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UFRJ – Defesa e Gestão Estratégica Internacional

Estudos Migratórios
Danielle Schildberg

Resumo - O ACNUR

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) surge em


1950 por resolução da Assembleia Geral da ONU e inicia suas atividades em 1951 com a
Convenção das Nações Unidas relativa ao estatuto dos refugiados.
Uma vez que a convenção ocorreu em Genebra, se popularizou como "Convenção
de Genebra" e teve como objetivo solucionar a realidade de 20 milhões de migrantes europeus
gerados pela 2GM, estabelecendo e rotulando o conceito de refugiado e assegurando que é um
direito do indivíduo receber refúgio em outro país, com exceção aos criminosos de guerra que
não teriam acesso a tal direito.
É acordado nesta ocasião o princípio de non-refoulement, que em português
significaria "não-devolução", pelo qual os Estados-parte não podem expulsar ou rechaçar
refugiados para o território onde há ameaça de sua vida ou liberdade.
Todavia, a convenção de 1951 foi estabelecida sobre limitações geográficas e
temporais, já que seu intuito era englobar apenas os migrantes europeus gerados pela Segunda
Guerra Mundial durante 2 a 3 anos e com o tempo, novos conflitos foram surgindo e com eles a
necessidade de incluir novos fluxos de refugiados sobre a proteção da convenção. Sendo assim, o
protocolo de New York entra em vigor em 4 de outubro de 1967 e complementa a Convenção de
1951 ao abranger todos os refugiados e romper com barreiras territoriais e temporais.
Apesar da adesão do Brasil à Convenção de 1951 ter ocorrido em 1960, não havia
presença marcante da ACNUR na América Latina nas duas décadas seguintes e, quando ela
ocorreu, a atuação foi voltada à América Central, sendo que havia diversos países da América do
Sul que viviam regimes de exceção, o que provocou grandes fluxos migratórios. Nesta ocasião,
porém, o Brasil ainda mantinha a "reserva geográfica" da Convenção de 1951, que fazia com que
apenas refugiados europeus pudessem ter tal condição aceita no país. Latino-americanos apenas
poderiam receber o visto de turista, com validade de 90 dias.
A ACNUR foi aceita no Brasil em 1982, com o processo de redemocratização,
iniciando então negociação com o governo brasileiro para que fosse abandonada a reserva
geográfica. Neste âmbito, ocorreram ações como o recebimento de 50 famílias de fé Bahá’í
provenientes do Irã, em 1986 e, no ano seguinte, de diversos cidadãos latino-americanos que
eram perseguidos devido às ditaduras vigentes em seus países de origem, desta vez como
estrangeiros temporários, não de refugiados. Estas iniciativas, porém, demonstram a tendência de
se renunciar à reserva geográfica da Convenção de 1951. Em 1989, então, o Brasil finalmente
adere à Declaração de Cartagena, que expande o conceito de refugiado, rompendo com a reserva
geográfica e temporal.
Dado o exposto, a convenção de 1951 e o protocolo de 1967 certificam que
qualquer indivíduo em caso de necessidade pode exercer o direito de procurar e receber refúgio
em outro país, e os países signatários devem cooperar com o ACNUR para que esse possa
promover instrumentos de proteção aos refugiados e supervisionar sua aplicação.
Em 1995 o ACNUR é nomeado pela Assembleia Geral como responsável na
proteção dos apátridas (indivíduos que não possuem legalmente uma nacionalidade) e estabelece
um trabalho com os governos para a prevenção e solução dos casos de apátridas.
Posteriormente, em 2003 se encerra a cláusula que obrigava a renovação do
ACNUR de três em três anos, o que manifesta a percepção de que a problemática dos refugiados
é permanente e necessita de uma corporação encarregue-se pela causa.
Atualmente, estatísticas revelam que mais de 67 milhões de pessoas se encontram
na realidade de deslocados forçados, por motivos de perseguição políticas, conflitos armados e
violação dos direitos humanos.
A realidade é que 22 milhões de pessoas cruzam as fronteiras internacionais em
busca de refúgio e a população de apátridas chega a 10 milhões de pessoas, evidenciando a
importância da atuação do ACNUR em garantir o direito desses indivíduos.
Ademais, o ACNUR recebeu duas vezes o Prêmio Nobel da Paz (1954 e 1981), está
presente em cerca de 130 países e possui parceria com diversas organizações não
governamentais, além de se manter por meio de contribuições voluntárias de países, setores
privados e doadores individuais, possibilitando a proteção de mais de 67 milhões de pessoas.
Na ocasião da comemoração de 20 anos da Declaração de Cartagena, em novembro
de 2004, o Brasil inicia um programa regional de reassentamento de refugiados latino-
americanos.
Em conjunto com a sociedade civil e com o governo, a ACNUR trabalha para
oferecer a refugiados assistência médica e medicamentos, alimentação, proteção jurídica,
orientação e programas de integração no novo país, como a ocasião em que ofereceu
microcréditos para abertura de pequenos negócios a colombianos recebidos em 2004,
priorizando mulheres em situação de risco.
Ao analisarmos a relação do ACNUR no território nacional brasileiro, se torna
evidente o quanto o país possui um papel de destaque na proteção dos refugiados, em 1960 foi
o primeiro país do Cone Sul a homologar a Convenção de 1951, além de ser um dos primeiros
países integrantes do Comitê Executivo do ACNUR, dirigente pela aprovação dos programas e
orçamento da agência.

Referências:
MOREIRA, Julia Bertino. A problemática dos refugiados na América Latina e no
Brasil. Cadernos Prolam/USP, 2005, 4.7: 57-76.

BARRETO, Luiz Paulo Teles Ferreira (ed.). Refúgio no Brasil: a proteção brasileira aos
refugiados e seu impacto nas Américas. UNHCR, ACNUR Agência da ONU para Refugiados, 2010.

NAVIA, Angela Facundo; SÃO CLEMENTE, Rua. Administração de refugiados e


processos de formação de Estado: Institucionalização contemporânea do refúgio no Brasil.

Palavras-chave. ACNUR; Refugiados; Non-refoulemant. Não-devolução.

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