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Resumo: o fenômeno migratório, não obstante as suas origens remontem desde o princípio da história
humana, assumiu maiores proporções nos últimos anos, com particular referência à Venezuela que faz
fronteira com Brasil para além dos demais países da América Latina, o que vem suscitando inevitáveis
debates no meio acadêmico. Decerto, o tema largamente debatido desde o inicio da emergência
humanitária venezuelana serpenteia em diversos campos do saber humano, das entidades públicas, dos
organismos internacionais que lidam com os direitos humanos dos migrantes destinatários de proteção
internacional são colocados como salvaguardas insuperáveis e do outro lado à necessidade de Estados
mitigarem a migração irregular com vista a garantir a inviolabilidade das fronteiras e a necessidade da
segurança interna do país. Sem pretensão de ser exaustivo nesse debate, vai se discorrer sobre as fontes
principais da ius migrandi e posteriormente a legislação brasileira sobre refugiados bem como as
incertezas que ombreiam essa questão. Com vista à materialização dos objetivos pretendidos será usada a
pesquisa documental com o suporte na pesquisa bibliográfica. Compreende-se a importância dos
princípios fundamentais para a proteção e garantia dos direitos humanos do refugiado.
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Email: antonio_teacher@hotmail.com, CV: http://lattes.cnpq.br/3019837874674858
Introdução
Depois da Segunda Guerra Mundial, uma das maiores preocupações do mundo foi por
meio da Organização das Nações Unidas, o estabelecimento da Declaração Universal dos
Direitos Humanos em 1948, visando fornecer a segurança, a sobrevivência humana por meio da
garantia de direitos essenciais ao homem embasado no imperativo categórico kantiano que
estabelece o seguinte o “homem, e duma maneira geral, todo o ser racional, existe como fim em
si mesmo” (KANT, 2005, p. 68) e que toda a sua essência é igual independentemente da sua
origem sociocultural, racial ou nacional. E como realça Hannah Arendt (1989, p. 330) são os
“direitos a ter direitos” e são considerados essenciais, pois o ser humano é titular em
consequência de uma construção histórica, buscou assegurar a proteção e dignidade à vida do ser
humano. O núcleo de direitos humanos plasmados na Declaração Universal dos Direitos
Humanos é essencial para que homem possa sobreviver e preservar a sua dignidade.
A garantia dos direitos humanos encontra-se respaldada nos fundamentos filosóficos,
diante do Estado, compondo a sua justificativa política. Em sua razão disso, os fundamentos
políticos explicam a existência dos direitos humanos que por seu meio se busca a proteção
humana da violação de direitos por parte do Estado. Como Arendt assevera, o Estado é o espaço
onde se realizam os direitos humanos, uma vez sendo o pressuposto para o exercício da
cidadania no Estado. Como Norberto Bobbio vai notar a seguir, o ser humano é anterior ao
Estado, aderindo-o através da vontade própria, com o objetivo de contar com uma proteção
oficial. O Estado sendo criação humana, não se sobrepõe ao seu criador. Por isso, Norberto
Bobbio deixa a seguinte lição:
Ao contrário não existe nenhuma Constituição democrática, a começar
pela Constituição republicana da Itália que não pressuponha a existência
de indivíduos singulares que têm direitos enquanto tais. E como seria
possível dizer que eles são ‘invioláveis’ se não houvesse o pressuposto
de que, axiologicamente, o indivíduo é superior à sociedade de que faz
parte?”;80 e “a finalidade de toda associação política é a conservação
destes direitos”81 (estes direitos equivalendo a direitos humanos).
(BOBBIO, 1992, p.102)
Em outras palavras a garantia da segurança dos seres humanos mantém-se em relação à
construção estatal, garante da proteção dos direitos humanos. Dessa forma, tanto pela
antecedência do indivíduo em relação ao Estado e pelo fato do último ser a criação do homem
serve de instrumento para resguardar os direitos dos indivíduos diante das atividades do Estado,
sendo estas a base do seu fundamento político. No concernente à origem filosófica dos direitos
humanos variou em cada momento histórico, sendo que, existe algo em comum em todas as
concepções à ideia da singularidade que por si só serve como fundamento para a sua proteção.
Tal ideia de precedência axiológica do homem em relação ao Estado até ao primeiro
período do reconhecimento dos direitos humanos ao longo do século XVIII, onde se acredita
que, os próprios direitos do homem, direitos naturais eram anteriores à existência da sociedade.
Posto isso, é possível considerar que, a proteção dos cidadãos é da responsabilidade do
Estado. De tal sorte, os governos quando se eximem de fornecer a proteção aos cidadãos, nisso,
correndo o risco da violação dos seus direitos, são obrigados a abandonar o seu país em busca de
refúgio em outro país. Daí deriva a relevância dos organismos internacionais, quando os
governos dos países de origem não protegem os direitos fundamentais dos refugiados, intervém
para que esses direitos sejam preservados.
Depois do fim da Segunda Guerra Mundial é promulgada a Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948 e as quatro Convenções de Genebra de 1949 sobre o direito
humanitário internacional, assim como uma série de tratados e declarações internacionais e
regionais e vinculativos e não vinculativos, que tratam especificamente as necessidades de
refugiados. No contexto de pós-guerra, a Assembleia Geral das Nações Unidas criou o Escritório
do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) com a finalidade de
proteger os refugiados e para encontrar soluções definitivas para seus problemas. A ACNUR o
seu trabalho funda-se em um conjunto de normas e instrumentos internacionais como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos e das quatro Convenções de Genebra sobre direito
humanitário internacional.
Zimbábue
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