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Direitos Humanos e a Proteção de Refugiados

Direito Internacional e Direito Estadosunidense

Objetivos da Palestra
● Explorar a interconexão e importância dos direitos humanos globais.
● Discutir o direito de asilo, conforme estabelecido pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos e a Convenção dos Refugiados.
● Analisar a adoção da Convenção dos Refugiados nos Estados Unidos e sua
incorporação ao Immigration and Nationality Act (INA).
● Examinar o processo imigratório para solicitantes de asilo nos EUA.

1. Introdução aos Direitos Humanos

Definição Legal: Os direitos humanos são garantias fundamentais protegidas


internacionalmente para proteger indivíduos e grupos contra ações e omissões que
interferem com liberdades fundamentais, valores e dignidade humana. Eles são
universais, inalienáveis, interdependentes, indivisíveis e igualitários.

Definição Legal e História: Os direitos humanos são direitos inalienáveis atribuídos a


todos os indivíduos. A concepção moderna de direitos humanos começou a tomar
forma após a Segunda Guerra Mundial, culminando com a adoção da Declaração
Universal dos Direitos Humanos em 1948, como resposta às atrocidades cometidas
durante a guerra.

Interdependência e Indivisibilidade: Este princípio, essencial para a compreensão dos


direitos humanos, afirma que todos os direitos humanos são parte de um sistema
integrado e complementar. A violação de um direito impacta negativamente a proteção
e o gozo dos demais. Este princípio foi enfatizado na Conferência Mundial de Direitos
Humanos em Viena, 1993, reconhecendo que a violação de um direito afeta a proteção
dos demais. A visão holística dos direitos humanos surgiu como uma compreensão de
que liberdades civis, políticas, econômicas, sociais e culturais são interligadas.

2. Artigo 14 da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Texto do Artigo 14: "1. Todos têm o direito de procurar e de gozar de asilo em outros
países, em caso de perseguição. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de
perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos
contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas."
Texto e Contexto Histórico: O Artigo 14 estabelece o direito de procurar asilo de
perseguições. Esse direito foi uma resposta direta às limitações e aos fracassos em
proteger os refugiados durante e após a Segunda Guerra Mundial, refletindo o
compromisso da comunidade internacional em não repetir os erros do passado.
Importância: Estabelece o direito de asilo como um princípio fundamental dos direitos
humanos, enfatizando a proteção contra perseguições e abusos.

3. A Convenção dos Refugiados e a Definição de Refugiado


Definição de Refugiado: Conforme o Artigo 1 da Convenção, um refugiado é qualquer
pessoa que, "devido a fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião,
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, encontra-se fora do país de sua
nacionalidade e não pode ou, em virtude desse temor, não quer fazer uso da proteção
desse país."

● Definição de Refugiado e História: A Convenção foi adotada em resposta às


necessidades de proteção de refugiados europeus após a Segunda Guerra
Mundial. Originalmente limitada geográfica e temporalmente, o Protocolo de
1967 removeu essas restrições, universalizando o estatuto de refugiado.

Elementos da Definição e Suas Implicações Específicas:

Fundado Temor de Perseguição: Este elemento é central para a definição de refugiado.


O temor deve ser bem fundamentado, o que implica que a pessoa não apenas teme ser
perseguida, mas que existe uma probabilidade real de perseguição com base em
evidências concretas. A perseguição deve ser séria e causar dano significativo,
incluindo, mas não se limitando a, ameaças à vida ou à liberdade.

Motivos de Perseguição: A Convenção especifica cinco motivos de perseguição: raça,


religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. Isso significa que a
perseguição deve ser por um desses motivos, o que exclui outras formas de violência
ou discriminação que não se enquadrem nestas categorias.

Fora do País de Nacionalidade: O indivíduo deve estar fora do país de sua


nacionalidade devido ao temor de perseguição. Isso sublinha o aspecto transnacional
da condição de refugiado e a necessidade de proteção internacional.

Incapacidade ou Relutância em Buscar Proteção: O refugiado é alguém que não pode


ou não quer retornar ao seu país de origem devido ao temor de perseguição. Isso
implica uma avaliação tanto da situação de segurança no país de origem quanto da
disposição ou capacidade do país de proteger o indivíduo.

Princípio da Não Devolução (Non-refoulement): Proíbe a expulsão ou retorno


("refoulement") de um refugiado aos territórios onde sua vida ou liberdade seriam
ameaçadas.

Um dos princípios fundamentais da Convenção dos Refugiados é o da não devolução,


que proíbe a expulsão ou retorno (refoulement) de um refugiado aos territórios onde
sua vida ou liberdade estaria ameaçada por causa de sua raça, religião, nacionalidade,
pertencimento a um determinado grupo social ou opiniões políticas. Este princípio é
considerado a pedra angular da proteção internacional de refugiados e tem implicações
significativas para as políticas de asilo e imigração dos Estados:

Proteção contra a Devolução Forçada: Assegura que os refugiados não sejam


retornados a um país onde enfrentariam riscos graves à sua segurança ou liberdade.
Obrigação dos Estados: Exige que os Estados garantam que suas políticas e práticas
não resultem na devolução forçada de refugiados, o que inclui a avaliação cuidadosa
dos pedidos de asilo e a proibição de expulsões coletivas.

Base para o Direito de Asilo: Reforça o direito de asilo como um direito humano
fundamental, exigindo que os países forneçam proteção àqueles que fogem da
perseguição.

4. Retificação da Convenção nos EUA e Codificação no INA


A incorporação dos princípios da Convenção dos Refugiados de 1951 e do Protocolo de
1967 no Immigration and Nationality Act (INA) pelos Estados Unidos representou um
marco significativo na política de asilo e refugiados do país. Essa incorporação legal
não apenas reflete o compromisso dos EUA com os princípios humanitários
internacionais, mas também estabeleceu um quadro legal robusto que orienta a
avaliação de solicitações de asilo e a proteção dos refugiados dentro do território
americano.

Incorporação Legal e Suas Implicações:

Ratificação do Protocolo de 1967: Ao ratificar o Protocolo de 1967, os Estados Unidos


se comprometeram a seguir os princípios estabelecidos na Convenção dos Refugiados
de 1951, que se estendem para além das fronteiras europeias e se aplicam
globalmente. Isso alinhou as políticas de asilo dos EUA com os padrões internacionais
de proteção de refugiados, garantindo um tratamento justo e humano a indivíduos que
fogem de perseguições.

Quadro Legal para Avaliação de Solicitações de Asilo: A integração dos princípios da


Convenção e do Protocolo no INA criou um sistema legal para a avaliação e
processamento de solicitações de asilo nos Estados Unidos. Isso inclui procedimentos
detalhados para a análise de pedidos, avaliação de elegibilidade e determinação do
status de refugiado, garantindo que os solicitantes sejam julgados de acordo com
critérios consistentes e justos.
Definições e Procedimentos Legais:

Critérios para Determinação do Status de Refugiado: O INA, influenciado pela


Convenção dos Refugiados, define um refugiado como alguém que está fora de seu
país de origem devido a um fundado temor de perseguição com base em raça, religião,
nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opiniões políticas.
Essa definição orienta as autoridades americanas na avaliação das solicitações de
asilo, assegurando que os critérios para reconhecimento do status de refugiado sejam
alinhados com os princípios internacionais.

Procedimentos para Solicitação e Concessão de Asilo: O INA detalha os


procedimentos que os solicitantes de asilo devem seguir para obter proteção nos
Estados Unidos. Isso inclui a apresentação de uma solicitação de asilo dentro de um
ano após a chegada ao país, passando por entrevistas com oficiais de asilo, e, em
alguns casos, procedimentos judiciais para a determinação final do status de asilo.
Esses procedimentos refletem um equilíbrio entre o direito à proteção dos refugiados e
a necessidade de salvaguardar a segurança e a ordem pública.

A codificação dos princípios da Convenção dos Refugiados no INA demonstra o


reconhecimento, pelos Estados Unidos, da importância da proteção internacional aos
refugiados e do compromisso do país com os padrões de direitos humanos. Ao adotar
essas normas internacionais, os EUA se comprometem a fornecer refúgio a indivíduos
que enfrentam perseguição, ao mesmo tempo em que estabelecem um sistema legal
claro e justo para a administração de suas políticas de asilo e refúgio.

5. O Processo de Solicitação de Asilo nos EUA


Critérios de Elegibilidade: Para ser elegível para asilo nos Estados Unidos, o solicitante
deve demonstrar perseguição ou temor fundado de perseguição devido a raça, religião,
nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política.
A solicitação de asilo nos Estados Unidos é regida por critérios específicos
estabelecidos pelo Immigration and Nationality Act (INA), refletindo tanto o
compromisso internacional com a proteção dos refugiados quanto as particularidades
da política de imigração dos EUA. Para ser elegível para asilo nos Estados Unidos, um
solicitante deve atender a vários critérios chave:

1. Presença nos EUA ou na Fronteira/Porto de Entrada

O solicitante deve estar fisicamente presente nos Estados Unidos ou em um porto de


entrada. Diferentemente de algumas jurisdições onde o pedido de asilo pode ser feito
de fora do país, os EUA requerem a presença do solicitante dentro do território nacional
para considerar o pedido de asilo.

2. Fundado Temor de Perseguição

O núcleo do pedido de asilo é o "fundado temor de perseguição" por motivos de:

● Raça
● Religião
● Nacionalidade
● Membro de um determinado grupo social
● Opiniões políticas

Este temor deve ser baseado em evidências concretas ou experiências pessoais que
indiquem a probabilidade de perseguição caso o indivíduo retorne ao seu país de
origem.

3. Prazo de Solicitação

Os solicitantes devem aplicar para asilo dentro de um ano após sua chegada aos
Estados Unidos, a menos que possam demonstrar:

● Mudanças significativas nas circunstâncias que afetem sua elegibilidade para


asilo
● Circunstâncias extraordinárias relacionadas ao atraso na apresentação do
pedido

4. Não Participação em Atividades Perigosas ou Crimes Graves

Os solicitantes não devem ter participado de atividades criminosas graves, incluindo,


mas não se limitando a:

● Perseguição de outros indivíduos


● Comissão de crimes graves nos Estados Unidos
● Poses relevante para a segurança dos EUA

5. Não Firmemente Reassentados em Outro País

O solicitante não deve estar firmemente reassentado em outro país antes de chegar
aos EUA. Isso significa que se o indivíduo recebeu oferta de cidadania, direitos
equivalentes à cidadania, ou outra forma de proteção permanente em outro país, ele
pode ser considerado inelegível para asilo nos EUA.

6. Exclusões de Elegibilidade

Existem várias condições que podem excluir um indivíduo de receber asilo, incluindo:

● Ter cometido um crime grave não político fora dos EUA


● Ser considerado um perigo para a segurança dos EUA
● Ter sido firmemente reassentado em outro país

7. Acordo de País Seguro Terceiro

O princípio do "safe third country" (país seguro terceiro) pode afetar a elegibilidade para
asilo nos Estados Unidos. Segundo este princípio, os solicitantes de asilo que passam
por um país considerado seguro antes de chegar aos EUA podem ser obrigados a
solicitar asilo nesse país primeiro. Os EUA têm acordos de país seguro terceiro com
alguns países, como o Acordo de País Seguro Terceiro entre os EUA e o Canadá, que
determina que os solicitantes de asilo devem fazer seu pedido no primeiro país seguro
ao qual chegarem.

8. Possibilidade de Proteção Interna Alternativa

Se um solicitante pode obter proteção em outra parte do país de origem, sem enfrentar
perseguição ou ameaças à sua vida ou liberdade, ele pode ser considerado inelegível
para asilo nos EUA. Este critério baseia-se na ideia de que o asilo é uma proteção para
aqueles que não têm nenhuma opção segura disponível em seu país de origem. A
avaliação leva em consideração a razoabilidade e a praticidade de tal realocação
interna, considerando fatores como a segurança, o acesso a abrigo, alimentação, saúde
e outros direitos básicos.

Implicações dos Critérios

Estes critérios refletem a complexidade do processo de asilo e a importância de uma


avaliação cuidadosa de cada caso individual. Eles estão alinhados com o compromisso
dos EUA de proteger aqueles que fogem da perseguição, ao mesmo tempo em que
garantem a segurança nacional e o cumprimento das leis de imigração. A interpretação
e aplicação desses critérios podem variar dependendo das circunstâncias do caso, da
jurisprudência relevante e das políticas em vigor no momento da solicitação.

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