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CAVE
Uma comédia suburbana por
Alex Broun
2005
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Personagens
Max
Eileen
Homem de Negro/Soldado
Mulher
Cenário
A sala de jantar de Max e Eileen bem apresentada em estilo vintage, nos subúrbios
distantes de Sidney. Uma porta leva diretamente à cozinha e o corredor na esquerda vai
até à porta principal.
Também há uma porta na parede de trás entre as fotos ricamente emolduradas. Iremos
descobrir depois que esta porta nos leva até à cave.
O centro de mesa, a mesa e as cadeiras têm uma aparência bem cuidada.
Tempo
Fim de tarde de quinta. O presente.
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AS LUZES ACENDEM SOBRE EILEEN QUE ESTÁ A DAR OS ÚLTIMOS RETOQUES AO
PÔR A MESA COM UM EXPLENDOROSO SERVIÇO DE LOIÇA ESPANHOLA. ELA VAI
CANTAROLANDO ENQUANTO FAZ A TAREFA.
MAX – E então?
PAUSA.
EILEEN – Pronta!
EILEEN – Sim!
MAX – Mas eu ainda não bebi nada. Sabes que eu não sou muito bom nisto sem bebida.
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EILEEN LEVANTA DRAMATICAMENTE O SEU BRAÇO E APONTA PARA O OUTRO
LADO DA SALA.
MAX – Mas...
EILEEN – Já!
EILEEN – Cala-te.
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EILEEN – Tu não te aguentas.
MAX – Desculpa, quer dizer não estou a pedir desculpa. Eu quero dizer desculpa por ter
pedido desculpa. Mas eu não estou arrependido de ter pedido desculpa. Desculpa.
EILEEN – Porque é que não podes ser sempre como és quando dançamos? Forte,
másculo, calado. (Tapa-lhe a boca) Não o digas. Porque é que tens sempre de estragar
tudo?
EILEEN – (Retira a mão) O facto de seres alguém que está sempre a pedir desculpa. A
pessoa que és quando dançamos nunca pensaria sequer em dizer essa palavra.
EILEEN – Nunca.
MAX – Nem mesmo se ele o fizesse duas vezes? (Eileen abana a cabeça negativamente)
três vezes? (Eileen abana a cabeça negativamente) Cinco vezes? (Eileen abana a cabeça
negativamente) Dez vezes?
EILEEN – Nem sequer se ele me esmagasse os pés até eles sangrarem por todo lado
como um gaspacho andaluz.
EILEEN – Desesperado.
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MAX – Não estás a ser lá muito carinhosa.
EILEEN – Isso é o que tu devias ser. Fuerte, de gran alcance, masculino. Forte, poderoso,
másculo.
EILEEN – Mas em vez disso tu és debil, patetico, desesperado. Diz. Anda lá – diz. Debil.
MAX – De-bil.
MAX – Debil.
MAX – Patetico.
MAX – Desesperado.
EILEEN – Desemerda-te.
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MAX – ao dizer aquela palavra?
EILEEN – Tu.
MAX – Muito bem. Eu vou tentar não fazer isso da próxima vez.
EILEEN – Muito boa ideia. Devias tentar tentar ser menos “tu” com mais frequência.
MAX – Tá percebido.
MAX – Não faz mal ser seca. Desde que o sejas num clima carinhoso.
MAX – Dá próxima vez que eu te trincar os pés – eu não vou querer saber.
EILEEN – Isso.
MAX – E eu vou trincar, e trincar e trinar. Como se eu fosse um Matador num anillo de
toros.
EILEEN – Fuerte.
MAX – Eu vou trincar os teus dedinhos como se eles fossem pequenas laranjas, prestes a
rebentar. E mesmo que grites de dor, eu não vou parar.
EILEEN – Masculino.
MAX – (A bater os pés como um matador) Vou trincar, e trincar e trincar, enquanto eles
rebentam, e rebentam e rebentam.
EILEEN – Sim?
MAX – Como o sangue que escorre do manto de S. José na pintura do grande Diego
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Velásquez -
MAX – Eu vou esmagar as tuas mãos – duas vezes – cada uma – e sair da villa de
rompante, batendo com a porta.
MAX – Agora -
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EILEEN – Espera um segundo.
EILEEN – Bem.
MAX – Ah as Tapas. Uma maneira perfeita de começar la cena – el menu del dia más
grande. Jantar – a melhor refeição do dia.
EILEEN – (pousando as tacinhas) Devo dizer que a tua pronúncia também está excelente.
EILEEN – Impressionante.
EILEEN – Duas.
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MAX – (cabisbaixo) oh claro.
MAX – Ah, que giro – que jogo apetitoso. (Pega numa tacinha) Ok, o primeiro é fácil.
Pequenos cubos de batata – cortados profissionalmente, devo dizer -
MAX – Parecem -
EILEEN – Cheira.
MAX – (Ele cheira) Alho. Gambas al ajillo – ou como lhe chamamos – gambas ao alho.
EILEEN – (Dá-lhe outra taça) Não fiques convencido, vai ficar mais difícil.
EILEEN – Oh pois é.
EILEEN – Acertaste.
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EILEEN – Oh esta era fácil.
EILEEN – Pára Max. Tens é a mania. (Entrega-lhe uma taça) Agora esta.
EILEEN – Em...
EILEEN – Ou seja?
EILEEN – É muito esperto, mas é para o que lhe interessa. (Dá-lhe outra taça) Agora a
última.
EILEEN – Ou seja...
MAX – Sim.
EILEEN – Ela achava que tinha o jogo ganho. Mas eu – eu dei-lhe uma coça. Aquela
obesa, condutora de BMW e ruiva falsa. Devias ter visto ela a tentar chegar ao meu
serviço com efeito. Como uma baleia. Uma baleia encalhada com pequenas barbatanas.
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A cara vermelha como um tomate, tal como o cabelo. As mamas quase a sair fora
daquele estúpido vestido branco. Ela de branco – pois sim, a esbracejar aquelas
barbatanas nojentas. (Faz barulho de baleia)
MAX – Eileen.
EILEEN – Sabes, eu ouvi que ela tem um caso com o rapaz que lhe veio consertar o
forno. Ele consertou mais que isso. O rapaz do forno. Ainda por cima era libanês! Ugh!
MAX - Fico feliz pro reviveres o grande triunfo de hoje, mas eu preciso mesmo de saber-
(segura a taça) o que é isto?
EILEEN – Oh, carne de vaca salteada, galinha e chouriço com um leve molho de tomate
adocicado.
MAX – Tu pareces...
EILEEN – Sim.
EILEEN – Deve ter sido do tango quente e forte. Fiquei toda entusiasmada. Então o que
vais fazer em relação a isso?
EILEEN – E depois?
EILEEN ENFIA UMA MÃO DENTRO DE UMA DAS TAÇAS E TIRA-A CHEIA DE MOLHO
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DE TOMATE QUE ESCORRE PELO DEDO ABAIXO. ELA LEVANTA O DEDO EM
FRENTE À CARA DO MAX E COMEÇA A LAMBER O DEDO.
EILEEN – Deixa.
EILEEN FRENETICAMENTE FAZ SINAIS PARA O MAX NÃO DIZER QUE ELA ESTÁ EM
CASA.
MAX – Só a jantar./ Sim ela está aqui. Queres falar com ela?
MAX – (para o telefone) Espera um pouco, Yazz. A tua mãe está a tentar dizer-me alguma
coisa. (Para Eileen) O que é querida?
EILEEN – Olá querida. O que te disse sobre nos ligares a esta hora?/ Estamos a meio do
jantar. E se tivéssemos convidados? Muito constrangedor. Já te pedimos para teres mais
consideração./ Quando é que partimos? Na próxima terça. Porquê?/ Tu e o Rodney
querem vir connosco, que ideia adorável. Mas infelizmente não vai ser possível querida.
Completamente cheio./ Não, completamente. Outra pessoa tentou reservar o mês
passado e disseram-lhe (a gritar.) “Vai te lixar”./ Não querida, não podem fazer nada. Eles
apenas têm um certo número de lugares e por isso é que disseram a este casal (a gritar.)
“Desamparem-me a loja”./ Sim vai ser maravilhoso. Não te preocupes. Enviamos-te um
postal./ Porque não tentas Bali? Ouvi que ficou muito barato desde que aquelas pessoas
foram pelos ares./ (Faz sons de foguete a rebentar.) O que foi querida? Desculpa não te
consigo ouvir. Eu acho que a paella está a botar por fora. (Mais sons de foguete a
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rebentar.) Tenho de ir. Beijinhos ao Rodney. (Mais um foguete a rebentar) Adeusinho.
MAX – Desss -
EILEEN – Quer dizer – tu. Ela liga-me três vezes ao dia. Todos os dias.
EILEEN – Oh nada.
EILEEN – Não era. Agora come – A tua tortilla está a ficar fria.
EILEEN – (Sarcástica) Oh, adoro quando ficas agressivo. Ela queria vir na viagem.
EILEEN – Estás a gozar? Não a quero atrás de nós a fazer birras para baixo e para cima
em Benidorm.
EILEEN – Porque esta viagem é para mim. Quero dizer – Para nós. Para que tenhamos
algum tempo de qualidade – sozinhos. Sem stresses e sem dramas.
EILEEN – Não! N-ã-o. Se queres que eles vão podes ir sozinho. Eu fico atrás.
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PAUSA.
EILEEN – Bem, pensaste mal. Agora cala-te e coe as tuas almôndegas picantes.
MAX – Acho que tens razão. Além disso, onde é que foram o dinheiro de repente?
EILEEN – O quê?
MAX – Desde quando? Foram a Byron Bay o mês passado. À Golden Coast no mês
antes desse.
MAX – Sim – mas com quem? Ou talvez essas viagens não fossem para férias. Talvez
estivesse a fazer alguma entrega internacional.
MAX – Não? Transportar algum pacote castanho e pequeno para outro país?
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EILEEN – Apenas recentemente comecei a reparar em como pequeno e cruel te tornas-
te. Pequeno e cruel.
MAX – Não tens simplesmente esse tipo de dinheiro por aí à mão de semear.
EILEEN – Débil.
MAX – A não ser – Tu própria disseste uma vez que a tua cabeleireira achava que o
Rodney -
EILEEN – Desesperado.
EILEEN – Eu penso nisso se quiseres? Penso que o homem com que a nossa única filha
vive pode ser um traficante de droga. Penso que ela vive às custas dos seus ganhos
sujos. Penso que ela pode ter de sair do seu apartamento multimilionário com vista para a
praia de Bondi. Penso que ela pode ter de voltar a viver connosco!
PAUSA
MAX – Tens razão. Ele trabalha apenas para uma companhia fantástica.
EILEEN – E férias!
MAX – Pode ser. Deixa-me congratular-te novamente por esta excelente Ropa Vieja.
Verdadeiramente deliciosa.
EILEEN – Obrigada amor. Significa muito para mim ouvir-te dizer isso.
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MAX – O prazer é todo meu.
MAX – Muito.
MAX – Bem Toledo tem a requintada Catedral e a igreja de San Tome, casa da obra-
prima de El Greco's “El Entierro del Conde de Orgaz”.
MAX – Mas depois se apanharmos o comboio para La Mancha – Que é, claro, o famoso
local do romance épico de Cervantes - “Don Quixote”.
MAX – Moinhos.
EILEEN – E o … (GESTICULA DE NOVO)
MAX – O burrinho.
MAX – Muito.
.
EILEEN – Não é bom que apesar das nossas pequenas diferenças de opinião -
MAX – Sim.
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MAX – Digamos antes um desejo para que eles se tornem independentes.
MAX – E eu a ti amor.
BRIDAM E BEBEM.
MAX – Não entendo como tens tempo de cozinhar um banquete destes. Com o ténis e -
EILEEN – Tennis.
MAX – E -
EILEEN – Tennis. Tu sabes eu arranjo um tempinho. E diz-me uma coisa amor, como foi o
teu dia?
EILEEN – E produtivo?
EILEEN – Praticado?
EILEEN – A sério?
MAX – Sim.
MAX – De todo. O castelhano é uma língua muito popular. Ficarias surpresa com a
quantidade de pessoas que sabem algumas palavras.
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EILEEN – Portanto, como é que tu fazes?
MAX – Bem, eu apenas escolho uma pessoa que aparente saber falar um pouco.
EILEEN – De castelhano?
MAX – Exatamente.
EILEEN – Onde?
MAX – No comboio.
MAX – Normalmente.
MAX – Europeu.
EILEEN – Quer dizer que as pessoas apenas iniciam conversas com eles – nos
comboios?
MAX – Sim.
MAX - C'um caneco! Tive as mais fascinantes trocas de palavras. Ainda hoje estive a falar
com um português -
EILEEN – Português?
MAX – Muito parecido com o castelhano. É logo na porta ao lado. E nós tivemos a
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conversa mais extraordinária sobre o aniversário.
EILEEN – Aniversário?
MAX – Não muito mais atual. A explosão. O país inteiro parou em comemoração solene -
EILEEN – Na explosão?
MAX – E na televisão.
MAX – E na rádio.
MAX – Acho que este incidente não foi mencionado pelo Sidónio.
MAX – Não querem ouvir falar de grandes eventos mundiais como este.
EILEEN – Completamente.
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MAX – Estraga-te a ida para o ténnis.
EILEEN – Completamente.
EILEEN – Se tira.
MAX – Tal como a bomba deu cabo do dia às pessoas que iam no comboio.
EILEEN – Não te armes em espertinho. Não te fica bem. (PAUSA) Eu não acredito que
não me contaste, quando é que me ias dizer este pequeno detalhe? Quando tivéssemos
a entrar no comboio – para Madrid.
EILEEN – Bem mas não. E da próxima vez agradecia que não ocultasses detalhes
históricos tão importantes.
EILEEN – Pára de ser tão evasivo. Eu apenas tenho de saber sobre coisas que mexam
com a minha segurança. Especialmente em países onde as pessoas são detonadas em
comboios. (Levanta-se) Pergunto-me se é demasiado tarde para mudar a nossa viagem.
Acho que eles têm uma aventura de sete dias nos Alpes Suíços que me soa bem. Algum
comboio explodiu lá recentemente?
EILEEN – Não foi o que os passageiros do comboio disseram à medida que os assentos
foram desaparecendo debaixo dos seus rabos.
MAX – Foi apenas uma bomba num comboio. E foi só porque um grupo terrorista queria
que Espanha retira-se as suas tropas do Iraque, o que acabou por acontecer quando o
governo mudou, por isso por agora não devem haver mais bombas nos comboios.
EILEEN – Okay – nessa frase – da qual eu não percebi metade – mas o que eu percebi –
foi que nela existiam uma série de palavras emotivas. Essas palavras foram – terrorista,
Iraque, bombas, comboios, Espanha. Eu mencionei os terroristas? Pensei que ia para a
Costa Brava para uma fiesta seguida por uma siesta numa Villa na sonolenta, suculenta
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Espanha – e agora descubro que estou a caminho de um dos maiores “focos mundiais”
para arriscar a minha vida num passeio emocionante num comboio armadilhado com
terroristas do Iraque.
EILEEN – Melhor ainda. O facto de não ser o Osama Bin Laden que rebentará comigo. É
o seu irmão – Sanchez. Vou certificar-me que me lembro disso enquanto a minha cabeça
é separada das minhas omoplatas.
EILEEN – Como é que eu estou a exagerar? Em oito dias estarei sentada num assento
que alguns dias antes foi enviado numa viagem só de ida para a lua – Juntamente com o
traseiro do seu antigo passageiro. Eu não estou a exagerar!
EILEEN – Não, mais sangria não. Chianti (vinho italiano), apenas Chianti.
EILEEN – É de Sevilha.
MAX – Laranja?
EILEEN – Valência.
MAX – Manteiga?
EILEEN – Não sejas estúpido. Não posso comer manteiga. Pensa no meu colesterol.
MAX – Okay então – Não comas nada. Senta-te e ouve-me. Com muita atenção. Agora tu
sabes – Eu digo sempre a verdade. Sempre. Eu acho muito difícil mentir.
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EILEEN – Max honesto.
EILEEN – Não. Itália está muito perto de Espanha. Suécia. Eu quero ir à Suécia.
Agradável e fria. Demasiado fria para os terroristas suecos. Muita neve.
MAX – Okay – eu não estou a gritar. Eu estou a falar com uma voz muito calma e racional
e estou a explicar o porque é que é suficientemente seguro irmos a Espanha. (PAUSA)
Ora bem, há muitos anos havia um governo conservador em Espanha -
EILEEN – Fizeram eles muito bem – muito boa ideia. Saddam Hussein era um louco.
EILEEN – Terroristas?
MAX – Não tenho bem a certeza – não acreditavam na guerra, ou pensavam que a guerra
era só por causa do petróleo, ou então achavam que a Espanha não tinha de se meter.
EILEEN – Fracotes.
EILEEN – Bem, isso faz sentido. Não acreditas em violência então rebentas com um
comboio.
EILEEN – Terroristas.
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MAX – De qualquer forma, esse atentado abalou muito as pessoas -
EILEEN – Tal como as mulheres que estavam a preparar um bom jantar para os seus
maridos e, de repente, descobrem que estes não voltarão para casa por as cabeças estão
em Madrid e as pernas estão em Córdoba.
MAX – Eles acharam que depois a investigação foi mal gerida. Haviam rumores de
encobrimento.
EILEEN – Quem é que liga a rumores? A não ser, claro, que sejam sobre a Renee, que no
caso dela provavelmente são verdade.
EILEEN – Socialistas?
MAX – E devido a pressão pública eles retiraram as suas tropas do Iraque, o que deixou
os terroristas felizes, acho eu – ou talvez os tenham prendido – portanto, acabaram-se as
bombas. Nos comboios. Nunca mais.
EILEEN – E tu queres que eu – vá para esse... país – de férias? Não só são governados
por socialistas como têm terroristas a vaguear pelas ruas – para não falar nos comboios –
mas depois cedem a esses terroristas, e retiram as suas tropas de países maus como o
Iraque, para que malucos como Saddam Hussein e Osama bin Laden possam sair ilesos
e consegam que mais terroristas cheguem a países bons como o nosso, e rebentem com
mais comboios, para que mais maridos não voltem a casa para o jantar, que elas
passaram uma hora e cinquenta e seis minutos a fazer. Já chega. Dá-me o telefone –
vamos trocar pela Suécia.
MAX – O quê?
OUVE-SE NOVAMENTE.
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EILEEN – Lá está outra vez.
EILEEN – C'um caraças! Este foi forte. Acho que vem da cave.
EILEEN – Bem, nós temos – e está alguma coisa lá em baixo. Alguma coisa que remexe.
EILEEN – Parem. Parem com isso aí em baixo. Parem com esses barulhos.
EILEEN – Estás a gozar? É uma cave. Eu não vou à cave. É fria e húmida e há coisas a
crescer lá em baixo.
MAX -Tenho pena de não ter sabido antes dessa cave. Podia tê-la transformado numa
bela adega. Em vez de ter colocado aquelas garrafeiras todas no antigo quarto do
Jeremy.
MAX – E depois?
MAX – Mas como? Se nunca estiveste lá em baixo e eu nem sequer sabia que tínhamos
uma – como é que eu entro lá?
EILEEN – (Apontando para a porta na parede de fundo) Não sejas tão estúpido. Por
aquela porta. No meio das pinturas do António Pedroso.
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MAX – Como é que sabes isso?
EILEEN – O eletricista veio outro dia verificar o contador e entrou por aquela porta. Agora
que penso nisso, eu não me lembro de ele ter voltado. Se calhar ainda está lá em baixo.
(Chama) Hei, tu – sai daí para fora. Acho que já tiveste tempo suficiente para verificar o
contador.
EILEEN – Woah! Ouve este barulho. Agora tirámo-lo do sério. De certeza que nos vem
atacar.
MAX – Bem, acho que é melhor dar uma vista de olhos. (Saindo) Volto já.
MAX – Vou precisar de uma tocha. Como disseste – está escuro lá em baixo. Há uma na
garagem.
EILEEN – Vais para a garagem e deixas-me aqui sozinha com aquela – coisa –
barulhenta.
MAX – De que adianta descer até lá baixo se nem vou conseguir ver o que é quando a
encontrar?
EILEEN – Pega.
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MAX – Como é que me posso armar se eu nem sei o que vou combater?
EILEEN – Pega nisto. Tudo o que sabemos é que é uma coisa que remexe. As facas são
boas contra coisas que remexem.
EILEEN – Então mata-o na mesma. E o que quer que seja – certifica-te de que não teve
bebés.
MAX – Sim. Estou a ir. (Continua sem se mexer) Talvez me possas dar um
empurrãozinho.
MAX – Engraçado. Nunca sequer tinha reparado que esta porta estava aqui.
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EILEEN – Não te esqueças de fechar a porta.
MAX – Tem mesmo de ser?
ELA OLHA PARA UMA DAS TIJELAS. LENTAMENTE AGARRA UMA. OLHA PARA A
COMIDA NO SEU INTERIOR E CHEIRA.
ELA GOSTA DO CHEIRO E PEGA NUM GARFO. ELA PROVA A COMIDA. SOLTA UM
PEQUENO SUSPIRO DE PRAZER E COMEÇA A DEVORAR A COMIDA.
EILEEN – Max – não há nada na tua faca. Esmagaste-o com os pés? Mostra-me as tuas
solas.
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EILEEN – Não brinques. O que é?
EILEEN – Um remexer.
EILEEN – Um quê? (Agarra a faca e segura-a contra a garganta dele) Pelo amor de Deus
diz-me o que ouviste!
MAX – Hummm... um gemido. Fiquei quem tão surpreendido que deixei cair a vela.
EILEEN – Deixaste cair a vela? Agora vamos ficar estorricados como um frango de
churrasco.
MAX – Rolou pelas escadas e apagou-se. Estava tão escuro que não conseguia ver nada
– então decidi voltar para trás.
EILEEN – Se calhar aquelas muito grandes. Se calhar é uma muito grande a gemer
porque não come ninguém há mais de uma semana.
MAX – Humano.
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MAX – Eu acho que não é o eletricista.
EILEEN – Numa palavra – sim. E não olhes para mim assim. Se tivesses feito tudo como
deve de ser da primeira vez, eu não precisava de te mandar de volta para o território
inimigo.
MAX – Fazes com que isto pareça uma missão ultra secreta.
EILEEN – E é. Uma missão ultra secreta na nossa cave, onde nenhum homem antes se
atreveu a ir. Exceto o eletricista.
MAX – E eu.
EILEEN – Exatamente. Vais deixar a missão por cumprir. Não? Volta lá para baixo!
MAX – (breve pausa) Posso comer um pouco da omelete antes de voltar a descer?
EILEEN – Boa sorte. E não deixes cair a vela desta vez. É a última.
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MAX FECHA A PORTA ATRÁS DE SI.
EILEEN BRINCA COM A TIGELA DAS GAMBAS COM ALHO. ELA COLOCA UM NA
BOCA.
MAX – Voltei.
EILEEN – Então?
EILEEN – Eu sabia. Uma gata vadia daqui de roda - no cio - rastejou para dentro da
nossa cave para parir os seus pequenos roedores.
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EILEEN – Então uma cadela rafeira dos arredores. Já disse à Câmara para os juntar
todos e abatê-los.
MAX – Não.
EILEEN – Não é uma ratazana pois não? Uma ratazana cinzenta e imunda a despejar a
sua prole maligna.
EILEEN – Então que diabo é? Um hipopótamo pigmeu que rastejou para fora do esgoto.
MAX – Sim.
MAX – Não sei. Ela não falou. Acho que estava demasiado assustada.
EILEEN – Eu também estaria assustada se estivesse lá em baixo. Bem, como é que ela
era?
MAX – Difícil de dizer. Só lhe consegui ver a cara. Parecia bastante nova, com trinta e
poucos anos, mas os olhos pareciam velhos – como se tivesse uma grande mágoa.
EILEEN – Estar fechado na nossa cave provocaria a qualquer um uma grande mágoa.
Mas o que é que achas? É alguma mendiga daqui? De qualquer modo devo dizer que
nunca pensei que fossem tão comuns por estes lados. É uma drogada? Um segredo
sombrio de um dos vizinhos, a filha perdida que saiu dos eixos. Não descartaria nehuma
hipótese. (DE REPENTE) Jesus! Ela não é... não é...
EILEEN – Sim, mas como é que sabes. Como pode qualquer um de nós saber? Aqueles
socialistas no comboio em Espanha sabiam? Ela pode ter uma (SUSSURRA) bomba.
EILEEN – (GRITA) Bomba! Se ela tem uma bomba diz-lhe que este é o lugar errado. A
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estação de comboios é dois quarteirões à esquerda mais abaixo. Ou diz-lhe para ir
rebentar a casa da Renee. Eu dou-lhe a morada. (AGARRA UM LÁPIS) Na verdade, até
lhe desenho um mapa.
MAX – Não acho que ela seja uma terrorista e não acho que tenha uma bomba.
MAX – Foi a sensação que tive quando estive lá em baixo – perto dela.
MAX – Perto o suficente. Eu não acho que ela nos queira magoar.
EILEEN – Pois, mas como é que tu sabes – com certeza? Estás armado em maricas
agora Max? Sabes o que acontece quando ficas assim? As pessoas aproveitam-se. És
usado, abusado e depois assassinado. Ou rebentam-te em niscas com a bomba dela.
EILEEN – E desde quando é que tens “sensações”? Então o que lhe disseste para fazer?
“Põe-te a andar.” “Some-te da minha frente”.
MAX – Não disse nada. Não tenho a certeza se ela fala a mesma língua.
MAX – É apenas uma mulher muito aterrorizada a precisar de ajuda. Eu desci as escadas
lentamente, desta vez, certificando-me que não deixava cair a vela. Cheguei lá abaixo e
olhei em volta. Levantei a vela para tentar iluminar a cave. É um espaço bastante grande.
Deve ocupar o tamanho todo da casa. Espanta-me nunca ter percebido que aquela
divisão estava ali.
MAX – Eu não estava a pensar direito, o meu coração estava a bater demasiado
depressa, pensei que ia morrer.
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EILEEN – (À PARTE) Não tenho dessas sortes.
MAX – O quê?
MAX – Mas fosse o que fosse eu sabia que tinha de descobrir. Não podia voltar cá para
cima sem saber o que era, podia?
MAX – Foi então que percebi que o som não era um guincho. Era uma voz – uma voz
humana – a sussurrar – numa língua que não percebi.
MAX – Então percebi que o sussuro não era um sussurro – era uma oração. Ela estava a
rezar.
MAX – De repente, apercebi-me que ainda estava a segurar a faca. Estúpido. Se ela a
visse, o que iria pensar? Iria assustá-la ainda mais. Então pousei a faca.
EILEEN – Mesmo quando ainda nem sabias se era uma mulher, podia ser o própria
Sanchez Bin Laden.
MAX – Portanto, pousei a faca e levantei a vela até à minha cara para que ela pudesse
ver os meus olhos. É a forma que comunicas quando não consegues usar palavras. É
através do olhar.
MAX – Foi então que aconteceu. À vela em frente à minha cara a iluminar os meus olhos.
Ela deve ter sentido alguma coisa em relação a mim – alguma coisa pacífica -
EILEEN – Debil.
MAX – E de repente ela levantou a cabeça e olhou para mim. Os nossos olhares
cruzaram-se – e nesse momento a comunicação fluiu entre nós – muito mais do que as
palavras poderiam dizer.
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EILEEN – Até parece que gostas dela.
MAX - “Não tenhas medo, não te vou magoar”. Foi que os meus olhos disseram. “Estou
assustada, preciso de ajuda” foi o que olhos dela responderam.
MAX – Os nossos olhos. Estávamos a falar através do olhar. “Eu sou um amigo. Eu vou
ajudar-te.”
MAX – Depois, não havia mais nada a dizer. Já tínhamos dito o suficiente. Ela entendeu-
me e eu entendi-a. Então pousei a vela no chão para a deixar ca om alguma luz.
EILEEN – Ser um Homem. Fuerte, de gran alcance, maculino. Agarra-la por uma orelha e
atira-la para o meio da rua.
MAX – Não lhe vou dar um pontapé no cú, ou em qualquer outra parte do corpo.
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EILEEN – Não vais não. (AGARRA A FACA) Se não és homem suficiente para te livrares
dela – então vou eu.
EILEEN – Vou sim. A esgravatar na nossa cave – temos de nos livrar dela. Tem de ser
feito e sou eu que o vou fazer.
MAX – Não.
EILEEN – Primeiro infiltra-se pela nossa cave para nos dar uma falsa sensação de
segurança e depois tentam surpreender-nos pela porta da frente.
MAX – Escuta, ela não é uma terrorista. Nem quem quer que esteja a bater à nossa
porta.
MAX – Então pensa nas hipóteses. A hipótese de ser alguém que conheças – como a
Renne ou o senhor Reed, o vizinho do lado ou até o Jeremy -
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EILEEN – Nós expulsámo-lo - há 6 meses atrás. Aquele malandro vadio.
MAX AFASTA O BRAÇO DELA E A EILEEN ATIRA-SE A ELE OUTRA VEZ. DESTA VEZ
MAX AGARRA O BRAÇO DELA E TORCE-O PARA TRÁS DAS COSTAS E TIRA-LHE A
FACA DA MÃO.
MAN IN BLACK - Desculpem. Estava farto de esperar e por isso meti a porta dentro.
Espero que não se importem.
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MAX – Quem és tu?
EILEEN – Pois, não podias ser o homem verde alface, pois não?
HOMEM DE NEGRO – Não há desculpa – mas não tenham medo. Eu estou aqui.
EILEEN – E voltou a fazê-lo. Alguém arromba a tua porta e pedes-lhe desculpa. Patetico.
HOMEM DE NEGRO – Desculpem mas nós não temos tempo para esta briga doméstica
insignificante -
HOMEM DE NEGRO – Vocês têm uma situação – e eu estou aqui para a resolver.
HOMEM DE NEGRO – Os nomes não são importantes – Eu sou o homem que veio
resolver a vossa situação. Chamem-me “Homem Resolvedor de Situações”.
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HOMEM DE NEGRO - Não quero saber de brincadeiras. Sabes muito bem qual é a
situação. Tiveste um contacto com uma M.N.I. Nós acreditamos que ela possa ser uma
P.T.
HOMEM DE NEGRO – Toda a gente pode ser terrorista. Devemos permanecer atentos e
alerta.
MAX – Pára com isso! Se toda a gente pode ser terrorista, então deves assumir que nós
também podemos ser terroristas.
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MAX – Não me dediquei a nada.
MAX – Não.
HOMEM DE NEGRO – Tem a certeza de que ela não é uma terrorista? Ela tem os olhos
sensuais e a pele bronzeada de uma tentadora terrorista.
MAX – Olha, esta é a minha mulher Eileen Bortam. Eu sou Max Bortam – o seu marido e
esta é a nossa casa. E ela não é uma M.N.I. A M.N.I. está na nossa cave.
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MAX – Sim, mas ela só é uma M.N.I. porque ainda não sabemos quem ela é.
MAX – Sim.
MAX – Não, claro que não é cem por cento – cem por cento. Mas é muito pouco provável.
EILEEN – E.T.?
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EILEEN – É isso, chega-lhe!
HOMEM DE NEGRO – Posso assegurar-lhe senhor. Estou tão longe de se tolo quanto um
tolo pode ser. Agora – ao trabalho.
HOMEM DE NEGRO – Obrigado senhora. Vou desfrutar mais da sua companhia no meu
regresso.
MAX – Não. Não vou deixar que uses essas coisas nela. Ela não fez nada.
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EILEEN – Bem dito.
EILEEN – Boa sorte nosso bravo herói. Estaremos a rezar por ti.
SILÊNCIO
MAX – Acabou.
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EILEEN – Bem – aquilo serviu de lição.
EILEEN – OoooH, estás todo suado e... o que é essa coisa vermelha?
EILEEN – Uh querido. Que estavas à espera? Que ele fosse lá abaixo fazer-lhe uma
surpresa.
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EILEEN – O que é que isso interessa?
HOMEM DE NEGRO – Estes são tempos complexos, MAX. Tempos complexos. O que é
necessário é cabeça de pedra e coração frio.
HOMEM DE NEGRO – Ou isso. O que não precisamos agora é que a pessoas comecem
a falhar.
HOMEM DE NEGRO – Isso – como dizem – não é problema meu. Obrigada pela
jantarada. Vou bazar.
EILEEN – Não. Não vás. Nós ainda não... te mostrámos o quão gratos estamos.
HOMEM DE NEGRO – Não é necessário gratidão. (PARA O MAX) Que lhe sirva de lição.
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EILEEN E DO MAX. UMA DANÇA DE LUXÚRIA E CALOR.
MAX – Gostaste?
MAX – Assim que isso te passar. Chega aqui e dá-me uma mão. Vamos enterrá-la no
jardim.
MAX – Esquece.
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EILEEN – Desculpa, são as minhas coxas a tremer.
O FUMO CAI SOBRE O PALCO ONDE ESTAVA A PAREDE, FILTRANDO A LUZ VERDE
FRACA.
EILEEN – Achas que o nosso seguro cobre isto? Pergunto-me se eles classificariam isto
como um ato de Deus - “campo de batalha aparece repentinamente na sala de estar”.
(TOSSE) E esta fumarada toda? Cheira a...
MAX – Pólvora.
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UMA FIGURA EMERGE ATRAVÉS DO CAMPO DE BATALHA FUMENGANTE EM
DIREÇÃO A ELES.
MAX – Jeremy?
SOLDADO - Pai.
SOLDADO – Mãe.
MAX – Ele achava que ias pensar que ele era um fracasso.
MAX – Ele achou que ias pensar que ele era um fracasso ainda maior.
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EILEEN – Isso seria muito difícil.
EILEEN – (A referir-se ao cantil) Não bebas disso. Uma central de doenças. Deixa me
arranjar-te um copo.
EILEEN OFRECE ÁGUA AO SOLDADO. ELE DERRUBA O COPO DA MÃO DELA PARA
O CHÃO.
SOLDADO – Baixa-te!
SOLDADO – Eles sabiam que vinha-mos, estou vos a dizer. Eles sabiam! Nojentos.
Montaram-nos uma emboscada.
EILEEN – Talvez ele tenha jogado demasiados video jogos. Eles dizem que o halo2 é
bastante imersivo.
SOLDADOS – Nós eramos como patos. A sair dos barcos, a tropeçar uns nos outros, a
cair na areia. Caçaram-nos um a um. Eu vi-os a morrer, todos eles. Fui atingido abaixo do
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joelho. Não sinto a perna. Achas que a vão cortar? Ouvi dizer que cortavam se não a
sentisse.
SOLDADO – Mas eu continuei em frente. Rastejei pela praia, arrastando a minha perna
morta atrás de mim. Mantive a cabeça baixa. As balas rebentavam à minha volta. Passei
por cadáveres. Gajos com as pernas arrebentadas. Cabeças abertas. Sangue e miolos
por todo o lado. Depois as balas diminuíram e a artilharia ficou mais silenciosa. Então as
balas pararam. Pus- me de joelhos e olhei para traz – A praia estava cheia de cadáveres.
Os meus camaradas. Rebentados pelos ares. Eu não ia voltar atrás, estás me a ouvir? Eu
não ia voltar atrás!
SOLDADO – Então continuei a rastejar até sair da praia. Nunca olhei para trás. Continuei
a avançar lentamente, até que, finalmente, era noite e eu estava muito longe daquele
lugar.
SOLDADO – Não lhe podes chamar isso. Eles estavam mortos. Não percebes? Todos
eles. Se eu continuasse também estaria morto. Apenas mais um morto com a cara
enfiada na areia. O que havia bom nisso?
MAX – Ouve filho, eu sei que é difícil mas quando te alistaste – independentemente do
porquê de te teres alistado – prometeste servir o teu país – venha o que vier. Nos altos e
baixos, nos bons e maus momentos.
MAX – Não podes simplesmente abandonar as coisas quando elas ficam difíceis.
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EILEEN – E eles vão porque nós vamos dizer onde é que tu estas.
MAX – Eles podem levar-te a concelho de guerra e até executar- te. É assim que queres
ser lembrado?
EILEEN – Pensa na minha reputação e na do teu pai. Nunca mais vamos poder erguer a
cabeça no bingo.
SOLDADO – Não pai. Eu juro. Eu amo-te mas, não me podes obrigar a voltar.
EILEEN – Então e eu? Tu não me amas. Por isso mexe esse rabo daqui para fora.
MAX – (INDO EM DIREÇÃO AO SOLDADO) Baixa a arma. Tu não nos vais matar.
MAX – (PARA EILEEN) Arruma isso. Tudo bem filho. Nós compreendemos.
EILEEN – Não, não compreendemos coisíssima nenhuma. O menino faz o favor de voltar
para a guerra! Ou então, eu não sei como esta coisa funciona mas assim que descobrir
eu – eu dou-te uma cacetada.
SOLDADO – Afastem-se.
EILEEN – Nós compreendemos filho. Nós não te iríamos obrigar a voltar para que
fizesses um dói-dói. Vamos manter-te aqui, seguro e quentinho. Vamos fazer-te uns
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ovinhos mexidos e uns feijõezinhos guisados. Tu sempre gostaste disso. E umas gomas
de soldadinho – tal como tu.
EILEEN – Pronto, pronto. Estás com a mamã agora. Seguro e quentinho. Aquele nojento
Johnny Turco já não te vai fazer mal. AH HA!
EILEEN FICA MUITO QUIETA. O MAX VAI ATÉ ELA E TIRA-LHE A ESPINGARDA. ELE
VIRA A ESPINGARDA E VOLTA A COLOCAR NAS MÃOS DELA, AGORA A APPONTAR
PARA O LUGAR CERTO.
EILEEN – Talvez. Sempre quis disparar em alguém – Só para sentir como seria. Tal como
aquela música daquele gajo.
EILEEN – Johnny...
EILEEN – Não tolo, não é o Johnny Turco. Johnny... alguma coisa a ver com dinheiro. Um
homem velho, mas com o cabelo ainda preto. Deve pintá-lo.
MAX – Cash.
EILEEN – Johnny Cash, é isso. (A CANTAR) “I shot a man in Reno, just to watch him die.”
Ou, no meu caso “I shot my son in a living room, just to see how it feels”. O que é que te
parece?
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SOLDADO – Eles encontraram-me. Tu disseste-lhes onde eu estava.
SOLDADO – Abriguem-se!
MAX – Não, ela estava, definitivamente... o seu corpo estava naquele canto, a sua cabeça
estava no outro, e as pernas estavam (APONTA PARA CIMA)...
SOLDADO – Não me apanham, sacanas. Eu não vou morrer por aqueles traidores.
EILEEN – O que quer que seja, está cada vez mais perto.
EILEEN – Esperemos que estivesse, ou ela vai estar muito, muito, lixada...
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EILEEN APONTA A ARMA PARA A PORTA.
EILEEN – (CANTA) “I shot a black bitch in the iving room, just to see how she bleeds.”
A ÚNICA PELE QUE VEMOS É O ROSTO, QUE ESTÁ COBERTO DE SANGUE, QUE
ESCORRE DE UMA FERIDA NO TOPO DO CRÂNIO.
EILEEN – Ora porra, esta cabra estúpida ainda está para as curvas.
EILEEN – (APONTA A ARMA) Pára a, querida. Agora volta para o buraco de onde vieste.
EILEEN – Estou-te a avisar. Nem mais um passo. Esta espingarda vem de longe e eu sei
usá-la – agora.
EILEEN – Eu sei, eu sei. (PARA A MULHER) Esta é a tua última oportunidade. Volta lá
para baixo.
EILEEN – Cala-te – estou ocupada! (PARA A MULHER) Esta é a última vez que te aviso.
EILEEN – Okay - mas não te esqueças – tu é que pediste. Aguenta a minha mão Johnny!
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O SOLDADO TAPA OS OUVIDOS, ENCOLHIDO DEBAIXO DA MESA, TRAUMATIZADO
PELO TIRO.
A MULHER PARECE NÃO SER AFETADA. ELA DÁ MAIS UM PASSO.
EILEEN – Se ela já está morta, o que é que está a fazer na nossa sala?
EILEEN – Docinho! Ela está a aproximar-se. (ELA PUXA O GATILHO DE NOVO. NADA
ACONTECE) Porque é que não está a funcionar?
EILEEN – O quê??
MAX – A coisinha!
EILEEN – Que se dane isto tudo. (LARGA A ARMA E EMPUNHA A ESPÁTULA) Vou usar
o mata-moscas.
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MAX – A cantar. Acho eu.
EILEEN – Que música de merda. (DÁ UM GRITO) Pára com isso, estás-me a ouvir?
Estás a tornar o nosso serão desagradável!
MAX – Cala-te.
OUTRA PAUSA.
EILEEN – Não senhora, não ficar aqui a ouvi este blá-blá-blá terrorista. Vou sacar da
artilharia pesada, que me deu o Homem de Negro em pessoa –
MAX – Uuups! Ela parou de cantar. Isto não vem coisa boa.
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EILEEN – Oi? Que diabo de língua é essa?
EILEEN – (A VER) Ugh... Eu não acho isso muito saudável. Sabes quantos tipos
diferentes de doenças é que ela tem?
SOLDADO – Eu te seguirei.
EILEEN – Yeah, ela pode estar morta, ser uma terrorista e falar uma língua esquisita –
mas hey, ninguém é perfeito.
EILEEN – Sangria?
MAX – Sim.
ELES BEBEM.
EILEEN – Sobre?
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EILEEN – Hey, espera um segundo. Olha lá para fora. Através do jardim. As rochas, a
praia.
BLACKOUT
FIM DA PEÇA
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