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A ODISSEIA
DE
ARLEQUINO
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PERSONAGENS
PANTALONE – É um velho rabugento e pão duro, dono de uma companhia teatral; quer
casar a filha Isabela com um bom partido.
CAPITANO – Diz ser o mais valente dos homens, mas é um soldado medroso e covarde.
PASCOAL – (um aluno no final entra de costas e ergue uma taça)É o cocheiro que adoece e não
consegue seguir viagem com a trupe teatral de Pantalone.
CENÁRIO
CARROÇA DOTTORE / CARROÇA PANTALONE Araras com pano de algodão cru. Cada
uma pintada com desenho de uma carroça. Um recorte na janela traseira de cada para os
personagens abrirem e gritarem durante algumas cenas .
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ABERTURA
MÚSICA: _____________________________
MÚSICA: ______________________
ARLEQUINO e ESMERALDINA são noivos e moram em Turim. Ela trabalha para a trupe teatral de Dottore.
ARLEQUINO acaba de perder seu emprego pela décima vez. ESMERALDINA decide falar com DOTTORE para ver
se ARLEQUINO pode ir para Veneza junto com eles, como cocheiro.
ARLEQUINO 1: - Ai, ai, ai... Esmeraldina! Não fique brava comigo! Não tive culpa nenhuma
desta vez.
ESMERALDINA 1: - Ah, não Arlequino! O patrão pediu pra buscar uma encomenda fora da
cidade, aí você volta sem encomenda, nem carruagem e ainda diz que a culpa não foi sua?
ARLEQUINO 1: - E não foi mesmo! Assim que cheguei na estrada com a carruagem, avistei
uma árvore com muitas frutinhas e ntão fiz uma pausa para descansar e comer! A culpa foi
do cavalo que deu um pinote e fugiu carregando tudo.
ESMERALDINA 1: - Arlequino, esse é o décimo emprego que você perde só neste mês.
Desse jeito nunca conseguiremos dinheiro para nos casarmos. Eu não sei mais o que fazer
com você!
ESMERALDINA 1: - Não vou lhe dar beijinho nenhum! Você tem que tomar um jeito na vida!
Vou falar com o Dottore agora mesmo para ele contratar você como cocheiro de nossa
caravana para o grande festival de teatro em Veneza!
ARLEQUINO 1: - Brilhante idéia, Esmeraldina! Assim você vai poder ficar pertinho do seu
Arlequinozinho fofinho e não vai mais morrer de saudade de mim.
ESMERALDINA 2: - Hum, pensando bem até que vou gostar... Vou e volto num instante.
Ainda tenho que arrumar os baús de Dottore, as roupas de Flamínia, os instrumentos do
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Horácio, além de preparar toda a comida que levaremos para a viagem. Ah, e até lá
Arlequino, não se meta em mais nenhuma confusão! (ESMERALDINA sai)
MÚSICA ____________________
ARLEQUINO 2: - Ah, não aguento mais esperar... Vou morrer de fome, de sede, de calor e
de cansaço por não fazer nada. (conversa com o estômago) E você bem que podia me dar uma
trégua! A culpa também é sua de ficar tremendo e gemendo. (olha para a plateia e sai de pé em pé
para a coxia) Ah, quem vem lá?
Pantalone, Isabela e Capitano se aproximam de Arlequino. Estão preparando a comitiva para ir ao grande Festival
de Teatro de Veneza. Mas estão atrasados porque o cocheiro não chegou. Arlequino ouve a conversa escondido.
PANTALONE 1: - Capitano, sem o Pascoal não podemos partir. Estamos todos atrasados e
nenhum de nós sabe conduzir a carruagem. Se não partirmos agora, não chegaremos em
Veneza. Accidenti!
ISABELA 1: (indignada) - Papai, não sei como o senhor foi confiar naquele patife. Pascoal deve
estar bebendo em alguma taberna. O fanfarrão não sabe fazer outra coisa da vida! (frustrada)
Ah, eu me preparei tanto para esta personagem... Vamos perder o festival de teatro!!
CAPITANO 1: - Calma, minha querida. Eu estou a seu lado e farei tudo o que for possível
para que a nossa trupe chegue a tempo de participar do festival.
PANTALONE 1: Doente? Mas como? O Pascoal é tão jovem e tão disposto. O que foi que
aconteceu?
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ISABELA 1: - Lombriga? Mas isso lá é motivo pra não vir com a gente?
CAPITANO 1: - Não te disse que eu daria um jeito de irmos a Veneza, minha doçura?
PANTALONE 1: - Deixe de falatório, Capitano. Você não deu jeito nenhum! (vira-se para
ARLEQUINO 3) Qual é o seu nome, meu caro rapaz?
ARLEQUINO 3: - Me chamo Arlequino Bordalo. Estou às suas ordens, meu novo patrão. Qual
será a forma de pagamento?
PANTALONE 1: - Se você é mesmo tão amigo de Pascoal, deveria saber que ele iria
(colocando a mão no seu saquinho de dinheiro) nos conduzir de graça pois ele concordou em receber o
pagamento somente depois da apresentação. Pagamento como ator, veja bem, e não como
cocheiro. Tem uma diferença enorme.
ARLEQUINO 3: (falando para a platéia) – Salário de ator deve ser melhor que o de cocheiro...
Vou aceitar! (vira-se para PANTALONE 1) Se o senhor se responsabilizar por deixar meu estômago
feliz no café da manhã, almoço e jantar, além de pequenos lanchinhos ao longo do dia, eu
aceito.
ARLEQUINO 3: - Mas, antes de partir, preciso deixar um bilhetinho para minha Esmeraldina.
Sem isso ela irá se preocupar.
ARLEQUINO 3: (sem graça) - É que hoje acordei com uma dorzinha nas mãos... Não vou
conseguir escrever... Mas posso ditar!
ISABELA 1: (percebe que Arlequino não sabe escrever) – Tudo bem, as minhas mãos não estão
doendo. Vamos ao bilhete!
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CENA 3 – DOTTORE, FLAMÍNIA, HORÁRIO, ESMERALDINA, PANTALONE e
ARLEQUINO
CENAS PARALELAS: Enquanto Isabela escreve o bilhete ditado por Arlequino 3, Flamínia o lê para Esmeraldina do
outro lado do palco
FLAMÍNIA: (mexendo com a boca, lendo para Esmeraldina)- “Minha doce e amada Esmeraldina, razão
do meu viver, passarinho da minha árvore, lua do meu céu, eu estou a caminho de Veneza,
pois tenho um novo patrão. Nos encontraremos na estrada. Agradeça a boa vontade do
Dottore Aretusi. Do seu ilustre, responsável, dedicado e apaixonado, Arlequino.”
ARLEQUINO: - Ficou muito bom, dona Isabela. Só acho que poderia ser um pouco mais
apaixonado. Conheço Esmeraldina, ela vai se zangar caso ache que eu...
PANTALONE: - Arlequino, não temos mais tempo! Essa é boa: mal conseguiu o emprego e
já está fazendo exigências! Vamos, temos que partir!
DOTTORE 1: (entrando com HORÁCIO) - Esmeraldina, você não me disse que Arlequino
precisava de um emprego? Horácio, meu filho, já dispensou o outro cocheiro?
HORÁCIO 1: - Sim, papai. Eu também disse para o senhor que não deveríamos confiar em
Arlequino. Agora é tarde demais!
ESMERALDINA 2: (percebe que vai levar bronca e muda de assunto) – Obrigada por ter lido a minha
carta, Flamínia. Eu acordei com a vista embaçada hoje e também um pouco rouca...
DOTTORE 1: - Não se faça de sonsa Esmeraldina! E, agora, quem irá conduzir nossa
carruagem?
DOTTORE 1: (pega seu livrinho)- Problema, problemus, problemum. Problema é uma questão
que precisa de solução. Solução é o nome dado para líquidos medicinais e científicos que
servem para curar pacientes. Paciente pode ser alguém que está sob cuidados médicos ou
que sabe esperar... A espera é um estado de inércia diante daquele que ainda não veio...
FLAMÍNIA 1: - Com licença, papai. Como todos já estão aqui, não precisamos esperar por
mais ninguém! Vamos?
FLAMÍNIA puxa uma fila em movimento sinuoso com todos indo para a coxia, mas DOTTORE e não pára de falar
DOTTORE 1: – Aquele que ainda não veio só pode ter se atrasado porque teve... um
problema! E o problema...
ESMERALDINA 2: (pára a fila e depois continua)- ...É uma questão que precisa de solução!
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DOTTORE 1: - Bravo, Esmeraldina! Até Veneza terei transformado você numa verdadeira
intelectual! Saberá o dicionário todo de cor. “De cor” significa gravar uma informação na
memória e no coração. O coração é o órgão que bombeia o sangue dentro do corpo humano.
O corpo humano...
MÚSICA __________________________________________
Todos saem da carroça em ordem: PANTALONE, ARLEQUINO, CAPITANO e ISABELA que estão com texto da peça
na mão.
PANTALONE 2: - Arlequino, agora que não temos mais o pascoal, você é o novo ator da
nossa trupe nesta “Epopeia” (entrega o texto na mão de ARLEQUINO que vamos representar...
ARLEQUINO 3: (revirando o texto de cima para baixo) - Oi?!! Epô... Epô o quê?
CAPITANO 2: - Ih, já vi que esta jornada não será fácil, Sr. Pantalone. Este criado sequer
sabe ler! Como é que vai decorar e interpretar um papel na nossa peça de teatro?
ISABELA 1: - Pare de ser desagradável, Capitano! Dá pra ver que Arlequino tem uma
excelente veia cômica. (tira o texto da mão de ARLEQUINO) Eu me encarrego de decorar o texto
com ele. E quem sabe não consigo ensiná-lo as letras do alfabeto?
PANTALONE 2: - Ai, como minha filha é bondosa, bonita e generosa! Puxou ao Pai!
ARLEQUINO 4: - Olha dona Isabela, eu fico muito agradecido, mas eu só sei ser Arlequino
Bordalo. Prefiro ficar na função de cocheiro com salário de ator, como combinado com o seu
pai.
PANTALONE 2: - Nada disso, Arlequino. Vê-se logo que você é amigo do Pascoal: tão
preguiçoso quanto ele! (vai buscar o livro dentro da carroça/um fichário encapado) Vou buscar o livro
com o poeminha que iremos interpretar no festival.
ARLEQUINO 4: - Poema?! Ah, mas por que o senhor não disse antes? O poema é curto e
mais fácil de decorar! Eu sei recitar um inteirinho. Quer ver só? “Batatinha quando nasce,
esparrama pelo chão...”
PANTALONE 2: (volta da carroça com o livro grande na mão entrega a ARELEQUINO) – Veja só que
belezinha de livrinho!
ARLEQUINO 4: (recebe no gesto de que o livro é muito pesado)- Mas não era um poema? Isso aí mais
parece uma encicoplédia!
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TROCA para PANTALONE 3 através do “jogo de sombra”.
PANTALONE 3: (para ARLEQUINO) - Não fale assim da obra mais importante da literatura
ocidental! Respeite Homero, o grande poeta grego, autor de Odisséia!
ARLEQUINO 4: - E essa Odisséia era mulher? Deve ter sido uma “bella donna” para merecer
um livro tão grande assim!
ARLEQUINO 1: - Com licença... Mas dentro dessa história toda, qual será o meu papel?
PANTALONE pega de volta o livro e leva para a carroça e volta trazendo uma peruca
CAPITANO 2: - Homem que é homem faz papel de mulher no teatro desde o tempo dos
Gregos!
ARLEQUINO 1: - Mas eu não sou grego e nem baiano. Eu sou Arlequino Bordalo e não faço
papel de mulher.
PANTALONE 3: (mostra a peruca) - Mas o seu figurino é tão bonitinho... E você é todo baixinho,
vai dar uma bela mulher.
ISABELA 2: (coloca uma boina) - Farei Telêmaco, o filho de Ulisses que se atira no mundo na
busca para encontrar seu pai.
ARLEQUINO 1: - Mas está tudo trocado?! Ela vai fazer homem e eu, mulher? Vamos
destrocar!
PANTALONE 3: (bravo) - Arlequino, o diretor aqui sou eu. (explicativo) Desse jeito assim fica
mais engraçado, pois transformarei Odisséia em uma comédia. (para a platéia, uma frase para cada
espaço: centro, esquerda, direita enquanto acontece a troca a seguir) As tragédias estão em baixa devido a
crise mundial. Ninguém mais quer saber de chorar e nem de pensar. Comédia sim é que dá
dinheiro. (muda de estado para coitadinho) E um homem pobrezinho como eu, passando por tantas
dificuldades, (mão no saquinho de dinheiro) precisa pensar no bolso.
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TROCA para ARLEQUINO 2 através do “jogo de sombra”.
Entrando na carroça nesta ordem: PANTALONE entra primeiro. ISABELA, CAPITANO por detrás e ARLEQUINO
pela frente.
MÚSICA __________________________________________
Chega a CARROÇA DE DOTTORE com DOTTORE 2; ESMERALDINA 2; HORÁCIO 1 e FLAMÍNIA 1 que só vai
falar da janelinha no final desta cena.
Dois FOCOS: Um na carroça de Dottore e outro foco no Arlequino saindo da carroça tirando um pedaço de pão
escondido na roupa para comer.
DOTTORE 1: - Esmeraldina, veja aquela carruagem que está parada logo alí mais à frente.
Aquele cocheiro não é o Arlequino?
DOTTORE 1: - Faça sinal para eles pararem. Quero ver o novo patrão dele. Pelo visto, eles
também vão se apresentar em Veneza! (saindo da carroça) Arlequino, seu traste! Como é que
você me pede emprego de cocheiro e parte para a estrada com outro?
PANTALONE 3:(saindo da carruagem) - Quem se atreve a brigar com meu criado? Ninguém, além
de mim, pode falar assim com ele... Mas... é você?!! Seu médico pilantra de meia-pataca!
DOTTORE 2: - Porca miséria! Vá, vá! Saia da minha frente, Pantalone sovina! (virando-se para
Arlequino) Então é este seu novo patrão? Ser eu soubesse quem era, teria atropelado a
carruagem, e não parado para dar as boas-vindas!
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ESMERALDINA 1: - Arlequino, olha só a confusão em que você nos meteu! Não sabia que
Pantalone é o maior inimigo do meu patrão?
DOTTORE 2: - O senhor me ofendeu. Sou um médico de muitas patacas. E por falar nisso:
quando é que vai me devolver as moedas que lhe emprestei?
HORÁCIO 1: (saiu da carruagem ao mesmo instante) - Isabela, meu amor, que surpresa agradável.
Achei que nos encontraríamos apenas em Veneza.
PANTALONE 4: - Minha filha, pare agora mesmo de falar com esse filho de traidor.
Capitano, venha depressa salvar a sua noiva! E traga a espada!
CAPITANO 1: (sai da carruagem falando para a platéia) – Meu Deus, acho que é uma guerra de
verdade! E agora? O que devo fazer? (esconde o rosto com a mão e faz voz de mulher) Socorro, socorro!
Aqui na floresta, um touro selvagem!
CAPITANO 1: - Há alguém correndo perigo! Ouço vozes! Pode ser uma donzela indefeza!
Caro Pantalone, hei de enfrentar sozinho esse desafio. Volterei assim que derrotar este mal
que nos assola nesta floresta. (sai pela coxia)
DOTTORE 2: (debochando) Como pode permitir a mão de sua filha a este covardão. É esse
traste que você quer para genro, ao invés do meu nobre filho Horácio?
PANTALONE 4: - Capitano é muito rico, tem uma enorme fortuna e não tenho que lhe dar
satisfações! (vira-se para HORÁCIO) e você ouça aqui: não se aproxime de minha filha Isabela.
PANTALONE 4: - Seu moleque, atrevido! Como ousa falar assim com um homem honrado,
velho... (muda o tom, de bravo para coitado) ...pobrezinho, muito cansado, chegando próximo dos
últimos suspiros de vida?
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HORÁCIO 1: - Se fosse honrado, não teria impedido meu casamento com Isabela por causa
do dinheiro do Capitano.
PANTALONE 1: - Ouviu isso minha filhinha. Este rapaz ofende seu pai bem na sua frente.
ISABELA 2: - Ele tem razão papai! Como tem coragem de me tirar do amor da minha vida e
me forçar em uma tristeza infinita? Me recuso a este casamento arranjado com esse Capitano
mal-arrumado!
ARLEQUINO 2: - Com licença, sei que é um assunto de família... Mas o tempo está
correndo, meu estômago está roncando, está na hora da minha refeição e... vocês vão perder
o Festival de Teatro de Veneza!
ESMERALDINA 1: - Desta vez Arlequino tem razão: é agora ou só no ano que vem!
DOTTORE 2: - Ah, sim! Vamos embora! Flamínia, filhinha amada, você está aí?
FLAMÍNIA 1: (de dentro da carroça) - Estou papai! Está difícil decorar o meu papel com tanta
gritaria de vocês!
PANTALONE 1: - Com esse seu peso todo, não tem mesmo como cruzar meu caminho...
Vamos, depressa, Arlequino! Encontraremos Capitano na estrada.
Música _______________________
As carroças páram para descansar. ARLEQUINO se espreguiça, anda e faz gestos de costas para fazer xixi.
ESMERALDINA sai da carroça e o chama.
ESMERALDINA 1: - Ei, Arlequino! Vamos homem, estou chamando!! (da porta da carroça)
ARLEQUINO 2: - Ih, acho que jorrei meu xixi bem em cima do grilo que está cantando aqui
na estrada.
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ESMERALDINA 1: - Sou eu, Arlequino!
ESMERALDINA 1: - Meu patrão quer lhe fazer uma proposta. Ele disse que paga bem! (entra
na carroça)
DOTTORE 1: (sai da carroça) - Arlequininho, que bom que você veio! Um homem inteligente
sempre sabe de qual lado certo deve ficar. Me diga: qual é a peça que Pantalone está
ensaiando para o Festival de Teatro?
DOTTORE 1: - Mas que velho roubalhão! Fui eu quem apresentei Homero a ele. Vai ficar uma
porcaria. Ele não entende nada de literatura grega. Será uma tragédia!
ARLEQUINO 3: - Não senhor, será uma comédia! O mundo está em crise e ele quer fazer o
povo rir.
DOTTORE 1: - Ah, há, há... Só se for de tanta pena que vão sentir dele! (baixa em tom de
sussurro) Escute Arlequino, tenho um plano. Não quero que Pantalone chegue com sua
caravana a tempo de se apresentar no festival. Se você conseguir dar um jeitinho dele não
chegar em Veneza, eu lhe pago dois salários de ator!!
ARLEQUINO 3: - Com dois salários de ator daqui mais um delá, serei um homem rico!
ARLEQUINO 3: - Pode contar comigo. A partir de agora serei servidor de dois patrões!
PANTALONE 1: (saindo da carroça) - Arlequininho, meu anjinho. Quem bom te encontrar aqui
fora e lhe falar mais à vontade.
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PANTALONE 1: - Me diga uma coisa: você quer ganhar mais um salário de ator, além do
que já vou lhe pagar em Veneza?
ARLEQUINO 3: (em gestos com dedos contando os salários que vai receber) - Mas é claro, meu patrão!
Estou sempre pronto para mais um salário!
PANTALONE 1: - Então, escute: se você for capaz de atrapalhar a caravana de Dottore para
que eles não cheguem a tempo do Festival, ganhará mais um salário; caso contrário, ficará
sem nenhum!
ARLEQUINO 4: - Sem nenhum? Mas e o trabalho que já estou fazendo desde que saímos de
Turim?
PANTALONE 1: - Aprenda com um homem sábio como eu: quem não arrisca, não petisca!
PANTALONE 2: - Dia? Bom, Hoje é dia 27 de fevereiro... Já sei! Você receberá seu dinheiro
no dia 30 de fevereiro: uma bela data!
ARLEQUINO 4: - Vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove e trinta! Então tá, são só três dias...
Mas até lá, quero mais um lanchinho durante a tarde!
Música: _____________________________
CAPITANO 1: - Oh, ninfa Calipso! Se realmente me ama como diz, me deixe partir e viver!
Se ficar, vou morrer! Sou Ulisses! Quando seu pai, Zeus, souber que me mantém prisioneiro
há tantos anos, irá castigar você. Zeus me respeita, sabe que eu sou o maior, o melhor, o
mais bonito, o mais corajoso soldado...
FLAMÍNIA 1: - Com licença Sr. Capitano! Me perdoe a ousadia de escutar seu ensaio, mas
conheço o texto e o senhor errou nas última palavras!
CAPITANO 1: - Mas quem é você? E como ousa dizer que errei? Eu jamais erro!
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FLAMÍNIA 1: - Sou Flamínia Aretusi, filha de Dottore Aretusi. Não queria ofendê-lo, mas
sempre tive vontade de conhecer um homem com sua fama e beleza. É que eu nunca conheci
um capitão de verdade!
CAPITANO 2: - Fama e beleza? Agora sim, a senhorita falou a minha língua! Você sabia que,
nas minhas viagens, já venci mais de cinquenta guerras.
FLAMÍNIA 2: - Sr. Capitano, não me tome por oferecida, mas...pensei que... como vocês
também estão a caminho de Veneza, o senhor não gostaria de ser meu acompanhante no
baile de máscaras de encerramento do festival?
CAPITANO 2: - Oh, doce criatura! Eu a perdoo por me obrigar a dizer não a você. Não
poderei acompanha-la porque já tenho acompanhante. Não sabia que eu e Isabela, filha de
Pantalone, estamos noivos?
FLAMÍNIA 2: - Mas Isabela e Horácio meu irmão, estão apaixonados. Ela não irá se casar
com o Senhor!
CAPITANO 2: - Não diga besteiras! Ninguém diz “não” para mim! Agora volte para sua
carruagem, doce criatura.
FLAMÍNIA 2: - Terei esperança: essa é minha maior virtude! Quem sabe ainda não dançarei
uma valsa com o Senhor?
MÚSICA: _______________________
”.
ISABELA 1: - Ah, Horácio, Horácio! Mas por que você se chama Horácio Aretusi? Renegue o
seu pai, o seu nome...
HORÁCIO 2: - Vamos esquecer as brigas de nossos pais. Fuja comigo depois do Festival!
Assim, nos casaremos e seremos felizes para sempre!
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ISABELA 2: - Depois do Festival, nós dois iremos pra bem longe. E o meu noivado arranjado
com Capitano será finalmente um pesadelo do passado.
Música: ________________________
Amanhece na estrada.
ARLEQUINO 4: - Esmeraldina, minha lindinha, está tudo acertado para o início dos ensaios.
ARLEQUINO 4: - Fique atenta aos meus sinais. Hoje nos transformaremos em verdadeiros
deuses. Preparada para valer por cem?
ESMERALDINA 2: - Espero que você saiba o que está fazendo, Arlequino. Se você perder
seu emprego, ficaremos na mesma. Mas sem o meu, estaremos perdidos!
ARLEQUINO 1: - Mas fou você quem me pediu para escutar a proposta de dottore. Faremos
tudo para agradar seu patrão, já que agora ele é tão seu como meu.
PANTALONE com meio corpo, toca uma sineta, anunciando o primeiro sinal para começar o ensaio.
PANTALONE 2: - Arlequino, venha logo! Vamos começar o ensaio! Não se esqueça do seu
figurino.
ARLEQUINO pega das mãos de PANTALONE as tranças de sua personagem Penélope e coloca na cabeça.
CAPITANO está vestido de Ulisses e ISABELA de Telêmaco.
CAPITANO 2: - Olha só que belezura! Muito barulho por nada: ficou uma perfeita donzela.
ARLEQUINO 1: (fazendo uma reverência) Assim é, se lhe parece. E você, com esse chapéu, está
o meu avô cuspido e escarrado.
ARLEQUINO 1: - Esculpido? Bom para o senhor! O meu foi costurado pela minha mãe
mesmo, em Bérgamo...
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TROCA para CAPITANO 1 através do “jogo de sombra”.
DOTTORE 2: - Vamos, minha filha, me deixe arrumar sua peruca de Deusa. Horácio, vamos
começar nosso ensaio do momento em que Palas Atenas aparece para Telêmaco.
ESMERALDINA 2: - Deixa? Como quiser, Sr Horácio, mas eu não deixei nada por fazer...
HORÁCIO 2: - “Deixa” é o fim do texto de seu colega em cena, que você tem que decorar
para saber o momento certo de entrar com sua fala.
ESMERALDINA 2: - Ah, claro, claro, Eu já sabia, mas tinha esquecido. E qual é a última
palavra?
HORÁCIO 2: - A deixa é “com a segurança de minha mãe, Penélope”. Estar seguro é estar a
salvo, aquele que é salvo estava em perigo, perigo traz risco de vida. Um risco pode ser feito
a lápis, o lápis pode ser apagado. Apagão é a falta de luz, a luz foi descoberta pelo cientista
Thomas Edison. A ciência é a mãe da sabedoria e a mãe de Telêmaco é Penélope: sua deixa!
CAPITANO 1: - Minha Isabelinha, eu não quis ser rude com arlequino... Mas convenhamos,
ele atrapalha o andamento de nossos ensaios!
PANTALONE 2: (saindo da carroça) – Chega, chega, chega todos vocês! Não aguento essa
gritaria! Sou um homem muito velho, já não tenho idade para essa algazarra. E tempo é
dinheiro, que vamos perder se não ganharmos o festival! Arlequino, esta é a cadeira onde
Penélope se senta para fiar a mortalha de seu sogro Laertes.
PANTALONE 2: - Ainda não, mas essa é a desculpa que Penélope encontra para distrair seus
pretendentes, que acham que Ulisses morreu na guerra e disputam para se tornarem o
próximo marido dela.
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ARLEQUINO 1: - Mas este manto está todo puído, desfiando aqui na ponta, olha. Não serve
para mortalha de um nobre.
PANTALONE 3: - Mas tem que ser assim, porque ela faz o pano de dia e desfaz à noite
ARLEQUINO 1: - Mas que dona burra! Pra que todo esse trabalhão? Se ela não sabe fiar,
deveria dar o serviço pra Esmeraldina!
ISABELA 1: - Arlequino, Penélope diz a seus pretendentes que só irá escolher um marido
quando acabar a mortalha do sogro. Como ela não quer se casar com nenhum deles, porque
ainda ama Ulisses, nunca termina de fiar o manto. Entendeu?
ARLEQUINO 2: (para a platéia) - Que plano genial!! Essa é das minhas!! (para ISABELA) Agora
entendi! Pego o pano e digo: “Oh, como sofro, como sou infeliz! Amado Ulisses, volte para
meus braços” (solene) Zeus, meu pai divino, se Ulisses ainda estiver vivo, me mande um sinal
para que eu não perca as esperanças!
ESMERALDINA produz efeito de trovão. Arlequino faz um sinal para ela que entra com uma lamparina nas mãos.
PANTALONE, concentrado no texto de Odisseia, acredita que ESMERALDINA é de fato um sinal dos Deuses.
PANTALONE 3: - Raios e trovões, vejam só! É um verdadeiro coclipe que se aproxima como
um sinal dos deuses!
PANTALONE 3: - Sim, um gigante de um olho só no meio da testa, que atira pedras para
matar suas presas antes de devorá-las.
CAPITANO 1: (imitando voz de mulher) – Socorro, por favor, alguém me ajude! Fui atingida por
um ciclope! (volta-se para Pantalone) O senhor ouviu? Parecia Isabela! Vou salvá-la antes que
seja tarde demais! (sai)
FLAMÍNIA 2: - Meu nobre Telêmaco, sou Palas Atenas, filha de zeus. Trago uma mensagem:
seu pai está vivo! Você deve deixar a ilha de Ítala e partir para Esparta em busca de notícias.
Neste momento, PANTALONE e ISABELA passam correndo por ESMERALDINA e ARLEQUINO, que estão com as
tranças do figurino de Penélope enroscadas, parecendo a cabeça de Medusa.
DOTTORE 2: - Madona mia! Será possível? Essa não é Esmeraldina: é Medusa! Uma górgona
com cabelo feito de cobras! Vamos fechem os olhos, todos! Basta olhar para esta criatura
para sermos transformados em pedra!
CAPITANO 1: - Sr. Pantalone, sou eu, Capitano! Não sou um cíclope1 acredite em mim!
PANTALONE 4: - Maldição! Então os Deuses realmente vieram nos castigar. Agora é o canto
da sereia para nos arrastar e afogarmos no mar. Tapem os ouvidos!!
DOTTORE sem enxergar e PANTALONE sem ouvir dão um encontrão e caem em joelhos.
PANTALONE 4: (em pose de reza) – Meu Deus Zeus, todo poderoso! Sei que não tenho sido um
bom menino. Não paguei a conta da mercearia, nem do açougue, nem da farmácia, nem da
confeitaria... Estou de olho no dinheiro do Capitano... Também teve aquele dinheirinho que
peguei emprestado do Dottore Aretusi...
DOTTORE 2: - Essa voz eu conheço... é do veccio Pantalone! Então o senhor admite que me
deve dinheiro?
PANTALONE que ainda está com os ouvidos tapados, fica de frente para DOTTORE.
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DOTTORE 2: (tirando as mãos do ouvido de PANTALONE) – Pronto! Voltou a ouvir?
PANTALONE 4: - Um pouquinho...
DOTTORE 1: - Escute aqui, seu veccio! Além de ter que me devolver o dinheiro que lhe
emprestei, terá que me pagar por esta consulta.
ARLEQUINO e ESMERALDINA seguem com o plano de assustar a todos. Pega o cajado de Zeus de PANTALONE e
ela o enrola num pano azul.
ARLEQUINO 2: (de Zeus) – Sr. Panta, sou “meu Deus zeus”, comandante dos raios e trovões!
ARLEQUINO 2: - Siiiimmmmmm!
ESMERALDINA 2:(de Possêidon) – Dottore Aretusi, sou Possêidon, deus das águas!
CAPITANO 2: - Isabela, meu doce de coco, vamos nos esconder! Veja como os deuses estão
irados!
ARLEQUINO 2: (de Zeus) – O senhor deve a honra e as calças para Turim inteira e para mim
também.
PANTALONE 1: - Para o senhor? Mas não me lembro de ter pedido dinheiro emprestado
para um deus. Já nos vimos antes?
ARLEQUINO 2: (de Zeus) – “Para mim” é modo de dizer... Não mude de assunto! O senhor é
muito pão-duro e paga mal aos seus servidores, principalmente aquele excelente rapaz, o
Arlequino Bordalo.
PANTALONE 1: - Nada disso, meu deus Zeus! Ele vai receber dois salários de ator!
ARLEQUINO 3: (de Zeus) – e acredito que um salário de ator seja maior que um salário de
cocheiro, certo?
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PANTALONE 1: - Bem... Tem pouca diferença.
PANTALONE 2: - O senhor...
PANTALONE 2: - Não, não e não!! Por favor! Pode deixar que amanhã mesmo eu darei um
aumento para Arlequino.
HORÁCIO 1: - Flamínia, você não acha esse Zeus um pouco esquisito? Com tantas
desgraças no mundo, por que é que ele se preocupa tanto com Arlequino, um mero criado?
DOTTORE 1: - É isso mesmo, dá-lhe Zeus!! Cobre todas as dívidas dele agora!!
DOTTORE 1: - Mas como? Pago Esmeraldina em dia e ainda dou eventuais gorjetas no fim
do mês!
ARLEQUINO 3: (de Zeus, sussurra para ESMERALDINA) – Esmeraldina, você nunca me contou da
gorjeta extra! Onde está esta bufunfa toda?
ESMERALDINA 1: (disfarçando) – Depois falamos deste assunto, parceiro Zeus. Agora devo
dizer as novas regras para o Dottore!
FLAMÍNIA 1: - É a Esmeraldina!
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ESMERALDINA 1: (de Possêidon) – Ouça bem, Dottore! A partir de agora, nada de acumular
funções para Esmeraldina. Ela deve se dedicar apenas à cozinha, para preparar deliciosas
refeições para a família Aretusi.
ESMERALDINA 1: (de Possêidon) - Contrate outro criado! Se ousar não me obedecer, vou
derramar tanta chuva em cima de sua carruagem, que ela... (sussurra para ARLEQUINO) O
que vai acontecer mesmo?
FLAMÍNIA 1: - De jeito nenhum! Será que você não está percebendo que esta é a nossa
chance de ter um final feliz nesta história? Ouça meu plano! (sussurra no ouvido de HORÁCIO)
HORÁCIO 1: (interrompe) - Com licença, Sr. Zeus. Antes de selar o acordo com sr. Pantalone,
escute a minha proposta!
CAPITANO 2: - Horácio, não se intrometa! Sr. Pantalone, acabe logo com essa agonia.
Aceite a proposta e livre-se desse deus raivoso que coloca a vida de sua filha em perigo!
ISABELA 1: - Capitano tem razão, papai! Se ele queimar a nossa carroça, nunca mais
sairemos desta estrada! Se isso acontecer, a minha carreira de atriz estará arruinada!
HORÁCIO 2: - Se ei te der este saco de comida, com mantimentos para duas semanas de
estrada, o senhor nos deixa seguir a viagem em paz?
ARLEQUINO 4: (de Zeus) – Barriga cheia por duas semanas? (murmura para ESMERALDINA) Não
dá para resistir, acho que vou aceitar! (responde para HORÁCIO) Sim, Sr. Horácio, aceito com
todo gosto!
ARLEQUINO sai.
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TROCA para ISABELA 2 através do “jogo de sombra”.
ISABELA 2: - Meu amor, meu salvador! Como sabia que ele aceitaria sua proposta?
HORÁCIO 2: - Minha intuição é poderosa, minha amada. E estará sempre a sua disposição!
ESMERALDINA 2: (de Possêidon) – Agora chegou a sua vez, dottore! Vai ou não vai liberar
Esmeraldina do serviço pesado? Ah, e também tem que parar de dar tantos ensinamentos
para ela. O senhor fala muito e cansa a minha beleza divina!
FLAMÍNIA 1: - Caro, Possêidon, estava aqui pensando e acho que um deus tão nobre
apreciaria este lindo anel de brilhantes. Se colocado no dedo anelar da mão esquerda, torna-
se uma perfeita aliança de casamento!
ESMERALDINA 2: (de Possêidon) – Brilhantes? Me passe para eu ver se serve no meu dedo.
FLAMÍNIA 1: - Caso sirva, promete nos deixar em paz, assim como seu companheiro Zeus
fez?
ESMERALDINA 2: (de Possêidon) – Palavra de honra! (coloca o anel) Que maravilha! Nunca
pensei que um dia usaria um anel de brilhantes! Arlequi... quer dizer, Zeus, espera só até ver
o nosso anel de sacamento!
CAPITANO 2: - Sou seu herói? Sim, minha florzinha! Seu herói! Você viu como ele correu?
Vou protege-la para sempre.
PANTALONE 2: - Mas que pouca vergonha é essa? Isabela, pare já de abraçar essa criatura
menor! Capitano, vá tirar sua noiva dos braços daquele molecote!
CAPITANO 2: - Sr. Pantalone, como sabes, sou um homem muito educado e generoso.
Isabela ama Horácio e, de tanto amor que sinto por ela, quero vê-la feliz! Na presença de
todos, abro mão do nosso compromisso de casamento. Quero deixá-la livre. Só assim
também estarei contente.
PANTALONE 2: - Mas por que essa barbaridade agora? Exatamente no momento em que
mais preciso do senhor, com suas lindas moedas de ouro, suas carruagens com cavalos
árabes, seus castelos...
DOTTORE 2: - Não, meu filho! Não diga nada! Era só o que me faltava: ter que conviver
para o resto da vida com esse velho sovina! Deixe as coisas como estão!
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TROCA para HORÁCIO 1 através do “jogo de sombra”.
FLAMÍNIA 2: - Não fale assim de Capitano, meu pai. Ele é um grande guerreiro!
HORÁCIO 1: - Nossa mãe era tataraneta de Maria Catarina, uma duquesa austríaca –
portanto, uma mulher muito rica. Quando morreu, deixou todos seus bens para mim e minha
irmã. Nosso tesouro não poderá ser tocado até completarmos dezoito anos...
PANTALONE 3: - Mas, Horacinho... Como puderam esconder um segredo desses por tanto
tempo?! Nossas famílias são amigas a tantos anos... Me diga, que idade vocês têm, adoráveis
jovens?
FLAMÍNIA 2: - Dezessete, mas vamos completar dezoito daqui a algumas horas... Quando
já estivermos em Veneza!
PANTALONE 3: - Arlequino!
DOTTORE 2: - Esmeraldina!
Música: __________________________
PANTALONE 3: - Nada disso teria acontecido se Pascoal não tivesse contraído lombriga!
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DOTTORE 1: - Pobre Pascoal... Então ele adoeceu depois que o dispensamos como cocheiro
de nossa caravana?
PANTALONE 4: - Má quê isso! Depois vem dizer que eu é que estou ficando gagá... Pascoal
era o meu cocheiro da nossa caravana?
DOTTORE 1: - Maledeto! Então Pascoal estava trabalhando para dois patrões. No mínimo,
ele deve ter fugido com um terceiro, que provavelmente lhe ofereceu mais dinheiro.
DOTTORE 1: - Pascoal vem de Páscoa; a Páscoa também é a data em que ganhamos ovos
feito de chocolate; o chocolate vem do cacau; cacau é uma fruta que dever ser amassada
com os pés; os pés fazem parte da perna; a perna é o membroque nos faz caminhar; o
caminho nos leva aonde queremos chegar... E a minha trupe vai chegar primeiro que a sua
em Veneza!
Música: __________________________
Chegada em Veneza. Todos percebem que o Festival já acabou. Um dos músicos está segurando um troféu e cruza a
cena.
ISABELA 2: - Não posso acreditar! A minha vida está perdida! Estou arruinada! Nunca mais
terei a chance de ser uma atriz de verdade.
HORÁCIO 1: - Minha princesa, pense que pelo menos estamos juntos com consentimento de
nossos pais. Não se preocupe! Eu vou criar um novo Festival de Teatro, em Turim, só para
você ganhar, minha amada!
CAPITANO 2: - Mas este foi o caminho perfeito para que o destino nos unisse. Por você, eu
decoraria todos os papeis da Odisseia!
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Música________________________
DOTTORE e PANTALONE saem de suas carroças cruzando entre eles. ARLEQUINO aparece no meio deles.
DOTTORE 2: - Imagine só, Arlequino! Por que acha que devo lhe pagar? Você não cumpriu
com nosso combinado!
ARLEQUINO 1: - Claaaaro que cumpri! O senhor não disse que era para atrasar a chegada
do seu Panta no festival? Dito e feito!
DOTTORE 2: - Sim, era para ELE não chegar. Mas você atrapalhou tanto que EU não cheguei
também! Ficará sem salário nenhum. Está dictus e prontum!
PANTALONE 4: - Mas será que estou ouvindo direito? Só pode ser uma piada! Dottore
realmente não chegou, seu atrapalhado... Mas eu também não cheguei e você vai ficar sem
salário nenhum. a culpa é toda sua!
ARLEQUINO 1: - Minha? Mas, na viagem, o senhor disse que a culpa era do Pascoal...
São interrompidos pelo músico que segura o troféu. Os outros personagens vão se aproximando para ver quem foi o
vencedor do Festival.
MÚSICO – em off: - E agora senhoras e senhores. Tenho a honra de dar o troféu de melhor
atuação do clássico texto ODISSÉIA...
PANTALONE 4: - Mas será possível que todo mundo teve a mesma idéia de encenar a
Odisséia no festival?
TODOS se inclinam a frente... suspense... Pascoal de costas ergue o troféu e depois vira-se para a plateia.
TODOS: Pascoal!!!!
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FIM
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