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FLUXOS MIGRATÓRIOS CONTEMPORÂNEOS:

DESDOBRAMENTOS NO BRASIL

Joseane Mariéle Schuck Pinto1

Resumo: O Brasil vem se mostrando um país de intensa procura por parte dos
migrantes, principalmente no que se refere às solicitações de refúgio e as ade-
sões ao Programa de Reassentamento Regional. Desta forma nota-se relevante
analisar os desdobramentos deste contexto no país e a atuação do Programa de
Reassentamento no Estado do Rio Grande do Sul, que conta com a participação
de órgãos estatais e de organizações não governamentais. O presente terá ainda
por finalidade averiguar a atuação da Associação Antônio Vieira e seus parceiros
no que tange a prática do referido Programa. Para tanto, se utilizou de métodos
como observação participativa e de entrevistas semi-estruturadas junto a ASAV,
Comirat, e demais parceiros, além de pesquisas documentais. Por fim, depreen-
de-se deste estudo que o Programa além de ser uma solução duradoura para os
refugiados, possui um viés humanitário e mostra-se fundamental na luta pela
proteção, assistência e acolhimento aos refugiados.

Palavras-chave: Programa de Reassentamento Regional. Refugiados.

Abstract: Brazil has been a popular country with intense demand from migrants,
particularly with regard to asylum applications and acceptances to the Regional
Resettlement Program. Thus, the analysis of the outcomes of this scenario in the
country and the work of the Resettlement Program in the State of Rio Grande do

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1 Advogada. Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia pela Universidade
do Vale do Rio dos Sinos/RS. Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Ciências
Sociais pela mesma Universidade. Membro do grupo Núcleo de Direitos Humanos
(NDH), na mesma instituição. Bolsista Fundo de Apoio Padre Milton Valente Unisinos
e pesquisadora sobre fluxos migratórios e refugiados. E-mail: joseane.ms@terra.com.
br. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1297579135532782.
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Sul with the participation of state agencies and non-governmental organizations


is relevant. This paper also aims to establish the performance of the Antônio
Vieira Association and its partners regarding the implementation of the such
program. To do so, some methods were used; such as: participant observation
and semi-structured interviews with ASAV, Comirat and other partners, and also
documentary research. Finally, this study shows that the Program is not only a
durable solution for refugees, but it also has a humanitarian bias and proves to be
crucial in the fight for protection, support and care of refugees.

Keywords: Regional Resettlement Program. Refugees.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS nos, assim como é parte na Convenção


das Nações Unidas de 1951 sobre o Es-
Verifica-se que os movimentos mi- tatuto dos Refugiados, do Proto­colo de
gratórios tem sido característica mar- 1967, da Convenção das Nações Unidas
cante das últimas décadas no cenário de 1954 sobre o Estatuto dos Apátridas
internacional globalizado, acarretando e, posteriormente, em outubro de 2007,
em um fluxo de refugiados que passam a ratificou a Convenção da ONU de 1961
necessitar de ajuda humanitária interna- para Redução dos Casos de Apatridia,
cional. Estes grupos forçadamente aban- mas também tem recebido forte deman-
donam seus lares na busca de um novo da no que diz respeito às solicitações
lugar, a fim de que possam recons­truir de adesão ao Programa de Reassenta-
suas vidas e readquirir sua dignidade. O mento Regional Solidário, haja vista
presente ensaio tem por finalidade trazer caracterizar-se por ser uma das soluções
à tona, dentro do contexto de mobilida- duradouras para aqueles refugiados que
de humana, a temática dos refugiados e por questões de segurança ou integração
seus desdobramentos no Brasil, uma vez não podem permanecer no primeiro país
que estes fluxos migratórios crescentes de acolhida nem retornar ao de origem.
acabam possibilitando o desrespeito aos Cumpre destacar que o Programa de
Direitos Humanos e a perda da digni- Reassentamento tem sua forte atuação
dade humana dos refugiados. no Estado do Rio Grande do Sul, que
O Brasil, por sua vez vem se mos- através da Associação Antônio Vieira,
trando um país de intensa procura por principal articuladora responsável pela
parte dos migrantes, principalmente no infraestrutura e acolhimento dos refu-
que se refere às solicitações de refúgio, giados, em atuação conjunta com Alto
eis que é signatário dos principais tra- Comissariado das Nações Unidas para
tados internacionais de Direitos Huma- Refugiados e com o Comitê Nacional
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para Refugiados e demais parceiros, por conflitos armados (ANDRADE,


tem reassentado famílias de refugiados 1998, p. 400).
oriundos dos deslocamentos forçados. O fenômeno da globalização fomen-
tou para novos deslocamentos e deslo-
cados, em um contexto internacional
A QUESTÃO marcado por conflitos, guerras civis,
DO REFÚGIO NO BRASIL perseguições por racismo, ideologias
NAS ÚLTIMAS DÉCADAS políticas que acarretam em violações aos
E A HOSPITALIDADE Direitos Humanos e o aumento diário
de grupos de vulneráveis que passa a
Primeiramente, importante referir necessitar de ajuda humanitária interna-
que a Segunda Guerra Mundial foi o cional. Sem contar nas dificuldades que
referencial histórico na demarcação do estas pessoas encontram pelo caminho,
tema envolvendo os refugiados, sen- podendo ser vítimas de violência, de
do que mais de 40 milhões de pessoas ameaças, de exploração sexual, neste
provenientes da Europa deslocaram- caso principalmente as crianças e mu-
se por ocasião da guerra, muito em- lheres, além do tráfico de pessoas.
bora a Primeira Guerra Mundial tenha A temática envolvendo os refugiados
sido a responsável pelo aparecimento obteve maior relevância no cenário na-
de um elevado número de refugiados cional a partir do retorno da democracia,
e apátridas (HOBSBAWM, 1995, p. juntamente com o advento da Constitui-
58). Já, na década de 1960, a descoloni­ ção Federal de 1988, eis que o artigo 4º
zação afro-asiática gerou novos fluxos dispõe sobre a prevalência dos Direitos
de refugiados e nas décadas de 1970 e Humanos como o princípio norteador das
1980 surgiram mais de 02 milhões de relações internacionais do Brasil. Desta
deslocados na América Latina, em razão forma a tarefa do país neste momento
dos regimes ditatoriais responsáveis histórico2 foi a de construir a imagem de
uma nação que prima pela ajuda huma-

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2 “A partir de março de 1989, com a transferência do escritório do Acnur para Brasília,
finalmente estreita-se a relação entre este órgão subsidiário da ONU e as autoridades
brasileiras. Após a mudança para a capital, o governo declara, com a promulgação
do Decreto nº 98.602, de 19 de dezembro de 1989, sua opção pela alternativa (b) da
Convenção de 1951, Artigo 1o, B (1), removendo desta forma a limitação geográfica e
abrindo a possibilidade para que refugiados de qualquer lugar do mundo pudessem ser
reconhecidos como tais no território brasileiro. O escritório do Acnur em Brasília conti-
nuou a avançar de forma significativa: em 3 de dezembro de 1990, o Brasil retirou suas
reservas aos artigos 15 e 17 da Convenção de 1951, medida que permitiu aos refugiados
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nitária e pela globalização dos Direitos Nacional não incluía a definição am-
Humanos, passando então a ser vista pela pla de refugiado, a qual só foi inse­
comunidade internacional com outros rida, posteriormente pelo seu relator
olhos (PIOVESAN, 1998, p. 33-34). na Comissão de Constituição, Justiça e
Na década de 1990, durante o go- Redação da Câmara dos Deputados, o
verno de Fernando Henrique Cardoso então deputado Aloysio Nunes Ferreira
– FHC, o tema dos Direitos Humanos Filho (ANDRADE,1996, p. 7-12).
teve destaque tanto na política externa Desta forma, surge a Lei 9.474,
quanto na política interna do país, e em de 22 de julho de 1997, que define os
1996 houve o lançamento do Primeiro mecanismos para a implementação do
Programa Nacional dos Direitos Hu- Estatuto dos Refugiados de 1951, e
manos, sendo que o governo solicitou determina outras providências, sendo
ao ACNUR uma pauta para servir de a primeira legislação preocupada em
incentivo, a fim da elaboração de uma abordar a temática na América Lati-
legislação específica que trate da ques- na, além de contar com uma parceria
tão dos refugiados e solicitantes de re- tripartite (governo, sociedade civil e
fúgio. Finalizado o projeto de lei sobre ACNUR). Assim como foi instituído
refugiados, encaminhou-se o mesmo o CONARE, órgão formado por sete
ao Congresso Nacional, que por sua membros, que representam, respec-
vez o aprovou, tanto na Câmara dos tivamente, os Ministérios da Justiça,
Deputados quanto no Senado Federal, Relações Exteriores, Trabalho, Saúde,
inclusive contou com apoio da Comis- Educação e Esporte, o Departamento de
são de Direitos Humanos da Câmara Polícia Federal. As Cáritas Arquidioce-
dos Deputados, da Igreja católica e da sana, organização não governamental
Vice-Presidência da República. Há de da Igreja Católica parceira do ACNUR
se referir que o projeto de lei encami- no Brasil, oferecem assistência e pro-
nhado para aprovação no Congresso gramas de integração aos refugiados.

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gozarem do direito de associação e de exercerem trabalho remunerado. Daí em diante,
tentou-se estabelecer um procedimento e uma divisão de responsabilidades relativos
ao processo de solicitação de refúgio. É interessante observar que o governo brasileiro
promoveu essas medidas estimulado apenas por considerações humanitárias, visto que o
número de refugiados residentes no território nacional não era nada expressivo – apenas
200 – e não constituía um problema à sociedade.” ANDRADE, José H. Fischel de e
MARCOLINI, Adriana. A política brasileira de proteção e de reassentamento de refu-
giados – breves comentários sobre suas principais características. Rev. bras. polít. int.,
Brasília, v. 45, n. 1, p. 160-70, jan./jun. 2002. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/
S0034-73292002000100008>. Acesso em: 10 maio 2014.
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O solicitante de refúgio ao pleitear à efetivação destes direitos quando sina-


auxílio humanitário recebe inicialmente a lizou para a implementação de políticas
proteção expressa de maneira formal em públicas para a integração dos refugiados.
um documento. É o reinício ou início de Em relação ao Programa de Reassen-
sua cidadania, pois não raro, tratar-se do tamento Regional Solidário, o seu início
primeiro documento que recebe confe- ocorreu em 10 de agosto de 1999, me-
rindo-lhe a condição de cidadão. Ainda, diante a assinatura de um acordo pactua-
terá direito à documentação provisória, do entre o governo brasileiro e o ACNUR,
incluindo carteira de trabalho. Todas as incluindo este a legislação pertinente aos
solicitações de refúgio são analisadas refugiados, qual seja, a Lei 9.474/97, em
pelo CONARE, e em caso de indefe- seu artigo 46, senão vejamos:
rimento, é possível apresentar recurso
“[...] o reassentamento de refugiados
junto ao Ministro da Justiça. Importante
no Brasil se efetuará de forma plani-
destacar que o refugiado no Brasil tem os ficada e com participação coordenada
mesmos direitos e deveres que qualquer dos órgãos estatais e, quando possível,
estrangeiro em situação regular no país. de organizações não governamentais,
Ainda, a Constituição Federal de 1988, identificando áreas de cooperação e de
ao conceder tratamento igualitário aos determinação de responsabilidades”.
brasileiros e estrangeiros residentes no
país, consoante assevera o artigo 5º, asse­ Tal programa visa ser utilizado como
gura a estes a possibilidade de acesso às uma solução duradoura para àqueles re-
políticas públicas existentes, assim como fugiados que por questões de segurança
a Lei 9.474/97, que por sua vez expressa ou integração não podem permanecer
o compromisso do Brasil com a causa no primeiro país de acolhida nem retor-
humanitária do refúgio, chamando o país nar ao de origem.3 Nesse sentido cabe

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3 “Em março de 2001, uma missão do Acnur visitou quatro cidades brasileiras, esco­
lhidas pelo Ministério da Justiça para sediar os projetos-piloto de reassentamento a serem
coordenados pelo Conare. A decisão de se fazer uma visita prévia às cidades derivou da
preocupação das autoridades brasileiras em assegurar que os refugiados reassentados
sejam bem recebidos e tenham uma boa integração nas comunidades locais. Nos contatos
com representantes da sociedade civil, como as Câmaras de Comércio e Indústria, expli-
cou-se a iniciativa de reassentamento e se solicitou o apoio local – sempre com uma boa
receptividade. Em agosto de 2001 realizou-se, no Rio de Janeiro, um seminário, com a
participação do Acnur, de ONGs e de autoridades do Governo federal, oportunidade na
qual concluiu-se o planejamento do programa de reassentamento. Com base em crité­
rios como tamanho, atividade econômica e origem étnica da população, o Ministério da
Justiça escolheu as seguintes cidades para a fase inicial do programa de
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destacar o disposto no artigo 2º da Reso- tica sobre os refugiados manteve-se


lução do CONARE n. 14, vejamos: “O em destaque na agenda da política
Programa de Reassentamento Brasileiro interna e externa do país, tratando a
está estruturado de forma tripartite, com temática dentro do seguimento dos Di-
a participação do Governo do Brasil, do reitos Humanos, bem como o governo
Alto Comissariado das Nações Unidas preocupou-se em ampliar tal política
para Refugiados e as organizações da com a criação do Programa Nacional
sociedade civil implementadoras do de Direitos Humanos II. A expansão da
programa.”4 política sobre refugiados teve suporte
O Brasil, assim recebe refugiados na legislação nacional promulgada pelo
espontâneos e outros que são reassenta- FHC, além das resoluções do CONA-
dos, vindos de outros países, no mesmo RE, assim como se baseou no Programa
sentido Martin nos explica que: de Reassentamento Regional Solidário,
contido na Declaração e Plano de Ação
“Regional protection is hardly a new
do México5 sendo este programa con-
concept. The vast majority of refu-
gees have always found asylum wi- siderado como uma solução durável
thin their regions of origin, generally para a questão dos refugiados. A partir
in neighbouring countries. What is deste desenvolvimento a respeito da
new is the interest of European and política dos refugiados, o país passou
North American States in redirecting a ser reconhecido pelo ACNUR como
movements toward regional canters”
(MARTIN, 2002, p. 34). líder na América Latina. Ainda no de-
correr deste governo houve a criação da
Com o advento do governo Luiz Secretaria Especial de Direitos Huma-
Inácio Lula da Silva, em 2003, a polí­ nos, passando a ser vinculada à Presi-

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reassentamento: Porto Alegre (RS), Mogi das Cruzes (SP), Santa Maria Madalena (RJ)
e Natal (RN). Autoridades locais e organizações não-governamentais, selecionadas pelo
Ministério da Justiça, comprometeram-se em apoiar a iniciativa.” FISCHEL, José H. de
Andrade; MAROLINI, Adriana. A política brasileira de proteção e de reassentamento de
refugiados – breves comentários sobre suas principais características. Rev. bras. polít. int.,
Brasília, v. 45, n. 1, p. 173, jan./jun. 2002. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/
S0034-73292002000100008>. Acesso em: 10 maio 2014.
4 Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/>. Acesso em: 14 abr. 2014.
5 “Em março de 2001, uma missão do Acnur visitou quatro cidades brasileiras, escolhi-
das pelo Ministério da Justiça para sediar os projetos-piloto de reassentamento a serem
coordenados pelo Conare. A decisão de se fazer uma visita prévia às cidades derivou da
preocupação das autoridades brasileiras em assegurar que os refugiados reassentados
sejam bem recebidos e tenham uma boa integração nas comunidades locais.
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dência da República, além da elaboração uma vez que foram vítimas de explo-
em 2010, no final do segundo mandato ração, assédio sexual e violência das
de Lula, do Programa Nacional de Di- mais variadas.
reitos Humanos III. E, em 29 de dezem- O primeiro reassentamento de refu­
bro de 2011 é publicada a Resolução giados no Brasil ocorreu em 2002, com
Norma­tiva do CONARE n. 14, que versa a chegada de 23 afegãos ao Estado do
sobre o Programa de Reassentamento Rio Grande do Sul. Até o final de 2013,
brasileiro (CORREA, 2007, p. 739-61). conforme dados do CONARE, conta-
Importante referir que na América biliza-se que cerca de 470 refugiados
Latina há uma preocupação no sentido estão reassentados em território bra-
de compartilhar as responsabilidades sileiro, dentre eles: 324 colombianos,
de proteção e integração aos refugia- 96 palestinos, 27 equatorianos, 09 afe-
dos entre as nações, razão pela qual se gãos, 03 venezuelanas, 03 apá­tridas,
percebe o crescimento do número de 01 congolês, 01 costarriquenha, 01
refugiados reassentados no Brasil por iraquiana, 01 jordaniana, 01 libanesa.6
meio do Programa de Reassentamento O Brasil vem demonstrando preocu-
Regional Solidário, bem como o aper- pação com o aumento significativo de
feiçoamento dos Programas de proteção refugiados Colombianos, em razão dos
e assistência a grupos de refugiados problemas advindos da guerra civil no
viabiliza a reconstrução das vidas des- país, sem contar na dificuldade dos
tas pessoas e permite que alcancem a Colom­bianos em integrarem-se na Costa
autos­suficiência e à cidadania perdida. Rica e no Equador, países em que soli-
O refugiado ao aderir ao Programa pas- citaram o status de refugiado.
sa a receber, caso seja necessário, uma Em julho de 2013, o CONARE apro-
atenção médica e psicológica especial, vou o pedido de reassentamento de 58
uma vez que os reassentados são refu- Colombianos que residiam no Equador
giados que não conseguiram integrar-se e que tiveram dificuldades de adaptação
no país que solicitaram refúgio, pelos neste país, local onde solicitaram o sta-
mais diversos motivos, seja cultural, tus de refúgio. Razão pela qual vieram
religioso, social, entre outros. Ou até a requerer junto as Nações Unidas a
mesmo foram vítimas de violência ou adesão ao Programa de Reassentamento
sofreram tortura. Sem contar na situação solidário e a vinda ao Brasil, que por sua
das mulheres, sendo que muitas delas vez encaminhou estes refugiados aos
são as solicitantes de reassentamento, Programas de reassentamento, dentre
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6 Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ7CBDB5BEITEMID2148C-
6C8145E4B0F841F7CC33DF09DD6PTBRIE.htm>. Acesso em: 12 abr. 2014.
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eles 33 foram encaminhados para o Rio se houverem instrumentos que pro-


Grande do Sul, por meio da ASAV, e 25 piciem o acolhimento e a integração
foram recebidos pelo Centro de Defesa destes refugiados à sociedade brasileira,
dos Direitos Humanos de Garulhos – obtendo, o mais rapidamente possível,
CDDH, no Estado de São Paulo.7 a autossuficiência e a cidadania.
Não obstante o Brasil ser um país Além disso, há o grave problema da
pioneiro no que diz respeito à liderança integração dos refugiados ao inserirem-
na proteção internacional dos refugia- se na sociedade brasileira, enfrentando
dos, sendo o primeiro país do CONE- obstáculos como a língua, a cultura, a
SUL a ratificar a Convenção relativa ao efetivação de direitos fundamentais,
Estatuto dos Refugiados de 1951, no ou seja, direito ao emprego, à saúde,
ano de 1960, bem como atuar conjun­ à moradia, à educação, entre outros.
tamente com o ACNUR na defesa dos Nesse sentido, para que se concre­tize
Direitos Humanos e da cidadania dos a ajuda humanitária e a integração
deslocados forçados, seja por meio do dos refugiados no cenário nacional, a
reassentamento solidário, seja pelo aco- ACNUR, através de convênios conta
lhimento e pela proteção internacional com o apoio de atores não-estatais, isto
a estas pessoas, nota-se que ainda há é, organizações não-governamentais,
um longo caminho a percorrer no que como é o caso do Rio Grande do Sul
diz respeito ao enfrentamento da ques- da ASAV, e em São Paulo e no Rio de
tão migratória no país que merece ser Janeiro estão presentes as Cáritas Arqui­
ampliada, pois diante do cenário que diocesana, ambas vinculadas a Igreja
se desenha com as guerras civis, com Católica. Em relação ao acolhimento,
violência, com desastres ambientais que o Brasil ao expressar o compromisso
assolam a humanidade, restam ainda com a causa humanitária do refúgio, se
outros problemas a serem superados, comprometeu a acolher os migrantes,
como por exemplo, a adoção de políti- apresentando-se na comunidade inter-
cas em prol do fechamento de fronteiras nacional como um país hospitaleiro.8
por parte de países da Europa e dos O conceito de hospitalidade, desen­
EUA. Desta forma, só será possível volvido por Derrida, via Levinas, nos
protegê-los das mais variadas violações revela a possibilidade, por vezes ne-
aos seus direitos como seres humanos gada, e por isso mesmo questiona-

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7 Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/>. Acesso em: 12 abr. 2014.
8 O termo Hospitalidade, segundo as definições do dicionário, refere ao ato de acolher,
de receber um hóspede em casa. Ser hospitaleiro significa hospedar bem àquele que
não é da nossa família. Uma lógica da amabilidade parece permear no sentido do termo,
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da, de uma acolhida incondicional pelo que chega e pelo que acolhe, e
do outro enquanto outro. De acordo este tipo de hospitalidade se encaixa
com Derrida, a lei da hospitalidade no contexto da concessão de refúgio
aparece como uma lei paradoxal, uma no Brasil, assim como acerca do pro-
vez que a regra que determina a sub- grama de reassentamento que prima
missão do estrangeiro às leis do país pelo acolhimento e pela integração dos
anfitrião deveria também resguardar o reassentados. A hospitalidade deve ser
respeito e a aceitação de sua diferen- vista como uma das virtudes necessárias
ça por meio de uma “ética da hospi­ para o mundo atual de deslocamentos
talidade” (DERRIDA, 2003, p. 15). e de deslocados, face à ocorrência de
Desta forma, verifica-se que o papel conflitos, guerras civis, perseguições
desempenhado pelas organizações não por racismo, ideologias políticas, acar-
governamentais diante da acolhida retando em violações aos Direitos Hu-
e da integração dos refugiados está manos, sendo que esses grupos de vul-
galgado na ética da hospitalidade, da neráveis passam a necessitar de ajuda
tolerância, do respeito ao outro. Tanto humanitária internacional. Nota-se que
o acolhimento quanto à hospitalidade diante deste contexto mundial é impe-
permitirão que se devolva à cidadania rioso que prevaleça a mútua acolhida
perdida e que seja proporcionado o pelos países hospitaleiros, no sentido
acesso igualitário aos direitos funda- de prevalecer à abertura generosa de
mentais assegurados pela Constituição fronteiras, ade­rindo à hospitalidade
Federal, sem privilegiá-los, ou seja, os condicional, vislumbrando as diferen-
refugiados e os reassentados devem ças como diferenças e não como desi-
receber o mesmo tratamento despen- gualdade e inferioridade. Em tempos
dido aos cidadãos brasileiros. em que o acolhimento do outro se dá
Derrida (2004, p. 66) traz à tona a de forma cada vez mais restrita, em
existência da hospitalidade denominada que a hospitalidade se torna cada vez
de condicionada, seja por direitos, seja mais condicionada às suas leis, a ques-
por deveres que devem ser seguidos tão das cidades-refúgio ganham maior
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O homem gentil, hospitaleiro, prepara a chegada do outro e o recebe. Se pensarmos
a questão dos estrangeiros e do Estado de Direito pareceria que uma atitude gentil
predispõe ou deveria predispor aos Estados republicanos, às democracias, a acolher o
estrangeiro, o outro. Por pura gentileza dar-se-ia o lugar a quem solicita, o outro. PEREZ,
Daniel Ornar. Os significados dos conceitos de hospitalidade em kant e a problemática
do estrangeiro. konvergencias Filosofia y Culturas in Diálogo. ISSN 1669-9092. Afio
IV N° 15 Segundo Cuatrimestre 2007. Disponível em: <http://www.konvergencias.net/
danieloperez132.pdf>. Acesso em: 03 maio 2014.
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muito tem mostrado ser insustentável


importância no cenário ético-político
(ARAÚJO, 2003, p. 35).
internacional.
Nesta esteira, vale referir Ponte Por fim, o Brasil diante da comu-
Neto: nidade internacional é reconhecido por
sua postura humanitária em relação ao
O Governo do Brasil será responsável
atendimento aos refugiados, não obs-
pela recepção e facilitará a integra-
ção dos refugiados reassentados, con- tante a problemas internos relacionados
tando com o apoio do ACNUR e de ao âmbito social, econômico e político,
organizações governamentais ou não sendo que a busca da integração é a
gover­namentais. O ACNUR contribuirá forma de refúgio mais plena e, contudo
financeiramente com a integração dos mais complexa, uma vez que ultrapas-
refugiados por meio de um projeto no
qual se designará a entidade executora. sa as expressões iniciais de acolhida,
Tal projeto será executado por tal enti- da documentação, do atendimento a
dade, em coordenação com o ACNUR neces­sidades básicas e imediatas. Resta
(PONTE NETO, 2003, p. 163). comprovada que é considerada mais
profunda e abrangente.
Ainda sobre o tema, Araújo men-
ciona que:
O PROGRAMA REGIONAL
O desafio de ser refugiado é o desa-
DE REASSENTAMENTO
fio que governos e sociedades de boa
vontade têm que enfrentar: como criar AOS REFUGIADOS
e fazer valer políticas humanitárias de NO ESTADO DO RIO GRANDE
inclusão social? A triste realidade do DO SUL: PERSPECTIVAS
fluxo de refugiados no mundo repre- E ATUAÇÕES
senta uma das maiores tragédias dos
nossos dias e o seu destino se relaciona
diretamente com questões políticas No que concerne à solução dura-
e afeitas aos direitos humanos que, doura para os refugiados, esta ocorre
longe de representar uma preocu­pação por meio do Programa Regional de
apenas dos governos, deveria ser, em Reassentamento Solidário, no Estado
larga medida, urna preocupação ati- do Rio Grande do Sul, que conta com a
nente a cada um de nós. Forçado a
deixar seu país, perambula pelo mundo
forte atuação da ASAV – mantenedora
a esmolar cidadania, a implorar por da Rede Jesuíta de Educação, vinculada
itens essenciais ao projeto de felici- ao ACNUR e ao CONARE, e desem­
dade humana: liberdade, apreço, em- penha há 10 anos o trabalho de reas-
prego, educação, saúde. O descaso dos sentar refugiados, encaminhando-os aos
países ricos para com este problema
Municípios parceiros, sendo, portanto a
é um poderoso agravante em uma há
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implementadora deste programa. Assim grarem o programa no Brasil, dos quais


como possibilita a infraestrutura e as fizeram adesão ao programa no Estado
condições necessárias para acolhimento do RS nove famílias, resultando em 34
e a inclusão dessa população nas diver- refugiados Colombianos.10
sas comunidades já pré-definidas para O Programa de Reassentamento apre-
o reassentamento.9 senta-se como uma solução duradoura
De acordo com a coordenadora do ao enfrentamento da problemática dos
Projeto de Reassentamento Solidário da refugiados, vindo ao encontro o papel
ASAV, Karin Wapechowski, até julho desempenhado pela ASAV que atua no
de 2013 foram acolhidos 262 refugia- sentido de prestar o acolhimento por
dos, os quais aderiram ao programa de meio da inclusão social, permitindo a
reassentamento refugiados oriundos ressocialização e as garantias dos direi-
do Afeganistão, Colômbia e Paquis- tos fundamentais. O Estado do RS tem
tão, residindo em 15 Municípios par- reassentado os grupos de vulneráveis
ceiros, quais sejam: Sapucaia do Sul, oriundos dos deslocamentos forçados
São Leopoldo, Sapiranga, Santa Maria, em razão da guerra civil na Colômbia.
Passo Fundo, Guaporé, Bento Gonçal- Além disso, muitos foram ameaçados
ves, Caxias do Sul, Serafina Corrêa, de morte pelas Forças Armadas Revo-
Rio Grande, Pelotas, Venâncio Aires, lucionárias – FARC, vendo-se obrigados
etc. Em junho de 2013 a coordenado- a abandonarem seu país de origem em
ra do programa fora convidada pelo busca de refúgio no Equador, passan-
CONARE e ACNUR, a participar da do inclusive a viver em campos de re-
missão de entrevistas de casos de can- fugiados, cujas condições de vida são
didatos Colombianos, que já possuem sub-humanas, sem infraestrutura de ser-
o status de refugiado e passam a soli­ viços básicos de saúde, de educação, de
citar adesão ao programa brasileiro de dignidade e cidadania, sofrendo as mais
reassentamento solidário, ocorrido em variadas formas de violência física, abalo
Quito, no Equador. Tal missão resultou emocional e psicológico. As mulheres
na aprovação de 29 famílias de refu- e crianças oriundas do refúgio acabam
giados, totalizando um número de 106 sendo as mais atingidas, uma vez que
refugiados Colombianos aptos a inte- suportam a violência e exploração se-
___________________
9 Dados obtidos em entrevista semi-estruturada, concedida em 15 de agosto de 2013,
na sede da ASAV em Porto Alegre, pela coordenadora do Projeto de Reassentamento
Regional Solidário no RS, Karin Wapechowski.
10 Dados obtidos em entrevista semi-estruturada, concedida em 15 de agosto de 2013,
na sede da ASAV em Porto Alegre, pela coordenadora do Projeto de Reassentamento
Regional Solidário no RS, Karin Wapechowski.
220 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

xual. E, é nesse contexto que a ASAV de integração social mais adequado a


vem ao encontro da prestação de auxílio realidade daqueles membros, levando
humanitário, solicitando aos Agentes em conta as questões que envolvem
de Saúde Pública dos Municípios, que o âmbito profissional, educacional e
prestem a essas pessoas vítimas deste cultural de cada refugiado.12
longo processo de refúgio, o auxílio e o O governo do Estado tem se mostra-
acompanhamento especial, tanto médico do um parceiro da ASAV na implemen-
quanto psicológico, por um período de tação do programa de reassentamento,
03 a 04 meses.11 sendo que em 22 de outubro de 2012,
Ademais, a ASAV no ano de 2004 o governador do Estado, Tarso Genro,
alterou o seu Estatuto, no sentido de por meio de Decreto N. 49.729, instituiu
possibilitar locações de imóveis junto o Comitê de atenção a migrantes, refu-
aos Municípios parceiros, em nome giados, apátridas e vítimas de tráfico de
da Associação, com intuito de serem pessoas no Estado do RS – Comirat,13
utilizados como moradia aos refugia- visando à promoção de ações voltadas à
dos reassentados. Esta locação perdu- integração dessas categorias no Estado,
ra aproximadamente pelo período de bem como outras ações constantes no
01 ano, e os valores dos aluguéis são decreto. Consoante assevera a Coorde-
custeados pelo ACNUR. Outro fator a nadora do Comirat e diretora da Secre-
ser destacado está na preocupação da taria de Justiça e Direitos Humanos do
ASAV em não concentrar mais de 02 Estado, Tâmara Biolo Soares, o traba-
famílias por cidade, havendo, portanto lho do Comitê é produzir diagnóstico
uma dispersão territorial no que tange e conhecimento acerca dos processos
aos reassentamentos visando à segu- migratórios e deslocamentos forçados
rança e oportunidades de integração no RS, dialogando com política do Es-
local destas pessoas à sociedade na qual tado, inclusive salienta que o Estado
estão sendo inseridas. Ainda, ocorre pretende estender os programas “Mais
com cada família reassentada uma aná- Igual e o RS Mais Renda” a refugiados
lise conjunta, a fim de elaborar o plano que ingressam no Estado. O Comirat
___________________
11 Dados obtidos em entrevista semi-estruturada, concedida em 15 de agosto de 2013,
na sede da ASAV em Porto Alegre, pela coordenadora do Projeto de Reassentamento
Regional Solidário no RS, Karin Wapechowski.
12 Dados obtidos em entrevista semi-estruturada, concedida em 15 de agosto de 2013,
na sede da ASAV em Porto Alegre, pela coordenadora do Projeto de Reassentamento
Regional Solidário no RS, Karin Wapechowski.
13 Disponível em: <http://www.sjdh.rs.gov.br/?model=conteudo&menu=1&i-
d=1612&pg=>. Acesso em: 30 jul. 2013.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014 221

da proteção, da assistência e do apoio


deve oferecer assistência para que os
jurídico aos refugiados. Assim, Estados
migrantes obtenham a documentação e Municípios também podem imple-
exigida e alcancem inserção social. Des- mentar ações nesse sentido, ao lado de
ta forma o Comitê, que se encontra em ONGs e do próprio ACNUR. O envol-
fase de discussão e elaboração de seu vimento de tais entes federados não so-
mente coaduna-se com os mandamentos
Regimento Interno, visa à elaboração
constitucionais da Federação brasileira
de políticas públicas que enfrentem a (cf. infra), como se torna essencial, num
problemática envolvendo os migrantes, país de dimensões continentais, para que
refugiados, apátridas, vítimas de tráfico a integração local e o reassentamento de
de pessoas no RS, sendo que sua imple- refugiados prosperem, trazendo bene-
mentação caberá ao governo do Estado, fícios tanto para os refugiados, quanto
para o Estado e a sociedade brasileira
assim como aos Municípios. (PINTO, 2011, p. 181-182).
Nesse sentido, vem ao encontro o
que traz à tona Pinto, vejamos: Percebe-se que o Estado do RS ao
promulgar o Decreto 49.729 de 2012,
Contudo, para que a integração local e o
está voltado a enfrentar questões envol-
reassentamento possam oferecer condi­
ções de vida digna aos refugiados, um vendo migrações forçadas, reafirmando,
envolvimento de todos os entes da Fede- por sua vez os fundamentos da República
ração brasileira é necessário, juntamente Federativa do Brasil, conforme o dispos-
com o ACNUR e entidades organiza- to no artigo 1º, e os princípios que regem
das da sociedade civil. Na República as Relações Internacionais contidos no
Fede­rativa Brasileira, a determinação
do status de refugiado é de competência artigo 4º, ambos da Constituição Federal
da União, mais precisamente de uma de 1988 que objetivam segundo versa
entidade despersonalizada vinculada o decreto
ao Ministério da Justiça, o Comitê Na-
cional de Refugiados, CONARE. Cabe “a necessidade de adequar instrumentos
também a este órgão “orientar e coor- legislativos e fortalecer instâncias de
denar as ações necessárias à eficácia da elaboração de ações da política que
proteção, assistência e apoio jurídico garantam e assegurem o acesso aos
aos refugiados” (art. 12, IV, Lei 9.474). migrantes e aos refugiados e propiciem
Destaque-se que esta última competên- atualização do debate sobre ações diri-
cia diz respeito a missões de orientação gidas à mobilidade humana conforme
e coordenação de ações, o que indica os princípios constitucionais que ga-
que este órgão não atua sozinho no que rantem a dignidade humana.”14
tange as medidas necessárias à eficácia
___________________
14 Decreto nº 49.729, de 22 de outubro de 2012. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.
br/legis/M010/M0100099.ASP?Hid_Tipo=TEXTO&Hid_TodasNormas=58497&hTex-
to=&Hid_IDNorma=58497>. Acesso em: 29 ago. 2013.
222 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

médio de atendimento humanizado e


Nesta esteira o artigo 1º do presen-
adequado a sua situação; V – promover
te Decreto objetiva através do Comitê ações e coordenar iniciativas de aten-
a implementação de políticas públicas ção, promoção e defesa das categorias
que assegurem a promoção dos direitos de que trata este Decreto no Estado
humanos dos vulneráveis, vejamos: do Rio Grande do Sul, garantindo
um atendimento livre de preconceito
“Fica instituído o Comitê de Atenção e discriminação por motivos de ori-
a Migrantes, Refugiados, Apátridas e gem, raça, sexo, cor, idade, crença ou
Vítimas de Tráfico de Pessoas no Estado pertença a grupo social; VI – apoiar
do Rio Grande do Sul – Comirat/RS, no a promoção de ações voltadas à inte-
âmbito da Secretaria da Justiça e dos gração dessas categorias no Estado do
Direitos Humanos, com o objetivo de Rio Grande do Sul; VII – orientar e
promover e garantir o respeito aos di- formar agentes públicos, privados e
reitos humanos das pessoas vulneráveis membros da sociedade civil sobre a
que se encontram em mobilidade no realidade da mobilidade humana, com
Estado do Rio Grande do Sul.”15 foco na garantia dos direitos e deve-
res dessas categorias em condições de
A competência do Comirat encon- respeito à dignidade de cada pessoa,
independentemente de sua origem;
tra-se disposta no artigo 3º do Decreto
VIII - orientar as ações de prevenção
que vem: a violações de direitos humanos das
pessoas em mobilidade, visando coibir
I – elaborar, implementar e monitorar o a sua ocorrência; IX - informar às ins-
Plano Estadual de Políticas de Atenção tâncias competentes sobre denúncias de
a Migrantes, Refugiados, Apátridas e violação de direitos dos migrantes, para
Vítimas de Tráfico de Pessoas no Esta- apuração e respon­sabilização; X reunir,
do do Rio Grande do Sul, com o obje- atualizar e estimular estudos, pesqui-
tivo de facilitar o acesso das categorias sas e relatórios sobre o fenômeno da
previstas no art. 1º, § 1º deste Decreto mobilidade humana; XI – apoiar ações
às políticas públicas; II – monitorar as e fóruns de debates sobre a revisão da
ações institucionais que dizem respeito legislação nacional, especificamente a
à mobilidade humana e que interpelam Lei Federal nº. 6.815, de 19 de agosto
as categorias deste Decreto; III - propor de 1980, Estatuto do Estrangeiro; e XII
ações para solucionar as questões rela- - apoiar debates e ações com o objetivo
tivas aos migrantes indocumentados; de ratificar a Convenção Internacional
IV – propor a constituição de serviços sobre os Direitos dos Trabalhadores
específicos para o atendimento dos Migrantes e suas famílias, aprovada
migrantes, assegurando o seu acesso pela Assembleia Geral da ONU, por
a bens e serviços públicos, por inter- meio da Resolução n° 45/158, em 18
___________________
15 Decreto nº 49.729, de 22 de outubro de 2012. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.
br/legis/M010/M0100099.ASP?Hid_Tipo=TEXTO&Hid_TodasNormas=58497&hTex-
to=&Hid_IDNorma=58497>. Acesso em: 29 ago. 2013.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014 223

de dezembro de 1990, que estabelece


Este trabalho garante o respeito
normas de tratamento igualitário entre
trabalhadores nacionais e estrangeiros aos direitos humanos dessas pessoas,
e atribui direitos humanos e fundamen- devolvendo-lhes o lar que lhes foi reti-
tais a todos os trabalhadores migrantes, rado, e por sua vez à sua dignidade, haja
legais ou irregulares.16 vista tratar-se de seres humanos, nesse
sentido Souza (2005, p. 11) assevera
Verifica-se, portanto que a criação que: “O ser humano é, ele mesmo, um
do Comirat/RS vem corroborar no forta­ mundo humano, e ferir a dignidade de
lecimento do trabalho desempenhado alguém significa ferir o mundo intei-
no Estado pela ASAV, possibilitando ro”. E, é desta forma que a ASAV vem
por meio de ações e de políticas pú- atuando em prol do acolhimento que
blicas eficazes a garantia e proteção proporciona um novo recomeço aos
aos Direitos Humanos e a promoção da grupos e famílias de refugiados que
cidadania, pois a partir do acolhimento aderirem ao programa.
será possível a efetiva integração local Neste contexto de refúgio, os gru-
dos refugiados reassentados. pos oriundos de outras nações enfren-
Neste prisma, verifica-se que a tam as mais diversas dificuldades de
ASAV atua no sentido de assegurar as convivência, como por exemplo, uma
providências necessárias para o efetivo nova língua, cultura, sendo imperioso
exercício dos direitos humanos destes vislumbrarem um ambiente propício
refugiados, como à educação, à mora- de integração na localidade em que
dia, à saúde, o trabalho, etc, prestando estão sendo inseridos, a fim de ame-
o auxílio necessário às famílias. No nizar os obstáculos enfrentados. Se o
entanto, insta destacar que o programa ambiente estiver fortemente compro-
não visa beneficiar aos refugiados, pelo metido com a ideia de tolerância e de
contrário, eles terão os mesmos direitos cidadania compar­tilhadas a inserção e a
e deveres que os cidadãos brasileiros. integração dos grupos de refugiados irá
Nota-se que o programa efetivado pela proporcionar um recomeço de vida com
ASAV tem um viés humanitário, haja dignidade (MELO, 2001, p. 278-279).
vista que atua em conjunto com o AC- Cumpre referir também o papel
NUR, CONARE, Governo do Estado desem­penhado pelas Cátedras Sérgio
e com os Municípios, objetivando, por Vieira de Mello no Estado do Rio Gran-
meio da acolhida, realizar a integração de do Sul, que se localizam na Univer-
dos grupos de refu­giados na comuni- sidade Federal do RS – UFRGS e na
dade local. Universidade do Vale do Rio dos Sinos
___________________
16 Disponível em: <http://portal.mj.gov.br>. Acesso em: 26 abr. 2014.
224 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

– UNISINOS, que a partir dos trabalhos seja através do estudo do novo idioma,
realizados pela comunidade acadêmica seja por meio da inserção no mercado de
conjuntamente com a sociedade civil, trabalho. Nesse sentido o maior desafio
podem neutralizar os pré-conceitos e per- a ser enfrentado em relação à integração
cepções negativas advindas da sociedade local está nas diferenças culturais, tendo
em relação à questão da acolhida aos em vista que os refugiados passam a
refugiados, uma vez que o conhecimen- interagir num novo ambiente que pode
to qualificado e disponível à população apresentar traços culturais distintos de
poderá ser um facilitador da integração sua comunidade de origem.
local dos reassentados, assim como dos Quanto maior a proximidade cul-
solicitantes de refúgio. Nota-se, que a tural, social, linguística e étnica entre o
atuação conjunta da Cátedra Sérgio Viei- país de origem e o de destino, em tese,
ra de Mello na Universidade e da ASAV esse processo se revela mais fácil e os
é primordial no sentido de difundir in- resultados, mais promissores, bem como
formações, possibilitando a acolhida de as diferenças culturais não podem ser
refugiados e a valorização e difusão da obstáculos à universalização dos direi-
cultura dessas pessoas junto à comunida- tos humanos, uma vez que necessitam
de local (PINTO, 2013, p. 9-10). ser respeitados e protegidos, a fim do
No que diz respeito aos fatores reconhecimento desses direitos. Além
cultu­rais, verifica-se que no processo disso, os refugiados podem representar
de integração local dos refugiados há uma ótima oportunidade para o desen-
uma abertura da cultura política tanto por volvimento econômico do país que os
parte dos governos, quanto em relação à recebe, mas para tanto é preciso que haja
sociedade, contudo ainda se percebe as o reconhecimento de que a integração
dificuldades à adaptação do refugiado tem maior chance de obter sucesso em
à nova sociedade na qual foi inserido, um ambiente em que os recém-chega-
haja vista deparar-se com uma língua e dos possam manter sua cultura, religião,
cultura que diferem da sua, e claro algu- inte­gridade étnica e sua identidade cultu-
mas localidades podem mostrar-se não ral enquanto que ao mesmo tempo sejam
receptivas aos refugiados, sobretudo em encorajados a participar e tenham acesso
virtude das diferenças culturais existen- à cultura da sociedade que os recebe.
tes entre eles. Esta integração tem como
marco inicial a solicitação de refúgio,
tendo em vista que o solicitante, enquan- CONSIDERAÇÕES FINAIS
to aguarda a tramitação legal do proce-
dimento de refúgio, já procura se inserir Neste contexto de deslocamentos
na sociedade da qual passa a fazer parte, e deslocados os países em desenvol-
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014 225

vimento assumem relevante papel no mento Regional Solidário, sendo um


que se refere à proteção aos refugiados, importante instrumento de solução du-
vindo ao encontro a atuação brasileira, radoura para aqueles refugiados que por
sendo que o país se consolidou como questões de segurança ou integração não
o principal doador do ACNUR entre podem permanecer no primeiro país de
os países emergentes, com US$ 3,5 acolhida nem retornar ao de origem,
milhões doados em 2010, US$ 3,7 mi- contando com o apoio e a participação
lhões em 2011 e US$ 3,6 milhões em do governo brasileiro, do ACNUR e
2012. (ACNUR, 2013). Além de abra- das organizações não governamentais.
çar a causa ao elaborar uma legislação E, é nesse sentido que à atuação des-
protetiva e de assistência, bem como a tas organizações conjuntamente com o
instituir um órgão específico que cuide CONARE e o ACNUR se mostram fun-
dessa questão, assumindo com o auxílio damentais na luta pela proteção, assis­
humanitário a garantia dos Direitos Hu- tência e acolhimento aos refugiados.
manos, o acolhimento e a hospitalidade Esta atuação conjunta entre ASAV,
aos refugiados, vejamos: Governo do Estado, Municípios parcei-
Os preceitos desta Lei deverão ser ros e as Cátedras Sérgio Vieira de Mel-
interpretados em harmonia com a Decla­ lo da UFRGS e da Unisinos, propiciam
ração Universal dos Direitos do Homem um novo recomeço para os refu­giados,
de 1948, com a Convenção sobre o Es- vindo colaborar e fortalecer este apoio
tatuto dos Refugiados de 1951, com o a criação do Comirate/RS, cujo obje-
Protocolo sobre o Estatuto dos Refu- tivo é implementar políticas públicas
giados de 1967 e com todo dispositivo capazes de viabilizar o exercício dos
pertinente de instrumentos internacional direitos fundamentais, como o direi-
de proteção aos direitos humanos com o to à educação, à moradia, à saúde, o
qual o Governo brasileiro estiver com- trabalho, entre outros. E no momento
prometido.17 em que os refugiados realizam a ade-
No mesmo sentido, a criação do são ao programa farão jus aos mesmos
CONARE foi fundamental vindo ao en- direitos concedidos aos cidadãos brasi­
contro das questões relativas ao refúgio leiros. Assim, resta comprovado que
no Brasil, sendo o órgão responsável o programa de reassentamento, além
por orientar e coordenar as ações neces­ de ser uma solução duradora para a
sárias à eficácia da proteção, assistência problemática do refúgio possui ainda
e apoio jurídico aos refugiados. Vindo um viés humanitário, no qual o acolhi-
corroborar o Programa de Reassenta- mento tem por finalidade a integração
___________________
17 Disponível em: <http://portal.mj.gov.br>. Acesso em: 26 abr. 2014.
226 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

na comunidade local dos refugiados, Apesar dos esforços do país no


e por conseqüência a possibilidade de enfrentamento da questão do refúgio,
alcançar a dignidade perdida, além da ainda resta déficit democrático em re-
reconstrução de suas vidas. lação aos estrangeiros, conforme as-
O Brasil tem por característica a severa Paulo Abrão, tendo aumentado
hospitalidade e diante da questão migra- significativamente o fluxo migratório
tória prima pela abertura de fronteiras e em direção ao Brasil.19 Diante deste
pelo auxílio humanitário, nesta esteira contexto há uma preocupação do gover-
importante destacar a posição do país no em repensar e reestruturar a questão
em relação à crise que se desenha no migratória no país, a fim que se efe­
cenário internacional, principalmente tive os direitos humanos e por sua vez
no que diz respeito à Síria, um país em o auxílio humanitário. Ainda existem
guerra civil responsável por mais de muitos obstáculos a serem superados,
dois milhões de sírios se tornando refu­ e um deles diz respeito à integração
giados. De acordo com Paulo Abrão, que local, sendo que as diferenças culturais
preside o CONARE “[...] o Brasil tem são na maioria das vezes significativas,
tradição de solidariedade e participará tendo em vista que os refugiados pas-
do esforço internacional para abrigar sam a interagir em um novo ambiente
os cidadãos que fogem de uma possível que pode apresentar traços culturais
guerra”. Nesse sentido, recentemente o distintos de sua comunidade de ori-
CONARE publicou a Resolução Nor- gem. A adaptação dessas pessoas em
mativa N. 17, que garante a concessão um novo local se torna uma barreira
de visto humanitário especial a pessoas difícil de ser vencida, muito embora o
afetadas pelos conflitos armados na Síria governo venha construindo uma cultura
e região que desejem chegar ao Brasil política sobre o tema, ainda resta um
buscando refúgio. O visto especial será longo percurso a ser alcançado; outro
concedido pelo Ministério das Rela- ponto a ser analisado está na questão
ções Exteriores e se estenderá também da não receptividade dos refugiados por
à família dessas pessoas deslocadas, algumas comunidades locais, além da
assim como tal resolução normativa questão da dificuldade do acesso aos
terá validade pelo prazo de 02 anos, direitos fundamentais básicos, princi-
podendo ser prorrogada.18 palmente em relação à saúde pública,

___________________
18 Disponível em: <http://www.acnur.org/t3/portugues/noticias/noticia/acnur-parabe-
niza-brasil-por-anuncio-de-vistos-humanitarios-para-sirios/>. Acesso em: 27 abr. 2014.
19 Disponível em: <http://oestrangeiro.org/2013/09/11/brasil-disposto-a-receber-mais-
-refugiados-sirios/>. Acesso em: 12 abr. 2014.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014 227

uma mazela enfrentada também pelos prestar o auxílio humanitário aos que se
cidadãos brasileiros. encontram sem pátria, está resgatando
Nota-se que a adoção de ações, uma vida com dignidade. Mostra-se
estra­tégias e políticas públicas voltadas imperioso o papel do acolhimento e da
ao acolhimento e a integração local dos hospitalidade, uma vez que através dos
solicitantes de refúgio e aos refugiados mesmos será possível o acesso iguali-
é questão primordial a ser abordada pela tário aos direitos fundamentais assegu­
União, Estados e Municípios, para que rados pelos instrumentos jurídicos inter-
haja de fato a proteção e não a violação nacionais e pela Constituição Federal de
de direitos destes grupos de vulneráveis. 1988 aos refugiados que se encontram
Diante disso o país poderá ter a certeza no país. A hospitalidade então deve ser
de um dever ético e moral cumprido, vista como uma das virtudes necessá-
no sentido de fazer valer a hospitali­ rias para o mundo contemporâneo de
dade, uma vez que ao abrir fronteiras e deslocamentos e de deslocados.

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