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Resumo: Este artigo trata de aspectos atuais da proteção do refugiado no Brasil, com
foco no princípio do non-refoulement, que pode ser desrespeitado na prática brasileira.
Para tanto, será analisada a resistência inicial de setores da Polícia Federal ao ingresso
de solicitantes de refúgio, bem como a atuação do Comitê Nacional para os Refugiados
(Conare) na concessão de refúgio aos que alegam perseguição de agentes privados e,
finalmente, a relutância de parte do STF em acatar o arquivamento dos pedidos de
extradição dos indivíduos que obtiveram refúgio sem rever, no mérito, se tal concessão
foi adequada ou não, respeitando a decisão dos órgãos do Poder Executivo. Ainda, será
estudado o polêmico controle judicial das decisões sobre refúgio e quais os seus limites.
O objetivo do artigo é demonstrar a necessidade de reafirmação do princípio do non-
refoulement em todas as facetas do acolhimento dos refugiados no Brasil.
Abstract: The article analyzes some aspects of the late refugee protection in Brazil,
focusing the non-refoulement principle, which can be disrespect in the Brazilian practice.
The article studies the work of the Brazilian National Committee on Refugees, the
Brazilian Federal Police as well the decisions of the Brazilian Judicial Branch, especially
decisions from the Brazilian Federal Supreme Court. The article upholds the necessity of
a new approach of the non-refoulement principle, in order to overcome some restrictive
interpretations given by public authorities.
Sumário:
1.Introdução: a proposta do estudo 1 - 2.A proteção internacional dos refugiados e o
Brasil - 3.Introdução à Lei 9.474/1997: o modelo brasileiro de proteção aos refugiados
em análise - 4.O princípio do non-refoulement - 5.O primeiro teste ao princípio do non-
refoulement: a proibição de arbitrariedade na zona primária de fronteira - 6.O segundo
teste ao princípio do non-refoulement: a perseguição por parte de agentes privados -
7.O terceiro teste para o princípio do non-refoulement: o refúgio e a extradição - 8.O
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
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1. Introdução: a proposta do estudo
Quase 50 anos após a ratificação brasileira da Convenção das Nações Unidas sobre os
Refugiados de 1951, vários avanços foram dados na proteção aos refugiados no Brasil.
Obviamente, o passo maior foi a edição da Lei 9.474/1997, na qual foram inseridos os
principais direitos dos solicitantes de refúgio e dos refugiados no Brasil.
Ainda, analisaremos o pouco estudado controle judicial das decisões do Conare (ou do
Ministro da Justiça, na sua atribuição recursal), dando ênfase nas balizas hermenêuticas
de tal controle.
Até o século XX, o Direito Internacional não possuía instituições ou regras voltadas
especificamente aos que, após fugir de seu Estado de residência, buscavam abrigo em
outro país. O tratamento dado aos refugiados dependia, então, da generosidade (ou
não) das leis nacionais,2 em especial aquelas relativas à concessão de asilo político.3
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
Somente após o estabelecimento da Sociedade das Nações, em 1919, é que houve uma
intensa discussão sobre o papel da comunidade internacional no adequado tratamento a
ser dado aos refugiados, em especial depois da Revolução Comunista na Rússia e das
crises no antigo Império Otomano. Assim, em 1921, o Conselho da Sociedade das
Nações autorizou a criação de um Alto Comissariado para os Refugiados. A intenção
inicial era que fosse criado um órgão voltado especificamente para tratar de refugiados
russos, porém após a constatação da existência de refugiados armênios na Grécia,
optou-se por uma definição abrangente e geral do mandato do Comissariado, voltado
para toda e qualquer questão relativa aos refugiados. Foi escolhido o norueguês Fridtjof
Nansen, que o presidiu até sua morte em 1930. Em 1931, foi criado o Escritório
Internacional Nansen para Refugiados, atuando sob os auspícios da Sociedade das
Nações e com a missão de dar apoio humanitário aos refugiados.
Alguns anos depois, em 1951, foi aprovada a "Carta Magna (LGL\1988\3)" dos
refugiados, que é a Convenção de Genebra relativa ao Estatuto dos Refugiados. A
importância desse tratado é imensa: é o primeiro tratado internacional que trata da
condição genérica do refugiado, seus direitos e deveres. Os tratados anteriores eram
aplicáveis a grupos específicos, como os refugiados russos, armênios e alemães. 4 Em
1950, foi criado o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), que
hoje é órgão subsidiário permanente da Assembleia Geral das Nações Unidas e possui
sede em Genebra.
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refugiados: do ingresso à extradição
pública.5
Nesta fase pré-lei 9.474/1997, houve importante fluxo de refugiados ao Brasil, devendo
ser feita especial menção ao acolhimento das famílias da fé Bahá'i, vítimas de
perseguição religiosa no Irã em 1986. Na época, o Brasil ainda não havia suprimido a
"limitação geográfica" do Estatuto dos Refugiados de 1951. Assim, para contornar esse
obstáculo jurídico, revela Assis de Almeida que a missão brasileira do Acnur negociou
ativamente com o governo do então Presidente Sarney, que acabou por conceder o
estatuto jurídico de asilados aos integrantes destas famílias. A acolhida brasileira fez
com que hoje existam 300 famílias iranianas da fé Bahá'i vivendo no Brasil.6
A definição jurídica de "refugiado" oscilou ao longo dos anos. Inicialmente, o art. 1.º da
Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados de 28.07.1951 considerava "refugiado"
somente aquele que, em consequência de acontecimentos ocorridos antes de
01.01.1951, e, em virtude de perseguição ou fundado temor de perseguição 8 baseada
em sua raça, religião, nacionalidade, opiniões políticas ou pertença a certo grupo social,
não pudesse retornar ao país de sua residência.
Sendo assim, o refugiado é aquele que tem fundados temores de perseguição por
motivos odiosos. Para a doutrina, o "fundado temor de perseguição" é critério objetivo
que deve ser comprovado por fatos. Tal expressão (fundado temor) demonstra um
temor baseado em razoável expectativa de perseguição. Essa expectativa de
perseguição não pode estar apenas na mente do solicitante de refúgio, mas deve ser
comprovada por um critério objetivo, baseado na situação do Estado de origem. Entra
em cena um juízo de possibilidade, sendo desnecessário que se prove a inevitabilidade
da perseguição, mas somente que ela é possível.9
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
Por outro lado, a restrição temporal acima citada mostrava que a Convenção de 1951
era destinada aos casos de refugiados gerados no período anterior à 2.ª Guerra Mundial,
no seu decurso e no pós-guerra. Além disso, o art. 1.º-B estabelecia que cada Estado
poderia entender que a expressão "acontecimentos ocorridos antes de 1.º de janeiro de
1951" inserida no art. 1.º, seção A, poderia ser lida como "acontecimentos ocorridos
antes de 1.º de janeiro de 1951 na Europa". Ou seja, além desta "cláusula temporal", os
Estados poderiam ainda limitar a concessão do estatuto de refugiado aos acontecimentos
ocorridos na Europa tão somente. A Guerra Fria foi crucial para essa redação
"eurocêntrica" da Convenção. Hathaway recorda que os Estados ocidentais
desenvolvidos preocuparam-se muito em expor a situação dos dissidentes políticos dos
países comunistas, para facilitar a condenação geral ao bloco soviético. Assim, a
definição de "refugiado" foi especialmente focada em reconhecidas áreas de desrespeito
de direitos humanos dos países comunistas.10
Quanto à restrição geográfica, ao menos, vê-se que a visão "eurocêntrica' logo foi
superada. De fato, surgiram mais e mais casos de perseguição e fluxo de refugiados em
vários continentes (África e América Latina, inclusive) o que tornou obsoleta e
anacrônica a restrição temporal e geográfica da Convenção de 1951. Em 1966, o
Protocolo Adicional à Convenção suprimiu, da definição de refugiado, a limitação aos
acontecimentos ocorridos antes de 1951.
O Brasil ratificou, como visto, a Convenção de 1951 com a limitação geográfica aos
acontecimentos ocorridos em solo europeu. Consequentemente, o instituto do refúgio foi
pouco utilizado no Brasil ao longo dos anos seguintes, prevalecendo o recurso ao asilo,
uma vez que os eventos posteriores ocorridos na América Latina, como, por exemplo, no
Chile da ditadura de Pinochet da década de 70 e que gerou um número expressivo de
refugiados, não eram abarcados pela cláusula geográfica prevista na própria Convenção
de 1951. Porém, em 19.12.1989, o Brasil finalmente desistiu de tal reserva, o que
possibilitou a aplicação irrestrita da Convenção e seu Protocolo de 1966.
Anos mais tarde, em 1997, foi editada a Lei brasileira 9.474 de 1997, disciplinando o
estatuto do refugiado no Brasil. Tal lei está em sintonia com a definição de refugiado
prevista na Convenção de 1951. De acordo com o art. 1.º da Lei 9.474/1997 é
considerado refugiado todo indivíduo que, devido a fundados temores de perseguição
por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, encontre-
se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de
tal país, ou aquele que não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função da
perseguição odiosa já mencionada.
Com isso, cabe observar que compete ao Conare analisar o pedido e declarar o
reconhecimento, em primeira instância, da condição de refugiado, bem como decidir pela
cessação e perda, em primeira instância, ex officio ou mediante requerimento das
autoridades competentes, da condição de refugiado. No caso de decisão negativa, esta
deverá ser fundamentada na notificação ao solicitante, cabendo direito de recurso ao
Ministro de Estado da Justiça, no prazo de 15 dias, contados do recebimento da
notificação.
No caso de decisão positiva do Conare, entendo que não cabe recurso administrativo ao
Ministro de Estado, pela expressa falta de previsão legal, que obviamente privilegiou a
concessão de refúgio.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados - Acnur será sempre membro
convidado para as reuniões do Conare, com direito a voz, sem voto.
4. O princípio do non-refoulement
Por outro lado, o princípio do non-refoulement tem sofrido desgaste em face das
migrações em massa ou das alegações inexistentes prima facie de perseguição. Como
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refugiados: do ingresso à extradição
Não sendo outorgado o refúgio não pode, ainda assim, o Estado de acolhida devolver o
estrangeiro para qualquer território no qual possa sua liberdade ou vida ser ameaçada
por razão de raça, religião, nacionalidade, grupo social a que pertença ou opiniões
políticas, de acordo com o art. 33 da Convenção de 1951. 13 Ademais, o Brasil detalhou,
em sua legislação sobre refugiados, a proibição do refoulement quando existir risco à
vida, liberdade e integridade física do indivíduo: o art. 32 da Lei 9.474/1997 estabelece
que no caso de recusa definitiva de refúgio, fica proibida sua transferência para o seu
país de nacionalidade ou de residência habitual, enquanto permanecerem as
circunstâncias que põem em risco sua vida, integridade física e liberdade.
Assim, aquele indivíduo que busca refúgio tem o direito público subjetivo de ingressar no
território do Estado de acolhida e ter seu pedido analisado, à luz do devido processo
legal administrativo. Há, então, importante exceção à norma internacional costumeira
que dispõe que cabe ao Estado, de modo discricionário, permitir ou não o ingresso de
estrangeiros em seu território.
No caso dos refugiados, tendo em vista à proteção da vida e da liberdade dos seres
humanos, os próprios Estados anuíram com a possibilidade de admissão ipso iure de
estrangeiro que meramente alegue ser refugiado. É claro que, caso não seja considerado
um refugiado, poderá ser devolvido ao Estado de origem ou outro que o aceitar.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
Por seu turno, a Polícia Federal procederá a eventuais diligências requeridas pelo Conare,
devendo averiguar todos os fatos cujo conhecimento seja conveniente para uma justa e
rápida decisão, respeitando sempre o princípio da confidencialidade. Finda a instrução, a
autoridade competente elaborará, de imediato, relatório, que será enviado ao Secretário
do Conare, para inclusão na pauta da próxima reunião daquele colegiado. Seja qual for a
decisão do Conare, deve ser ela fundamentada (art. 26), notificando-se o solicitante
(art. 27); se a decisão reconhecer a condição de refugiado, terá natureza declaratória,
ou seja, produzirá efeitos retroativos, registrando-se o refugiado no Departamento de
Polícia Federal, onde assinará termo de responsabilidade e solicitará cédula de
identidade pertinente (art. 28). Já se a decisão for negativa, o solicitante terá direito de
recorrer ao Ministério da Justiça (art. 29).
Restou evidente, então, que não há dispositivo legal que autorize o agente policial
federal a verificar, por "convicção pessoal", se o estrangeiro que solicita refúgio reúne as
condições necessárias para a sua concessão. O agente policial deve seguir o que prevê a
lei, ou seja, ao receber um estrangeiro que expressa a vontade de obter refúgio no
Brasil, deve esclarecê-lo sobre seu direito, bem como deve orientá-lo sobre o
procedimento adequado, para decisão posterior do Conare.
Logo, deve ser fiscalizada a atuação dos agentes públicos na zona primária de fronteira,
impedindo que os agentes federais atuem como substitutos - ilegais - do Conare,
avaliando rapidamente quem é "refugiado" ou quem é migrante econômico ou ainda
estrangeiro que vem irregularmente ao Brasil a mando de máfias, como ocorre nos casos
de tráficos de seres humanos.
Tais ações arbitrárias são, contudo, difíceis de apurar, pois o acesso à zona primária de
fronteira é restrito, estando em geral sob controle dos próprios autores das
arbitrariedades. As vítimas, os estrangeiros solicitantes de refúgio, obviamente têm
dificuldade de invocar a proteção jurisdicional do Estado brasileiro.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
A notícia desta atuação ultra vires dos agentes federais gerou a abertura - sob a
responsabilidade do autor do presente artigo - no Ministério Público Federal de São Paulo
de procedimento administrativo da área de cidadania e direitos humanos visando zelar
pela integridade da Lei 9.474/1997, em 2001. 16 Instado a se manifestar, o Diretor do
Departamento da Polícia Federal à época afirmou que a "(...) capacidade de
discernimento do policial federal atuante nos portos, aeroportos e fronteiras é
reconhecida pelo Comitê Nacional para Refugiados quando os orienta a entrevistar, já no
ponto de fiscalização, o estrangeiro que se apresenta como solicitante de refúgio.
Imagine-se se o policial federal não pudesse agir a partir da alegação de perseguição
religiosa feita por um português ou após a alegação de condições desumanas de vida a
um sueco. Imagine-se, ainda, como ficaria vulnerável o país se não houvesse
discricionariedade do oficial de imigração".17
Por isso, manifestou-se o Diretor da Polícia Federal perante o Ministério Público Federal
com certo tom de insatisfação, pois, na sua visão, aceitar o ditame da Lei 9.474/1997 e
reservar ao Conare, de modo único, a apreciação da impropriedade da solicitação de
refúgio, seria tornar "vulnerável o país". Para a surpresa do então Diretor da Polícia
Federal é claro que é possível conceder refúgio inclusive a um sueco, português ou
italiano, como o fez recentemente o Brasil no caso do Sr. Cesare Battisti, a ser apreciado
a seguir. Basta que haja fundado temor de perseguição odiosa, o que torna a postura
destes segmentos da Polícia Federal verdadeira agressão ao princípio do non-
refoulement.
Para evitar que tal comportamento continuasse, o Ministério Público Federal em São
Paulo expediu recomendação, com fundamento no art. 6.º, XX, da LC 75/1993, ao
Diretor-Geral da Polícia Federal, para que, fazendo uso da competência atribuída,
determinasse aos seus subordinados que os estrangeiros que manifestassem, de
qualquer modo, desejo de solicitar refúgio, fossem informados do direito de formalizar
tal pleito e orientados do como proceder, sendo vedado, até decisão do Conare prevista
na Lei 9.474/1997, a deportação ou repatriamento forçado do candidato ao refúgio e
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refugiados: do ingresso à extradição
seus familiares, nos termos da lei citada (em especial art. 7.º ao art. 10).18
Portanto, caso seja demonstrado o justo temor do solicitante de ser perseguido, por
exemplo, por sua orientação sexual, e que as autoridades públicas não conseguem punir
os agressores ou impedir novas perseguições, é evidente que fica demonstrada a
impossibilidade de retorno ao Estado de origem, base da concessão do refúgio. Essa
possibilidade não deve espantar, pois cabe ao Estado de acolhida averiguar se, no caso
particular, o solicitante de refúgio foi alvo de perseguição ou tem o temor de ser
perseguido por agentes privados, que contam com a omissão do Poder Público e
impunidade assegurada no atual contexto brasileiro. Dadas as evidentes dificuldades de
ação do sistema de justiça do Estado brasileiro, é bem possível que o refúgio seja
concedido. Como exemplo desta situação, há o caso de concessão de refúgio pelo
Canadá à brasileira vítima de violência doméstica. Fundamentou a decisão o
reconhecimento pelo Canadá que "women subject to domestic violence in Brazil
constituted a particular social group", sem que as autoridades policiais queiram ou
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refugiados: do ingresso à extradição
possam fazer algo ("the inability or unwillingness to protect which state authorities had
demonstrated in the past").20
É claro que a postura brasileira não é isolada. Há Estados de acolhida que rejeitam tal
extensão do conceito de agente ativo da perseguição (para abarcar os agentes
privados), afirmando que cabe ao Estado de origem proteger seus cidadãos. Somente na
existência de uma total anarquia e ruptura do poder do Estado, haveria a possibilidade
de concessão do refúgio. Porém, o princípio de proteção e a proibição do refoulement
apontam outra solução. De fato, esta postura restrita por certo viola o princípio do non-
refoulement, que justamente exige a análise do caso concreto e do contexto real da
situação vivenciada pelo solicitante de refúgio. A existência de um sistema de justiça
aparentemente em funcionamento não elimina a tarefa do órgão de análise da
solicitação de refúgio de verificar, in concreto, se há ação devida pelas autoridades
contra a perseguição realizada pelos particulares.
A Lei 9.474/1997 prevê um tratamento penal privilegiado ao refugiado em seu art. 10.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
Por outro lado, o impacto inicial dos arts. 33 e 34 sobre a liberdade provisória do
extraditando foi pequeno, na leitura majoritária feita pelo STF. De fato, o STF ponderou
que o art. 22 da Lei 9.474/1997 fazia remissão ao Estatuto do Estrangeiro (Lei
6.815/1980), que regula a extradição do estrangeiro e sua prisão para tal fim (arts. 76 a
94).26 Com base no art. 84 desta última lei, o STF entende que a prisão do extraditando
é necessária para o trâmite do pedido extradicional, bem como perdurará até o
julgamento final, não sendo admitidas a liberdade vigiada, a prisão domiciliar, nem a
prisão albergue.27
Invocando tal dispositivo o STF, em vários julgados, recusou propiciar tais benefícios ao
extraditando solicitante de refúgio.28 Porém, em uma segunda leitura gerada por casos
excepcionais, o STF decidiu que a incidência do citado art. 34 da Lei 9.474/1997, que
determina, como visto, a suspensão do processo de extradição caso seja apresentado
pedido de refúgio, altera características típicas do processo extradicional. Assim, no caso
de ocorrer a suspensão do processo de extradição, cabe ao STF avaliar se é conveniente
ou não a concessão de prisão domiciliar, prisão albergue ou liberdade vigiada.29
Recentemente, no chamado caso "Padre Medina", a concessão do refúgio pelo Conare foi
fator decisivo no convencimento do relator do processo extradicional no STF (Min. Gilmar
Mendes), que decidiu pela concessão da prisão domiciliar.30
Ainda neste caso do Padre Medina, o STF dirimiu uma dúvida sobre a eventual
inconstitucionalidade do art. 33 acima referido: a decisão de concessão de refúgio do
Conare invadiria seara constitucional do STF (deliberar sobre a extradição)?
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decisões que tenham reflexos no plano das relações internacionais do Estado - o poder
privativo de conceder asilo ou refúgio (...) A circunstância de o prejuízo do processo
advir de ato de um outro Poder - desde que compreendido na esfera de sua competência
- não significa invasão da área do Poder Judiciário".31
Ficou vencido o Min. Gilmar Mendes que entendeu que a concessão de refúgio pelo Poder
Executivo não vincula o Poder Judiciário, na linha da orientação fixada pelo próprio STF
no caso do asilo político, em casos passados.32 Contudo, o Min. Sepúlveda Pertence
sustentou que houve divisão constitucional de competências entre o Poder Executivo e o
Judiciário e, no que tange ao refúgio, este seria parte integrante da condução das
relações internacionais que incumbe ao Poder Executivo.
Ainda neste caso, o Min. Celso de Mello, por seu turno, resgatou o papel do Direito dos
Refugiados na construção da contemporânea proteção internacional dos direitos
humanos, o que está em linha com os princípios fundamentais da República brasileira de
promoção da dignidade humana. O Min. Mello fez referência, ainda, ao art. 48 da Lei
9.474/1997, que prevê o uso da Declaração Universal de Direitos Humanos como
parâmetro hermenêutico de seus dispositivos. A sua conclusão reforça a necessidade de
amplo efeito à condição jurídica de refugiado, inclusive com o arquivamento dos
processos extradicionais sem revisão por parte do Poder Judiciário. Nas palavras do Min.
Mello: "(...) a finalidade da norma inscrita no art. 48 da Lei 9.474/1997 refere-se à
adoção de um processo hermenêutico, que, ao compatibilizar a aplicação da legislação
brasileira com os princípios emergentes do Estatuto dos Refugiados, busca preservar os
valores básicos, com os da ampla proteção e respeito aos direitos fundamentais da
pessoa humana, notadamente aqueles a que aludem os arts. 31, 32 e 33 da Convenção
Internacional relativa ao Estatuto dos Refugiados, que garantem, ao súdito estrangeiro,
ainda que em situação irregular no país de refúgio o direito de não sofrer sanções
penais, de não ser expulso e de não ser entregue, imediatamente, ao Estado em cujo
território a sua vida e a sua liberdade estejam injustamente ameaçadas, desde que
aquele que busca o refúgio indique, à autoridade nacional, razões idôneas justificadoras
de sua presença irregular no país".33
Contudo, no Caso Battisti, a discussão foi retomada. De fato, o Brasil concedeu refúgio a
Cesare Battisti, italiano que, ainda no curso de 2009, sofria processo extradicional
requerido pela Itália.34 A extradição foi baseada em fatos ocorridos nos anos 70 do
século passado na Itália, quando o Sr. Battisti foi membro de organização armada
revolucionária denominada PAC (Proletários Armados para o Comunismo - Proletari
Armati per il Comunismo). Após sua fuga em 1981, Battisti foi condenado na Itália por
homicídios ocorridos entre junho de 1978 e abril de 1979. O Conare brasileiro negou o
refúgio, alegando inexistir perseguição por motivo odioso uma vez que seus processos
criminais não seriam disfarce de perseguição política, mas sim desejo legítimo de um
Estado de Direito de punir aqueles que atentaram contra a vida democrática.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
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Quanto à linha argumentativa a, o Relator sustentou que a situação política atual não
poderia sustentar a existência de "fundado temor" de perseguição odiosa. Mesmo quanto
ao regime da época, o Relator assinalou que "(...) o testemunho pessoal desta nossa
geração, que acompanhou vivamente aquele conturbado período histórico da
humanidade, não pode, de boa-fé, negar nem depreciar à Itália o mérito extraordinário -
e tanto mais extraordinário quanto mais incomum aparece no cotejo com as tirânicas
reações político-institucionais de outros países que, assediados por movimentos
análogos, até de muito menor calibre e virulência, sacrificaram os direitos individuais e
as liberdades públicas sob pretexto da salvação nacional - de ter vencido tão grave
insurreição intestina, sem fratura nem lesão da ordem jurídico-constitucional
democrática do pós-guerra". Traz ao apoio de sua tese o magistério de Ada Grinover,
considerando que a Professora do Largo de São Francisco considerou a "legitimidade
constitucional" daquela legislação de emergência. Por fim, o Relator sustenta que a
existência de um regime autoritário não seria absolutamente incompatível com eventual
processo individual legal e justo ao Sr. Battisti, mas cuja justiça e legalidade só
poderiam ser avaliadas pelo órgão jurisdicional competente.38 No que tange ao
argumento b, o Relator afirmou que houve pesada afronta à independência e isenção da
magistratura italiana, sem apoio em "nenhum dado da realidade". Já quanto à linha de
argumentação c da decisão administrativa concessiva do refúgio do Ministro de Estado, o
Relator sustentou que a natureza política de crime é matéria de exclusiva apreciação da
Suprema Corte, pois seria uma causa intrínseca de não extradição (com base no art. 77,
§ 2.º, da Lei 6.815/1980) e matéria reservada ao STF de acordo com o art. 102, I, g, da
CF/1988 (LGL\1988\3). Para o Relator, ainda, a concessão de refúgio diz respeito à
perseguição política e não a prática de crime político. Finalmente, o relator ainda não
acolheu a argumentação d, pois a perseguição - se ocorrida - teria existido na França,
terceiro país que não solicitou a extradição do Sr. Battisti.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
Em sentido contrário firmou entendimento o Min. Eros Grau, para quem o mérito do ato
administrativo de concessão só poderia ser questionado em ação própria, com direito à
ampla defesa e contraditório.39 No mais, lembrou o Min. Eros Grau a posição do Min.
Joaquim Barbosa, em seu voto na Extradição 1008, para quem "a judicialização do
processo de extradição se faz em prol do extraditando", o que também impede que -
sem a ampla defesa e contraditório - se elimine a proteção ao extraditando prevista no
art. 33 da Lei 9.474/1997. Também o Procurador-Geral da República, que atua como
fiscal da lei nos processos extradicionais perante o STF, manifestou-se pelo
arquivamento imediato da extradição, com a incidência do comando do art. 33 da Lei
9.474/1997. Para o Procurador-Geral da República o fato do refúgio ter sido concedido
por decisão unilateral do Ministro da Justiça não elimina o efeito previsto no art. 33 já
mencionado.40
Em face da apertada votação e como ainda não participaram da votação do Caso Battisti
dois Ministros (Celso de Mello e Dias Toffoli, por motivos de foro íntimo) a temática ainda
não está pacificada. Com isso, resta analisar o controle judicial do refúgio, porque a
experiência mostra que a temática do refúgio pode gerar inconformismos e busca de
reversão (quer a favor ou contra a concessão) no Judiciário. Avaliaremos, a seguir, o
problemático controle judicial do refúgio.
O controle judicial das decisões de mérito do Conare insere-se em um tema mais amplo
que é a judicialização da política externa ou das relações internacionais do Brasil. Há
vários casos com repercussão nacional, no qual o Poder Judiciário avaliou atos
administrativos, que, em um primeiro momento, seriam da alçada discricionária do
Poder Executivo no exercício de sua função de gestão das relações internacionais (art.
84, VIII, da CF/1988 (LGL\1988\3) entre outros).
Foi assim no caso da ação do Ministério Público Federal que exigiu que a União, em
nome da reciprocidade diplomática, tomasse as providências para que os norte-
americanos fossem fotografados e tivessem suas impressões digitais colhidas assim que
ingressassem no Brasil, em reação à idêntica medida imposta nos Estados Unidos aos
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brasileiros.41 E foi assim no caso da suspensão liminar, pelo STJ, da cassação do visto do
jornalista Larry Rother, que publicara reportagem considerada ofensiva à honra do
Presidente da República da época.42
Em ambos os casos o Poder Judiciário foi provocado para fazer valer o Direito em um
Estado Democrático como o brasileiro. Tal postura do Judiciário é comum em outras
áreas do Direito Administrativo e sua função de avaliar a correta aplicação da lei por
parte do Poder Executivo não chama mais a atenção. Mesmo em relação aos chamados
atos discricionários, há muito foram desenvolvidos instrumentos de controle da chamada
conveniência e oportunidade da Administração Pública, que impedem que, sob o manto
da discricionariedade, sejam camuflados abusos de todos os tipos. Assim, consolidou-se
na jurisprudência o uso da teoria dos motivos determinantes, da teoria do desvio de
finalidade e abuso de poder e, ultimamente, do princípio da proporcionalidade, que
asseguram ao Poder Judiciário instrumentos para controlar o abuso e o excesso por
parte do Poder Executivo.
Não poderia ser diferente a postura do Poder Judiciário no que tange à atuação do
Conare. Há que se levar em consideração o princípio da universalidade de jurisdição,
previsto no art. 5.º, XXXV, que permite a revisão das decisões administrativas pelo
Poder Judiciário. Além disso, não há discricionariedade ou espaço político para a tomada
de decisão do Conare: diferentemente do asilo político, o refúgio é direito do estrangeiro
perseguido. Ou seja, caso o Conare entenda pela inexistência dos pressupostos
necessários, pode o estrangeiro, associação de defesa dos direitos humanos, Ministério
Público Federal ou Defensoria Pública da União questionar tal posição judicialmente. 43
Por outro lado, o reverso da moeda merece análise mais detida. De fato, o princípio da
proteção e da proibição do non-refoulement exigem do órgão judicial um escrutínio
estrito de eventual falta de pressuposto (perseguição odiosa ou violação maciça e grave
de direitos humanos) da concessão de refúgio. Apenas e tão somente na inexistência de
fundamento algum é que poderia o Judiciário apreciar o ato e, com isso, preservar o
próprio instituto do refúgio, que se desvalorizaria face ao uso abusivo. De fato, chamo a
atenção a esse ponto, que pode parecer paradoxal: a ausência de controle judicial de ato
concessivo de refúgio pode redundar na erosão da credibilidade do refúgio, graças a
concessões ilegítimas, eivadas de considerações de conveniência dos poderosos de
plantão.
Se a resposta for positiva (os fatos apresentados pelo Estado requerente são justamente
aqueles que, na visão do Conare, provam perseguição odiosa), resta ainda saber se o
STF pode reavaliar o mérito da decisão do Conare, ou seja, considerar que não era caso
de concessão de refúgio por inexistirem os pressupostos previstos na lei e nas
convenções internacionais celebradas pelo Brasil e, consequentemente, autorizar a
extradição do refugiado.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
Na Extradição 1085 (Caso Battisti) e no conexo MS 27875 proposto pela Itália (atacando
o ato do Ministro de Estado concessivo do refúgio), vários posicionamentos divergentes
foram expostos. Houve quem defendesse a aplicação automática do art. 33 (nas
palavras do Procurador-Geral da República: "A existência de obstáculo formal ao
processamento da extradição torna irrelevante, na minha compreensão, a discordância
verificada quanto à solução de mérito"). 47 Por sua vez, o Min. Joaquim Barbosa atacou a
"arrogância com que a República Italiana litiga neste caso", criticou duramente o
Embaixador italiano (que teria tido a "audácia", nas palavras do Ministro, de pedir
audiência privada para debater o caso, sem se restringir ao órgão competente - o
Ministério das Relações Exteriores) e fez valer a soberania brasileira de conceder o
refúgio, com o arquivamento subsequente do processo de extradição. Para o Min.
Barbosa, o mandado de segurança da República Italiana não pode servir para atacar ato
de soberania que "não pode ser solucionado por uma das Cortes envolvidas", pois a
Suprema Corte de um Estado também é órgão de soberania. 48 Por isso, a concessão de
refúgio não é ato administrativo comum, mas ato de soberania, tomado pela República
Federativa do Brasil e que reverbera nas relações internacionais, sendo regido pelo
Direito das Gentes e inatacável pelo Judiciário nacional. Quanto à extradição, lembrou o
Min. Joaquim Barbosa de seu caráter especial, de proteção ao extraditando. Na visão do
Ministro, a intervenção do STF deve se operar na extradição em prol do extraditando e
não em seu detrimento.
Houve votos favoráveis ao judicial review. O Min. Grau pendeu para a revisão judicial do
ato administrativo de concessão do refúgio em ação própria, com extinção do processo
de extradição. E, finalmente, o Min. Peluso considerou, como visto, ser possível a revisão
judicial inclusive em preliminar do processo de extradição.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
Esta revisão pelo Judiciário (pelo STF, nos processos extradicionais, ou em outros tipos
de ações, como, por exemplo, uma ação civil pública interposta pelo Parquet federal)
deve ser feita de modo fundamentado e levar em consideração a meta final do Direito
dos Refugiados que é a preservação da dignidade humana, sob pena de expor o Brasil a
sua responsabilização internacional por violação de direitos humanos, uma vez que o
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
9. Conclusões: as perspectivas
O Brasil hoje acolhe mais de três mil refugiados do mundo, uma pequena gota dos
milhões existentes, de acordo com os dados do Acnur, tendo o Conare já indeferido mais
de duas mil solicitações. Há mais de 70 nacionalidades entre os acolhidos no Brasil e o
desafio da inclusão desses estrangeiros em situação de risco continua.52
Além disso, em que pese à limitada perspectiva de investimento público, ressalto que os
refugiados estrangeiros contribuem em muito para o Brasil. Contribuem ao participar do
desenvolvimento nacional, com seu labor e infusão de novas práticas culturais e sociais.
Contribuem, também, ao estimular a tolerância e o conhecimento da diversidade da
humanidade. Cada refugiado que aqui é acolhido incute um pouco mais de respeito ao
diferente e estimula o diálogo entre aqueles que com ele convivem.
A Lei 9.474/1997, por sua vez, espalha uma mensagem importante: que é possível
acolher os refugiados com dignidade, sem estabelecer "centros de internação" ou
apreensão de barcos na costa. O direito de ingresso do solicitante de refúgio no território
nacional e seu amparo por uma rede de apoio social é uma conquista histórica da
proteção de direitos humanos no Brasil, que não pode ser eliminada.
10. Bibliografia
ALMEIDA, Guilherme Assis de. Direitos humanos e não violência. São Paulo: Atlas, 2001.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
BETHLEHEM, Daniel; LAUTERPACHT, Elihu. The scope and content of the principle of
non-refoulement: opinion. In: FELLER, Erika; TURK, Volker; NICHOLSON, Frances (eds.).
Refugee protection in international law. Cambridge: Cambridge University Press, 2003,
p. 87-181.
______. Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005.
______. Análise crítica dos casos brasileiros Damião Ximenes Lopes e Gilson Nogueira na
Corte Interamericana de Direitos Humanos. II Anuário Brasileiro de Direito Internacional.
Belo Horizonte: Cedin, 2007. vol. 1.
GOODWIN-GILL, Guy S. Entry and exclusion of refugees: the obligations of states and
the protection function of the office of the United Nations High Commissioner for
Refugees. 3 Michigan Yearbook of International Legal Studies. New York: University of
Michigan Law School, 1982, p. 291 e ss.
HATHAWAY, James. The law of refugee status. Vancouver: Butterworths Canada Ltd.,
1991.
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. Reconhecimento dos refugiados pelo Brasil. Decisões
comentadas pelo Conare. Brasília: Conare e Acnur Brasil, 2007.
WEIS, Paul. The Refugees Convention, 1951: the travaux préparatoires analysed, with a
commentary. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
6. ALMEIDA, Guilherme Assis de. Direitos humanos e não violência. São Paulo: Atlas,
2001, p. 122.
10. A visão crítica de Hathaway, não muito comum em autores de países desenvolvidos
de língua inglesa, é demolidora. Nas palavras do autor: "By mandating protection for
those whose (Western inspired) socio-economic rights are at risk, the Convention
adopted an incomplete and politically partisan human rights rationale".Ver HATHAWAY,
James. The law of refugee status. Vancouver: Butterworths, 1991, p. 7-8.
11. Para Dimopoulos, "The history of the Convention shows that to a significant extent, it
was entered into to serve Western political and economic needs". Ver em DIMOPOULOS,
Penny. Membership of a particular group: an appropriate basis for eligilibity for refugee
status? 7 Deakin Law Review (2002), p. 367-385, em especial p. 370.
12. Ver em BETHLEHEM, Daniel e LAUTERPACHT, Elihu. The scope and content of the
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refugiados: do ingresso à extradição
13. Art. 33. "Proibição de expulsão ou de rechaço. 1. Nenhum dos Estados Contratantes
expulsará ou rechaçará, de forma alguma, um refugiado para as fronteiras dos territórios
em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, da sua
religião, da sua nacionalidade, do grupo social a que pertence ou das suas opiniões
políticas". Na Lei 9.474/1997, ficou estipulado no art. 7.º, § 1.º, que: "Em hipótese
alguma será efetuada sua deportação para fronteira de território em que sua vida ou
liberdade esteja ameaçada, em virtude de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou
opinião política".
14. RSE 2001.61.19.002993-0, 1.ª T., j. 02.10.2001, recorrentes: Yang Huacan, Huang
Qiwang, Yang Longsheng, Yang Suming, recorrido: Justiça Pública, rel. Juiz Convocado
Gilberto Jordan, DJU 29.10.2001, p. 382.
15. Ver voto do rel. Juiz convocado Gilberto Jordan. RSE 2001.61.19.002993-0, 2001, p.
382.
18. Tal recomendação, instrumento previsto na LC 75/1993, foi elaborada pelo autor do
presente artigo, na época Procurador Regional dos Direitos do Cidadão do Estado de São
Paulo.
20. CANADÁ. Diluna, Roselene Edyr Soares v. Canada (Minister of Citizenship and
Immigration). Disponível em: [www.irb-cisr.gc.ca], acesso em: 28.01.2009.
21. Este relato, ao que tudo indica inédito em artigos sobre refugiados no Brasil, consta
da recomendação realizada pela Procuradora da República Maria Luiza Grabner, em
21.12.2000 ao Conare. Conferir em BRASIL. Representação 1.34.001.005971/2000-19,
2000, disponível nos arquivos da Secretaria dos Ofícios da Tutela Coletiva do Ministério
Público Federal do Estado de São Paulo.
22. Conferir em LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. Reconhecimento dos refugiados pelo
Brasil. Decisões comentadas pelo Conare. Brasília: Conare e Acnur Brasil, 2007, em
especial p. 75.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
24. In verbis: "Art. 34. "A solicitação de refúgio suspenderá, até decisão definitiva,
qualquer processo de extradição pendente, em fase administrativa ou judicial, baseado
nos fatos que fundamentaram a concessão do refúgio."
25. Neste sentido, já foi decidido pelo STF que "(...) O pedido de refúgio, formulado após
o julgamento de mérito da extradição, produz o efeito de suspender o processo, mesmo
quando já publicado o acórdão, impedindo o transcurso do prazo recursal". 2.ª QO em
Extradição 785/ME, j. 13.09.2001, requerente: Governo dos Estados Unidos Mexicanos,
extraditando: Sergio Gustavo Andrade Sanchez, rel. Min. Néri da Silveira, DJU
14.11.2003, p. 13.
26. In verbis: "Art. 22. Enquanto estiver pendente o processo relativo à solicitação de
refúgio, ao peticionário será aplicável a legislação sobre estrangeiros, respeitadas as
disposições específicas contidas nesta Lei".
27. In verbis: "Art. 84. Efetivada a prisão do extraditando (art. 81), o pedido será
encaminhado ao Supremo Tribunal Federal." Lei 6.815, de 19.08.1980. Disponível em:
[www.planalto.gov.br], acesso em: 29.01.2009.
30. Ver decisão de 28.07.2006, DJ 08.08.2006, Extradição 1008, rel. Min. Gilmar
Mendes, requerente(s): Governo da Colômbia, extraditando: Francisco Antonio Cadena
Collazos ou Oliverio Medina ou Camilo Lopez ou Cura Camilo.
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refugiados: do ingresso à extradição
34. STF, Extradição 1085, requerente: Governo da Itália, extraditando: Cesare Battisti,
rel. Min. Cezar Peluso. Acórdão ainda não publicado.
39. In verbis: "7. A apreciação do mérito do ato de concessão de refúgio, ato do Ministro
da Justiça, poderá em tese ser pretendida, no juízo adequado, pelo Estado estrangeiro
ou por quem demonstre legitimidade processual para tanto, não, porém, em processo de
extradição ou mesmo em questão de ordem. O Poder Judiciário verificará, então, como
anotei linhas acima, se o ato do Poder Executivo é correto, mesmo porque, no caso,
inexiste uma interpretação verdadeira (única correta) da ocorrência, nele, de fundado
temor de perseguição." STF, Extradição 1085, requerente: Governo da República
Italiana, extraditando: Cesare Battisti, rel. Min. Cezar Peluso. Acórdão ainda não
publicado. Voto do Min. Eros Grau. Disponível em: [www.conjur.com.br], acesso em:
16.10.2009.
41. A ordem judicial foi exarada pelo juiz federal Julier Sebastião da Silva, de Mato
Grosso. A liminar foi concedida em ação cautelar preparatória de ação civil pública
promovida pelo Ministério Público Federal (Procurador da República em Mato Grosso,
José Pedro Taques). Ver a íntegra da ação em: [http://conjur.estadao.com.br], último
acesso em: 11.03.2006.
42. O remédio judicial perdeu o objeto, após nova decisão do Poder Executivo,
desistindo de cassar o visto, em atendimento a pedido de reconsideração por parte do
jornalista. STJ, HC 35.445/DF, impetrante: Sérgio Cabral, impetrado: Ministro de Estado
da Justiça, paciente: William Larry Rohter Júnior, rel. Min. Francisco Peçanha Martins.
Brasília, decisão de 13.05.2004, publicada em 18.05.2004.
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O princípio do non-refoulement no direito dos
refugiados: do ingresso à extradição
43. Cabe lembrar que o Conare é um órgão despersonalizado da União. Ou seja, em face
do art. 109 da CF/1988 (LGL\1988\3), o questionamento de suas decisões será feito
perante a Justiça Federal.
47. Ver § 12 do Segundo Parecer do PGR após a concessão do refúgio. Parecer em mãos
do autor do presente artigo in STF, Extradição 1085, requerente: Governo da República
Italiana, extraditando: Cesare Battisti, rel. Min. Cezar Peluso. Acórdão ainda não
publicado.
49. CARVALHO RAMOS, André de. Análise crítica dos casos brasileiros Damião Ximenes
Lopes e Gilson Nogueira na Corte Interamericana de Direitos Humanos. IIAnuário
Brasileiro de Direito Internacional. 1. ed. Belo Horizonte: Cedin, 2007. vol. 1, p. 10-31.
51. Ver sobre o tema da responsabilidade internacional por violação de direitos humanos
em CARVALHO RAMOS, André de. Responsabilidade internacional por violação de
direitos humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.
54. Ver mais em CARVALHO RAMOS, André de. Processo internacional de direitos
humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
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