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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

REPERCUSSÃO ACERCA DA CONDENAÇÃO DO EX JOGADOR DE


FUTEBOL “ROBINHO”: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DO DIREITO
INTERNACIONAL PRIVADO.

Dennis Miguel Dias Marques de Oliveira

Palavras-chave: Extradição, Condenação, Jurisdição, Direito Internacional.

1. INTRODUÇÃO

O ex jogador de futebol, Robson de Souza, mais conhecido como


Robinho, foi condenado na terceira e última instância da Itália por um crime que
cometeu há 09 anos atrás, na cidade de Milão. Trata-se do crime de estupro
coletivo, e a pena do ex jogador foi estipulada em 09 anos de prisão, mais uma
multa no valor de 60 mil euros. A vítima, foi uma mulher albanesa, que hoje
possui 31 anos de idade.

Na época de sua condenação, o jogador atuava pelo Atlético-MG, e


desde sempre negou todas as acusações, contudo, escutas telefônicas
constam que o ex futebolista e os amigos sabiam que a vítima estava
inconsciente e não seria capaz de lembrar do fato. Desde então, o atleta se
afastou do futebol, porém todo o imbróglio jurídico acerca do caso ainda não foi
resolvido.

2. ANÁLISE DO CASO CONCRETO

A justiça italiana fez o pedido de extradição de Robinho. Entretanto,


segundo o Art. 5º, LI, CF – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o
naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou
de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
na forma da lei. Portanto, foi com base nesse fulcro constitucional que o
Ministério Público do Brasil negou a extradição.

Ele não será extraditado, assim, a única possibilidade do mesmo cumprir


a pena em território italiano, seria se apresentando a polícia de forma
espontânea, como também pode se apresentar a algum país que faça parte do
pacto de atuação da polícia internacional, a Interpol.

O fato de o Brasil não realizar a extradição dos brasileiros natos, não


significa que os crimes cometidos vão ficar impunes, existe uma máxima nos
tratados de Direito Internacional, que diz: “Extradite ou Julgue”. Assim, o
processo deverá ser julgado pela justiça brasileira.

Houve também o questionamento se Robinho não poderia cumprir a


pena que foi imposta a ele na Itália, aqui no Brasil. Com premissa na lei de
imigração, com base no Art. 100, que dispõe o seguinte: “Nas hipóteses em
que couber solicitação de extradição executória, a autoridade competente
poderá solicitar ou autorizar a transferência de execução da pena, desde que
observado o princípio do non bis in idem”.

Porém, o Artigo é bem objetivo e explicativo ao dizer que esse meio só


caberá quando for possível extradição executória e transferência de execução
de pena, pois, Robson de Souza é um brasileiro nato e sua extradição não será
judicialmente possível sob nenhuma circunstância.

Para não haver uma indisposição diplomática, o Brasil não pode apenas
ignorar a situação, já que não pode fazer a extradição. Sendo assim, uma
alternativa plausível em relação a esse imbróglio seria solicitar que o caso
fosse julgado pela justiça brasileira, sendo aplicado os códigos das leis penais
e processuais brasileiras, alternativa que está expressa no código penal,
através da Alínea "b" do Inciso II, do Artigo 7º do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de
Dezembro de 1940 (código penal):

Ficam sujeitos à lei brasileira, embora


cometidos no estrangeiro: (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 1984)
II - os crimes: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
b) praticados por brasileiro; (Incluído pela Lei
nº 7.209, de 1984).

Outra corrente doutrinária analisa que, seria através de uma cooperação


jurídica internacional, entre Brasil e Itália, para homologar essa decisão, pelo
Supremo Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça, desde que cumprida
todos os requisitos legais.
Sendo avaliado diversas premissas, como a de que se o réu foi citado
corretamente, se foram respeitados os direitos e garantias fundamentais, se o
fato também é crime aqui no Brasil, situação que se encaixa no caso em
questão, pois o crime de estupro coletivo é inserido em que a pena do agente
será elevada de um a dois terços quando o estupro for cometido mediante
concurso de duas ou mais pessoas. A majorante foi inserida no Código Penal
pela Lei nº 13.718/18, antes disso, se o estupro fosse cometido mediante
concurso de duas ou mais pessoas, aplicava-se a exasperante genérica dos
crimes sexuais prevista no inciso I do artigo 226 (aumento de pena de quarta
parte).

Outra questão a ser analisada é se a pena está adequada, se é justa e


também se existe acordo de cooperação entre Brasil e Itália, em matéria de
não persecução de pena ou se a Itália oferece reciprocidade de penas.

3. CONCLUSÃO

Infelizmente, esse processo é lento, como a maiorias outros processos


judiciais vistos no Brasil. O ex jogador também não pode ter suas prerrogativas
violadas, tem direito a ampla defesa e contraditório. E assim, o STJ vai optar
em homologar ou não essa sentença penal condenatória estrangeira.

Caso seja homologada, a pena será executada no Brasil, pelas regras


da execução penal brasileira, com base na Lei de Execução Penal e não pelas
regras adotadas no país de origem do processo. Portanto, ele teria, com a
confirmação da pena, benefícios como progressão de pena. Outro fato
interessante de ser lembrado é que apesar dessa execução de pena ser feita
em uma penitenciária estadual, será de competência da Justiça Federal.

Muitas pessoas analisam o caso do ex atleta Robinho e tentam associar


com o famoso caso de Cesare Batiste, mas são situações amplamente
diferentes. No caso de Cesare, ele se tratava de um nacional italiano que
estava foragido no Brasil. Com a Itália solicitando a extradição de um cidadão
Italiano, caso que foi analisado pelo Supremo Tribunal Federal, culminando na
sua extradição oficial pelo governo brasileiro. Lembrando que ele não era
brasileiro nato, como Robinho.
Além do ex futebolista brasileiro, cerca de mais 04 pessoas também
estavam presente no ato do estupro, porém não foram localizados pela polícia
italiana e não puderam ser processados. Desde então, o jogador negou todas a
acusações, teve diversos contratos finalizados e ainda vem sofrendo uma série
de ataques na rua a na internet.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2022/01/robinho-e-condenado-
definitivamente-por-estupro-coletivo-na-italia.shtml

https://noticias.cers.com.br/noticia/analise-juridica-do-caso-robinho/

https://blog.verbojuridico.com.br/caso-robinho-e-a-impossibilidade-de-
cumprimento-de-pena/
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2018/01/29/extradicao-de-
brasileiro-nato-e-interpretacao-sistematica-da-constituicao-federal/

https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/2164/Estupro-
coletivo#:~:text=Trata%2Dse%20de%20causa%20espec%C3%ADfica,de
%20duas%20ou%20mais%20pessoas.

https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/10272018/caso-robinho-policia-
federal-precisa-localizar-atacante-pedido-prisao-seja-feito-diz-site

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