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LABORATÓRIO DE CASOS JURÍDICOS II

AV4
Bruno Henrique Ladeira

Jean Oliver, nascido em Paris, na França, naturalizou-se brasileiro no ano de 2003. Entretanto, no ano
de 2016, foi condenado, na França, por comprovado envolvimento com tráfico ilícito de drogas
(cocaína), no território francês, entre os anos de 2010 e 2014. Antes da condenação, em 2015, Jean
passou a residir no Brasil.
A França, com quem o Brasil possui tratado de extradição, requer a imediata extradição de Jean, a fim
de que cumpra, naquele país, a pena de oito anos à qual foi condenado.
Apreensivo, Jean o procura um advogado e o questiona acerca da possibilidade de o Brasil extraditá-
lo. Como advogado, então, como responderia, segundo o sistema jurídico-constitucional brasileiro,
sobre o pedido de extradição?

RESPOSTA:

Inicialmente, mister se faz mencionar as diferenças conceituais lecionadas pela Constituição


Federal entre brasileiros natos e naturalizados. Nos termos do Art. 12 são brasileiros natos ou
naturais aqueles: nascidos no território do país; nascidos no estrangeiro de pai ou mãe
brasileiros, desde que estes estejam a serviço da República; e os nascidos no estrangeiro
também de pai ou mãe brasileiros, porém registrados em repartição competente fora do país
ou venham no futuro residir em território nacional.

Os naturalizados, por sua vez, conforme o supracitado Art. 12 são aqueles que residem por
um ano de forma ininterrupta no Brasil com idoneidade moral e originários de país que
utilizam a língua portuguesa, que por meio de lei, adquirem nacionalidade brasileira. E
também, os estrangeiros de qualquer nacionalidade que residem no Brasil por mais de quinze
anos ininterruptos, serão detentores dos mesmos direitos do brasileiro nato, desde que não
tenham condenação penal.

No que tange à extradição, esta se caracteriza quando um Estado estrangeiro a pedido de


outro, entrega um indivíduo para que o mesmo seja julgado ou punido por crime praticado em
seu território. Nesse ínterim, o Supremo Tribunal Federal a define:

A extradição – enquanto meio legítimo de cooperação internacional na


repressão às práticas de criminalidade comum – representa instrumento de
significativa importância no combate eficaz ao terrorismo, que constitui ‘uma
grave ameaça para os valores democráticos e para a paz e a segurança
internacionais (…)’ (Convenção Interamericana Contra o Terrorismo, Art.
11), justificando-se, por isso mesmo, para efeitos extradicionais, a sua
descaracterização como delito de natureza política.” (Ext 855, rel. min. Celso
de Mello, julgamento em 26-8-2004, Plenário, DJ de 1º-7-2005.)

Ademais, existem duas espécies de extradição: a ativa que ocorre quando o Brasil solicita a
outro país a entrega de um indivíduo para que seja julgado ou punido por crime cometido em
território brasileiro. E, também, há a extradição passiva, ocorrida em situações que um Estado
estrangeiro solicita ao Brasil a entrega do indivíduo que esteja em solo brasileiro. Salienta-se
que a Constituição vigente somente trata sobre a modalidade passiva, ficando a ativa a cargo
do Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80).

Quanto ao caso concreto apresentado, no posto de advogado de Jean Pierre, o responderia que
seria possível sim a sua extradição para a França, levando em consideração o Art. 5º, inciso LI
da Carta Magna, que em seu texto leciona: “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o
naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”. Nota-se que
em regra os brasileiros naturalizados não podem ser extraditados, contudo o referido artigo
apresenta duas exceções.

Salienta-se, ainda, que Jean mesmo naturalizado brasileiro antes da consumação do crime, não
receberia o “benefício” de não ser extraditado, já que o inciso LI do art. 5º não mencionou,
nos casos de envolvimento com tráfico de drogas, se o tempo em que fora praticado tal crime
importava como motivo para não o extraditar.

Sobre a extradição passiva, o STF entende da seguinte forma: “pode ser extraditado o
brasileiro naturalizado que adquiriu a nacionalidade após a prática do crime comum que
fundamenta o pedido de extradição.” (HC 87.219, rel. min. Cezar Peluso, julgamento em 14-
6-2006, Plenário, DJ de 4-8-2006.).

Acerca da competência da extradição, o Art. 22, inciso XV da Constituição afirma competir


privativamente à União legislar sobre os assuntos de nacionalidade. Sob à ótica do judiciário,
o Supremo Tribunal Federal é o responsável por julgar e processar a extradição passiva, nos
termos do Art. 102, inciso I, alínea “g”, também da CF/88. À luz do Estatuto do Estrangeiro, é
estabelecido por meio de seu Art. 83 que a extradição somente será concedida após o
pronunciamento do STF sobre a legalidade e procedência processual.
Por fim, conclui-se que Jean poderá ser extraditado à França, considerando o exposto pelo
inciso LI do Art. 5º da CF/88, no qual especifica acerca do brasileiro naturalizado que comete
crime envolvendo drogas poderá ser extraditado, não sendo o legislador explícito sobre o
momento da prática do delito.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Wellington. A extradição segundo a Constituição Federal. Disponível em:


https://blog.grancursosonline.com.br/a-extradicao-segundo-a-constituicao-federal/. Acesso
em: 27/11/2020.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília:


Senado Federal, 1988.

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