Você está na página 1de 134

01/02/12

Continuação IP:

5. Características do Inquérito Policial

5.5. Procedimento discricionário: Liberdade de atuação nos limites traçados na lei.


Art. 14, CPP. O ofendido, ou seu representante e o indiciado poderão requerer qualquer diligência,
que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

Discricionariedade de modo algum se confunde com arbitrariedade. O delegado não pode


contrariar a lei.

Há diligências cuja realização não pode ser indeferida pelo delegado, que a própria lei impõe. Ex:
exame de corpo de delito.

5.6. Procedimento indisponível: A autoridade policial não pode determinar o arquivamento do


inquérito policial.
A autoridade policial não pode arquivar o IP (art. 17, CPP).

5.7. Procedimento temporário: prazo para concluir o IP

a) Investigado preso: prazo de 10 dias


A doutrina majoritária entende que esse prazo não pode ser prorrogado.

b) Investigado solto: prazo de 30 dias


Pode ser prorrogado

OBS: HC 96 666, STJ: traz um entendimento novo. Duração razoável do processo, que não diz
respeito apenas à fase judicial, mas também à fase policial. Determinou o trancamento do IP,
trabalhando com a ideia da razoável duração do processo, que foi afrontado, pois nesse caso o IP
durou mais de 7 anos.

6. Formas de instauração do IP

Depende da espécie de crime.

1) Ação penal privada ou de ação penal pública condicionada:

a) Dependendo de requisição do Ministro da Justiça.


Ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça

b) Privada/pública condicionada a representação: depende de manifestação da vítima.

Quanto à manifestação de vontade da vítima, não há necessidade de formalismo.


Estupro: é um tipo de crime chamado cifra negra, ou seja, crimes que jamais são conhecidos pelas
autoridades.

Ainda q não haja uma folha de papel escrito representação, o ato de ir à delegacia e ao IML, por
exemplo, há entendimento de que a vítima deseja prosseguir com o IP.
b) Ação penal pública incondicionada: art. 5º, CPP

a) De ofício: princípio da obrigatoriedade. Se o delegado toma conhecimento de um fato delituoso


ele é obrigado a instaurar um IP.

A peça inaugural do IP vai ser uma portaria do delegado, onde vai descrever como tomou
conhecimento do crime, narrando o fato delituoso e as diligências necessárias.

b) Requisição do Juiz ou do MP: ordem, obrigatoriedade

Essa redação deve ser lida à luz da CF/88, pois se trata de art. elaborado em 1942.
Quando o juiz instaura um IP, atuando de ofício, acaba comprometendo o que ele tem de mais
sagrado, ou seja, sua imparcialidade.
A maioria da doutrina entende que a requisição do juiz viola o sistema acusatório e a garantia da
imparcialidade do juiz.

Porém, se o juiz tomar conhecimento de um crime, ele não pode ser conivente. Assim, ele deve
informar a prática delituosa ao MP, remetendo em autos ou papéis as cópias dos documentos
necessários ao oferecimento da denúncia. O juiz da vista para que o MP requisite a instauração do
IP (art. 40, CPP).

A própria requisição do MP será a peça inaugural do IP.

c) Requerimento do ofendido ou de seu representante legal: o delegado deve determinar de plano


a instauração do IP?

A simples instauração de um IP já traz sérios prejuízos a uma pessoa. Assim, o delegado deve
verificar a procedência das informações, se é plausível a instauração do IP.

Na hipótese de indeferimento do pedido de instauração do IP, é cabível interposição de RECURSO


INOMINADO PARA O CHEFE DE POLÍCIA. (art. 5º, II, §2º).
O chefe de polícia hoje pode ser o Delegado Geral da Polícia Civil ou ao Secretário de Segurança
Pública. No âmbito federal ao Superintendente da Polícia Federal.

Em caso de indeferimento do delegado, é mais fácil fazer um requerimento ao MP. Porque do MP


parte uma requisição ao Delegado que fica obrigado a instaurar o IP.

A peça inaugural será uma portaria do Delegado.

d) Notícia oferecida por qualquer pessoa do povo: qualquer um do povo que presenciar a prática
de um delito pode comunicar ao delegado a prática da infração (delatio criminis). O delegado por
sua vez, deve verificar a procedência das informações, para após mandar instaurar o IP.
Delatio criminis inqualificada: denúncia anônima.

A denúncia anônima por si só não serve para fundamentar a instauração de IP, porém a partir
dela, pode a polícia realizar diligências preliminares para apurar a veracidade das informações e
então instaurar o IP.

A peça inaugural será uma portaria do Delegado.

e) Auto de prisão de flagrante delito: o próprio APF dará inicio ao IP, que será a sua peça inaugural.

OBS: Código de Processo Penal Militar, art. 27: se o APF já trouxer tudo q é necessário para a
elucidação do fato e sua autoria o APF será o próprio IP.

No CPP não há essa previsão, porém na prática tem ocorrido com bastante freqüência, por
economia processual, desde que o APF tenha informações suficientes para o processo penal.

7. Notitia Criminis

7.1. Conceito: é o conhecimento espontâneo ou provocado por parte da autoridade policial acerca
de um fato delituoso.
(queixa, na prática)

7.2. Espécies:

a) De cognição imediata (espontânea): A autoridade toma conhecimento do fato por meio de suas
atividades rotineiras.
Quando o delegado investigando um crime, toma conhecimento de outro delito.

Ex: procura o corpo de um homem e encontra d euma mulher.

b) De cognição mediata (provocada): A autoridade toma conhecimento do fato delituoso por meio
de expediente escrito.

Ex: requisição do MP.

c) De cognição coercitiva: A autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso através da


apresentação de indivíduo preso em flagrante.

8. Identificação criminal

a) Identificação fotográfica: não é um método infalível

b) Identificação datiloscopia: impressões digitais. Mais eficiente para a identificação, inclusive após
a morte.

Pode ser feita a identificação de toda e qualquer pessoa?

Antes da CF/88: Era obrigatória, mesmo que o agente se identificasse civilmente (súmula 568, STF)
Depois da CF/88: Hoje o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo
nas hipóteses previstas em lei. (art. 5º, LVIII)

Pq a identificação criminal submete a pessoa a um processo vexatório.

8.1. Leis relativas à identificação criminal


Lei 8.069/90 – ECA, art. 109: Adolescente se identificado civilmente, só será submetido à
identificação criminal para confrontação, qdo houver dúvida.

Lei 9.034/95 – Organizações Criminosas, art. 5º: será realizada independentemente da


identificação civil. É OBRIGATÓRIA!

Lei 10.054/00 – Antiga lei da identificação criminal, art. 3º: trazia identificação criminal obrigatória
para alguns delitos. Era muito criticado pela doutrina.

Lei 12.037/09 – Nova Lei da Identificação Criminal, art. 3º: Essa lei revogou expressamente a lei
antiga.

Lei 12.654/2012 - coleta de perfil genético como forma de identificação criminal.

Os artigos 109, ECA e 5º da lei 9034/95 continuam em vigor?

A maioria da doutrina diz que esses artigos foram revogados tacitamente em virtude do teor do
art. da Lei 12.037/09, pq é essa lei q vai disciplinar as hipóteses de identificação criminal em seu
art. 3º.

I – documento que apresentar rasura


II – documento insuficiente, ex: certidão de nascimento.
III – identidades distintas com informações conflitantes.
IV – qdo for essencial às investigações

OBS:
1) Ao contrário da Lei 10.054/00, a lei 12.037/09 não trouxe um rol de delitos nos quais a
identificação criminal seria obrigatória

2) Arquivado o inquérito ou absolvido o acusado, é possível que o interessado requeira a retirada


de sua identificação fotográfica, desde que apresente sua identificação civil. NÃO PREVE A
RETIRADA DATILOSCÓPIA (IMPRESSÕES DIGITAIS)

Comentários à Lei 12.654/2012 (coleta de material biológico do investigado ou condenado)


quarta-feira, 30 de maio de 2012
Foi publicada ontem (29/05) a Lei n. 12.654/2012 que prevê a possibilidade de ser realizada uma nova espécie de
identificação criminal, qual seja, a coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético.

Espécies de identificação

1) Identificação civil 2) Identificação criminal

É a pessoa que possui um dos documentos de identificação civil Existem três espécies:

previstos no art. 2º da Lei n.12.037/2009 (exs: carteira de

identidade, de trabalho, passaporte etc.). a) Identificação fotográfica

b) Identificação dactiloscópica (digitais)

c) Coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético.

Obs: esta última foi acrescentada pela Lei n.12.654/2012.

A regra constitucional é a de que a pessoa que for civilmente identificada não será submetida à identificação criminal, salvo nas hipóteses

previstas em lei (art. 5º, LVIII). A Lei que traz essas hipóteses é a Lei n. 12.037/2009.

A Lei n. 12.654/2012, para permitir a identificação criminal mediante a coleta de material biológico, alterou duas leis:

         Lei n. 12.037/09 (Lei de Identificação Criminal);

         Lei n. 7.210/84 (Lei de Execuções Penais).

A Lei n. 12.654/2012 prevê a criação de banco de dados de perfis genéticos com o material coletado dos investigados
e condenados. Qual é a finalidade dessa coleta e da formação desse banco de dados?

Existem inúmeros crimes que cuja execução deixa materiais genéticos como vestígios. Ex1: o sêmen do autor no caso
de um estupro; Ex2: gotas de sangue do agressor na hipótese de um homicídio consumado, em que a vítima tentou se
defender; Ex3: fios de cabelo do agente no caso de um furto.

Em tais situações, será possível a comparação dos vestígios deixados com as informações constantes desse banco de
dados para que se possa descobrir o verdadeiro autor do crime.

Em que hipóteses a nova Lei permitiu a coleta de material biológico da pessoa para a obtenção do perfil
genético?

Foram previstas duas hipóteses:

         durante as investigações para apurar a autoria de crime;

         quando o réu já tiver sido condenado pela prática de determinados crimes.

1ª hipótese: durante as investigações:

Quem determina a coleta de material biológico do investigado para a obtenção do seu perfil genético?

A autoridade judiciária.
Nesse caso, a Lei prevê que essa decisão determinando a coleta do material biológico poderá ser tomada de ofício ou
mediante representação da autoridade policial, do MP ou da defesa.

Qual é o requisito para que seja determinada esta coleta?

Somente será determinada a coleta de material biológico do investigado para a obtenção do seu perfil genético se essa
prova for essencial às investigações policiais.

Onde ficarão armazenados esses dados do material biológico coletado?

A Lei n. 12.654 previu que os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser armazenados em banco de
dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal.

As informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou
comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero, consoante as normas constitucionais e
internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos.

Os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão caráter sigiloso, respondendo civil, penal e
administrativamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em
decisão judicial.

As informações obtidas a partir da coincidência de perfis genéticos deverão ser consignadas em laudo pericial firmado
por perito oficial devidamente habilitado.

Até quando ficarão armazenados estes dados?

A exclusão dos perfis genéticos dos bancos de dados ocorrerá no término do prazo estabelecido em lei para a
prescrição do delito.

Ponto polêmico: mesmo sem que a lei preveja, seria possível a coleta do material biológico do acusado durante o
processo penal, ou seja, após as investigações?

Entendo que não, considerando que se trata de norma que, por restringir direitos fundamentais do acusado, não pode
ser interpretada de forma ampliativa.

Somente em uma situação seria permitida: quando esta coleta tenha sido requerida pela defesa do réu para fins de
prova de sua inocência.

2ª hipótese: após o réu ter sido condenado

A nova Lei acrescentou o art. 9º-A à Lei de Execuções Penais, prevendo o seguinte:

Art. 9º-A.  Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave contra pessoa, ou por
qualquer dos crimes previstos no art. 1º da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, serão submetidos,
obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica
adequada e indolor.

§ 1º A identificação do perfil genético será armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser
expedido pelo Poder Executivo.
§ 2º A autoridade policial, federal ou estadual, poderá requerer ao juiz competente, no caso de inquérito instaurado, o
acesso ao banco de dados de identificação de perfil genético.

Pontos polêmicos:

Para que seja permitida a coleta de material biológico é necessário que a condenação tenha transitado em julgado?

Sim. A Lei não condiciona expressamente que tenha havido o trânsito em julgado, no entanto, essa exigência decorre
do princípio constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII).

É permitida a coleta de material biológico em caso de crimes equiparados a hediondo (tráfico de drogas, tortura e
terrorismo)?

Não. Não é porque tais delitos são equiparados a hediondo que haverá uma simbiose perfeita entre eles. Em verdade,
sempre que a lei quis estabelecer tratamento uniforme entre os crimes hediondos e equiparados, ela o fez
expressamente, como é o caso do art. 2º da Lei n. 8.072/90.

Vejamos um quadro comparativo entre as duas hipóteses de coleta de material biológico:

Situações em que é possível a coleta de material biológico da pessoa

para a obtenção do seu perfil genético

1ª Hipótese: 2ª Hipótese

A coleta somente pode ocorrer durante as investigações (antes de A coleta somente pode ocorrer após a condenação do réu.

ser ajuizada a ação penal)

Não importa o crime pelo qual a pessoa esteja sendo investigada. A coleta somente é permitida se o réu foi condenado:

      por crime doloso praticado com violência de natureza grave contra


pessoa; ou

      por qualquer crime hediondo.

Somente ocorre se se essa prova for essencial às investigações É obrigatória por força de lei.

policiais.
O objetivo é o de armazenar a identificação do perfil genético do

O objetivo é elucidar o crime específico que está sendo condenado em um banco de dados sigiloso.

investigado.

A coleta é determinada por decisão judicial fundamentada, Não necessita de autorização judicial.

proferida de ofício, ou mediante representação da autoridade

policial, do MP ou da defesa. A coleta é feita como providência automática decorrente da

condenação.

Prevista no parágrafo único do art. 5º da Lei n. 12.037/2009 Prevista no art. 9º-A da LEP (inserido pela Lei n. 12.654/2012).

(inserido pela Lei n.12.654/2012).

Reduzida efetividade da Lei n. 12.654/2012


Caso o investigado ou o condenado se negue a permitir a coleta de material biológico, qual será a consequência para
ele?

Nenhuma. Toda pessoa tem o direito de não produzir prova contra si mesmo. Logo, o indivíduo que se nega a permitir
a coleta de material biológico para se autodefender exerce um direito garantido constitucionalmente e, por tal razão,
não pode ser responsabilizado criminal ou disciplinarmente por isso.

O Estado não poderá, sob pena de inconstitucionalidade, impor, coativamente, que a pessoa ceda material genético
para a coleta, ainda que mínimo, como a saliva.

A Lei n. 12.654/2012, portanto, prevê mera faculdade para o investigado ou condenado que, se assim quiser, poderá
permitir a coleta de seu material biológico.

Forçoso concluir, então, que se trata de Lei de reduzida efetividade.

Vale mencionar que é pacífico o entendimento do STF de que, por conta do princípio da não autoincriminação (nemo
tenetur se detegere), o acusado não é obrigado a fornecer padrão vocal ou padrão de escrita para que sejam
realizadas perícias que possam prejudicá-lo. Ora, esse mesmo raciocínio será, certamente, aplicado para o
fornecimento de material biológico. Vide os precedentes do STF sobre o tema:

HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. ART. 14 DA LEI Nº 6.368/76. REQUERIMENTO, PELA DEFESA, DE PERÍCIA DE
CONFRONTO DE VOZ EM GRAVAÇÃO DE ESCUTA TELEFÔNICA. DEFERIMENTO PELO JUIZ. FATO SUPERVENIENTE.
PEDIDO DE DESISTÊNCIA PELA PRODUÇÃO DA PROVA INDEFERIDO.
1. O privilégio contra a auto-incriminação, garantia constitucional, permite ao paciente o exercício do direito de
silêncio, não estando, por essa razão, obrigado a fornecer os padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial que
entende lhe ser desfavorável.

2. Ordem deferida, em parte, apenas para, confirmando a medida liminar, assegurar ao paciente o exercício do direito
de silêncio, do qual deverá ser formalmente advertido e documentado pela autoridade designada para a realização da
perícia.

(HC 83096, Relator(a):  Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 18/11/2003, DJ 12-12-2003 PP-00089
EMENT VOL-02136-02 PP-00289 RTJ VOL-00194-03 PP-00923)

EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. RECUSA A FORNECER PADRÕES GRÁFICOS DO PRÓPRIO
PUNHO, PARA EXAMES PERICIAIS, VISANDO A INSTRUIR PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO DO CRIME DE
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO. NEMO TENETUR SE DETEGERE.

Diante do princípio nemo tenetur se detegere, que informa o nosso direito de punir, é fora de dúvida que o dispositivo
do inciso IV do art. 174 do Código de Processo Penal há de ser interpretado no sentido de não poder ser o indiciado
compelido a fornecer padrões gráficos do próprio punho, para os exames periciais, cabendo apenas ser intimado para
fazê-lo a seu alvedrio. É que a comparação gráfica configura ato de caráter essencialmente probatório, não se
podendo, em face do privilégio de que desfruta o indiciado contra a auto-incriminação, obrigar o suposto autor do
delito a fornecer prova capaz de levar à caracterização de sua culpa. Assim, pode a autoridade não só fazer requisição
a arquivos ou estabelecimentos públicos, onde se encontrem documentos da pessoa a qual é atribuída a letra, ou
proceder a exame no próprio lugar onde se encontrar o documento em questão, ou ainda, é certo, proceder à colheita
de material, para o que intimará a pessoa, a quem se atribui ou pode ser atribuído o escrito, a escrever o que lhe for
ditado, não lhe cabendo, entretanto, ordenar que o faça, sob pena de desobediência, como deixa transparecer, a um
apressado exame, o CPP, no inciso IV do art. 174. Habeas corpus concedido.

(HC 77135, Relator(a):  Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 08/09/1998, DJ 06-11-1998 PP-00003
EMENT VOL-01930-01 PP-00170)

Vacatio legis

A Lei n. 12.654/2012 somente entra em vigor 180 dias após a sua publicação, ou seja, apenas no dia 26 /11/2012.
9. Incomunicabilidade do indiciado preso

Art 21, CPP: prevê a possibilidade de ser determinada a incomunicabilidade pelo juiz, por até 3
dias.
Interesse da sociedade ou conveniência da investigação.

A maior parte da doutrina diz que esse artigo não foi recepcionado pela CF/88. Isso porque a
própria constituição assegura assistência da família e também assistência de advogado.
Ademais, é vedada a incomunicabilidade no Estado de Defesa (art. 136, §3º, IV, CF). Se no estado
de defesa que é de exceção, de crise, não é possível, por óbvio, num estado de normalidade
também não será possível.
Regime disciplinar diferenciado: “RDD” – LEP, art. 52. Há uma maior restrição em relação às
visitas, mas não significa que o preso ficará incomunicável. O STF tem validado o RDD.

10. Indiciamento

10.1. Conceito: Indiciar é atribuir a alguém a autoria ou participação em determinada infração


penal.

Primeiro, a pessoa investigada passa atuar na condição de SUSPEITO ou INVESTIGADO.


A partir do momento em que não se tem mais dúvida, passa a ser chamando INDICIADO
(APONTAR ALGUÉM COMO PROVÁVEL AUTOR DO DELITO). Após enviar o IP para o MP fazer a
denúncia, passa a ser chamando ACUSADO ou DENUNCIADO.
Após o transito em julgado, é chamando de CONDENADO.

10.2. Momento para o indiciamento: O STJ entende que o indiciamento só pode ser feito durante
a fase investigatória.

Se o processo criminal já começou não pode fazer o indiciamento.

10.3. Espécies:

Direto: Aquele que é feito na presença do indiciado.


Indireto: Feito na ausência do indiciado. Estando em lugar incerto ou não sabido, ou qdo não se
apresenta.

10.4. Pressupostos

É necessário ter em mãos elementos quanto à autoria e materialidade do delito.


Além disso, também se exige um despacho fundamentado da autoridade policial, indicando
elementos de informação, fazendo a classificação do delito.

10.5. Desindiciamento

Ocorre quando anterior indiciamento é desconstituído.


HC 43599, STJ
Buscar através do habeas corpus um desindiciamento.

10.6. Sujeitos do indiciamento

a) Atribuição: é uma atribuição privativa da autoridade policial, nem o promotor nem o juiz pode
dizer para o delegado como ele deve pensar.

b) Sujeito passivo:
Regra: todo mundo pode ser indiciado.

Exceção: Quem não pode ser indiciado?

 Membros da magistratura e membros do Ministério Público (Lei 8.625/93 – art. 41, II)

Se houver indícios quanto ao envolvimento de um promotor ou juiz, o delegado deve


encaminhar, sob pena de responsabilidade, para o Procurador Geral (MP) ou
Desembargador Geral (Juiz) o IP.

 Acusados com foro por prerrogativa de função (foro privilegiado) (deputados, senadores)

INQ. 2411 QO/MT, STF: É indispensável prévia autorização do Relator (ministro ou


desembargador), não só para o início das investigações como também para o indiciamento.

11. Conclusão do IP

11.1. Prazo para conclusão

SOLTO PRESO
CPP 30 dias 10 dias
IP Federal 30 15 +15 (fundamentada)
CPP Militar 40 dias 20 dias
Lei de drogas 90 dias + 90 30 + 30 dias
Economia Popular 10 dias 10 dias
Prisão temporária crimes ___ 30 + 30 = 60
hediondos e equiparados
Crimes comuns ___ 5 + 5 = 10

Os prazos podem ser prorrogados?

Em se tratando de investigado solto é possível a prorrogação do prazo.

O prazo é de natureza penal ou processual penal?

Prazo processual, o dia do início não é computado.


Prazo de natureza penal, o dia do início é contado.
Em se tratando de investigado solto, o prazo é PROCESSUAL. Assim, o prazo para conclusão
começará a fluir no dia seguinte da abertura do IP, e se o prazo terminar nos finais de semana e
feriados ele termina no primeiro dia subseqüente.

Em se tratando de investigado preso. Há controvérsia quanto à natureza do prazo.


1ª corrente: é de natureza PENAL (Guilherme Nucci)
2ª corrente: natureza PROCESSUAL (Mirabete). Porque o IP tem natureza processual penal.

OBS: prisão é um PRAZO PENAL, que tem natureza penal.

11.2. Relatório

Art. 10, §1º: A autoridade fará um minucioso relatório...

O relatório é uma peça de caráter descritivo, onde o delegado deve descrever a principais
diligências realizadas na fase investigatória.

Em regra***, o delegado não deve fazer um juízo de valor (cuidar para não dar opinião, porque o
titular da ação penal pública é o MP).

Importante exceção*** na Lei de Drogas, art. 52, I: impõe ao delegado que ele já dê um juízo de
valor, se ele entende que é tráfico ou de uso pessoal, por exemplo.

“... justificando as razões que a levaram à classificação do delito...”

O relatório do delegado não é uma peça indispensável para o oferecimento da denúncia.

11.3. Destinatário dos autos do IP

CPP = Autoridade Judiciária

Autos do IP ______ Juiz ________ Vista ao MP

Cuidado: Hoje há várias portarias de Tribunais Estaduais. Resolução 63, CN Federal.


Essas resoluções e portarias estabelecem uma tramitação direta dos autros do IP entre a polícia e
o MP, salvo se houver pedido de media cautelar, ou se for necessária a intervenção do poder
judiciário.

Quando houver pedido de prisão cautelar deve passar necessariamente pelo Juiz. Quando não há
necessidade de intervenção do Luiz não há porque os autos passar por ele, até porque o processo
se torna muito mais demorado.

11.4. Providências a serem adotadas pelo MP após a remessa dos autos do IP:

a) Em se tratando de crimes de ação penal privada: deve requerer a permanência dos autos em
cartório, aguardando-se a iniciativa do ofendido;

b) Em se tratando de crimes de ação penal pública: há várias possibilidades:


 Oferecimento de denúncia
 Promoção de arquivamento
 Requisição de diligências,

OBS: desde sejam indispensáveis ao oferecimento da denúncia.


Essas diligências devem ser requisitadas diretamente à autoridade policial, salvo se houver
necessidade de intervenção do Poder Judiciário.

 Requerimento de declinação de competência

Caso o MP entenda que o juiz perante o qual atua não tem competência para julgar o crime, deve
requerer a declinação da competência.

 Suscitar um conflito de competência ou um conflito de atribuições.

OBS: No pedido de declinação de competência, nenhum outro órgão jurisdicional havia se


manifestado anteriormente quanto à incompetência.

Quando o MP suscita um conflito de competência, significa dizer que já houve prévia manifestação
de outro órgão jurisdicional a cerca da competência.

Conflito de competência e conflito de atribuições:

a) Conflito de Competência: é um conflito entre duas ou mais autoridades judiciárias acerca da


competência. Não é de jurisdição, porque tecnicamente ela é uma. (arts. 113 e 114, CPP)

 Conflito Positivo: os órgãos jurisdicionais se consideram competentes para o julgamento do


feito. (114, I, primeira parte)
 Conflito Negativo: os órgãos jurisdicionais se consideram incompetentes para o julgamento
do feito. (114, I, segunda parte e 114, II)

Quem decide conflito entre juiz Estadual do ES e um juiz Federal do RJ?


(TJ/ES) (TRF)
Será o Tribunal comum aos dois juízos. Nesse caso será o STJ.

Superior Tribunal Militar e Juiz Federal MG?


(STM) (TRF)
STF, que é o órgão superior comum aos dois.

Juiz dos Juizados Federais de SP e Juiz Federal de SP?


(Turma recursal) (TRF 3ª Região)

Antes se entendia que era competência do STJ (súmula 348). Após o Supremo disse que a súmula
estava errada
Hoje, como esses dois juízes federais são de SP, portanto quem decide será o TRF da 3ª Região.
(Súmula 428 do STJ)

Juiz dos Juizados Federais de SP e Juiz Federal do MS


(Turma Recursal) (TRF 3ª Região)
Pertencem ao mesmo TRF = Competência TRF 3ª Região

Juiz dos Juizados Federais de SP e Juiz Federal do RS


(Turma Recursal) (TRF 4ª Região)
São de TRFs diferentes, devendo ir para o STJ.

b) Conflito de atribuições: é aquele estabelecido entre órgãos do Ministério Público acerca da


responsabilidade ativa para a persecução penal.

Quem decide?

1. MP/SP x MP/SP: Procurador Geral de Justiça de SP

2. MP Federal/ RJ x MP Federal/ MG: Câmara de Coordenação e Revisão do MP Federal.

3. MP/GO x MP Federal/DF: Há quem entenda que é um conflito virtual de


(juiz Estadual) (Juiz federal DF) = STJ competência
representa representa
o Estado a União

Prevalece o entendimento de que é o conflito entre um Estado e uma União (102, I, “f”, CF),
cabendo ao STF.

4. MP Militar/SP x MP Federal/RJ: Conflito entre MPU = Procurador Geral da


República
MPU – é composto por 4 ramos:
MPF, MPT, MPDFT, MPM

5. MP/CE x MP/RN: Conflito entre Estados = STF

12. Arquivamento do IP

O arquivamento do IP é uma decisão judicial. É um ato complexo. Parte do MP que faz uma peça
chamada promoção de arquivamento, apreciada pelo Juiz, que se concordar teremos uma decisão
judicial de arquivamento de IP.

Ninguém pode arquivar o IP sozinho, nem mesmo o juiz pode arquivar sozinho.

Também é plenamente possível o arquivamento do Termo Circunstanciado.

12.1. Fundamentos do arquivamento

a) Ausência de pressupostos processuais ou das condições da ação; CJF


Ex: estupro sem representação, é uma causa de pressuposto para a ação.

b) Falta de justa causa para o início do processo; CJF


Justa causa = lastro probatório. Não se pode dar início a um processo temerário, leviano
Ex: falta de elementos quanto à autoria.

c) Atipicidade formal ou material da conduta delituosa; CJFM (pq analisa mérito)


Ex: princípio da insignificância.

d) Causa excludente da ilicitude; CJFM**


Ex: legítima defesa, estado de necessidade,..

e) Causa excludente da culpabilidade, salvo na hipótese de inimputabilidade do art. 26, caput, CPP.
CJFM
O inimputável deve ser denunciado, porém com pedido de absolvição imprópria, resulta medida
de segurança

f) Causa extintiva da punibilidade. CJFM**


Ex: morte, prescrição, decadência

12.2. Coisa julgada na decisão de arquivamento

Coisa julgada é a decisão judicial contra a qual não cabe mais recurso, tornando-se imutável
(IMUTABILIDADE DA DECISÃO JUDICIAL).

Divide-se em:
 Coisa julgada formal: imutabilidade da decisão judicial dentro do processo em que foi
proferida. Efeitos dentro do processo – fenômeno endoprocessual, restrito aquele
processo.
Pode reabrir o inquérito. (CJF)

 Coisa julgada material: imutabilidade da decisão fora do processo em que foi proferida –
fenômeno extraprocessual.
Não pode reabrir o processo. (CJFM)
Análise do mérito, p. exemplo.

coisa julgada formal coisa julgada formal e material


Ausência de pressupostos processuais ou das Atipicidade formal ou material da conduta
condições da ação delituosa
Falta de justa causa para o início do processo Causa excludente da ilicitude**
Causa excludente da culpabilidade
Causa extintiva da punibilidade***

A coisa julgada material pressupõe (pressuposto lógico) a coisa julgada formal.


** STF (HC 95211): 1ª Turma entendeu que o arquivamento com base em excludente da ilicitude
só faz COISA JULGADA FORMAL.
Nesse caso o inquérito foi forjado, não foi legitima defesa e sim queima de arquivo e o STF decidiu
que o IP poderia ser reaberto.

** HC 87 395 (Plenário do STF): Relator Ministro Ricardo Lewandowisck: O arquivamento com


base em excludente da ilicitude só faz coisa julgada formal, nos termos da decisão anterior.
Controversa com outros ministros:
Marco Aurélio, Joaquim Barbosa Cezar Pelluso: O arquivamento com base no fundamento de
excludente da ilicitude faz coisa julgada formal e material.
Esse julgado ainda não foi concluído.

*** Certidão de óbito falsa: Para os Tribunais Superiores essa decisão não está protegida pelo
manto da coisa julgada material, sendo plenamente possível o oferecimento de denúncia (STF HC
84525)
12.3. Desarquivamento e oferecimento de denúncia

Nos casos em que a decisão de arquivamento só faz coisa julgada formal, é plenamente possível
que ocorra o desarquivamento do inquérito (reabertura das investigações), mediante o
surgimento da notícia de provas novas.
O que se precisa é apenas a notícia de provas novas (art. 18, CPP)

“Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base
para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas
tiver notícia.”

O oferecimento de denúncia somente será possível mediante o surgimento de provas novas, ou


seja, provas capazes de alterar o contexto probatório dentro do qual foi proferida a decisão de
arquivamento.

Súmula 524 do STF: arquivado o IP por despacho do juiz, a requerimento do promotor, não pode a
ação penal ser iniciada sem novas provas. (oferecimento da denuncia)

Provas novas – duas espécies:


 Prova formalmente nova: é aquela que já era conhecida, mas ganhou nova versão após o
arquivamente.
Ex: testemunha mente no primeiro depoimento, mas depois volta atráz = a prova ganhou
uma nova versão

 Prova substancialmente nova: é aquela prova inédita, ou seja, aquela que estava oculta à
época da decisão de arquivamento.
Ex: cadáver e arma encontrados depois.

Essas duas podem dar início ao processo.

13/02/12

12.3.1. Arquivamento do IP

Promoção de arquivamento pelo MP ------- Juiz Estadual concorda -------- Arquivamento


Se o juiz não concorda com a promoção de arquivamento do MP, o juiz remete o IP ao Procurador
Geral de Justiça, conforme art. 28 do CPP.
Quando o juiz aplica este artigo, está aplicando o PRINCÍPIO DA DEVOLUÇÃO, ou seja, se o juiz não
concorda com a promoção de arquivamento do promotor, remete/devolve a decisão final ao
chefe da instituição (PGJ).

O art. 28. CPP também é utilizado em outras ocasiões qdo o juiz não concorda com o MP:
 Recusa do aditamento pelo MP nos casos de “mutatio libeli” (384, §1º, CPP);

 Recusa injustificada do MP em oferecer a proposta de transação penal ou de suspensão


condicional do processo (súmula 696, STF).

Quando o juiz aplica o art. 28, CPP, exerce uma função anômala de fiscal do princípio da
obrigatoriedade.
Remetidos os autos ao PGJ, ele poderá:

 oferecer denúncia;
 requisitar diligencias;
 insistir no pedido de arquivamento, hipótese que vincula o juiz;
 designar outro órgão do MP para atuar no caso. Em virtude da independência funcional,
essa designação não pode recair sobre o promotor que requereu o arquivamento.

OBS: segundo a maioria da doutrina esse outro órgão do MP está obrigado a oferecer denúncia,
porque age por DELEGAÇÃO, longa manus do PGJ.

“Promotor do art. 28” = é o promotor que trabalha diretamente com o PGJ.

12.3.2. Na justiça Federal

Promoção de arquivamento pelo MP----------Juiz Federal concorda----------Arquivamento

Se o juiz não concorda, tem que remeter o IP à Câmara de Coordenação e Revisão (CCR/MPF) (2ª
Camara – atribuição Processo Penal).
A CCR é opinativa, porque depois os autos vão ao Procurador Geral República, que compete a
decisão final. Porém, essa decisão final pode ser delegada à CCR.

12.3.3. Na Justiça eleitoral

Promoção de arquivamento pelo MP estadual (função eleitoral ---- juiz estadual (função
eleitoral)

Se o juiz não concorda,m de acordo com o CE, remete os autos do IP ao procurador Regional
Eleitoral. (357, §1º, CE)

CUIDADO: CE/65 e Lei Orgânica do MPU/93 = Em que pese o teor do art. 357, §1º do CE,
prevalece o entendimento de que compete à 2ª Câmara de CORDENAÇÃO ug do MPF manifestar-
se nas hipóteses em eu o juiz eleitoral não concorda na manifestação de arquivamento, enunciado
29 da segunda CCR/MPF.

12.3.4. Procedimento do arquivamento nas hipóteses de atribuição originária do PGJ ou PJR

Quando se tratar de atribuição originária do PGJ ou do PGR, prevalece o entendimento de que


essa decisão administrativa de arquivamento não precisa ser submetida à analise do Tribunal
competente , já que este não teria como aplicar o princípio da devolução. Porém nos casos em
que a decisão de arquivamento for capaz de fazer coisa julgada formal e material é indispensável
a análise do órgão jurisdicional competente. (IP 1443 e 2431) porque processos administrativos
não fazem coisa julgada.

12.4. Arquivamento implícito

Ocorre quando o promotor deixa de incluir na denuncia algum fato delituoso ou algum investigado
sem se manifestar expressamente quanto ao arquivamento. Com o esse arquivamento implícito
não é admitido pela doutrina e pela jurisprudência, cabe ao juiz aplicar ao art. 28, CPP e remeter
os autos ao PGJ.

12.5. Arquivamento indireto

Ocorre quando o juiz, em virtude do não oferecimento da denuncia pelo MP fundamento em


razões de incompetência, recebe tal manifestação como se tratasse de um pedido de
arquivamento. Logo, se não concordar, deve aplicar o art. 28 e remeter os autos ao PGJ.

12.6. Recorribilidade contra a decisão de arquivamento

Em regra, essa decisão de arquivamento é IRRECORRÍVEL, não sendo cabível ação penal privada
subsidiária da pública (só cabe com a inércia do MP).

Exceções:

1. Crimes contra a economia popular e contra a saúde pública (Lei 1.521/51, art. 7º) –
RECURSO DE OFÍCIO – REEXAME NECESSÁRIO

Não se aplica ao trafico de drogas, pq está previsto em lei especial e nesta dlei nada fala
em reexame necessário.

2. Contravenções do jogo do bixo e corridas de cavalos fora do hipódromo (lei 1.508,/51, art.
6º, § único)

3. Arquivamento do IP pelo juiz de oficio = ato tumultuário = erro in procedendo do juiz =


COREEIÇÃO PARCIAL.

4. Arquivamento nas hipóteses de atribuição originária do PGJ, cabe pedido de revisão ao


Colégio de Procurados (MP Estadual) – Lei Organica 8.625/93, art. 12, XI.
12.7. Arquivamento determinado por juízo absolutamente incompetente

Para os Tribunais, essa decisão é capaz de fazer coisa julgada formal e material, a depender do
fundamento do IP. (HC 94.982).

Pacceli, entende contrário.

13. Trancamento do IP

Será pleiteado pelo investigado.


É uma medida de natureza excepcional, sendo possível nas seguintes hipóteses:

 Manifesta atipiciadade formal/material;


 Extinção da punibilidade;
 Ausência de manifestação prévia da vítima requerendo a instauração do IP nos crimes de
ação penal pública condicionada à representação.

Qual é o instrumento a ser utilizado para obter o trancamento do IP?

Habeas corpus desde que haja risco potencial à liberdade de locomoção. Verificar se o crime prevê
pena privativa de liberdade.
Porte de drogas/ consumo = mandado de segurança, pq não prevê pena privativa de liberdade.

14. Investigação pelo MP

- Argumentos contrários (prova de delegado, defensoria pública)

1. A investigação direta pelo MP atenta contra o sistema acusatório, pois cria um desequilíbrio.

2. A quem diga que o MP pode requisitar diligencias e a instauração de inquéritos policiais, mas
não pode requisitar inquéritos.

3. Há quem dia que a atividade investigatória é exclusiva da polícia judiciária (CF, art. 144, § 1º, IV0

4. Não há previsão legal de instrumento para as investigações do MP.

- Argumentos favoráveis (prova MP e Magistratura)

1. Não há violação ao sistema acusatório. Primeiro porque os elementos colhidos pelo MP serão
submetidos ao contraditório judicial; segundo porque, a defesa também pode realizar
investigações, porém, sem poderes coercitivos (investigação criminal defensiva).

2. Teoria dos Poderes Implícitos (Mc Culloch x Maryland (1819)


Ao conceder uma atividade fim a determinado órgão/instituição, a constituição também, concede
a ele os meios necessários para atingir tal objetivo.
Crimes praticados pela própria policia, melhor seria o MP investigar.
O STF já adotou expressamente essa teoria – HC 91661.

3. Polícia Judiciária não se confunde com polícia investigativa.


Policia investigativa: é a policia quando investiga infrações penais.
Polícia Judiciária: ocorre quando a policia cumpre determinações do Poder Judiciário.

4. Procedimento Investigatório Criminal (PIC): Instrumento de natureza administrativa e


inquisitorial instaurado e presidido pelo MP, cuja a finalidade é apurar a ocorrência de infrações
penais de natureza pública, fornecendo elementos para o oferecimento ou não de denúncia.
Obs: conceito idêntico de IP, mas procedido pelo MP.
Resolução nº 13, Conselho Nacional do MP.

Os Tribunais tem se posicionado favoravelmente às investigações pelo MP.

STJ, súmula 234: O fato de o MP participar da fase investigatória não ocorre impedimento para a
ação penal.

HC 89 837, STF.

Há um projeto de emenda Constitucional para que seja vedado ás investigações pelo MP.

15. Controle externo da atividade policial pelo MP

Art. 129, VII, CF

Conceito: é o conjunto de normas que regulam a fiscalização exercida pelo MP em relação à


policia, na prevenção, apuração, investigação, de fatos tidos como criminosos, na preservação de
direitos e garantias constitucionais dos presos que estejam sob custódia da autoridade policial e
na fiscalização do cumprimento das determinações judiciais.

Esse controle externo decorre do sistema de freios e contrapesos inerente ao regime democrático
e não acarreta qualquer subordinação dos organismos policiais ao MP.

15.1. Formas de controle externo

 Controle Difuso
 Controle Concentrado

Controle Difuso Controle concentrado


É aquele exercido por promotores com É aquele exercido pelo órgão do MP com
atribuição criminal: atribuições específicas para o controle
externo.
É realizado através de: Medidas adotadas:
1. Controle das ocorrências policiais 1. Propositura de ações de improbidade
2. Verificar prazos de IP administrativa
3. Verificação da qualidade dos inquéritos 2. Ação Civil Pública na defesa de interesses
4. Verificação de bens apreendidos difusos
5. Propositura de medidas cautelares 3. Requisições /recomendações
4. Termo de ajustamento de conduta
5. Visitas às unidades prisionais
6. Comunicações de prisões em flagrante (até
24h)

Resolução nº 20, Conselho Nacional do MP.

16. Investigação Criminal Defensiva

Conceito: É o conjunto de atividades investigatórias desenvolvidas pelo defensor em qualquer fase


da persecução penal, inclusive antes do oferecimento da peça acusatória, o qual poderá ser
realizado com ou sem a assistência de investigador particular, objetivando a colheita de elementos
informativos que possam ser utilizados para beneficiar o investigado em contraponto à
investigação policial.

Obs: essa investigação pode ser realizada, porém o particular não é dotado de poderes coercitivos,
nem tampouco lhe é permitido violar direitos e garantias fundamentais.
AÇÃO PENAL

1. Conceito
É o direito público subjetivo de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito objetivo a um caso
concreto.
Está previsto na CF, 5º, XXXV: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
de direito.

2. Condições da Ação Penal


São condições necessárias para o exercício regular do direito de ação.

2.1. Consequência da ausência das condições da ação penal: depende do momento no processo:
 Se verificar a ausência por ocasião do juízo de admissibilidade da peça acusatória: Rejeição
da peça acusatória (art. 395, II)

 Se a ausência for verificada no curso do processo:


a) Nulidade absoluta do processo (art. 564, II, CPP – A doutrina faz um a interpretação
extensiva, pq o art. fala apenas de ilegitimidade, estendo as demais condições da
ação).
b) Extinção do processo sem apreciação do mérito (utilizando o CPC, 267, VI c/c art.
3º, CPP – aplicação subsidiária) – ausência das condições.

2.2. Condições da ação ou Condição de procedibilidade

a) Genéricas: é aquela que deve estar presente em toda e qualquer ação penal. Pouco
interessa a natureza do delito.

b) Específicas: são aquelas necessárias apenas em algumas ações penais, a depender do


acusado, do procedimento, natureza do delito.
Tem autores que dizem que a condição de procedibilidade é apenas as condições
específicas.

Ex: a depender da natureza: representação do ofendido (estupro) e a requisição do


Ministro da Justiça (crimes contra a honra do presidente)

Ex: a depender do acusado: a autorização da Câmara dos deputados para instauração de


processo contra o Presidente, Vice e Ministro do Estado (art. 51. I, CF)
Ex: a depender do procedimento: laudo pericial nos crimes contra a propriedade imaterial.
(525, CPP)
 Art. 525.  No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for instruída com o exame pericial
dos objetos que constituam o corpo de delito.

3. Condições Genéricas da Ação


1. Possibilidade jurídica do pedido

O pedido deve se referir a uma providência admitida pelo direito objetivo (pelo menos em tese).
Ex: cobrança de dívida de jogo no processo civil.
No processo penal o pedido não tem importância, e sim AA causa de pedir, aquilo que foi narrado.
Basta narrar a prática do crime. O acusado se defende dos fatos, pouco importando a classificação.
O fato da vida delituoso.
Assim, adaptando a possibilidade jurídica no processo penal, significa que no processo penal a
peça acusatória deve imputar (atribuir) ao acusado a prática de um fato aparentemente criminoso
e punível.
A peça deve imputar a prática de um crime (conceito analítico: típico, ilícito e culpável) e a sua
punibilidade.

Ex: durante o curso do processo, apura-se que o acusado, à época do delito, era menor de 18 anos
(inimputável) = é causa de impossibilidade jurídica do pedido.
Pode ser pedido a nulidade absoluta do processo, ou a extinção, sem julgamento de mérito, bem
como a remessa dos autos ao Juízo da Infância e Adolescência.
Não pratica crime e sim ato infracional.
O ordenamento jurídico não admite a aplicação de pena ao menor de 18 anos.

2. Legitimidade para agir (legitimatio ad acusam)

É a pertinência subjetiva da ação. Ou seja, se faz as seguintes perguntas: quem pode entrar com a
ação penal? E contra quem a ação pode ser proposta?

a) Legitimidade ativa:
 Se estamos diante de um crime de ação penal pública, a legitimidade por força da
CF (art. 129, I), será do MP.
 Ação penal de iniciativa privada: ofendido/representação
Exemplos:
1. Tício e Mévio, ambos candidatos, trocam ofensas durante a propaganda eleitoral. Tício
ajuíza queixa crime em face de Mévio pela prática do crime de difamação (CP, art. 139)
Pegadinha: ofensas durante a propaganda eleitoral, assim não se aplica o CP e sim o
Código Eleitoral (art. 325). Crimes eleitorais = a ação penal é pública incondicionada.
Nesse caso não foi o MP que ofereceu a denuncia. Assim, Tício é parte ilegítima, devendo o
juiz rejeitar a peça acusatória.

2. Tício foi vítima de injúria racial (art. 140, §3º, CP) no dia 30/08/2009. No dia 30/09/09
Tício procura um advogado. Qual é a espécie de ação penal?

Art. 145, §único


Antes da entrada em vigor da Lei 12.033/09 o crime era crime de ação penal privada.
Depois da vigência dessa lei (30/09/2009), o crime de injúria racial passou a ser um crime
de ação penal pública condicionada à representação.

Resposta: Se um crime era de ação penal privada e uma lei nova o transforma de ação
penal pública condicionada à representação (Lei 12.033/09), trata-se de norma processual
material, pois repercute no direito de punir do Estado, já que quando o crime é de ação
penal privada, são 4 as possíveis causas extintivas de punibilidade – decadência, renúncia,
perdão e perempção. Quando o crime passa a ser de ação penal pública condicionada a
representação, subsiste apenas a decadência. Como se trata de norma mais gravosa, não
pode retroagir.
Deve ser proposta, portanto, uma queixa crime, sendo Tício o legitimado ativo.

Obs: quando um crime é de ação PRIVADA e é transformado em PÚBLICA CONDICIONADA À


REPRESENTAÇÃO, repercute no direito penal (material) – Lex gravior. Assim, aplica sempre a lei da
data do fato.

b) Legitimidade passiva: recai sobre o suposto autor do fato delituoso. Com mais de 18 anos.

Negar a autoria não é condição da ação, e sim matéria de mérito. Por isso casos de
legitimidade passiva são raros.

Ex 1: Homônimos. Pessoas que tem o mesmo nome, mas a pessoa não é mesma.

Ex 2: Falsa identidade. Quando o criminoso furta os documentos e os utiliza. A peça


acusatória será rejeitada por falta de legitimidade.

Ex 3: testemunha ser qualificada como autor do crime.

2.1. Legitimidade da pessoa jurídica no processo penal


 Ativa: propondo a queixa-crime. Pode ser vítima em crimes de difamação (honra objetiva),
calúnia (imputação falsa de crime ambiental, p. ex.)

 Passiva: Teoria da dupla imputação: os Tribunais têm admitido o oferecimento de


denúncia em face de pessoas jurídica pela prática de crimes ambientais, desde que a
imputação também seja feita contra a pessoa física que atua em seu nome ou benefício.
No ano de 2011, o STF entendeu que a despeito da teoria da dupla imputação, é possível a
condenação tão somente da pessoa jurídica.

2.2. Legitimação ordinária e extraordinária no processo penal

a) Legitimação Ordinária: É a regra. Alguém age em nome próprio na defesa de interesse


próprio.
Manifesta-se no processo penal, nos casos de ação penal pública. Porque o MP, por força
da CF, art. 129, I, é o titular da ação penal pública.

b) Legitimação Extraordinária: ocorre quando alguém age em nome próprio na defesa de


interesse alheio.

Exemplos:

1. Ação penal privada: o poder dever de punir pertence ao Estado e não à vítima.
Assim, o Estado transfere a legitimidade para o ofendido.

2. Ação civil ex delicto proposta pelo MP em favor de vítima pobre. É uma ação civil
indenizatória com a finalidade de buscar o prejuízo causado pelo delito.

Art. 68, CPP. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a
execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu
requerimento, pelo Ministério Público.

A ação civil ex delicto busca dinheiro. O dinheiro é um direito individual disponível,


e de acordo com a CF/88, ao MP incube a tutela dos interesses difusos, coletivos e
individuais indisponíveis. Por essa razão, a matéria foi parar no STF, para verificar se
esse dispositivo foi recepcionado ou não pela CF.
Para o STF este artigo é dotado de inconstitucionalidade progressiva, ou seja, onde
houver Defensoria Pública, o MP não detém legitimidade para propor ação civil ex
delicto em face de vítima pobre.
RE 135.328.

3. Nomeação de curador especial: age em nome próprio, direito alheio.


Art. 33.  Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não
tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa
poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, pelo juiz competente para o processo penal.

3. Interesse de Agir

a) Necessidade: a necessidade é presumida no processo penal, pois não há pena sem


processo, salvo no caso dos Juizados, que pode ser aplicado multa.

b) Adequação: em se tratando do processo penal condenatório, a adequação não tem


tamanha relevância, pois não há diferentes espécies de ação penal condenatória. Ou é
denúncia (MP) ou a queixa (ofendido).
CUIDADO: com as ações penais NÃO CONDENATÓRIAS, a adequação vai ganhar muito mais
importância.

Ex: habeas corpus: é uma ação penal não condenatória adequada à tutela da liberdade de
locomoção
Súmula 693, STF: não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou
relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única
cominada.
Isso porque, a multa não é mais convertida em pena de prisão, não havendo, portanto,
risco a locomoção.

Ex: a pessoa jurídica também não pode figurar como paciente de habeas corpus, mesmo
que haja uma pessoa física que atue em seu nome. Porque a PJ não tem liberdade de
locomoção. Nesse caso, se vale do mandado de segurança, que tem natureza residual.

c) Utilidade: Consiste na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do


autor.

Obs: prescrição em perspectiva (virtual ou hipotética)


Consiste no reconhecimento antecipado da prescrição, em virtude da constatação de que, no caso
de possível condenação, dar-se-á a prescrição da prescrição punitiva retroativa.

12/03/03 20/06/06
- Fato delituoso - autos do inquérito vista ao MP
- Art. 155, caput - pedir arquivamento
- 1 a 4 anos
- menor de 21 anos

4 anos = prescreve em 8, se é menor de idade /2= 4 anos para prescrever


Provavelmente o juiz aplicaria uma pena de 1 ano, que prescreve em 4 anos. Sendo menos de 21 =
2 anos.
Então, muito provavelmente o crime prescreveria.

1. Doutrina: Deve o MP requerer o arquivamento dos autos, com base na ausência de interesse de
agir. Afinal qual a utilidade de se levar adiante um processo penal fadado à prescrição?

2. Jurisprudência: os Tribunais Superiores não admitem o reconhecimento antecipado da


prescrição (súmula 438, STJ). Isso porque essa prescrição não tem previsão legal.

Lei 12.234/10 (prescrição). É uma Lex gravior, só se aplica aos crimes posteriores ao dia
06/05/2010.
- Pôs fim à prescrição retroativa entre a data do fato delituoso e a data do recebimento da peça
acusatória. (art. 110, §único)
- Pena inferior a 1 ano: a prescrição de 2 anos, passa a ser de 3 anos.

Lei 12.234/10 (prescrição). É uma Lex gravior, só se aplica aos crimes posteriores ao dia
06/05/2010.
- Pôs fim à prescrição retroativa entre a data do fato delituoso e a data do recebimento da
peça acusatória. (art. 110, §único)
- Pena inferior a 1 ano: a prescrição de 2 anos, passa a ser de 3 anos.

4. Justa Causa

É o lastro probatório mínimo para que se possa dar início a um processo penal. Em regra é o
inquérito.

Natureza Jurídica: Condição genérica sui generis da ação.

4. Condição de procedibilidade:

É uma condição da ação, necessária para dar início ao processo. É diferente de condição de
prosseguibilidade.

Condição de prosseguibilidade: necessária para o prosseguimento do processo, ou seja, o


processo já está em andamento e uma condição deve ser implementada para que o processo siga
o seu curso normal.

Ex: lesão corporal leve/culposa


Antes da Lei 9.099/95, estes crimes eram de ação penal pública incondicionada. Com o advento da
Lei, esses delitos passaram a ser de ação penal pública condicionada à representação (art. 88).
Para os processos que estavam tramitando à época, a representação funcionou como condição de
prosseguibilidade (art. 91).
Para os processos que ainda não tinham sido iniciados, a representação funcionou como uma
condição de prosseguibilidade.
Ex: crime de estupro cometido com violência real
Antes da Lei 12.015/09 = ação penal pública incondicionada.
Depois da Lei 12.015/09 = ação penal pública condicionada à represnetação.

Para os processos que estavam tramitando na época da entrada em vigor da lei, duas correntes:
1ª C: se o processo já estava em andamento, não haverá necessidade de representação.
2ª C: a representação deve ser implementada nos processos que já estavam em andamento
(condição de prosseguibilidade), sob pena de decadência. Prazo de 30 dias (art. 91, lei 9.099/95).
Prazo de 6 meses (art. 38, CPP)

Natureza Jurídica da ação penal condicionada à representação


- Para os processos que estavam tramitando à época a representação funcionou como condição de
prosseguibilidade (art. 91).
- Para os processos que ainda não tinham sido iniciados, a representação funcionou como
condição de procedibilidade.

Ex: crime de estupro cometido com emprego de violência real.


Súmula 608 (ultrapassada): no crime de estupro praticada com violência real, a ação penal é
pública incondicionada.

Antes da lei 12015/09 Após a Lei 12.015/09


Ação penal pública incondicionada Ação penal pública condicionada à
representação

À época da entrada em vigor da Lei 12.015/09 estivesse tramitando processo referente a esse
delito. Precisa representação ou não?
1ª corrente: se o processo já estava em andando não haverá a necessidade da representação.
(deve acabar prevalecendo por ser crime sexual)
2ª corrente: a representação deve ser implementada nos processos que estavam em andamento,
como condição de prosseguibilidade, sob pena de decadência. Essa representação deve ser feita
no prazo de 30 dias. (Lei 9.099/91). Na opinião de Renato Brasileiro é 6 meses, utilizando o CPP
primeiro, para depois, se na falta, ir para uma lei especial.

5. Classificação das ações penais condenatórias

1. Ação Penal Pública

 Titular: MP (CF, art. 129, I)


 Peça acusatória: denúncia
a) Ação Penal Pública Incondicionada: A atuação do MP não depende do implemento de qualquer
condição, tais como representação, requisição, etc.

ATENÇÃO: O crime de furto pode ser condicionado a representação.

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à
pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Incluído pela Lei nº
10.741, de 2003)

b) Ação Penal Pública Condicionada: a atuação do MP depende de representação do ofendido, ou


de requisição do Ministro da Justiça.
É uma tendência nos últimos anos, muitos crimes estão exigindo representação.
Ex: crimes sexuais. Antes a regra era ação penal privada. Hoje passou a ser condicionada à
represemtação.

c) Ação Penal Pública subsidiária da Pública: (não confundir com privada subsidiária da pública). Há
quem diz que está prevista em três situações:

 Decreto lei 201/67 (art. 2º, §2º). Trata dos crimes de responsabilidade de prefeitos e
vereadores.
Se o MP Estadual não tomar providências contra o prefeito pela prática do crime, a lei diz
que é possível pedir providências ao Procurador Geral da República. Todavia, a maioria da
doutrina entende que o este dispositivo não foi recepcionado pela CF/88:
1º: Porque atenta contra a autonomia dos MPs Estaduais. Ou seja, coloca o MP da União
superior do MP Estadual. O MP da União não é superior hierárquico.
2º: Porque atenta contra a competência da Justiça Federal, que não pode ter arrasta uma
competência que não está prevista pelo art. 109, CF.

 Código Eleitoral (art. 357, §§ 3º e 4º)

Art. 357. Verificada a infração penal, o Ministério Público oferecerá a denúncia dentro do prazo de 10 (dez)
dias.

§ 1º Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento da


comunicação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa da comunicação
ao Procurador Regional, e êste oferecerá a denúncia, designará outro Promotor para oferecê-la, ou insistirá
no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

§ 2º A denúncia conterá a exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário,
o rol das testemunhas.

 Incidente de deslocamento de competência : Em regra, compete à Justiça Estadual. Está


previsto no art. 109, V-A, §5º.
Procurador do Estado não oferece denúncia, não faz nada. Se o STJ autorizar, a
competência é levada para a Justiça Estadual, competindo ao MP da União atuar no
processo.
Ex: STJ deslocou a competência da Justiça Estadual pq o MP não estava atuando contra um
grupo de extermínio que estava praticando crimes. Foi deslocada para a da Parnaíba.

2. Ação Penal de iniciativa Privada

Obs: O direito de ação é um direito público, por isso p idela é dizer ação penal de iniciativa
privada, no sentido de que o Estado coloca nas maõ do ofendido o direito de ingressar em juízo.

 Titular: ofendido ou seu representante legal


 Peça acusatória: Queixa-crime

a) Ação Penal Privada Personalíssima: O direito de queixa só pode ser exercido pelo ofendido.
O representante legal não pode exercer esse direito. Não haverá sucessão processual.

A morte da vítima extingue a punibilidade?


Nos crimes que dependem de ação penal personalíssima não há sucessão processual. ASSIM, se a
vítima morrer extingue a punibilidade.
Antigamente o adultério era um caso de ação penal personalíssima.
Único exemplo é o art. 236, CP. Somente o contraente enganado.

Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que
não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de
transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.

b) Ação Penal exclusivamente privada


Se o ofendido for incapaz seu direito será exercido pelo seu representante legal
é possível a sucessão processual
ex: dano, crime contra a honra.
c) Ação Penal Privada Subsidiária da Pública
Só é cabível diante da inércia do MP.

6. Princípios da ação penal

Ação penal pública Ação penal privada


1. Ne procedat índex ex officio (inércia da jurisdição): 1. Ne procedat índex ex officio
- Ao juiz não é dado iniciar de ofício um processo
penal condenatório
- Garantia de imparcialidade
- Processo judicialiforme: processo criminal instaurado
através de portaria do juiz (contravenções penais,
homicídio e lesão culposas) – art. 26, CPP (permite o
juiz instaurar processo nas contravenções penais) –
não foi recepcionado pela CF/88 (art. 129, I)
- A ordem de habeas corpus pode ser concedida de
ofício pelo juiz, porque o que está em jogo é a
liberdade de locomoção ( 658, §2º, CPP)

2. Ne bis in idem processual 2. Ne bis in idem processual


- Ninguém pode ser processado duas vezes pela
mesma imputação (Pacto San José da Costa Rica, art.
8º, 4) Tem que se observar se estamos diante de um
mesmo fato, ou de uma imputação distinta. Assim, se
uma pessoa for condenada por um crime que não
cometeu e após sua soltura vai lá e mata a pessoa que
estava desaparecida, ela responde. Sim, pois o fato é
outro.
- Decisão dada por um juízo absolutamente
incompetente: a maioria entende que é NULA.
Decisão absolutória ou declaratória extintiva da
punibilidade, ainda que proferida por juízo
absolutamente incompetente, é capaz de transitar em
julgado e produzir seus efeitos regulares, dentre eles,
o de impedir novo processo pela mesma imputação.
(STF HC 86606, HC 91505)
Revisão criminal não é pro societá
3. Princípio da Intranscendência 3. Princípio da Intranscendência
- A peça acusatória só pode ser oferecida em face de
suposto auto do fato delituoso
- Deriva da pessoalidade da pena (art. 5º, XLV)
4. Princípio da obrigatoriedade 4. Princípio da oportunidade ou conveniência
- Também conhecido como princípio da legalidade - Mediante critérios próprios de oportunidade ou
pessoal. conveniência, cabe ao ofendido optar pelo
- Presentes as condições da ação penal e havendo oferecimento ou não da queixa-crime.
justa causa, o MP é obrigado a oferecer denúncia. - É aplicável antes do início do processo.
- art. 24, CPP. “Nos crimes de ação pública, esta será - Caso o ofendido não tenha interesse em exercer o
promovida por denúncia do Ministério Público...” direito de queixa, poderá:
- Mecanismo de controle: art. 28, CPP: quando o juiz 1. Prazo decadencial: 6 meses (causa extintiva da
não concorda com o MP pelo arquivamento, punibilidade)
remessará o IP ao Procurador Geral = é uma forma de
controle. 2. Renúncia ao direito de queixa
- Exceções:
a) Transação penal (art. 76, princípio da
discricionariedade regrada (da obrigatoriedade
mitigada)
b) Acordo de leniência (espécie de delação premiada
nos crimes contra a ordem econômica) – acordo de
brandura ou doçura. Estava previsto na lei 8884/94,
art. 35 – será revogada pela nova lei de concorrência.
Assim, ele passará a constar do art. 87, Lei 12.509/11.
Agora não são apenas os crimes contra a ordem
econômica, mas também aos crimes diretamente
relacionados aos à pratica de quartel (tais como os da
lei de licitações e quadrilha contra a ordem
econômica)
c) Termo de ajustamento de conduta ( lei 7.347/85)
Enquanto houver o cumprimento do termo, não há
necessidade de oferecimento de denúncia.
d) parcelamento do débito tributário (art. 83, §2º, da
Lei 9.430/96, com redação dada pela lei 12.382/11 –
lei do sal. mínimo. Quando a pessoa adere ao
parcelamento, antes do recebimento da denúncia, fica
suspensa a pretensão punitiva.
Agora, então, o parcelamento deve ser feito até o
recebimento da denúncia (antes era a qualquer
momento)

5. Princípio da indisponibilidade (ou da 5. Princípio da disponibilidade (desdobramento do


indesistibilidade) princípio da oportunidade
- O MP não pode dispor do processo em andamento - Durante o curso do processo.
- O princípio da obrigatoriedade se aplica antes do - O querelante pode dispor do processo em
início do processo. Já o princípio da indisponibilidade andamento.
se aplica após iniciado o processo. - Formas de disposição do processo:
- art. 42, CPP e 546, CPP. 1. Perempção: negligência do querelante.
- Exceção: Suspensão condicional do processo (art. 89, 2. Perdão do ofendido: depende de aceitação.
Lei 9.099/95) 3. Reconciliação e desistência do processo no
Crime do art. 5º da Lei 8137/90 (venda casada, pena: procedimento especial dos crimes contra a
2 – 5 anos ou multa): O STF entendeu que a suspensão honra de competência do juiz singular (522,
será cabível, ainda que a pena mínima seja superior a CPP)
1 ano, se a multa for cominada alternativamente
6. Princípio da divisibilidade 6. Princípio da indivisibilidade
- É a posição do STF e STJ. - O processo de um dos coautores e seus partícipes
- O MP pode oferecer denúncia contra alguns obriga ao processo de todos.
investigados, sem prejuízo do prosseguimento das - Consequências:
investigações em relação aos demais. a) Renúncia concedida a um dos agentes
- Parte da doutrina entende que aplica o princípio da estende-se aos demais,
indivisibilidade (Tourinho Filho, Aury Lopes Júnior) b) Perdão concedido a um dos agentes, estende-
se aos demais, mas desde que haja a
aceitação (pra quem não aceitar o processo
continuará)
- Fiscal do princípio da indivisibilidade: MP (art. 48-A).
- Fiscalização do princípio da indivisibilidade: Como o
MP não possui legitimidade ativa nos crimes de ação
penal privada, há duas possibilidades:
1. Verificando-se que a omissão do querelante foi
voluntária, ou seja, o querelante ofereceu queixa
contra apenas um dos coautores apesar de ter
consciência quanto ao envolvimento de outros, deve
ser reconhecida a renúncia tácita contra aqueles que
não foram incluídos na peça acusatória, renuncia esta
que se estende aos demais, em virtude do princípio da
indivisibilidade.
2. Verificando-se que a omissão do querelante não foi
voluntária, deve o MP requerer a intimação do
querelante para incluir os demais co-autores ou
partícipes. Se o querelante permanecer inerte, há de
se reconhecer renúncia tácita, que se estende a todos
os coautores do delito.

7. Representação do ofendido

7.1. Conceito

É a manifestação do ofendido ou de seu representante legal, no sentido de que possui interesse


na persecução penal.
Não há necessidade de formalismo, segundo entendimento dos Tribunais Superiores.
Ex: vítima comparecer na delegacia para fazer exame de corpo de delito no crime de estupro.

7.2. Natureza Jurídica

 Se o processo já estiver em andamento: condição de prosseguibilidade.


 Se o processo ainda não teve início e a lei exige a representação: condição específica de
procedibilidade.
 Quanto à representação vigora o princípio da oportunidade ou conveniência: ninguém é
obrigado a a oferecer representação. Só oferece se quiser.

7.3. Legitimidade para o oferecimento da representação e da queixa-crime

a) Ofendido com 18 anos completos ou mais


- Aplica o CC, art. 5º.
- Não possui mais representante legal, pois já tem capacidade plena (art. 34, CPP – ultrapassado).
Art. 34.  Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu
representante legal.

- Súmula 594, STF: Também foi pensada para os ofendidos com 18 a 21 anos. Também está
ultrapassada.
- Não há mais a necessidade de curador para o acusado menor de 21 anos.

b) Ofendido menor de 18 anos, mentalmente enfermo ou retardado mental.


- O direito será exercido por seu representante legal. O representante é qualquer pessoa que de
alguma forma seja responsável pelo menos

- Inércia do representante legal no prazo de 6 meses:


 Corrente majoritária: Não há falar em decadência do direito de queixa ou de representação
em relação a um direito que não pode ser exercido. (Mirabete)
 Corrente minoritária: se o incapaz tem representante legal, significa dizer que seu direito
de queixa ou de representação pode ser exercido, logo se o representante legal permanece
inerte, haverá decadência e extinção da punibilidade. (Pacceli, Luiz Flávio Gomes).

- Incapaz sem representante legal (art. 33)


 Nomeação de curador especial pelo juiz
 Curador especial não é obrigado a oferecer a representação ou queixa, se entender que
não seja do interesse do menor.

c) Ofendido com idade entre 16 e 18 anos casado


- A emancipação não confere a essa vítima capacidade para oferecer representação ou queixa
crime.
- Nomeação de curador especial ou aguarda-se que a vítima complete 18 anos.

d) Morte do ofendido
- Ocorre a sucessão processual. Será transferido ao CADEI (cônjuge, ascendente, descendente e
irmão)
- Se aplicar o cônjuge é uma analogia “in malam partem”. Mas a maioria da doutrina entende que
o companheiro está dentro.

Observações quanto à sucessão processual:


1. A ordem do art. 31 do CPP é uma ordem preferencial, ou seja, se todos os sucessores
tiverem interesse, prevalece primeiro o cônjuge e assim por diante.
2. Havendo divergência entre os sucessores, prevalece a vontade daquele que tem interesse
na persecução penal.
O sucessor terá direito ao prazo decadencial restante, prazo este que só começará a fluir a partir
do conhecimento da autoria

7.4. Prazo decadencial para o oferecimento da representação

- Decadência: é a perda do direito de ação penal privada ou de representação em virtude do seu


não exercício no prazo legal (extinção da punibilidade).

- Prazo decadencial: de 6 meses, em regra, a partir do momento em que se conhece a autoria do


crime. (art. 38, CPP).
Exceção: art. 236, §único, CP: o prazo começa a contar a partir do transito em julgado da sentença
que anular o casamento.

- Contagem do prazo decadencial: direito penal (art. 10,CP) – o dia do início deve ser computado.
Ex: crime de ação penal privada: 08/04/2012
Decadência: dia 07/10/12 (23:59:59)

- O prazo decadencial é um prazo fatal e improrrogável. Significa dizer que a instauração do


inquérito policial em crimes de ação penal privada não interrompe e nem suspende o curso do
prazo decadencial.

- O curso do prazo decadencial será obstado com o exercício do direito de queixa/representação,


pouco importando se a queixa foi proposta perante o juízo incompetente. (STJ HC 11.271)
OBS: a prescrição é interrompida perante o juízo competente.
7.5. Retratação da representação

- Voltar atrás, arrepender-se de um direito que foi exercido.


- CPP: é possível até o oferecimento da denúncia. (CUIDAR: não é recebimento)

- Lei 11.340/06 (Mª da Penha), art. 16: renúncia (direito que não exerceu). Tecnicamente é uma
retração e não renúncia.
Retratação em audiência especialmente designada para essa finalidade. Essa audiência não é
obrigatória, só deve ser realizada se a vítima disser que quer se retratar da representação.

Observações:
1. A lei usa a palavra “renúncia” de maneira equivocada, pois se o direito de representação já
foi exercido, trata-se de retratação, logo, na lei Mª da Penha, a retratação à representação
pode ser feita até o recebimento da denúncia, em audiência especialmente designada para
essa finalidade.
Ex: estupro e ameaça.

2. Essa audiência só deve ser realizada se por ventura a vítima tiver manifestado prévia
vontade de se retratar.

- Retratação da retração da representação: é uma nova representação. É possível desde que antes
do prazo decadencial.

7.6. Eficácia objetiva da representação

Tício Mévio Foi oferecida denúncia contra Tício. Durante o


Art. 213 Art. 213 curso do processo se descobre que Mévio agiu
com Tício e cometeram dois estupros.
12/04/12 12/04/12
05/04/12

Pode oferecer denúncia contra os dois?


Para cada crime é necessário uma representação. Se a vítima representar apara apenas 1 crime,
ela será válida para esse crime, mas repercute para todos os acusados.

- Feita a representação em relação a um delito, o MP é livre para oferecer a denúncia contra


todos os coautores e partícipes
- Feita a representação em relação a um delito, o MP não pode oferecer denúncia em relação a
outros crimes que não foram objeto de representação. Assim, o crime do dia 05/04/12 o MP nada
pode fazer, a não ser chamar a vítima para ver se ela deseja representar.

8. Requisição do Ministro da Justiça

- Condição específica da ação penal.


- A palavra requisição não é sinônimo de ordem, pois o MP continua sendo o titular da ação penal
pública. (129, I, CF)
- Não está sujeita à decadência (porém o crime está sujeito à prescrição, como todo e qualquer
delito, pelo menos em regra).
- A maioria entende que é possível a retratação da requisição.

9. Ação Penal Privada Subsidiária da Pública

- Previsão no art. 5º, LIX.


- Só é cabível diante da inércia do MP.
- Funciona como importante mecanismo de controle do princípio da obrigatoriedade.

 Cabe subsidiária em todos os crimes?


Só se pode pensar em ação penal privada subsidiária da pública se o crime contar com uma
vítima determinada. Ex: furto.
No tráfico não há vítima determinada, é um crime de perigo não sendo possível ação
subsidiária.

ATENÇÃO:
 Lei 8.078/70, art. 80, 82, III e IV. Outorga a legitimidade para outros órgãos, porque uma
pessoa física dificilmente se daria o trabalho de ingressar com uma ação.
- Entidades e órgãos da Administração Pública direta ou indireta
- Associações legalmente constituídas há pelo menos um ano.

Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como a outros crimes e
contravenções que envolvam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Ministério
Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal
subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo legal.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: 
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização
assemblear.

 Lei de Falências (L. 11.101, 184, §único)


- Qualquer credor habilitado

Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.

Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1 o, sem que o representante do Ministério
Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação
penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses.

9.1. Prazo decadencial para ajuizamento da queixa subsidiária

- 6 meses, e só começa a fluir após a inércia do MP.


- Como a ação penal é de natureza pública, na origem, o decurso do prazo decadencial não irá
acarretar a extinção da punibilidade (decadência imprópria – perde seu direito, mas não acarreta
extinção da punibilidade).

Exemplo: Autos do inquérito do investigado solto com vista ao MP em data 02/05/2011 (2ª feira)
03/05/11 = início do prazo do MP. (prazo processual)
17/05/11 = MP tem 15 dias para denunciar (réu solto) – 3ª feira – último dia do prazo do MP.
18/05/11 = surge o direito de ação penal privada subsidiária da pública.
(prazo penal)

6 meses = 17/11/11: decadência da queixa subsidiária.

O fato de ser cabível a subsidiária, não significa que o MP não possa oferecer denúncia dentro do
prazo da vítima, até o advento da prescrição.

9.2. Poderes do MP na ação penal privada subsidiária da pública: Art. 29, CPP

1. Opinar pela rejeição da peça acusatória (art. 395, CPP)


2. Aditar a queixa crime, tanto para incluir elementos secundários (lugar), como também para
incluir novos fatos delituosos, coautores e partícipes.
3. Intervir em todos os termos do processo.
4. Repudiar a queixa crime (afastar), ainda que ela esteja em perfeitas condições – hipótese
sem que o MP estaria obrigado a oferecer denúncia substitutiva.
5. No caso de negligência do querelante deve o MP retomar a ação como parte principal
(ação penal indireta)
10. Ação Penal Popular

- Ação que pode ser ajuizada por qualquer pessoa do povo.


- Exemplos:
a) Habeas corpus: devido a sua importância pode ser impetrado por qualquer pessoa, capaz
ou incapaz, física ou jurídica.
O habeas corpus não é uma ação penal condenatória. É uma ação constitucional eu visa
proteger a liberdade de locomoção.

b) Faculdade de qualquer cidadão oferecer denúncia contra agentes políticos por crimes de
responsabilidade (infração político administrativa)

Notitia criminis
Não é uma ação penal condenatória.

11. Ação penal adesiva

1ª Corrente: (Tourinho Filho) No direito Alemão, é possível que o MP ofereça denúncia em crimes
de ação penal privada, desde que visualize a presença de interesse público. Nesse caso, o ofendido
pode se habilitar como acusador subsidiário, como se fosse uma espécie de ação penal adesiva.

2ª corrente: é a possibilidade de litisconsórcio entre o MP que oferece denúncia em crime de ação


penal pública e o querelante que oferece queixa em relação ao crime de ação penal privada.
(majoritária).

12. Ação de prevenção penal

É aquela ajuizada com o objetivo de se aplicar medida de segurança ao inimputável do art. 26,
caput.

13. Ação penal secundária

Ocorre quando as circunstâncias do crime fazem variar a espécie de ação penal.


Ex: crimes contra a honra, crimes contra a dignidade sexual.

14. Ação penal nos crimes contra a honra

- Regra: a ação penal é de iniciativa privada


- Exceções:
1. Injúria real: é aquela praticada através da violência ou vias d efato. Ex: trote da faculdade,
tapa na cara.
Se praticado mediante via de fato, entende-se que nesse caso a ação é privada.
Se praticado mediante lesão corporal leve, a ação penal é pública condocionada à
representação
Se a lesão corporal for grave/gravíssima, a ação penal é pública incondicionada.

2. Crimes contra a honra praticados durante a propaganda eleitoral: São crimes leitoração –
ação pública incondicionada.

3. Crimes militares contra a honra: pública incondicionada

4. Crime contra a honra do Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro: pública


condicionada a requisição do Ministro da Justiça.

5. Crime contra honra do funcionário público, em razão do exercício funcional: (propter


officium)
Súmula 714, STF Ação penal privada ou ação penal pública condicionada a representação.

Súmula 714. É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,


condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público
em razão do exercício de suas funções.

No inquérito 1939, o STF entendeu que uma vez oferecida a representação, não mais será
possível o ajuizamento da queixa crime. Portanto, apesar da Súmula 712 fazer menção a
uma legitimação concorrente, trata-se na verdade de legitimação alternativa, pois o
ofendido tem duas opções: ou ele ajuíza a queixa crime, ou ele oferece representação,
autorizando a atuação do MP.

6. Injúria Racial: antes da Lei 12.033/09 era privada. Após a lei , a ação é pública condicionada
à representação.
É diferente de racismo (Lei 7.716/89). Na injúria você ofende uma honra determinada. No
racismo há uma oposição indistinta a toda uma raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional. STJ, RHC 19.166.
O racismo, a ação penal é pública incondicionada.

15. Ação penal nos crimes de lesão corporal no contexto de violência doméstica contra mulher (Lei
11.340)

Obs: O namoro depende do caso concreto.


Lesão corporal leve/culposa
 Antes da Lei 9.099/95: pública incondicionada
 Depois da lei 9.099/95: pública condicionada à representação
 Lei 11.340/06: art. 16 x art. 41

Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
admitida a renúncia (retratação) à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada
com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

Interpretando esse artigo, poderia levaria a acreditar que a lesão corporal leve ou culposa, seria de
ação penal pública condicionada à representação. Essa foi a posição consolidada pelo STJ (REsp
1097.042).

Art. 41.  Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Antigamente a violência contra mulher era mensurada em cestas básicas. Hoje, não se aplica a lei
9.099/95, e como não é possível aplicar a lei dos juizados e sendo que foi esta lei que mudou a
ação penal condicionada a representação, a ação deveria ser pública incondicionada. (ADI 4424/
ADC 19). Assim decidiu o STF e provavelmente o STJ mudará seu posicionamento.

Razões adotadas pelo STF:


1º Mulher tem proteção especial (CF, art. 226, §8º). Está em posição de vulnerabilidade.
2º Firmou a constitucionalidade do art. 41 da Lei 11.340/06. Ao vedar a aplicação da lei 9.099, o
art. 41 é válido, não apenas para crimes, mas também para contravenções.
3º A ação penal será incondicionada apenas para lesão leve e culposa praticada no contexto de
violência doméstica contra mulher. Crime de ameaça e crime de estupro, ainda que praticados
com violência doméstica e familiar contra mulher, o STF entende que continua seguindo a regra
do CP, ou seja, pública condicionada à representação.

16. Ação penal nos crimes contra a dignidade sexual (Lei 12.015/09)

Art. 225.  Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública
condicionada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Parágrafo único.  Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

Antes da Lei 12.015/09 Depois da Lei 12.015/09


Regra: ação penal privada. Inclusive para os Regra: ação penal pública condicionada à
crimes de violência presumida representação.
A Lei 12.015 entrou em vigor no dia 10 de agosto
de 2009.
Exceções: Exceções:
1. Vítima pobre: pública condicionada à 1. Vítima menor de 18 anos: ação penal pública
representação, mesmo que houvesse Defensoria incondicionada.
Pública na Comarca.
2. Vítima vulnerável: Há uma antinomia na lei
2. Abuso do poder familiar: ação penal pública entre os art. 225 e o parágrafo único. Nesse caso,
incondicionada. o ideal é que seja ação penal pública
incondicionada.
3. Emprego de violência real: ação penal pública
incondicionada. Emprego de força física sobre o Nos casos de omissão da lei nova, segue a regra.
corpo da vítima para a prática do ato sexual. Ex:
soco, chute, amarrar. Microlesões na vagina não é 3. Vítima pobre: continua sendo condicionada a
violência real, é mera consequencia do ato de representação
estupro.
4. Abuso do poder familiar: em tese segue a regra.
Súmula 608, STF: No crime de estupro, praticado Porém, geralmente quem está submetido ao
mediante violência real, a ação é pública poder familiar é menor de 18 anos ou pessoa
incondicionada. vulnerável, continuando sendo pública
Fundamento legal no art. 101, CP, que traz a incondicionada.
chamada ação penal extensiva. Este artigo aplica-
se aos crimes complexos. (crime que resulta da 5. Emprego de violência real: ação penal pública
fusão de dois crimes – ex roubo). Se um dos condicionada a representação.
crimes que compõe o crime complexo for de ação
penal privada e o outro de ação penal pública, Súmula 608 do STF está ultrapassada.
opera-se uma extensão da ação penal pública, a
qual estará sujeito o crime complexo. 6. Crime qualificado pela lesão corporal
grave/morte: seguindo a regra, pública
Na visão da doutrina, o estupro não é crime condicionada a representação.
complexo, pq não resulta da fusão de uma ou
mais figuras típicas. Foi proposta uma ADI (4.301) para que a ação
penal continue sendo de natureza pública
4. Crime qualificado pela lesão corporal incondicionada. Pois um crime que resulte a
grave/morte: ação penal pública incondicionada. morte não pode estar sujeito à representação.

17. Renúncia e perdão

Renúncia Perdão
Conceito: Renúncia é o ato unilateral e voluntário, Conceito: Ato bilateral e voluntário, por meio do
por meio do qual o ofendido abre mão do seu qual o querelante perdoa o acusado, acarretando
direito de queixa. a extinção do processo.
Natureza Jurídica: causa extintiva da punibilidade, Natureza Jurídica: causa extintiva de punibilidade,
apenas nos casos de ação penal exclusivamente apenas nos casos de ação penal exclusivamente
privada e privada personalíssima. privada e privada personalíssima.

Obs: não se confunde com o perdão judicial (art.


121, §5º, CP). Mas também extingue a
punibilidade.
Princípio da oportunidade / conveniência: o Princípio da disponibilidade: só pode ser
momento de renunciar é antes do início do concedido durante o curso do processo até o
processo. trânsito em julgado de sentença condenatória.
(art. 106, §2º, CP)
Ato unilateral: a renúncia não depende de Ato bilateral: depende de aceitação.
aceitação
Renúncia: Renúncia:
 Expressa: declaração inequívoca  Expressa: declaração inequívoca
 Tácita: a prática de ato incompatível com a  Tácita: a prática de ato incompatível com a
vontade de processar. vontade de processar.

CPP: o recebimento de indenização não importa A aceitação do perdão também pode ser de
renúncia tácita. (art. 104, CC) maneira expressa ou tácita
Juizados: a composição civil dos danos acarreta a O silêncio é uma aceitação tácita. (art. 58, CPP)
renúncia ao direito de queixa ou representação
Princípio da indivisibilidade: a renúncia concedida Princípio da indivisibilidade: o perdão concedido
a um dos coautores estende-se aos demais. a um dos coautores estende-se aos demais, mas
desde que haja aceitação.

18. Perempção

Conceito: é a perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal privada em virtude da


negligência do querelante.
Já havia exercido o direito, feito a queixa, porém, o querelante começou a se mostrar relapso,
negligente. Assim, perde o direito de prosseguir com o processo.

Não se confunde com a decadência: é a perda do direito de dar início ao processo em crimes de
ação penal privada.

Natureza Jurídica: causa extintiva da punibilidade. Apenas na ação penal exclusivamente privada e
privada personalíssima.

Causas de perempção: CPP, art. 60.


 
Art. 60.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;

É necessária a intimação do querelante, antes de o juiz declarar a perempção .

II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para
prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-
lo, ressalvado o disposto no art. 36;

Não precisa intimar os sucessores. É até inviável fazer.

III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que
deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

- Ausência do querelante à ato que deva estar presente.


A ausência do querelante em audiência de conciliação não é causa de perempção, pois demonstra
que ele não tem interesse de fazer acordo.
- Deixar de formular pedido de condenação nas alegações finais.
Ex: Consequencia da ausência na audiência una de conciliamento: não pode apresentar a s
alegações orais do representante. Se não apresentar, não haverá pedido de condenação;

IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

19. Peça acusatória

- É chamada de denúncia na ação penal pública e queixa-crime em se tratando de delitos de ação


penal privada.
- Em regra, devem ser apresentadas por escrito (petição). No entanto, no âmbito dos juizados . p
promotor pode oferecer sua denuncia oralmnete, sendo esta reduzida a termo (na audiência).

19.1. Requisitos

Art. 41.  A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e,
quando necessário, o rol das testemunhas.

1. Exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias

O que aconteceu?
Como? Quem? Contra quem? Quando?
Onde? Por que?
A denúncia deve ser simples. Contar apenas a história do fato delituoso.

- Crimes culposos: O promotor deve descrever em que consistiu a modalidade da culpa.

- No processo penal o acusado defende-se dos fatos que lhe são imputados (atribuídos),
independentemente da classificação formulada.

- Elementos essências x elementos acidentais:


Elementos essências são aqueles necessários para identificar a conduta como fato típico. Eventual
vício quanto a esses elementos é tratado como causa de nulidade absoluta por violação à ampla
defesa.

Elementos acidentais são aqueles relacionados às circunstancias de tempo, lugar do crime, modos
operandi, etc. Se esses elementos forem conhecidos , deverão constar da peça acusatória.
Eventual vício quanto aos elementos acidentais, é caso de nulidade relativa, logo, deve ser
comprovado o prejuízo.

- Agravantes e atenuantes
Doutrina (moderna): As agravantes devem constar da peça acusatória, pois repercutem na
punição do acusado. Se não constar na denúncia, não há defesa dessa agravante.
Tribunais: Agravantes e atenuantes podem ser reconhecidas pelo juiz mesmo que não tenham
constando da peça acusatória (art. 385, CPP)

Art. 385.  Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério
Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido
alegada.

- Deficiência da narrativa do fato delituoso (criptoimputação) é causa de inépcia formal da peça


acusatória. A inépcia é uma das causas de rejeição da denúncia. (art. 395, I, CPP).
A inépcia deve ser arguida até a sentença, sob pena de preclusão.

- Crimes societários e denúncia genérica:


Crimes societários ou crimes de gabinete são crimes praticados por pessoas físicas sob o manto
protetor da pessoa jurídica. Ex: crimes tributários e crimes contra a previdência social.
Denúncia genérica é aquela que não aponta a conduta individualizada de cada um dos
denunciados.
Ex: 4 pessoas entram encapuçadas num banco. Não tem como saber o que cada um deles fez, mas
apenas apontar de forma genérica os fatos delituosos.
Denúncia genérica em crimes societários: Para os Tribunais Superiores, o simples fato de ser sócio,
gerente ou administrador não permite a instauração de processo penal pelos crimes praticados no
âmbito da sociedade, se não se comprovar, ainda que, minimamente, a relação de causa e efeito
entre as imputações e a função do denunciado na sociedade, sob pena se admitir verdadeira
responsabilidade penal objetiva. (STJ HC 24239)

Acusação Genérica Acusação Geral


Vários fatos delituosos são imputados a diversos O mesmo fato delituoso é atribuído a vários
agentes sem que haja uma individualização. Nesse acusados. Há apenas um único fato delituoso.
caso haveria uma NULIDADE ABSOLUTA por Entende-se que não há violação à ampla defesa.
violação à ampla defesa. Cada um dos acusados sabe do que se defender.

2. Qualificação do acusado
- Nome, filiação, nascimento, CPF, RG, etc. Individualiza a pessoa do acusado.

- Sem a qualificação: ainda que não tenha a qualificação da pessoa, ainda é possível o
oferecimento da denúncia, que deve apontar os esclarecimentos pelos quais se poça identificar a
pessoa.
Primeiro passo é a identificação criminal.
Os esclarecimentos devem nos levar a uma identificação física que seja certa.

Art. 259.  A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros


qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do
processo, do julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a
retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.

Se se está tendo problemas quanto à identificação da pessoa, pode ser decretada a prisão
preventiva.

Art. 13, CPP:


Parágrafo único.  Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil
da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

3. Classificação do crime

Eventual erro da classificação não autoriza a rejeição da peça acusatória, visto que o CPP dispõe de
instrumentos para a retificação da classificação no momento da sentença.
a) Emendatio Libelli: Ocorre quando o juiz, sem modificar a descrição do fato constante da peça
acusatória, dá a ele classificação diversa (art. 383, CPP).
Emendatio= correção / libelli = acusação

b) Mutatio Libelli: Ocorre quando durante a instrução probatória, surge prova de elementar ou
circunstância não contida na peça acusatória. Nesse caso, deve ser feito o aditamento pelo MP
com posterior oitiva da defesa, em fiel observância do contraditório, da ampla defesa e da
correlação entre acusação e sentença (art. 384, CPP).

4. Rol de testemunhas

- Só deve ser apresentado se necessário. Crimes tributários não há necessidade testemunhas.


- Se não apresentado o rol na peça acusatória, a consequência é preclusão temporal, pois não foi
exercido no momento previsto por lei.
Porém, nesses casos o juiz acaba utilizando o princípio da busca da verdade e as testemunhas são
ouvidas como testemunha do juízo. (art. 156, II, CPP)
 
Art. 156. II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências
para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

- Número máximo de testemunhas

Procedimento comum ordinário: 8


Procedimento comum sumário: 5
Procedimento comum sumaríssimo: 3 ou 5 (prevalece 3)
1ª fase Júri: 8
Plenário do Júri: 5
Lei de drogas: 5
CPPM: 6

Para a acusação, esse número de testemunhas varia de acordo com o número de ações ou
omissões. O número de testemunhas não varia com o número de crimes, mas sim com o número
de ações empregadas.
Para a defesa, apesar de haver controvérsia, o ideal é que esse número varia de acordo com o
número de ações ou omissões, por acusado.

Obs: Não entram as testemunhas referidas (aquela que uma outra testemunha faz menção), as
que não prestam compromisso e as que nada sabem sobre a causa.

4. Procuração da queixa crime


- Procuração com poderes especiais
- Peculiaridades (art. 44)
- Menção ao nome do querelado e ao fato delituoso. Os Tribunais entendem que basta a indicação
do dispositivo legal na procuração.
- Eventuais vícios dessa procuração podem ser supridos a qualquer momento, antes da sentença
condenatória. (art. 568, CPP).

20. Prazo para o oferecimento da peça acusatória

Solto Preso
CPP 15 dias 5 dias
Queixa-crime 6 meses 5 dias
Lei de drogas 10 dias 10 dias
CPPM 15 dias 5 dias
Economia Popular 2 dias 2 dias
Abuso de autoridade 48 horas 48 horas
CE 10 dias 10 dias

21. Rejeição / recebimento

Será visto no intensivo II.

PROVAS

1. PRINCÍPIOS RELATIVOS À PROVA PENAL

1.1. Presunção de inocência

CF/88, art. 5º, LVIII: Ninguém será considerado culpado = princípio da não culpabilidade.
CADH art. 8º, § 2º: Tem direito que se presuma sua inocência = princípio da presunção de
inocência.

Até quando a pessoa é considerada inocente na CADH? Será inocente enquanto não for
legalmente comprovada sua culpa.
Se a CADH assegura o duplo grau de jurisdição, o ideal é dizer que a sua culpa estará legalmente
comprovada até a prolação de um acórdão condenatório no exercício do duplo grau de jurisdição.
Até quando é considerado não culpado na CF/88? Até o transito em julgado de sentença penal
condenatória.
Como a CF é mais vantajosa, é a que prevalece sobre a CADH = princípio pro omni.

Do princípio da presunção de inocência, derivam duas regras:


a) Regra probatória: recai sobre o acusador o ônus de provar a culpabilidade do acusado além de
qualquer dúvida razoável, devendo o juiz absolvê-lo em caso de dúvida. (in dúbio pro reo)

Art. 386.  O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde


que reconheça:       

VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts.


20, 21, 22, 23, 26 e § 1 o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver
fundada dúvida sobre sua existência; (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

Ex: briga na balada. Às vezes é muito difícil identificar quem deu início as agressões.
Qual é o princípio aplicado na Revisão Criminal?
Indubio contra reum. Não se aplica o princípio da presunção de inocência, pois a revisão criminal
só pode ser ajuizada após o transito em julgado de sentença condenatória ou absolutória
imprópria.

b) Regra de tratamento: em regra, o acusado deve permanecer em liberdade durante o processo.


Medidas cautelares de natureza pessoal só podem ser decretadas em casos excepcionais e desde
que comprovada sua necessidade.

CUIDADO: HC 84.078
 Antes: como o RE e o Resp não são dotados de efeito suspensivo, entendia-se que era
possível a execução provisória da pena após a prolação de um acórdão condenatório pelos
Tribunais de 2ª instancia.

Art. 637.  O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez


arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à primeira
instância, para a execução da sentença.

 Depois: Enquanto não houver o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, não
será possível o recolhimento do acusado à prisão, salvo se presentes os pressupostos da
preventiva.
Esse entendimento foi positivado pela Lei 12.403/2008, na nova redação dada ao art. 283,
CPP.

Art. 283.  Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de
sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).

Hoje não é mais possível a execução provisória da pena, o que não impede , no entanto, a
concessão antecipada de benefícios prisionais.

1.2. Princípio da busca da Verdade

- Doutrina antiga: Processo penal (verdade real) x processo civil (verdade formal)
A verdade real deve ser abandonada, porque:
a) Não existe verdade real. No processo não há como reproduzir com fidelidade o que
exatamente aconteceu.
A verdade é aproximativa.
b) Também foi abandonada porque durante muito tempo, a busca pela verdade real justificou
as provas ilícitas.
O que existe é uma verdade processual.
- Doutrina moderna: trabalha com a ideia da busca da verdade.

 Qual é o papel do juiz na gestão da prova no processo penal?


O juiz é dotado de certa iniciativa probatória durante o curso do processo, a ser exercida
de maneira residual, subsidiária.

Art. 312.  A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e
indício suficiente de autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Durante as investigações, não possui o juiz iniciativa acusatória, sob pena de violação ao
sistema acusatório e a garantia da imparcialidade. Por isso, a melhor doutrina vem
considerando o inciso I do art. 156, CPP como inconstitucional.

Art. 156.  A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado


ao juiz de ofício:  (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de
provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação
e proporcionalidade da medida; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização
de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº
11.690, de 2008)
Verdade Consensual: aplicada nos juizados. Ao invés de procurar saber o que realmente
aconteceu, se busca um consenso, acordo entre as partes, através da composição dos danos civis,
transação penal e suspensão condicional do processo.

1.3. Princípio do nemo tenetur se detegere

O acusado não é obrigado a produzir prova contra si mesmo.


- CF/88 (art. 5º, LXIII): Direito ao silêncio, que é um dos desdobramentos desse princípio.
- Convenção Americana de Direitos humanos: art. 8º, 2º, “g”.

a) Titular do direito a não autoincriminação:

- Art. 5º, LXIII, CF = fala em preso, mas se aplica tanto ao indiciado, acusado (preso, solto)
- Enquanto testemunha, não tem direito ao silêncio, tem o dever de falar a verdade. Todavia, se
das respostas puder resultar autoincriminação, também tem direito de não produzir prova contra
si mesmo.

b) Advertência quanto ao direito

- O acusado deve ser informado de que não é obrigado a produzir prova contra si mesmo.
- Tem direito de ser informado do silêncio.

Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

Art. 186, CPP. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da


acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do
seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem
formuladas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Vide STF HC 80949: gravações clandestinas pela autoridade policial sem prévia advertência do
direito ao silêncio.

- Aviso de Miranda: surge no direito norteamericano (Miranda rights ou warnings)


Nenhuma validade pode ser conferida às declarações do preso à polícia se não houve prévia
advertência dos seguintes avisos:
a) Direito de não responder às perguntas formuladas;
b) Tudo que disser pode ser usado contra ele;
c) Tem direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado.
Apenas para o direito norteamericano.
No Brasil se tem o aviso de permanecer em silêncio.

- Direito de informação estende-se a mídia? O STF (HC 99558) entendeu que não. Esse dever é só
para o Poder Público.

c) Desdobramentos do nemo tenetur

 Direito ao silêncio: O silêncio não importa em confissão ficta. Não se aplica o ditado “quem
cala, consente”.

Art. 198.  O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento
para a formação do convencimento do juiz.

Art. 478.  Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer
referências: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
 II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em
seu prejuízo. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

 A presença do acusado no plenário do júri não é mais obrigatória. (CPP Lei 11.689/08).
 Inexigibilidade de dizer a verdade.
- No Brasil não há crime de perjúrio (quando o acusado mente).
- O ideal é dizer que a verdade não é exigível em vez de dizer direito à mentira.
- Falso álibi
- Eventual mentira agressiva, incriminando terceiro inocente pode caracterizar crime (art.
138 e 339).

 Direito de não praticar nenhum comportamento ativo que possa incriminá-lo.


- Reconstituição: não é obrigado a participar
- Exame grafotécnico: verificação de escrita. Não é obrigado. Se a pessoa não quiser fazer,
pode pedir para mandar apreender um caderno do acusado.
- Reconhecimento: a maioria da doutrina entende que o acusado é nobrigado a praticar,
pois envolve um comportamento passivo, o acusado se sujeita, na faz nada. Pode ser
determinada a condução coercitiva para fins de realização de reconhecimento.
- Bafômetro:
 Soprar (comportamento ativo – não é obrigatório).
 Etilômetro passivo (é um canudo que consegue captar se a pessoa está exalando
ácool – é obrigado).

 Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva.


 Prova invasiva: são as intervenções corporais que pressupõe penetração no
organismo humano, implicando na utilização ou extração de alguma parte dele.
 Prova não invasiva: consiste numa inspeção ou verificação corporal, sem que haja
penetração no organismo humano.

- DNA (fio de cabelo). Não pode arrancar o cabelo para fazer o exame, mas se encontrar no
chão é cabível.
Ex: caso Glória Trevi
RC 2040, STF = entendeu ser plenamente possível a coleta da placenta, porque seria
descartada pelo hospital
Ex: Caso Pedrinho. Cigarro descartado, o delegado pode apreender. Dentro de casa o lixo
tá protegido pela proteção da intimidade, mas no momento que é descartada na rua, não
tem mais a proteção.

Exame de raio X (drogas no organismo) pode obrigar a pessoa a fazer?


É a única prova não invasiva não depende do consentimento do investigado (súmula 149 e
146, STJ)

 Bafômetro e a nova redação do art. 306 do CTB


Antiga redação do art. 306 do CTB: “Conduzir veiculo automotor sob a influência do álcool,
expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”.
- Crime de perigo concreto
- A influência de álcool podia ser comprova através de um exame direto (soprar bafômetro,
exame de sangue.
- Se a pessoa se negasse, invocando o nemo tenetur, as autoridades podiam fazer um
exame indireto, através de exame clínico, prova testemunhal.

Nova redação do art. 306 do CTB (Lei 11.705/08 – lei seca): “Estando com concentração de
álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 decigramas”.
- Passou a ser um crime de perigo abstrato, porque a situação de perigo não está mais
inserida no tipo penal. (STF HC 109.269).
- Se comprova através do exame direto (soprar bafômetro ou exame de sangue)
- Se o agente se negar a fazer o exame, invocando o nemo tenetur se detegere, não é
possível a comprovação do delito mediante prova testemunhal nem tampouco com exame
clínico (STJ – 3ª seção – 5ª e 6ª Turma)
- Se não fazer o exame, o agente não poderá sofrer nenhuma sanção de natureza penal
(quem tem que provar a culpabilidade é a acusação). Assim, a recusa gera apenas sanções
de natureza administrativa (art. 165, CTB – multa e suspensão de dirigir por 12 meses)

d) Nemo tenetur e a prática de novos delitos


Fraude processual: art. 347
Ex: casal Nardone foi condenado por nesse crime, pois mexeram na cena do crime para induzir em
erro os peritos.

- Não é um direito absoluto, portanto não autoriza a prática de novos ilícitos para encobrir crime
anterior.

Ex: falsa identidade, para não ser preso = tipifica o crime do art. 307, CP (não está protegido pelo
nemo tenetur – STF)

2. TERMINOLOGIA DA PROVA

2.1. Fontes de prova / meios de prova / meios de obtenção de prova

Fonte de prova: são as pessoas ou coisas das quais se conseguem as provas. Em outras
palavras, cometido o fato delituoso, tudo aquilo que possa servir para esclarecê-lo pode ser
conceituado como fonte de prova. Derivam do fato delituoso em si, independentemente da
existência do processo, sendo que sua introdução no processo se dá através dos meios de prova.
Ex: pessoa que presenciou a prática de um crime, etc.

Meio de prova: são os instrumentos através dos quais as fontes de prova são introduzidas
no processo. Dizem respeito a uma atividade endoprocessual que se desenvolvem perante o juiz
com a participação das partes sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. Ex: depoimento da
testemunha, declarações do ofendido, etc.

Meios de obtenção de prova (procedimentos investigatórios): referem-se a certos


procedimentos, em regra extraprocessuais, cujo objetivo é a identificação de fontes de prova,
geralmente realizados por outros agentes que não o juiz. Não é obrigatória a observância do
contraditório real, funcionando a surpresa como importante fator necessário a sua eficácia. Ex:
agente infiltrado, interceptação telefônica.

2.2. Indícios

Tem dois sentidos distintos no processo penal.


a) Indício como prova indireta: é a circunstancia conhecida e provada que, tendo relação
com o fato criminoso, autorize por indução concluir-se a existência de outra circunstância.
Ex: X vê duas pessoas entrando numa sala. Escuta estampidos de tiro. Após vê uma delas
saindo da sala sujo de sangue e a outra está morta. X não viu o delito, mas tem indícios de que o
sujeito que saiu da sala praticou o delito de homicídio. (indício como prova indireta).
 Indício como prova indireta autoriza a incriminação de alguém?
Um indicio isolado não, mas se somar vários indícios e estes formarem um conjunto
coerente, pode servir de incriminação.

Art. 383.  O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena
mais grave. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
 § 1o  Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta
de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na
lei. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
 § 2o  Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados
os autos. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

b) Indício como sinônimo de prova semiplena: é um aprova de menor valor persuasivo. Essa
prova não confere um juízo de certeza quanto ao fato que se pretende provar, mas sim, de mera
probabilidade.
É muito importante para a decretação de medidas cautelares, onde o juízo é de
probabilidade.
Art. 312.  A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Para a prisão preventiva deve se ter certeza da existência do crime e indício suficiente da
autoria do crime. O caso Elisa Samudio, Bruno não poderia estar preso ainda, pois o próprio juiz
não tem certeza se a Elisa está morta.

Indícios X Suspeita
Suspeita: enquanto indício é sempre um dado objetivo, a suspeita é um mero fenômeno
subjetivo, pura intuição, que pode gerar desconfiança, dúvida , mas também pode conduzir a
engano.
Ex: busca pessoal.

Art. 244.  A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver


fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou
papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de
busca domiciliar.

2.3. Objeto da prova

É a veracidade ou falsidade de afirmação sobre fato que interesse a solução do processo.

Deve ser provado no processo penal:


a) Imputação constante da peça acusatória.
b) Os costumes (furto praticado durante o repouso noturno. O repouso noturno é um
costume que deve ser provado).
c) Regulamentos e portarias, salvo se funcionarem como complemento de norma penal
em branco.
Ex: Portaria 344 da Anvisa (diz quais são as drogas). É complemento de uma norma
penal em branco, e por isso essa portaria não precisa ser provada porque se presume
que o juiz a conheça.
d) Direito estrangeiro, estadual e municipal (salvo da localidade onde o juiz exerce a
jurisdição).
e) Fatos não contestados ou incontroversos
Confissão não tem valor absoluto e por isso deve ser analisada com os demais meios de
prova.
Existe revelia no processo penal, e ocorre quando o acusado citado pessoalmente ou
por hora certa deixa de comparecer aos atos do processo.
Ela não acarreta a presunção da veracidade dos fatos narrados na peça acusatória. O
único efeito é a desnecessidade de intimação do acusado para as demais práticas dos
demais atos processuais, salvo no caso da sentença condenatória, isso porque o próprio
réu tem capacidade para recorrer mesmo não sendo advogado.

Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado


pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no
caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo. (Redação dada
pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996)

Não precisa ser provado:


a) Fatos notórios: aqueles de conhecimento público geral. Ex: transito caótico em São
Paulo.

b) Fatos axiomáticos ou intuitivos: são os fatos evidentes. Ex: não precisa provar que o
cadáver está morto; que a cocaína causa dependência.

c) Fatos inúteis ou irrelevantes: são os fatos que não interessam a solução do processo
(art. 400, § 1º).

§ 1o  As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes,
impertinentes ou protelatórias.

O juiz pode indeferir a oitiva de testemunha? O juiz não pode se valer de fatos,
suposições, poderes adivinhatórios para indeferir. Todavia, se souber que a testemunha
for irrelevante para o caso, que for falar sobre algio já provado no processo, poderá
indeferir.

d) Afirmação feita pela própria lei de que um fato é verdadeiro, independentemente de


prova.
 Presunção absoluta (iuris et de iuri): presunção que não admite prova em sentido
contrário. Ex: menor de 18 é inimputável.
 Presunção relativa (iuris tantum): admite prova em sentido contrário. Ex: antiga
presunção de violência nos crimes sexuais (vítima menor de 14 anos). Hoje o que
existe é um crime autônomo que é o estupro de vulnerável.

2.4. Prova emprestada

Conceito: consiste na utilização em um processo de prova que foi produzida em outro,


sendo que esse transporte da prova de um processo para o outro ocorre pela forma
documentada.
Ex: processo X = depoimento da testemunha W
processo Y = prova emprestada = extrair uma certidão do processo originário.

Valor probatório: embora seja trazida ao segundo processo pela forma documentada, a
prova emprestada conserva o mesmo valor da prova originalmente produzida.

Requisitos: Segundo a doutrina majoritária a utilização da prova emprestada só é possível


contra aquele que participou do primeiro processo, observando-se assim o contraditório e a ampla
defesa. Para uma corrente minoritária, também é obrigatória a observância do princípio da
identidade física do juiz.

Exemplos: interceptação telefônica e utilização dos elementos probatórios aí obtidos em


processo administrativo.
A interceptação telefônica só pode ser utilizada em investigação criminal ou processo penal.
Se a interceptação telefônica já foi decretada em uma instrução criminal, pode, posteriormente,
ser utilizada em um processo administrativo. (ex: envolvimento dos dois delegado da PF no caso
Cachoeira) – PET 3683.

2.5. Prova típica/ atípica. Prova nominada / inominada. Prova anômala. Prova irritual

Prova típica: é aquela que tem seu procedimento probatório previsto em lei.

Prova atípica: não há procedimento previsto em lei.


Prova nominada: É aquela que está prevista na lei, com ou sme procedimento probatório
definido.
Ex: A reconstituição está prevista no art. 7 e por isso nominada, porém atípica, porque não
tem procedimento probatório previsto em lei.
Ex: Art. 226: reconhecimento de pessoas ou coisas = prova nominada porque previsto em lei
e típica, pois seu procedimento também está previsto.

Prova inominada: não está prevista na lei.


Pode utilizar meios de provas que não previstos na lei? Em virtude do princípio da busca da
verdade e da consequente liberdade dos meios de prova, é possível a utilização de provas
inominadas no processo penal desde que sejam lícitas e moralmente legítimas.
Ex: reconhecimento pessoal por e-mail.

Prova anômala: é aquela utilizada para fins diversos daqueles que lhe são próprios, com
características de outra prova típica. Em outras palavras, existe meio de prova previsto na lei para
a colheita da prova. Porém, esse meio de prova típico é deixado de lado, valendo-se o juiz de outro
meio de prova.
Ex: oficial de justiça liga para testemunha, que mora em comarca diversa para que esta narre
os fatos por telefone.
Essa prova anômala é ILEGÍTIMA, razão pela qual deve ser declarada sua NULIDADE.
Ex: testemunha no procesos deve falar novamnete , não bsta simplemsmente confirmar o
que disse no IP.

Prova irritual: é aquela colhida em desacordo com o modelo previsto em lei. Portanto, está
sujeita à nulidade.
Ex: art. 212: exame direto e cruzado (perguntas formuladas diretamente pelas partes às
testemunhas)
1º a perguntar: MP, depois o assistente, diretamente.
2º a perguntar: Defesa. É o chamado exame cruzado (cross-examination), que também faz
diretamente as perguntas às testemunhas.
O ultimo a perguntar é o juiz.
Se esta ordem não for observada, se denomina prova irritual.
Os tribunais superiores vêm entendendo que a inobservância do art. 212 é causa de
nulidade relativa

3. ÔNUS DA PROVA
 
Conceito: é o encargo que recai sobre as partes de provar a veracidade das afirmações por
elas formuladas ao longo do processo, resultando de sua inatividade uma situação de
desvantagem perante o Direito.
 
Espécies:
 
a) Ônus da Prova Perfeito: o prejuízo resultante do descumprimento do ônus é inevitável
 
b) Ônus da Prova Menos Perfeito: o prejuízo resultante do descumprimento do ônus
ocorrerá segundo avaliação judicial.
 
c) Ônus da Prova Imperfeito: quando não resulta qualquer prejuízo. Porém, essa designação
é incorreta, pois não se pode falar em ônus em que o seu descumprimento não acarrete nenhum
prejuízo.
 
d) Ônus da Prova Objetivo: regra de julgamento a ser aplicada pelo juiz caso subsista dúvida
ao final do processo. Regra de julgamento caso haja dúvida ao final do processo - In dubio pro reo.
 
e) Ônus da Prova Subjetivo: é o encargo que recai sobre as partes de provar a veracidade
das afirmações por elas formuladas ao longo do processo.

Distribuição do ônus da prova

Acusação Defesa
1. Provar a existência de um fato típico 1. A existência de uma causa excludente da
ilicitude
2. Autoria e participação 2. Causa excludente da culpabilidade
3. Nexo causal 3. Causa extintiva da punibilidade
4. Existência do dolo e culpa: são aferidos a partir 4. Eventual álibe: local diverso de onde o crime foi
das circunstâncias objetivas do caso concreto. praticado.
A acusação é obrigada a introduzir no juiz um juízo Art. 386, VI: “o juiz absolvirá o réu quando houver
de certeza. fundada dúvida”.
A defesa basta produzir uma fundada dúvida.

Corrente minoritária: por conta do princípio da presunção de inocência, o ônus da prova é


exclusivo da acusação no processo penal. (defensoria pública)

4. SISTEMA DA AVALIAÇÃO DAS PROVAS


4.1. Sistema da íntima convicção do magistrado

O juiz é livre para valorar qualquer prova, não estando obrigado a fundamentar seu
convencimento, daí porque pode se valer inclusive de provas que não estão nos autos do
processo.
Não é adotado pelo CPP, pelo menos em regra.
Exceções: o sistema da íntima convicção é adotado pelo Tribunal do Júri, apenas quanto aos
jurados, pois não fundamentar seu voto. Já o juiz deve sempre fundamentar suas decisões.

4.2. Sistema da prova tarifada (sistema da certeza moral do legislador)

Certos meios de prova tem seu valos probatório fixados em abstrato pelo legislador,
cabendo ao juiz fazer tão somente a somatória das provas e atribuição do valor legal.
Nesse sistema, a confissão era considerada a rainha das provas.
Não é adotado pelo CPP pelo menos em regra.
Exceção: em situações excepcionais há resquícios de prova tarifada no processo penal:
a) Prova quanto ao estado das pessoas: o juiz está submetido às restrições fixadas pela
lei civil. Ex: provar que alguém morreu com a certidão de óbito (art. 62, CPP)
Súmula 74, STJ: menor de 21 anos tem certos benefícios no direito penal (atenuante
e prescrição), mas para isso deve ser juntado documento hábil (certidão de
nascimento ou carteira de identidade).
b) Crime material que deixa vestígios: art. 158: quando o crime deixa vestígios o CPP
exige o exame de corpo de delito.
Quando houver o desaparecimento dos vestígios, a prova testemunhal ou
documental poderá suprir a ausência do exame direto (exame indireto).

4.3. Sistema da persuasão racional do juiz ou sistema do livre convencimento motivado

O juiz tem ampla liberdade na valoração das provas constantes dos autos do processo, que
tem em abstrato o mesmo valor, estando o magistrado obrigado a fundamentar o seu
convencimento.
É o sistema adotado pelo CPP e pela CF, sob pena de nulidade.

5. PROVA ILEGAL

O direito à prova não tem natureza absoluta.


Art. 5º, LVI: são inadmissíveis no processo, as provas obtidas por meio ilícitos.
A vedação á prova ilegal existe por dois motivos:
a) Visa preservar direitos e garantias individuais
b) Funciona como fator de dissuasão à adoção de práticas probatórias ilegais.
Prova ilegal é gênero do qual são espécies as provas ilícitas ou obtidas por meio ilícitos, e as
provas ilegítimas.

5.1. Provas ilícitas e provas ilegítimas

Provas obtidas por meios ilícitos Provas obtidas por meios ilegítimos
É aquela obtida com violação de regra de direito É aquela obtida com violação á regra de direito
material processual.

Ex: confissão mediante tortura. (“interrogatório Ex: ex: art. 479. Durante o julgamento não será
duro”: aquele que dura várias horas ou dias). permitida a leitura de documento ou a exibição de
Ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo, objeto que não tiver sido juntado aos autos com a
ingresso em domicílio, sem autorização judicial, antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-
etc. se ciência à outra parte. 
Em regra, é produzida em momento anterior ou Em regra, é produzida durante o curso do
concomitante ao processo, mas externamente a processo. Trata-se de um vício endoprocessual.
este. (é produzida fora do processo)

Consequência: se juntada aos autos do processo, Consequência: quando se tratar de uma regra
deve ser objeto de desentranhamento. (direito de processual, pode ser declarada a nulidade
exclusão) absoluta ou relativa.

157, §3º: deve ter uma decisão que declare Atenção para a nova redação do art. 157, “caput”,
ilicitude da prova. CPP: São inadmissíveis, devendo ser
É uma decisão interlocutória, que deve ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
proferida o quanto antes possível. assim entendidas as obtidas em violação a normas
O recurso adequado é o RSE com base no art. 581, constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei
XIII. nº 11.690, de 2008)
Legais: material ou processual?
Se for reconhecida na sentença condenatória ou 1ª C: diante da nova redação do art. 157, caput, a
absolutória, o recurso será sempre Apelação, prova será considerada ilícita quando produzida
mesmo que queira recorrer apenas quanto à mediante violação de regra de direito material ou
prova ilícita (princípio da absorção da apelação) processual. (LFG)
2ª C: O art. 157, caput, deve ser objeto de
Quando ocorrer a preclusão dessa decisão (não interpretação restritiva, no sentido de que prova
couber mais recurso contra essa decisão) a prova ilícita é aquela colhida com violação à normas
ilícita deverá ser inutilizada (Lei 11.690/08), salvo legais de direito material.
nas seguintes hipóteses:
 Quando a prova ilícita constituir a prova
referente a outro crime.
Ex: interceptação sem autorização, não se
destrói o DVD pois é a prova de que as
autoridades praticaram o crime de abuso de
autoridade (grampo ilícito).
 Quando a prova ilícita pertencer licitamente à
terceiro.
Ex: carta obtida de maneira ilícita. A carta
deve ser entrega a pessoa que lhe pertença.
Descontaminação do julgado: o juiz que tiver
contato com a prova ilícita não poderá proferir
sentença.
Seria o §4º, mas foi vetado pelo presidente, para
não ensejar atos de má-fé pelo advogado, para
afastar o juiz do processo que provavelmente
condenaria o réu.

5.2. Provas ilícitas por derivação

Conceito: são os meios probatórios que, não obstante produzidos validamente em momento
posterior, encontram-se afetados pelo vício da ilicitude originária, que a ele se transmite por meio
de nexo causa.

Surgiu no direito norte americano no caso Silverthorne Lumber Co x EUA (1920)


Posteriormente no caso Nardone X USA (1939) – Teoria dos frutos da árvore envenenada.

No Brasil, o STF utiliza há anos, sendo que o primeiro julgado se deu em 1999 (HC 73351).
Na lei, essa teoria foi introduzida pela lei 11.690/08: art. 157, §1º, CPP.

31/05/2012

PRISÃO CAUTELAR (LEI 12.403/11)


 
1. Tutela Cautelar no Processo Penal
 
É uma medida de natureza urgente que visa assegurar a eficácia do processo.
No processo penal, não há um processo cautelar autônomo. As medidas cautelares são
concedidas incidentalmente no curso das investigações ou no curso do processo penal.
 
1.1. Classificação das Medidas Cautelares no Processo Penal
 
a)   Medida cautelar de natureza Civil (de natureza patrimonial)/de natureza real: são
aquelas relacionadas à reparação do dano e ao perdimento de bens como efeito da condenação.
Ex.: obrigação de indenizar o dano causado; confisco pela União dos bens; sequestro; arresto;
inscrição de hipoteca legal.
 
b) Medida cautelar de natureza probatória: Visam resguardar a prova. Podemos citar o
depoimento antecipado das testemunhas.
Exemplos:
- Art. 225, CPP

 Art. 225.  Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por


velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá,
de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o
depoimento.

- Art. 366, CPP

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar
a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312.  (Redação dada pela Lei nº 9.271, de
17.4.1996)

- Art. 19-A Lei de proteção às testemunhas: No parágrafo único, se houver colaborador,


testemunha em regime de proteção (ameaçada), devem ser ouvidos antecipadamente.

c) Medidas cautelares de natureza pessoal: São aquelas que acarretam a privação ou a


restrição da liberdade de locomoção do acusado. Terá sua liberdade de locomoção cerceada.
Exemplos: prisão preventiva, prisão temporária.

Antes da Lei 12.403/11, as medidas cautelares de natureza pessoal previstas expressamente


no CPP eram apenas duas: a prisão cautelar e a liberdade provisória (fica submetido a certas
obrigações). Isso era chamado pela doutrina de bipolaridade das medidas cautelares de natureza
pessoal.
Não havia medidas intermediárias, só extremas, da prisão à liberdade.
Com a lei 12.403/11, depois de sua entrada em vigor em 04/07/11, foram introduzidas no
CPP medidas cautelares de natureza pessoal diversas da prisão, pondo fim à bipolaridade das
medidas cautelares.

Art. 319.  São medidas cautelares diversas da prisão: 


I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades; 

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias


relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações; 

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; 

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou


necessária para a investigação ou instrução

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado


ou acusado tenha residência e trabalho fixos; 

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou


financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; 

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou
grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26
do Código Penal) e houver risco de reiteração; 

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à
ordem judicial; 

IX - monitoração eletrônica. 

1.2. Poder Geral de cautela no Processo Penal

Consiste em um poder atribuído ao juiz de adotar medidas cautelares atípicas ou inominadas


sempre que uma medida cautelar típica não se mostrar adequada para assegurar a eficácia do
processo no caso concreto. Está previsto no art. 798, CPC.

Art. 798.  Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no


Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar
adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da
lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.

A doutrina mais conservadora vai dizer que esse poder geral de cautela não pode ser usado
no processo penal, sob pena de violação ao princípio da legalidade (só posso usar as medidas
cautelares previstas em lei – adotar na DPE).
Tanto o STJ quanto o STF admitem a aplicação subsidiária do art. 798 do CPC no processo
penal (art. 3º, CPP), com fundamento no princípio da proporcionalidade (HC 94.147).

2. Pressupostos das Medidas Cautelares

Prisão preventiva Medidas cautelares diversas da prisão


Fumus comissi delicti: só poderá prender alguém Fumus comissi delicti
se tiver a fumaça da prática do delito. Há
necessidade de demonstrar a prova da existência
do crime e a presença de indícios suficientes de
autoria e participação.
Periculum Libertatis: é o perigo que a Periculum libertatis: art. 282, inciso I, CPP.
permanência do acusado em liberdade representa - necessidade para aplicação da lei penal (garantia
para as investigações, para a efetividade do direito de aplicação da lei penal
penal e para a própria segurança da coletividade. - investigação ou instrução criminal (conveniência
Poderá ser decretada com base: (art. 312) da instrução criminal)
- Garantia da ordem pública - evitar a prática de infrações penais (garantia da
- Garantia da ordem econômica ordem pública ou da ordem econômica)
- Garantia de aplicação da lei penal
- Conveniência da instrução criminal
Medida de ultima ratio: só deve ser decretada Medida de prima ratio: sempre buscar primeiro a
quando demonstrada a inadequação ou adoção de medidas cautelares diversas da prisão,
insuficiência das cautelares diversas da prisão. desde que sejam suficientes.
Quanto à infração penal: nova redação do art. Quanto à infração penal: 383, §1º
313, CPP: - Deve haver cominação de pena privativa de
- crimes dolosos, com pena máxima superior a 4 liberdade. (Ex: furto simples).
anos. (Ex: furto simples não admite, mas furto
qualificado sim)

3. Procedimento para aplicação das medidas cautelares (Lei 12.403/11)

3.1. Aplicação isolada ou cumulativa das medidas cautelares diversas da prisão

As medidas, a depender da necessidade do caso concreto, serão decretas isolada ou


cumulativamente.
Ex: recolhimento domiciliar no período noturno, como não há como fiscalizar, o juiz poderá
cumular outra medida, como o monitoramento eletrônico.
Art. 282, §1º.
Se presentes seus pressupostos, poderão ser aplicadas tanto àqueles que estavam em
liberdade quanto àqueles que estavam presos.
Medida intermediária: suspensão das funções públicas (319, VI), pode aplicar tanto a pessoa
que está presa quanto ao que está solto.

3.2. Competência para sua decretação


Deverão ser decretadas pela autoridade judiciária competente. Estão submetidas à cláusula
de reserva de jurisdição. (CPI pode requerer, mas não pode decretar).

Fiança: pode ser concedida tanto pelo juiz como pela autoridade policial. Antes da lei, o
delegado só poderia conceder se a infração fosse punida com detenção e prisão simples. Hoje se a
pena for até quatro anos, o delegado poderá arbitrar fiança.

Pode o juiz decretar medidas cautelares de ofício?


Na fase investigatória ao juiz não é permitido decretar medidas cautelares de ofício. Só
poderá decretar se provocado. Violaria a parcialidade e o sistema acusatório.
Na fase processual, o juiz passa a ter o dever de zelar pela prestação jurisdicional e por isso
pode decretar medidas cautelares de ofício.

Art. 311.  Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação (processo) penal, ou a
requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação
da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

3.3. Legitimidade para o requerimento de decretação de medidas cautelares

Fase investigatória Fase processual


Representação da autoridade policial MP e querelante

Requerimento do MP Assistente: é a vítima ou seus sucessores que se


habilita no processo em crimes de ação penal
pública.

Antes da Lei 12.403/11 o assistente não tinha


legitimidade para requerer a prisão cautelar.
Súmula 208, STF: o assistente do MP não pode
recorrer, extraordinariamente, de decisão
concessiva de habeas corpus.
Com a Lei 12.403/11 o assistente passa a ter
legitimidade para requerer a decretação de
medidas cautelares.

Hoje a súmula 208 está ultrapassada.


Requerimento do ofendido em crimes de ação
penal privada.

Acusado e seu defensor Acusado e seu defensor


Há necessidade da oitiva/concordância do MP quando o delegado representa pela
decretação de medidas cautelares?
Prova de delgado: Não há necessidade de prévia oitiva e concordância do órgão ministerial.
( Professor Pacelli).
Prova MP: É indispensável a oitiva e a concordância do MP, seja pelo fato de ser ele o titular
da ação penal pública, seja pelo fato de o delegado não ser dotado de capacidade postulatória.

3.4. Contraditório prévio a decretação das cautelares

A nova lei passou a prever como regra, o contraditório prévio. Diante do pedido de medida
cautelar, antes de decretar, o juiz terá que dar ciência ao acusado para que ele se pronuncie.
Todavia, quando houver risco da ineficácia da medida, o juiz pode deixar de ouvir
previamente o acusado. O contraditório será diferido, postergado. O juiz deverá fundamentar sua
decisão caso não dê o contraditório prévio.

Art. 282. § 3o  Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o


juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária,
acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos
em juízo. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

3.5. Descumprimento injustificado das cautelares diversas da prisão

O juiz pode substituir a medida;


Imposição cumulativa de outra medida;
Em último caso poderá ser decretada a prisão preventiva.

Não é necessário o juiz seguir essa sequência.

Há necessidade de observância do art. 313, CPP, quando o investigado descumpre as


medidas?
Crime de ameaça não autoriza a prisão preventiva, porque a pena máxima é inferior a 4
anos. O juiz ordena uma medida cautelar diversa da prisão. Se o acusado não cumpre a medida, há
quem entenda que o juiz não pode decretar a preventiva, pois caso seja condenado por esse
crime, não será preso, pois a ameaça: a) depende de representação; b) tem pena inferior a 2 anos;
c) admite transação penal; d) admite suspensão condicional do processo; e) admite PRD; f) se for
condenado cabe suspensão da pena; e g) se não couber a suspensão o regime será aberto.
Assim, estaria se decretando uma medida cautelar mais gravosa do que a própria pena
definitiva. ADOTAR CONCURSO DEFENSORIA.
A maioria da doutrina vem dizendo que não há necessidade de observância do art. 213,
porque somente com a ameaça da prisão preventiva se assegura a coercibilidade às medidas
cautelares diversas da prisão.

Art. 313.  Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão
preventiva: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4
(quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado,
ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,


adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

3.6. Revogabilidade e/ou substitutividade das medidas cautelares

Toda decisão que decreta uma medida cautelar é baseada na clausula rebus sic stantibus.
Segundo essa cláusula, mantidos seus pressupostos fáticos e jurídicos, a decisão deve ser mantida;
alterado seus pressupostos, a decisão pode ser alterada.

Obs: Resolução conjunta nº 1 do CNJ e CNMP estabelece a obrigatoriedade de reavaliação


da necessidade de manutenção das prisões cautelares (periodicidade mínima anual). Pelo menos
uma vez por ano o juiz deve avaliar a necessidade da prisão. Interpretar que não vale apenas para
as prisões, como também as demais medidas cautelares.

3.7. Recursos cabíveis

a) Em favor do promotor: Pedido feito pelo promotor e negado pelo juiz, cabe recurso em
sentido estrito, com base no art. 581, V, CPP.

 V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir


requerimento de prisão preventiva (ou qualquer outra medida cautelar diversa da prisão)
ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante; (Redação
dada pela Lei nº 7.780, de 22.6.1989)

Interpretar esse inciso de maneira extensiva “prisão ou qualquer outra medida cautelar
diversa da prisão.”
Esse recurso não tem efeito suspensivo. Ainda que interposto o RESE o acusado será solto.
Assim, para impedir que ele saia da prisão e obstar os efeitos da decisão do juiz, é possível
conjugar o RESE com o mandado de segurança, para atribuir efeito suspensivo ao recurso em
sentido estrito.
Nesse sentido, a Lei 12.016/09 (lei do mandado de segurança), art. 5º, II, diz que não se
concederá mandado de segurança quando se tratar de decisão da qual caiba recurso com efeito
suspensivo. Assim, interpretando a contratrio senso, será concedido mandado de segurança
quando se tratar decisão judicial da qual não caiba recurso com efeito suspensivo (como o RESE).

b) Em favor da defesa: quando se tratar de prisão preventiva caberá habeas corpus. Mas
quando for uma medida cautelar diversa da prisão será possível HC? Sim, pois mesmo não sendo
preso, há algum tipo de restrição à liberdade de locomoção (proibição de frequentar
determinados lugares, comparecimento em juízo, etc), Ademais, caso seja descumprida qualquer
medida imposta, a medida poderá ser convertida em prisão e, portanto, cabível habeas corpus.

3.8. Detração

Está previsto no CP no art. 42. Nada mais é do que o desconto do tempo de prisão
provisória.

- Detração nas medidas cautelares diversas da prisão: Como funciona a detração quanto às
medidas cautelares diversas da prisão? Diante do silencio da lei, havendo semelhança ou
homogeneidade entre a medida cautelar diversa da prisão imposta durante o curso da persecução
penal e a pena definitiva aplicada ao agente, será possível a detração com a pena imposta.

Mas quando não tiver semelhança, como no monitoramento eletrônico, o que se faz? Para
o concurso do MP dizer que não cabe detração. A doutrina sugere que seja adotado o critério
utilizado para a remição, ou seja, para cada 3 dias de trabalho, um dia a menos de pena. Mas há
medidas cautelares mais severas do que outras, usando o critério da razoabilidade, o juiz deve
definir no caso concreto.
Assim, quando não houver semelhança, parte da doutrina vem sugerindo a possibilidade de
a detração ser feita mediante critério semelhante ao da remição (LEP, art. 126), que deve variar de
acordo com o grau de danosidade da medida cautelar diversa da prisão. Quanto mais gravosa a
medida, maior deve ser o benefício, e quando menos gravosa, menor o benefício.

4. Prisão

4.1. Conceito

A prisão é a privação da liberdade de locomoção com o recolhimento da pessoa ao cárcere,


seja em virtude de flagrante delito, ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, seja nos casos de transgressão disciplinar ou crime propriamente militar definidos
em lei.

Art. 5º, LXI: A regra é liberdade.

4.2. Espécies de prisão

a) Prisão extrapenal: prisão civil e prisão do militar


b) Prisão penal
c) Prisão cautelar (ou prisão processual provisória)

5. Prisão Extrapenal

5.1. Prisão civil do devedor e de alimentos e do depositário infiel

A CF trata da prisão civil no art. 5º, LXVII. A constituição apenas autoriza, é uma norma de
eficácia contida, que apenas autoriza a prisão, não possuindo aplicabilidade imediata. Necessita de
uma lei.
A Convenção Americana de Direitos humanos no art. 7º, §7º prevê apenas a prisão civil do
devedor de alimentos. Não derrogou a CF, mas afastou a aplicabilidade da legislação
infraconstitucional, pois o dispositivo constitucional depende de lei infraconstitucional para surtir
efeitos, e essa lei foi afastada pela CADH.

**STF: RE 466343 – firmou entendimento de que os tratados internacionais sobre direitos


humanos, no qual o Brasil é signatário tem caráter normativo supralegal.

Súmula vinculante 25 e súmula 419, STJ

5.2. Prisão do Falido

Decreto Lei 7661/45, art. 35, § único. A maioria da doutrina dizia que o art. 35 não fora
recepcionado pela CF, pois ela só autoriza a prisão civil do devedor de alimentos e depositário
infiel.
Súmula 280, STJ.
Hoje o decreto foi revogado pela nova Lei de Falências nº 11.101/05. No art. 99, VII traz a
prisão do falido. No decreto tratava de prisão civil, na nova lei trata de prisão preventiva, ou seja
de natureza cautelar.

Art. 99. “A sentença que decretar falência do devedor.


VII: ... prisão preventiva.”
Quem decreta a prisão preventiva? O mesmo juiz que decreta a falência. Esse juízo criminal
ou falimentar? Não pode ser decretado pelo juízo falimentar, pois seria uma prisão civil.
Assim, o ideal é dizer que essa prisão pode ser decretada, mas desde que seja decretada
pelo juízo criminal competente para o julgamento dos crimes falimentares. Nesse sentido Paulo
Rangel.

5.3. Prisão administrativa

É a prisão decretada por uma autoridade administrativa com o objetivo de obrigar alguém
a cumprir um dever de direito público.
Essa prisão não foi recepcionada pela CF/88.
A lei 12.403/11 revogou os dispositivos do CPP que tratavam da prisão administrativa. (art.
319, CPP).

CUIDADO:
Estado de defesa e estado de sítio: autoridades não judiciárias podem decretar prisões. É
uma espécie de prisão administrativa autorizada pela CF.

Prisão do Estrangeiro: pode ser:


- para fins de extradição = STF
- para fins de expulsão = STF
- para fins de deportação = JUIZ FEDERAL
Tomar cuidado com a leitura da lei 6.815/80 = Estatuto do Estrangeiro, art. 81 = quem
ordenaria a prisão, pela lei, seria o Ministro da Justiça. Mas à luz da CF/88 quem deve decretar a
prisão é a autoridade judiciária, salvo flagrante delito e militar.

5.4. Prisão do Militar

Pode ocorrer no caso de transgressão disciplinar ou crimes propriamente militares (aqueles


que só podem ser praticados por militar como deserção, embriaguez no exercício, etc).
Visa a preservação da hierarquia e da disciplina.

- Cabimento de habeas corpus quanto às punições disciplinares:


Art. 142, §2º, CF = não caberá habeas corpus em relação às punições disciplinares militares.
Deve ser interpretado que não cabe em relação ao mérito das punições disciplinares
militares, mas aspectos relacionados à legalidade da punição poderão ser questionados por meio
do remédio heróico (competência, prazo, etc).

No caso de transgressão disciplinar o prazo máximo é de 30 dias.


6. Prisão Penal

É aquela que resulta de sentença condenatória com trânsito em julgado que impôs o
cumprimento de pena privativa de liberdade. Vem sempre ao final do processo.
Cerca de 60% no Brasil cumprem prisão penal e 40% prisão cautelar.

7. Prisão Cautelar

É aquela decretada antes do transito em julgado de sentença condenatória com o objetivo


de assegurar a eficácia da persecução penal, quando se revelarem insuficientes as medidas
cautelares diversas da prisão (ultima ratio).
A regra é a prisão penal. Mas a prisão cautelar é plenamente cabível com a regra de
tratamento que deriva do princípio da presunção de inocência, desde que seja considerada
medida de natureza excepcional a ser decretada quando comprovada sua absoluta necessidade.
O STF em alguns julgados se refere a prisão com o termo carcere ad custodiam. E a prisão
penal de carcere ad poenam.

7.1. Espécies de prisão cautelar

- Prisão em flagrante ** próxima aula


- Prisão preventiva
- Prisão temporária (Lei 7.960/89)
- Prisão decorrente de pronúncia
- Prisão decorrente de sentença condenatória recorrível

Essas duas últimas prisões foram extintas pelas leis 11.689/08, 11.719/08 e 12.403/11.
Art. 387, § único:

Parágrafo único.  O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o


caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do
conhecimento da apelação que vier a ser interposta. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Se o acusado estava preso preventivamente por ocasião da pronúncia ou da sentença


condenatória, deve ser mantido preso através de decisão devidamente fundamentada, salvo se
desaparecer a hipótese que autorizava sua prisão. Se não tiver motivos, a prisão poderá ser
revogada.
Se o acusado estava solto por ocasião da pronúncia ou da sentença condenatória recorrível,
isso significa dizer que o juiz não vislumbrou a necessidade de sua prisão preventiva. Logo, o
acusado deve ser mantido em liberdade, salvo se surgir algum motivo que autorize a decretação
de sua prisão.
Portanto, não existe mais uma prisão automática que derive da pronúncia, mas sim uma
prisão preventiva, devidamente fundamentada.
Assim, hoje são apenas três espécies de prisões cautelares.
Nesse sentido, a nova redação do art. 283, CPP.

Art. 283.  Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença
condenatória transitada em julgado (prisão penal) ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

8. Momento da prisão

Em regra a pessoa pode ser presa em qualquer lugar e a qualquer hora, respeitada as
hipóteses de inviolabilidade do domicílio.

8.1. Inviolabilidade do domicílio

A CF protege o domicílio no art. 5º, XI. “A casa é asilo inviolável do individuo...”


Art. 50, §4º:
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.

Observações:
- Padaria, do balcão para dentro é casa.
- Consultório médico, a sala de espera não é casa, mas o consultório sim.
- Auditor da Receita (autoridades fazendárias) pode adentrar no escritório para verificar os
livros contábeis? Não, deverá ter sempre autorização judicial.
- Escritório de advocacia é casa. Lei 8.906, art. 7º, §6º = é necessária ordem judiciária e a
presença de representante da OAB, vedada a utilização de documentos, mídias e objetos
pertencentes aos clientes e instrumentos de trabalho que contenham informações dos clientes.
Todavia, se os clientes estejam investigados pelo mesmo crime que deu origem ao mandado
de busca e apreensão os materiais poderão ser apreendidos.
Se a OAB não indicar representantes, não haverá prejuízo para o mandado, pois ocorrerá
igualmente a busca.

9. Eleições
Art. 236, CE. Eleitor não poderá ser preso 5 dias antes das eleições e 48 horas depois do
encerramento da eleição, salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal
condenatória por crime inafiançável.
Os candidatos desde que 15 dias antes da eleição.

29/06/2012
PRISÃO EM FLAGRANTE

1. Conceito

É uma medida de autodefesa da sociedade, caracterizada pela privação da liberdade de


locomoção daquele que é surpreendido em situação de flagrância, a ser executada
independentemente de prévia autorização judicial.
Art. 5º, LXI, CF

CUIDADO: Não confundir prisão em flagrante e flagrante delito. Flagrante é algo que está
ardendo, flagrante delito é o crime que está ardendo, pegando fogo, sendo assim possível prender
o agente.

2. Funções da prisão em flagrante

a) Evitar a fuga do infrator


b) Auxiliar na colheita de elementos informativos e na identificação de fontes de prova

Art. 27, CPPM: o auto de flagrante delito constituirá o inquérito. Se o auto de prisão em
flagrante já conter todos os elementos, não será necessário fazer inquérito policial.
No dia-a-dia policial, é comum utilizar o auto de prisão em flagrante no lugar do inquérito.
Nesse sentido, o delegado lavra o auto e encaminha ao juiz, dizendo que se for necessário que o
MP faça a requisição de instauração de inquérito. Se não for necessário, o MP já faz a denúncia.

c) A depender do momento da prisão em flagrante, esta pode impedir a consumação ou o


exaurimento do delito.
d) Preservar a integridade física do preso. Está ligado às hipóteses de linchamento, e por isso
é importante a prisão para impedir que o criminoso seja linchado, agredido.

3. Fases da prisão em flagrante

a) Captura
 Emprego da força. Ela somente deve ser utilizada se estritamente necessária. Pensar
nos mesmos moldes da legítima defesa. (art. 284, CPP).
 Uso de algemas. Trata-se de medida de natureza excepcional, a ser adotado nas
seguintes hipóteses:
a) com a finalidade de impedir, prevenir ou dificultar a fuga do preso;
b) com a finalidade de evitar agressão do preso contra os próprios policiais, contra
terceiros ou contra si mesmo.
- Súmula Vinculante nº 11: A súmula obriga a lavrar um auto de utilização do uso de
algemas. Ela pode ser feita no bojo do APF.

Súmula Vinculante nº 11: só lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado


receio de fuga ou de perigo de integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou
de terceiros, justifica a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato
processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Obs: Divulgação da imagem na imprensa após o individuo ser preso, apenas com a sua
autorização, a depender do caso (estupro, as vezes é importante, porque a vítima muitas vezes
não tem coragem de vir a público), apenas por interesse público. Mas apresentar como troféu,
não há interesse algum.

b) Condução coercitiva do preso


CUIDADO: Há certos dispositivos legais que dizem que não se imporá prisão em flagrante,
como Juizados especiais criminais (art. 69, =§único) e porte de drogas de uso pessoal (art. 48, §2º).
“Não se imporá” entende-se que não será lavrado APF, mas sim termo circunstanciado. Não
pensar que nada poderá ser feito. Após o termo, assumindo o compromisso, a pessoa será
liberada.

c) Lavratura do auto de prisão em flagrante


Significa dizer que a pessoa será recolhida a prisão? Não esquecer da possibilidade de
concessão de fiança pela autoridade policial. Há situações em que a pessoa não ficará recolhida na
prisão, quando couber a fiança.
O delegado de policia poderá lavrar APF de delitos com pena máxima não superior a 4 anos.
O delegado pode diminuir o valor da fiança em até 2/3 como também aumentar até 1000
vezes. O delegado só não poderá dispensar, pois compete apenas ao juiz (art. 325, CPP).

d) Recolhimento à prisão

e) Comunicação
Ao juiz, ao MP e à Defensoria pública, neste caso, se o autuado não informar o nome de seu
advogado.
Novidade do novo art. 306 é a comunicação ao MP. A comunicação ao MP já existia antes,
mas contava na Lei Orgânica Nacional do MP, sendo ignorada antes da Lei na prática.
Se não foi feita a comunicação a prisão em flagrante deve ser relaxada, mas nessa mesma
decisão, poderá der decretada a prisão preventiva.
Sendo comunicado o juiz, acontece a convalidação judicial da prisão em flagrante. O juiz
recebe a cópia do APF e faz a convalidação judicial.

4. Convalidação judicial da prisão em flagrante

São as providencias que o juiz deve tomar ao receber o auto de prisão em flagrante.
Antes da Lei 12.403/11, entendiam os Tribunais que, ao ser comunicado acerca da prisão em
flagrante, o juiz era obrigado a analisar tão somente sua legalidade para fins de possível
relaxamento.
Com o advento do art. 12.403/11, o art. 310 passou a tratar sobre a convalidação judicial.

O juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá fundamentadamente:


a) Relaxamento da prisão ilegal
- analisar se houve a situação de flagrância;
- verificar o cumprimento das formalidades constitucionais e legais (comunicação, remessa,
entrega da nota de culpa, direito ao silêncio, etc).

Obs: o relaxamento da prisão em flagrante não impede a decretação da prisão preventiva ou


de outras medidas cautelares diversas da prisão, desde que presentes seus pressupostos legais.

b) Concessão de liberdade provisória


- medida de contracautela substitutiva de anterior prisão em flagrante.
- é uma medida de natureza cautelar, pois também ficará vinculado ao cumprimento de
certas obrigações.
- pode ser concedida com ou sem fiança
- Sem fiança:
 Miserável (art. 350)
 Excludentes da ilicitude

A liberdade provisória pode ser cumulada, se for o caso, com as medidas cautelares diversas
da prisão.

Art. 321.  Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz
deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares
previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

c) Conversão da prisão em flagrante em preventiva


Não pode ser automática, deve ser sempre fundamentada. A ideia é como se fosse prender
como se estivesse solto.
- Art. 310, II
- A conversão também poderá ser feito para prisão temporária. Abrange qualquer tipo de
prisão. Nesse caso, ver se estão presentes os requisitos da lei 7960/89. É voltada para a fase
investigatória e cabível apenas para certos delitos, como tráfico de drogas, crimes hediondos, etc.
- A conversão do flagrante em preventiva depende da presença dos pressupostos previstos
no art. 312, CPP (fumus comissi delicti e periculum libertatis).
- O art. 313 prevê os crimes que são submetidos a prisão preventiva. Embora o art. 310 não
menciona o art. 313, a prisão preventiva também depende dos pressupostos referidos neste
artigo.

Obs: Através de uma interpretação sistemática, esta conversão depende de representação


da autoridade policial ou de requerimento do MP ou querelante. O juiz não pode decretar
nenhuma medida cautelar de ofício na fase investigatória.

- A prisão em flagrante não justifica, por si só, a manutenção da prisão. Hoje a conversão
deve ser feita.
- O HC é o instrumento voltado para proteger a liberdade de locomoção. Assim, ele não
pode servir para que o desembargador do Tribunal faça a prisão.

*Reforço de fundamentação: no julgamento de Habeas corpus, não é dado ao relator suprir


deficiência de fundamentação do juiz competente, nem tampouco é permitido que o magistrado
complemente sua fundamentação por ocasião da prestação de informações no writ constitucional.
O tribunal apenas pode conceder ou denegar o writ.

*Prazo para aplicação da convalidação: a lei em nada falou. A doutrina vem entendendo a
aplicação do art. 322, §único:

Parágrafo único.  Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48
(quarenta e oito) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Uma vez realizada a captura, o delegado tem 24h para determinar a remessa do APF ao juiz
competente. O juiz ao receber o auto, terá o prazo de 48h para fazer a convalidação judicial da
prisão em flagrante.

5. Natureza jurídica da prisão em flagrante


Doutrina majoritária: prisão cautelar
Doutrina minoritária, que ganhou reforço com o advento da Lei 12403/11: medida de
natureza pré-cautelar (já foi perguntado no concurso de delgado do RS).

MEDIDA PRÉ-CAUTELAR: uma prisão em flagrante legal, diante das mudanças introduzidas,
essa prisão poderá dar ensejo à conversão em
 prisão preventiva : medida cautelar
 liberdade provisória: medida cautelar (diversa da prisão)
A prisão em flagrante antecede a decretação de duas possíveis medidas cautelares,
passando a funcionar como uma medida pré-cautelar, pois ele é colocado à disposição do juiz para
fazer a convalidação. (Aury Lopes Júnior e Luiz Flávio)

6. Sujeitos do flagrante

a) Flagrante obrigatório
 Autoridade policial: Age no estrito cumprimento do dever legal. Se o delegado não
faz responde por omissão.

b) flagrante facultativo
 Particular: Aje no exercício regular do direito.

7. Espécies de prisão em flagrante

a) Flagrante próprio (ou real ou verdadeiro ou perfeito): art. 302, I e II. Pode ser preso
quando o individuo começa a praticar a infração.
Ex: furto dentro do supermercado, só haverá quando passar pelo caixa, antes disso é ,meros
atos executórios e não poderá ser preso.

b) Flagrante impróprio (ou imperfeito ou irreal ou quase flagrante): art. 302, III.

  III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;

“Logo após”: é o lapso temporal entre o acionamento da policia, seu comparecimento ao


local e imediato início das perseguições.
Em se tratando de crimes contra vulneráveis, há precedentes no sentido de que esse lapso
temporal somente deve começara fluir a partir do conhecimento do fato pelo representante legal.
(não exagerar quando for, p. ex. um mês depois).
A prisão em flagrante não está submetida ao prazo de 24 h. O que realmente interessa é a
perseguição, que deve ter início logo após a prática do delito e deve ser ininterrupta.
Ex: perseguições no nordesteste do Brasil em bancos.

c) Flagrante presumido ou ficto: art. 302, IV, CPP

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração.

Direito penal do autor, pois primeiro vê a pessoa, para depois verificar se foi ela que
cometeu o delito.

d) Flagrante preparado (ou provocado ou delito putativo por obra do agente provocador)
Deve ser analisado se houve induzimento à prática do delito pelo agente provocador que
pode ser tanto a autoridade policial ou terceiro.
Precauções para que o delito não se consume.
Por conta das precauções adotas para que o delito não se consumasse, trata-se de um crime
impossível.
É exemplo de uma prisão ilegal, e deve ser objeto de relaxamento pela autoridade
judiciária.

Súmula 145, STF

e) Flagrante esperado
Não se confunde com o preparado, pois aqui não há agente provocador. Ninguém induz o
agente a praticar.
Aqui a autoridade toma conhecimento prévio acerca do delito em face das investigações
policiais.
Ex: interceptação telefônica. Através da ligação descobre que a quadrilha vai assaltar um
banco. Assim, a polícia já estará lá esperando o indivíduo.

*Venda simulada de drogas: em relação ao verbo vender, trata-se de flagrante preparado.


No entanto, como o tráfico de drogas é um crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, trata-
se de flagrante esperado quanto aos demais núcleos do tipo, tais como trazer consigo, ter em
depósito, guardar.

g) Flagrante prorrogado (ou retardado ou diferido ou ação controlada)


Consiste no retardamento da intervenção policial para que ocorra no momento mais
oportuno, sob o ponto de vista da colheita de provas.
A prisão continua sendo obrigatória, mas deverá se dar no momento subseqüente.
Previsão na lei de drogas, lei de lavagem de capitais e lei das organizações criminosas.
Nas duas primeiras, depende de autorização judicial, já na lei de organizações criminosas
não depende (é conhecida como ação controlada descontrolada, por não haver a necessidade de
autorização judicial).

PRISÃO PREVENTIVA

1. Conceito

Cuida-se de espécie de prisão cautelar decretada pela autoridade judiciária competente,


mediante representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério Público, do
querelante ou do assistente, em qualquer fase das investigações ou do processo penal (nesta
hipótese, também pode ser decretada de ofício pelo juiz), sempre que presentes os requisitos
legais do art. 313 e os pressupostos do art. 312, e desde que se revelem inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão.

2. Momento para a decretação da prisão preventiva

Pode ser decretada durante a fase investigatória e também durante a fase judicial. Por esta
razão, é a prisão mais importante do processo penal.
Na fase investigatória, não há necessidade de um inquérito policial, pois o MP também pode
investigar ou uma CPI, e nessas hipóteses também poderá ser decretada a prisão preventiva.

Art. 311.  Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade
policial. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Obs: com a criação da prisão temporária pela Lei 7.960/89 como espécie de prisão cautelar
cabível em relação a certos delitos única e exclusivamente na fase investigatória, há quem
entenda que, se o delito admite a decretação da prisão temporária, não admite a decretação da
preventiva durante as investigações.

 Fase judicial = qualquer delito, observado o art. 313 (desde o início do processo até o
trânsito em julgado da sentença condenatória)
 Fase investigatória = apenas quanto aos delitos que não admitem prisão temporária
(art. 313).

3. Pressupostos para a decretação da prisão preventiva


3.1. Fumus comissi delicti

- Prova da existência do crime – Juízo de certeza. O juiz para decretar a prisão deve ter
certeza quanto ao cometimento do delito
- Indícios suficientes de autoria e participação – Juízo de probabilidade

3.2. Periculum libertatis

É o perigo concreto que a permanência do acusado em liberdade representa para as


investigações, para o processo penal, para a efetividade do Direito Penal e para a própria
segurança da coletividade.

Pressupostos do periculum libertatis:

a) Garantia da ordem pública:


1ª corrente: A prisão preventiva decretada com fundamento na garantia da ordem pública
não tem natureza cautelar, funcionando como evidente modalidade de cumprimento antecipado
da pena. (minoritária – adotar para DP) – Prof. Antônio Magalhães Gomes Filho e Odone Sanguiné.

2ª corrente: A prisão preventiva com fundamento na garantia da ordem pública será


decretada quando houver risco de reiteração delituosa (posição majoritária).

3ª corrente: (de caráter ampliativo). A prisão preventiva pode ser decretada com
fundamento da garantia da ordem pública não apenas nos casos de reiteração delituosa, mas
também quando a prisão cautelar for necessária para assegurar a credibilidade da justiça em
crimes que provocam clamor público. Fernando Capez.

Art. 282.  As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-
se a: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e,


nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais. (2ª corrente)

Evidenciado o risco de reiteração delituosa, a prisão preventiva poderá ser decretada,


mesmo que o acusado seja primário ou portador de bons antecedentes.

b) Garantia da ordem econômica


Risco de reiteração delituosa, porém em relação aos crimes praticados contra a ordem
econômica e financeira.
Lei 11.521/51 – crimes contra a economia popular
Lei 7.134/83
Lei 7492/86 – crimes contra o sistema financeiro nacional
Lei 8078/90
Lei 8137/90
Lei 8176/91
Lei 9279/96
Lei 9613/98

*Art. 30, Lei 7.492/86


 
Art. 30. Sem prejuízo do disposto no art. 312 do Código de Processo Penal, aprovado
pelo Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, a prisão preventiva do acusado da
prática de crime previsto nesta lei poderá ser decretada em razão da magnitude da lesão
causada (Vetado).

Na visão dos tribunais, a magnitude da lesão causada nos crimes contra o sistema financeiro
não autoriza, por si só, a decretação da prisão preventiva, a qual, só poderá ser determinada se
presentes os pressupostos do art. 312 do CPP. (HC 80.717, STF)

c) Garantia de aplicação da lei penal


A prisão preventiva deve ser decretada quando dados concretos revelarem que o acusado
pretende fugir, inviabilizando a futura execução da pena.

Para os tribunais, uma ausência momentânea, seja para evitar uma prisão em flagrante, seja
para evitar uma prisão decretada arbitrariamente, não autoriza a decretação da prisão preventiva
com base na garantia de aplicação da lei penal. (STF HC 89.501)

Prisão de estrangeiros: se o estrangeiro tem domicilio certo no território nacional, não há


necessidade de decretação da prisão preventiva. Porém, se o acusado mora no exterior, entendia-
se até bem pouco tempo que sua prisão preventiva era obrigatória, com fundamento na garantia
na aplicação da lei penal.
Recentemente com a celebração dos acordos de assistência judiciária em matéria criminal
pelo governo brasileiro os Tribunais vêm entendendo que não haverá necessidade da prisão caso
haja acordo entre o Brasil e o país de origem do acusado.

Prisão preventiva nas hipóteses do art. 366 do CPP: não criou uma prisão preventiva
obrigatória. A sua decretação está condicionada aos pressupostos do art. 312 e 313 do CPP.

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312.  (Redação dada pela Lei nº 9.271, de
17.4.1996)

d) Conveniência da instrução criminal


Visa impedir que o acusado cause prejuízos à produção probatória.
Uma vez encerrada a instrução probatória, a prisão preventiva decretada com base nesse
pressuposto deve ser revogada.

Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a
falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões
que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 5.349, de 3.11.1967)

e) Descumprimento injustificado das medidas cautelares diversas da prisão

Art. 312.  A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Parágrafo único.  A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de


descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas
cautelares (art. 282, § 4o). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

3.3. Insuficiência ou inadequação das medidas cautelares diversas da prisão

Quando não for cabível a substituição por outra medida cautelar, a prisão preventiva deve
ser decretada.
Assim, a decretação da prisão preventiva está condicionada à inadequação ou à insuficiência
das medidas cautelares diversas da prisão para assegurar a eficácia do processo no caso concreto.

282, § 6o  A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição
por outra medida cautelar (art. 319).

Art. 310.  Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá


fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I - relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos


constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as
medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

4. Hipóteses de admissibilidade da prisão preventiva

Nova redação do art. 313 do CPP.


Art. 313.  Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão
preventiva: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4
(quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado,
ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,


adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Parágrafo único.  Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre
a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para
esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Incluído pela
Lei nº 12.403, de 2011).

4.1. Crimes dolosos com pena máxima superior a 4 anos

Art. 313, I, CPP – agora o crime precisa ter pena máxima superior a 4 anos. Assim, o furto
simples, em tese, não admite a preventiva, pois a pena é de 1 a 4 anos. Se a pena máxima não é
superior a 4 anos, não se admite a prisão preventiva.
Lembrar que somente é possível em crimes dolosos, culposos não.

E se o furto simples for praticado em continuidade delitiva?


Sim, pois essa prisão leva em consideração a pena máxima aplicada ao delito. A continuidade
delitiva acarreta o aumento da pena, assim, se a pena já está no limite de 4 anos, qualquer
aumento deixará a pena superior a 4 anos.
Lembrar que nas causas de aumento, deve-se usar o quantum que mais aumenta, e nas
causas de diminuição o quantum que menos diminui a pena, para que assim se utilize a pena
máxima cominada àquele delito.

4.2. Reincidente em outro crime doloso

Sentença condenatória transita em julgado  novo crime doloso

No art. 313, II, pouco interessa o quantum de pena cominado ao delito. Basta mostrar que o
agente é reincidente em crime doloso.
Lembrar que deve ser observado o lapso temporal de 5 anos da reincidência.

4.3. Violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo
ou pessoa com deficiência para garantir a execução das medidas protetivas de urgência
Art. 313, III.
Antes falava apenas em violência contra a mulher.
O conceito de violência doméstica e familiar é extraído da lei 11.340/06, no art. 5º.

Art. 5o  Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente
de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que
são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação
sexual.

Namoro depende do caso concreto.


De acordo com o ECA, criança é aquela pessoa com idade até 12 anos incompletos. O
adolescente, por sua vez, a pessoa entre 12 e 18 anos.
Idoso, conforme o Estatuto do idoso, é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.

Essas medidas protetivas de urgência também estão previstas na Lei 11.340, nos arts. 22 e
23.
Para os Tribunais, o descumprimento das medidas protetivas não autoriza por si, a
decretação da prisão preventiva. Deve ser comprovada a presença dos pressupostos do art. 312.
Nessa hipótese, pouco importa o quantum de pena cominado ao delito.
Apesar do silencio da lei, entende-se que esse crime só pode ser crime doloso porque só se
cogita do descumprimento das medidas de maneira voluntária. Assim, não faz sentido mandar
pretender alguém que de maneira negligente tenha infringido as medidas protetivas.

4.4. Quando houver dúvida da identidade civil da pessoa


Como a identidade civil da pessoa é importante em qualquer persecução penal, essa prisão
pode ser decretada tanto os crimes dolosos, como aos crimes culposos.
Pouco importa o quantum da pena.
Uma vez obtida a identificação do acusado, a prisão preventiva decretada com base nesta
hipótese deve ser revogada.

5. Prisão preventiva e excludentes da ilicitude

Art. 314, CPP.


Art. 314.  A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas
provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos
incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Também se aplica as causas excludentes da ilicitude previstas na parte especial do CP ou em


legislação especial.
Segundo a doutrina, também se aplica quando verificada uma causa excludente da
culpabilidade, salvo no caso de inimputabilidade, porque para ele pode ser aplicada a internação
provisória (art. 319), desde que tenha praticado o crime com violência ou grave ameaça e há risco
de reiteração do crime.

6. Fundamentação da decisão

A decisão de prisão preventiva deve ser fundamentada, sob pena de nulidade.


O dever de fundamentar a prisão cautelar é da autoridade judiciária competente, portanto,
não se admite que o juízo ad quem supra deficiência da fundamentação do juízo a quo por ocasião
do julgamento de habeas corpus, nem tampouco que a autoridade coatora complemente a
decisão omissa ao prestar informações em pedido de habeas corpus.

Fundamentação per relationem: é aquela em que a autoridade judiciária adota como


fundamento de sua decisão as alegações contidas na representação da autoridade policial ou no
requerimento do MP, do querelante ou do assistente da acusação.
Apesar de parte da doutrina não admitir essa espécie de fundamentação, os Tribunais
Superiores vêm admitindo a fundamentação per relatione, desde que a manifestação do MP ou da
autoridade policial seja devidamente fundamentada. (STF HC 102.864)

PRISÃO TEMPORÁRIA – Lei 7.960/89

1. Origem da Lei 7.960/89

Tem origem na MP nº 111/89.


Hoje se sabe que não é possível editar medida provisória sobre processo penal (art. 62,
§1º, b), mudança introduzida pela EC 32/2001.
Nesse sentido, professores como Paulo Rangem sustentam que a lei da prisão temporária é
inconstitucional, na medida em que teve origem em uma medida provisória, eivada de vício
formal.
STF, no julgamento da ADI 162, entendeu que restara prejudicada essa ADI, pois
entenderam que a Lei da prisão temporária não teria resultado da conversão da MP 111/89.
2. Conceito

Espécie de prisão cautelar, decretada pela autoridade judiciária competente durante a fase
preliminar de investigações, com prazo predeterminado de duração, a ser utilizada quando a
privação de liberdade de locomoção do investigado for indispensável para assegurar a eficácia das
investigações, seja em relação às infrações penais mencionadas no art. 1º, III da Lei 7960/89, seja
em relação aos crimes hediondos e equiparados.

3. Requisitos para a decretação da prisão temporária

Art. 1º da Lei 7.960/89:

Art. 1° Caberá prisão temporária:


I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação
penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:

Prevalece na doutrina que o inciso III deverá estar sempre presente, quer combinado com
o inciso I, quer combinado com o inciso II.

4. Infrações penais que admitem a decretação da prisão temporária

a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);


b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e
parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela
morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de
sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).

Primeiramente, deve-se verificar os delitos no art. 1º, III da Lei 7960/89.


Após, verificar nas leis dos crimes hediondos e equiparados:
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal , consumados ou tentados: 
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e
V);
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); 
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); 
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); 
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);  
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); 
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). 
VII-A – (VETADO) 
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada
pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998)
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts.
1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado. 

Lembrar que o rol é taxativo!!

5. Prazo

A prisão temporária possui prazo predefinido.

Lei 7960/89 Lei 8072


5 dias + 5 dias 30 + 30

A prorrogação não é automática, necessita ser devidamente fundamentada pelo juiz,


demonstrada sua necessidade.
De O prazo começa a fluir do momento da prisão, da captura. É um prazo de natureza
penal.
Ex: cidadão foi preso segunda-feira às 23h; na sexta feira à noite, à 0h deve ser posto em
liberdade.

Trata-se também de um prazo limite, ou seja, nada impede que o juiz utilize prazo menor.
Somente o juiz pode revogar a prisão temporária.
Decorrido o prazo da prisão temporária, o acusado deve ser posto em liberdade, salvo se
sua prisão preventiva tiver sido decretada. Não há necessidade de alvará de soltura, exceto em
caso de revogação. Chegando o prazo ao fim, automaticamente o acusado deve ser posto em
liberdade.
PRISÃO DOMICILIAR

1. Conceito

Levando em consideração certas condições especiais de natureza humanitária, os arts. 317


e 318 do CPP autorizam a substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar, permanecendo
o acusado recolhido em sua residência, de onde só poderá se ausentar mediante autorização
judicial.

Da natureza cautelar dessa prisão domiciliar, derivam importantes conseqüências:


1. Cabimento de habeas corpus, pois continua sendo privada de sua locomoção;
2. Possibilidade de detração;
3. Necessidade de delimitação no tempo, com fixação de prazo razoável;
4. Possibilidade de haver guarda permanente da habitação(caso não seja possível a
instalação de pulseira eletrônica)

Lei 5256/67, art. 3º. Por ato de ofício do juiz, a requerimento do Ministério Público ou da
autoridade policial, o beneficiário da prisão domiciliar poderá ser submetido a vigilância
policial, exercida sempre com discrição e sem constrangimento para o réu ou indiciado e
sua família.

5. Possibilidade de caracterização do crime de evasão (art. 352, CP), caso haja


violência contra a pessoa

A prisão domiciliar pode substituir a prisão temporária?


Segundo Renato Brasileiro, a prisão temporária não pode ser substituída pela prisão
domiciliar. Primeiro porque o prazo é muito pequeno, assim, teoricamente, não haveria tamanho
prejuízo à saúde do preso, diferentemente da preventiva que possui duração muito maior.
Segundo, quem garante que o preso em casa não está dificultando a eficácia das investigações.
Assim, a prisão somente a preventiva pode ser substituída pela prisão domiciliar.

2. Ônus da prova

Recai sobre o interessado o ônus de provar que está presente uma das hipóteses de prisão
domiciliar.
Art. 318, CPP:

Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
(Alterado pela L-012.403-2011)
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos
estabelecidos neste artigo.
Assim, deve ficar evidenciada uma das hipóteses do art. 318, caso contrário não será
decretada. É um ônus da prova perfeito, pois se ele não demonstrar não terá direito. Não se
aplica a máxima indubio pro reo.

3. Hipótese de admissibilidade da prisão domiciliar cautelar

Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
(Alterado pela L-012.403-2011)
I - maior de 80 (oitenta) anos; (Acrescentados pela L-012.403-2011)
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou
com deficiência;
IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.

A presença de uma das hipóteses não assegura automaticamente o direito à prisão


domiciliar. O juiz, diante do caso concreto, deverá verificar se a medida é adequada.

- Agente maior de 80 anos. Deve apresentar ainda estado de saúde fragilizado/debilitado.


STJ HC 138.986.

- Agente extremamente debilitado por motivo de doença grave. Doença grave por si só
não dá direito, os Tribunais analisam se no estabelecimento prisional dispõe de tratamento
médico adequado. Caso haja, não haverá a substituição. Ex: HIV, por vezes, no presídio tem como
fazer o tratamento.

- Agente que seja imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos de
idade ou com deficiência. Na LEP fala apenas em mulher, mas pode acontecer de quem cuidar da
criança ser um homem.
Pessoa com deficiência é aquele que temporária ou permanentemente tem limitada a sua
capacidade de relacionar-se com o meio e de utilizá-lo, tal qual disposto no art. 2º, inciso III da lei
10.098/00. (lei regulamentada pelo decreto 5.296/04)
Essa substituição, para que possa ser feita, deve-se comprovar que não há outros familiares
que podem cuidar do menor ou da pessoa deficiente.

- Mulher gestante a partir do 7º mês ou sendo a gravidez de alto risco. Se o presídio


dispõe de tratamento médico adequado não será substituída a prisão.

4. Prisão domiciliar da LEP

A prisão domiciliar prevista no art. 317 e 318 possui natureza cautelar. Já a prisão da LEP
(art. 117) tem natureza penal, cujo regime estava sendo cumprido no aberto.
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em
residência particular quando se tratar de:
I - condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - condenado acometido de doença grave;
III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - condenada gestante.

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

Art. 319.  São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado
ou acusado tenha residência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações
penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou
grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26
do Código Penal) e houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à
ordem judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
IX - monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 320.  A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades
encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou
acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).

Antes da lei, ou o juiz decretava a prisão cautelar do acusado, ou concedia a ele liberdade
provisória com ou sem fiança. Agora há uma ampliação das medidas cautelares, passando a prisão
ser uma medida de ultima ratio, devendo sendo decretada apenas quando for insuficiente as
medidas cautelares diversas da prisão.
Pressupostos:
 Fumus comissi delicti – prova da existência do crime e indícios suficientes de autoroa
 Periculum libertatis – resguardar a aplicação da lei penal, da investigação ou da
própria coletividade.

Art. 282.  As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-
se a: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e,
nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído
pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições
pessoais do indiciado ou acusado

As medidas podem ser aplicadas a toda e qualquer infração penal?


Lembrar que deve ser cominada pena privativa de liberdade, não importa se de maneira
alternativa ou cumulativa.
Ex: porte de drogas para consumo pessoal não admite a decretação dessas cautelares, pois
o art. 28 da lei de drogas não prevê pena privativa de liberdade, nem de maneira alternativa.

Art. 283, § 1o  As medidas cautelares previstas neste Título não se aplicam à infração a que
não for isolada, cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade.

1. Comparecimento periódico em juízo

Lembrar que a peridiocidade deve ser fixada pelo juiz de maneira razoável.
Se o acusado morar em outra comarca, é possível a expedição de carta precatória para fins
de fiscalização dessa cautelar, ou seja, se está sendo processado em São Paulo, mas mora em
Porto Alegre, o comparecimento pode ser feito no juízo deprecado, isto é, em Porto Alegre.
O comparecimento é para informar e justificar suas atividades.
Não confundir essa medida cautelar do art. 319, I com a medida prevista no art. 310, §
único, que trata da concessão de liberdade provisória.

Art. 310, Parágrafo único.  Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
agente praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (causas excludentes da ilicitude) - Código
Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante
termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação . (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

O que acontece no caso de seu descumprimento da medida cautelar do art. 319, I?


Pode acarretar a substituição por outra medida, pode haver a imposição cumulativa de
outra medida ou pode ser decretada a prisão preventiva.

O que acontece no caso de descumprimento do art. 310, §único?


Não é possível a decretação da prisão preventiva, conforme art. 314, CPP.

Art. 314.  A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas
provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos
incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal.

2. Proibição de acesso ou freqüência a determinados lugares

Ex: briga de torcida organizada.


O objetivo é evitar o risco de novas infrações penais.
Cuidado, pois a medida pode ser adota também por outros motivos, como por exemplo, as
finalidades do art. 282, I, isto é, para assegurar a eficácia das investigações.

Quais locais se podem proibir o acesso?


Locais públicos (parque de cracolândia), locais privados abertos (casas noturnas) e locais
privados fechados (casa da vítima, como violência doméstica ou familiar).

O grande problema dessa medida é a sua fiscalização. O melhor é aplicar essa medida
cumulada com outra cautelar, como o monitoramento eletrônico.

3. Proibição de manter contato com pessoa determinada

Essa medida pode ser adotada para evitar novos crimes contra essa pessoa. Ex: violência
doméstica contra mulher.
Essa medida também pode ser adotada para evitar qualquer prejuízo à produção da prova.
Ex: ameaça de testemunha.
Pode ser qualquer pessoa, como vítima, eventuais testemunhas e eventuais corréus.
A proibição de contato abrange qualquer tipo de contato, como telefônicos, pessoais, e-
mail, MSN, skype, etc.
Para tornar essa medida mais eficaz, a pessoa determinada cujo contato foi proibido deve
ser informada acerca da medida e o pedido de comunicação caso seja descumprida.

Art. 201
§ 2o  O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do
acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos
acórdãos que a mantenham ou modifiquem. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 3o  As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado,
admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico.

Embora fale só do ofendido, esse artigo pode ser aplicado de forma subsidiária também às
testemunhas.

4. Proibição de ausentar-se da comarca ou do país

A lei passou a prever também a possibilidade de retenção do passaporte.


Essa medida para ser mais eficaz, o ideal é ser aplicada cumulativamente com o
monitoramento eletrônico e o comparecimento ao juízo.
Art. 289-A, CPP:

Art. 289-A.  O juiz competente providenciará o imediato registro do mandado de prisão


em banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para essa
finalidade. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

A nova lei criou um banco nacional de mandados de prisão. O juiz que expedir um
mandado de prisão em São Paulo registrará no banco nacional, permitindo que juízes, policiais,
promotores de outros Estados tomem conhecimento desse mandado de prisão. (Resolução nº 137
do Conselho Nacional de Justiça, de 13/07/2011).
Para Renato Brasileiro, seria interessante que esse banco nacional não se limitasse apenas
aos mandados de prisão, mas que também abrangesse medidas cautelares diversas da prisão,
principalmente a proibição de ausentar-se da comarca.

4. Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga


V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado
ou acusado tenha residência e trabalho fixos

A doutrina entende que também é cabível para estudo.


Esta medida cautelar não se confunde com a prisão domiciliar. Nessa medida, o acusado se
recolhe apenas no período noturno e nos dias de folga. Na prisão domiciliar, o acusado permanece
preso em casa e de lá não pode sair, a não ser com autorização judicial.

5. Suspensão do exercício da função pública ou de atividade de natureza econômica/financeira

a) Suspensão do exercício da função pública


Essa medida deve ser adota em crimes funcionais, quando o funcionário utiliza do cargo
para praticar crimes.
Assim, retira-o da função para que não reitere as práticas delituosas.
Art. 327, CP: Conceito de funcionário público para fins penais. “Quem exerce cargo,
emprego ou função pública...”
A suspensão pode ser total ou parcial da função pública.

b) Suspensão do exercício da atividade econômica ou financeira


Essa medida deve ser adota para os crimes contra a ordem econômica e financeira.
Ex: dono de posto de gasolina que vende combustível batizado, fecha o posto para que não
pratique mais esse delito.

A suspensão da atividade econômica é compatível com a livre iniciativa, com os valores


sociais do trabalho?
A liberdade de iniciativa não é absoluta. Nesse sentido, o art. 170, CF.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno
porte.
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 6, de 1995)
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

c) Suspensão de mandados eletivos


Gustavo Badaró entende não ser cabível, vez que essa medida não há prazo determinado e
por isso poderia ser usada como uma verdadeira forma de cassação de cargos políticos.
Não obstante, há corrente que sustenta ser possível. Renato Brasileiro entende que se é
possível o mais, que é a prisão, também deve ser possível o menos, que é a suspensão das
funções.
Não esquecer que há pessoas dotadas de imunidades absolutas, como o Presidente da
República, pois não está sujeito a qualquer prisão cautelar, bem como a sua suspensão.

d) Suspensão da remuneração
Quando o funcionário é suspenso de suas funções, o pagamento deve ser feito?
1ª Corrente: é possível, sob o argumento de que o recebimento seria uma forma de
enriquecimento ilícito, vez que não está trabalhando, servindo de desestímulo frente aos seus
colegas. (STJ 413.398/2002 – funcionário público com prisão preventiva decretada. STJ entendeu
que como estava preso, não fazia jus a receber a remuneração).
2ª corrente: não é possível, vez que no Brasil vigora o princípio da presunção de inocência.
Ademais a remuneração tem caráter alimentício, que na maioria das vezes é revertida em prol de
sua família. (RE 482.006 – constitucionalidade de uma lei estadual que determinava a redução dos
vencimentos do cidadão que estive responde criminalmente por um delito funcional – STF
entendeu inconstitucional).

Não esquecer, que um dos efeitos da condenação dos crimes funcionais é a perda do
cargo.

7. Internação provisória

Essa internação provisória é aplicada ao inimputável ou ao semi-imputável.


A lei exige que o crime tenha sido praticado com violência ou grave ameaça, e ainda que
haja risco de reiteração.
Deve ser feito exame de insanidade mental, cuja ausência pode ser suprida por outros
meios de prova, se o caso demandar urgência. (Nucci)

8. Fiança

Pode ser concedida pela autoridade policial, ao contrário das demais medidas cautelares. O
delegado teve essa possibilidade ampliada.
O delegado pode aplicar a fiança aos delitos cujas penas máximas não ultrapassem a 4
anos. (art. 322)
O valor da fiança foi ampliado (art. 325)

Art. 325.  O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos seguintes
limites: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena
privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; (Incluído pela
Lei nº 12.403, de 2011).
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de
liberdade cominada for superior a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1o  Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser: 
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; 
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou 
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes.
Só o juiz pode dispensar a fiança.

9. Monitoramento eletrônico

Já existia na LEP.

9.1. Conceito

Consiste no uso de dispositivo não ostensivo de monitoramento eletrônico geralmente


afixado ao corpo da pessoa a fim de que se saiba, permanentemente, à distância, a localização
geográfica do agente, permitindo-se assim o controle judicial de seus atos fora do cárcere.
O aparelho deve ser discreto, como uma pulseira ou tornozeleira.

O monitoramento eletrônico surgiu no Brasil com a Lei 12.258/10, que introduziu os arts.
156-B, 146-C, 146-D da LEP. Aos beneficiados com saída temporária no regime semiaberto e aos
que tiverem prisão domiciliar. A doutrina denominada esse monitoramente de monitoramento
sanção ou o sistema back-door (porta dos fundos), pois o monitoramento está sendo utilizado
para naquelas pessoas que já estão aptas a sair da prisão.
Já a Lei 12.403/11 introduziu o monitoramento eletrônico como medida cautelar diversa da
prisão (319, IX). O monitoramento é utilizado como front door, a fim de se evitar o ingresso do
agente na prisão.

9.2. Tecnologias de monitoração


a) Sistema passivo: o monitorado é acionado por uma central através de telefone ou Pager.
Praticamente não existe mais.
b) Sistema ativo: o dispositivo fica instalado em local determinado na casa e se a pessoa se
afasta, o dispositivo é acionado.
c) Sistema de posicionamento global (GPS): através dele consegue se verificar se a pessoa
está em determinado local, se se afastou.

9.3. Fiscalização

Deve ser aplicado subsidiariamente o art. 146-C da LEP.


Diante di rompimento do monitoramento eletrônico pode ser decretada a prisão
preventiva.

9.4 Constitucionalidade

Há quem diz que ofende a dignidade da pessoa humana.


Outra parcela da doutrina n diz que não eis que:
- é um aparelho ostensivo;
- o monitoramento eletrônico permite que o acusado mantenha seus vínculos familiares,
sociais e laborativos;
- evita o contato do agente com o cárcere.
- Pode ser aplicado independe de regulamentação por decreto.

LIBERDADE PROVISÓRIA

1. Fundamento constitucional

Art. 5º, LXVI: Ninguém será levado á prisão ou nela mantido quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança.

Assim, pode-se dizer que a liberdade é a regra.

2. Natureza jurídica da liberdade provisória

Antes da Lei 12.403/11 era uma medida de contracautela substitutiva apenas da prisão em
flagrante. Não era cabível nos casos de prisão preventiva e nem de prisão temporária.
Após a Lei 12.403/11 a liberdade provisória passa a funcionar como medida cautelar,
podendo ser concedida com ou sem fiança, e cumulada ou não com as cautelares diversas da
prisão.

Art. 321.  Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz
deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares
previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Antes só se podia dar a fiança aquele que foi preso em flagrante. Hoje, é colocada dentre o
rol das medidas cautelares diversas da prisão, que pode ser concedida tanto àquele que estava
preso, substituindo a prisão, quanto ao àquele está solto.

Sua aplicação pode se dar:


a) Poderá o juiz condicionar a manutenção da liberdade do acusado ao cumprimento de
uma das medidas cautelares diversas da prisão.
b) O juiz poderá substituir a prisão em flagrante, preventiva ou temporária por uma ou
mais das medidas cautelares do art. 319.

3. Distinção entre relaxamento da prisão, liberdade provisória e revogação da prisão


Relaxamento da prisão Revogação da prisão Liberdade provisória
CF: art. 5º, LXV: a prisão ilegal CPP: art. 282, §5º e art. 316 CF: art. 5º, LXVI
será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária.
Incide nas hipóteses de prisão Incide nas hipóteses de prisão Incide nas hipóteses de prisão
ilegal. legal. legal.
É cabível em face de qualquer É cabível em face da prisão A partir da lei 12.403/11, passou
espécie de prisão, desde que temporária e da prisão a ser cabível em face de qualquer
ilegal. preventiva. prisão.
Exemplos: Pressupõe uma decisão judicial
- Prisão em flagrante decretada anterior.
de forma ilegal.
- Excesso de prazo da prisão
preventiva (na formação da
culpa).
- Prisão temporária decretada em
face de crimes que não admitem
essa modalidade de prisão.
Relaxamento da prisão não é uma Revogação não é uma medida Funciona tanto como medida
medida cautelar, mas sim uma cautelar, mas sim uma medida de cautelar, como medida de
medida de urgência baseada no urgência, baseada no poder de contracautela.
poder de polícia da autoridade policia do juiz competente.
judiciária.
Acarreta a restituição da Acarreta a restituição de Acarreta a restituição da
liberdade plena. Presentes o liberdade plena. Presentes o liberdade com vinculação.
fumus comissi delicti e o fumus comissi delicti e o Fica sujeito ao cumprimento de
periculum libertatis, é possível a periculum libertatis, é possível a determinadas obrigações. O não
imposição das medidas aplicação das medidas cautelares cumprimento das obrigações
cautelares diversas da prisão. diversas da prisão. pode acarretar a decretação d
prisão preventiva.
É cabível em todo e qualquer É cabível em face de todo e Há dispositivos constitucionais e
delito (súmula 697, STF) qualquer delito. legais que vedam a liberdade
 “A proibição de liberdade provisória provisória
nos processos por crimes hediondos
não veda o relaxamento da prisão
processual por excesso de prazo.”
O relaxamento só pode ser A competência para revogar uma Pode ser concedida tanto pelo
determinado pela autoridade prisão recai, originariamente, juiz como pela autoridade
judiciária competente. sobre o órgão jurisdicional que a policial.
Há quem entenda que o delegado decretou.
pode relaxar a prisão (adotar para Assim, se foi o juiz da 3ª vara que Art. 322.  A autoridade policial
somente poderá conceder fiança nos
concurso de delegado). prendeu, o pedido de revogação casos de infração cuja pena privativa
Interpretando o art. 304, §1º á deve ser feito para ele. Se ele de liberdade máxima não seja
contrário senso. Na verdade o mantém a prisão, caberá habeas
delegado deixa apenas de corpus perante o tribunal superior a 4 (quatro) anos. (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
ratificar a voz de prisão feita pelo competente.
PM. Parágrafo único.  Nos demais casos, a
fiança será requerida ao juiz, que
decidirá em 48 (quarenta e oito)
horas

OBS: em uma mesma petição podem ser cumulado mais de um pedido. Ex: pedir o
relaxamento da prisão e subsidiariamente a liberdade provisória.

4. Espécies de liberdade provisória

a) Quanto à fiança:
 Liberdade provisória sem fiança
 Liberdade provisória com fiança

b) Quanto á possibilidade de concessão


 Liberdade provisória obrigatória
 Liberdade provisória proibida

5. Liberdade Provisória sem fiança

5.1. Revogada liberdade provisória na qual o acusado se livrava solto


Era a liberdade que o juiz era obrigado a dar, sem a necessidade de pagamento de fiança.
(antigo 321, CPP)
Hipóteses: quando o crime não tinha pena de prisão prevista ou quando a pena não
ultrapassava 3 meses.
Com o advento da Lei 12.203/11 essa modalidade deixou de existir.

Art. 321.  Ressalvado o disposto no art. 323, III e IV, o réu livrar-se-á solto,


independentemente de fiança:
I - no caso de infração, a que não for, isolada, cumulativa ou alternativamente, cominada
pena privativa de liberdade;
II - quando o máximo da pena privativa de liberdade, isolada, cumulativa ou
alternativamente cominada, não exceder a três meses.

Apesar de extinta não fará falta, visto que os crimes de que trata em que não se comina
pena de prisão ou que a PPL é inferior a 3 meses, serão processos nos JECRIMs, que como se sabe,
não será formulado auto de prisão em flagrante, desde que o acusado assuma o compromisso de
comparecer no juizado. O auto de prisão em flagrante é substituído pelo termo circunstanciado
(69, §único).

5.2. Liberdade provisória sem fiança nas hipóteses de descriminantes

Continua em pleno vigor.


Antes da Lei 12.403/11 estava prevista no art. 310, caput. Com a alteração passou a estar
prevista no art. 310, §único.

Art. 310, Parágrafo único.  Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
agente praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá,
fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação. (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - em legítima defesa;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.(Incluído pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

A doutrina diz que essa liberdade também pode ser dada se o juiz verificar a presença de
excludentes da ilicitude previstas na parte especial do CP. Ex: aborto – não se pune o aborto
praticado por médico...
Além disso, a doutrina entende que também pode ser concedida nos casos de excludentes
da culpabilidade, salvo a inimputabilidade. Ex: coação moral irresistível, obediência hierárquica.
Ainda que o acusado não compareça a todos os atos processuais, sua prisão preventiva não
poderá ser decretada, conforme o art. 314, CPP.

Art. 314.  A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas
provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos
incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal.

Há quem diga que o art. 310, §único não se trata de liberdade provisória, pois o acusado
não ficará em verdade vinculado a qualquer outra medida cautelar.

Se a policia verificar que o agente praticou o crime em legítima defesa, p. exe., o que o
delegado deve fazer?
*Concurso delegado de policia: Não deve decretar a prisão em flagrante, pois esta só é
cabível diante de um fato típico, ilícito e culpável. Assim, só instaura um IP.
*Magistratura, MP e Defensoria: O delegado deve fazer a prisão em flagrante. Ainda que
presente uma excludente da ilicitude, o delegado é obrigado a lavrar o auto de prisão em
flagrante. O delegado ao efetuar uma prisão em flagrante, a ele incube apenas uma analise de
tipicidade formal, cabendo ao juiz a análise excludentes da ilicitude e culpabilidade na hora de
conceder a liberdade provisória.

Art. 310, Parágrafo único.  Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
agente praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (...)

5.3. Liberdade provisória sem fiança quando verificada a ausência de hipótese que
autorize a prisão preventiva do acusado

Antes da Lei 12.403/11, essa hipótese estava prevista no art. 310, §único.

Art. 310.  Quando o juiz verificar pelo auto de prisão em flagrante que o agente praticou o
fato, nas condições do art. 19, I, II e III, do Código Penal, poderá, depois de ouvir o
Ministério Público, conceder ao réu liberdade provisória, mediante termo de
comparecimento a todos os atos do processo, sob pena de revogação.

Parágrafo único.  Igual procedimento será adotado quando o juiz verificar, pelo auto de
prisão em flagrante, a inocorrência de qualquer das hipóteses que autorizam a prisão
preventiva (arts. 311 e 312). (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

Essa liberdade provisória sem fiança, com o advento da Lei 12.403/11, foi extinta.
Hoje, a liberdade provisória sem fiança ocorre apenas nas hipóteses de descriminantes ou
no caso de pobreza.
Assim, se o juiz verificar que não há a necessidade de manter o acusado preso ele terá que
conceder a liberdade provisória com fiança cumulada, se o for o caso, com as medidas cautelares
diversas da prisão.

5.4. Liberdade provisória sem fiança por motivo de pobreza

Se uma pessoa for miserável e que não poça recolher a fiança, o juiz poderá dispensar.
Cabível apenas para crimes afiançáveis.

Art. 350.  Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a situação econômica do
preso, poderá conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações constantes
dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso.  (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Parágrafo único.  Se o beneficiado descumprir, sem motivo justo, qualquer das obrigações
ou medidas impostas, aplicar-se-á o disposto no § 4 o do art. 282 deste Código. (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Somente o juiz pode conceder essa liberdade sem fiança.

Art. 327.  A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a comparecer perante a


autoridade, todas as vezes que for intimado para atos do inquérito e da instrução criminal
e para o julgamento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebrada.

Art. 328.  O réu afiançado não poderá, sob pena de quebramento da fiança, mudar de
residência, sem prévia permissão da autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8
(oito) dias de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde será
encontrado.

Essa situação de pobreza pode ser extraída do art. 32, §1º, CPP.

Art. 32.  Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar a sua
pobreza, nomeará advogado para promover a ação penal.

§ 1o  Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às despesas do processo, sem
privar-se dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família.

O ônus da prova quanto a essa situação de pobreza é do interessado.

6. Liberdade Provisória com fiança

6.1. Conceito

Fiança é uma calção real destinada a assegurar o cumprimento das obrigações processuais
do acusado. Pode ser dada tanto pelo preso como por um terceiro.

Art. 330.  A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em depósito de dinheiro, pedras,
objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou
em hipoteca inscrita em primeiro lugar.

6.2. Momento para a concessão da fiança

Pode ser dado aquele que estava solto (assume natureza de medida cautelar, para não ter
sua preventiva decretada) como ao que estava preso (juiz entende que não há mais a necessidade
de mantê-lo preso).
Assim, a fiança pode ser concedida até o transito em julgado da sentença condenatória.

Art. 334.  A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar em julgado a sentença
condenatória

Pode ser recolhida pelo preso ou por terceiro.

Art. 335.  Recusando ou retardando a autoridade policial a concessão da fiança, o preso,


ou alguém por ele, poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz competente,
que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
6.3. Valor da fiança

Art. 325.  O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos seguintes
limites: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena
privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; (pode ser dada
pelo delegado)

II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de


liberdade cominada for superior a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

§ 1o  Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser: 


I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; 
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou 
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. 

Só o juiz pode dispensar a fiança. Mas a redução e o aumento pode ser feito tanto pelo
delegado como pelo juiz.

6.4. Infrações inafiançáveis

São os mesmos previstos na CF/88.

Art. 323.  Não será concedida fiança: 

I - nos crimes de racismo; 

II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo


e nos definidos como crimes hediondos; 

III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático; 

Art. 324.  Não será, igualmente, concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida


ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts.
327 e 328 deste Código;

II - em caso de prisão civil ou militar; 

IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva


(art. 312)

Antes DA Lei 12.204/11, quando o crime tinha pena mínima superior a 2 anos não era
cabível fiança.
Súmula 81, STJ:  Não se concede fiança quando, em concurso material, a soma das penas
mínimas cominadas for superior a dois anos de reclusão.
6.5. Quebramento da fiança

Ocorre quando o acusado descumpre suas obrigações. (art. 341, CPP)


a) Regularmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer, sem motivo
justo. Exceto nos atos que tiver protegidos pelo silencio, como no interrogatório,
abrindo mão da autodefesa. 
b) Deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do processo.
Ex: evadir da citação, atestados falsos para adiar atos processuais
c) Descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança; 
d) Resistir injustificadamente a ordem judicial; 
e) Praticar nova infração penal dolosa
f) Quando descumprir os deveres impostos nos art. 327 e 328, CPP.

O quebramento da fiança só pode ser determinado pelo juiz.


Suas conseqüências são: perda da metade do seu valor, imposição de outras medidas
cautelares, ou decretação de prisão preventiva.

Art. 343.  O quebramento injustificado da fiança importará na perda de metade do seu


valor, cabendo ao juiz decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se for o
caso, a decretação da prisão preventiva.

6.6. Perda da fiança

Quando o acusado se furta a aplicação da pena. Pode ser qualquer pena (multa, prisão,
PRD).
Nesse caso, ocorre a perda da totalidade. O valor, deduzidas as custas o valor será
recolhido ao fundo penitenciário.

Art. 344.  Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fiança, se, condenado, o


acusado não se apresentar para o início do cumprimento da pena definitivamente
imposta.

6.7. Cassação da fiança

Ocorrerá em duas situações:


a) quando for concedida por equivoco. Ex: delegado dá fiança num crime cuja pena máxima
é superior a 4 anos.
b) Inovação na tipificação do delito. Ex: era homicídio simples, que cabia fiança, porém, no
curso do processo verifica-se que o crime, na verdade, é de homicídio qualificado, sendo este
hediondo e, portanto, não cabe fiança.
Quando a fiança é cassada ela é tida como sem efeito ou inidônea.

7. Liberdade provisória proibida

Há vários dispositivos legais que vedam a concessão da liberdade provisória:


 Lei 7492/86, art. 31.
 CPP, arts. 323 e 324.
 Lei 8.072/90, art. 2º, II
 Lei 9.034/95, art. 7º
 Lei 9.455/97, art. 1º, §6º
 Lei 9.613, art. 3º (revogado pela nova Lei de lavagem de capitais 12.683/12)
 Lei 10. 826/03, art. 14, §ú, 14, §ú e art. 21. (estatuto do desarmamento) – foram
declarados inconstitucionais pelo STF. ADI 3.112.
 Lei 11.343/06, art. 44

Essas vedações estão ultrapassadas, pois a prisão de qualquer pessoa depende de ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária. O juiz não pode negar a liberdade provisória
apontando simplesmente um desses dispositivos legais que vedam a sua concessão.
Por mais que a lei vede, essa análise sempre deverá ser feita pelo juiz, mesmos nos casos
de crimes hediondos e equiparados. Se o juiz entender que não há motivo que justifique a prisão
cautelar do acusado, poderá conceder liberdade provisória, mesmo nos casos em que seja vedada
a fiança. Neste caso, poderá cumular com outra medida cautelar diversa da prisão.

COMPETÊNCIA CRIMINAL

1. Mecanismos de solução dos conflitos

a) Autotutela: caracteriza-se pelo emprego da força bruta para satisfação dos interesses.
Fazer justiça pelas próprias mãos é crime, conforme art. 345, CP, salvo nos casos em que a
lei permite.
Assim, em regra, a autotutela não é tolerada, mas tendo em vista que o Estado não pode
resolver todos os problemas, há situações excepcionais que é permitido. Ex: legítima defesa,
estado de necessidade (ex. do direito penal). Exemplo de autotutela processual é a prisão em
flagrante.

b) Autocomposição: caracteriza-se pela busca do consenso entre as partes. Aplica-se nas


infrações de menor potencial ofensivo, no âmbito dos Juizados Especiais Criminais.
c) Jurisdição: a palavra jurisdição é oriunda do latim, juris (direito) e dictio (dizer).
A jurisdição é uma das funções do Estado, exercida precipuamente pelo Poder Judiciário,
por meio da qual o Estado-Juiz se substitui aos titulares dos interesses em conflito para aplicar o
direito objetivo ao caso concreto.
A jurisdição não é atividade exclusiva do Estado, há crimes em que são julgados pelo
Senado Federal, por exemplo, nos crimes de responsabilidade.
Um dos escopos da jurisdição é a pacificação dos conflitos, pacificação social (busca da paz
junto à sociedade).

2. Princípio do juiz natural

Conceito: é um direito que cada cidadão tem de saber, antecipadamente, a autoridade que
irá processar e julgá-lo caso venha a praticar uma infração penal.

Ex: Renato Brasileiro – Promotor Militar da União:


MPU

MPM MPT MPF MPDF


instância

Respectivo TRF

Membros do MP da União que praticam crimes, salvo eleitorais, são julgados pelo
respectivo TRF (art. 108, I, a) – crimes comuns e de responsabilidade.

Previsão:
à Art. 5º, XXXVII, CF: Não haverá juízo ou tribunal de exceção.

 O que é Tribunal de Exceção? É um órgão jurisdicional criado após o fato delituoso


especificamente para julgá-lo. A imparcialidade ficará claramente comprometida. Na
órbita internacional temos vários exemplos: Sadam Russem, ex- Iugusláva, Camboja,
etc. Por essa razão, foi criado o TPI (Tribunal Penal Internacional), para que tivesse um
órgão jurisdicional de natureza constante, sempre apto a julgar crimes contra a
humanidade, guerra.

 A justiça Militar e Eleitoral são tribunais de exceção? Não, são justiças especializadas,
não se caracterizando como tribunal de exceção.
à Art. 5º, LIII, CF: Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente.
Exemplo: Gerente de um banco Bradesco, pegava os clientes que tinham que pagar a guia
de recolhimento da previdência. O gerente dizia que seus clientes são Gold e não freqüentam fila.
Assim, pedia para que seus clientes trouxessem as guias e o dinheiro para que ele repasse ao INSS.
O gerente autenticava em casa e simulava o pagamento.quando foi descoberto o crime, o banco
pagou ao INSS o prejuízo, temendo perder os clientes.

1996 DF 19 97 RD 2002 S 2004 APELAÇÃO

- 1996 – fato criminoso


- 1997 – recebimento da denúncia pela Justiça Federal (estelionato praticado contra o INSS
em continuidade delitiva – art. 171, §3º c/c 71, CP)
- 2002 – sentença condenatória (pena 4 anos)
- 2004 – apelação TRF 1ª Região

Quem é a vítima do crime? Não é o INSS e também não é o banco (responsável civil pelo
gerente, que escolheu mal). As vítimas são os clientes que foram lesados.
Sobre o tema há uma súmula do STJ nº 107: Compete à Justiça Comum Estadual processar
e julgar crime de estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das
contribuições previdenciárias, quando não ocorrer lesão à autarquia federal.

Assim, em 2004 o TRF conclui que a competência para julgar esse crime é da Justiça
Estadual. Assim, houve uma clara violação ao princípio do juiz natural.
A conseqüência dessa violação é que todos os atos decisórios serão anulados. TRF então é
obrigado a declarar a nulidade absoluta dos atos decisórios.
- Recebimento da denuncia e a
- Sentença foram anulados.
Esses dois atos decisórios são atos Interrompem a prescrição. A partir do momento que se
anula esses atos decisórios, de 1996 até o ano de 2004 a prescrição flui naturalmente porque não
houve nenhuma interrupção. Assim, a depender da pena, pode acarretar a prescrição (na época
existia a prescrição retroativa, seja entre a data do fato e o recebimento).

2.1. Regras de proteção

- Só podem exercer jurisdição, os órgãos investidos de jurisdição


- Ninguém pode ser julgado por órgão criado após o fato criminoso (vedação aos tribunais
de exceção)
- entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências, que impede
qualquer discricionariedade de na escolha do juiz.

2.2. Lei processual que altera a competência

Tem aplicação imediata?

Ex 1: crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil. Praticado em
1994/1995. Na época, eram julgados pela Justiça Militar.
Imagine que na Justiça Militar/SP:
- 1ª instância: 48 processos
- 2ª instancia (TJM): 42 processos
Em 1996 entre uma nova lei 9.299/96: mudou a competência para o Tribunal do Júri. (essa
lei tem apelido de Lei Rambo).
Pergunta-se: O que se faz com os processos que estão tramitando?

Obs: Lei que altera competência tem aplicação imediata aos processos em andamento,
salvo se já houver sentença relativa ao mérito, hipótese em que o processo deve permanecer na
Justiça Originária. Assim, os 42 processos que estão no TJM lá permanecerão. Não poderia ir para
o TJ Estadual porque não estão sob a mesma Jurisdição.

Ex 2: Tráfico internacional de drogas em Comarca que não seja sede de Vara Federal.
A competência é da Justiça Federal, mas se na Comarca não há sede de JF quem julga?
No ano de 2004, na cidade de Pacaraima (Roraima) uma pessoa foi pega trazendo drogas
da Venezuela. Nessa cidade não tem Vara da Justiça Federal. Em 2004 era julgado perante uma
Vara da Justiça Estadual, com recurso para TRF da 1ª Região.
Essa possibilidade está prevista na CF, art. 109, §3º, CF. Desde que previsto em lei.
A antiga lei de drogas, no art. 27, previa que no tráfico internacional, a competência seria
da Justiça Estadual se o lugar que tiver sido praticado o crime não houvesse vara da Justiça
Federal.
Ocorre que no ano de 2006 surge a nova Lei de Drogas, que trouxe a competência, em se
tratando de tráfico internacional, para a Justiça Federal, pouco importando se há ou não Vara da
Justiça Federal. (art. 70, §único) – assim, nos locais em que não há Justiça Federal, os processos
irão para subseção judiciária correspondente. Ex: Camaquã – JF de Porto Alegre.
No exemplo Pacaraima –> Subseção de Boa Vista

Assim, todos os processos que estavam tramitando na Justiça Estadual devem ser
encaminhados para a Justiça Federal da respectiva subseção. Lei que altera competência tem
aplicação imediata!!
2.3. Convocação de juízes de 1ª Grau para substituir desembargadores

É possível? Tem previsão legal? Como é feita essa escolha? Os julgamentos podem ser
feitos por turmas compostas majoritariamente por juízes convocados?
à A convocação é plenamente possível. Não apenas para substituir desembargadores, mas
também ministros dos Tribunais Superiores (desembargadores para atuar como ministros).
à Há previsão legal na LC 35/79, art. 118 (lei orgânica nacional da magistratura)
à Escolhidos por maioria absoluta do tribunal respectivo ou do órgão especial, se houver.
STF em ADI 1481/ES, interposta contra o Regimento Interno do TJ/ES. O desembargador
que estava sendo afastado escolhia o juiz que iria substituí-lo. Viola o princípio da
impessoalidade, bem como do juiz natural – não é possível discricionariedade, deve ser
uma ordem taxativa. Assim, STF entendeu que a escolha do juiz deve ser por maioria
absoluta dos integrantes do órgão especial.
à Num primeiro julgado, o STJ decidiu que não é possível julgamentos feitos por turmas ou
câmaras compostas majoritariamente por juízes convocados. Todavia, STF entendeu ser
perfeitamente possível, para não gerar a anulação de milhares de processos (STF HC 96821
– Pleno do STF)

3. Competência

3.1. Conceito

É a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional pode aplica o
direito objetivo no caso concreto.
A jurisdição é uma, o que se divide é a competência. É como se pegasse o bolo (jurisdição)
e dividisse em várias fatias (competência)
3.2. Espécies de competência

a) Competência ratio materiae: estabelecida em razão da natureza da infração penal. Ex:


crimes dolosos contra a vida – Tribunal do Juro; crimes militares – Justiça Militar.

b) Competência ratione personae (funcionae): é a competência por prerrogativa de


função. Se justifica apenas enquanto estiver exercendo a função.

c) Competência ratione loci: é a competência territorial. Pode ser determinada pelo local
da consumação do delito (regra) ou do local do domicilio do acusado.

d) Competência funcional:
 Por fase do processo: a depender da fase em que estiver o processo, um órgão
jurisdicional distinto irá exercer a competência.
Ex: procedimento do júri – há duas fases distintas:
a) 1ª fase:
- judicium accusationis. Quem exerce a competência é o juiz sumariante (pronúncia,
impronúncia, desclassificar, absolver sumariamente.
b) 2ª fase
- judicium causae (juízo da causa). É onde se terá a intervenção do Tribunal do Júri. Aqui
será proferida sentença condenatória ou absolutória.

 Por objeto do juízo: a depender da matéria a ser apreciada, um órgão jurisdicional distinto
irá exercer a competência.
Ex: Tribunal do júri, composto pelo:
- Conselho de sentença (os 7 jurados): Decide sobre:
 Materialidade (existência do crime),
 Autoria
 Possível absolvição
 Causas de diminuição de pena
 Presença de eventuais qualificadoras e causas de aumento de pena
- Juiz Presidente: cabe a ele apreciar as questões de direito suscitadas, como também
elaborar a sentença condenatória ou absolutória de acordo com a decisão dada pelos
jurados.

 Por grau de jurisdição: divide a competência entre órgão jurisdicionais superiores e


inferiores.
Ex: competência recursal

 Competência funcional Horizontal e Vertical


Na competência horizontal, não há hierarquia entre os órgãos jurisdicionais. Já na
competência vertical, os órgãos jurisdicionais estão em planos hierárquicos distintos.
Ex:
 competência por fase do processo – competência funcional horizontal
 por objeto do juízo – competência funcional horizontal
 por grau de jurisdição – competência funcional vertical.

3.3. Competência absoluta e competência relativa

Competência Absoluta Competência Relativa


Fixada com base em interesse de ordem Fixada com base em interesse preponderante
pública das partes.
No processo penal sempre há interesse
público (privação da liberdade de uma
pessoa)
Está ligado ao ônus da prova.
Não pode ser modificada pela vontade das Pode ser modificada pela vontade das partes
partes (competência improrrogável). As (competência prorrogável, modificável ou
partes não podem abrir mão. derrogável)
Incompetência absoluta gera NULIDADE Incompetência relativa gera no máximo, mera
ABSOLUTA. nulidade relativa.
a) prejuízo é presumido (não é preciso O prejuízo deve ser comprovado
comprovar) Deve ser argüida oportunamente, sob pena
b) pode ser argüida a qualquer momento. Não de preclusão.
é sanada pelo decurso do tempo. Admite convalidação.
Pode ser argüida depois do trânsito em
julgado?
Uma nulidade absoluta constante de sentença
condenatória ou absolutória imprópria pode
ser argüida inclusive após o trânsito em
julgado, quer por revisão criminal, quer
mediante HC (desde que a favor do acusado)
A incompetência absoluta pode ser argüida Pode ser argüida pelas partes
pelas partes, ou reconhecida de ofício pelo Também pode ser reconhecida de ofício pelo
juiz (enquanto existir jurisdição no processo). juiz (não confundir com o processo civil).

Súmula 33 é muito mal redigida, pois leva ao


equivoco de que também se aplica ao
processo penal. Ela não tem aplicação no
processo penal.

Pode ser conhecida de ofício até o início da


instrução probatória, por conta do princípio
da identidade física do juiz.
Exemplos: Exemplos:
1. competência ratione materiae, ratione 1. ratione loci (territorial)
personae, competência funcional. 2. competência por distribuição
3. competência por prevenção (súmula 706,
STF)
4. conexão e continência
Súmula 706, STF – por prevenção.
Obs: em crimes sexuais, a prescrição só começa a fluir quando o menor completar 18 anos,
salvo se já iniciado o processo.

4. Guia de fixação de competência

a) Competência de justiça: Qual é a justiça competente?

b) Competência originária: O acusado tem foro por prerrogativa de função?

c) Competência territorial ou de foro: Qual é a comarca/seção/subseção competente?

d) Competência de juízo: Qual é a vara competente?

e) Competência interna (de juiz): Qual é o juiz competente? Titular ou substituto.

f) Competência recursal: Qual é o tribunal ou turma recursal competente para o


julgamento do recurso?

5. Competência das justiças

5.1. Justiça Especial

a) Justiça militar da União/ dos Estados


b) Justiça do trabalho
c) Justiça Eleitoral
d) Justiça Política (extraordinária)

5.2. Justiça Comum

a) justiça Federal
b) Justiça Estadual – é a competência residual

6. Competência da Justiça Militar

Justiça Militar da União Justiça Militar dos estados


Competência criminal: crimes militares Competência criminal: crimes militares
(previstos no CPM)
Não tem competência cível. Tem competência cível para julgamento de
ações judiciais contra atos disciplinares
militares.

É possível a impetração de habeas corpus


para sanções disciplinares militares?
O art. 142, §2º, CF: diz que não cabe HC em
relação ao mérito das punições disciplinares
militares, porém, aspectos relacionados à
legalidade da punição podem ser
questionados através do writ constitucional.
Quem pode ser julgado? Quem pode ser julgado?
Quanto ao acusado: julga tanto civis quanto Quanto ao acusado: só pode julgar os
militares. militares dos Estados. PM, Corpo de
Obs: o STF tem tirado os civis em muitos Bombeiros e Policia Rodoviária Estadual.
julgados – interpretação restritiva. Apenas Guarda Municipal não é militar do Estado.
quando evidenciada a intenção de atingir as
forças armadas. Essa condição de militar do Estado deve estar
presente à época do delito.

Militar Estadual em coautoria com civil =


SEPARAÇÃO DOS PROCESSOS. O militar será
julgado pela Justiça Militar Estadual e o civil
pela Justiça Comum. (art. 125, §4º)

Súmula n. 53 STJ: ainda que um civil pratique


crime contra instituições militares estaduais,
compete à Justiça Comum.

Força Nacional de Segurança = tem sua


formação feita por várias instituições (PM, PC,
exército, PF)
Se um PM do Estado de SP pratica um crime
militar no PR, ele será julgado pelo estado da
corporação ao qual pertence, então será
julgado pela Justiça militar de SP.
Súmula 78, STJ: Compete à Justiça Militar
processar e julgar policial de corporação
estadual, ainda que o delito tenha sido
praticado em outra unidade federativa.
Qual é o órgão que julga os recursos? Órgão que julga recursos = dependerá do
Superior Tribunal Militar = apesar de ser um Estado da Federação.
Tribunal Superior, ele faz as vezes de tribunal MG/SP/RS = Tribunal de Justiça Militar
de 2ª Instância, pois julga apelações, RSE etc. Nos demais estados, quem julga os recursos
será o Tribunal de Justiça.

Crimes militares = mesmo se forem praticados dentro do quartel, se não tiver previsto no
CPM não será militar.
Súmula 172, STJ: compete à justiça comum processar e julgar crimes de abuso de
autoridade, mesmo que praticado em serviço.
(abuso de autoridade, pedofilia na internet, tortura, crimes ambientais)
Lembrar que os crimes novos não estão previstos no CPM.

Crimes militares:

 Propriamente militar: só pode ser praticado por militares. Sujeito ativo será um militar.
Ex: deserção (quando militar se ausente do quartel por mais de 8 dias sem autorização do
comandante), embriaguez, dormir em serviço.

 Impropriamente militar: a infração penal prevista no CPM cuja prática é possível a


qualquer cidadão (civil ou militar), passando a ser crime militar em virtude da presença de
uma das hipóteses do art. 9º do CPM.

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I,
como os do inciso II, nos seguintes casos:

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa


militar;

b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou


assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício
de função inerente ao seu cargo;

c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação,


exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da
ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle
fim, ou em obediência a determinação legal superior.

EX: Cidadão civil que engana o exercito para ganhar pensão militar: Responderá por crime
militar, tipificado nos arts. 251, caput, c/c art. 9º, III, a, ambos do CPM.

E se o crime militar for praticado em conexão com crime comum federal?


Haverá separação dos processos. Crime militar será julgado pela justiça militar, ao passo
que o crime federal será julgado pela justiça federal (súmula 90, STJ).
Ex: abuso de autoridade em conexão com lesão corporal.

Súmula 175, STJ: compete à justiça comum estadual processar e julgar policial militar que
promover ou facilitar a fuga de preso em estabelecimento penal.
Se se trata de estabelecimento penal comum, a competência será da Justiça Comum,
federal ou estadual, a depender da natureza do presídio; se se trata de estabelecimento prisional
militar, a competência será da Justiça Militar da União ou dos Estados.

Art. 351, CP: Fuga de pessoa presa ou submetida à medida de segurança.

Ação de improbidade administrativa = contra militares estaduais = JUSTIÇA COMUM


ESTADUAL.

Conflito de competência:

Juiz Estadual de SP X Juiz de Direito do Juízo Militar SP = STJ

- Para resolver, basta subir aos tribunais superiores e ver qual é o tribunal comum entre
ambos.
STJ

TJ/SP TJM/SP

Juízo Estadual Juízo Militar

Juiz Estadual do RJ X Juiz de Direito do Juízo Militar do RJ = TJ/RJ = porque no Rio de


Janeiro não há tribunal de justiça militar.
TJ/RJ

Juízo Estadual Juízo Militar

Obs: o STM só julga crimes ligados à justiça Militar da União e não dos Estados, que irá para
o STJ.

Lei 9299/96: Lei Rambo

 Revogação do art. 9º, II, “f”, CPM: esse crime só era considerado militar se fosse
praticado com uma arma da corporação. Assim, se tivesse de férias, mas usasse a arma para
roubar, seria um crime militar. Hoje esse dispositivo não existe mais. Assim, se um crime for
praticado fora do serviço, mas com arma militar, não será crime militar.

Súmula 47, STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por militar
contra civil , com emprego de arma pertencente á corporação, mesmo não estando em serviço.
(súmula ultrapassada diante da lei 9.299/96)

 Acréscimo do parágrafo único ao art. 9º, CPM: Homicídio doloso praticado por militar
contra civil, será da competência do Tribunal do Júri (Estadual ou Federal), ainda que cometido no
exercício das funções.
Ex: militar do exercito que mata civil = Tribunal do Júri Federal.

Lei 12.432/11

 Alterou o art. 9º, parágrafo único: O tiro de abate ou de destruição será da competência
da Justiça Militar da União.
Ex: avião clandestino carregando drogas – é permitido aos militares da força aérea
brasileira atirar nesse avião se depois dos avisos não aterrizar. (art. 303 do Código Brasileiro de
Aeronáutica) – Presidente da República ou alguém por ele delegado deve autorizar a destruição da
aeronave.

7. Competência da Justiça Eleitoral

Julga os crimes eleitorais, aqueles previstos no Código Eleitoral e aqueles que a lei,
eventual e expressamente, define como eleitorais.
Ex: crimes contra a honra durante a campanha eleitoral.
à Crime eleitoral praticado em conexão com crime comum:
 Crime eleitoral = Justiça Eleitoral (competência na CF)

+
 Crime comum estadual = Justiça Eleitoral (atrai o crime comum estadual)
 Crime comum federal = Justiça Federal (porque sua competência está na CF)
 Crime doloso contra a vida = Tribunal do Júri Estadual ou Federal

E se matar um juiz eleitoral (juiz estadual exercendo funções eleitorais)? O juiz estadual
está no exercício de funções eleitorais, a justiça eleitoral é uma justiça da União, há nítido
interesse da União, e por isso quem julga será Tribunal do Júri Federal

8. Competência Criminal da Justiça do Trabalho

Com a EC 45/04 a Justiça do Trabalho passou a ter competência para julgar habeas corpus
(art. 114, IV), quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. (prisão em
flagrante por desobediência e desacato – quem deu a ordem para prender foi o Juiz do Trabalho) =
HC será julgado pelo TRF

ADI 3684: STF entendeu que a EC 45/04 não atribuiu competência criminal genérica á
Justiça do Trabalho.

9. Justiça Política ou Extraordinária

Corresponde a atividade jurisdicional exercida por órgão políticos, alheios ao Poder


Judiciário, cujo objetivo precípuo é o afastamento do agente público que comete crimes de
responsabilidade (em sentido estrito) no exercício de suas funções (CF, art. 52, I).

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de


responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 02/09/99)

II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho


Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da
República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Crimes de responsabilidade em sentido amplo: são aqueles cuja qualidade de funcionário


público funciona como elementar do delito (peculato, corrupção passiva).
Crimes de responsabilidade em sentido estrito: são aqueles que só podem ser praticados
por certos agentes políticos, não tem natureza jurídica de infração penal, mas sim de infração
político-administrativas. (cassação, perda dos direitos políticos, etc).

10. Competência criminal da Justiça Federal

10.1. Atribuições investigatórias da Polícia Federal

Tudo que a policia federal investigou deve ser processada pela Justiça Federa?
Não, as atribuições da PF são mais amplas do que a competência criminal da Justiça
Federal. Lei 10.446/02 – refere-se a vários crimes que possuem repercussão interestadual,
podendo ser investigado pela Justiça Federal, mas não quer dizer, obrigatoriamente, que a
competência é da JF.

Art. 1o Na forma do inciso I do § 1o do art. 144 da Constituição , quando houver
repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o
Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da
responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da Constituição
Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação,
dentre outras, das seguintes infrações penais:

I – seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro (arts. 148 e 159 do Código


Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da
função pública exercida pela vítima;

II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro
de 1990); e

III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se


comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja parte; e

IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em


operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha
ou bando em mais de um Estado da Federação.

Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia Federal


procederá à apuração de outros casos, desde que tal providência seja autorizada ou
determinada pelo Ministro de Estado da Justiça.

Art. 109, CF:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços


ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas
as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;(Incluído


pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando o


constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;

VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal,


excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da


Justiça Militar;

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta


rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

XI - a disputa sobre direitos indígenas.

10. 2. Análise do art. 109, IV da CF

a) Crimes Políticos

Antes da CF/88 os crimes políticos eram julgados pela Justiça Militar (art. 30, Lei 7.170/83 –
lei de segurança nacional – claramente dispõe a justiça militar sobre a competência dos crimes
políticos). Por conta do art. 109, IV, esses crimes passaram a ser competência da Justiça Militar. O
art. 30, portanto, não foi recepcionado pela CF/88.

*Crime Político: possui dois requisitos:


 O crime deve estar previsto na lei 7.170/83.

Art. 29 - Matar qualquer das autoridades referidas no art. 26.

Pena: reclusão, de 15 a 30 anos.

Art. 26 - Caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara


dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como
crime ou fato ofensivo à reputação.

 Não basta estar previsto na Lei, deve também ser praticado com motivação política
Ex: “X” está sendo julgado por um juiz federal de 1ª instância pela prática de crime político.
O juiz prolata sentença condenatória. “X” contrata advogado para interpor recurso. Qual é o
recurso cabível? Recurso Ordinário Constitucional para o STF (art. 102, II, b, CF).
ROC – é muito semelhante a uma apelação.

b) Infrações penais contra bens, serviços ou interesses da União, suas autarquias ou


empresas públicas

Bens União
Serviços Autarquias
Interesses* Empresas públicas

Exemplo 1: À União compete explorar os serviços de telecomunicações (art. 21, XI) – O


crime de desenvolvimento clandenstino de telecomunicações (Radio Pirata) – lei 9.472/97, art. 83
– competência da JUSTIÇA FEDERAL.

Obs: não confundir com “gato Net” que é da competência da JUSTIÇA ESTADUAL = puxar
sinal de TV a cabo clandestino, não há interesse da União, está lesando interesse de PJ de direito
Privado.
HC 97.271 – Min. Joaquim Barbosa – entendeu que gato Net é uma conduta ATÍPICA,
porque não pode ser considerado como furto de energia, porque a energia se consome pelo uso,
já o sinal de TV a cabo é de fluxo contínuo, não é consumido pelo uso. Não é entendimento manso
e pacífico.

**Quanto ao interesse, para que a competência seja da JF esse interesse deve ser direto e
imediato. Se o interesse for genérico ou reflexo, a competência será da JUSTIÇA ESTADUAL.

Crime contra serviços de uma autarquia federal (INSS, IBAMA, DENIT, INCRA) = JUSTIÇA
FEDERAL.

Súmula 107, STJ: Compete à JUSTIÇA COMUM ESTADUAL processar e julgar crime de
estelionato quando praticado mediante falsificação das guias de recolhimento quando não ocorrer
lesão à autarquia federal.

Bens de empresas públicas federais = JUSTIÇA FEDERAL

Exemplo 2: Fraude eletrônica em detrimento de correntista da CEF (Caixa Econômica


Federal – empresa pública federal). “X” faz movimentações pela internet, através de uma lan
house e lá alguém pegou a sua senha. Conta corrente em agência da CEF em São Paulo. O
estelionatário estará em Campo Grande/MS
- Crime: furto qualificado pela fraude (usou a fraude para ter acesso à senha e a partir daí
efetuar saques).
- Justiça competente: De acordos com os Tribunais, o sujeito passivo do delito é a
instituição bancária, porque é ela que tem seu sistema de vigilância burlado e ela que deve
suportar o prejuízo patrimonial. Assim, compete à JUSTIÇA FEDERAL.
- Competência territorial: SP ou Campo Grande? Será do local de onde a coisa foi retirada
da esfera de disponibilidade da vítima. Assim, no exemplo dado, a competência territorial será do
local da Agencia bancária do correntista prejudicado, ou seja, Seção Judiciária de São Paulo.

Exemplo 3: Crime cometido contra casa lotérica.


Primeiro deve verificar a natureza jurídica da casa lotérica, que é uma Pessoa Jurídica de
Direito Privado celebrou um contrato de permissão de um serviço público com a Caixa Econômica
Federal. A competência é da JUSTIÇA ESTADUAL.

Exemplo 4: Crime contra Agência dos Correios.


- Franquia: JUSTIÇA ESTADUAL (pessoa jurídica de direito privado)
- EBCT: JUSTIÇA FEDERAL (empresa pública federal)

Exemplo 5: Crime contra a FUNASA (Fundação Nacional da Saúde – fundação pública


federal , que é uma espécie do gênero autarquia) quem julga é a JUSTIÇA FEDERAL.

c) Crimes contra entidades de fiscalização profissional

São autarquias federais e quem julga é a JUSTIÇA FEDERAL. O crime deve ser cometido
contra a entidade. Se for contra os profissionais (pessoas que fazem parte do conselho) será
competência da JUSTIÇA ESTADUAL.

OAB  natureza jurídica sui generis, ímpar. Se o crime for praticado contra a OAB, crime
envolver a fiscalização da profissão exercida pelo advogado, a competência é da JUSTIÇA FEDERAL
(ADI 3026). EX: falsificação de carteira da ordem e exercício ilegal da profissão.

d) Crimes contra Sociedades de Economia Mista, concessionárias e permissionárias de


serviço público federal

Banco do Brasil, Petrobrás, etc: JUSTIÇA ESTADUAL

Ex 1: dano em orelhão – bem da empresa de telecomunicações, concessionária de serviço


público – pessoa jurídica de direito privado que explora um serviço federal – JUSTIÇA ESTADUAL
Súmula 42, STJ: Compete à JUSTIÇA COMUM ESTADUAL processar e julgar as causas em que é
parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

Ex 2: Concussão praticada por médico em hospital credenciado ao SUS (exigir vantagem


econômica = JUSTIÇA ESTADUAL

e) bens, serviços e interesses da União

Ex 1: Crimes praticados contra bens do Presidente da República = trata-se de bens


particulares do Presidente = JUSTIÇA ESTADUAL.

Ex 2: Crime de dano contra bens tombados


- bem tombado pela União: JUSTIÇA FEDERAL
- Tombado por Estado ou Município: JUSTIÇA ESTADUAL

Ex 3: Desvio de verbas de convênios firmados com a União:


- Se a verba estiver sujeita à prestação de contas perante órgão federal = JUSTIÇA FEDERAL.
- Se a verba já estiver incorporada ao patrimônio municipal = JUSTIÇA ESTADUAL.

Súmula 208 do STJ: Compete à Justiça Federal julgar prefeito municipal por desvio de verba
sujeita à prestação de contas perante órgão federal.
Lembrar que prefeito tem foro por prerrogativa de função, assim, compete ao TRIBUNAL
REGIONAL FEDERAL (enquanto prefeito).

Súmula 209, STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito municipal por
desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

Ex 4: Contrabando e descaminho (art. 334, CP)


Contrabando é a entrada de mercadoria proibida (importar ou exportar mercadoria
proibida). Ex: máquinas caça níquel.
Descaminho (iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido, pela
entrada, saída ou pelo consumo de mercadoria).
Os dois crimes são da competência da Justiça Federal.
A competência territorial para julgar esses crimes será do local da apreensão dos bens.

Súmula 151, STJ:  A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando
ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.

Ex 5: Moeda Falsa – A competência é da Justiça Federal, pois á União compete emitir


moeda (Casa da Moeda, ligada ao Banco Central que é uma Autarquia Federal).
A falsificação grosseira não tipifica o crime de moeda falsa, mas pode caracterizar
estelionato. Se enganar uma pessoa há crime de estelionato, que será competência da Justiça
Estadual.

Súmula 73, STJ:  A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese,
o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

f) Crimes contra a Justiça Federal, do Trabalho, Eleitoral e Militar da União

Todas fazem parte do Poder Judiciário da União, e a competência será da Justiça Federal.
Ex: falso testemunho.

Súmula 165: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho
cometido no processo trabalhista.

g) Crime praticado por ou contra funcionário público federal

O simples fato de ser autor ou vítima funcionário da Justiça Federal não determina a
competência. Mas se o crime for praticado em razão do exercício da função, aí o crime será da
competência da Justiça Federal.
Ex: fiscais do MP do trabalho assassinados. Estavam retornando da fiscalização, do
trabalho.
Ex: agente da policia federal ao intimar uma pessoa foi morto.

Súmula 147, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função. (crime propter
oficium)
Súmula 254 do Extinto TFR: Compete à Justiça Federal processar e julgar os delitos
praticados por funcionário público federal, no exercício de suas funções e com estas relacionados.

Ex 1: Crime cometido contra dirigente sindical – a competência é da Justiça Estadual, pois o


dirigente sindical não é funcionário público federal.

Ex 2: crime praticado por funcionário do TJ/DFT . O fato de o TJ/DFT ser mantido pela
União não transfere a competência. Assim, a competência é da Justiça Comum do DF.

Ex 3: Tribunal do Júri Federal. O caso dos fiscais do MP do trabalho foi julgado por um júri
federal.
Todos os crimes dolosos contra a vida praticado por ou contra funcionário público federal
em razão das funções, será julgado pela Justiça Federal.

h) Crimes contra o meio ambiente

Súmula 91, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a
fauna. (súmula cancelada)
Isso porque a fauna seria um bem da União, já que a CF não prevê, nem mesmo a lei dos
crimes ambientais.
Em regra, esses crimes são da Competência da Justiça Estadual, salvo se praticados em
detrimento de bens ou serviços da União ou Autarquias Federais (IBAMA).

Ex 1: crime de pesca ilegal do camarão no mar territorial – O sujeito passivo desse delito é
o proprietário do bem onde o delito for praticado. O mar territorial é um bem que pertence á
União – Competência da Justiça Federal.

Ex 2: Extração ilegal de recursos minerais (art. 55 da Lei 9.605) – de acordo com a CF, art.
20, IX, diz que são bens da União os recursos minerais – Competência da Justiça Federal.

Ex 3: Crime ambiental de organismos geneticamente modificados (transgênicos). O plantio


é controlado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, órgão ligado à União –
competência da Justiça Federal.

Ex 4: Crime ambiental praticado na mata Atlântica – conforme art. 224, §4º, a mata
atlântica faz parte do patrimônio Nacional, que não quer dizer patrimônio da União. Patrimônio
Nacional é de todo estado brasileiro – competência da Justiça Estadual.

Art. 225, § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o


Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-
se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

Importante: sempre olhar em que local o crime ambiental foi praticado.

i) Crimes contra a fé pública

Regras:
1. Em se tratando de crimes de falsificação, a competência será determinada a partir do
órgão responsável pela confecção do documento.
Ex 1: falsificação de CNH – É emitida pelo Detran que é um órgão estadual – Competência
da Justiça Estadual.
Ex 2: falsificação de CPF – quem emite é a Receita Federal – Competência da Justiça
Federal.
Ex 3: falsificação de carteira de Arrais Amador – documento emitido pela Marinha do Brasil
para que se possa pilotar embarcações de pequeno porte (lancha, jetski) – Competência da Justiça
Federal (STF, pois compete à União fiscalizar o transporte marítimo). Deveria ser da Justiça Militar
da União, mas o STF vem retirando a competência.

2. Em se tratando de crime de uso de documento falso por terceiro que não tenha sido o
responsável pela falsificação, a competência será determinada em virtude da pessoa física ou
jurídica prejudicada pelo uso, pouco importando o órgão responsável pela emissão do documento.

Ex 1: CNH falsa usada em uma Blitz da Policia Rodoviária Federal – Justiça Federal.
Ex 2: declaração de imposto de renda falso para conseguir visto no Consulado Americano –
Justiça Estadual (órgão sem natureza federal, é mera representação de um órgão estrangeiro no
território nacional).

3. Em se tratando de falsificação ou uso de documento falso cometido como meio para a


prática de um crime fim (como estelionato), a competência será determinada em face do sujeito
passivo do crime patrimonial, já que o falsum será absorvido por tal delito.

Ex: emite um cheque para enganar as casas Bahia. Prevalece o crime patrimonial, e o
agente só responderá pelo crime patrimonial. Sendo a vítima as Casas Bahia – Justiça Estadual.

Atenção às seguintes súmulas:


Súmula 31, extinto TRF: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de
falsificação ou de uso de certificado de conclusão de curso de 1º e 2º Graus, desde que não se
refira a estabelecimento federal de ensino ou a falsidade não seja de assinatura de funcionário
federal.
Ex: falsificação de diploma de Faculdade Privada – no verso do diploma sempre há uma
certidão lavrada pelo MEC (órgão federal) – Justiça Federal

Súmula 104, STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de
falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
 
Súmula 62, STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
Carteira de Trabalho e Previdência Social, atribuído à empresa privada.
Após a edição dessa súmula surgiu a Lei 9.983/00, que coíbe crimes praticados contra a
Previdência. Essa lei alterou o art. 297, §3º, II do CP,

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento


público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade
paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade
comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)
I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer
prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado
obrigatório;(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva
produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter
sido escrita; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as
obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que
deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Dependerá do caso concreto.


Ex: João sofre um acidente e não é segurado da Previdência Social. Pega uma carteira de
trabalho e pede para alguém anotar falsamente a carteira para ir até o INSS e pedir auxilio doença.
Nesse caso, quer se causar um prejuízo ao INSS – Justiça Federal

Ex: Maria vai trabalhar como vendedora em uma loja. O empregador pergunta se ela tem
experiência. Ela diz que sim e traz uma carteira com falsa anotação de ter trabalhado em uma loja.
Nesse caso, apesar da falsa anotação, o crime não atingiu o INSS – Justiça Estadual.

Se a falsa anotação na CTPS não atentar contra interesse do INSS a competência será da
Justiça Estadual. No entanto, se a falsa anotação na CTPS for capaz de produzir efeito perante o
INSS caberá à Justiça Federal o processo e julgamento do crime do art. 297, §3º, II, CP. (STJ CC
58.443).

j) Execução penal envolvendo acusados presos

Súmula 192, STJ: Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas
impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a
estabelecimentos sujeitos à administração estadual.
A competência será determinada em face da natureza do estabelecimento prisional, pouco
interessa quem condenou o preso.

Lei 11.671/08, art. 2º: Lei que trata da transferência de presos para a polícia federal.

k) Contravenções Penais
São julgadas pela Justiça Estadual.

Súmula 38, STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o
processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades.

Contravenção praticada por juiz federal – Nesse caso haverá prerrogativa de função e o juiz
será julgado pelo TRF.

Contravenção praticada em conexão com um crime federal – haverá separação dos


processos, a contravenção na Justiça Estadual e o crime federal na Justiça Federal, pois a súmula
122 fala em crime e não contravenção.

Súmula 122, STJ:  Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do Art. 78, II, "a", do Código
de Processo Penal.

Ex: mata em PM (Justiça Estadual) em conexão com tráfico internacional de tráfico de


drogas (Justiça Federal) – Tribunal do Júri Federal.

10.3. Análise do art. 109, inciso V da CF

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a


execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;

Para que se determine a competência da Justiça federal, conforme o inciso V, exige-se dois
requisitos:
- O crime deve estar previsto em tratado ou convenção internacional;
- Presença de internacionalidade do resultado relativamente à conduta delituosa.

Exemplos:

a) Tráfico internacional de drogas:


Este crime está previsto em convenção internacional.
O crime de tráfico internacional pressupõe o intuito de transferência da droga para outro
país, sendo dispensável a efetiva ocorrência do resultado.
O simples fato de alguém ser preso por tráfico em cidade próximo à fronteira do Brasil com
outro país ou o fato de a droga não ser produzida no território nacional, não caracterizam,
isoladamente considerados, tráfico internacional de drogas.
Para que se poça falar em tráfico internacional de drogas é indispensável que a droga
apreendida no Brasil também seja considerada ilícita no país de origem.
Ex: Maradona entrou com cloreto etílico no Brasil.

Cuidar: maconha vinda da Holanda não será tráfico internacional de drogas, mas a
competência será da Justiça Federal, vez que a droga não tem como entrar no Brasil se não for por
navio ou avião.

STF entendeu que tráfico internacional de drogas praticado por militares em avião da FABI
é da competência da Justiça Federal, pois o art. 109, V, CF não ressalva a competência da Justiça
Militar. (STF, CC 7.087)

Diante da desclassificação do crime de tráfico internacional para doméstico, prevalece o


entendimento de que o juiz federal deve remeter os autos à Justiça Estadual.

b) Pedofilia por meio da internet

Este crime está previsto no Estatuo da Criança e do Adolescente, art. 241-A.

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por
qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente: (Acrescentado pela L-011.829-2008)
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Somente será julgado pela Justiça Federal se comprovado que o crime foi praticado além
das fronteiras nacionais. Caso contrário, o crime será da Justiça Estadual.
Se publicar uma página com fotos de crianças, será da JF, pois o resultado pode ocorrer no
estrangeiro, já que qualquer pessoa no mundo pode ter acesso.

Quanto a competência territorial, pouco importa a localização do provedor, pois a


competência é determinada em virtude do local de onde emanaram as imagens.
Ex: se em São Pulo eu mando as fotos na internet, a competência será em São Paulo.
STF, CC 112.616: Caso em que foi colocado fotos de uma menor impúbere, como se fosse
garota de propaganda. Nesse caso, a internacionalidade estava presente.

10.4. Análise do art. 109, V-A c/c art. 109, §5º

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste


artigo;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-


Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de
obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de
Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Este parágrafo prevê o chamado incidente de deslocamento da competência da Justiça


Estadual para a Justiça Federal.

Requisitos:
- Existência de crime praticado com grave violação aos direitos humanos;
- Risco de descumprimento de tratados internacionais em virtude da negligência do estado-
membro em proceder à persecução penal.

No IDC 2 houve o deslocou-se da competência para a Justiça Federal da Paraíba.

Legitimidade para requerer: Procurador Geral da República.


Competência para apreciação do IDC: STJ.

10.5. Análise do art. 109, inciso VI da CF

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,


contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

a) Crimes contra a organização do trabalho

Quem julga o crime tipificado no art. 203, CP?

Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do
trabalho:
Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à
violência. (Redação dada pela Lei nº 9.777 , de 29.12.1998)
A doutrina entende que em regra, a competência é da Justiça Estadual. Esses delitos
apenas serão julgados pela Justiça Federal quando houver violação aos direitos dos trabalhadores
coletivamente considerados.

Súmula 115 do TFR: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a
organização do trabalho, quando tenham por objeto a organização geral do trabalho ou direitos
dos trabalhadores considerados coletivamente.

Ex: Aliciamento de trabalhadores para explorar na cana de açúcar.

Cuidado com o crime de redução à condição análoga a de escravo, art. 149, CP:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos
forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho,
quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

Hoje o STF entende que esse crime atinge toda uma coletividade e tem deslocado a
competência para a Justiça Federal (RE 541.627).

b) Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira

Serão julgados pela Justiça Federal nos casos previstos em lei.


- Lei 7.492/86: crimes contra o sistema financeiro nacional – Justiça Federal
- Lei 4.595/64: crime de concessão de empréstimos vedados. A lei não fala nada, e por isso
a competência é da Justiça Estadual.
- Lei 1.521/51: economia popular – Justiça Estadual. (súmula 498, STF)

Súmula 498, STF: Compete a justiça dos estados, em ambas as instâncias, o processo e o
julgamento dos crimes contra a economia popular.

- Lei 8.176/01: adulteração de combustíveis – Justiça Estadual.


- Lei 8.137/90: crimes contra a ordem tributária – depende da natureza do tributo. Ex:
sonegação de imposto de renda é da Justiça Federal, pois atenta contra imposto da União.
- Lei 9613/98: lavagem de capitais – em regra é da Justiça Estadual, mas se houver lesão a
bens, serviços ou interesses da União, empresas públicas federais e autarquias federais, ou se o
crime antecedente for federal a competência será da Justiça Federal.

10.6. Análise do art. 109, inciso IX da CF

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da


Justiça Militar.
Navio é apenas uma navegação apta para a navegação em alto mar.
A bordo de navio significa que o crime deve ser cometido no interior da embarcação.

Há um caso recente em que o crime ocorreu durante a operação de carregamento de um


navio ancorado. Nesse caso, a competência é da Justiça Estadual, porque a vítima não estava no
interior do navio.
Ao contrário de navio, aeronave pode ser pequenas, desde um bong como um teco-teco.
Pouco importa se a aeronave está em mar ou em terra, a competência será da Justiça
Federal.
Ex: acidente Gol.

10.7. Crime praticado por ou contra índios

Em regra, crimes cometidos por ou contra índios são julgados pela Justiça Estadual.
Súmula 140, STJ: Se o crime envolver direitos indígenas, a competência será da Justiça
Federal.

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

Sempre que envolver esses direitos, a competência será da Justiça Federal.

Genocídio contra índios – não é crime doloso contra a vida – deve ser julgado por juiz
singular. Em regra trata-se de crime da competência de um juiz singular federal, pois não se trata
de crime doloso contra a vida. Porém, se praticado mediante morte de membros do grupo, ao
Tribunal do Júri caberá o julgamento dos homicídios e do crime conexo de genocídio. STF, RE
351.487.

11. Competência por prerrogativa de função

Não se usa a expressão “foro privilegiado”.


Essa competência é estabelecida em razão da relevância das funções desempenhadas por
certos agentes.

11.1. Regras básicas

a) Duplo grau de jurisdição


Acusados por foro com prerrogativa de função não tem direito ao duplo grau de jurisdição,
aí compreendido como a possibilidade de reexame da matéria de fato e de direito de órgão
jurisdicional diverso. Isso, no entanto, não significa que tal acusado não poderá recorrer. (STF, RHC
79.785)
Ex: promotor de justiça julgado pelo respectivo TJ poderá interpor RE e REsp para o STF e
STJ respectivamente.

Já Deputado Federal que é julgado pelo STF não poderá recorrer, pois não há um órgão
superior.

b) Infração penal praticada antes do exercício funcional


Caso o agente tenha cometido um crime antes do exercício da função a competência será
automaticamente alterada a partir do momento em que o acusado ingressar no exercício da
função ou diplomação. Isso é denominado de regra da atualidade. Enquanto é deputado, será
julgado pelo STF, por exemplo.
Os atos processuais praticados antes da investidura/diplomação são plenamente válidos,
pois praticados segundo a competência à época (tempus regit actum).
Cessado o exercício funcional, finda-se o direito ao foro por prerrogativa de função.

Obs: STF (AP 396) – a despeito da renúncia do parlamentar no dia anterior ao julgamento,
o STF manteve a competência para o julgamento do feito. Esse caso foi o primeiro caso de
condenação do STF em prerrogativa de função.

c) Infração penal cometida durante o exercício funcional (propter officium)


Antigamente entendia-se que na hipótese de o crime ser praticado no exercício das
funções, o agente mantinha o foro por prerrogativa de função, mesmo após a cessação das
funções (súmula 394, STF) – regra da contemporaneidade.
Essa súmula foi cancelada em 1999.
Ocorre que em 2002 entra em vigor a Lei 10.628/02 que dá nova redação ao art. 84 do CPP,
acrescentando os §§ 1º e 2º. Grosso modo, além de repristinar a súmula 394 do STF, esta lei
outorgou foro por prerrogativa de função às ações de improbidade administrativa. Essa lei é di dia
24/12/2002 – fim do governo Fernando Henrique.
STF na ADI 2.797, julgada em 2005, declarou a inconstitucionalidade dos ++1º e 2º do art.
84 do CPP. Destarte, cessado o exercício funcional, cessa o direito ao foro por prerrogativa de
função, pouco importando se o crime foi cometido durante o exercício funcional.
Assim, ex-senador, ex-governado, juiz aposentado são julgados pelo juiz de 1ª instância.

Súmula 451, STF: A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao
crime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional.

d) Crimes dolosos contra a vida


Se o foro por prerrogativa de função estiver previsto na CF deve prevalecer sobre a
competência do júri. Ex: desembargador que mata alguém será julgado pelo STJ.
No entanto, se o foro estiver previsto exclusivamente na Constituição Estadual, será
julgado pelo Tribunal do Júri. Ex: delegado geral da policia civil de SP que mata alguém será
julgado pelo Júri.

Deputado Estadual: STJ, CC 105.227 – Deputado estadual que pratica homicídio doloso
deve ser julgado pelo respectivo Tribunal de Justiça. Princípio do paralelismo, pois os deputados
federais possuem prerrogativa de função previstos na CF.

Súmula 711, STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro
por prerrogativa de função estabelecida exclusivamente pela Constituição estadual.

e) Hipóteses de coautoria
É possível a reunião dos processos perante o tribunal de maior graduação, mas isso não é
obrigatório.
Se o crime for doloso contra a vida, a separação dos processos será obrigatória, pois a
competência está prevista na CF, e não tendo o agente foro por prerrogativa na CF, prevalece o
Júri, que está previsto na CF.

Súmula 704, STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados.

Se os dois acusados tiverem o foro por prerrogativa de função perante tribunais distintos,
como promotor de Justiça (TJ) e Desembargador (STJ), prevalecerá a competência do tribunal de
maior graduação.

12. Competência territorial

A regra é a competência do local da consumação do delito.

a) Crimes formais:
Ex: Ligações extorsionárias feitas de presídio. Agente liga de Bangu para a vítima que está
em Santos, pedindo que o dinheiro seja entregue em Porto Alegre.
A extorsão consuma-se no local do constrangimento. Assim, a competência territorial será
em Santos. Bangu é o local onde se deu a execução/conduta. A consumação se deu no local onde
a vítima está (Santos), Porto Alegre é o local do exaurimento do crime.

b) Crime permanente que se estendeu por várias comarcas


A competência será determinada a partir da prevenção (art. 83, CPP). Primeiro juízo que
pratica o primeiro ato de caratê decisório estará prevento.
Ex: convalidação judicial da prisão em flagrante. Ou relaxando, ou dando liberdade
provisória, ou convertendo em prisão preventiva.

c) Crimes plurilocais de homicídio


São crimes cuja ação ou omissão ocorre em uma comarca e cuja consumação se dá em outra
comarca.
Ex: homicídio, vítima toma um tiro na cidade X e vai para hospital na cidade Y e lá morre.
Por razões probatórias e de política criminal, a competência será determinada pelo local da
conduta.

12.1. Competência territorial com base no domicílio do acusado

- Quando incerto o local da consumação, a competência será determinada a partir do


domicílio do acusado.
Ex: cadáver boiando no rio; crime praticado dentro de um ônibus interestadual.

- Nos casos de exclusiva ação penal privada o querelante pode optar pelo domicílio do
acusado, mesmo que conhecido o local da consumação. É um exemplo de foro de eleição no
processo penal.

Você também pode gostar