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As violações de direitos humanos no caso da Penitenciária Urso Branco

Ao analisar este tópico primeiramente, é de suma importância destacar que o Brasil é um


estado membro da chamada Organização dos Estados Americanos, o mais antigo organismo
internacional, traçado, primeiramente, entre os anos de 1889 e 1890 na Primeira Conferência
Internacional Americana e fundado no ano de 1948 com a assinatura da Carta da OEA, em
Bogotá, Colômbia. Fazem parte de tal organização 35 estados independentes, que se
submetem a resoluções e pactos do instituto, entre eles o chamado Pacto San José da Costa
Rica, que versa sobre os direitos humanos no continente. Dessa forma, analisando o
ordenamento jurídico brasileiro, extrai-se do Decreto n°678 de 6 de novembro de 1992, ipsi
literis:

“O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no exercício do cargo


de PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que lhe confere o art.
84, inciso VIII, da Constituição, e Considerando que a Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), adotada no âmbito da
Organização dos Estados Americanos, em São José da Costa Rica, em 22 de
novembro de 1969, entrou em vigor internacional em 18 de julho de 1978, na forma
do segundo parágrafo de seu art. 74;

DECRETA:

Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José


da Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969,
apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente como
nela se contém.”1

Assim, ao examinar os acontecimentos verificados na Casa de Detenção José Mario Alves,


constata-se a ocorrência de violações claras, em várias esferas e matérias, ao pacto em tela, do
qual a República Federativa do Brasil é signatária. Primeiramente, ao observar o artigo 5° do
referido tratado, o qual versa sobre o direito a integridade pessoal, percebe-se que o Estado
brasileiro transgrediu essa garantia no que se refere aos encarcerados. Comprova-se essa tese,
ao verificar a superlotação observada na casa penal supracitada, que, em seu ápice, chegou a
possuir mais de mil detentos, sendo que a capacidade normal era de trezentos e sessenta
reclusos. Esses indivíduos, portanto, eram obrigados a ficar em celas superlotadas e em
condições indignas. Pontua-se, ainda, que faltavam suprimentos básicos para a sobrevivência
dos detentos, como alimentos e remédios, tornando dessa forma, a sobrevivência, de maneira
literal, uma tarefa árdua. Com isso, certifica-se de que foi violado, não só o artigo 5°, mas,
também, o artigo 4°, do pacto supracitado, o qual versa sobre o direito a vida.

1
No caso em análise, pontua-se que, assim como os direitos dos encarcerados eram
transgredidos, as garantias dos funcionários da penitenciária eram igualmente violadas. Isso
porque, o contingente de policiais e agentes penitenciários era insuficiente e, por isso, chegou-
se existir plantões com apenas seis ou sete agentes. Essa conjuntura mostrou-se extremamente
favorável para o surgimento de insurgências, como as que aconteceram em janeiro de 2002 e
abril de 2004. Na primeira rebelião, vinte e sete detentos do chamado “Seguro” (jurados de
morte) foram assassinados de forma cruel, como uma forma de protesto às condições
desumanas vivenciadas pelos demais. Logo após, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos, ao certificar-se de que houve violações evidentes aos direitos e valores por ela
assegurados, interveio, impondo a Resolução de 18 de junho de 2002, a qual foi a primeira de
outras supervenientes.

No entanto, como visto no tópico anterior, as medidas provisórias previstas não foram
eficazmente efetivadas pelo Estado brasileiro. Essa conjuntura, portanto, não impediu que, em
2004, ocorresse uma nova ressurreição, em que outros quatorze detentos foram executados.
Consequentemente, a Corte criou uma comissão – formada por membros do ministério das
relações exteriores, do sistema penitenciário nacional e da secretária de direitos humanos- que
passou a fiscalizar a situação interna da Penitenciária Urso Branco. A referida comissão
estava, ainda, responsável por elaborar relatórios e apresentá-los para a Corte. Ademais,
estado de Rondônia teve que firmar um pacto garantindo a segurança dos presos, dos
trabalhadores do local e do setor de segurança dessa casa penal. Caso contrário, o Tribunal
previu sanções a serem impostas à República Federativa do Brasil.

Cabe pontar, ainda que, no caso em tela, o Estado brasileiro violou não só o Pacto San José da
Costa Rica, mas, também, outros acordos internacionais de direitos humanos, que o Brasil é
signatário. Dois deles são a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Isso
porque, ambos preveem garantias individuais básicas - como o direito à vida, à integridade
pessoal e à dignidade. Garantias essas que foram evidentemente violadas pela União, no
tocante ao tratamento dispensado aos reclusos.

Por fim, entende-se que a Constituição Federal de 1988, a chamada constituição cidadã, foi
feita sob o prisma de importantes tratados de direito internacional referentes aos direitos
humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e o Pacto San José da
Costa Rica (1969). Dessa forma, quando em seu artigo 5°, inciso XLIX , assegura os direitos
aos presos ao respeito e à integridade física e moral, percebe-se a influência do direito
internacional, já que esses direitos estão intimamente relacionados às garantias universais de
direitos humanos.

Situação Atual do Presídio Urso Branco

Mesmo após as duras medidas da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o


presídio Urso Branco passou por diversos problemas consternando a questão de direitos
humanos. Em 2007, durante um período de apenas 6 meses 4 diretores foram demitidos da
chefia do presídio acusados de tortura. Ainda, pode-se dizer que foram recorrentes as revoltas
no presídio desde 2004, sendo a última rebelião registrada em 2015, entretanto, nada da
mesma magnitude com o que ocorreu em anos anteriores.

Na atualidade, desde 2019, após a contínua situação de superlotação e a criação de um


novo presídio na cidade de Porto Velho, a penitenciária Urso Branco se desativou para que se
ocorresse uma reforma e finalmente ela passasse a atender a demanda da população carcerária
do estado de Rondônia. Ainda, cabe destacar que agora segundo o coordenador do sistema
penitenciário do estado Cezar Luiz Lima, a penitenciária que sempre recebeu detentos
considerados de alta periculosidade, agora receberá encarcerados de baixa.

Por fim, conclui-se que é primordial

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