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CURSO DE DIREITO
NITERÓI
2021
Beatriz Gonçalves Trindade
Juliana Rodrigues Teixeira
Karolaine Virgilio de Souza
NITERÓI
2021
No mundo jurídico, existem determinados casos concretos que se tornam referência
para professores e alunos. O Direito Público das Relações Internacionais possui alguns casos
que alcançam grandes proporções midiáticas, aqui no Brasil tivemos o caso Cesare Battisti. A
análise jurídica deste caso envolve temas como direito internacional dos refugiados,
refugiados e direito de asilo, expulsão e extradição, condição jurídica do estrangeiro, entre
outros.
Assim, face às diversas possibilidades jurídicas que cercam esse tema, este trabalho
tem como objetivo abordar o caso Cesare Battisti sob a ótica do Direito Público das Relações
Internacionais. Dessa forma, serão abordados, primeiramente, os fatos ocorridos na Itália e
em seguida, será analisado o rumo em que o processo tomou no Brasil, traçando uma linha do
tempo entre os acontecimentos. E por fim, serão elucidados alguns principais institutos de
Direito Público das Relações Internacionais envolvidos no processo, como por exemplo,
expulsão e extradição, direito internacional dos refugiados, refugiados e direito de asilo.
SOBRE O CASO
O asilo político ou territorial é o tipo mais comum, e baseia-se nos casos em que um
Estado qualquer concede asilo a um estrangeiro que se encontra dentro do espaço territorial
deste Estado, alegando que precisou fugir do seu país de origem por sofrer perseguição
política. A legislação internacional proíbe o asilo político nos casos de crime comum ou atos
contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas. Proíbe-se também a concessão de
asilo político nos casos de crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade.
Além disso, existe o asilo diplomático, que é uma espécie de forma provisória do
asilo político. Sendo uma característica da América Latina, não sendo muito utilizado em
outros continentes. De acordo com o artigo 1º do Decreto nº 42.628/57, o asilo diplomático é
aquele concedido em legações (sede de missão diplomática ou residência do chefe desta
missão), navios de guerra e acampamentos ou aeronaves militares, a pessoas perseguidas por
motivos ou delitos políticos. [2]
Portanto, a única diferença entre eles é que o asilo político é concedido no território
do Estado asilante, enquanto o asilo diplomático é concedido fora de seu território, nos locais
em que a legislação permite. Assim que o asilo diplomático é concedido, o Estado que
concedeu deve informar ao Estado que está perseguindo politicamente o asilado, que deverá
providenciar um salvo-conduto, que permita ao asilado dirigir-se ao território do país asilante.
Após esses procedimentos, o asilo diplomático será substituído pelo asilo político, de acordo
com as regras daquele Estado.
O REFÚGIO
Em 1977 foi publicada a Lei nº 9.474/97, que tinha como objetivo delinear
mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados. A partir daí, foi criado o
Comitê Nacional para os Refugiados – CONARE, órgão colegiado, vinculado ao Ministério
da Justiça e Segurança Pública, que tem por objetivo deliberar sobre as solicitações de
reconhecimento da condição de refugiado no Brasil.
O artigo 3º da Lei nº 9.474/97 veta o benefício de refúgio para aqueles que tenham
cometido crimes contra a paz, contra a humanidade, crimes de guerra, crime hediondo,
participado de atos terroristas ou tráfico de drogas. Além disso, o artigo 33 dispõe que a
concessão do refúgio impede a extradição, desde que seja “baseado nos fatos que
fundamentaram a concessão de refúgio.”[3]
EXPULSÃO E EXTRADIÇÃO
FASES DA EXTRADIÇÃO
Nós não temos tempo para estar aqui a redigir e recitar votos tão extensos e
ilustrados para que nada aconteça, para que não haja consequências. Há
consequências sim nas decisões e nas manifestações do Supremo Tribunal Federal.
Quando ele se manifesta, como no caso, pela legitimidade do pedido encaminhado
pelo Estado estrangeiro, comunica isso ao Presidente da República; e o Presidente
da República, como representante da nação brasileira no concerto das Nações,
cumpre, executando os atos de entrega
Dentre os ministro que votaram de maneira contrária da acima citada tem-se o Ministro
Joaquim Barbosa que, em seu voto, afirmou que:
Opina-se, assim, pela não autorização da extradição de Cesare Battisti para a Itália,
com base no permissivo da letra f do número 1 do art. 3 do Tratado de Extradição
celebrado entre Brasil e Itália, porquanto, do modo como aqui argumentado, há
ponderáveis razões para se supor que o extraditando seja submetido a agravamento
de sua situação por motivo de condição pessoal, dado seu passado, marcado por
atividade política de intensidade relevante. Todos os elementos fáticos que
envolvem a situação indicam que tais preocupações são absolutamente plausíveis,
justificando-se a negativa da extradição, nos termos do Tratado celebrado entre
Brasil e Itália.
Em Dezembro de 2018 o Ministro Luiz Fux revogou a sua antiga decisão que impedia a
extradição de Battisti. A partir daí, foi ordenada a sua prisão. Um dia após o presidente Michel Temer
assinou o decreto que autorizava a extradição. A partir deu-se início a procura por Battisti, entretanto,
como não conseguiram localizar o mesmo foi considerado foragida da justiça bem como buscado pela
Interpol.
Após cerca de um mês o italiano foi localizado e preso na Bolívia em Santa Cruz de la Sierra,
onde residia ilegalmente. A partir daí tinham duas opções: Battisti poderia ser enviado novamente
para o Brasil para de lá ser extraditado, mas nesse caso sua pena ficaria restrita a 30 anos como
solicitado por Brasília no acordo de extradição, ou ele poderia ser extraditado diretamente da Bolívia.
Optando pelo último caso Cesare Battisti foi enviado de avião diretamente para a Itália por
investigadores italianos da Interpol.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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suposição de que o extraditando poderia ser submetidos a atos de discriminação, por motivo
de situação pessoal. Brasília, 28 de dezembro de 2010.
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