sindicatos trabalhistas e partidos
políticos, o direito a um salário justo, a uma renda mínima e a condições para sobreviver, o
direito a um pedaço de terra para plantar e colher, o direito de votar e ser votado - talvez o
mais elementar da democracia moderna, negado à sociedade na já longa história da
cidadania brasileira. É esta luta cotidiana por direitos elementares que define a cidadania
brasileira e não os apelos ao pertencimento, ao nacionalismo, a democracia e ao patriotismo
do cidadão comum.
Pode-se entender, portanto, que a cidadania brasileira é a soma de conquistas
cotidianas, na forma da lei, de reparações a injustiças sociais, civis e políticas, no percurso
de sua história e, em contrapartida, a prática efetiva e consciente, o exercício diário destas
conquistas com o objetivo exemplar de ampliar estes direitos na sociedade. Neste sentido,
para exercer a cidadania brasileira em sua plenitude torna-se absolutamente necessário a
percepção da dimensão histórica destas conquistas no percurso entre passado, presente e
futuro da nação. Este é o caminho longo e cheio de incertezas, inferido por José Murilo de
Carvalho. Esta é a originalidade e especificidade da cidadania brasileira.

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10. CONCLUSÃO

Após breve discussão sobre o tema é possível observar que o termo cidadania,
empregado muitas vezes como sinônimo de nacionalidade, não deve ser confundido com a
nacionalidade, conceito explanado anteriormente, tendo em vista que nacionalidade é mais
amplo e complexo que o conceito de cidadania. Por ser mais abrangente, a nacionalidade
engloba a cidadania.
A distinção entre nacionalidade e cidadania é bastante clara, de fácil compreensão e
isso faz com que se torne difícil admitir o emprego equivocado desses vocábulos. Para
tanto, é sempre necessário um estudo morfológico e conceitual das palavras para não nos
depararmos constantemente com a utilização de termos que podem parecer corretos à
priori, mas que com uma análise mais profunda se mostram duvidosos.
Portanto, conclui-se que nacionalidade e cidadania são conceitos interligados, ou
seja, andam lado a lado, porém devem ser utilizados de forma correta, respeitando seus
significados e conceitos distintos

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11. REFERÊNCIAS:

LENZA, P. Direito constitucional esquematizado. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

WIKIPEDIA. Nacionalidade. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalidade>.


Acesso em: 09 nov. 2016.
WIKIPEDIA. Cidadania. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalidade>.
Acesso em: 09 nov. 2016.

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